TÍTULO DE LA COMUNICACIÓN:
Português: A importância da percepção dos residentes dos impactes do turismo e
da interacção residente-visitante no desenvolvimento dos destinos turísticos
Inglês: The relevance of the hosts’ perception of tourism impacts and hosts-tourist
interaction on the development of tourism destinations
AUTOR 1: Celeste Eusébio
Email: [email protected]
AUTOR 2: Maria João Carneiro
Email: [email protected]
DEPARTAMENTO: DEGEI, GOVCOPP
UNIVERSIDAD: Universidade de Aveiro
ÁREA TEMÁTICA: Turismo
RESUMEN:
Os residentes são importantes stakeholders da actividade turística, influenciando o
processo de desenvolvimento dos destinos turísticos. A literatura revela que quando os
residentes percepcionam os benefícios do turismo desenvolvem atitudes favoráveis em
relação ao turismo, contribuindo para uma maior interacção com os visitantes. Esta
interacção poderá contribuir para um aumento da satisfação dos visitantes e da
fidelização aos destinos.
Pretende-se com este artigo analisar o tipo de relação existente entre a percepção dos
residentes dos impactes do turismo num destino urbano e o nível de interacção que os
residentes estabelecem com os turistas. Com base nesta análise pretende-se, também,
analisar a importância da avaliação da percepção dos impactes do turismo e da
interacção entre visitantes e residentes no processo de desenvolvimento turístico dos
destinos. Procedeu-se à administração de um questionário aos residentes da cidade de
Aveiro para avaliar a percepção dos impactes do turismo e o grau de interacção, em
diferentes contextos, que estabelecem com os visitantes. Foram obtidos 570
questionários válidos. Foram utilizadas várias análises estatísticas, nomeadamente
Análise de Componentes Principais e Análise de Regressão Linear Múltipla. Os
resultados obtidos evidenciam que os residentes da cidade de Aveiro percepcionam
sobretudos os benefícios socioculturais do turismo, sentem-se à vontade quando têm
que interagir com os visitantes, apresentando, no entanto, um grau de interacção com os
visitantes relativamente baixo. Observou-se, igualmente, que a percepção dos impactes
do turismo influencia o grau de interacção que os residentes estabelecem com os
visitantes. O artigo termina com um conjunto de orientações que os responsáveis pelo
desenvolvimento dos destinos deverão ter em consideração para promoverem o
desenvolvimento sustentável destes destinos.
PALABRAS CLAVE: interacção residente-turista, destinos urbanos, impactes do turismo,
desenvolvimento sustentável, estratégias de desenvolvimento dos destinos turísticos
1.Introdução
O turismo é considerado uma das principais actividades económicas e sociais a nível
mundial. Os indicadores estatísticos mais recentes publicados pela WTTC (2009)
revelam que, em 2009, o turismo contribuiu com cerca de 7,6% do emprego total a nível
mundial, com 9,4% do Produto Interno Bruto, com 9,4% do investimento e com 10,9%
do total das exportações. Os dados apresentados pela UNTWO (2008) corroboram a
importância do turismo na actualidade. Em 2007, as receitas do turismo internacional
representaram 6% do total das exportações e 30% do total das exportações de serviços.
Estes indicadores sugerem claramente que o turismo é, a nível mundial, uma das
principais indústrias de serviços.
O turismo é uma actividade económica que influencia o desenvolvimento mas, ao
mesmo tempo, o nível de desenvolvimento das regiões de origem dos visitantes e dos
destinos turísticos influencia toda a actividade turística, na medida em que o turismo é
um sistema que recebe inputs do contexto económico, social, político, cultural e
ambiental em que se insere, proporcionando, ao mesmo tempo, muitos outputs para esse
contexto, podendo contribuir desta forma para o desenvolvimento de muitas regiões.
Devido
a
esta
capacidade,
é
frequentemente
catalogado
como
motor
de
desenvolvimento das regiões, ao contribuir para a entrada de divisas, para o aumento da
actividade económica e produtiva de um conjunto diversificado de empresas,
diversificação da estrutura económica, geração de emprego, aumento do rendimento das
famílias, aumento das receitas do estado e melhoria das infra-estrururas viárias, de apoio
social e recreativas (Cooper et al., 1998; Carbone, 2005; Dwyer e Forsyth, 1993;
Eusébio, 2006; Mathieson e Wall, 1990; Page et al., 2001; Sawamipkakdi, 1988;
Sharpley e Naidoo, 2010). Todos estes benefícios poderão de forma integrada contribuir
para a melhoria da qualidade de vida das comunidades.
Apesar dos benefícios económicos do turismo serem normalmente os mais citados
quando se pretende analisar a importância do turismo no desenvolvimento das regiões, a
natureza complexa e multifacetada do turismo faz com que os seus efeitos não se
limitem apenas à esfera económica. O turismo poderá contribuir para a valorização do
património cultural, para a revitalização das artes e ofícios tradicionais, para a criação
de equipamentos culturais (Ap, 1992; Andereck et al., 2005; Brunt e Courtney, 1992;
Mathieson e Wall, 1990) e para a preservação do meio ambiente (Andereck et al.,
2005). No entanto, apesar de, para a maioria das regiões de destino, os efeitos positivos
do turismo serem superiores aos efeitos negativos, existem vários efeitos negativos de
que o turismo poderá ser responsável, como, por exemplo, contribuir para o aumentos
do nível geral de preços (Akis et al., 1996; Brunt e Courtney, 1999; Haralambopoulos e
Pizam, 1996; Mathieson e Wall, 1990), alterações da conduta moral, desenvolvimento
de processos de aculturação (Ap, 1992; Andereck e tal., 2005; Brunt e Courtney, 1999;
Mathieson e Wall, 1990) e destruição do meio ambiente (Andereck et al., 2005; Archer
e Cooper, 2002; Ko e Stewart, 2002; Mathieson e Wall, 1990).
A maximização dos impactes positivos do turismo e a minimização dos custos passa,
obrigatoriamente, pela implementação de estratégias de desenvolvimento turístico que
integrem as componentes necessárias para que o turismo possa efectivamente
desempenhar o papel de motor de desenvolvimento das regiões que, frequentemente, lhe
é atribuído. Uma das componentes fundamentais que deve integrar qualquer estratégia
de desenvolvimento turístico dos destinos é a comunidade. Trabalhar com as pessoas, e
não apenas para as pessoas, deve ser o lema de qualquer estratégia de desenvolvimento
turístico.
A relevância dos residentes tem sido analisada em vários domínios da actividade
turística (McDowall e Choi, 2010), como por exemplo em termos de competitividade e
atractividade dos destinos turísticos e na definição de políticas e estratégias de
desenvolvimento turístico para os destinos. Estes domínios têm um papel relevante no
sucesso ou insucesso de um destino. Se os residentes forem ouvidos e integrados no
processo de desenvolvimento turístico e se percepcionarem impactes positivos líquidos
do turismo tenderão a ter uma atitude mais favorável com os visitantes e,
consequentemente, a contactarem com mais frequência com os visitantes (McDwall e
Choi, 2010). Estas atitudes dos residentes terão um efeito positivo na experiência
turística dos visitantes. Caso os visitantes fiquem satisfeitos tenderão a tornar-se mais
fieis ao destino, repetindo a visita ou recomendando o destino ao seu grupo de
familiares e amigos.
Com base nos argumentos descritos anteriormente fica claro que os residentes são
importantes stakeholders dos destinos turísticos, podendo ser, em simultâneo,
beneficiados e beneficiadores da indústria turística. No entanto, se a estratégia de
desenvolvimento turístico não permitir um desenvolvimento sustentável do destino, os
residentes podem passar a desempenhar o papel, em simultâneo, de prejudicados e de
prejudicadores da indústria turística. Uma das principais formas em que se poderá
traduzir a atitude dos residentes face ao turismo é através do nível de contacto social
que estabelecem com os visitantes. Apesar da relevância desta temática para o sucesso
dos destinos turísticos a investigação neste domínio é, ainda, extremamente reduzida
(Reisinger e Turner, 1998; Reisinger e Turner, 2003; Pizam, et al, 2000). Os poucos
estudos que têm sido feitos neste domínio, de acordo com o tipo de intervenientes,
poderão ser categorizados em três grupos: estudos que analisam a interacção entre
visitantes (ex: Murphy, 2001); estudos que analisam a interacção entre residentes e
visitantes na perspectiva dos visitantes (ex: Pizam et al., 2000; Yoo e Sohn; 2003;
Reisinger e Turner, 1998; Reisinger e Turner, 2002) e estudos que analisam a interacção
entre visitantes e residentes prespectiva dos residentes (ex: Andereck et al, 2005; Brunt
e Courtney, 1999; Lawton, 2001; Weaver e Lawton, 2001). Este estudo pretende
contribuir para o desenvolvimento da investigação ao nível da interacção residentevisitante na perspectiva dos residentes. Pretende-se, também, identificar os factores que
poderão influenciar o grau de interacção residente-visitante. Para alcançar este
objectivo, o artigo foi estruturado em três secções. Numa primeira secção apresenta-se o
quadro teórico relacionado com a temática que está a ser objecto de análise, fazendo
referência à importância da comunidade no desenvolvimento turístico dos destinos, à
interacção em turismo, aos factores que poderão influenciar a interacção residentevisitante na perspectiva do residente. Nesta secção apresenta-se também uma análise
detalhada da percepção dos residentes dos impactes do turismo, pelo facto de se
considerar que a percepção dos impactes é um dos principais factores que influencia a
interacção residente-visitante. O referencial teórico culmina com a proposta de um
modelo conceptual que pretende analisar a relação entre interacção residente-visitante e
o desenvolvimento dos destinos turísticos, que inclui os factores relacionados com os
residentes que poderão influenciar a frequência de interacção residente-visitante. Numa
segunda secção pretende-se testar em termos empíricos uma parte do modelo conceptual
proposto – os factores relacionados com os residentes que influenciam a frequência da
interacção entre residentes e visitantes. Para atingir este objectivo, apresentam-se os
resultados de um estudo empírico realizado junto dos residentes da cidade de Aveiro
(Portugal), onde pouca investigação tem sido feita neste domínio. O artigo termina
como uma discussão dos resultados em termos de contribuições e implicações do artigo
para a problemática teórica que lhe está associada e para o desenvolvimento turístico de
um destino urbano – a cidade de Aveiro.
2. A importância do contacto social entre residentes e visitantes no
desenvolvimento dos destinos turísticos
2.1. Interacção residente-visitante
Tal como Reisinger e Turner (2003) sugerem, no âmbito do turismo o contacto social
pode ser definido como o encontro pessoal entre um turista e um residente. Este
contacto pode ocorrer quando os visitantes compram produtos aos residentes, quando
visitantes e residentes ficam lado a lado num determinado local (ex: praia, monumento)
ou quando se encontram face a face para trocar informações e ideias (De Kadt, 1979). O
contacto residente-visitante geralmente é temporário, breve, não repetitivo, sujeito a
exploração e desconfiança, superficial, em determinadas situações formal e comercial,
bem como assimétrico em termos de significado para o visitante e o residente (De Kadt,
1979; Reisinger e Turner, 2003). Este último aspecto é especialmente corroborado por
Krippendorf (1987) que afirmava que os visitantes e residentes de um mesmo destino se
encontram em situações completamente opostas. Enquanto o visitante se encontra,
geralmente, a desfrutar o seu tempo de lazer, satisfazendo as suas necessidades
recreativas, possuindo liberdade e usufruindo de momentos que lhe proporcionam
prazer, os residentes estão geralmente a trabalhar, tentando satisfazer outro tipo de
necessidades, tais como as de subsistência. Yoo e Sohn (2003) realçam,
especificamente, que no caso dos turistas internacionais, as interacções entre turistas e
residentes são relações que se estabelecem entre pessoas de sociedades diferentes, que
possuem sistemas de valores diferentes.
Como Doxey (1975) sugere através do seu índice de irritação, as relações visitanteresidente podem caracterizar-se por euforia, apatia, irritação e antagonismo. Por um
lado, como Yoo e Sohn (2003) remarcam, as diferenças existentes entre turistas e
residentes podem originar determinados problemas, tais como o visitante sentir-se
inseguro por estar em condições estranhas, ou sentir que é visto como uma mera fonte
de rendimento pela comunidade hospedeira. No entanto, por outro lado, a interacção
residente-visitante pode contribuir para uma maior satisfação dos residentes (ex: Pizam
et al., 2000), nomeadamente pelas oportunidades de socialização e de intercâmbio
cultural que possibilita, fomentando que o residente contribua de forma mais positiva
para o desenvolvimento turístico dos destinos.
A interacção residente-visitante tem sido operacionalizada de modos muito diferentes ao
longo dos anos. Krippendorf (1987) sugeriu, na década de 80, uma forma de
operacionalização que consistia na classificação dos residentes em categorias, com base
na frequência e tipo de contacto (directo ou não) estabelecido com os visitantes e, ainda,
na dependência do turismo em termos de rendimento. De acordo com esta tipologia de
classificação, os residentes podem ser classificados nas seguintes quatro categorias:
(i)
(ii)
Pessoas que estão em contacto directo e contínuo com os turistas e que
dependem economicamente do turismo;
Proprietários de negócios turísticos mas que não têm contacto regular
com os turistas;
(iii)
Pessoas que estão em contacto frequente e directo com os turistas mas
cujo rendimento só provem parcialmente do turismo;
(iv)
Residentes que não têm contacto directo com os turistas ou que
simplesmente passam por eles em determinados locais.
Muitas vezes a interacção residente-visitante tem sido operacionalizada com base na
frequência do contacto entre estes dois agentes (Andereck et al., 2005; Weaver e
Lawton, 2001). Weaver e Lawton (2001) tentaram medir a interacção residente-visitante
numa zona de franja rural-urbana na Goald Coast, na Austrália, pedindo aos residentes
que indicassem a quantidade de contacto estabelecido com o turista durante o Verão
(ex: frequentemente, algumas vezes). De forma semelhante, Andereck et al. (2005)
avaliaram o contacto de residentes do Arizona com visitantes dessa região apenas com
base num único item, utilizando uma escala de quatro pontos que variava entre nenhum
contacto e uma grande quantidade de contacto. Num estudo desenvolvido em Israel por
Pizam et al. (2000) que se focalizava na interacção entre o turista e o residente, a
frequência de contacto era avaliada consoante o facto de os destinos frequentados pelos
turistas oferecerem maior ou menor oportunidade de contacto com os residentes. Os
turistas foram então divididos em três grupos de acordo com o tipo de destino que
estavam a visitar - Kibbutz, Moshav e Cidade.
O foco de várias outras pesquisas foi, no entanto, o tipo de relação estabelecido entre
residentes e visitantes, tendo estado a operacionalização da interacção residentevisitante baseada neste aspecto (Heuman, 2005; Reisinger e Turner, 1998; Reisinger e
Turner, 2002; Teye et al., 2002; Zhang et al., 2006). Neste tipo de pesquisa avaliavamse características da relação tais como o facto de o contacto ser ou não directo, o tipo de
acções desenvolvidas para estabelecer contacto (ex: partilhar refeições, os residentes
indicarem aos turistas locais a visitar) e o nível de intimidade criado (ex: os residentes
terem desenvolvido amizade com turistas).
Apenas num reduzido número de estudos (ex: Brunt e Courtney, 1999) a interacção
residente-visitante foi operacionalizada com base, simultaneamente, na frequência e tipo
de contacto. Brunt e Courtney (1999), num estudo realizado em Dawlish - um pequeno
resort balnear em South Devon (no Reino Unido) - optaram por operacionalizar a
interacção residente-visitante com base na frequência e tipo de contacto, tendo para o
efeito utilizado a tipologia de classificação dos residentes definida por Krippendorf
(1987), já anteriormente referida.
De acordo com a revisão de literatura acima apresentada observa-se que a frequência de
contacto tem sido considerada, frequentemente, um bom indicador da interacção
residente-visitante. No entanto, uma das limitações da pesquisa realizada é que não tem
em consideração a pluralidade de espaços existentes ao nível do destino e o facto de a
interacção residente-visitante, em cada um desses espaços, poder ser diferente. O estudo
empírico realizado no presente artigo procura colmatar esta limitação, avaliando a
frequência de contacto em diversos locais do destino (ex: em monumentos, na rua).
Alguns autores não se limitaram a investigar a interacção residente-visitante, tentando
analisar também as potenciais consequências dessa interacção para os turistas e para os
residentes. Reisinger e Turner (2002) testaram o impacte da interacção dos turistas com
os residentes na satisfação dos turistas. Em 2003, Yoo e Sohn (2003) propuseram um
modelo das interacções interculturais dos turistas internacionais que testaram com
entrevistas realizadas a cidadãos Coreanos que tinham feito uma viagem ao estrangeiro
nos últimos doze meses. Neste modelo, os autores realçam o importante papel que a
interacção com os residentes pode ter no sentido de ajudar os turistas internacionais a
ultrapassarem conflitos que sentem quando estão no destino, permitindo-lhes,
nomeadamente, aprender normas culturais locais e alterar imagens negativas que lhes
tivessem sido transmitidas sobre o destino. Weaver e Lawton (2001) procuram perceber
qual é a influência que a interacção residente-visitante tem nas atitudes dos residentes
relativamente ao turismo. No entanto, mesmo neste caso, a interacção só é avaliada com
base num único item referente à frequência de interacção com turistas na época de
Verão. No estudo de Pizam et al. (2000) realizado em Israel com working tourists,
verifica-se que quanto maior é a interacção dos turistas com os residentes, mais
favoráveis são os sentimentos dos turistas relativamente aos residentes e mais positiva é
a mudança de atitude relativamente a esses residentes e ao próprio destino.
Outros autores procuraram identificar variáveis que influenciam a interacção entre
residentes e visitantes. Reisinger e Turner (1998, 2002) desenvolveram estudos e
criaram um modelo sobre a influência de algumas variáveis – valores, regras de
comportamento e percepções dos fornecedores dos serviços turísticos (ex: se os
fornecedores compreendem as necessidades dos turistas, se dão atenção individual aos
turistas) - nas interacções sociais que se estabelecem entre turistas e residentes. O
modelo foi testado com turistas Asiáticos que visitavam a região da Goald Coast, na
Austrália. Yoo e Sohn (2003) advogam que os problemas que os turistas podem,
eventualmente, sentir quando estão nos destinos, podem condicionar a sua interacção
com os residentes.
Tal como se pode observar, a investigação sobre a interacção residente-visitante nos
destinos turísticos é muito escassa. Verifica-se também que não existem muitos estudos
sobre os factores que determinam a interacção, e que nenhum destes estudos avalia, de
forma explícita, a influência das percepções de impactes na interacção. No entanto,
considerando que a percepção que os residentes têm dos impactes do turismo poderá ter
uma importante influência na forma como os residentes interagem com os visitantes, na
próxima secção analisar-se-á mais aprofundadamente alguma investigação sobre a
percepção dos impactes do turismo.
2.2. Percepção dos residentes dos impactes do turismo
Os residentes dos destinos turísticos podem ter uma influência determinante na
experiência que os visitantes têm nos destinos, através da sua hospitalidade e da sua
intervenção no planeamento e gestão dos destinos turísticos (Andereck et al. 2005;
Brunt e Courtney 1999; Haley et al. 2005; Mathieson e Wall 1990). Por este motivo, os
residentes têm sido reconhecidos como importantes stakeholders dos destinos
(Andereck et al. 2005; Andriotis e Vaughan 2003; De Kadt 1979; Kayat 2002;
Mathieson e Wall, 1990; Pérez e Nadal 2005). Estes aspectos têm fomentado, nas
últimas décadas, o desenvolvimento de vários estudos em que se procura analisar a
percepção dos residentes sobre os impactes do turismo na região onde residem (ex:
Andriotis e Vaughan, 2003; Byrd et al., 2009; Brunt e Courtney, 1999; Diedrich e
García-Buades, 2009; Haley et al. 2005; McDowall e Choi, 2010; McGehee e
Andereck, 2004; Nunkoo e Ramkissoon, 2010; Sharma e Dyer, 2009; Sharma et al.,
2008; Tosun, 2002; Tovar e Lockwood, 2008; Weaver e Lawton, 2001). Embora em
algumas destas pesquisas as percepções de impactes sejam identificadas através de
entrevistas (ex: Brunt e Courtney, 1999), na maioria delas as percepções são medidas
através da resposta dos residentes a questionários com um extenso conjunto de questões
sobre os diversos tipos de impactes do turismo. Verifica-se, no entanto, que em alguns
estudos pontuais (ex: Tosun, 2002), o número de questões é relativamente reduzido, o
que pode colocar limitações às conclusões que se podem alcançar com o estudo.
Algumas investigações focam-se em determinados tipos de impactes como os impactes
sociais (Sharma et al., 2008; Tovar e Lockwood, 2008) ou socioculturais (Brunt e
Courtney, 1999) do turismo. No entanto, a maioria dos estudos desenvolvidos sobre a
percepção dos residentes dos impactes do turismo, tendem a ser bastante abrangentes e a
avaliar a percepção de diversos tipos de impactes. Analisando este último tipo de
estudos, mais abrangentes, pode concluir-se que os residentes tendem, frequentemente,
a considerar que alguns dos maiores impactes do turismo na região onde residem são os
impactes económicos positivos. Neste contexto, alguns estudos revelam que o turismo
beneficia muito a economia local (Andriotis e Vaughan, 2003; Byrd et al., 2009;
McGehee e Andereck, 2004), contribui para o aumento do investimento (McDowall e
Choi, 2010; Nunkoo e Ramkissoon, 2010), para a criação de negócios (Nunkoo e
Ramkissoon, 2010; Sharma e Dyer, 2009) e para o aumento do emprego (Andriotis e
Vaughan, 2003; McGehee e Andereck, 2004; Nunkoo e Ramkissoon, 2010; Sharma e
Dyer, 2009; Tosun, 2002). Os residentes tendem, quase sempre, a reconhecer que os
impactes económicos positivos são superiores aos negativos (Andriotis e Vaughan,
2003; Byrd et al., 2009; McDowall e Choi, 2010). No entanto, o aumento do preço dos
bens e serviços é o custo económico mais percepcionado pelos residentes.
Para além dos impactes económicos positivos, os residentes tendem ainda a considerar,
com muita frequência, que o turismo tem importantes contributos a nível social e
cultural. Neste domínio, os impactes do turismo que têm vindo a assumir maior
relevância para os residentes são o desenvolvimento de actividades culturais - facto que
proporciona uma maior diversidade na oferta cultural do destino (Andriotis e Vaughan,
2003; Byrd et al., 2009; McGehee e Andereck, 2004) -, o contributo para a preservação
e restauro de edifícios e locais históricos (McDowall e Choi, 2010; McGehee e
Andereck, 2004; Nunkoo e Ramkissoon, 2010) e a possibilidade de intercâmbio cultural
(McGehee e Andereck, 2004). Contudo, um dos aspectos que tem vindo a ser
frequentemente apontado como uma das principais consequências negativas sociais do
turismo é o aumento do congestionamento do tráfego (Byrd et al., 2009; McGehee e
Andereck, 2004; Nunkoo e Ramkissoon, 2010; Sharma e Dyer, 2009). Em alguns
estudos são também, pontualmente, apontadas como muito relevantes outras
consequências sociais e culturais negativas como a pressão exercida nos serviços locais
(ex: de segurança e saúde) causada pelo aumento da procura (ex: Sharma e Dyer, 2009)
e a alteração, ou eventual destruição, da cultura local (ex: Nunkoo e Ramkissoon, 2010).
No que se refere aos impactes ambientais, não existe uma tendência tão clara sobre a
perspectiva dos residentes. Se é verdade que em alguns estudos (ex: Weaver e Lawton,
2001) é realçado o contributo do turismo para a conservação da natureza, parece haver
uma tendência para, em muitos estudos, os residentes enfatizarem, precisamente, os
efeitos prejudiciais do turismo a nível ambiental, tais como a destruição de recursos
naturais e a poluição (Andriotis e Vaughan, 2003; Sharma e Dyer, 2009).
Sendo verdade que é possível identificar algumas tendências gerais relativamente às
percepções dos residentes dos impactes do turismo, é importante também referir que a
percepção dos impactes dos residentes pode variar bastante consoante o tipo de destino
e o seu nível de desenvolvimento turístico (Diedrich e García-Buades, 2009; McDowall
e Choi, 2010). No estudo de McDowall e Choi (2010) realizado em quatro destinos
Tailandeses verificou-se que, nos destinos mais populares para o mercado interno, os
residentes tendem a reconhecer menos impactes do turismo do que nos destinos
reconhecidos internacionalmente. Observa-se também que, nos destinos mais populares
a nível interno, os residentes tendem a reconhecer mais os benefícios económicos do
turismo (ex: aumento do investimento, aumento das receitas do estado), enquanto nos
destinos turísticos reconhecidos internacionalmente, os residentes enfatizam mais os
impactes culturais positivos do turismo tais como o facto de o turismo contribuir para
que os residentes locais apreciem a cultura da região onde residem. No estudo de
Diedrich e García-Buades (2009), em que se comparam cinco comunidades do Belize
com diferentes níveis de desenvolvimento turístico, enquanto os residentes de três
comunidades tendem a reconhecer mais os benefícios económicos do turismo (ex:
criação de emprego e aumento do rendimento), os residentes das outras duas
comunidades tendem a identificar mais os contributos do turismo para o
desenvolvimento das comunidades (ex: construção de edifícios e de infra-estruturas).
No que concerne aos destinos onde os estudos sobre as percepções dos residentes foram
desenvolvidos, verifica-se que a maioria destes estudos foi realizada fora da Europa em
destinos situados nos Estados Unidos da América (Byrd et al., 2009; McGehee e
Andereck, 2004) e Austrália (Sharma e Dyer, 2009; Sharma et al., 2008; Tovar e
Lockwood, 2008; Weaver e Lawton, 2001). Os poucos estudos realizados na Europa
foram efectuados em locais situados em destinos como o Reino Unido (Brunt e
Courtney, 1999; Haley et al. 2005) e a Grécia, detectando-se uma grande falta de
estudos deste tipo em diversos países europeus, tal como Portugal. Verifica-se também
que a maioria da investigação desenvolvida neste âmbito tem sido realizada em
pequenas comunidades, muitas vezes rurais, ou em destinos turísticos balneares. Muito
poucos são os estudos realizados em cidades e, mesmo esses estudos, referem-se a
cidades com algumas especificidades, nomeadamente, o facto de serem cidades que se
localizam em ilhas (ex: Creta, Port Louis, nas Ilhas Maurícias) (Andriotis e Vaughan,
2003; Nunkoo e Ramkissoon, 2010).
Em alguns estudos pretende-se já tentar perceber se existe alguma relação entre
percepções de impactes do turismo e alguns aspectos da interacção residente-visitante
(ex: Brunt e Courtney, 1999; Reisinger e Turner, 2002). No entanto, estes estudos
possuem determinadas especificidades que não permitem obter uma conclusão geral
sobre este tipo de relação, nomeadamente pelo facto de serem estudos exploratórios de
índole qualitativa ou por focarem aspectos muito específicos da interacção (ex: Brunt e
Courtney, 1999; Reisinger e Turner, 2002).
No presente artigo pretende-se analisar mais aprofundadamente a influência da
percepção dos residentes dos impactes do turismo na interacção residente-visitante.
Pretende-se, ainda, analisar a importância desta influência no desenvolvimento turístico
dos destinos.
2.3. Interacção residentes-visitantes e desenvolvimento dos destinos turísticos –
modelo de análise proposto
A importância do envolvimento dos residentes no desenvolvimento turístico dos
destinos tem sido largamente debatida na literatura (Diedrich e Garcia-Buades, 2009;
van der Duim et al., 2005; Frauman e Banks, 2010; Mathieson e Wall, 1990; Nunkoo e
Rambissoon, 2010 Kayat, 2002; de Kadt, 1979). No entanto, muito poucos estudos
analisam factores que poderão influenciar o nível de interacção dos residentes com os
visitantes na perspectiva dos residentes e as implicações que esse nível de interacção
poderá ter no desenvolvimento dos destinos turísticos. Com base no referencial teórico
descrito nas secções anteriores sobre o grau de interacção entre residentes e visitantes e
os factores que influenciam essa interacção, apresenta-se, na Figura 1, um modelo
conceptual que integra os factores relacionados com os residentes que influenciam a
frequência da interacção, considerando-se que este tipo de interacção é uma forte
determinante do desenvolvimento dos destinos turísticos.
Percepção dos residentes dos
impactes do turismo
Experiência turística
H1
H2
H3
Facilidade de interacção com
os visitantes
Nível de
interacção
dos residentes
Desenvolvimento
dos destinos
turísticos
H4
Perfil sócio-demográfico dos
residentes
Figura 1 – Modelo de análise – determinantes da interacção entre residentes e visitantes na
perspectiva dos residentes
Considera-se, neste estudo, que a percepção dos residentes dos impactes do turismo é
um dos principais factores que influencia o grau de interacção entre residentes e
visitantes, apesar de existirem poucos estudos que avaliam este tipo de relação. Para a
análise desta relação é possível evocar a Teoria da Troca Social. Vários estudos têm
utilizado esta teoria para explicar a atitude dos residentes face ao turismo (ex: Ap, 1992;
Andereck e Vogt, 2000, Lee et al., 2010; Reisinger e Turner, 2003). No modelo
proposto neste artigo faz-se referência à Teoria da Troca Social para fundamentar o tipo
de relação que se espera obter entre a percepção dos residentes dos impactes do turismo
e o grau de interacção residente-visitante. Neste sentido, se os residentes percepcionam
que os benefícios que obtêm com o turismo são superiores aos custos, tenderão a
desenvolver uma atitude favorável em relação ao turismo, o que se poderá traduzir
numa maior frequência de contacto com os visitantes. Para avaliar esta relação, propõese a seguinte hipótese de investigação:
H1: Existe uma relação positiva entre a percepção dos residentes dos benefícios do
turismo e o nível de interacção que estabelecem com os visitantes.
A frequência de interacção dependerá da facilidade com que os residentes interagem
com os visitantes (Yoo e Sohn, 2003). Se existirem diferenças culturais significativas
entre os residentes e os visitantes o contacto social tenderá a ser menor (Reisinger e
Turner, 2003). Neste sentido, propõe-se a seguinte hipótese de investigação:
H2: Existe uma relação positiva entre o nível de facilidade de interacção residentevisitante percepcionado pelo residente e a frequência da interacção.
Apesar da pouca literatura existente sobre o efeito que a experiência turística poderá ter
na frequência da interacção residente-visitante, considera-se, neste estudo, que quando
os residentes têm uma experiência turística, tenderão a compreender melhor o
comportamento dos visitantes e a valorizar mais a importância da interacção, uma vez
que vários estudos revelam que a interacção residente-visitante contribui para a
aumentar o nível de satisfação dos visitantes (McDowall e Choi, 2010; Pizam et al.,
2000; Reisinger e Turner, 2002). Estes factores poderão contribuir para que os
residentes que têm experiências turísticas estabeleçam mais contactos sociais com
visitantes. Neste sentido, propõe-se a seguinte hipótese de investigação:
H3: Os residentes com experiências turísticas contactam mais frequentemente com
os visitantes do que os outros residentes.
Por fim, considera-se que o grau de interacção residente-visitante também é
influenciado pelo perfil sócio-demográfico dos residentes. Reisinger e Turner (2003),
evidenciam que o perfil dos intervenientes no processo de interacção é um factor que
influencia esse processo, no entanto não se conhecem evidências empíricas que
comprovem esta relação. Existem, no entanto, alguns estudos que evidenciam que
quando existe similaridade em termos de perfil, status e atitudes entre os residentes e os
visitantes a interacção social entre estes dois grupos tenderá a ser maior (Reisinger e
Turner, 2003). Por sua vez, quando existe uma oportunidade de contacto entre os
visitantes e os residentes a frequência de interacção tenderá a ser maior (Reisinger e
Turner, 2003). Com base nestas reflexões propõe-se a seguinte hipótese de investigação:
H4: O perfil dos residentes influencia a frequência de interacção residentevisitante.
De forma a avaliar em termos empíricos o modelo conceptual proposto foi realizado um
estudo junto dos residentes da cidade de Aveiro. Na secção seguinte apresenta-se a
metodologia utilizada neste estudo e os resultados obtidos.
3. A percepção dos residentes dos impactes do turismo e o nível de interacção com
turístas num destino urbano de Portugal
3.1. Metodologia
3.1.1. Local de realização do estudo: A cidade de Aveiro
O estudo empírico desenvolvido nesta tese foi realizado em Aveiro - uma cidade da
Região Centro de Portugal situada no concelho de Aveiro. A cidade de Aveiro
corresponde ao maior agregado populacional do concelho de Aveiro, possuindo cerca de
55 305 habitantes, que correspondem a cerca de 75% dos habitantes do concelho de
Aveiro (INE, 2002). A sua densidade populacional é de cerca de 986 habitantes por
Km2 (INE, 2002).
Uma das principais atracções turísticas da cidade de Aveiro, que faz com que muitos
visitantes se desloquem a esta Cidade, é a ria de Aveiro e os seus canais distribuídos
pela Cidade. A ria possibilita aos visitantes usufruir de uma bonita paisagem e, também,
passear de barco pelos canais. A Cidade possui ainda importantes atracções de carácter
cultural, sendo algumas das mais importantes o conjunto das casas de Arte Nova que se
encontram dispersas pelas diversas ruas da Cidade, alguns museus e uma grande
diversidade de eventos culturais organizados ao longo do ano por diversas entidades. Na
cidade de Aveiro existem ainda algumas infra-estruturas para congressos, tais como o
Centro de Congressos de Aveiro, especialmente criado para acolher reuniões. Em 2008,
registaram-se 106 918 hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros do Concelho de
Aveiro, tendo-se verificado na última década (entre 1998 e 2008) um aumento das
dormidas anuais dos hóspedes de 64% (INE, 2000; INE, 2009). A maior parte dos
hóspedes são Portugueses (59%) e Espanhóis (24%) (INE, 2009). Apesar do
crescimento verificado nas dormidas, tendo em atenção o modelo do ciclo de vida dos
destinos de Butler (1980) e os indicadores relativamente aos estabelecimentos
hoteleiros, considera-se que este concelho se encontra ainda numa fase de
desenvolvimento, pois possui um número anual de hóspedes relativamente baixo
comparativamente com o número de residentes no Concelho, tem uma taxa de ocupação
cama líquida relativamente baixa (37% em 2008) e, sobretudo, uma estada média muito
reduzida (1,8 noites em 2008). Tendo em consideração que o destino turístico cidade de
Aveiro está ainda numa fase de desenvolvimento, o futuro da cidade de Aveiro
enquanto destino turístico depende das políticas de turismo que venham a ser adoptadas,
bem como do envolvimento dos diversos stakeholders no processo de desenvolvimento
turístico. Os residentes desempenham um papel crucial neste âmbito, sendo um dos
stakeholders mais afectados pelos impactes do turismo, coabitando com os visitantes na
sua região de residência e podendo interagir com os visitantes nessa mesma região,
afectando a satisfação e experiência turística dos visitantes.
3.1.2. Método de amostragem
A população do presente estudo é constituída pelos residentes na cidade de Aveiro. Foi
seleccionada uma amostra de residentes, com base num processo de amostragem multietapas. Primeiro dividiu-se a Cidade de Aveiro em 20 áreas e decidiu fazer-se 30
questionários em cada área, de modo a garantir que os residentes de todas as áreas
tinham probabilidade de ser seleccionados. Em cada área foi seleccionada
aleatoriamente uma rua e foi inquirido, sempre, o décimo residente que passava no local
da rua onde os entrevistadores se encontravam.
No sentido de obter informação sobre as percepções dos residentes de Aveiro dos
impactes do turismo e a interacção que estes residentes estabelecem com os visitantes,
optou por utilizar-se como instrumento de investigação o questionário.
3.1.3. Instrumento de investigação: O questionário
Tal como na maioria dos estudos referidos na revisão bibliográfica, avaliaram-se as
percepções dos residentes dos impactes do turismo com base num extenso conjunto de
questões relacionadas com os diversos impactes potenciais do turismo – impactes
económicos, ambientais e socioculturais, tanto positivos como negativos. A lista de
impactes incluída no questionário foi identificada numa revisão de diversos estudos
sobre a percepção dos residentes dos impactes do turismo (Andereck et al., 2005; Brunt
e Courtney, 1999; Haralambopoulos e Pizam, 1996; Mathieson e Wall, 1990; Tosun,
2002; Weaver e Louton, 2001;). À semelhança de muitos estudos publicados nesta área,
foi também solicitado aos residentes que indicassem, com uma escala de tipo Likert de
vários pontos (de 1 “discordo completamente” a 5 “concordo completamente”), se
concordavam que os diferentes impactes do turismo ocorriam no destino.
No que concerne à interacção residente-visitante, esta variável foi medida com base
num dos indicadores anteriormente utilizados para operacionalizar esta interacção – a
frequência do contacto com os visitantes. No entanto, neste estudo foi avaliada a
frequência de contacto em vários locais do destino. Os residentes tinham que indicar a
frequência com que contactavam os visitantes em cada local utilizando a seguinte escala
de tipo Likert de 5 pontos de 1 “muito raramente” a 5 “muito frequentemente”.
Foi ainda perguntado aos residentes se se sentiam à vontade para responder aos
visitantes, mesmo numa língua estrangeira, tendo os residentes que responder usando
uma escala de tipo Likert de 5 pontos de 1 “muito raramente” a 5 “muito
frequentemente”.
O questionário abrangia ainda questões sobre o perfil sócio-demográfico dos residentes
(ex: género, idade, estado civil) e sobre a sua experiência turística. No que respeita à
experiência turística foi perguntado aos residentes se costumavam gozar férias no
concelho de residência.
Os questionários foram administrados pessoalmente pelos investigadores responsáveis
por este estudo. Foi obtido um total de 570 questionários.
3.1.4. Técnicas de análise dos dados
Numa primeira fase procedeu-se à análise univariada dos dados recorrendo-se ao
cálculo de frequências, médias e desvios-padrão. Posteriormente realizaram-se algumas
análises multivariadas dos dados tais como análises factoriais e regressões lineares. A
finalidade com que foram utilizadas estas análises será explicada na secção 3.2.
3.2. Análise e discussão dos resultados
3.2.1. Perfil da amostra
Na amostra existe um grande equilíbrio entre as pessoas do género feminino e
masculino. Embora a maioria dos inquiridos tenha entre 25 e 64 anos (65%), a amostra
inclui também um número considerável de pessoas com menos de 25 anos (19%) e com
mais de 64 anos (16%). Observa-se também que, no conjunto de residentes inquiridos
existe uma grande proporção de pessoas casadas (40%) e solteiras (47%). Relativamente
à situação perante o emprego, a maior parte dos residentes estão empregados (54%),
embora haja ainda uma percentagem considerável de estudantes (20%), alguns
reformados (14%) e desempregados (12%). Só um reduzido número de inquiridos
(19%) tem uma profissão relacionada com o turismo. A maioria dos residentes (64%)
tem habilitações equivalentes ao ensino secundário e superior, embora uma
percentagem considerável (36%) tenha habilitações inferiores. Regista-se também que a
maioria dos inquiridos (78%) já vive há mais de 5 anos em Aveiro, embora uma
proporção considerável viva há menos tempo nesta cidade. No que respeita à
experiência turística, a maior parte dos inquiridos (79%) não passa férias no seu
concelho de residência.
Tabela 1 – Perfil da amostra
N
%
Perfil sócio-demográfico
Género
Feminino
Masculino
Idade
15 a 24 anos
25 a 64 anos
Mais de 64 anos
Estado civil
Casado(a)
Solteiro(a)
Divorciado(a)
Viúvo(a)
Situação perante o emprego
Empregado(a)
Estudante
Desempregado(a)
Reformado(a)
N
%
Perfil sócio-demográfico
287
281
51
49
106
372
91
19
65
16
225
264
43
34
40
47
7
6
303
112
69
80
54
20
12
14
Profissão relacionada com o turismo
Sim
Não
Nível de habilitações literárias
Inferior ao ensino secundário
Ensino secundário ou superior
Duração da residência em Aveiro
Entre 1 e 5 anos
Há mais de 5 anos
88
374
19
81
206
360
36
64
124
438
22
78
112
431
21
79
Experiência turística
Goza férias no concelho de residência
Sim
Não
3.2.2. Percepção dos residentes dos impactes do turismo
No sentido de identificar um reduzido conjunto de dimensões de impactes capazes de
representar o extenso conjunto de itens de impactes contemplado no questionário,
procedeu-se a uma análise factorial de componentes principais seguida de uma rotação
varimax. Utilizou-se o critério dos eigenvalues para seleccionar os factores, tendo
emergido da análise factorial realizada seis factores (Tabela 2): custos sociais, custos
culturais, benefícios socioculturais, benefícios económicos, custos ambientais e perda de
autenticidade/qualidade. Estes seis factores explicavam 56% da variância total dos itens,
o que é considerado aceitável em ciências sociais. Tendo em consideração os valores do
KMO, do teste de Bartlett, das comunalidades e do Cronbach alpha pode-se considerar
que a análise factorial cumpre os requisitos exigidos neste tipo de análises (Hair et al.,
1998).
Através de uma análise das percepções dos residentes (Tabela 2) percebe-se que,
segundo estes, o turismo tem alguns impactes na cidade de Aveiro, embora não muito
elevados. Verifica-se, à semelhança de outros estudos, que no presente estudo os
benefícios socioculturais e económicos estão entre os impactes mais realçados pelos
residentes. No entanto, neste estudo, os residentes parecem reconhecer ainda mais
benefícios socioculturais do que económicos. Esta situação pode dever-se ao facto de
Aveiro se encontrar ainda numa fase de crescimento/desenvolvimento e ao tipo de
atracções existentes nesta cidade. O nível de desenvolvimento turístico de Aveiro pode
também justificar o facto de os residentes considerarem que os impactes não são ainda
muito elevados. A seguir aos benefícios socioculturais e económicos, são os impactes
ambientais negativos que os residentes reconhecem ter maior intensidade. Estes
impactes foram já reconhecidos como particularmente intensos em várias pesquisas
anteriores analisadas na revisão da literatura. Os residentes da cidade de Aveiro
consideram que o turismo, nesta cidade, não tem ainda impactes muito negativos a nível
sociocultural nem em termos de perda de autenticidade e qualidade dos serviços, o que é
particularmente positivo.
Tabela 2 – Análise factorial de componentes principais das percepções dos residentes dos
impactes do turismo
Factores
Factor Com. Média Média Eigenvalue Variância Cronbach
loading
de cada do
explicada
alpha
atributo factor
acumulada
(%)
Aumento da prostituição
0,784 0,648 2,92
Factor 1
Aumento das doenças sexualmente transmissíveis
0,755 0,675 2,83
0,796
Aumento do consumo de droga
0,739 0,664 2,77
2,86
4,717
20,510
Custos
sociais
Aumento da criminalidade
0,644 0,606 2,80
Aumento do stress
0,412 0,431 2,99
Alterações na forma de vestir
0,724 0,560 2,47
Factor 2
Alterações nos hábitos de consumo
0,686 0,535 2,71
Custos
Alterações linguísticas
0,603 0,482 2,75
2,45
3,114
34,048
0,731
culturais
Diminuição do tempo que os residentes passam com familiares
0,580e amigos
0,502 2,35
Perturbação das práticas religiosas
0,573 0,430 2,22
Perda de identidade cultural
0,495 0,507 2,20
Aumento da oferta de eventos culturais
0,709 0,522 3,88
Factor 3
Rejuvenescimento das artes e ofícios tradicionais
0,678 0,519 3,59
Benefícios Valorização e promoção das tradições
0,672 0,502 3,76
3,69
1,746
41,637
0,727
socioculturais Conservação do património construído
0,657 0,484 3,57
Melhoria das infra-estruturas
0,621 0,563 3,65
Aumento do rendimento dos residentes
0,729 0,604 2,98
Factor 4
Benefícios Aumento do nível de qualidade de vida da população
0,716 0,578 3,41
3,20
1,204
46,873
0,545
0,601 0,615 3,39
económicos Aumento do emprego
Factor 5
Aumento do tráfego rodoviário
0,712 0,624 3,75
Custos
Aumento da poluição
0,691 0,653 3,04
3,40
1,133
51,798
0,621
ambientais
Factor 6
0,807 0,671 2,56
0,481
Perda de Diminuição da autenticidade dos produtos típicos
2,54
0,989
56,099
autenticidade Diminuição da qualidade dos serviços prestados
0,595 0,528 2,50
/qualidade
N = 525
Com. - Comunalidade
KMO = 0,844
Bartlett's test of sphericity = 3,030.637 (sig. 0.000)
Escala: 1 "discordo completamente" a 5 "concordo completamente".
3.2.3. Interacção entre residentes e turistas
Apesar de o destino turístico em análise ser um destino urbano com uma elevada
densidade populacional e já com um número considerável de visitantes, o nível de
interacção que os residentes estabelecem com os visitantes é ainda relativamente baixo.
Numa escala de 1 a 5, onde 1 significa que muito raramente contactam com os visitantes
e 5 que contactam frequentemente, a média do grau de interacção em todos os contextos
é apenas de 2,8. Os resultados obtidos, evidenciam, também, que a frequência de
interacção entre os residentes e visitantes varia de acordo com o local em que essa
interacção ocorre. O maior nível de interacção ocorre em estabelecimentos de
alimentação e bebidas, em outros estabelecimentos comerciais e na rua, quando o
visitante solicita informações aos residentes. Por sua vez, o menor nível de interacção
ocorre em eventos e monumentos (Tabela 3)
Apesar de o grau de interacção entre visitantes e residentes no destino de Aveiro ser
ainda relativamente baixo, os residentes revelam que se sentem à vontade quando
contactam com os visitantes. Numa escala de 1 a 5 relativamente à afirmação “sinto-me
à vontade quando tenho que contactar com visitantes”, onde 1 significa que discorda
completamente e 5 que concorda completamente a média obtida é de 3,52 (Tabela 3).
Tabela 3 –Interacção entre residentes do destino turístico Aveiro e visitantes em diferentes
contextos
Interacção residente-visitante
Estatísticas descritivas
Média
Desvio-padrão
N
Grau de interacção com os visitantes
Estabelecimentos de restauração e bebida
Outros estabelecimentos comerciais
Rua (quando os visitantes solicitam informações)
Local de trabalho
Espaços de animação nocturna
Eventos
Monumentos
Em todos os locais
Facilidade com que os residentes contactam com os visitantes
560
558
559
560
555
555
558
567
569
3,22
3,11
3,10
2,74
2,66
2,62
2,22
2,82
3,52
1,210
1,186
1,159
1,602
1,417
1,247
1,142
0,757
1,280
Escala: 1"muito raramente" a 5 "muito frequentemente".
3.2.4. Factores que influenciam a interacção residente-visitante
Apesar de neste estudo se considerar que a percepção dos residentes dos impactes do
turismo é uma das principais determinantes da frequência com que os residentes
estabelecem contactos sociais com os visitantes, existem outros factores que poderão
influenciar essa interacção, tal como foi descrito no referencial teórico e no modelo de
análise apresentado anteriormente. Para testar as hipóteses de investigação relacionadas
com o modelo de investigação proposto neste estudo, foi desenvolvido um modelo de
regressão linear múltipla, onde a variável dependente é o valor médio da frequência de
interacção entre residentes e visitantes em todos os locais (local de trabalho,
monumentos,
eventos,
estabelecimentos
de
restauração
e
bebidas,
outros
estabelecimentos comerciais, espaços de animação nocturna e rua). As variáveis
independentes estão categorizadas em quatro grupos: percepção dos residentes dos
impactes do turismo (factores obtidos na análise factorial da percepção dos residentes
dos impactes do turismo), experiência turística, facilidade que os residentes sentem na
interacção e perfil sócio-demográfico dos residentes. A formalização matemática do
modelo proposto está descrita na seguinte equação:
FIRV = a + b CS + b CC + b BSC + b BE + b CA + b PAQ + b GF + b FC + b G
+ b I + b DR + b PT + b HL + ε
ij
10
Onde:
i
1
11
i
i
12
2
i
i
13
3
i
i
i
4
i
5
i
6
i
7
i
8
i
9
i
i = 1…n – residentes da cidade de Aveiro;
FIRV – Variável dependente – Frequência da interacção entre residentes e visitantes em todos os contextos;
CS – factor 1 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “custos sociais”;
CC – factor 2 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “custos culturais”;
BSC – factor 3 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “benefícios socioculturais”;
BE – factor 4 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “benefícios económicos”;
CA – factor 5 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “ custos ambientais”;
PAQ – factor 6 – percepção dos residentes dos impactes do turismo – “perda de autenticidade e de
qualidade dos produtos”;
GF – variável dummy (1 = goza férias no concelho de residência; 0 = outros);
FC – Grau de facilidade com que os residentes contactam com os visitantes;
G - variável dummy (1 = sexo feminino; 0 = sexo masculino);
I – variável dummy (1 = + de 64 anos; 0= outros);
DR – variável dummy (1 = reside na cidade há mais de 5 anos; 0 = outros);
PT – variável dummy (1 = profissão relacionada com o turismo; 0 = outra);
HL – variável dummy (1= formação média ou superior; 0 = outra);
ε - resíduos.
Para estimar o modelo foram utilizados o método dos Mínimos Quadrados Ordinários e
o procedimento Stepwise do SPSS. Foram testados todos os pressupostos de um modelo
de regressão linear múltipla. A normalidade dos resíduos foi analisada recorrendo ao
teste não paramétrico do Kolmogorov-Smirnov (K-S), verificando-se através do
resultado do teste (Tabela 4) que o pressuposto não é violado. O estudo da
homocedasticidade e da lineariedade foi efectuado recorrendo à análise gráfica, tendo-se
observado, também, a verificação destes dois pressupostos. Para testar a presença de
multicolineariedade utilizaram-se os valores do VIF (Variance Inflaction Factor) e da
Tolerância, tendo-se verificado a ausência de multicolineariedade (Tabela 4).
O modelo estimado apresenta elevados valores de F, apesar do seu poder explicativo
(R2) ser relativamente baixo (0,235). Apesar desta limitação, os resultados apresentados
na Tabela 5 permitem verificar que a principal determinante do grau de interacção entre
residentes e visitantes em todos os contextos em que podem ocorrer a interacção é a
percepção dos residentes dos benefícios socioculturais do turismo, o que comprova a
existência de uma relação positiva directa entre a percepção dos benefícios do turismo e
o grau de interacção entre residentes e visitantes (H1).
O facto de o residente ter experiência turística, o que neste estudo foi a avaliado através
da variável gozo de férias fora do local de residência, não apresentou poder explicativo,
o que permite rejeitar a hipótese apresentada neste estudo de que os residentes que
efectuam férias fora do local de residência estabelecem um grau de interacção com os
visitantes superior aos residentes que não fazem férias (H2) (Tabela 4)
Quando os residentes se sentem à vontade a contactar com os visitantes a frequência dos
contactos sociais tenderá a ser maior (H3). Esta hipótese foi verificada, tendo-se
observado uma relação estatisticamente significativa entre o grau de conforto que os
residentes sentem quando contactam com os visitantes e a frequência de contactos
sociais que estabelecem com os visitantes.
Em termos de perfil dos residentes, os resultados obtidos revelam que os residentes
seniores interagem menos com os visitantes do que os outros residentes (Tabela 4). Este
resultado poderá estar relacionado com o facto de as pessoas mais idosas revelarem uma
maior dificuldade quando têm que comunicar em outra língua que não seja a sua. Os
residentes que possuem uma actividade profissional relacionada com o turismo, como
têm mais oportunidade de contactar com os visitantes, também apresentam uma maior
frequência de interacção. No que se refere ao género dos residentes, à duração da
residência e ao nível das habilitações literárias, os resultados obtidos no modelo de
regressão linear múltipla revelam que estas variáveis não têm poder explicativo (Tabela
4). Com base nestas evidências empíricas conclui-se que a H4 foi parcialmente
observada.
Tabela 4 – Determinantes do grau de interacção entre residentes e visitantes (análise de
regressão linear múltipla)
Determinantes da interacção
1) Percepção dos impactes do turismo
CS: Custos sociais
CC: Custos culturais
BSC: Benefícios socioculturais
BE: Benefícios económicos
CA: Custos ambientais
PAQ: Perda de autenticidade/qualidade
2) Experiência na aquisição de produtos turísticos
GF: Goza férias fora do concelho de residência
3) Facilidade de interacção com os visitantes
FC: Facilidade de interacção com os visitantes
4) Perfil Sócio-demográfico
G: feminino
I: Idade superior a 64 anos
DR: Duração de residência superior a 5 anos
PT: Profissão relacionada com o turismo
HL: Formação média e superior
Constante
Diagnóstico do modelo
R
R2
Estatística F (α)
Normalidade dos resíduos: Teste Kolmogorov-Smirnov ( α)
Multicolineariedade
Tolerância (todas as variáveis)
VIF ( todas as variáveis)
Grau de interacção
residentes-visitantes
Beta
α
,132
1,033
4,924
1,789
1,341
-,620
,005
,302
,000
,074
,181
,536
,003
,940
,160
,001
,000
-,214
,040
,185
,064
,993
,000
,378
,000
,194
2,394
0,485
0,235
9.568 (0.000)
0.554 (0.919)
Superior ou igual a 0.775
Inferior ou igual 1.016
4. Conclusões e implicações para o desenvolvimento de destinos turísticos urbanos
As evidências teóricas e empíricas apresentadas neste artigo reforçam o que já tem sido
publicado sobre a relevância de envolver os residentes nas estratégias de
desenvolvimento turístico que são adoptadas nos destinos. A competitividade e o
sucesso destes destinos estão fortemente dependentes da atitude dos residentes face aos
visitantes. Quando os residentes desenvolvem atitudes favoráveis em relação ao turismo
tenderão a estabelecer mais interacções com os visitantes. Neste estudo observou-se que
a interacção entre residentes e visitantes poderá contribuir para o aumento da satisfação
dos visitantes e dos residentes, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento dos
destinos turísticos.
As interacções entre residentes e visitantes poderão influenciar o desenvolvimento
turístico dos destinos. Por sua vez, a frequência com que ocorrem essas interacções é
influenciada por um conjunto de factores. A percepção dos residentes dos impactes do
turismo foi o factor com maior impacte na frequência de contacto entre residentes e
visitantes, tendo-se verificado uma relação positiva estatisticamente significativa entre a
percepção dos benefícios do turismo e o grau de interacção entre visitantes e residentes,
o que comprova, claramente, a Teoria da Troca Social.
Os residentes da cidade de Aveiro, em termos globais, consideram que o turismo em
Aveiro tem mais impactes positivos do que impactes negativos. Estes resultados
sugerem que os responsáveis pela gestão do turismo em Aveiro devem continuar a
promover o desenvolvimento do turismo nessa cidade.
Apesar de os residentes terem uma percepção globalmente positiva dos impactes do
turismo, os dados demonstram que as percepções dos residentes sobre estes impactes
poderiam ser bastante mais positivas. Tendo em consideração este aspecto, seria muito
importante que os responsáveis pela gestão do turismo em Aveiro identificassem
estratégias capazes de gerar impactes mais positivos nesta cidade. Seria importante
desenvolver estratégias que valorizassem o património cultural material, nomeadamente
acções para conservação de casas de arte nova, bem como o património imaterial,
através, por exemplo, da diversificação da oferta de eventos culturais e da realização de
iniciativas que contribuíssem para o rejuvenescimento e valorização das tradições. A
implementação de acções em que fossem divulgados, junto dos residentes, os benefícios
económicos, sociais e culturais do turismo, poderia também contribuir para que os
residentes tivessem uma maior percepção dos impactes positivos do turismo em Aveiro.
Seria também particularmente importante desenvolver estratégias destinadas a aumentar
os benefícios económicos do turismo em Aveiro, bem como desenvolver estratégias que
minimizem os impactes ambientais negativos do turismo. Assegurar que grande parte
dos benefícios económicos revertem a favor dos residentes seria um aspecto
particularmente importante.
O estudo apresentado neste artigo também permitiu observar que a interacção entre
residentes e visitantes também é influenciada por outras variáveis relacionadas com os
residentes, tais como as suas características sócio-demográficas e o grau de facilidade
com que contactam com os visitantes. Os residentes mais jovens, que tinham uma
profissão relacionada com o turismo e que sentiam mais facilidade em contactar com os
turistas eram aqueles que mais contactavam com os turistas. No entanto, a descoberta
mais importante no âmbito desta pesquisa foi o facto de se ter verificado que a
percepção dos residentes sobre os impactes socioculturais positivos do turismo estava
positivamente associada à frequência da interacção com turistas e que era a variável do
estudo com maior impacte na interacção. Este aspecto reforça ainda mais a importância
do desenvolvimento de estratégias que aumentem os benefícios socioculturais do
turismo percebidos pelos residentes em Aveiro.
Um aspecto muito positivo é o facto de os residentes da cidade de Aveiro terem
revelado que se sentem à vontade quando contactam com os turistas. No entanto,
verifica-se que esta interacção ainda não é muito elevada, sendo mais frequente em
estabelecimentos de restauração e bebidas, em outros estabelecimentos comerciais (ex:
lojas) e na rua. Seria particularmente relevante apostar em estratégias que criem
oportunidades de interacção entre os residentes e os visitantes. Considerando que
Aveiro é um destino de turismo urbano com uma diversificada oferta de eventos
culturais e de monumentos, o facto de o menor nível de interacção entre residentes e
visitantes ocorrer em eventos e monumentos evidencia claramente que os residentes não
estão a ser completamente integrados na oferta turística deste destino. Perante estes
resultados, considera-se que deveriam ser definidas estratégias para aumentar as
oportunidades de interacção dos residentes com os turistas em monumentos e eventos,
como, por exemplo, permitir que os residentes assumissem um papel mais activo no
fornecimento de serviços aos turistas. Neste âmbito, o papel dos residentes poderia
passar por fornecer informações simples aos turistas, por assumir a função de guia dos
turistas ou, por exemplo, por desempenhar um papel activo numa actividade cultural
(ex: dança ou teatro) destinada aos turistas.
Para finalizar, considera-se que uma missão importante dos responsáveis pelo
desenvolvimento do turismo em Aveiro é apostar em políticas e estratégias que
minimizem os impactes negativos do turismo, maximizem os seus benefícios e
estimulem o contacto social entre residentes e visitantes. A implementação destas
estratégias contribuirá para o desenvolvimento sustentável deste destino.
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