XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
USO E CONHECIMENTO DE MORADORES DA VILA DO PARÁ E
DE UM ASSENTAMENTO SOBRE A Prosopis juliflora (SW) DC.:
UM ESTUDO ETNOBOTÂNICO
Amanda Gomes do Nascimento1, Ana Karolyne Pereira Diniz1, Raíres Daniela Araújo Silva1, Jéssica Dayanne de Lima
Santos1, Renata Oliveira Nascimento1, José Ronaldo Oliveira de Sousa2, Betânia Cristina Guilherme3

Introdução
A caatinga é constituída por um complexo vegetacional que abrange uma área de aproximadamente 800.000 km2,
incluindo partes do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia. A Caatinga é o
quarto maior bioma brasileiro com singularidades específicas, razões que a tornam o único bioma exclusivamente
brasileiro (MMA, 2002). Porém existe uma grande carência e falta de interesse em estudos sobre as florestas secas,
considerada por Araújo e Sousa (2011) como um ecossistema frágil e vulnerável a desertificação, devido as suas
condições climáticas e as características dos solos, além dos impactos antrópicos como a exploração inadequada dos
recursos naturais e a agropecuária.
Para Albuquerque (1999) estudos etnobiológicos possibilita uma maior compreensão das relações homem-meio o
que contribui para a conservação da biodiversidade e do manejo sustentável, por parte da comunidade local. Miranda et
al. (2010) afirma que para potencializar estudos sobre compreensão das relações do homem com os seus recursos
naturais os educadores devem, “trabalhar a Educação Ambiental sob a ótica interdisciplinar em consonância com as
diretrizes da Política Nacional de Educação ambiental (Lei 9795/99)”. Albuquerque (1999) corrobora com a educação
interdisciplinar ao afirmar que estudos etnobiológicos possibilitam associar os conhecimentos construídos no campo das
ciências naturais aos das ciências sociais, tomando como ponto de partida o conhecimento e uso que as populações
locais fazem dos recursos naturais e a análise do impacto de suas práticas sobre a biodiversidade.
A devastação da flora nativa causada pelos impactos antrópicos abre caminhos para a invasão por espécies exóticas
que podem desencadear grandes impactos sobre a biodiversidade, alterando a estrutura das comunidades e inibindo a
regeneração das espécies nativas (Matos e Pivello, 2009; Leão et al. 2011). Na caatinga, a introdução da algaroba
Prosopis juliflora (Sw) DC., trazida com o objetivo de constituir uma alternativa econômica para a região, resultou em
um processo que já foi classificado como de invasão, pois afeta drasticamente a diversidade o que modifica a estrutura
das comunidades invadidas indicando a necessidade de controle da referida invasora por ameaçar a biodiversidade
autóctone do bioma Caatinga e ecossistemas associados (Andrade et al. 2009).
Desta forma, o presente trabalho teve como principal objetivo verificar as representações da população local sobre a
P. juliflora na vila do Pará e no Assentamento Fazenda Santa Helena no município de Santa Cruz do Capibaribe –
Pernambuco, através de questionários, percebendo seu modo de vida, seu uso e conhecimento, e as possíveis alterações
que promovam com esta espécie.
Material e métodos
O presente trabalho foi realizado na vila do Pará, que situa-se entre 7º50’30” S e 36º22’19” W, povoado do
Município de Santa Cruz do Capibaribe, que está situado na Mesorregião do Agreste Pernambucano e na Microrregião
do Alto Capibaribe, Santa Cruz do Capibaribe, com área de 335,526 Km² e a 190 Km da capital Recife. Está
posicionada geograficamente entre as coordenadas 7º57’27” de latitude e 36º12’17” de longitude oeste (IBGE, 2010)
O clima da Cidade é semiárido, tipo Bwh. No verão é quente e seco, com máximas entre 25ºC e 34ºC, com mínimas
entre 16ºc e 20ºC. A precipitação pluviométrica média anual é bastante baixa, geralmente entre 600 e 800 em anos
chuvosos, sendo mal distribuída ao longo do ano, além da frequência ser irregular (EMBRAPA, 2000).
A pesquisa baseou-se em visitas as residências do povoado vila do Pará e do assentamento Fazenda Santa Helena a 4
km da vila do Pará, com entrevista dirigida com questionário realizada a 9 moradores da Vila do Pará e 8 moradores do
assentamento Fazenda Santa Helena, sendo contempladas questões sobre três dimensões, a primeira o perfil
socioeconômico, a segunda a importância da preservação e o nível de conhecimento da P. juliflora pela comunidade e a
1
Primeiro Autor é Aluno do 1º do Ensino Médio Integral da Escola de Referência em Ensino Médio Luiz Alves da Silva. Av. 29 de dezembro,
145, Centro, Santa Cruz do Capibaribe, PE, CEP 55.190-000. E-mail: autor@instituição.br
2
Segundo Autor é Professor de Biologia da Escola de Referência em Ensino Médio Luiz Alves da Silva. Av. 29 de dezembro, 145, Centro, Santa
Cruz do Capibaribe, PE, CEP 55.190-000.
3
Terceiro Autor é Professora do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Manoel Medeiros, S/N, Recife, PE,
CEP 52171-900.
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terceira refere-se à discrição e o que significa a vegetação local e as possíveis consequências causadas pela P. juliflora
para a comunidade.
Para a avaliação das dimensões descritas, que possibilitaram a análise das representações dos moradores sobre a P.
juliflora a partir dos resultados alcançados, foram realizadas análises qualitativas, para tanto, foi utilizada a técnica da
análise do conteúdo para sistematizar e obter indicadores quantitativos, fundamentada por Triviños (2011) e quantitativa
aplicada aos dados que podem ser mensurados. Para esta análise quantitativa foi utilizada a análise simples
(porcentagem), por meio do software Excel para a tabulação dos dados.
Resultados e Discussão
A Dimensão Socioeconômica
Com base na dimensão socioeconômica dos entrevistados a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino (62,5%),
cuja idade predominou na faixa etária de 36 a 45 anos, com uma acima de 65 anos. A idade do sexo masculino
predominou também a faixa etária de 36 a 45 anos.
No que diz respeito ao tempo de moradia na comunidade, o maior tempo foi de 77 anos, porém (75%) os indivíduos
moram a mais de 10 anos. Geralmente as pessoas que nascem na zona rural permanecem até os últimos dias de vida; já
os filhos, ao ficarem adolescentes, saem de casa e procuram as cidades para estudar ou trabalhar. Essas pessoas que têm
pouco tempo de moradia na comunidade são as que vieram das cidades vizinhas e acabam permanecendo na
comunidade.
Os dados sobre escolaridade mostraram que 43,75% dos entrevistados possuem o ensino fundamental II incompleto;
25% dos entrevistados só sabem lê e escrever; 18,75% tem curso superior; 12,5% possuem o ensino fundamental I
completo; 6,25% das pessoas possuem o ensino médio concluído e 6,25% são analfabetas.
No que concerne à importância dada ao lugar onde mora, foram unanimes ao afirmarem que o lugar é tranquilo e
sossegado, e que representa valor cultural, pois nasceram e construíram os seus lares juntos aos familiares, além do mais
os programas sociais e a expansão do polo de confecções possibilitam-lhes uma qualidade de vida melhor do que o
vivido por seus antepassados.
A Dimensão Nível de Conhecimento Sobre a P. juliflora
Quando se perguntou aos moradores visitados se a algaroba sempre existiu na região só 12,5% relataram que a
expansão se deu por meio de cultivo na década de 60 em de seca extensa por incentivo de programas de governo com a
finalidade de fornecer alimento para os animais, principalmente, as vagens e fornecimento de madeira os outros 87,5%
dos entrevistados afirmaram que elas sempre existiram na região. No entanto 100% afirmaram que a dispersão é dada
principalmente pelo gado, ao se alimentarem da vagem e se deslocarem para outros lugares ao defecarem nesses locais
contribuem a propagação das sementes, e por fim, da espécie.
No entanto, relataram que o estímulo à expansão da P. juliflora se deu principalmente respaldado pelo seu potencial
forrageiro, para bovinos, ovinos e caprinos, por 100% dos entrevistados. Porém, não foi relatado seu potencial de
toxidade, que é afirmado por Medeiros et al. (2012) ao relatarem que as vagens de P. juliflora causam sinais nervosos
em bovinos, devidos a lesões no núcleo motor do trigêmeo, e cólicas em cavalos devidos à formação de fitobezoários no
intestino, quando administrado por longos períodos e em quantidade superior a 30% do total da matéria seca ingerida.
Outro característica importante relatada por 68,75% dos entrevistados, também responsável pela expansão desta
espécie é o seu potencial como fonte de estacas, lenha para os produtores rurais, para a produção de carvão e a sua
elevada durabilidade favorece sua utilização na fabricação de caibros, ripas, mourões, postes e postes. No entanto, um
dos entrevistados relatou que a algaroba também é utilizada na indústria têxtil, corroborado com o relatado por Oliveira
et al. (1999) ao afirmar que a casca da algaroba apresenta alto teor de tanino, podendo ser usada em curtumes de couro,
e segrega uma resina amarelada, de baixa viscosidade, que se presta a vários usos, como a produção de cola e como
insumo para a indústria têxtil.
Ao serem indagados sobre a utilização da algaroba por animais silvestres, 31,25% relataram que são utilizadas para
alimentação, como sombra para a raposa e para a construção de ninhos, principalmente do galo de campina. No entanto,
não foi relatado a utilização das flores pelas abelhas, que de acordo com Oliveira et al. (1999) são muito melíferas,
propiciando a produção de mel de ótima qualidade com aproximadamente 0,37% de proteína e que a floração é
abundante e ocorre na época mais seca do ano, quando a quase totalidade da vegetação nativa não apresenta flores.
A Dimensão Sobre a Importância da Caatinga e as Consequências trazidas pela P. juliflora.
Ao serem indagados sobre a importância da Caatinga para os moradores locais, 68,75% dos entrevistados afirmaram
que é importante por fornecer recursos naturais, além do mais, ao analisarmos o conteúdo destas respostas fica claro que
os moradores se preocupam com a proteção dos animais e plantas, e sabem que a Caatinga deve ser protegida. Há uma
preocupação com o desmatamento e a destruição da natureza pelo homem. Já 18,75% das respostas ligadas à
significação estão relacionadas à legalização e a conscientização da população por parte do governo.
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Quando se perguntou aos moradores se a algaroba causa algum problema ambiental, 56,25% relataram que a
algaroba é uma espécie invasora, e que onde ela é encontrada a caatinga é reduzida, afirmaram ainda que as plantas que
nascem em seu entorno não se desenvolvem. Andrade et al. (2010) em estudo realizado na Caatinga da Paraíba,
identificaram que a invasão da P. juliflora provoca perda de biodiversidade e pode reduzir a disponibilidade de água,
que foi relatado por 43,75% dos entrevistados. Um dos entrevistados afirma que a algaroba é um dos maiores problemas
da Caatinga ao expressar a seguinte frase “a algaroba é uma planta cão, pois acaba com a água e com as plantas
nativas”. Segundo Andrade et al. (2010), a invasão por essa espécie diminui drasticamente a riqueza de árvores e
arbustos nativos e compromete a regeneração natural da vegetação nativa. A espécie é classificada, na África do Sul,
como a segunda espécie exótica invasora que mais consome água e, portanto, prioritária para controle no país.
Referências
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conservación en las florestas tropicales. Biotemas, v. 12, n. 1, p. 31-47, 1999.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/view/21903/19870
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sobre a diversidade e a estrutura do componente arbustivo-arbóreo da caatinga no estado do Rio Grande do Norte,
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Leão, T. C. C.; Almeida, W. R.; Dechoum, M.; Ziller, S. R. Espécies Exóticas Invasoras no Nordeste do Brasil:
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