UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
ESCUTA PORTÁTIL E
APRENDIZAGEM MUSICAL:
um estudo com nove jovens sobre a audição
musical mediada pelos dispositivos portáteis
Doutoranda: Sílvia Nunes Ramos
Orientadora: Profa. Dra. Jusamara Souza
A audição portátil na vida diária de jovens
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escutar música no metrô;
no transporte público;
shoppings;
supermercados;
nas lojas de departamentos;
descobertas musicais nas plataformas
específicas;
a tecnologia Bluetooth o
compartilhamento de músicas;
a escuta musical durante as tarefas
escolares;
nas atividades físicas.
nos rachas musicais com os iPods
dentro de trens do metrô: com
finalidade de medir a potência dos
seus tocadores portáteis (pagode e
Funk são gêneros ideais);
OBJETIVO
Qual o potencial educativo da escuta musical dos jovens
mediada pelas tecnologias portáteis
do formato de mp3?
Sob o ponto de vista da educação musical, a pesquisa
traz uma série de questões sobre os interesses e as
justificativas de escutar música móvel, contemplando
a utilização do formato mp3, nas experiências
musicais de jovens; porque o mp3 é importante e
quais os critérios musicais utilizados para a
montagem das playlists.
Destacam-se os autores:
Thibaud, (1992)
Bull, (2000, 2007)
DeNora (2000)
Green (2004)
Levy (2006)
Williams (2007)
Pecqueux (2009a, 2009b)
As transformações tecnológicas e sociais
configuram novas formas de aprender e
ensinar música presentes na educação musical
contemporânea (SOUZA, 2008, p. 8).
REFERENCIAL TEÓRICO
Três eixos:
(1) Escuta musical:
Wisnik (1989)
Dupont (s/d)
Williams (2007)
Stockfelt (2009)
Iazzetta (2009)
(2) Sociologia da Música:
Bull (2000)
Thibaud (1992, 2003)
Green (2004)
Williams (2007)
Pecqueux (2009a; 2009b)
Granjon e Combes (2009)
DeNora (2000)
(3) Educação pelas Mídias:
Klüber (2003)
Schläbitz (1997)
Mouduchowicz (2008)
Souza (2004; 2011)
Metodologia
Estudo de Caso
Passeron e Revel (2005)
Leplat (2002)
cria problema, chama a uma solução, isto é, há a
instauração de um novo quadro de raciocínio, em que
o sentido de exceção venha a ser, senão definido, mas
colocado em relação às regras estabelecidas com
outros casos, reais ou fictícios, suscetíveis de
redefinir com ele, uma outra formulação da
normalidade e de suas exceções (PASSERON e
REVEL, 2005, p. 10-11).
o caso é um objeto, um acontecimento, uma
situação, constituindo uma unidade de análise
(unité d’analyse). Esta unidade é recortada na
realidade e se inscreve, então, num contexto
que não deve ser negligenciado (LEPLAT,
2002, p. 1).
o estudo do caso consiste, então, em trazer um
acontecimento para seu contexto e a considerálo sob este aspecto para ver como ele lá se
manifesta e lá se desenvolve. Em outras
palavras, trata-se por sua maneira de apreender
como um contexto dá forma ao acontecimento
que se quer abordar (p. 10) (LEPLAT, 2002, p.
1-2).
Os
casos
apresentam
um
conjunto
de
singularidades, fatos únicos, inéditos. São
situações
localizadas
em
um
contexto
específico, trazendo à luz as singularidades dos
fenômenos e como estas estão engrenadas
entre si. Então, não se pode observar a música
portátil, como um fato isolado de seu contexto,
ela depende de uma série de ações individuais.
Participantes da pesquisa
Nove jovens convidados com idade entre 14 e
20 anos.
Febehco, Luiza, Júlia, Bruno, Paula, Lucas,
Roberta, Paola e Fernanda.
Critérios
(1) querer participar da pesquisa;
(2) o jovem deveria ser ouvinte assíduo de
música via fones de ouvido.
Coleta de Dados
Entrevistas presenciais
Trocas de mensagem via sites de relacionamento
e mensagens instantâneas
MSN e Orkut
E-mail
Gravações
Observações
Utilizando a Web
O comunicar-se com os participantes da
pesquisa, por meio de softwares de envio de
mensagens instantâneas, estaria de acordo com
“consumidor conectado”, conforme Denzin e
Lincoln (2000).
Outros recursos:
Edgar
A ideia era de que cada um dos entrevistados tivesse
o seu arquivo com suas músicas preferidas. A minha
intenção era que, ao terminar a coleta de dados,
houvesse uma playlist das músicas que os jovens
escutam.
Mantendo a conexão
Todo o trabalho de campo durou dezesseis
meses, de dezembro de 2009 a julho de 2011.
As partes do trabalho
Introdução
Referencial Teórico
Metodologia
Contextualização da Pesquisa: vivências e socialização
musical dos jovens
Dispositivos Portáveis e Justificativas para escutar música
Minha Playlist
Tempos e Espaços da Escuta Portátil
A Escuta Portátil se Transforma em Composições: as
vivências de Febehco e Bruno
Considerações Finais.
Muitas vezes o cara curte música boa por influência
da família, eu tenho dois tios que são mais novos do
que eu, um da mesma idade e outro que é bem mais
novo, ele tem 13, fez 14 agora, está recém
começando, é nessa idade que começa a entrar em
contato com as músicas que tu gosta, não só escutar o
que tua família escuta, nessa idade é que tem que
começar a buscar músicas, é aí que começa a história
(Bruno, 2010, p. 9).
Dispositivos portáteis e justificativas
para escutar música
A tecnologia de compressão conhecida por MP3, que
se tornou padrão em sistemas de áudio digital
voltados à distribuição via rede de computadores,
deliberadamente elimina dos sons gravados algumas
informações sutis que têm menos relevância para a
audição (IAZZETTA, 2009, p. 128).
O mp3 para mim significa uma forma de
diversão, ou uma forma de ter um momento só
pra ti ´distraçao´, escutando aquelas musicas
atuais, as que tu mais curti e tambem as que
todos os teus amigos gostam, pq tu acaba
gostando do gosto dos amigos pela escolha da
musica por serem parecidos e no mesmo tipo
de ‘grupo’” (Roberta, 2010).
Qual o diferencial entre a escuta portátil
e as outras escutas?
O mp3, o celular, a gente tem muito mais facilidade
em personalizar nossa playlist, essa é a alma do
negócio né? No meu mp3 eu tenho só o que me
agrada, quer dizer, escutando minha playlist tu vai
saber quem eu sou, como que eu penso, como que eu
reflito, o que me faz pensar, ouvindo as músicas que
eu escuto, acho que tu vai ter um pouco de minha
personalidade, tu vai conseguir buscar um pouco da
minha personalidade (Febehco, 2010, p. 3).
O mp3 para mim significa uma forma de diversão, ou
uma forma de ter um momento só pra ti ´distração´,
escutando aquelas musicas atuais, as que tu mais curti
e também as que todos os teus amigos gostam, pq tu
acaba gostando do gosto dos amigos pela escolha da
musica por serem parecidos e no mesmo tipo de
‘grupo’” (Roberta, 2010, p. 10).
A diferença é que no mp3 as músicas são aquelas que
foram mais selecionadas. Eu não coloco qualquer
música no mp3. Escuto no rádio, se acho legal,
coloco no computador e, se depois de ouvir no
computador, gostar mesmo da música, aí sim, passo
ela pro mp3 (Júlia, 2010, p. 8).
Tem músicas que eu escuto nos fones de
ouvido porque são muito minhas, tem músicas
que não tem graça ouvir com outras pessoas,
porque elas não percebem a mesma coisa que
eu, eu tenho umas [músicas] que são diferentes
daqui e das que eu escuto no computador
(Júlia, 2011, p. 11).
Isso é muito importante. Porque tu é considerado brega,
dependendo das músicas que tu tem no teu iPod, tu é
considerado muito brega. Porque... por exemplo assim óh!
Tem gente que gosta de MPB. Eu! mas eu sou considerada
brega pelos meus amigos, porque eles só escutam pop. Eles só
escutam músicas que tocam no momento. Eu sou considerada
brega, mas a minha playlist prá mim é boa, mas prá eles é
brega, e tem gente que atualiza a playlist o tempo inteiro prá
não ficar com fama de brega (Luiza, 2010, p. 1).
[...] eu gosto de botar minha playlist o mais variado
possível de estilos de som, eu gosto de ter na minha
playlist rock eletrônico, jazz, eu ouvia bastante Frank
Sinatra, Louis Armstrong, Vinícius de Moraes, Baden
Pawell, afrosamba que mais gostava, Cássia Heller,
Barão Vermelho, bastante rap, Kamau, Paulo Nápoli,
Parteum, Insana, reggae, Desequilíbrio, quanto mais
música diferente é melhor, tem mais variação sonora
cada tipo de música num horário diferente[...] (Bruno,
2010, p. 35).
Tempos e espaços da escuta portátil
Que tipo de ouvintes são os jovens? O que eles
buscam nas músicas? Quais suas expectativas
musicais, em relação aos artistas preferidos?
Em que elementos musicais os jovens se detêm
quando selecionam músicas para seus mp3?
Para responder a estas perguntas o presente
capítulo particulariza as formas como os
jovens escutam música.
Cada ouvinte que escuta rádio, vê TV, vai ao
cinema, vai dançar, come em restaurantes, vai
a supermercados, participa de festas, constrói,
é forçada (para poder lidar com suas
percepções de som) – a construir uma
apreciável competência em traduzir e usar
impressões musicais que jorram de altofalantes em cada espaço vivo (STOCKFELT,
2009, p. 89).
A escuta portátil se transforma
em aprendizagem:
as vivências de Febehco e Bruno
Várias músicas a gente faz o seguinte: a gente pega a música,
porque a gente não faz o instrumental, a gente pega a letra e
começa a procurar uma música, colocamos várias bases no
mp3, vários instrumentais no mp3 e a gente vai cantar a
música em cima de vários instrumentais, e daí tu cantando em
cima de vários instrumentais tu vê, onde se encaixa melhor a
tua música, e tu vai meio que procurando encaixar, tu tem as
vezes que mudar um pedaço da tua rima, da letra, cortar uma
palavra, tirar uma palavrinha, encurtar ela, ou entender ela...
Bruno: é um quebra cabeça! (EC. 2010, p. 44).
Eu sou um cara muito apegado nas raizes, nos lugares, nos
amigos e na família, eu fui para os estados unidos e senti muita
saudade de tudo q eu vivia em Porto Alegre, daí um dia eu
tava no ônibus, voltando do trabalho, meio assim de
madrugada escutando um som [no mp3] do paulo napoli que
tinha uma levada (ritmo) bem rápida, daí eu fiz umas rimas de
improviso em cima daquele som e aquele improviso ficou
muito bom, daí fui pra casa tentando me lembrar dele cheguei
em casa e anotei tudo aquilo q tinha pensado no som, resumi
tudo em uns 7 ou 8 versos fiquei um tempo sem trabalhar
nessa musica, então cada vez q aparecia alguma rima boa na
cabeça eu botava na letra, gravei a primeira versão gravei a
primeira versao numa base gringa do Jay Z , um tempo depois
entrei em um campeonato de talentos brasileiros com essa
música, fui tri mal.... esqueci um pedaço da letra na hora e
improvisei o resto, daí passou mais um tempo e eu escrevi
mais uma parte do som (Bruno, 2010, p. 6-7).
Transporta seu espaço privado com ele. Ele
está na multidão anônimo e preso à música que
ele gosta. Ele está ausente de seu domicílio e
território e em telecomunicação potencial com
o mundo inteiro [...]. Assim, “a comunicação
móvel constitui o ponto de finalização de uma
transformação de longa duração do espaço
público e do espaço privado” (THIBAUD,
1992, p. 28)
Muito obrigada.
Sílvia Nunes Ramos
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