Luís de Camões e a Primeira Edição d’Os Lusíadas, 1572:
Uma Introdução ao CD-ROM
K. David Jackson
Yale University
Dedicado a Luís de Camões (1524?-1580), o número 9 da revista Portuguese
Literary & Cultural Studies, da Universidade de Massachusetts Dartmouth, facilita aos
estudiosos e leitores o acesso a quase todos os exemplares sobreviventes da primeira
edição (1572) do poema épico, Os Lusíadas, que se encontra entre as obras clássicas da
literatura mundial. Pela primeira vez reproduzem-se vinte e nove exemplares oriundos de
bibliotecas e colecções de oito países e três continentes. Estes exemplares encontram-se
agora disponíveis em CD-ROM publicado pela revista literária da Universidade de
Massachusetts-Dartmouth, sendo que cada um deles pode ser consultado em forma de
livro, consecutivamente, do começo ao fim. Foram igualmente consultados outros cinco
exemplares incluídos no estudo, embora não se encontrassem disponíveis para
reprodução, constituindo assim um total de trinta e quatro exemplares consultados. Os
leitores d’Os Lusíadas terão acesso a esta obra célebre na sua primeira edição. O CDROM tem por objectivo apoiar uma análise compreensiva da primeira edição em todas as
suas variantes, servindo tanto de fonte de estudo comparado destinado a especialistas,
como de fonte de apreciação para os leitores de Camões. Tem sido um ideal da crítica,
sobretudo desde o século XIX, e por razões variadas, segundo os interesses de filólogos,
gramáticos, editores e bibliófilos, reunir os exemplares d'Os Lusíadas que, evocando o
verso camoniano, foram “espelhados pelo mundo em pedaços repartidos.”
Na primeira reprodução “photo-lithografica” de uma primeira edição de 1898,
Teófilo Braga considerava a primeira edição de 1572 chave indispensável com vista à
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recuperação do texto autêntico do poema: “A reproducção photo-lithographica da
primeira edição dos Lusíadas é uma das mais úteis e importantes contribuições para o
estudo do texto puro e authentico da Epopêa de Camões.” Por ocasião do Quarto
Centenário da viagem marítima à Índia, Braga mencionou a raridade da primeira edição
d'Os Lusíadas e o imperativo de consultá-la de forma a se poder estabelecer o texto
autêntico de uma obra que fora, ao longo dos séculos, inúmeras vezes alterada por
editores e tipógrafos:
São de extrema raridade os exemplares conhecidos d'essa edição, e quando por
qualquer circumstancia apparecem no mercado ficam monopolisados pelos privilegiados
da fortuna […] E' indispensavel que exista um padrão sempre accessivel da edição
authentica dos Lusíadas, ao qual com facilidade se recorra nas constantes reproducções
do poema camoniano […] Para o estudo de documentos litterarios d'esta ordem é sempre
imperscindivel recorrer ás primeiras edições […] Felizmente a industria moderna achou
meio de tornar accessiveis os exemplares unicos, e o que é consolador, o recurso de
restaurar os thezouros litterarios truncados pelos accidentes do tempo […]
E que momento mais significativo para dar á luz a reproducção authentica dos
Lusíadas, de que agora n'este jubileu nacional do quarto Centenario do descobrimento
maritimo da India? ("Aos Camonianos" 1898)
Em meados do século XX, o Professor Doutor Francis Rogers, da Universidade de
Harvard, preferiu trabalhar com edições foto-facsimiladas, achando essencial uma
comparação universal de erros e de variantes para qualquer edição crítica que se
preparasse. Ainda esperava publicar uma reprodução fotográfica da ‘verdadeira primeira
edição,’ com todas as variantes dos outros exemplares, assim como as estâncias
desprezadas, reproduzidas na página em frente. Tal como Braga, Rogers acreditava que
um conhecimento completo dos exemplares de 1572 era essencial para uma leitura bemfundada e autêntica do texto, como Camões o deixara. O projecto de longo prazo de
Rogers, que o tempo não permitiu que ele realizasse, tinha em vista comparar as
reproduções fotográficas de todos os exemplares ainda existentes com a data de 1572.
Este CD-ROM cumpre a visão desses dois estudiosos e “camonianos,” aparecendo na
esteira das comemorações do Quinto Centenário das viagens marítimas, pouco mais de
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um século após a primeira reprodução foto-litográfica de Braga.
*
A descrição geral do volume patente no estudo de Francisco Dias Agudo (1972)
apresentará ao leitor algumas das feições mais salientes da obra:
O volume em que se apresenta o Poema é em 8.°, com 2 + 186 folhas,
estas numeradas ao alto; e seu verso, não. Agrupadas em 24 fólios ou
folhas de impressão, denominados cada um por uma letra e todos pelo
conjunto desde A até Z, começando pelo canto I. Ao fundo de cada página
em cada fólio, índices: A para a 1.ª folha; A2 para a 2.ª, etc. O 1.° fólio,
que contém o rosto, só consta de duas folhas. O último tem em si
integrado um pequeno fólio suplementar de quatro páginas. No canto
inferior da direita de cada página figura o indicativo das palavras, uma ou
duas, com que abre o primeiro verso da página seguinte.
O rosto—// Os // Lusíadas // de Luís de Ca- // mões. // Com privilégio
Real. // Impressos em Lisboa, com licença da // Sancta Inquisição, e do
Ordina- // rio: em casa de António // Gõçalvez Impressor. / 1572
Estes dizeres são emoldurados, como pode ver-se, por uma
composição de arte formada em desenho por duas colunas laterais, um
balcão em rodapé e um frontão, ao alto, com o pelicano ao meio. Isto é
comum aos exemplares […] (1972: 3-4).
O estudo crítico dos problemas colocados pela primeira edição tem sido tema de
pesquisa há mais de três séculos. Durante este vasto período, o estudo crítico da primeira
edição mudou de tal forma de feição que se assemelha a um conto de detective, a uma
aventura romântica, a uma história de piratas ou à demanda de um santo manuscrito
perdido. A primeira edição há muito desafiara a capacidade de observação e o
conhecimento filológico de gerações de estudiosos. Desde o momento em que Faria e
Sousa, o grande comentarista da obra de Camões, observou pela primeira vez em 1685
que a imagem do pelicano no frontispício estava virada em alguns exemplares para o lado
esquerdo do leitor, e em outros para o lado direito, foi considerada informação
incontroversa que existiam duas edições diferentes ou, pelo menos, duas impressões
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diferentes. Faria e Sousa pensava, assim como Morgado de Mateus ao preparar a sua
edição de 1817 em Paris, que o pelicano virado à direita do leitor fazia parte da edição
original, devido à errata numerosa que a outra edição pretendia corrigir: "[…] yo
asseguro que lo he examinado bien en las mismas dos ediciones que yo tengo; por
differencias de caracteres; de ortografia; de erratas que ay en la primera, y se ven
eme˜dadas en la Segunda; y de algunas palabras con que mejoró do dicho." (citado em Os
Lusíadas, 1980: 8). As observações subseqüentes sobre a nova diferença entre os
"pelicanos" vinham jogar lenha ao fogo: achava-se de especial importância a diferença na
leitura do sétimo verso da primeira estrofe, que começa "E entre" no caso do pelicano "à
esquerda," e "Entre" no caso do pelicano "à direita." As duas edições tornaram-se, assim,
conhecidas como "Ee" e "E." Com o tempo, e dado o fascínio especial que Camões
exercia na imaginação dos autores românticos e dos filólogos do século XIX, o mito das
"duas edições," sendo ambas de 1572, fixou-se no imaginário português. Pensava-se que
o problema que os especialistas enfrentavam na altura era simplesmente o de resolver se
havia duas edições, de uma perspectiva tipográfica, ou se apenas duas impressões
diferentes da mesma imprensa, com algumas alterações, enganos, erros e correcções.
Em consequência do mito das ‘duas edições,’ surgia, de forma mais significativa,
a hipótese de que uma das edições deveria ser autêntica e a outra seria de alguma maneira
fraudulenta. Braga aceitava esse raciocínio, mesmo se as duas edições tivessem sido
impressas no mesmo ano:
A necessidade constante de voltar ao texto authetico fez com que se
examinasse a edição de 1572; appareceram variantes que levaram a
reconhecer que se fizeram duas edições d’Os Lusíadas no mesmo anno.
Novo problema, que tem sido minuciosamente discutido, e que se
acha apontado em todas as bibliographias camonianas, dando-se os
caracteres para reconhecer a primeira e a segunda edição de 1572. Qual
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d'ellas deve ser a preferida? ("Aos Camonianos," 1898)
Era igualmente da opinião geral que a edição publicada primeiro, fosse qual fosse, seria a
única edição autêntica apenas por essa razão, e consideravam-se quaisquer alterações
altamente suspeitas, feitas não importa quando ou por quem, sobretudo,considerando a
aparente recomposição tipográfica dos fólios.
A concepção do problema em termos de opostos punha fim ao debate e à pesquisa
em duas escolas opostas no que dizia respeito à primacia e à autenticidade das edições. A
maioria dos primeiros comentadores achava que “E,” a mais incorreta, seria a primeira
edição impressa, seguida por outra, “Ee,” que a corrigia, mas sem saberem precisamente
quando ou como essa outra fora feita. De facto, foi essa a opinião que vigorou através do
tempo e na obra de figuras como José Gomes Monteiro (1880), sugerindo que a edição
corrigida, “Ee”, teria sido preparada porque a primeira impressão se esgotara; e Aquilino
Ribeiro, que em 1946 e 1949 acrescentou mais um detalhe à ideia de que Camões teria
estado envolvido no processo, planeando e dirigindo a segunda impressão devido ao
desgosto que teria sofrido com a primeira edição. As duas versões distinguem-se
tipograficamente pelo emprego na primeira de tipo itálico para algumas letras maiúsculas
e de tipo redondo na outra; há pequenas variações de ortografia, pontuação e outras
correcções que poderiam indicar uma nova impressão. As contra-indicações incluem a
observação de que os dois pelicanos no frontispício são imagens diferentes, e não apenas
um desenho inverso do outro. Há também poucas modificações ao lay-out e muitos dos
elementos passam de uma versão para a outra.
Em meados do século XIX, após o período romântico, dominara, no entanto, a
influência da ideia de uma edição pirata, ideia esta que todas as observações e evidências
pareciam indicar. Os estudiosos Tito de Noronha (1880) e Francisco Gomes de Amorim
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(1889) empregavam os termos “falsificação” e “contrafação” para descrever o pelicano
espúrio. Aquilo que já se aceitava como mito ganhava credibilidade académica através
dos estudos de Noronha e de José M. Rodrigues (1921), ambos os quais usavam
argumentos filológicos para teorizar quando e por quem a “edição” espúria teria sido
preparada. Rodrigues rejeitava enfaticamente a tese, naquela época expressa por Silva
Túlio, de que “Ee”/ “E” não se tratavam de duas edições distintas mas de uma só,
corrigida durante a sua impressão. Para apoiar o seu ponto de vista, Rodrigues usava
como evidência a observação discutível de que “em ‘E’ houve uma nova composição
tipográfica, desde a primeira até a última estância” (1921, página 1, nota 1). A conclusão
conforma ao mito de uma edição falsa, cujas falhas teriam resultado de uma tentativa
incompetente de copiar um original muito mais perfeito. Noronha chegou mesmo a
sugerir que uma das “edições” teria sido de facto composta por outra editora com a
intenção de duplicar a primeira – e com algum êxito, dado que ninguém viera a reparar
nas diferenças entre os volumes durante mais de cem anos – possivelmente por razões de
intriga, pirataria, censura ou lucro comercial. De facto, essa escola crítica inverteu a
lógica que fora aplicada às cópias erradas e às cópias corrigidas; pensava-se agora que a
edição mais correcta, “Ee”, seria a primeira, enquanto que a edição errada, “E”,
consistiria numa tentativa amadora e incompetente de reproduzi-la por fins pecuniários
ou morais, estando a edição censurada de 1584, sem dúvida, envolvida nesse processo.
Essa suspeita levou alguns críticos a sugerir que “E” teria sido impressa muito mais tarde,
até 1590. O facto de se empregar o frontispício com o pelicano virado à direita, na década
de 1580, em livros de outros autores, inclusivamente de Gil Vicente, fez com que se
duvidasse mais da sua autenticidade e da data da edição “E”. Além do mais, “E” continha
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erros mais flagrantes, principalmente nas alusões clássicas, teológicas, ou até na
gramática. Essas e outras observações eram consideradas evidência da natureza espúria
da edição, indicando que quem a produzira seria um impressor errático e marginal. Braga
aceitara essa proposição, acrescentando-lhe uma outra vertente – embora sem nenhum
fundamento – indicando que a verdadeira edição teria sido preparada sob a direcção do
próprio Poeta:
Prova-se que a segunda de 1572, que tem na portada a cabeça de Pelicano
voltada para a esquerda é que é a authentica, impressa sob as vistas do
poeta; e que a outra foi uma reproducção intencional para escapar ás
delongas da censura, e restaurar o texto deturpado na edição de 1584
designada pelo nome dos Piscos. ("Aos Camonianos", 1898)
Seja como for, e não obstante as afirmações contraditórias sobre a autenticidade de
“E” ou de “Ee,” a concepção histórica do problema da edição, em termos de ser
“verdadeira ou falsa,” continuou a servir de fundamento para as futuras investigações
científicas. Em 1977, Rogers declarava: “Permita-me deixar uma observação
perfeitamente clara: só a edição “Ee” ou “E,” qualquer que se declare ser a primeira, vale
a pena ler, e tem de ser lida na forma original” (correspondência pessoal). Esta é uma
descrição exacta do imperativo da crítica nos estudos das “edições” que vão de 1572 até
às últimas décadas do século XX. Pode-se observar como as investigações científicas
nesse ponto obedeciam às leis inquestionáveis do direito da primogenitura tão
firmemente encrustadas na organização social do Ocidente, revelando-se até mesmo no
desejo de venerar uma primeira impressão sob qualquer outra consideração. Existiam
evidências há muito sobre os milhares de mudanças efectuadas no texto do poema; de
facto, em 1874, Carl von Reinhardstoettner publicou o texto de "Ee" com variantes de
dezanove edições subsequentes, até ao ano de 1873, indicadas nas notas. Essa obra
crítica, publicada em alemão, em Estrasburgo, salvo o erro nunca foi editada em Portugal,
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onde reinava a dialéctica teórica como consideração fundamental. Até ser resolvida a
identidade do herdeiro textual legítimo de Camões, prorrogava-se qualquer juizo crítico
sobre as edições posteriores a 1572.
O dilema enfrentado pelos estudiosos d' Os Lusíadas pode ser apresentado segundo
três possíveis vertentes: tratavam-se de duas edições diferentes, isto é, uma primeira
impressão, depois da qual foi recomposto e impresso novamente o livro (seja por António
Gonçalves ou outro impressor); tratavam-se de dois estados de impressão do mesmo
impressor, nos quais foram detectados e corrigidos alguns erros, resultando desse
processo exemplares com erros em vários graus de correcção; ou tratava-se de uma
edição autêntica impressa por António Gonçalves e de uma outra edição pirata, ou
espúria, feita mais tarde por um impressor desconhecido? É possível que Os Lusíadas de
1572 exista em duas edições diferentes, e estas em estados diferentes; mas mesmo assim,
há evidência suficientemente âmpla para pensarmos que, se existissem duas edições
diferentes, o que agora parece mais duvidoso, estas seriam muito próximas e relacionadas
no tempo, bem como nos elementos de composição. O nosso estudo levanta questões que
põem em dúvida a hipótese de que a primeira versão impressa teria sido recomposta
numa nova edição; observa-se que, apesar do uso de tipos redondos e depois itálicos nas
letras maiúsculas com que se iniciam as estrófes, a composição tipográfica de "E" e "Ee"
é quase idêntica. E, além do mais, há vários erros de composição que estão presentes em
todos os exemplares; e mais ainda, há fólios de certos estados de correcção encontrados
intercalados nas folhas de vários exemplares, seja qual for a edição. Se a primeira
impressão fosse inteiramente recomposta, o que é duvidoso, esta teria sido feita com base
no mesmo lay-out, os mesmos erros de composição do texto e com muitas folhas
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pertencentes à primeira impressão. A recomposição poderia ter sido feita por várias
razões, por exemplo, se a primeira edição estivesse esgotada, ou se o editor e/ou o autor
achasse a impressão excessivamente comprometida com erros crasos. Seja como for,
uma segunda impressão pode representar nada mais do que um estado mais abrangente e
universal de correcção, com a substituição de muitos elementos.
É também possível que em alguns exemplares de 1572, que observamos, se usassem
folhas que teriam sobrado de uma impressão prévia. Isto é, se o texto tivesse sido
impresso uma vez e subseqüentemente reimpresso, então, as folhas excedentes, que
teriam ficado da primeira impressão, poderiam ter sido incorporadas nos exemplares da
segunda. Os impressores dessa época possuíam geralmente tipos suficientes para compor
apenas um grupo de folhas de impressão de cada vez, antes de tirar os tipos para preparar
a próxima composição. Existiriam inevitavelmente folhas não aproveitadas quando o
livro tivesse sido por fim encadernado. É possível que alguns dos exemplares de 1572
tivessem folhas que representassem duas impressões diferentes. Não há dúvida de que
numa segunda impressão ou estado, o ritmo de correcção fora bastante acelerado; a
existência de exemplares nos quais as duas impressões ou estados estão misturados já é
evidência para concluir que a sua produção estivera relacionada, se é que não fora
imediata.
*
O nosso CD-ROM argumenta que as siglas tradicionais de "E" e "Ee" não deveriam
continuar a ser usadas para diferenciar Os Lusíadas de 1572, uma vez que não se tratam
de elementos definitivos quanto à separação dos exemplares nas suas respectivas
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famílias. Apesar do emprego destas siglas ter lugar desde o século XVII, na realidade
resultaram de uma observação inicial quase coincidental. "E" e "Ee" não são os
elementos definitos na identificação de edições separadas. Em primeiro lugar, um
exemplar na British Library (G11286) tem o pelicano virado à esquerda, mas tem a
leitura da primeira estrófe de "E", isto é, da outra edição, segundo os esquemas de "E" e
"Ee". Existem vários exemplares únicos com misturas de elementos associados
tradicionalmente a "E" ou "Ee," como demonstraremos a seguir. Sabe-se que existem
duas variantes do frontispício, do alvará, etc., mas esse material foi o último a receber
uma composição tipográfica, fazendo com que os exemplares da obra pudessem
incorporar quase indiscriminadamente as duas versões do pelicano, plinto e alvará (V.
Tabela I). Não representando nada de significativo é o que se pode concluir sobre a
relativa prioridade da impressão à base desse material, mas o mesmo não é verdade
quanto aos erros tipográficos no texto, dentro dos Cantos, os quais possibilitam uma
visão quase radiográfica dos estados e da sequência de produção e correcção do livro.
As siglas que definitivamente separam as duas impressões, ou os dois estados, são:
OCTVO / OCTAVO, a identificação do canto no fólio 128; e 149 / 145, sendo em ambos
os casos uma numeração equivocada para a foliação do verdadeiro f. 154. Todas as
cópias de "E" (inclusive a da British Library, G 11286, do pelicano à esquerda mas o
outro texto) possuem a leitura OCTVO no fólio 128, a qual foi corrigida em todas as
cópias de "Ee" para OCTAVO. Da mesma maneira, todas as cópias de “E” levam o
número 149 na verdadeira f. 154, enquanto em todas as cópias de “Ee” a leitura é 145
(com os dois últimos algarismos invertidos). As impressões d' Os Lusíadas de 1572 só
podem ser diferenciadas definitivamente pelas siglas OCTVO /OCTAVO e 149 / 145,
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ambas as quais devem substituir a antiga designação de “E” e “Ee.”
Há, ainda, outras siglas que, embora não sejam definitivas, são muito úteis para a
identificação dos primeiros exemplares a serem impressos por António Gonçalves, antes
da introdução das primeiras correcções. Os primeiros quatro elementos a sofrerem uma
mudança vêm à luz ao identificarmos as primeiras correcções a serem introduzidas no
texto de "E", mesmo que não estejam presentes em todos os exemplares. Primeiro, a
leitura CANTO PRIMEIRO no fólio 23 será corrigido para SEGUNDO; 118, o número
errado no fólio 108 será corrigido; OCTVO no fólio 129 será corrigido para OCTAVO; e
NONO no fólio 160 será corrigido para OCTAVO. Ao examinarmos os exemplares
desses fólios com combinações únicas, concluímos que a mudança de PRIMEIRO a
SEGUNDO no fólio 23; de NONO a OCTAVO no fólio 160; e de OCTVO a OCTAVO
no fólio 129 resultaram em folhas impressas incorporando uma ou outra dessas
correcções na edição "E", mas nem todas aparecem num único exemplar. A correcção no
fólio 108 teve lugar mais tarde, já que só um exemplar de "E" a possui. Constatamos, em
suma, que, ao imprimir o livro, certas folhas de impressão resultaram muito mais erradas
do que outras, o que sugere que às vezes faltavam ao trabalho os cuidados e a atenção
necessárias.
*
O tipógrafo António Gonçalves é mencionado na História da Tipografia Portuguesa,
de Venâncio Deslandes (1888), como assistente a Duarte Nunes do Leão, que recebeu a
licença de impressor em 1564. Segundo Deslandes, a tipografia de Gonçalves nunca
alcançou a importância das outras principais tipografias da época, apesar de ter ou
impresso o poema épico de Camões:
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Nenhuma lembrança achámos apontada das particularidades da vida e
pessoa de António Gonçalves, impressor de livros em Lisboa. Á sua
typographia, que parece haver sido estabelecida n’esta cidade pelos annos
de 1568 ou pouco antes d’elles, e que nunca alcançou tal nome que
chegasse a ser afamada entre as do seu tempo, coube todavia a invejada
gloria de tirar a primeira estampa dos Lusiadas, do eminente epico Luiz de
Camões (77).
Afirma António Anselmo que Gonçalves era impressor notável, produzindo uns vinte e
sete ou vinte e oito títulos, de 1566 a 1576, usando caracteres redondos e itálicos.
Algumas das suas obras, diz este, teriam ser excepcionalmente bem feitas, até com
gravações em metal nos frontispícios:
Impressor notável, a quem cabe a honra de ter executado a edição princeps
dos Lusíadas. O primeiro trabalho que dele conhecemos é de 1568, mas é
certo que já em 1566 tinha oficina própria, em Lisboa, na Costa do
Castelo. Imprimiu, sempre em Lisboa, até 1576, tendo produzido uns 27
ou 28 trabalhos, em caracteres redondos e itálicos, alguns realmente bem
executados. Não usou marca. Alguns dos rostos das suas impressões são
gravados em metal. (1926: 194)
A maioria dos livros impressos por Gonçalves é de tema religioso ou trata das
virtudes de príncipes e reis. Antes de 1572, apenas um título de grande fôlego fora
impresso, o Tomo Primero dela segunda parte da la vida de Iesus (2-303 fl). Em 157172 Gonçalves aumentou o ritmo de produção, imprimindo 926 fólios em quatro livros, o
dobro da sua produção total anterior. No décimo-primeiro título impresso, o Libro
primero del espejo del Principe Christiano (1571, 226 fl), Gonçalves é descrito como
“impressor del illustrissimo y reueren / dissimo Señor don Iorge Arco / bispo de Lisboa.”
Esse é também o primeiro título a levar o nome do Fr. Bertholameu Ferreira no Alvará,
cujo nome aparecerá em mais quatro títulos impressos por Gonçalves, inclusive em Os
Lusíadas, e o último sendo o Svcesso do Segvndo Cerco de Diu de 1574.
No ano prolífico de 1572, depois do Libro primero, e funcionando como impressor do
Arcebispo de Lisboa, Gonçalves edita dois grandes livros e um mais pequeno, além do
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épico de Camões: De Rebvs, Emmanvelis Regis Lvsitanae Invictissimi Virtvte et Avspicio
Gestis Libri Dvodecim (480 fl); Compendio das Chronicas da Ord˜e de Nossa Senhora
do Carmo (220 fl.), compilado por Fr. Simão Coelho, e Instituição & Summario das
graças, & priuilegios concedidos aa Ord_ da Sanctissima Trindade & Redempçam de
captiuos (26 fl). Pode-se imaginar a intensidade do trabalho na tipografia Gonçalves em
1572, com a impressão de mais de novecentas páginas. Com toda essa actividade, a
necessidade de recompor Os Lusíadas (2-186 fl) devido aos numerosos erros graves, e
ainda com uma falta de tipos suficientes, poderia explicar a mudança do tipo itálico para
certas letras de “E” para o tipo redondo em “Ee”, além de certas variantes na ortografia
de palavras comuns. Em 1573 Gonçalves continua a trabalhar intensivamente na
tipografia, com dois livros de versos religiosos (294 & 290 pp.) e o Comentario do Cerco
de Goa e Chavl (3-48 fl) de António de Castilho. Esse último poderia reflectir ainda a
influência de Camões sobre o impressor, considerando a longa experiência do poeta na
costa malabar.
No ano seguinte, Gonçalves continua a publicar obras sobre a
historiografia das viagens, com o Svcesso do Segundo Cerco de Diu (1574) de
Hieronymo Corte Real, e, por último, a Historia da prouíncia sãcta Cruz (1576) de Pero
de Magalhães de Gandavo, sendo que nesta obra o prefácio consta de um soneto de
Camões. Essa é também a última obra impressa pela tipografia Gonçalves.
Os comentários de Artur Anselmo (1982), e outros, alegando que a impressão com o
pelicano à direita do leitor (“E”) teria sido alvo de maiores problemas com a Inquisição
do que “Ee” não resistem à análise. O Fr. Bertholameu Ferreira certamente teria lido e
aprovado apenas um manuscrito original, em que não se vêem os erros cometidos na
composição do livro na tipografia, tão ocupada com obras extensas. E encontram-se
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elementos de “E” e “Ee” intercalados em exemplares diferentes. Além do mais,
Gonçalves trabalhava como impressor pessoal do Arcebispo, mantendo-se o Fr. Bert.
Ferreira activo até 1587, fazendo com que quaisquer problemas com a censura no que diz
respeito ao seu nome fossem altamente improváveis. As diferenças entre o manuscrito
original, tal como este fora aprovado, e a impressão actual poderiam talvez explicar uma
cláusula acrescentada ao Alvará na edição d’Os Lusíadas por Manuel de Lima em 1584,
a qual não existiu na edição de 1572: “…Vista a informação, pode-se imprimir, e depois
de impresso tornará a esta Mesa com o original emendado, para se conferir com ele e se
lhe dar licença para correr” (Anselmo, 1982, página 60). Não seria mais provável que a
revisão de “E” fosse mais urgente devido aos erros flagrantes como, por exemplo, “Filhos
de Maia” em vez de “Filhos de Maria,” erro que muito provavelmente chamaria a atenção
do clero, da mesma maneira que os erros constantes nas referências mitológicas e
clássicas deveriam ter alertado o próprio poeta? António Anselmo coloca “Ee” e “E”
juntos como publicações de Gonçalves porque, como ele próprio o diz, não cabem em
nenhum outro lugar, pois o tipo usado em “E” não pode ser identificado com qualquer
outro impressor activo em Lisboa na época:
Pomos esta edição…entre as obras de Ant. Gonçalves […] simplesmente
porque […] não temos, por outra parte, fundamentos seguros para
determinarmos o impressor a quem deva ser atribuida […] Qual o
impressor que a teria executado? É ainda um problema indecifrável. O
exame dos tipos não nos permite atribui-la a André Lobato, como fizeram
Xavier da Cunha e o Sr. José Maria Rodrigues. (1926: 200)
Em determinada nota, Anselmo coloca incorrectamente como exemplares de “E”
aqueles da Sociedade Martins Sarmento (Guimarães), do Gabinete Português de Leitura
(Rio de Janeiro) e da B. N. de Nápoles–sendo todos estes, na verdade, exemplares com o
pelicano virado à esquerda do leitor (“Ee”). Tal falta de identificação parece ser mais
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uma evidência da falibilidade das suas fontes e do impressionismo crítico que sempre
caracterizou o estudo dessa edição ao longo do tempo. Julgando a informação sobre a
tipografia de Gonçalves, pode-se concluir que Os Lusíadas foi a primeira obra de tema
historiográfico publicada pela tipografia entre 1572 e 1576, daqueles publicados por
Gonçalves que tratam militarmente das viagens de descobrimento. É o décimo-sexto
título publicado pela tipografia, o sexto em língua portuguesa, e foi levado a cabo durante
a fase mais intensa de trabalho na tipografia Gonçalves.
*
Acreditamos que o CD-ROM d’Os Lusíadas de 1572 possibilita uma leitura integral
da edição em todas as suas variantes, fornecendo os dados necessários para um
entendimento mais completo da sua origem. O estudo da primeira edição fora sempre
prejudicado pelo difícil acesso aos poucos exemplares disponíveis. Os volumes
disponíveis em Lisboa eram os únicos a serem manuseados pela maioria dos estudiosos
portugueses. No século XIX, os viajantes no Brasil enviavam descrições do exemplar de
D. Pedro I, exemplar este bastante danificado, que se encontra actualmente no Instituto
Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, e, mais tarde, do exemplar do Real Gabinete
Português de Leitura. Só a partir da segunda metade do século XX é que os especialistas
comentaram os exemplares da Universidade de Coimbra e da biblioteca de D. Manuel no
Paço Ducal da Casa de Bragança, em Vila Viçosa. Os primeiros julgamentos sobre a
edição de 1572 teriam sido eventualmente diferentes se os estudiosos tivessem viajado a
Madrid, onde uma das duas cópias da Biblioteca Nacional possui variantes insólitas –
talvez aquelas que teriam sido examinadas por Faria e Sousa em 1685 – ou se tivessem
viajado à Inglaterra para examinar os exemplares naquela época existentes na Holland
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House, na Universidade de Oxford e no Museu Britânico (especialmente n.º G11286). O
exemplar que pertencia à Holland House é um dos mais distinguidos, com inscrições
marginais feitas por uma testemunha ocular da morte do Poeta. O volume deixou
Portugal ainda no século XVI com destino a Espanha, indo mais tarde para a Inglaterra e,
em 1966, para os Estados Unidos da América.
*
O CD-ROM proporciona ampla evidência da importância e da profunda influência
que um único exemplar d’Os Lusíadas pode ter, quer pelas suas variantes raras, quer pela
marginália ou outras características físicas. A descrição de um comerciante de livros
sobre o volume ex-Holland House, agora no Harry Ransom Humanities Research Center
da Universidade do Texas, em Austin, menciona algumas das qualidades singulares dessa
cópia do poema épico:
o exemplar da ‘Fray Indio-Holland House’ [d’Os Lusíadas] revela
variantes previamente desconhecidas e fornece evidência de grande
alcance que apoia uma teoria radicalmente nova do problema. Tem sido
proposta a existência de uma outra edição desconhecida até agora, dadas
as evidências bibliográficas e textuais de outros exemplares conhecidos. O
presente exemplar não se conforma a qualquer outro exemplar examinado
ou a qualquer exemplar de que temos conhecimento detalhado. A
condição notável do exemplar, com uma encadernação da época simples e
bastante mais alta e larga do que qualquer outro exemplar que
examinamos, faz com que seja o exemplar ideal para uma investigação
minuciosa. (Colecção particular do autor)
A nossa análise do volume, que começou em 1976, deu origem ao estudo dos problemas
bibliográficos e textuais associados historicamente aos Os Lusíadas de 1572, que agora
culmina na produção deste CD-ROM. Esse é o mais celebrado de todos os exemplares
conhecidos devido ao comentário marginal assinado por Fray Joseph Índio, padre do sul
da Índia, convertido ao Cristianismo, que Camões deveria ter conhecido, pelo menos
17
trinta anos mais velho do que ele, tendo chegado a Lisboa em 1501 com a frota de
Cabral. O seu comentário, escrito em castelhano no verso do frontispício, é de uma
testemunha da morte de Camões:
q cosa mas lastimosa q ver un ta' gran ingenio mal logrado yo lo ui morir
en un hospital en Lycboa sin tener una sauanda co' que cubrirse despues
de aver triufado en la India Oriental y de auer nauegado 5500 Leguas per
mar q aviso ta gra'de pa los q de noche y de dia se ca'san estudiando sin
provecho como a araña en urdir tellas pa casar moscas.
Existem outras inscrições no frontispício e no verso, atestando que o livro era do
Convento de Carmelitas Descalços de Guadalcázar, na Espanha, da ordem a que
pertencia o Frei Joseph Índio desde a sua chegada a Portugal. No século XIX, o livro caiu
nas mãos do diplomata britânico e autor John Hookam Frere (1769-1846), em Sevilha e,
em 1812, Frere deu o livro a Lord Holland. Durante mais de cem anos, o exemplar do
Frei Joseph Índio permaneceu na Holland House, com excepção de um empréstimo de
curta duração a Sousa Botelho, o Morgado de Mateus, que deu muita confiança ao
volume ao preparar a sua edição publicada em Paris, em 1817, e cujo louvor ao exemplar
aparece reproduzido no estudo de Anne Gallut (1970). Outros comentários marginais em
inglês atestam a alta consideração que Morgado de Mateus tinha por esse volume:
Camoens, Os Lusiadas
Ed: Pr: 4º Lisboa 1572
Parece que havia duas
edições ambas impressas em 1572 e as duas
tão raras que é difícil achar
meio de as comparar.
O melhor relato se encontra
na edição de Camões
impressa por M. de Souza 4.º 1817 &
dada por ele mas não vendida.
Eu chamo essa Ed: Pr. porque ele
se inclina a pensar assim….
A cópia é muito completa & perfeita
e excessivamente rara.
18
Se se aceita a veracidade da inscrição do Frei Joseph Índio, então, inevitavelmente a
edição “E” devia ter sido impressa antes do final de 1579 e, em qualquer hipótese, está
intimamente ligada ao Poeta. Jorge de Sena comenta (1971): "É o famoso exemplar dito
do Fr. José Índio… Nunca, na verdade, foi tracejado devidamente esse exemplar, para
verificar-se se a declaração manuscrita do frade é autêntica ou uma mistificação daquelas
que se faziam, muitas, nos séculos XVII e XVIII. A aparição do exemplar é conhecida. E
V. pode vêr referências a ele nas biografias de Camões, por exemplo, no Luís de Camões,
de Aubrey Bell… A razão de chamar-se ao exemplar o 'de Camões' é porque seria o que
ele tinha consigo, quando o frade o teria assistido na sua morte" (carta ao Prof. Fred P.
Ellison, 13/7/71). Bell reproduz a transcrição da nota feita pela Princesa Liechtenstein (in
Holland House, 1874, vol. ii, 176-178) e novamente examinada pelo Dr. Henry Thomas
do Museu Britânico, em Dezembro de 1921. Bell acrescenta a seguinte observação: "A
nota sobre a morte de Camões, as palavras ‘fr. Joseph indio’ e as palavras no frontispício
‘Miseremini mej salté vos amici mej', estão todas escritas na mesma mão fina” (1923:
144). Mesmo em comparação com outras cópias de “E”, esta está impressa num papel
bom, com uma impressão forte, e a sua origem é claramente indicada pela marginália.
Não obstante outras questões, trata-se de um exemplar “completo & perfeito” e um dos
mais raros e distinguidos d’Os Lusíadas.
*
Existem desde 1817 observações, com base em exemplares individuais d’O s
Lusíadas, de páginas diferentes que corrigem erros encontrados em outros exemplares.
Ao examinar as duas edições, cerca de 132 anos depois de Faria e Sousa, Morgado de
Mateus comentaria: "Confrontando estes dous exemplares achámos…que eram da mesma
19
edição com a unica differença que … as folhas 41 e 42, 47 e 48 tinham sido impressas
com um caracter mais novo e nellas se viam emendados erros typographicos que existem
no outro de forma que nos foi evidente terem sido estas folhas substituidas por correcção"
(Reinhardstoettner, IV). Na década de 1960, Rogers já havia reparado nas diferenças
entre os exemplares da Nova Inglaterra: "a biblioteca John Carter Brown, na
Universidade de Brown, adquiriu um exemplar de ‘E’ […] Como resultado, levei um
grupo de alunos de um seminário de pós-graduação, que trabalhava n’Os Lusíadas, à
Brown para ver o exemplar. Para nossa estupefação, continha elementos não presentes
em ‘Ee’ ou ‘E’!"
*
O presente CD-ROM possibilita um exame das variantes, exemplar por exemplar,
assim como a identificação dos volumes que possuem intercalações únicas. Existem em
cerca de um terço dos exemplares sobreviventes – em 12 dos 34 – variantes que
representam a combinação, num único volume, de elementos normalmente associados a
“E” ou “Ee.” Sendo assim, é lícito concluir que uma terça parte do tempo de impressão
do livro se ocupava de revisões e da recomposição do tipo. Um dos exemplares mais
singulares, único entre únicos, contraria todas as proposições tradicionais sobre a edição
de 1572. É a cópia “esquerda” da British Library (G11286). Esse exemplar possui o
frontispício com o pelicano virado à esquerda, mas a leitura na primeira estrofe de
“Entre,” isto é, provém duma página antes universalmente pertencente à outra “edição,”
sendo que as suas páginas são um retalho de elementos associados a "E e "Ee." O
volume, além do mais, contém variantes que não se encontram em nenhuma das “duas
20
edições” clássicas, o que significa ser o resultado de um momento de transição entre as
duas. Não há nenhum outro exemplar que seja minimamente comparável a esse. Do
conjunto de volumes, representa a combinação mais intensa de elementos
tradicionalmente associados a um pelicano ou ao outro. O volume deveria ter sido
composto num momento de intensa mudança e reforma da impressão, quando fólios com
leituras originais, assim como as novas variantes, eram colocados nos volumes a serem
encadernados.
Os exemplares formados dessa fase — entre ambas as “edições” tradicionais — são
extremamente importantes no que diz respeito à observação de certas mudanças
estruturais na composição dos volumes, onde há combinações insólitas de certos
elementos. Os exemplares “de esquerda” da Universidade de Coimbra e do Real Gabinete
Português de Leitura do Rio de Janeiro, por exemplo, conformam ao pelicano “de
esquerda” à excepção da folha 65, que leva o título originário de “E,” “CANTO
QVARTO.” Uma das cópias “de direita” da Universidade de Harvard leva o alvará
oposto, escrito em números romanos. O exemplar “de direita” de Madrid tem uma única
folha na qual o número estampado erradamente, 118, foi corrigido para a leitura certa no
fólio 108. Esse exemplar incomum situa-se entre as duas “edições” devido a mais uma
razão: a sua combinação insólita da titulação de cantos nas folhas 116, 118 e 129. Sete
exemplares “de direita” evidenciam um erro na numeração do canto na folha 23, que já
fora corrigido em todos os outros “E” e também em todas as cópias “Ee,” sendo essa
observação uma forte evidência de que esses exemplares figuravam entre os primeiros a
serem impressos por António Gonçalves. São esses os exemplares que pertencem à
Biblioteca José Mindlin (E); Biblioteca Nacional de Madrid R-14208; Bibliothèque
21
nationale de France Yg. 38; Casa de Bragança (E); Hispanic Society of America, New
York; John Carter Brown Library, Brown University, Providence; e Theophilo Braga
Fac-similar, 1898.
Os exemplares com combinações de elementos tradicionalmente pertencentes a “Ee”
ou “E,” quando examinados cuidadosamente, podem fornecer aos estudiosos os dados
necessários para se averiguar quais as mudanças efectuadas, e a ordem e o seu efeito na
seqüência da produção de exemplares. Não se trata apenas de atribuir um significado
especial à ordem; serve principalmente para determinar quais os elementos que sofreram
modificação e quando essas variantes teriam aparecido em exemplares que pensava-se
fazerem parte apenas de uma edição ou outra. As evidências encontradas nas
combinações insólitas de elementos daqueles poucos exemplares sugerem, sem dúvida,
uma conclusão precisa sobre a sequência de produção dos volumes. O desejo em todas as
épocas de poder vir-se a descobrir o texto autêntico é, mais que nunca, uma questão de se
estudar a natureza das alterações feitas durante a impressão, e das razões que levaram a
essas modificações.
Recentemente o recurso à crítica textual, que tem feito o exame física das impressões
e do tipo em “E” e “Ee,” já rendeu provas satisfatórias e evidência convincente que refuta
o mito das duas edições. Francisco Dias Agudo, no seu estudo do texto da primeira
edição, preparado para o Quarto Centenário em 1972, examinou exemplares do Porto e
de Guimarães, assim como fotocópias fornecidas por instituições internacionais, tais
como Napoli, a British Library e a Universidade de Oxford. Trabalhando com exemplares
da Biblioteca Nacional e da Biblioteca de Coimbra, Agudo soube demonstrar que a teoria
secular sobre a existência das duas edições — uma verdadeira e a outra falsa — não
22
poderia substanciar-se à luz de uma análise textual e comparada. Ao reexaminar,
primeiro, os exemplares sempre disponíveis em Lisboa, Agudo mostrou que havia fólios
em diferentes estados de impressão misturados entre os volumes, sendo também o caso
da cópia de Coimbra. A sua análise técnica dos detalhes físicos da impressão, que nunca
fora feita antes, não deixou dúvidas quanto à unidade da impressão e da produção d’Os
Lusíadas de 1572:
Em quase todas as páginas, ao fundo mas dentro da mancha, aparecem uns
traços finos, em regra formando linhas descontínuas terminando a
composição. Também se encontram por vezes por baixo do último verso
da primeira ou da segunda estância da página, ou por cima. Estes traços
não pertencem à composição do texto, como é óbvio, e são acidente
mecânico fortuito (como melhor veremos mais adiante) […] Estes traços
inoportunos aparecem …em todos [os exemplares] quantos pudemos
estudar para o efeito […] Estes acidentes oficinais só podem provir ou do
tipo ou da sua má colocação na mancha ou do tipógrafo impressor e sua
prensa […] Daqui se pode concluir que o Poema teve uma só impressão.
(5-6)
Certos traços que provêm do tipo, do granel ou das peças metálicas usadas pelo
impressor António Gonçalves nem sempre aparecem, mas são uniformes em todos os
exemplares que os têm. É também o caso de certos enganos não-idiomáticos do tipógrafo
("Qut" em vez de "Que") que só muito dificilmente seriam repetidos, da mesma forma a
palavra "profundo" mudado em "profnndo" — enganos presentes nas "duas edições." O
mito, segundo o qual ou "Ee" ou "E" era cópia espúria havia de ser destruído, mesmo se
fosse sempre verdade que um padrão mostrava-se inclinado a corrigir o outro. A
resolução do mistério encontrava-se na operação mecânica da impressão e nos materiais
usados por António Gonçalves. Agudo consegue explicar as variantes — encontradas
num livro impresso "ao mesmo tempo" e na mesma imprensa — através de uma
argumentação física-textual, pelo número limitado de tipos. Até que os tipógrafos
chegaram à última secção do livro, a vigésima-quarta, identificada no texto pela letra "Z,"
23
por exemplo, não existiam suficientes tipos com o carácter relativamente raro de "ã."
Assim, as folhas dessa secção alternam entre a terminação "ão" e "am." E Agudo também
sugere que o frontispício e o alvará, tendo sido os últimos elementos do livro a serem
impressos, estavam compostos com diferenças que correspondem intencionalmente às
variantes já introduzidas na impressão dos fólios, segundo desejava Gonçalves. Mas
sendo essa uma pura suposição, Agudo admite outras possibilidades ("Esta razão ou
qualquer outra"), enquanto a sua principal afirmação é que havia só uma edição de 1572.
Depois das suas considerações, o maior problema ainda por resolver seria o de determinar
como tantos exemplares singulares teriam sido criados. Agudo glosa esse desafio ao
afirmar simplesmente que a edição fora impressa “ao mesmo tempo.”
Quando reconsiderado à nova luz, o problema da edição de 1572 admite um
conjunto de possibilidades mais complexo do que aquele da tradição, mas igualmente
difícil de provar. Não se sabe quanto tempo levou a completar a impressão, ou como o
texto chegou a ser mudado. Não nos foi possível examinar o papel dos exemplares no
CD-ROM, embora se note uma grande variação em termos de qualidade, de exemplar
para exemplar, a julgar pela natureza da impressão em cada folha. No papel mais fino, a
impressão do recto passa para o verso, dificultando a sua leitura; e em numerosas folhas
de "E" e "Ee," falta uma parte da impressão, normalmente no meio da página, deixada em
branco ou com meia-impressão. A conclusão de Agudo, de que a edição fora impressa
"ao mesmo tempo," sendo necessariamente imprecisa e redutiva, é insustentável. Uma
certa duração era inevitável para poderem-se introduzir mudanças através de vinte e
quarto secções com milhares de tipos. Esse processo não podia ser instantâneo, e, como
se sabe, teve as suas próprias conseqüências na introdução de novos erros. Se o acesso às
24
vinte e nove primeiras edições reproduzidas no CD-ROM em si não nos leva à solução
desses problemas complexos, acreditamos que um estudo comparado e cuidadoso da
operação do texto e das variantes resultantes — quando colocado ao lado de observações
de filólogos do passado — acabará sendo muito sugestivo.
Uma vez que se aceita a hipótese de haver uma edição única, emendada por
quaisquer razões, mas dentro de um período bastante coerente, pode-se dispensar vários
dos mitos históricos e considerar novas possibilidades. Diz Rodrigues que, segundo a
prática da época, uma vez que o manuscrito era aprovado pela Santa Inquisição, não era
permitido ao autor rever o texto, alterá-lo ou fazer quaisquer emendas antes da sua
impressão. Seria lógico pensar que os tipógrafos, perante um manuscrito comprido e
complexo e sem a orientação do autor, teriam cometido os erros mais flagrantes no
começo ("filhos de Maria" por "filhos de Maia", por exemplo). A própria teoria de Agudo
— segundo a qual mudanças foram introduzidas nos materiais e na mecânica da
impressão durante a produção de todos os fólios — não significa que os exemplares
tenham saído sem ordem ou em simultâneo. Havia necessariamente uma seqüência
temporal na recomposição tipográfica que exige uma nova teoria de edição; além disso,
havia outra seqüência paralela, mas ligeiramente diferente, para a colação de exemplares
únicos com os fólios corrigidos, muitos dos quais coexistiram com os originais. Quando
examinarmos onde essas emendas aparecem, através de toda a produção ainda existente,
será possível formar uma nova teoria da sequência de variantes, sobre a ordem em que
foram feitas e por que razão começam a aparecer em certos exemplares.
Não se sabe se o Poeta se envolveu na impressão ou na correcção da sua obra, mas é
lícito concluir que as correcções foram feitas para fazer o livro corresponder mais
25
fielmente ao manuscrito original, ou para corrigir os vários erros de impressão, ou se
ambas as coisas. Mesmo assim, uma correcção de grande escala não se faz sem introduzir
outros erros de composição, fazendo com que a edição universal pareça bastante instável
e sem critério para poder-se julgar a sua autenticidade. Faltaram, sem dúvida, ao
impressor Gonçalves vários recursos tipográficos; para resolver os problemas práticos
entrou o engenho e, às vezes, a incompetência para substituir a consistência tão desejável
numa grande produção de vinte e quatro secções e trezentas e setenta e cinco folhas.
Como teremos ocasião de observar, levando em conta o resultado do estudo de Agudo, a
evidência principal para a unidade da edição de 1572 encontra-se nos erros técnicos e
noutras peculiaridades de impressão, numa produção que foi, sob quase todos os pontos
de vista, muito imperfeita. As outras duas razões principais a favor da unidade da edição
são, primeiro, a existência de exemplares com fólios que combinam elementos de "E" e
"Ee," e, segundo, o grande número de correcções e variantes em "E." Se esta fosse
realmente uma edição pirata, por que o impressor teria feito tão grande esforço para fazer
tantas alterações ao texto? Tal impressor também teria acesso, como modelo, à edição
"Ee" já impressa, mas aparentemente ignorá-la-ia.
A correcção e intercalação de folhas ou fólios, que tocou a muitos exemplares, não
devem ser vistas como evidência de corrupção de um original. Há sempre, de facto,
quatro erros técnicos presentes em cada exemplar do poema: os fólios 97recto e 103recto
levam os títulos "CANTO QVINTO" em vez do verdadeiro "CANTO SEXTO," e as
folhas 110 e 120 estão numeradas, sem excepção, 106 e 102, respectivamente. Quando
considerada no contexto dos exemplares cuja variedade de elementos representa a
intercalação das duas “edições,” a presença desses quatro erros indeléveis tem o efeito de
26
unificar e ligar todos os exemplares. As mudanças tipográficas também não se mostram
como contrafeitas ou espúrias, mas sequenciais, introduzidas aleatoriamente e por razões
diferentes. As emendas tornaram-se necessárias por causa da extensa errata nos fólios já
impressas e também por causa da carência de tipos e de outros materiais, inclusive de
papel de qualidade e tamanho variado. Observa-se, nesse sentido, que o exemplar da
Sociedade Martins Sarmento é visivelmente maior do que o exemplar idêntico do Ateneu
Comercial do Porto. Os quatro erros universais são, de uma certa maneira, as peças que
faltavam do quebra-cabeça, formando um novo alicerce sob o qual se constrói a
sequência de alterações que teria levado o impressor António Gonçalves de uma “edição”
à outra, à procura de maior coerência e autenticidade. O CD-ROM apresenta aos leitores
as evidências que sustentam esse ponto de vista, permitindo que sigam as alterações que
levaram de “E” a “Ee,” através de uma seqüência de alterações documentadas, numa
transição gradativa que acabou formando pelo menos 12 exemplares raros e únicos d’Os
Lusíadas. O nosso CD-ROM inclui-os e identifica-os pela primeira vez ao lado de
dezassete exemplares quase idênticos de “Ee” e seis de “E.”
*
No CD-ROM, a nossa macro-análise d'Os Lusíadas de 1572 investiga em cada
exemplar a presença ou ausência de trinta e três elementos estruturais seleccionados, que
sofreram modificação durante a impressão da edição. Esses elementos, comparados nas
Tábuas I-IV, são os seguintes:
O pelicano virado à esquerda ou à direita do leitor;
Dois desenhos decorativos no plinto;
A data do Alvará, escrito ou "vinte & quarto" ou "xxiiij";
A leitura "E" ou "Ee" na sétima linha da primeira estrofe;
27
A terminação “ão” ou "am" no sétimo e oitavo versos da primeira estrofe;
A presença de numeração errada nas verdadeiras folhas 13, 32, 69, 108,
110, 114, 120, 121, 122 e 154;
A presença de títulos errados na numeração dos CANTOS nas folhas 23,
65, 97, 9, 100, 103, 148, 152 e 160;
O título “SEPTIMO” or “SETIMO” nas folhas 114, 116, 118, 120, 122,
124, 126, 128, e “OCTVO” ou “OCTAVO” nas folhas 128 e 129.
Para os resultados de cada Tábua, os exemplares estão agrupados pela semelhança de
conteúdos. Na Tábua V, há uma correlação completa das outras Tábuas, com uma relação
dos exemplares por padrão. Na correlação final, pode-se identificar aqueles exemplares
que são idênticos, em termos desta análise estrutural, assim como aqueles que possuem
variantes vindas de um pelicano ou outro, ou variantes de transição, que não pertencem
claramente nem a uma "edição" nem à outra.
A conclusão da nossa análise é que a sequência da impressão dos fólios d'O s
Lusíadas começou provavelmente com seis exemplares sobreviventes de "E" (Biblioteca
José Mindlin E, Bibliothèque nationale de France Yg. 38, Casa de Bragança E, Hispanic
Society of America-New York, John Carter Brown Library-Providence e a edição facsimilar de Theophilo Braga, 1898). Esses têm o pelicano virado à direita do leitor, a data
do alvará soletrada “vinte & quatro,” a leitura “E” no sétimo verso e a terminação "am";
erros de paginação nas folhas 32, 108, 110, 114, 120, 121, 122 e 154. A verdadeira folha
154 leva o número "149". A seqüência dos CANTOS nas nove folhas seleccionadas lê-se
“PRIMEIRO, QUARTO, QVINTO, QVINTO, QVINTO, QVINTO, NONO, NONO,
NONO.” E os títulos encontrados nas outras nove folhas seleccionadas lêem-se:
"SETIMO, SETIMO, SETIMO, SETIMO, SETIMO, SETIMO, SETIMO, OCTVO,
OCTVO.”
Talvez o primeiro volume no qual se observam alterações significantivas, segundo a
sequência que estabelecemos, seja o da British Library G11286, o exemplar com maior
28
número de intercalações. O G11286 não possui algumas das emendas sofridas por outros
exemplares de "E”: aqui ainda se lê na folha 23 "CANTO PRIMEIRO", e a folha 108
ainda está numerada 118, como nos volumes do padrão "E." Mas o alvará já foi alterado
para "xxiiij" e o título da folha 129 corrigido para a leitura "CANTO OCTAVO.” Daí,
concluímos que este volume possui dois elementos anteriores àqueles de outros quatro
exemplares emendados de "E," assim como algumas emendas que esses não têm.
Outras das primeiras mudanças em "E" são observadas em quatro exemplares de
"E," nos quais a leitura “CANTO PRIMEIRO” na folha 23 já foi alterada para “CANTO
SEGVNDO” (British Library G11285, Harry Ransom Humanities Research CenterUniversity of Texas at Austin, Harvard University PORT 5215.72 e PORT 5218.72.3).
Num dos exemplares de Harvard University (PORT 5218.72.3) o alvará também já foi
alterado para a leitura “xxiiij,” tal como aparece através de "Ee." Finalmente, num dos
exemplares da Biblioteca Nacional de Madrid (R-14208), o título da folha 129 foi
corrigido para a leitura “CANTO OCTAVO” e o número errado da folha 118, encontrado
geralmente em "E" na verdadeira página 108, já foi corrigido” — o único exemplar de
“E” com essa correcção. Desta maneira, conseguimos identificar quatro das primeiras
alterações a serem efectuadas na impressão de 1572: a data do alvará, o título errado da
folha 23, uma letra que faltava ao título da folha 129 e a paginação errada da folha 108.
O único exemplar com o pelicano à direita pertencente à Biblioteca Nacional de
Lisboa (1P) é também o primeiro em que se observa um frontispício alterado. Agudo já
observara que o frontispício era composto de peças soltas, cuja posição se modifica
irregularmente em alguns exemplares (1972: 4). Nota-se, também, pequenas diferenças
nos desenhos florais, indicação da substituição de peças, que talvez pareçam iguais ao
29
observador comum. Em 1P, o desenho decorativo de folhagem no plinto termina com três
galhos ou folhas, sendo a ilustração tipicamente patente em "Ee." O exemplar 1P está
incompleto, na folha 99, mas as suas folhas parecem conformar-se a todas as normas de
"E." Podemos concluir que a imprensa se viu obrigada a alterar uma das peças do
frontispício, neste caso, misturando, assim, os padrões normalmente usados para "E" e
"Ee." Há também dois desenhos florais empregados em "E" que parecem idênticos, mas
que de facto não são.
*
Com base em G11286, postulamos uma seqüência de variações com dez elementos
variáveis em jogo, ao mesmo tempo que os exemplares estão sendo formados das folhas
de impressão, inclusive, pela primeira vez, a presença da imagem do pelicano à esquerda.
Porque G11286 é o primeiro, e talvez o único volume no CD-ROM a mostrar o pelicano
virado à esquerda, enquanto a maioria das suas páginas provém da outra "edição." Possui
a leitura "E," o sétimo verso acabado em "am" e uma paginação quase idêntica a "E." Ao
mesmo tempo, possui uma marca significativa da transição de "E" para "Ee" na
numeração da folha 154. Essa página leva o número errado de 145, enquanto a leitura em
"E" é sempre "149." Mas a folha 23 mantém a leitura primitiva de “E,” “CANTO
PRIMEIRO” — o que significa que o volume foi produzido quase simultaneamente com
os quatro exemplares tratados acima. Outras marcas de "Ee" estão presentes: a folha 160
foi alterada para a leitura “CANTO OCTAVO"; as folhas 116, 118 e 129 foram
corrigidas para a versão “Ee” de “SEPTIMO” e “OCTAVO,” enquanto as folhas 114,
120, 122, 124, 126 e 128 mantêm os mesmos erros da versão "E," intocados. Assim,
pode-se identificar nesse exemplar mais seis alterações específicas que intercalam as
30
alterações típicas de "Ee" entre as folhas da impressão "E." O pelicano virado à esquerda
está presente desde a primeira introdução de uma variante. Há quem pense que talvez
tenha sido preparado especialmente para identificar os volumes alterados. Mas também
pode ter substituído peças quebradas.
Aparecem as próximas alterações em dois exemplares de "Ee," os da Universidade
de Coimbra e do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, volumes que
ainda mostram na folha 65 a titulação correcta de "CANTO QVARTO," encontrado
através de "E," em vez do "CANTO TERCEIRO," a alteração enganada encontrada
através de "Ee." À excepção dessa única folha, esses dois exemplares evidenciam todas
as variantes características de “Ee.” Outro volume de “Ee” que evidencia esta sequência
de mudanças em certas folhas é o exemplar reproduzido por Hernâni Cidade em 1972
(mas não identificado) para a edição do Quarto Centenário da publicação, com a leitura
"CANTO TERCEIRO" na folha 65 mas ainda a leitura correcta, "CANTO NONO" na
folha 148, leitura essa vinda de "E," mas que muda para "CANTO OCTAVO" nos outros
exemplares de "Ee.” Ao manter essas duas folhas de “E,” esses dois exemplares de “Ee”
prestam evidência de uma etapa final, na substituição de uma impressão por outra, e
também são testemunhas dos enganos que surgiram na recomposição. Os exemplares do
Ateneu Comercial do Porto e da Sociedade Martins Sarmento (Guimarães) são os únicos
com o pelicano à esquerda que mantêm quatro erros de numeração dos fólios encontrados
em “E” (22/32; 118/108; 104/114; 117/121; 128/122). Ao mesmo tempo, contêm dois
outros erros encontrados somente em “Ee” (15/13 and 72/69). Esse dois volumes
demonstram que os erros de numeração dos fólios característicos de “E” e “Ee”
coexistiram num determinado momento da impressão. Essa emenda, mais a nova leitura
31
do fl. 23 (PRIMEIRO para SEGUNDO), constitui a primeira evidência de alteração no
texto, uma vez iniciada a impressão do livro.
Naquilo que podemos considerar ser a etapa final da impressão de 1572, segundo
nossa análise, identificamos dezassete exemplares idênticos de “Ee,” em termos dos trinta
e três elementos comparados neste estudo. Esses têm o pelicano virado à esquerda do
leitor, a data do alvará escrito “xxxiiij,” a leitura “Ee” no sétimo verso e a terminação
“ão”; e os erros de paginação nas folhas 13, 69, 110, 120 e 154. A verdadeira folha 154
está numerada 145, no que deve ser uma inversão do tipógrafo dos dois algarismos finais,
trocados na tentativa de corregir o número errado em “E.” A sequência dos títulos dos
CANTOS nas nove folhas seleccionadas lê-se "SEGUNDO, TERCEIRO, QVINTO,
SEXTO, SEXTO, QVINTO, OCTAVO, OCTAVO, OCTAVO.” E os títulos nas outras
nove folhas foram todos corrigidos para "SEPTIMO, SEPTIMO, SEPTIMO, SEPTIMO,
SEPTIMO, SEPTIMO, SEPTIMO, OCTAVO, OCTAVO.” Quer dizer que mais do que a
metade dos exemplares sobreviventes pertencem a esse grupo de “Ee,” resultado de uma
fase final de impressão, depois de feitas todas as mudanças e alterações, geralmente para
melhor, mas nem sempre. A existência de um grande número de exemplares de “Ee,”
sem dúvida, influenciou todos os estudos históricos d’Os Lusíadas de 1572, não só por
causa da sua disponibilidade para consulta, mas também devido à sua presença
avassaladora. Quem nunca viu nenhum dos doze exemplares com variantes importantes
não poderia imaginar uma teoria de edição adequada. Ao facilitar o acesso a quase todos
os exemplares, o CD-ROM torna evidente a significação dos doze exemplares do poema,
cujas folhas indicam as variantes e emendas introduzidas, porque fontes para o estudo da
intercalação de folhas e guia para o processo de correcção da impressão. São esses doze
32
exemplares que possuem a melhor evidência que temos hoje para formar uma nova teoria
de como Os Lusíadas foi impresso, qual a sequência da impressão, como foi alterada e
quais os primeiros exemplares impressos. Através do estudo comparado, o CD-ROM
demonstra que os dois pelicanos, assim como “E” e “Ee,” não correspondem a edições na
íntegra mas, outrossim, a estados de impressão d’Os Lusíadas em 1572.
O CD-ROM “Camões e a Primeira Edição d’Os Lusíadas” da revista Portuguese
Literary & Cultural Studies reproduz a edição de 1572 na sua quase totalidade, tal como
existe hoje, ao serviço dos futuros interessados nos problemas da primeira edição. Poderse-ão fazer estudos comparados, com todos os elementos à mão, do livro que representa
para a história da literatura e da cultura portuguesas a obra mais distinguida e significante
da modernidade europeia.
33
________________________________________________________________________
Os Lusíadas1572
Exemplares incluídos no CD-ROM [Texto integral]
Academia das Ciências de Lisboa
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (E)
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 1P
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional. Madrid R-14208
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572.1
Bosch Brazilian Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
British Library G.11285
British Library G.11286
Casa de Bragança, Vila Viçosa (E)
Casa de Bragança, Vila Viçosa (Ee)
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Harvard University PORT 5215.72
Harvard University PORT5215.72.5
Harvard University PORT5215.72.7
Harvard University PORT5218.72.3
Hispanic Society of America, New York
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Theophilo Braga, fac-simile, 1898
Universidade de Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade
34
________________________________________________________________________
Os Lusíadas1572
Outros Exemplars Consultados Mas Não Reproduzidos
Academia Brasileira de Letras
Ateneu Comercial do Porto
Bibliothèque nationale de France Yg. 38
Lello & Irmãos, 1939
Sociedade Martins Sarmento (Guimarães)
NOTA: Há ainda outros exemplares em mãos particulares em Portugal que não poderiam
ser incluídos no CD-ROM
________________________________________________________________________
Os Lusíadas 1572
Exemplares Consultados por Pelicano
Pelicano à Esquerda
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Ateneu Comercial do Porto
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 2
Biblioteca Nacional, Lisboa 3
Biblioteca Nacional, Lisboa 4
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572.1
Bosch Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
British Library G.11286
Casa de Bragança, Vila Viçosa (Ee)
Harvard University PORT 5215.72.5
35
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, 1939 (Ee)
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Sociedade Martins Sarmento (Guimarães)
Universidade de Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade
Pelicano à Direita
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (E)
Biblioteca Nacional, Lisboa 1p
Biblioteca Nacional, Madrid R-14208
Bibliothèque nationale de France Yg. 38
British Library G.11285
Casa de Bragança, Vila Viçosa (E)
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Harvard University PORT 5215.72
Harvard University PORT 5218.72.3
Hispanic Society of America, New York
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Theofilo Braga, Fac-simile, 1898
36
________________________________________________________________________
TABELA I
Os Lusíadas—1572
Comparação de Frontispício, Alvará, E/EE e ão/am
Padrões
Elementos
variáveis: Pelicano
Plinto
E/EE
Alvará
ão/am
________________________________________________________________________
1. Esquerda do leitor
EE
xxiiij
ão
2. Esquerda do leitor
E
xxiiij
am
3. Direita do leitor
E
vinte &
quarto
am
4. Direita do leitor
E
xxiiij
am
5. Direita do leitor
E
vinte &
quatro
am
________________________________________________________________________
Exemplares por padrão
1.
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Ateneu Comercial do Porto
Biblioteca José Mindlin, (Ee)
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
37
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572
Bosch Brazilian Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
Casa de Bragança (Ee)
Comissão do IV Centenário
Harvard University PORT 5215.72.5
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, 1939 (Ee)
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Universidade de Coimbra
2.
British Library G.11286
3.
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (E)
Biblioteca Nacional, Madrid R-14208
Bibliothèque nationale de France Yg. 38
British Library G11285
Casa de Bragança (E)
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Hispanic Society, New York
Harvard University PORT 5218.72.3
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Theophilo Braga, 1898
4.
Harvard University PORT 5215.72
5.
Biblioteca Nacional, Lisboa (1P) (cópia incompleta no fólio 99) (1)
38
________________________________________________________________________
TABELA II
Erros de foliação
chave= onde se lê (número impresso)
leia-se (número verdadeiro)
Padrões:
1.
15
13
2.
15
13
72
69
22
32
72
69
106
110
102
120
145
154
118
108
106
110
104
114
102
120
117
121
128
122
145
154
145
154
3.
22
32
118
108
106
110
104
114
102
120
117
121
128
122
4.
22
32
118
108
106
110
104
114
102
120
117
121
128
122
149
154
5.
22
106 104 102 117 128
149
32
110 114 120 121 122
154
______________________________________________________________________
Exemplares por padrão:
l.
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P [paginação original destruída por um leitor]
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572
Bosch Brazilian Library, Stuttgart
British Library C.30.3.34
Casa de Bragança (Ee)
Harvard University PORT 5215.72.5
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, 1939
39
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Universidade de Coimbra
2.
Sociedade Martins Sarmento, Guimarães
Ateneu Comercial do Porto
3.
British Library G11286
4.
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (E)
Bibliothèque national de France Yg. 38
British Library G11285
Casa de Bragança (E)
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Harvard University PORT 5215.72
Harvard University PORT 5218.72.3
Hispanic Society, New York
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Theophilo Braga, 1898
5.
Biblioteca Nacional, Madrid R-14208
40
________________________________________________________________________
TABELA III
Títulos dos Cantos nas folhas 23, 65, 97, 99, 100, 103, 148, 152 e 160
Padrões segundo análise de exemplares
f23
f65
f97
f99
f100
f103
f148
f152
f160
________________________________________________________________________
1. Segundo Terceiro Qvinto Sexto
2.
Sexto
Terceiro Qvinto
3. Segundo Quarto Qvinto Sexto
Qvinto Octavo Octavo Octavo
Nono
Sexto
Octavo Nono
Qvinto Octavo Octavo Octavo
4. Primeiro Quarto Qvinto Qvinto Qvinto Qvinto Nono
Nono
Octavo
5. Segundo Quarto Qvinto Qvinto Qvinto Qvinto Nono
Nono
Nono
6. Primeiro Quarto Qvinto Qvinto Qvinto Qvinto Nono
Nono
Nono
________________________________________________________________________
Exemplares por padrão
1.
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Ateneo Comercial do Porto
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572
Bosch Brazilian Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
Casa de Bragança, Vila Viçosa (Ee)
Harvard University PORT 5215.72.5
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, fac-simile (1939)
41
2.
Comissão Nacional do IV Centenário, fac-simile
3.
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Universidade de Coimbra
4.
British Library G11286
5.
British Library G11285
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Harvard University PORT 5215.72
Harvard University PORT 5218.72.3
6.
Biblioteca José Mindlin (E)
Biblioteca Nacional, Madrid R-14208
Bibliothèque nationale de France Yg. 38
Casa de Bragança (E)
Hispanic Society of America, New York
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Theophilo Braga, 1898
42
________________________________________________________________________
TABELA IV
"SETIMO/SEPTIMO" nas folhas 114, 116, 118, 120, 122, 124, 126,
"OCTVO/OCTAVO" nas folhas 128 e 129
Padrões segundo análise de exemplares
f114
f116
f118
f120
f122
f124
f126 f128
f129
________________________________________________________________________
1. SEPT
SEPT
SEPT
SEPT
SEPT
SEPT
SEPT OCTAVO OCTAVO
2. SET
SEPT
SEPT
SET
SET
SET
SET
OCTVO
OCTAVO
3. SET
SET
SET
SET
SET
SET
SET
OCTVO
OCTAVO
4. SET
SET
SET
SET
SET
SET
SET OCTVO OCTVO
________________________________________________________________________
1.
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Ateneo Comercial do Porto
Biblioteca José Mindlin, São Paulo (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg. 74
Bodleian Library, University of Oxford Antiq.e.P.1572
Bosch Brazlian Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
Casa de Bragança, Vila Viçosa (Ee)
Harvard University PORT 5215.72.5
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, fac-simile, 1939
Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro
Universidade de Coimbra
43
2.
British Library G11286
3.
Biblioteca Nacional, Madrid R14208
4.
Biblioteca José Mindlin (E)
Bibliothèque nationale de France Yg. 38
British Library G11285
Casa de Bragança (E)
Harry Ransom Humanities Research Center, University of Texas
Harvard University PORT 5215.72
Harvard University PORT 5218.72.3
Hispanic Society, New York
John Carter Brown Library, Brown University, Providence
Theophilo Braga, 1898
44
TABELA V
Correlação de Exemplares (Tabelas I, II III e IV)
Tabelas
I
II
III
IV
________________________________________________________________________
Padrões
1
1
1
1
Academia Brasileira de Letras
Academia das Ciências de Lisboa
Biblioteca José Mindlin (Ee)
Biblioteca Nacional, Lisboa 2P
Biblioteca Nacional, Lisboa 3P
Biblioteca Nacional, Lisboa 4P
Biblioteca Nacional, Madrid R-14207
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Biblioteca Nazionale, Napoli
Bibliothèque nationale de France Yg.74
Bodleian Library, University of Oxford
Antiq.e.P.1572
Bosch Brazilian Library, Stuttgart
British Library C.30.e.34
Casa de Bragança (Ee)
Harvard University PORT 5215.72.5
Harvard University PORT 5215.72.7
Lello & Irmãos, fac-simile, 1939
45
1
1
3
1
Universidade de Coimbra
Real Gabinete Português de Leitura
1
2
1
1
Sociedade Martins Sarmento, Guimarães
Ateneu Comercial do Porto
1
?
2
?
Comissão do IV Centenário, fac-simile
2
3
4
2
British Library G.11286
3
4
6
4
Biblioteca José Mindlin (E)
Bibliothèque national de France Yg. 38
Casa de Bragança (E)
Hispanic Society of America, New York
John Carter Brown Library, Providence
Theophilo Braga, 1898
3
4
5
4
British Library G11285
Harry Ransom Center, University of Texas
Harvard University PORT 5218.72.3
4
4
5
4
Harvard University PORT 5215.72
3
5
6
3
Biblioteca Nacional, Madrid R14208
FRONTÍSPICIO MISTO — "E" [VOLUME INCOMPLETO]
5
(5)
(4/6) ?
(FRONTISPÍCIO MISTO)
Biblioteca Nacional, Lisboa 1P (99f.)
____________________________________________________________________
46
Bibliografia
Agudo, Francisco Dias. "A Edição d'Os Lusíadas de 1572." Garcia da Orta: Revista da
Junta de Investigações do Ultramar [Lisboa], Número Especial Comemorativo do
4.° Centenário da Publicação de "Os Lusíadas" (1972): 1-9 seguidas por 22
estampas.
Albuquerque, Alexandre de. As Duas Edições dos Lusíadas de 1572. Rio de Janeiro:
Ribeiro, 1921.
Amorim, Francisco Gomes de, ed. Os Lusíadas de Luiz de Camões. Edição crítica e
annotada. Lisboa: Imprensa Nacional, 1889.
Anselmo, António Joaquim. Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século
XVI. Lisboa: Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926.
Anselmo, Artur. Camões e a Censura Literária Inquisitorial. Braga: Barbosa & Xavier,
1982.
———. Origens da Imprensa em Portugal. Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1981.
Bell, Aubrey F.G. Luís de Camões. Oxford: Oxford UP, 1923.
Bismut, Roger. “La Critique textuelle des Lusiades.” Actas da I Reunião Internacional de
Camonistas. Lisboa: Comissão Executiva do IV Centenário da Publicação de "Os
Lusíadas," 1973.
Bowers, Fredson. Principles of Bibliographical Description. Princeton: Princeton UP,
1949.
Braga, Theophilo, ed. Camões. A Obra Lyrica e Épica. Porto: Livraria Chardron, de
Lello & irmão, 1911.
———. Os Lusíadas de Luiz de Camões. Fac-simile da Primeira Edição dos Lusíadas
com um Prefácio do Dr. Theophilo Braga. Lisboa: José Eusébio dos Santos, 1898.
Camões, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1980.
Carvalho, Francisco Freire de. Os Lusíadas de Luiz de Camões. Nova Edição Feita
Debaivo das Vistas da Mais Accurada Critica Em Presença das Duas Edições
Primordiaes e das Posteriores de Maior Credito e Reputação: Seguida de
Annotações Criticas, Historicas e Mythologicas. Lisboa: Typographia Rollandiana,
1843.
Castilho Barreto e Noronha, José Feliciano de. Memória sobre o Exemplar d’Os Lusíadas
da Biblioteca Particular de S.M. o Imperador do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, 1880. [Annaes da Biblioteca Nacional, t. VIII]
Cerdeira, Eleutério. “Duas Grandes Fraudes Camonianas.” Os Lusíadas. Ed. Hernâni
Cidade. Barcelos: Comp. Ed. do Minho, 1940.
Cidade, Hernâni. Os Lusíadas de Luís de Camões. Edição Comemorativa. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1972.
Coutinho, B. Xavier. “A Edição ‘Princeps’ de Os Lusíadas: Um problema complexo e
difícil (ou insolúvel). Muito provavelmente houve 3 edições ‘princeps’, e não apenas
2, com a data (simulada) de 1572.” Arquivos do Centro Cultural Português [Paris]
16 (1981): 571-719.
Deslandes, Venâncio. Documentos para a História da Typographia Portugueza nos
Séculos XVI e XVII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1888.
Dias, Augusto Epifânio da Silva. Os Lusíadas de Luís de Camões. Porto: Magalhães &
Moniz, 1910: t.1, XXVI-XXIX.
47
Flores, R. M. The Compositors of the First and Second Madrid Editions of Don Quixote,
Part I. London: Modern Humanities Research Association, 1975.
Gallut, Anne. Le Morgado de Mateus, Editeur des Lusíadas. Paris: Librairie Klingksieck;
Lisboa: Livraria Bertrand, 1970.
Gaskell, Philip. A New Introduction to Bibliography. Oxford: Oxford UP, 1972.
Cruickshank, D.W. “Literature and the Book Trade in Golden-Age Spain.” Modern
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Griffin, Clive. The Crombergers of Seville: the history of a printing and merchant
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Guimarães, A. J. Gonçalves. Os Lusíadas de Luís de Camões. Segundo o Têsto da
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Jackson, Kenneth David. “A contribuição dos exemplares mais raros de Os Lusíadas,
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———. “A Critical Edition of the 1572 Lusíadas: Preliminary Observations,”
Camoniana Californiana. Eds. Maria de Lourdes Belchior and Enrique MartínezLópez. Santa Barbara: Jorge de Sena Center for Portuguese Studies; ICALP,
Bandanna Books, 1985: 20-39.
McKerrow, Ronald. An Introduction to Bibliography for Literary Students. 2nd ed.
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“Memória sobre o exemplar dos Lusíadas da Biblioteca Particular de S.M. o Imperador
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Monteiro, José Gomes. Introdução a Os Lusíadas. Edição crítica-comemorativa. Porto:
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Noronha, Tito de. A Primeira Edição dos Lusíadas. Porto e Braga: Livraria Internacional
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Norton, F. J. A Descriptive Catalogue of Printing in Spain and Portugal, 1501-1520.
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“Nota Preambular.” Os Lusíadas. Fac-Simile das Duas Edições de 1572. Vol. 1. Quarto
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do IV Centenário da Publicação de Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa
da Moeda, 1972: XXX-XLII.
Reinhardstoettner, Carl von. Os Lusíadas de Luiz de Camões. Unter Vergleichung der
Besten Texte, mit Angabe der Bedeutendsten Varianten und einer Kritischen
Einleitung Herausgegeben. Strassburg & London: Karl J. Trubner, 1874.
Rhodes, Dennis, comp. Catalogue of books printed in Spain and of Spanish books printed
elsewhere in Europe before 1601 now in the British Library. 2nd ed. London: British
Library, 1989.
48
Ribeiro, Aquilino. “A Edição Princeps dos Lusíadas.” Boletim da Junta de Província da
Estremadura (1946); reprinted in Revista Ocidente 138 (1949); and in Camões,
Camilo, Eça e Alguns Mais. Amadora: Betrand, 1975. 67-81.
Rodrigues, Dr. José Maria, ed. Os Lusíadas. Reimpressão “fac-Similada” da Verdadeira
1.ª Edição dos Lusíadas, de 1572. Lisboa: Tip. Da Biblioteca Nacional, 1921.
Sena, Jorge de. Trinta Anos de Camões, 1948-1978. Lisboa: edições 70, 1980.
Trigoso, Sebastião Francisco de Mendo. “Exame Crítico das Cinco Primeiras Edições dos
Lusíadas.” História e Memórias da Academia [Lisboa] 8.1 (1823): 169.
Vasconcelos, D. José Maria de Sousa Botelho Mourão e [Morgado de Mateus], ed. Os
Lusíadas. Paris: Firmin Didot, 1817.
Wagner, Klaus. Catálogo abreviado de las obras impresas del siglo XVI de la Biblioteca
Universitaria de Sevilla: España y Portugal. Sevilla: Servicio de Publicaciones de la
Universidad de Sevilla, 1988.
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Luís de Camões e a Primeira Edição d`Os Lusíadas, 1572: Uma