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Segunda-feira
29 de abril de 2013
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Política
Entrevista Especial
Edgar Lisboa
Repórter Brasília
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Crise institucional
Paula Coutinho e Guilherme Kolling
DIVULGAÇÃO/JC
Ultrapassando fronteiras
Exportando know how
O registro de José Fortunati chamou atenção, além do vice-presidente, Michel Temer, de prefeitos que já, ao final da reunião,
buscavam informações sobre o trabalho que Porto Alegre desenvolve nesse sentido. Pelo interesse de alguns prefeitos, Regina Becker passará a levar seu know how pelo Brasil afora, para que
outros municípios possam também implementar políticas públicas
em defesa dos animais. Uma realidade indispensável numa sociedade civilizada.
Demarcação alucinógena
A pressão dos ruralistas para frear as demarcações de terras
indígenas continua. A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou um requerimento para realizar audiência pública
com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT),
e da presidente da Funai, Marta Maria do Azevedo. O deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP) diz que há várias irregularidades nas
demarcações de terras indígenas no Rio Grande do Sul, entre elas
um laudo antropológico baseado em alucinações após um ritual do
chá ayahuasca (Santo Daime), a cobrança de pedágio de professores que ministram aulas nas aldeias e o arrendamento de terras.
atingem menos porque temos um
mercado. Pode a indústria não crescer muito, mas para se manter num
certo nível, há o consumo interno
pra mantê-la.
JC - Dilma influencia no Banco Central?
Araújo - Qual é o presidente
da República que não influencia
no BC? Olha, o cara é presidente
da República, é presidente de tudo,
do BC. Agora, a presidente da República não vai influenciar? Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
mudava o presidente do BC e, aí,
não influenciava? Mudou três vezes. É uma coisa inacreditável isso,
que traz gritaria, a mesma de sempre, daqueles que levaram o Brasil
três vezes à falência com a política
deles. Com a era FHC, o Brasil foi
três vezes ao Fundo Monetário Internacional (FMI), falido, buscar dinheiro. A inflação no período dele
(1995-2002) não dá nem para falar
perto do que foi no período Lula
(PT, 2003-2010) ou no período Dilma. Não dá nem para falar. Agora,
é o dia inteiro em cima dessa retórica: “Vai subir, agora é certo que
vai subir o juro. Não sobe porque
o Tombini é um imbecil, e a Dilma
impede que ele faça subir”. Como
é que o presidente do BC não vai
trabalhar em harmonia com o presidente da República? Se não (for
assim), a presidente da República
tira ele (do cargo).
JC - O senhor tem a tese de
que os governos Lula e Dilma
são uma continuidade do governo Getúlio Vargas.
Araújo - Totalmente convencido disso. A questão é a mesma que
está colocada hoje. Quem é que vai
ter a hegemonia do processo...
JC - Isso não está ultrapassado? Forças sociais versus capi-
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Aos 75 anos, o ex-deputado
Carlos Araújo está de volta ao PDT.
Amigo próximo e ex-marido da
presidente Dilma Rousseff (PT), ele
defende a política econômica do
governo federal e questiona as críticas de que a chefe do Executivo
influencia no Banco Central (BC).
“Qual é o presidente da República
que não influencia no BC?”, provoca. “Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) trocou três vezes o presidente do BC. E aí não influenciava?”, compara.
Depois de uma trajetória de
queda e estabilidade no governo
Dilma, a taxa Selic subiu 0,25%
neste mês, de 7,25% para 7,5%.
Araújo entende que o governo está
certo ao resistir à pressão para aumentar substancialmente os juros,
mesmo com a alta dos preços. O
ex-deputado minimiza a inflação
- apesar de ter estourado o teto da
meta para o ano, de 6,5% - e avalia
que há propaganda forjada por setores ligados ao capital financeiro,
interessados em uma alta de juros
e que não estariam preocupados
com o desemprego.
Nesta entrevista ao Jornal do
Comércio, Araújo aponta o investimento em infraestrutura como
o grande desafio do governo Dilma. E ainda analisa as articulações para a sucessão de 2014, ao
projetar que o PSB pode perder
espaço se lançar a candidatura de
Eduardo Campos à presidência
da República e romper a aliança com PT e PMDB nos estados.
Jornal da Comércio – Há
uma crítica do mercado de que
o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, não sinaliza
quais medidas serão adotadas e
que Dilma faz insinuações sobre
a política monetária, que ela seria intervencionista. O que acha
dessa análise?
Carlos Araújo - Acho uma análise para fazer pressão. É o mesmo
pessoal de sempre, vinculado ao
capital financeiro, que capitaneia
esta análise. A tese (deles): “o capitalismo brasileiro se esgotou porque
não é possível continuar apoiado
só no consumo”. As medidas que
são tomadas para se ter desenvolvimento são fantásticas, mas continuo dizendo, o apoio no consumo é
fundamental para nós. Isto nos dá
certa independência, as crises nos
ANTONIO PAZ/JC
Por mais que não se queira admitir, estamos com uma ameaça
de crise institucional que se agrava entre o Judiciário e o Legislativo.
Nos últimos dias, o jogo de palavras entre os membros do Supremo e
parlamentares, depois do mensalão, partiu para um confronto com
palavras mais ásperas e acusações de interferências entre os poderes. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos
Deputados cometeu o que alguns chamam de “atentado ao Estado
Democrático de Direito” do País, quando, numa sessão esvaziada,
a toque de caixa e com votação simbólica, decidiu autorizar a tramitação de uma Proposta de Emenda Constitucional de autoria do
deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) que interfere diretamente nos
procedimentos do STF e na efetividade de suas decisões. A PEC em
questão submete à aprovação do Congresso as súmulas vinculantes
e declarações de inconstitucionalidade. Segundo especialistas, a decisão fere cláusula pétrea da Carta Magna de 1988, que consagra a
separação dos poderes. A expectativa é de que a reunião entre os
presidentes da Câmara e do Senado, hoje, com o ministro do STF
Gilmar Mendes faça acalmar os ânimos.
O prefeito de Porto Alegre,
José Fortunati (PDT), fez um
agradecimento especial, em
seu discurso de posse, em Brasília. Chamou a atenção para
o trabalho que vem sendo
desenvolvido por sua esposa
e secretária especial dos Direitos Animais (Seda), Regina
Becker (foto), que “tem me
incentivado, me estimulado,
uma parceira na administração pública de Porto Alegre,
principalmente nas questões
sociais”. E acrescentou: “Quero
fazer uma deferência, presidente Michel Temer (PMDB). Regina
tem se preocupado também com as políticas públicas voltadas
para o bem-estar animal e tem dado um grande enfoque a um
tema que, de certa forma, ainda sofre muito preconceito, muito tabu, mas estamos conseguindo mostrar que é impossível
construirmos uma sociedade inclusiva e harmônica, sem que a
questão animal esteja presente no nosso dia a dia”.
Para Carlos Araújo, todos
tal financeiro internacional?
Araújo - Não está ultrapassado porque o capital financeiro está
emperrando, quer que os juros
subam... Quais são as questões de
hoje? Quais são as divergências de
hoje? Desde o tempo de Getúlio
querem que suba os juros, que,
para conter a inflação, tenha desemprego.
JC - Qual é a sua avaliação
destes dois anos do governo
Dilma no quesito capital financeiro internacional versus forças sociais (trabalhadores e as
classes médias)?
Araújo - Acho que o capitalismo tem que se desenvolver distribuindo bolo, não pode primeiro
crescer o bolo pra depois distribuir.
Hoje quem cria riqueza é o capitalismo, nós estamos no desenvolvimento do capitalismo. O capitalismo ainda não se exauriu. Um dia
ele haverá de se exaurir, mas será
um outro, aí estaremos há um
passo do socialismo. Interessante
como o capitalismo vai avançando
e criando dentro de si seu antídoto.
JC - O senhor é capitalista ou
socialista?
Araújo - Sou socialista. Agora, eu entendo que, para desenvolver o socialismo, tem que atingir
um certo grau de desenvolvimento
capitalista.
JC - Como avalia os dois mandatos de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff.
Araújo - O governo Lula é
uma continuidade (do governo
Getúlio), é essa a tese. E começa
a ser aplicada com viabilidade.
Getúlio nunca conseguiu, estavam
sempre pra derrubá-lo. Não havia
clima democrático, tais eram as
forças que oprimiam com tanta
violência que, enquanto não liqui-
“Campos tem
que cuidar
para que sua
candidatura
não liquide de
vez o PSB”
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Para Carlos Araújo, todos presidentes