Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
ATIVIDADE DE CAMPO – FOMENTO AO PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM A INTERDISCIPLINARIDADE
CORRÊA, Camila Blum
FILA, Mayara de Fátima
Introdução
A partir da ponte estabelecida pelas disciplinas de Prática de Campo IV e Estágio
Curricular Supervisionado em Geografia II, foi possível realizar uma atividade de campo com
alunos do Ensino Médio. O campo se realizou com a participação de 26 discentes, no mês de
agosto de 2014, e correspondeu à visitação do Museu Arqueológico, localizado no bairro de
Oficinas na cidade de Ponta Grossa/PR. Este museu é resultado de anos de trabalho do
professor Dr. Moacir Elias Santos, que através de sua iniciativa, busca contribuir para a
educação e cultura principalmente dos alunos do ensino fundamental e médio. Atualmente
encontram-se três alas disponíveis para a visitação, sendo que duas delas referem-se à cultura
Egípcia e a outra à cultura Pré-Colombiana. O trabalho consistiu em algumas fases, como, a
elaboração e apresentação do projeto, tanto para os professores das disciplinas, quanto para a
equipe pedagógica do colégio; a pré-aula, onde foi explanada aos alunos uma introdução do
que seria visto no museu; o campo propriamente dito; e por fim, uma avaliação em forma de
relatório, onde foram direcionadas algumas questões a partir das quais eles o fariam. A análise
deste mesmo relatório será a principal fonte de dados do relato de experiência que aqui
apresentaremos.
Objetivos
 Realizar a atividade de campo fomentando o processo de ensino-aprendizagem em
geografia;
 Contextualizar o aspecto histórico, geográfico e cultural da nação egípcia;
 Identificar os principais aspectos diferenciadores da cultura egípcia;
Metodologia
Realização de uma atividade de campo com alunos do segundo ano do ensino médio.
Após o campo os alunos entregaram um relatório direcionado a partir das seguintes perguntas:
A) Você sabia que existia um museu de arqueologia aqui na cidade de Ponta Grossa?
B) Você já teve contato com algo que faz parte da cultura egípcia?
C) Como você entendeu a organização da sociedade egípcia?
D) Qual artefato/ instrumento, você achou mais interessante.
E) Com relação ao Rio Nilo, explique porque ele foi importante para os egípcios.
F) De tudo que você viu no museu, o que mais chamou a sua atenção?
Com base nestas perguntas foi possível desenvolver o trabalho, explorando a visão dos
discentes sobre o conhecimento adquirido durante a atividade de campo.
Discussão e resultados
XXI Semana de Geografia, III Semana e Jornada Científica de Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XV
Jornada Científica da Geografia e VIII Encontro do Saber Escolar e o Conhecimento Geográfico
"Os desafios, as novas perspectivas e abordagens da Geografia"
Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
A Geografia tem por base de estudo o espaço, é nele que a natureza e as dinâmicas
sociais se desenvolvem e se integram, definindo e marcando paisagens naturais/culturais. A
organização deste espaço pressupõe não só um aprofundamento teórico, mas também um
contato direto e investigador - observar, identificar, reconhecer, localizar, perceber,
compreender e analisar o espaço geográfico e a dinâmica de sua organização - por meio do
trabalho de campo (RODRIGUES et al, 2001). Ao adentrar em outra cultura diferente daquela
inserida em nossa identidade, cria-se uma proporção de aumentar o conhecimento sobre as
mesclas de civilizações existentes no mundo e a sua origem. Ao se trabalhar fora da sala aula
abre-se um leque maior de aprendizado saindo do abstrato para o contato direto. Todo o
caminho até a chegada do ponto desejado é uma oportunidade de desenvolver no aluno a sua
visão de mundo, a isso o trabalho de campo é compreendido como um momento fundamental
no processo de ensino-aprendizagem em geografia, Silva e et.al. (2008), afirmam sobre esta
questão que,
(...) os trabalhos de campo também podem ser essenciais tanto no
ensino fundamental e médio quanto são no ensino superior, visto que
muitas vezes, a Geografia escolar é considerada enfadonha e de
importância secundária em relação às demais disciplinas. Assim, a
partir do momento em que o professor propõe um trabalho de campo
aos seus alunos, para que a teoria vista em sala de aula seja observada
e utilizada na prática, ocorre à desmistificação da idéia de que a
Geografia seja uma disciplina inútil e desinteressante. (idem, 2008,
p.14).
O trabalho de campo como recurso didático é de primordial importância, porque
oferece potencialidades formativas que devem ser levadas em conta no processo ensinoaprendizagem como uma das técnicas pedagógicas mais acessíveis e eficazes ao professor
(RODRIGUES et al, 2001). Trata-se de mostrar o verdadeiro sentido da geografia, para que
ela deixe de ser vista apenas como um mero conteúdo, onde se decora para passar de ano, e se
torne de fato um instrumento para a vida dos alunos, pois como disse Cosgrove (1998) “a
geografia está em toda parte” desde a organização espacial que compõe a sala de aula, até o
quintal da casa dos nossos alunos.
Independentemente dos objetos que possam justificá-lo, o trabalho de
campo pode ser útil, por exemplo, nas práticas de ensino. Trata-se de
uma possibilidade de compreensão dos lugares, das paisagens. Os
trabalhos de campo, desde que acompanhados de referências teóricas,
podem constituir-se de indispensável instrumento da ampliação das
perspectivas conceituais dos estudantes. Mas, estudar é, sempre,
pesquisar (HISSA e OLIVEIRA, 2004, p. 38).
O embasamento teórico é fundamental, pois assim, o campo, não se torna na visão dos
alunos uma simples viagem, excursão ou passeio. Quando que estudar é pesquisar, nos
mostram que devemos ter responsabilidade científica, assim, nós na condição de professores
devemos propiciar um espaço para as reflexões, instigando os alunos a pensar sobre a
formação do mundo e os povos que nele habitam e transformam o espaço geográfico. Outro
viés importante a partir da realização do trabalho de campo foi propiciar a
interdisciplinaridade, através do contato principalmente entre as disciplinas de Geografia,
História, Artes, sendo que, é possível incluir também as demais do ensino básico. Neste
sentido, a interdisciplinaridade é entendida por Fazenda, como,
(...) um termo utilizado para caracterizar a colaboração existente entre
disciplinas diversas ou entre setores heterogêneos de uma mesma
ciência (...). Caracteriza-se por uma intensa reciprocidade nas trocas,
visando a um enriquecimento mútuo. (2011, p.73).
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Assim, podemos afirmar que o viés interdisciplinar foi atingido, já que, que o campo
foi executado por professores de Geografia, (quatro estagiárias e o professor titular do colégio
em questão), e mediado por um professor de história, no caso o proprietário do museu. Essa
dinâmica permitiu correlacionar as duas áreas, enriquecendo os conhecimentos que no campo
foram adquiridos.
Através do relatório respondido pelos alunos constatou-se:
A) Você sabia que existia um museu de arqueologia aqui na cidade de Ponta Grossa?
Sim: 1
Não:25
Figura 1: Gráfico referente às respostas dos alunos pergunta A.
Estes alunos correspondem em sua maioria aos chamados internos, ou seja, são de
outras cidades e ficam no alojamento disponibilizado pela escola. Consideramos que este fato
seja o principal para analisar o desconhecimento da existência do Museu na cidade de Ponta
Grossa. Também revela que o estudo do meio, é muito pouco trabalhado dentro da sala de
aula, podendo este ser um fato com prospecção de melhoramento por parte dos docentes.
B) Você já teve contato com algo que fez parte da cultura egípcia?
Sim: 11
Não: 15
Figura 2: Gráfico referente às respostas dos alunos pergunta B.
O contato com outras culturas chamou a atenção, pois os alunos conseguiram entender
a interdisciplinaridade entre geografia, história e arte, através da explicação e visitação ao
museu, observaram a arte egípcia, o que despertou grande interesse e curiosidade entre os
mesmos.
Com base nos relatos feitos pelos alunos, foi possível perceber que a maioria deles
entendeu a dinâmica de organização da sociedade egípcia, os costumes e tradições que
estavam expressas em cada artefato exposto. Entenderam a grande importância do Rio Nilo
para aquela civilização, associando também a localização geográfica do Egito. Como se trata
de alunos que estão inseridos no Ensino Técnico, no caso Técnico Agrícola, foi lhes
propiciado o conhecimento das técnicas agrícolas utilizadas pelo povo egípcio, e também da
arquitetura, um modo de organização social que fora desenvolvido há cerca 3.000 anos antes
de Cristo.
Entender como o povo egípcio vivia e a sua relação com o meio natural, para os
alunos que estão no Ensino Técnico Agrícola, foi surpreendente. O Museu apresenta duas
plantas o Papiro e a Flor de Lótus muito utilizada pelo povo egípcio, ao qual despertou o
interesse por parte dos alunos. A função e divisão de tarefas, a maneira como cozinhavam,
interagiam em festas, aproveitavam a cheia do Rio Nilo para cultivo de grãos, estocamento e
divisão de alimentos, foi transpassada aos alunos intrigando-os a cada relato contado através
da explicação. As cerimônias de mumificação e as peças originais, também chamaram muita
atenção, sendo estes a maioria do relato entregue.
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A)
B)
Figura A) Representação da família Egípcia. Figura B) Alunos observando o museu.
Fotos: Autora.
Conclusão
Percebeu-se a importância da atividade de campo, ao proporcionar outro ambiente,
além da sala de aula, capaz de despertar o interesse para o conhecimento por parte dos alunos.
Foi de grande proveito aos alunos, os quais enriqueceram seus conhecimentos nas diferentes
disciplinas que exploram o contexto da civilização egípcia. O campo cumpriu com os
objetivos propostos, a colaboração por parte da escola e dos próprios alunos foi o papel
fundamental para esta realização, apresentando assim, a importância da relação pedagógica
em liberar os alunos para o estudo além da sala de aula, e do interesse por parte dos
educandos. Estes tiveram a oportunidade de adentrar numa outra cultura diferente daquela que
estão acostumados, proporcionando um conhecimento mútuo de antigas civilizações em seus
aspectos principais geográficos, históricos, étnicos, culturais, artísticos e arquitetônicos.
Referências
FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade
ou ideologia. São Paulo: Edições Loyola, 6ª Ed. 2011.
HISSA, C. E. V.; OLIVEIRA, J. R de. O trabalho de campo: reflexões sobre a tradição
geográfica. Boletim Goiano de Geografia, Goiás, v.24, n.1-2, p.31-41, jan./dez. 2004.
RODRIGUES, Antonia Brito; OTAVIANO, Claudia Arcanjo. Guia Metodológico de
Trabalho de Campo em Geografia. Geografia, Londrina, v. 10, n. 1, p. 35-43, jan./jun.
2001.
SILVA, K. N.; ALVES, L. A.; LOPES, M, de L. A importância de se praticar o trabalho
de campo na ciência geográfica. Revista a Margem, Uberlândia, v.1, n.1, p. 10-19, jan./jun.
2008.
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