FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA
MÓDULO
Ética, Cultura e Arte
Organizadoras:
Professora Me. Cristina Herold Constantino
Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
Colaboradores:
Mediadores:
Professor Esp. Márcio Marosti
Professora Esp. Fabiana Caetano
Tutoria:
Professora Aline Ferrari
INTRODUÇÃO
Em sua diversidade e multiplicidade, a
marcada pelas
diferenças dialetais,
o
cultura brasileira
amor ao esporte
assimilação da cultura estrangeira.
é
e a
As duas primeiras
aparecem como marcas culturais e a última surge como tendência
singular do brasileiro. Esta coletânea pretende ser um convite à
informação e à reflexão acerca da cultura, da
“nossa
característica” como povo brasileiro que somos, sobretudo, acerca da
diversidade
de
culturas
que
enriquecem
o
contexto
brasileiro,
acrescentam valores ao universo humano, ampliam conhecimentos e
revelam grandes possibilidades de interação. Neste material, você
também encontrará conteúdo sobre Olimpíadas, arte contemporânea
e livros. No percurso da leitura-estudo dos textos aqui apresentados,
são várias as possibilidades de questionamentos. Dentre eles, como ser
um cidadão brasileiro que assimila a sua cultura, nutre amor e respeito
genuíno por ela, faz parte dela, mas, também, reflete e age eticamente
sobre essa cultura? Seja
muito bem-vindo(a)
ao segundo
semestre da disciplina de Formação Sociocultural e Ética e a
esta coletânea, em especial!
Das organizadoras
ÉTICA, CULTURA E ARTE
Embora os três elementos - ética, cultura e arte - se relacionem entre si e se completem,
começaremos por abordar o tema pelo viés da cultura em uma perspectiva conceitual básica, com
a finalidade de refletirmos fundamentalmente sobre a nossa cultura. Segue abaixo uma compilação
de textos, os quais dialogam entre si, na medida em que abordam a noção básica de cultura,
estendendo-a à perspectiva nacional, possibilitando-nos, sob o olhar dos diferentes autores,
refletir, analisar e, quem sabe, modificar nosso posicionamento.
TEXTO 1
Cultura (conceito)
Meio de expressão dos sentimentos e aspirações do ser humano, a arte surge no período préhistórico. Há dezenas de milhares de anos, o homem pintou, em paredes de cavernas, imagens
que chegaram aos nossos dias. As artes plásticas surgem como manifestação cultural humana
muito antes da escrita. Desde a Antiguidade, as escolas artísticas tentaram, com os recursos
disponíveis à época, abarcar a complexidade da cultura humana. Atualmente, a humanidade conta
com diversas formas de manifestação, além das seis artes clássicas – música, dança, pintura,
escultura, literatura e teatro. No mundo moderno, surgiram outras, como o cinema (conhecido
como sétima arte), a fotografia e a animação. (…) Literatura é a arte de escrever textos em prosa
ou verso. São gêneros da literatura a poesia, épica ou lírica, e a prosa, sob a forma de romance,
novela, conto, crônica e texto dramático.
No entanto, em se tratando de
cultura brasileira, segundo
Rosa Lydia Teixeira Corrêa (2008),
multicultura,
infinidade de culturas que se interpenetram.
a palavra mais apropriada quando se trata de abordar a cultura brasileira é
pois
aponta para a composição de uma
Um
exemplo típico desta linha de raciocínio é a pizza, segundo a autora. A pizza é um prato típico da
culinária italiana e, certamente, uma das iguarias que mais têm sofrido adaptações desde que os
imigrantes italianos a trouxeram para o Brasil. Um exemplo bastante peculiar vem de Belém (Pará),
com a criação da pizza com recheio de jambú (planta comestível da Amazônia, considerada
afrodisíaca, que, na tradição local, compõe um prato típico regional: o pato ao tucupi), camarão e
mussarela. Nela, tem-se tanto a composição italiana, com o queijo e a massa, quanto a regional,
com o camarão e o jambú. Deste modo, pode-se dizer, então, que existem significados e sentidos
que se entrecruzam, tanto na composição objetiva deste prato quanto daquilo que desta comida se
pode usufruir quando ela for degustada (sabores, odores, a própria estética. Essa prática é
denominada de processo de interculturalidade, pois o que há de comum é uma matriz que
une diferentes grupos sociais, cujos costumes são diferentes, mas que agregam algo que passa a
fazer sentido para um grupo, à medida que este introduz seus próprios elementos.
A autora segue afirmando ser a língua a matriz de qualquer cultura, já que traduz o significado
dela pelo fato de revelar a obra humana em sentido bem amplo. É, talvez, o referencial mais forte
da identidade de uma pessoa, pois a vincula a um país, no sentido de pertencimento e de
possibilidades de tradução de elementos que lhe fazem sentido e que, para ela, têm significado.
Compreende-se, então, que a língua se vincula à identidade cultural pelo sentimento de
pertencimento a uma cultura, nesse caso a cultura brasileira, na qual se fala a língua portuguesa.
Ainda que, essa língua seja igualmente falada em outros países, como Portugal, Moçambique e
Angola, o sentido de seu uso no Brasil tem suas particularidades, que vão desde a pronúncia até o
uso de termos que são especificamente brasileiros. Assim, a identidade cultural não está sendo
entendida como uma questão que diz respeito apenas ao indivíduo, mas se refere a grupos sociais.
Ainda conforme Cuche, “Todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição
social, definição que permite situá-lo no conjunto social. A identidade social é ao mesmo tempo
inclusão e exclusão: ela identifica o grupo (são membros do grupo que são idênticos sob um certo
ponto de vista). Nessa perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de
categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural.
A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um
sistema social, isto é, esta está vinculada a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma
classe social, a uma classe cultural, a uma nação. A mesma permite que o indivíduo localize-se em
um sistema social e que este seja localizado socialmente. No entanto, devemos considerar que a
identidade é construída a partir da própria sociedade, sendo esta caracterizada pela multiplicação
das referências, emergindo de uma pluralidade de movimentos que procuram salientar questões e
lutas em prol das minorias étnicas, regionais e religiosas.
A identidade cultural tem o poder de caracterizar as pessoas pelo modo de agir, de falar, isto
é, como se as “rotulasse” a partir dos modos específicos de sua cultura. Esta última, no entanto, é
considerada como fruto da miscigenação de diferentes povos que introduziram seus hábitos e
costumes, com o contato de uma cultura e outra, pode gerar uma cultura ainda mais diferente [...]
Nestor Garcia Canclini (antropólogo argentino contemporâneo) destaca em suas pesquisas e
escritos a preocupação em analisar as variadas situações onde mostra que a cultura e as
identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado, entretanto ele assinala
o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e
a construção das identidades. O autor conceituou ainda a cultura como um processo em
que
constante transformação, diferenciando-se da tradicional visão patrimonialista, adotando uma
postura de mobilidade e ação. A identidade, no entanto, pode ser entendida como a compreensão
que uma pessoa tem de si mesma como simultaneamente sendo um indivíduo e um membro de um
grupo social; as pessoas têm variedades de “eus” sociais, ou identidades de grupos, porque estes
possuem uma variedade de papéis sociais na vida; essa colocação faz com que a questão da
identidade seja incluída no estudo dos grupos sociais e seus relacionamentos, etnicidades e
etnocentrismo, e ainda no conflito intergrupal e intercultural.
(Fonte:
http://www.mundoeducação.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm.
organizadoras).
Grifos
das
“o jeitinho brasileiro”? É claro que essa frase nos
conotação de contravenção, à falta de ética, ou, o que é pior,
E, falando em cultura, o que dizer da frase
remete, atualmente, a uma
remete-nos à “cultura da corrupção brasileira” instaurada em todos os setores, níveis e camadas
sociais. No entanto, o texto a seguir é uma proposta à reflexão e análise da
construção da
ética na cultura.
TEXTO 2
A importância de se construir uma cultura ética
Bo Mathiasen
As cenas que vemos na televisão, mostrando empresários, políticos e funcionários públicos
envolvidos em casos de corrupção, provocam sentimentos de indignação. De fato, esses episódios
minam a confiança da população na justiça e nas instituições do país.
A corrupção é um fenômeno inerente a qualquer sociedade moderna e até hoje não se conhece
país que esteja totalmente livre dela. Em maior ou menor grau, trata-se da apropriação criminosa
de recursos públicos que deveriam ser usados na melhoria das condições de vida das pessoas.
O Banco Mundial estima que, nos países onde os índices de corrupção são mais elevados, entre
25% e 30% do PIB é desperdiçado. Já em países onde a corrupção encontra-se sob controle,
esses índices não ultrapassam 3%. Aí reside a grande diferença. Como em relação a qualquer
outro tipo de crime, alguns países têm sido mais eficazes no controle da corrupção do que outros.
Medir a corrupção de maneira precisa é uma tarefa complexa. Os dados mais divulgados são
rankings que indicam a percepção que os cidadãos têm da corrupção. Este é o caso da ONG
Transparência Internacional, que posiciona o Brasil em 69º lugar em um universo de 178 países
pesquisados.
Apesar de serem importantes para estimular o debate público sobre a corrupção, os rankings de
percepção são influenciados por eventos críticos em um determinado momento da história de um
país. Nesse sentido, a maior transparência de práticas e eventos de corrupção, alcançada por meio
de ações policiais de grande visibilidade midiática, tem um duplo caráter. Por um lado, pode dar a
sensação de que a corrupção está crescendo. Por outro, o aprimoramento das ferramentas de
transparência e de controle naturalmente confere visibilidade a situações antes escondidas e, por
isso, desconhecidas.
Talvez a grande diferença entre o passado e o presente é que hoje sabemos muito mais sobre o
que ocorre nos bastidores da vida política. A visibilidade desses fenômenos já é um avanço, pois
impulsiona setores da sociedade civil a cobrarem mais dos governantes.
De qualquer modo, quando a corrupção prevalece numa sociedade, se estabelece uma situação
crítica na qual os países e seus governos não conseguem alcançar o desenvolvimento e enfrentam
problemas para oferecer serviços básicos como saúde, educação, infraestrutura, entre outros
desafios para a construção de uma sociedade igualitária, transparente e democrática.
Em todo o mundo, é preciso combinar ações de prevenção e de repressão à corrupção. Os
corruptos, independente da área que forem, não podem sentir que há um ambiente favorável à
impunidade e, por outro lado, deve-se desenvolver nas pessoas uma
cultura ética de
intolerância à corrupção. É preciso acabar com a impunidade, tratando o corrupto como um
criminoso comum, que se apropriou de bens públicos.
Exigir e adotar uma postura ética, no entanto, não deve se restringir apenas ao âmbito político ou
É preciso que toda pessoa assuma essa postura no dia-a-dia e
procure agir de maneira ética nas situações que pareçam menos relevantes.
empresarial.
O movimento popular pela Lei "Ficha Limpa" no Brasil é um exemplo claro do papel decisivo que a
sociedade pode ter no controle da corrupção. Com quase 2 milhões de assinaturas, o movimento
conseguiu encaminhar e apressar a votação do projeto de lei que impediu que candidatos que já
haviam sido condenados judicialmente em 2ª instância concorressem a cargos no Senado e na
Câmara dos Deputados. O movimento é, pois, um exemplo da força que o exercício da cidadania
pode ter no controle dos Poderes, e em que o cidadão chama para si a responsabilidade de
combater a corrupção.
É nesse sentido que o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançou a
campanha global "Corrupção: Cada Não Conta". Se todos percebermos a importância de dizer
O Dia
Internacional contra a Corrupção, celebrado anualmente em 9 de dezembro, é
uma oportunidade para refletir sobre o assunto e reafirmar o compromisso de
acabar com a cultura da corrupção e criar uma cultura de ética e integridade
em todos os setores da sociedade.
"não" a pequenos atos de corrupção, seremos capazes de mudar a sociedade.
Bo Mathiasen, dinamarquês, é o representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crimes (UNODC) para o Brasil e o Cone Sul. É mestre em Ciência Política e Economia pela
Universidade de Copenhague e especialista em Desenvolvimento Econômico pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.
(Fonte:
http://www.unodc.org/southerncone/pt/imprensa/artigos/2010/09-12-a-importancia-de-seconstruir-uma-cultura-etica.html. Grifos das organizadoras.)
Não há como falar de ética e cultura sem falarmos da cultura afrodescendente, de suas
influências, parte de sua trajetória, suas lutas e suas conquistas. Na sequência, abordaremos esse
assunto sob diferentes perspectivas, com o objetivo de que as informações agreguem
conhecimento e, também, (trans) formação de conceitos ou paradigmas.
TEXTO 3
Segregação Racial
Martin Luther King lutava contra a segregação racial
Claramente, a palavra segregação não deixa dúvida quanto ao seu significado mais geral, quando
pesquisamos no dicionário: separação; divisão a fim de evitar contato; isolamento. Ao trazermos
essa palavra para uma discussão de cunho sociológico, é inevitável pensarmos nos
desdobramentos negativos para a vida social, principalmente do ponto de vista das hostilidades e
conflitos sociais gerados pela segregação em si. Podemos observar vários tipos de segregação ao
longo da história, os quais foram (e ainda são em alguns casos) motivados pelos mais variados
fatores.
Segundo Ely Chinoy, embora sejam muitas as circunstâncias que possam influenciar na estrutura
das relações entre indivíduos de grupos raciais e étnicos diferentes, pelo menos três merecem
destaque. O primeiro diz respeito ao tamanho e ao número dos grupos, o que é fundamental para
pensarmos em minorias ou maiorias; o segundo ponto diz respeito às diferenças entre esses
indivíduos no aspecto físico e também cultural; finalmente, o terceiro aspecto diz respeito à disputa
por recursos e por melhores condições de sobrevivência entre tais grupos, sendo que as maiorias
almejam, dentro da estrutura social, submeterem as minorias, para delas tirarem vantagem.
Se considerarmos o segundo aspecto apontado por Chinoy, nele se enquadra a segregação racial,
a qual diz respeito às diferenças físicas e, até certo ponto, também culturais. Obviamente, os
demais fatores como ser uma minoria e estar em constante competição por recursos também
devem ser considerados. A segregação racial está embasada na intolerância gerada, muitas vezes,
por uma visão etnocêntrica de uma maioria em detrimento de uma minoria em um mesmo território.
O etnocentrismo vilipendia as formas de organização que se diferem daquela que se tem por
referência, gerando os mais diversos preconceitos. Assim, a construção pelo senso comum de
alguns estereótipos, isto é, da rotulação de determinados grupos, é, em certa medida, um meio no
qual o preconceito consegue se sedimentar.
A segregação racial não é um fenômeno social novo, estando presente já dentre as primeiras
civilizações, as quais lançavam mão de organizações sociais regidas por castas. Porém, em
sociedades como a Índia esse tipo de estratificação social ainda é uma realidade. No século XX, o
mundo assistiu um dos maiores genocídios já vistos, fruto da segregação racial e do preconceito
oriundos do regime nazista de Hitler, o qual foi responsável pela morte de milhões de judeus em
campos de extermínio. Para além da Ásia e Europa, podemos pensar em um exemplo do
continente africano. Embora a segregação nesse continente tenha origem no processo de
colonização, na África do Sul, ao longo de décadas, prevaleceu o chamado regime de Apartheid,
através do qual a segregação racial entre brancos (europeus) e negros (africanos) encontrava
amparo até mesmo na lei. Uma fatia expressiva da população africana de cor negra era excluída
de vários direitos civis, sociais e políticos, ou seja, alienados de sua cidadania. Porém, a
transformação dessa realidade (que perdurou ao longo de boa parte do século XX) se daria mais
tarde pela luta política de Nelson Mandela. Da mesma forma, é válido citar outros conflitos, mesmo
que gerados menos por questões de raça do que por diferenças étnicas, como os que ocorrem
entre palestinos e judeus, as lutas pela emancipação do povo basco no continente europeu, a luta
entre católicos e protestantes na Irlanda, o preconceito de franceses contra imigrantes, além, é
claro, daquele cultivado por norte-americanos em relação a latinos, árabes e imigrantes em geral.
Ainda sobre a segregação racial, é fundamental discorrer sobre a forma como os Estados Unidos
lidaram e ainda lidam com o preconceito contra o negro. Para que pudessem ter um presidente
afro-descendente, muitas lutas foram necessárias, como a de Martin Luther King, do próprio
movimento contracultural, do grupo político dos “panteras negras”, entre outros. Ainda assim, o
preconceito e a segregação, em maior ou menor grau, persistem naquela sociedade.
Se tomarmos o Brasil como exemplo, a segregação racial contra negros e índios promovida por
brancos desde os tempos de colônia foi decisiva na formação da sociedade brasileira. O mito das
três raças como explicação do nascimento do homem brasileiro não foi suficiente para acabar com
o racismo, o qual agora existe de maneira velada, escondido atrás de uma falsa democracia racial
como já apontava Florestan Fernandes. Contudo, vale a pena observar que, embora o racismo não
esteja extinto e ainda existam desigualdades sociais alarmantes, não existe uma segregação racial,
étnica ou religiosa tão destacada na sociedade brasileira como a que se viu nos exemplos citados
anteriormente, ao redor do mundo. Obviamente, não podemos desconsiderar os recentes ataques
pela internet aos nordestinos (tema do enredo de uma escola de samba em 2011), as agressões a
jovens homossexuais, e este preconceito racial velado, todos indícios da existência de grupos
intolerantes e preconceituosos contra minorias (isso sem falar do preconceito contra as mulheres).
Porém, daí a comparar a sociedade brasileira com a África do Sul do Apartheid não seria coerente
com a realidade nacional.
Para termos uma ideia da importância dessa temática, bem como do aceno positivo do Brasil para
lutar contra qualquer tipo de segregação, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo
brasileiro criaram um site específico sobre gênero, raça e etnia em março de 2011. O site do
PNUD, o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia foi feito em
parceria com outros órgãos vinculados à ONU, como a OIT e UNICEF, tendo como objetivo
defender e propagar a incorporação da equidade de gênero e de cor/raça na gestão pública.
Obviamente, esse assunto é mais complexo do que pode parecer, principalmente quando traz em
sua esteira outras questões como a construção de uma identidade nacional e a ideia de
pertencimento à nação, apenas para citar alguns exemplos.
Por isso, a promoção de fóruns de discussão por toda a sociedade, para além das escolas e
universidades, é uma importante ferramenta na compreensão e formulação de alternativas mais
justas e tolerantes para que possamos conviver com a diferença em um mundo que se diz “global”.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
(Fonte: http://www.brasilescola.com/sociologia/segregacao-racial.htm)
TEXTO 4
Santos, Ana Katia Alves; Infância afrodescendente: epistemologia crítica no ensino fundamental. Salvador:
Editora EDUFBA, 2006.
Quais as formas de abordar a África como ponto de origem de determinadas manifestações
religiosas e culturais no Brasil? A partir dessa indagação, iniciarei esta análise do livro Infância
afrodescendente: epistemologia crítica no ensino fundamental, resultado da dissertação de
mestrado defendida por Ana Katia Alves dos Santos em 2005 no Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFBA.
Infância afrodescendente valoriza uma virada epistemológica na relação dos professores com a
experiência dos alunos. No prefácio de Dante Augusto Galeffi, é apresentado o cerne do debate,
voltado para intervenção na esfera pública, da importância da "compreensão e valorização do
aprendizado multifacetado em detrimento da razão instrumental e monológica". Essa virada
epistemológica pretende reduzir a distância entre o cotidiano dos alunos e os conteúdos
apresentados em sala de aula pelos educadores.
Além da introdução e da conclusão, o livro é dividido em três capítulos. O primeiro, intitulado "O
que é isto – a infância?", é voltado para discutir as concepções naturais sobre a infância, assim
como para apresentar a proposta de Philippe Ariès acerca da historicidade do tratamento
dispensado pelos adultos em relação às crianças, ou seja, a infância como construção social. O
segundo capítulo, "Epistemologia, educação e infância afrodescendente no horizonte da
contemporaneidade", trata das alternativas à hegemonia da cognição como capacidade mais
valorizada no sistema de ensino. A autora discute a relevância de outras vias de produção de
conhecimento baseadas na experiência dos alunos, valorizando assim aspectos étnicos, políticos,
econômicos e sociais presentes no cotidiano dos alunos.
Em "História e cientificidade do ensino fundamental: há lugar para a diferença na escola que
fazemos?", terceiro capítulo do livro Infância afrodescendente, a autora apresenta em maior grau o
aspecto militante de seu trabalho. Sua análise, baseada na defesa da inserção da experiência dos
sujeitos que ensinam e aprendem no âmbito escolar, critica o "processo perverso e excludente" da
educação brasileira. A visão europeia e elitizada surge no discurso da autora como barreira à
defesa da cultura afrodescendente na Bahia. Dessa forma, a preponderância desse método de
ensino promoveu a exclusão da cultura local desde o século XVI no Brasil, devido à presença dos
jesuítas na condição de promotores de fundamentos pedagógicos.
Devido ao último aspecto destacado acima, considero necessário situar dois pontos negativos do
livro: a apresentação dos métodos de pesquisa e o impreciso olhar historicizante sobre os
processos de transmissão de conhecimento. O primeiro ponto refere-se à supervalorização do
debate sobre a separação sujeito/objeto, influenciada pelas proposições de Heidegger sobre
experiência autêntica, a qual deve ser considerada antes de ser transformada em abstração. A
apresentação excessivamente longa dos pressupostos heideggerianos em detrimento da análise
dos caminhos metodológicos escolhidos durante a pesquisa torna o livro mais semelhante a um
ensaio do que a um trabalho acadêmico produzido para comprovação de hipóteses.
O segundo ponto diz respeito a um problema encontrado em todo o livro, sobretudo nos capítulos
voltados para a discussão da situação de exclusão de elementos da cultura afro-brasileira no
ensino fundamental baiano. As generalizações sobre a condição do Brasil no "modelo
agrário/exportador, dependente e servil da Europa" não permitem ao leitor identificar os processos
de consolidação dos elementos de "fortalecimento do império da cultura moderno-colonialista/
branco-ocidental", os quais levariam ao ajustamento das crianças afrodescendentes ao universo da
racionalidade branco-ocidental. Além de apresentar a cultura moderno-capitalista como algo
homogêneo, um bloco monolítico, outro equívoco é a ausência de uma reflexão sobre os processos
que resultaram na predominância de uma perspectiva que não valoriza o cotidiano das crianças
afrodescendentes.
Baseado nas propostas teóricas de Paulo Freire, o livro em sua parte final evidencia a defesa da
escola solidária. Esse modelo de escola prioriza a importância da inserção da criança a um
contexto, diferentemente da escola que "conserva a racionalidade moderna, de fundamentos
epistemológicos metafísicos, branco-ocidental." A escola solidária está interessada na realidade
dos educandos e seus fundamentos são dialogicidade, alteridade, acolhimento, diferença,
diversidade, abertura e curiosidade.
Em sua defesa da escola plural, a autora aborda a reelaboração da identidade a partir da tradição
mantida na vida em comunidade pela transmissão entre gerações de dança, cantos e mitos. As
crianças reelaboram a cultura de matriz africana, principalmente, nos terreiros de Candomblé. A
autora, contudo, não apresenta ao leitor as formas pelas quais ocorre essa reinvenção da
"tradição". No candomblé, a narração mítica sobre a construção de ser humano está centrada na
figura dos orixás. O Anexo A, intitulado "mitologia afro-brasileira", apresenta a teogonia do
candomblé, possibilitando assim que sejam identificadas as características dos orixás
apresentados no decorrer do livro.
No terceiro capítulo, é apresentada a transcrição da conversa realizada dentro de uma das escolas
analisadas com os filhos de santo João Roque, uma criança de 10 anos, e sua mãe. A
pesquisadora ao comentar uma das respostas dos seus entrevistados indica que o culto aos orixás
"vem de uma tradição africana que é nossa, mas que a maioria das pessoas prefere negar." João
Roque, em outro momento da entrevista, afirma que "às vezes a professora fala da África, mas não
toca no Candomblé".
Em seu posicionamento contra a "negação da afrodescendência", a qual promoveria apagamento
étnico no ensino, a autora entende as práticas religiosas do candomblé como elemento africano
autêntico presente no cotidiano de afro-brasileiros. Salvador, terminal do tráfico de escravos, seria
uma síntese da resistência e as religiões afro-brasileiras constituiriam um lugar de memória dos
descendentes que sofreram "trágica aventura" durante a diáspora.
Apesar de mencionar as denominações dos grupos que foram forjadas no tráfego de escravos
como Minas, Jejes, Nagôs, Tapas, Hauças, Calabar e Galinhas, a autora aponta a existência de
uma matriz africana comum, capaz de estimular a elaboração de uma identidade afro-brasileira,
mas não historiciza o processo de sua criação. Por tratar de uma questão complexa – as relações
entre docentes e discentes na abordagem em sala de aula da cultura afro-brasileira –, o livro
deveria problematizar a criação dessa identidade.
TEXTO 5
Afro-retratos: manifestações livres sobre qualquer assunto
Conheci a Renata Felinto em 2004, no Museu Afro Brasil,
onde ela integrava a equipe de monitores educacionais
e, entre outras atividades, revelava para os visitantes o
que havia de história e de informação em cada uma das
obras de arte expostas.
Desde então a reencontrei em diversas situações e
sempre notei as suas transformações. A jovem monitora
é, hoje, uma artista plástica talentosa, e que sabe
exatamente qual o tratamento e o espaço social que ela
quer dar ao seu trabalho.
Por isso, não foi surpresa constatar a qualidade dos seus Afros Retratos , um conjunto de doze
pinturas constituídas a partir da observação e da pesquisa de imagens de diversos grupos étnicos:
do território de Angola, asiáticas, americanas, e europeias.
Segundo Alexandre Araujo Bispo, curador da exposição, "Renata Felinto atualiza por meio de uma
espetacularização cromática a potência do rosto feminino de fenótipo afro, manipulando um
imaginário social que tende a reduzir as culturas africanas e afro-brasileiras à alegria barrococarnavalesca. Mas, para além da beleza plástica de suas atraentes figuras o que se investiga são
as possibilidades de muitas mulheres em uma só".
Vale muito a pena visitar a mostra e ver, de perto, o talento dessa mulher guerreira, que sabe muito
bem quais caminhos quer percorrer, e os espaços que ela ocupará, cada vez mais, neste mundo.
Axé! Por aqui, fico. Até a próxima.
(Fonte: Afro Retratos, de Renata Felinto, trabalho vencedor do 2º Prêmio Nacional de Expressões
Culturais Afro-Brasileira, categoria Artes Visuais, edição 2011)
TEXTO 6
Racismo: país entra numa nova fase
Não há, no mundo, país sem racismo. É provável que este tipo
de crime, infelizmente, nunca desapareça, como nunca deixará
de haver homicídios, roubos etc. Mas a impunidade, como em
todos os outros casos, só o alimenta.
O caso abaixo mostra que o país pode estar entrando na quarta
fase da sua relação com o racismo.
Na primeira, o país praticava o racismo institucional - era o
tempo da escravidão e de décadas posteriores; na segunda, a
partir dos anos 30, o país quis acreditar na democracia racial e
afastava toda e qualquer possibilidade de discussão sobre o
tema. Era um modo de perpetuar o "racismo cordial" - mas que,
ao fundo, redundava em sofrimento e dor das víitimas.
Há alguns setores da sociedade que ainda acreditam nisso, mas vão se tornando minoria.
Na terceira fase, o racismo passa a ser discutido, até publicamente, mas sempre acompanhado de
ressalvas e atenuantes a favor dos que praticavam e praticam atos de discriminação. Essa fase
ainda perdura e, possivelmente, perdurará por muitos anos.
Na última década, no entanto, passamos a testemunhar algumas medidas corretivas.
Como sempre deixamos claro, não é a judicialização ou criminalização da sociedade que
apoiamos, mas o cumprimento de uma lei, dentro dos princípios de um Estado de Direito: com
oportunidade de defesa, julgamento racional e, punição, se ficar comprovado o dolo.
A matéria abaixo é muito exemplar: durante oito anos, a empresa faz vistas grossas para o que
acontecia, sem se preocupar em advertir ou mesmo punir os praticantes. Pelo contrário: demite o
reclamante.
Ao julgar a ação, em primeira instância, um juiz "naturaliza" a prática. Na instância superior, tomase a decisão acertada.
FOLHA DE S.PAULO Funcionário recebe R$ 20 mil de indenização por racismo durante 8 anos
Após sofrer oito anos de humilhação por racismo, um funcionário da fabricante de peças
automotivas Santa Rita Indústria de Auto Peças, de Blumenau (SC), venceu processo que lhe
garantiu uma indenização de R$ 20 mil por danos morais.
A decisão é da 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, que manteve a condenação imposta
pelo TRT-SC (Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região).
Segundo o TST, o trabalhador --um operador de máquinas hoje desligado da empresa-- alegou que
sofreu "um grande desrespeito" por mais de oito anos, entre piadas constantes, discriminação,
brincadeiras e apelidos por parte de colegas e de seu superior direto.
Durante inspeção na empresa, o Ministério do Trabalho e Emprego chegou a encontrar, em portas
e peças do banheiro, inscrições depreciativas com relação a negros.
O juiz de primeira instância havia negado o pedido de indenização, entendendo que não houve
prática de racismo ou discriminação. "Os apelidos, mormente em um ambiente de operários, é
perfeitamente aceitável e corriqueiro", disse na sentença.
O TRT-SC, entretanto derrubou a decisão da 1ª Vara do Trabalho de Blumenau, afirmando que ela
está "na contramão da história" ao considerar normal e tolerável "o que não pode ser admitido em
nenhuma hipótese".
"A leveza ou até o hábito pode afetar o balizamento da condenação, mas não excluir a ilicitude da
conduta", afirmou o TRT. O tribunal catarinense avaliou que foi comprovado, de forma irrefutável,
prática discriminatória acintosa com o trabalhador, e que nem mesmo a discriminação de caráter
velado ou generalizado pode ser tolerada.
"Cabe ao empregador, no uso de seus poderes diretivo, hierárquico e disciplinador, impedir que a
dignidade humana dos trabalhadores seja arranhada", defendeu o TRT.
'MULHER NEGRA'
O TRT ainda considerou prova de "demonstração cabal" de discriminação racial os documentos
usados pela empresa em sua própria defesa --segundo ela, o gerente acusado de fazer as ofensas
era casado com uma mulher negra, e por isso não teria porque demonstrar racismo.
A mulher, no entanto, não era negra, e sim descendente de italianos.
"É fato conhecido no Sul do Brasil, inclusive em Santa Catarina, que, no passado, os racistas mais
radicais consideram 'negros' todos os que não são 'arianos', inclusive os italianos, colocando como
virtude o fato do trabalhador ser 'filho de colono alemão'", avaliou o juiz em seu texto.
JUSTA CAUSA
Além dos R$ 20 mil por danos morais, o trabalhador ainda receberá mais R$ 5.000 por ter sido
demitido por justa causa após ter aberto a reclação trabalhista, em 2008.
Para a Justiça, a demissão foi uma retaliação pelo ajuizamento da ação.
Para o tribunal regional, a empresa abusou do direito de demissão "da forma mais mesquinha e
reprovável", passando aos empregados a seguinte mensagem: "vou ofendê-lo e destratá-lo o
quanto me aprouver e, se você reclamar, vai ainda perder o emprego".
OUTRO LADO
Procurada pela Folha, a empresa informou que as supostas ofensas ocorriam no ambiente interno
de trabalho, e que não tinha conhecimento delas.
O mesmo vale para as inscrições nos banheiros, que só foram descobertas junto às inspeções da
Procuradoria.
"Eram piadas generalizadas, entre todos, e este funcionário se sentiu particularmente ofendido",
disse o advogado do grupo, Renato Pasquali. "Ficamos sabendo dos problemas apenas quando o
processo teve início, e tomamos as providências para inibi-los."
Entre as ações, a direção repintou os banheiros e informou aos coordenadores que seria dura com
novos casos similares.
A decisão final foi dada pelo TST em março deste ano. A empresa não recorreu e, segundo
Pasquali, a indenização já foi paga.
(Fonte: http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/15044-racismo-pais-entranuma-nova-fase)
TEXTO 7
Albie Sachs e o princípio da diversidade na África do Sul
Albert Louis Sachs, o Albie Sachs, era um conhecido
advogado militante dos direitos civis na África do Sul que
ganhou notoriedade por defender cidadãos negros
durante o apartheid. Ele mantinha ligação com o
Congresso Nacional Africano (ANC), principal grupo de
oposição ao governo segregacionista[1].
Em 1963, Albie foi preso sob o manto da legislação da
época que permitia o encarceramento de prisioneiros
políticos. Confinado numa solitária por 90 dias, foi solto
para, dias depois, ser preso novamente sem qualquer
explicação e mandado mais uma vez para a solitária. Em seguida veio a proibição de escrever,
falar em público e de se encontrar socialmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Albie Sachs deixou a África do Sul e passou 11 anos na Inglaterra, onde concluiu seu doutorado na
Universidade de Sussex, cuja tese deu ensejo à obra Justiça na África do Sul, publicada em 1974.
Os outros 11 anos do exílio estavam sendo cumpridos em Maputo, Moçambique, onde era
professor de Direito na Universidade Eduardo Mondlane e tinha aprendido a falar português.
Dia 7 de abril de 1988, com 53 anos, Albie abria seu carro quando uma bomba, colocada pelas
forças de segurança sul-africanas, explodiu. A explosão matou um transeunte e deixou Sachs
gravemente ferido.
Crivado de estilhaços, com as costelas quebradas, os tímpanos perfurados e o braço direito
completamente comprometido, ele se arrastou pela rua até encontrar ajuda e ir, às pressas, para o
hospital. Os médicos trabalharam por sete horas. As fotos mostram um Albie sobre a cama
hospitalar, com o braço direito decepado, o olho inutilizado e o couro cabeludo queimado, envolto
em faixas, esparadrapos e gazes.
O atentado fez com que ele nascesse novamente: "mudou minha aparência, mas de certa forma
libertou-me. Eu tive que começar a vida mais uma vez, aprender a me colocar acima para ser, para
andar, para trabalhar, para escrever com a mão esquerda e para amarrar meus cadarços usando
somente uma mão", disse Albie[2].
Em 1990, o governo sul-africano reconheceu a existência legal dos grupos de oposição. Ao mesmo
tempo, após 27 anos de prisão, Nelson Mandela estava livre.
Tendo cumprido 24 anos de exílio, Albie Sachs retornou ao seu país. Nelson Mandela tinha obtido
uma vitória acachapante na disputa para a presidência da República e o nomeou para a Comissão
encarregada de redigir uma nova Constituição, acompanhada de uma Declaração de Direitos.
Ambos os documentos inspirados nos ideais de Albie foram aprovados pelo Parlamento. Albie
Sachs foi nomeado um dos 11 integrantes da nova Corte Constitucional da África do Sul. No ato de
posse,
ele
leu
o
preâmbulo
da
Constituição
que
ajudou
a
redigir:
Nós, o povo da África do Sul, reconhecemos as injustiças do nosso passado; honramos aqueles
que sofreram por justiça e liberdade em nossa terra; respeitamos aqueles que trabalharam para
construir e desenvolver o nosso país, e acreditamos que a África do Sul pertence a todos que nela
vivem, unidos na nossa diversidade.
Eis a bandeira pela qual Albie lutaria: o respeito ao princípio da diversidade. Ele ajudou a construir
uma refinada jurisprudência das diferenças no âmbito da Corte Constitucional. Valendo-se da
Constituição e da Declaração de Direitos, consagrou o princípio da diversidade como algo não que
deveria ser 'tolerado', mas celebrado.
Em 6 de outubro de 1997, apreciando os casos S v Lawrence, S v Negal e S v Solberg, Albie
registrou que as liberdades de opinião e de expressão compõem o cenário constitucional sulafricano no binômio abertura e diversidade, que consagram o direito do indivíduo, de forma isolada
ou em comunidade, de ser diferente em suas crenças e comportamentos, sem que sofra a
imposição estatal de sacrificar os direitos ínsitos à cidadania, estendidos a todos os sulafricanos[3].
Em 18 de agosto de 2000, apreciando o caso Christian Education South Africa v Minister of
Education, Albie liderou manifestação validando a proibição constante da Lei das Escolas da África
do Sul de 1996, quanto à aplicação de punições corporais por escolas sul-africanas, autorizadas
pelos pais, em atendimento a princípios religiosos.
Segundo Albie, estava presente o princípio da diversidade sob os prismas do direito da pessoa
humana de se integrar à determinada comunidade religiosa, cultural e linguística e do dever do
Estado de assegurar o exercício desse direito individual e de permitir a tais comunidades que
pratiquem, de forma livre, sua religião, cultura e idioma, mas sem aviltamentos à dignidade das
crianças, abusos físicos e emocionais no ambiente escolar e estímulos a condutas violentas[4].
Em 25 de janeiro de 2002, julgando o caso Prince ν Law Society of the Cape of Good Hope,Albie
ficou vencido ao lado de três colegas reputando inconstitucionais dispositivos da Lei de Drogas e
Tráficos de Drogas, de 1992, e da Lei de Controle de Substâncias Medicinais e Correlatas, de
1965, que vedavam o uso e posse de Cannabis, na prática da religião rastafári, por adeptos desse
credo.
Para ele, a maioria estava desconsiderando o peso da decisão "não só sobre os direitos
fundamentais do recorrente e de sua comunidade religiosa, mas sobre a noção básica de
tolerância e respeito pela diversidade que a nossa Constituição exige de todos em sociedade".
Segundo Sachs, "o teste de tolerância, como previsto pela Carta de Direitos, não consiste em
aceitar o que é familiar e facilmente adaptável, mas em dar espaço razoável para o que é
incomum, estranho ou até mesmo ameaçador"[5].
Em 1º de dezembro de 2005, apreciando o caso Minister of Home Affairs and Another ν Fourie and
Another, Albie liderou maioria declarando a inconstitucionalidade do conceito de matrimônio
oriundo do common law e amparado pela jurisprudência da Corte, uma vez que impedia casais
homoafetivos de desfrutarem do mesmo regime jurídico, direitos e deveres conferidos aos casais
heterossexuais[6].
Segundo registrou, o reconhecimento e aceitação da diferença é particularmente importante na
África do Sul, onde durante séculos tem se usado como fundamento para grupos gozarem de
vantagens ou desvantagens por supostas características biológicas, tais como cor da pele.
Desfrutar da cidadania verdadeiramente, e não somente formalmente, "depende de se reconhecer
e aceitar as pessoas com todas as suas diferenças, uma vez que até Constituição reconhece,
assim, a variabilidade dos seres humanos (genética e sócio-cultural), afirma o direito de ser
diferente, e celebra a diversidade da nação".
Segundo Albie, há uma série de disposições constitucionais que sublinham o valor constitucional
de reconhecer a diversidade e o pluralismo na sociedade sul-africana. Juntos, eles afirmam o
direito das pessoas à autoexpressão sem serem forçados a se subordinarem às normas culturais e
religiosas dos outros, e destacam a importância dos indivíduos e comunidades gozem do "direito
de ser diferente".
Albie afirmou que "a força da nação prevista na Constituição vem de sua capacidade de abraçar
todos os seus membros com dignidade e respeito. Nas palavras do preâmbulo, a África do Sul
pertence a todos que nela vivem, unidos na diversidade".
No contexto da diversidade na unidade, não há um modelo hegemônico de casamento
inexoravelmente e automaticamente aplicável a todos os sul-africanos.
Suas últimas lições indicam o compromisso da Constituição de 1996 de unir e fortalecer a África do
Sul por meio do apreço pela diversidade e pelo pluralismo, assim como pela acomodação, de
maneira justa e razoável, das intensas e profundas diferenças de visões de mundo, estilos de vida
e concepções sobre a natureza humana.
Posteriormente a Corte apreciou a constitucionalidade da conduta de uma escola de ensino médio
que proibiu a utilização de um piercing nasal por uma aluna. A instituição tinha um Código de
Conduta que repreendia o uso desse tipo de adereço. A mãe da aluna, ao fazer sua matrícula,
assinou um termo comprometendo-se a seguir o Código. Trata-se do caso MEC for Education:
Kwazulu-Natal and Others v Pillay, apreciado em 5 de outubro de 2007.
Sunali Pillay era aluna de uma elitizada escola feminina de nível médio da cidade de Durban
(Durban Girls' High School), na África do Sul. Por usar um piercing nasal, foi acusada de violar a
disciplina exposta no Código de Conduta da Escola.
A garota integrava uma comunidade sul-africana originária de imigrações da região sulina da Índia.
Tal comunidade era marcada pela mistura de características religiosas, linguísticas, geográficas,
étnicas e artísticas.
Após a primeira menstruação, as mulheres da comunidade passam a usar um piercing nasal
esquerdo, simbolizando a fertilidade feminina e anunciando a caminhada em direção à vida adulta,
com a liberdade para o casamento.
A aluna não aceitou deixar de usar o adereço na escola. Segundo Sunali, o uso do piercing não era
por moda, mas por razões culturais e religiosas.
A Corte determinou que o corpo diretivo da escola, em conjunto com os alunos, pais e professores,
em tempo razoável, realizasse emendas ao Código de Conduta em vista a providenciar razoáveis
conciliações do código a aspectos religiosos e culturais, além de estabelecer exceções que
possam ser garantidas[7].
Em 2009, o mandato de Albie Sachs expirou e ele teve de deixar a Corte Constitucional. Contudo,
continua escrevendo e falando sobre sua experiência na África do Sul no processo de cura de uma
sociedade dividida.
Albie Sachs ajudou a mudar a história do seu país, tornando-o mais tolerante às diferenças e
estabelecendo respeito ao princípio da diversidade, cuja inspiração vem do preâmbulo da
Constituição de 1996.
[1] Agradeço ao aluno, que se tornou um estimado amigo, Marcelo Zerbini, por ter me apresentado à obra de Albie ao me
dar o livro The Strange Alchemy of Life and Law, de autoria de Albie Sachs, publicado pela Oxford University Press e
ganhador do Prêmio Alan Paton em 2010.
[2] Em: http://www.achievement.org/autodoc/page/sac0bio-1. Acesso: jul/2012.
[3] CCT 38/96, 39/96 e 40/96, §§ 145 e 147. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012.
[4] CCT 4/00, § 52 c/c §§ 32, 38, 42 a 43 e 50 a 51. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso:
jul/2012.
[5] CCT 36/00, §§ 90, a, e 91. Ficaram vencidos, Sandile Ngcobo, Yvonne Mokgoro, Albie Sachs e Mbuyiseli Madlanga.
Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012.
[6] CCT 60/04 e CCT 10/05,§ 162, nº 2, alínea b, c/c §§ 3º, 4º, 118, 120 e 122. Em:
http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012.
[7] CCT 51/06, §§ 11, 50, 58, 60, 85 a 86, 89 a 90 e 106. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm.
Acesso: jul/2012.
Saul Tourinho Leal é advogado, pesquisador-visitante na Universidade Georgetown. Doutorando em Direito
Constitucional na PUC-SP e professor de Direito Constitucional do programa de pós-graduação do UniCeub.
(Fonte:http://www.conjur.com.br/2012-ago-06/saul-tourinho-albie-sachs-principio-diversidade-africasul)
FIQUE POR DENTRO!
http://www.geledes.org.br/patrimonio-cultural/literariocientifico/literatura/15106-negra-sera-tema-no-espacosalao-de-ideias-na-bienal-do-livro
Longa Caminhada até a Liberdade - autobiografia de Nelson
Mandela, inédita no Brasil - começou a ser escrita às
escondidas em 1975, ainda na prisão. O livro mostra o
caminho de Mandela desde o interior rural da África do Sul
até o seu retorno triunfal à liberdade, culminando com sua
vitória na primeira eleição presidencial multirracial da África
do Sul, em 1994.
Longa Caminhada até a Liberdade é a história de uma das
trajetórias mais épicas de nosso tempo. Um testemunho de
coragem e persistência mostrando uma luta de mais de meio
século pela tolerância e contra a segregação racial.
O prefácio desta grande obra fica por conta do sociólogo, cientista político e ex-presidente do
Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
Dependendo da cultura de um povo, a leitura encontra ou não o espaço que lhe é devido. Aliás,
pensar em leitura e cultura é quase como pensar em sinônimos. Porém, a análise que propomos a
partir do texto a seguir não é nenhum tipo de comparação entre os termos. Na verdade,
intencionamos levá-lo a pensar sobre que tipo de influência certos valores predominantes na
cultura produzem em sua vida, no seu dia a dia. Talvez, o artigo abaixo lhe sirva como inspiração
para chegar a algumas conclusões construtivas. Quem sabe você encontre mais motivação para os
estudos... De nossa parte, concluímos e partilhamos a ideia de que em meio aos desafios da vida e
muito mais que certos (des)valores predominantes em nossa cultura, e até mesmo independente
dela, histórias reais testemunham que a iniciativa de cada indivíduo em busca de
conhecimentos a partir da leitura é ainda mais forte e o que mais importa para que, de
fato, novos horizontes se abram, fazendo com que cada indíviduo avance em direção à
realização de seus objetivos.
TEXTO 8
Ercília Stanciany, de 41 anos, estudava com livros achados no lixo
Ela teve o seu primeiro dia no curso de Artes Plásticas na Ufes, em Vitória.
Uma nova jornada começou a ser trilhada pela catadora de materiais recicláveis, Ercília Stanciany,
de 41 anos, nesta segunda-feira (5). Ela teve o seu primeiro dia de aula no curso de Artes Plásticas
da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), após ter sido aprovada estudando com livros que
encontrava no lixo. A catadora disse que viveu um misto de emoções tão grande, que não
conseguiu explicar o que sentiu quando chegou ao campus da Ufes, em Goiabeiras, na capital do
estado, para estudar. Só que em vez de aulas, o primeiro dia foi marcado por confraternização e
muitas brincadeiras.
"É uma emoção inexplicável, parecia que meu coração ia explodir quando cheguei na Ufes.
Realizei meu sonho de infância. Fui para meu primeiro dia de aula e fui pintada pelos meus
veteranos no trote, estou cheia de tinta, teve muitas brincadeiras, mas valeu à pena. Agora preciso
tomar um banho reforçado para tirar essa tinta toda", disse aos risos, Ercília.
Ela conta que mesmo na universidade, vai continuar com os serviços de catadora para auxiliar a
renda mensal da família. "No que eu puder ajudar meu esposo, eu vou ajudar. E tenho que ajudar
porque vou ter que pagar materiais de estudo e o transporte de casa até a Ufes", conta a catadora,
que mora na Serra, Grande Vitória. Mas o marido dela, Everaldo Mozer, de 47 anos, quer que ela
foque nos estudos. "Sempre foi o sonho dela estudar, se formar. Sempre apoiei e agora que ela
conseguiu quero que ela siga em frente com os estudos", afirma.
Reconhecimento na Ufes
Logo que chegou na universidade na manhã desta segunda-feira (5), Ercília disse que foi
reconhecida pelos colegas de sala e por demais estudantes. "Todos me receberam muito bem,
bateram palmas para mim e me cumprimentaram. Não entendi direito, mas todo mundo já me
conhecia por causa da história que saiu na mídia. Eu não quero ser o xodó dos meus colegas de
turma, mas quero fazer parte da história deles, porque eles com certeza vão fazer parte da minha",
diz.
Relação com as artes
Vivendo boa parte da vida como catadora de lixo, Ercília lembra que sempre foi fascinada pelo
mundo das artes. Ela sempre quis ter uma caixa de lápis de cor, mas só teve a primeira aos 19
anos. "Sempre adorei cores, desenhos e artes. Queria ter uma caixa de lápis de cor quando
criança, mas só tive quando ganhei de uma moça, e eu já tinha 19 anos. Sempre quis os lápis, mas
não tive coragem de usar, a caixa está guardada comigo até hoje e vai para o meu museu",
recorda.
Apaixonada por livros, ela agora vai ter que se adaptar a estudar artes também por outro meio, o
computador. "Estou juntando dinheiro para comprar um computador. Sempre estudei pelos livros
achados no lixo, mas na faculdade já me falaram que eu preciso de computador e internet para
muita coisa, então vou ter que dar um jeito, mas vai dar tudo certo. Espero que eu sirva de lição
para muita gente que acha que não tem condições de estudar, sempre há jeito", finaliza.
(Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/03/catadora-de-lixo-vive-primeiro-dia-deaula-na-universidade-federal-do-es.html)
VALE A PENA CONFERIR A REPORTAGEM!
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/03/catadora-delixo-vive-primeiro-dia-de-aula-na-universidade-federal-does.html
Por falar em conhecimento, leitura e livros, confira a seguir o projeto
exposto na Olimpíada Cultural de Londres.
artístico criativo e curioso,
TEXTO 9
Labirinto de livros
Assinado
pelos
artistas
brasileiros Marcos Sabóia e
Gualter Pupo, um labirinto
composto por 250 mil livros,
montado no centro de Londres,
convida os visitantes das
olimpíadas a se aventurar neste
peculiar universo literário, que
conta com paredes de até 2,5
metros de altura.
Batizado como “aMAZEme“, o
projeto faz parte dos 12 mil
eventos
programados
na
chamada Olimpíada Cultural de
Londres. O labirinto, que está
sendo exposto no centro de
arte “Southbank Centre”, ao sul
do rio Tâmisa, ficará aberto ao
público até o dia 26 de agosto.
A inspiração veio das narrações
sobre labirintos do escritor
argentino Jorge Luis Borges, os
artistas brasileiros começaram
a elaborar esta instalação há
dois anos. O labirinto possui
uma forma circular e é
composto por livros de todos os
gêneros, os quais procedem de
doações privadas e que, após o
termino desta exposição, serão
doados
à
ONG
Oxfam
International. As paredes que
formam esse labirinto também
ganham projeções de luzes e
versos de poetas de todas as
épocas, especialmente de William Shakespeare. Dentro da programação do labirinto, diferentes
autores britânicos e internacionais ainda devem comparecer ao local para declamar poemas e
manter conversas com o público. Além de percorrer o labirinto, os visitantes também podem extrair
livros de suas paredes e sentar para lê-los. Projeto bacana né?
(Fonte: http://oblogdastorm.com/2012/08/01/labirinto-de-livros/)
Os textos a seguir colocam em destaque o contexto de agitações e contestações
Semana de Arte Moderna, dois artistas
de suas obras. Por fim, a Arte Contemporânea e
meio das quais a política também é contestada.
políticas da
que marcaram época e algumas
algumas de suas vertentes, por
TEXTO 10
Semana de Arte Moderna
Há 90 anos, o evento foi o marco do modernismo e chacoalhou o panorama cultural brasileiro
Ana Maria Madeira
Um terremoto de 5,1 pontos na
escala Richter atingiu a cidade
de São Paulo em fevereiro de
1922. Dois dias depois, começou
a Semana de Arte Moderna, ou
Semana de 22, que provocou um
abalo
maior,
pois
afetou
profundamente
os
padrões
estéticos da época, inaugurou o
modernismo brasileiro e marcou
fortemente a arte contemporânea
nacional.
A lista de participantes e
apoiadores da Semana de 22 é
repleta de nomes que, agora, são
bem conhecidos: os escritores
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Manuel
Bandeira; os pintores Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; e o músico Heitor VillaLobos, entre outros. O reconhecimento atual desses artistas nos dias de hoje mostra a enorme
importância que o movimento teve, determinando o desenvolvimento da literatura e da arte no
Brasil no decorrer de todo o século XX.
Por mais que as manifestações inovadoras dos artistas do movimento tenham causado estranheza
e até rejeição na época, a mensagem era objetiva: os ideais estéticos do século XIX, ainda muito
presentes na cultura nacional, precisavam ser superados. As vanguardas da Europa criavam
linguagens diferentes das conhecidas por aqui, como o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo e o
futurismo, que espantavam o mundo.
A Semana de 22 ocorreu em meio a um cenário de agitação política – no movimento tenentista,
deflagrado no mesmo ano, jovens oficiais combatiam o modelo autoritário de governo. O Brasil
vivia a República Velha, controlada pelas oligarquias rurais e pela política do café com leite. A
população urbana crescia, e iniciara-se a implantação de indústrias, principalmente em São Paulo
e no Rio de Janeiro. A classe operária começava a exigir melhores condições de trabalho. O novo
homem urbano torna-se objeto de interesse dos artistas.
Antes mesmo da Semana de 22, os modernistas já faziam barulho. Um conflito famoso opôs o
escritor Monteiro Lobato à pintora Anita Malfatti, que realizara em 1917 uma exposição com uma
nova linguagem artística. Os quadros causaram escândalo por suas estranhas formas, e o escritor
fez duras críticas à mostra, dizendo que esse tipo de arte resultava de “paranoia ou mistificação”.
A Semana de 22 sofreu críticas e teve reconhecimento limitado em sua época, como boa parte dos
movimentos de vanguarda. Mas o evento foi um marco na arte e na literatura brasileiras e alcançou
proporções que atravessaram décadas. Com a Semana de 22, os modernistas passaram a
produzir mais, e muitos que se filiavam a outras correntes artísticas foram estimulados a participar
do movimento. Depois, a contestação inicial foi dando lugar a concepções distintas e a diversos
movimentos artísticos.
(Fonte: https://almanaque.abril.com.br/materia/semana-de-arte-moderna1)
TEXTO 11
Anita Malfatti
Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 – São
Paulo, 6 de novembro de 1964), pintora, desenhista, gravadora,
ilustradora e professora. O início de sua instrução artística e cultural
foi iniciada por sua mãe, a americana Betty Malfatti, professora de
pintura e línguas. Por causa de uma atrofia no braço e na mão
direita, Anita transformou-se em canhota, utilizando a mão esquerda
para pintar.
Em São Paulo, estudou no Mackenzie; na Alemanha, estudou na
Academia Real de Belas Artes de Berlim. Em Nova York, teve aulas
de pintura, desenho e gravura com diversos artistas na Arts
Students League of New York, na Independent School of Art e
trabalhava fazendo ilustrações para as revistas Vanity Fair e Vogue.
Passou a ser conhecida após uma de suas exposições
(organizada por Di Cavalcanti), quando o escritor Monteiro
Lobato fez uma crítica destrutiva da artista que quase acabou
com sua fabulosa carreira. Após essa época, alterou sua
temática, produzindo, naturezas-mortas, retratos, paisagens e
cenas populares.
No fim da década de 10,
em São Paulo, estudou
pintura no ateliê do artista
plástico Pedro Alexandrino, onde conheceu Tarsila do
Amaral. Lecionou desenho na Escola Americana, na
Universidade Mackenzie, na Associação Cívica Feminina e
em seu próprio ateliê (este frequentado por inúmeros
artistas). Ganhou pelo Pensionato Artístico do Estado de São
Paulo uma bolsa de estudos em Paris.
Fundou com Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Pichia o
Grupo dos Cinco, em 1922, e participou da Semana de Arte Moderna. Anos mais tarde, integrou na
Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), na Família Artística Paulista (FAP) e participou do Salão
Revolucionário.
Em 1942, foi presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Sua primeira
retrospectiva aconteceu no Museu de Arte de São Paulo, em 1949. Expôs também no 1º Salão
Paulista de Arte Moderna e na 1ª Bienal Internacional de São Paulo.
Após a morte de sua mãe, Anita se afastou do meio artístico por algum tempo, no entanto, quando
regressou oficialmente em uma exposição individual de 1955, a artista apresentou suas obras
produzidas nesse período de reclusão. Seu novo tema, era exclusivamente a arte popular
brasileira, opção esta, considerada por ela e por diversos profissionais sua melhor e mais pura
fase.
TEXTO 12
Di Cavalcanti
Pintor brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1897, que apesar
da influência cubista e mesmo surrealista, foi um dos mais típicos
pintores brasileiros pela temática popular, que inclui o carnaval
carioca, mulatas sensuais, paisagens suburbanas e naturezasmortas com frutas tropicais.
Iniciou sua atividade artística como desenhista (1914) fazendo
ilustrações, charges e caricaturas. Teve seu trabalho publicado
pela primeira vez em uma revista (1914), mas realmente iniciou a
carreira publicando charges políticas na revista Fon-Fon (1916),
no mesmo ano em que expôs no Salão dos Humoristas uma série
de
ilustrações
sobre a Balada
do Cárcere de
Reading,
de
Oscar Wilde. Começou a pintar (1917) sob
influência do art nouveau.
Realizou sua primeira mostra individual (1917),
como desenhista; era então na opinião de Mário
de Andrade, o menestrel dos tons velados, e
utilizava como meio de expressão predileto o
pastel, evocando figuras femininas de angelitude
então em voga.
Transferiu-se (1921) para São Paulo, onde realizou sua primeira exposição de pinturas, com 12
obras nas quais se observa certa persistência de tendências passadas, como o Impressionismo e
o Simbolismo, temperadas com algumas pitadas de Expressionismo, e em seguida participou
com da Semana de Arte Moderna (1922), recebendo críticas à sua mudança na arte da época.
Viajou para Paris (1923), onde se dedicou exclusivamente à pintura e onde sofreu muitas
influências no trabalho.
Voltou (1925) com visíveis influências de
Picasso e Braque e tomado de admiração pela
obra de Ticiano, após passagem pela Itália.
Retornando ao Brasil realizou nova mostra e
uma exposição individual, onde Mário de
Andrade não poupou elogios aos seus
trabalhos e à maneira explendida como mostrou
o Brasil como ele é. Executou os primeiros
painéis modernos do Brasil para o teatro João
Caetano, no Rio (1929), e neles deixou as
marcas de seu estilo: um cubismo atenuado por
curvas
barrocas e motivos populares como o carnaval e o samba.
Voltou a residir em Paris (1935-1940) e, nesse período, pintou
várias obras de temática brasileira, como Scène brésilienne
(Museu Nacional de Arte Moderna, Paris) e Ciganos (Museu
Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro). Na década seguinte
atingiu o apogeu de seu talento e se tornou um dos mais
notáveis pintores brasileiros gerados pelo modernismo.
Juntamente com Alfredo Volpi, ganhou o prêmio de melhor
pintor nacional da II Bienal de São Paulo (1953), arrebatou o
primeiro prêmio da Mostra de Arte Sacra em Trieste (1956) e
conquistou a medalha de ouro
da II Bienal Interamericana do
México
(1960).
Também
executou tapetes, para o palácio
da Alvorada, em Brasília, e
jóias, para a firma Lucien, no
Rio de Janeiro, escreveu dois
livros de memórias: Viagem da
minha
vida
(1955)
e
Reminiscências líricas de um
perfeito carioca (1964) e morreu
na cidade o Rio de Janeiro.
Ainda em vida (1971), o Museu
de Arte Moderna de São Paulo
realizou uma grande retrospectiva
de sua obra. Dentre seus diversos
álbuns, citem-se Páginas de um
álbum de notívago e Realidade
brasileira. Há exemplos de sua
obra pictórica e gráfica nos
principais museus brasileiros,
como o Museu Nacional de BelasArtes e o Museu de Arte de São
Paulo,
e
em
instituições
estrangeiras, como o Museu de
Arte Litúrgica de Roma. Morre
em sua cidade natal, Rio de
Janeiro.
(Fonte:
http://blogdaglaucia.wordpress.com/category/artes/
Auto Retrato com Mulatas em 1976
TEXTO 13
A Arte Contemporânea no Brasil
O Brasil acompanha os movimentos artísticos internacionais com uma menor distância de tempo.
Tal qual no exterior, a Arte Contemporânea começa a mostrar-se a partir da década de 50. Na
década de 60 surge o Tropicalismo e sua contestação à política vigente através da arte; a década
de 70 caracteriza-se pelas noções de conceito e tecnologia a serviço da arte; já na geração 80
produz-se uma arte de caráter festivo e alegre.
Em 20 de outubro de 1951, um acontecimento deu abertura a uma grande movimentação no
campo artístico brasileiro, a realização da primeira Bienal de São Paulo que contou com 1.854
obras representando 23 países. Uma proposta de Ciccillo Matarazzo para a realização de uma
grande mostra internacional inspirada na Bienal de Veneza.
A década marca também o ressurgimento, do Abstracionismo: Geométrico e Informal. O primeiro
propõe a ruptura com a arte figurativa, baseando-se no neoplasticismo de Piet Mondrian. É
adotado em São Paulo pelo Grupo Ruptura, em 1952, e no Rio de Janeiro com o Grupo Frente, em
1954. O segundo, não se organiza em torno de grupos e teorias. Na verdade, seu pressuposto
básico é a liberdade individual de cada artista para a expressão de sua subjetividade. Inspira-se
nas idéias e experiências do pintor Wassily Kandinsky.
O Neo-concretismo foi o movimento das artes plásticas, genuinamente brasileiro, que começa em
1957, no Rio de Janeiro, alguns artistas aliam sensualidade ao Concretismo. Um expoente do
movimento é o artista Hélio Oiticica.
Os anos 60 favoreceram o declínio da abstração e o surgimento de uma produção artística que
capta o consumo e a comunicação de massa, sugeridos pela influência da Arte Pop americana,
além de promover opinião política e a militância por conta da repressão, da censura e pela
referência do Tropicalismo.
A arte da década de 70 afasta-se da política e dos problemas sociais. É caracterizada pela
emblematização da reflexão, da razão, do conceito e tecnologia. A Exposição Internacional de Arte
por Meios Eletrônicos / Arteônica dá abertura à arte tecnológica, realizada com ajuda de
computador. A Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) é criada nesse período dando grande
incentivo à produção artística brasileira.
O momento de transição para a década de 80 foi marcado pela insígnia das diretas já, pela
retomada da pintura e pelas mudanças no panorama artístico, marcado por grandes exposições
como: Tradição e Ruptura, 1984; A Trama do Gosto, 1987 (organizadas pela Bienal de São Paulo);
A Mão Afro-Brasileira, 1988 (organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo).
A arte efêmera também é fruto desse momento utilizando os mais diversificados materiais para
compor o objeto artístico. Para o poeta, ensaísta e crítico de arte, Ferreira Gullar (agosto,2002),
[...] A arte conceitual não propõe nada. Apenas adotou, como fundamento ideológico, o caráter
efêmero que o consumismo impôs à sociedade atual [...] fazer da arte expressão do efêmero é
chover no molhado. Efêmeros somos nós mesmos e quase tudo a nossa volta.
A arte contemporânea brasileira dos anos 90 desenvolve características da arte que está sendo
feita em outros países, como, por exemplo, fazer o público participar, até mesmo interferir na obra
de arte. Atitude apresentada nas diversas feiras internacionais de Artes Plásticas assim como nas
diversas bienais.
No Brasil, Adriana Varejão pinta fachadas de azulejaria portuguesa sangrando como se em carne
viva, criando um potente comentário sobre a história colonial e seus rastros de sofrimento. Ernesto
Neto constrói com náilon, espuma e enchimentos, verdadeiras metáforas de nossos órgãos e
peles.
Em meio a múltiplas possibilidades de usos de materiais, espaços e tempos, a arte contemporânea
não separa a rua e o museu. O coreógrafo Ivaldo Bertazzo mescla tradições étnicas milenares com
o gestual urbano de crianças e jovens de favelas brasileiras. O músico Naná Vasconcelos utiliza
com precisão sons do corpo e voz de milhares de pessoas e afirma que Vila-Lobos é um “genuíno
músico popular, já que consegue fazer ecoar os sons do povo, ainda que de forma sinfônica”.
Dessa forma, pode-se concluir que todos os fatos sociais que envolvem a humanidade, acabam
por refletir na arte. A evolução humana é fator preponderante para o desenvolvimento e até mesmo
para a significação deste termo. Até pouco tempo atrás, estas manifestações artísticas que hoje
são consideradas arte, não o eram. Prova disso são as Bienais de arte que nos surpreendem a
cada nova edição.
Como o exemplo da artista paulista Renata Lucas, que interagiu a sua obra com a arquitetura. Para
a 27ª Bienal de São Paulo, Renata Lucas duplicou uma calçada na R. Brigadeiro Galvão, na Barra
Funda, zona oeste de São Paulo. Em cima da calçada original, ela fez outra. Duplicou também a
linha de postes de iluminação que já existia no local e o conjunto de arbustos e vegetação já
existentes. Diz a artista: “Meus trabalhos partem de uma característica do lugar (forma, material,
aspecto uso) e constroem algo quase igual, porém diferente. É uma realidade se sobrepondo a
outra em camadas de tempo; os eventos se embaralham, tornando-se mais ou menos reais”.
Felizmente, a arte tem essa liberdade, ou melhor, a arte é essa liberdade suprema de manifestação
do que se sente, se pensa e se vive.
(Fonte:
http://proavirtualg19.pbworks.com/w/page/18666840/Arte%20Contempor%C3%A2nea%20no%20B
rasil)
Uma das nossas manifestações culturais que mais nos identifica como brasileiros, sem dúvida, é a
música brasileira
marcada por expressões tais como “o samba no pé”, “o ritmo do crioulo
doido”, “o gingado” e outras. Os textos a seguir
fazem uma retomada das
principais
produções ao longo das décadas até os dias de hoje e, por último, apresentamos um texto sobre
uma manifestação de arte contemporânea que nos faz pensar acerca dos nossos conceitos
de arte, de cultura, de ética, sobretudo, de cidadania e humanidade. Afinal, qual o sentido da
cultura, da arte, da ética sem a valorização, o respeito e a manutenção da vida? Veja você mesmo
e reflita!
TEXTO 14
A Era dos Festivais
A música (“arte das musas”, em grego) é uma manifestação artística presente em todo
agrupamento humano, desde os primórdios da civilização, cumprindo funções de ritual, combate,
de narrar histórias ou como entretenimento.
https://almanaque.abril.com.br/materia/musica
A expressão Música Popular Brasileira, também conhecida pela abreviação MPB, refere-se a todos
os gêneros musicais criados ou cultivados no país no decorrer de sua história, a partir da
musicalidade inerente à cultura dos diferentes componentes de sua população e dos ritmos e
tradições das diversas regiões do Brasil. O samba é, por excelência, a mais forte manifestação
musical popular brasileira, mas também o são o choro, a seresta, a marcha-rancho, o baião, a
música sertaneja e o frevo. Desde a sua origem, a MPB mistura elementos da música folclórica e
incorpora as influências de ritmos estrangeiros. Nestas páginas, abordamos também a evolução da
música clássica no Brasil.
https://almanaque.abril.com.br/materia/musica-brasileira
Um rico universo sonoro forma-se com as contribuições musicais das diversas etnias que
compõem o povo brasileiro. Os colonizadores europeus trazem a tradição das peças eruditas
europeias e um acervo de cantigas populares. Há as influências da música sacra, que chega com
as missões católicas. Os escravos africanos praticam uma música marcada por forte energia
rítmica e percussiva. E os indígenas contribuem com uma sonoridade intimamente ligada às
cerimônias da vida tribal.
https://almanaque.abril.com.br/materia/musica-brasileira-seculos-xvi-e-xvii
A ERA DOS FESTIVAIS (DÉCADA DE 60)
Década de 1960 • a era dos festivais Músicos ligados à bossa nova iniciam um movimento de
revalorização do samba tradicional e da temática dos morros. Nara Leão grava músicas de Cartola
e Nelson Cavaquinho. Em 1962, o Festival de Bossa Nova realizado no Carnegie Hall, em Nova
York, dá projeção internacional ao gênero. Na mesma época, Celly Campello torna-se a primeira
estrela nacional do rock, com os hits Estúpido Cupido e Banho de Lua, que levarão ao movimento
chamado de jovem guarda.
Em 1965, a TV Excelsior realiza o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Em 1966 e 1967
são feitos outros dois pela TV Record, ambos em São Paulo. De 1966 a 1972, a TV Globo realiza o
Festival Internacional da Canção, no Rio. Esses festivais revelam ao público músicos como Edu
Lobo, Chico Buarque, Milton Nascimento e Elis Regina. A Record é palco da estreia do programa
Jovem Guarda, que batiza o estilo. Com uma sonoridade próxima à do rock e letras descontraídas,
a jovem guarda vira sucesso entre os jovens e destaca Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa,
Jerry Adriani, Ronnie Von e Vanusa.
O tropicalismo surge no Festival da Record, em 1967, com os baianos Caetano Veloso
(concorrendo com Alegria, Alegria) e Gilberto Gil (com Domingo no Parque). As guitarras de rock
na apresentação causam rejeição de parte significativa do público. Como a plateia é constituída,
sobretudo, de universitários, e os festivais aparecem como um espaço cultural de resistência ao
regime militar, a guitarra é vista como apoio à cultura vinda dos Estados Unidos. A polêmica se
estende nos meses seguintes com uma contraposição entre o uso de violão e o de guitarra. O
disco-manifesto Tropicalia ou Panis et Circencis (1968), com a presença de Nara Leão, Tom Zé,
Gal Costa, Os Mutantes e do maestro Rogério Duprat, traz referências ao cantor Vicente Celestino,
ao rock e à bossa nova e reafirma a posição do grupo sobre a falsa oposição entre as formas
supostamente “puras” da música brasileira e as influências do pop internacional.
Na música erudita, os principais compositores são Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira, Júlio
Medaglia e Rogério Duprat, os dois últimos com presença importante também na música popular.
A ERA DO RÁDIO
A expansão do rádio leva ao surgimento dos primeiros ídolos populares. São vários compositores e
intérpretes que despontam nesse período: Sinhô, o rei do samba; Ismael Silva, que dá forma
definitiva ao gênero; Ary Barroso, autor de Aquarela do Brasil; Lamartine Babo, criador de marchas
carnavalescas, como O Teu Cabelo Não Nega; Lupicínio Rodrigues, o compositor das grandes
dores de amor; e ainda Jacob do Bandolim e Dorival Caymmi. Desse período, destaca-se o
compositor Noel Rosa, de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, que traz maior complexidade para a
música popular. Sua cantora preferida é Aracy de Almeida. Noel recria o cotidiano de maneira
precisa e densa. No samba, sobressaem, também, os trabalhos de Heitor dos Prazeres, Ataulfo
Alves, Cartola, Cyro Monteiro e Geraldo Pereira. Os grandes nomes do rádio são os intérpretes
Carmen Miranda, Francisco Alves e Mário Reis.
Na música clássica, destaca-se a apropriação de temas nacionais por compositores como Brasílio
Itiberê e Luciano Gallet. Na Semana de Arte Moderna de 1922, Heitor Villa-Lobos aponta um novo
rumo para a música nacional, trazendo elementos folclóricos e sonoridades diversas. Sua estética
inspira compositores como Francisco Mignone, Camargo Guarnieri e Radamés Gnattali. Radicado
no Brasil, o alemão Hans-Joachim Koellreutter lança, em 1939, o Movimento Música Viva, em que
defende uma estética internacionalista, ligada ao dodecafonismo.
SAMBA (1900 – 1920)
VELHA-GUARDA - João da Baiana, Pixinguinha e Donga: pais do samba em entrevista em 1970
Crédito: ANTONIO ANDRADE
O aparecimento da gravação mecânica possibilita a veiculação do trabalho de vários compositores
que criam sobre ritmos e temas populares. Um exemplo é o poeta e músico Catulo da Paixão
Cearense, autor de Luar do Sertão, compositor ligado às raízes sertanejas. Também são
estabelecidas as condições para a origem do samba. De um lado, os negros pobres – recémlibertos, moradores de cortiços no Rio de Janeiro – continuam exercitando seus batuques e rodas
de capoeira. De outro, ocorrem os pagodes nas festas das casas das “tias” baianas (a mais famosa
é a Tia Ciata), depois dos ritos de devoção aos orixás. O Carnaval ganha importância e incorpora
os blocos dos negros, com suas batucadas, e os ranchos organizados pelos mestiços, que se
agrupam em corporações nas quais se desenvolve a marcha-rancho.
Em 1917, Donga registra o samba Pelo Telefone, que marca o começo da profissionalização na
música popular e o nascimento oficial do samba. É do mesmo ano a primeira gravação de
Pixinguinha, que se tornará um dos mais importantes compositores nacionais. Ele instaura as
bases da música popular, particularmente do choro, e dá início a uma linguagem orquestral
brasileira. Outros nomes ligados à criação e ao amadurecimento do samba são Caninha e João da
Baiana.
Na música erudita, Leopoldo Miguez, seguidor da escola wagneriana, e Henrique Oswald,
influenciado pelo impressionismo musical de Debussy, são os destaques no início do século XX.
Nesse período, Alberto Nepomuceno, ao empregar elementos do folclore em suas composições,
antecipa a busca de um estilo brasileiro perseguido por Heitor Villa-Lobos na primeira metade do
século XX.
A MÚSICA DE RAIZ (DÉCADA DE 1940)
O rádio torna-se um importante veículo de difusão da música sertaneja de raiz, que, no decorrer
da história, revela talentos como as duplas Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana, Pena Branca e
Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Milionário & José Rico, além de nomes como Teixeirinha,
Inezita Barroso e Sérgio Reis.
Em 1946 é lançado Baião, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que marca o aparecimento de
um estilo com sólidas raízes no folclore rural nordestino. Uma série de canções, como Asa Branca
e Assum Preto, consolida o sucesso de Luiz Gonzaga. Brasileirinho (1947), de Waldir Azevedo,
torna-se o maior sucesso da história do choro, sendo gravado por Carmen Miranda e, mais tarde,
por músicos de todo o mundo. Destacam-se, ainda, Canhoto e Seu Regional (do qual participa o
flautista Altamiro Carrilho), Nelson Cavaquinho, Zequinha de Abreu (autor de Tico-Tico no Fubá),
Moreira da Silva e Adoniran Barbosa, autor de Trem das Onze.
Na música erudita, Claudio Santoro, Guerra-Peixe, Eunice Catunda e Edino Krieger – discípulos de
Hans-Joachim Koellreutter – buscam resgatar elementos nacionais nas composições. Guerra-Peixe
e Santoro usam recursos da sonoridade regional, o que influencia a música popular instrumental.
Outros nomes de destaque são Marlos Nobre e Almeida Prado.
Choro animado (1850-1900)
Desponta no Rio de Janeiro uma geração de compositores com obras criadas para o teatro de
revista, sob a influência dos gêneros europeus de dança de salão, da modinha e do lundu.
Trabalham com o choro – termo que, na época, designa grupos instrumentais populares que tocam
à base de improvisação. Em 1899, Chiquinha Gonzaga compõe Ô Abre Alas, a primeira marcha
carnavalesca. Com dezenas de peças teatrais e mais de 2 mil partituras, ela ajuda a consolidar a
música popular brasileira. Outros nomes de destaque, como compositores de choro, foram Joaquim
Antônio da Silva Callado e Ernesto Nazareth.
BAIÃO E BOSSA NOVA (DÉCADA DE 50)
BOSSA NOVA - Miúcha, João Gilberto e Chico Buarque: renovação nos ritmos e na harmonia
O prestígio de Luiz Gonzaga abre caminho para que outros aprofundem o movimento de agregar
ao sul a rica musicalidade do Nordeste. O baião, o coco e o xaxado são ritmos trazidos por
artistas como Jackson do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho.
Enquanto, de um lado, firma-se o baião, de outro, aparece o samba-canção. Esse samba mais
lento, suave e com orquestração elaborada logo se torna um modismo. Sua temática gira em torno
de grandes decepções amorosas. Antonio Maria, Dolores Duran, Marlene, Emilinha Borba, Dalva
de Oliveira, Angela Maria e Cauby Peixoto, entre outros, consolidam seu sucesso nessa época,
marcada pelo apogeu do rádio.
A suavização rítmica e as harmonias mais sofisticadas, introduzidas no samba pelo samba-canção,
contribuem para o aparecimento da bossa nova. Nesse período, o jazz norte-americano já
influencia intérpretes como Dick Farney, Lúcio Alves e Johnny Alf, este também compositor. Um
dos marcos desse movimento é o disco Canção do Amor Demais, de Elizete Cardoso. Nele atuam,
em especial na faixa Chega de Saudade, os três personagens mais importantes da bossa nova:
Tom Jobim (o autor da música), o poeta Vinicius de Moraes e João Gilberto, que cria um estilo
muito pessoal de acompanhamento ao violão. Pouco depois dessa gravação, João Gilberto gravou
seu primeiro disco, Chega de Saudade. A faixa-título foi sucesso no Brasil, lançando a carreira de
João Gilberto e, por consequência, todo o movimento da bossa nova. Outros destaques do
movimento são Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli.
NOVOS NOMES (2000 – 2010)
Maria Rita, filha de Elis Regina, destaca-se com seu primeiro disco. Bebel Gilberto, também filha de
cantores (João Gilberto e Miúcha), consolida seu nome no Brasil e no exterior. O predomínio das
vozes femininas na MPB é confirmada pelo surgimento de artistas como Ana Cañas, Ceumar,
Fernanda Cunha, Céu, Mariana Aydar, Bruna Caram, Maria Gadú e Vanessa da Mata.
DIVERSIDADE MUSICAL (DÉCADA DE 70)
O espaço aberto pelos festivais na TV e a disseminação dos televisores e de emissoras de rádio de
alta frequência (AM) e de frequência modulada (FM) abrem espaço para uma nova geração de
artistas. De Alagoas vem Djavan; do Ceará, Belchior, Fagner e Ednardo; de Pernambuco, Alceu
Valença; da Paraíba, Zé Ramalho e Elba Ramalho; da Bahia, os Novos Baianos; do Rio de Janeiro,
Luiz Melodia, Beth Carvalho e Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha); de São Paulo, Guilherme
Arantes; de Minas Gerais, músicos que se ligam a Milton Nascimento, como Beto Guedes, Wagner
Tiso, Toninho Horta e Lô Borges. No samba, sobressaem Paulinho da Viola, Martinho da Vila,
Clementina de Jesus, Ivone Lara, João Bosco e Aldir Blanc. Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia
e Clara Nunes firmam-se como as cantoras de maior prestígio. No meio da década, há uma onda
de rock nacional pós-jovem guarda. Destacam-se Raul Seixas, Rita Lee e o grupo Tutti Frutti,
Erasmo Carlos e sua Cia. Paulista de Rock, Made in Brazil, Casa das Máquinas, O Terço (RJ) e
Almôndegas (RS). Nesse período, a banda paulistana Secos & Molhados ganha notoriedade. Na
música instrumental, destacam-se Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos e Egberto Gismonti, que
obtêm público e reconhecimento no Brasil e no exterior.
ROCK E VANGUARDA (DÉCADA DE 80)
Surge uma vanguarda paulistana, com temática urbana e elementos eruditos e experimentais. Os
expoentes são Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o grupo Rumo. Despontam bandas de rock,
como RPM, Legião Urbana, Blitz, Ira, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Os Paralamas do
Sucesso, Titãs e Barão Vermelho. Surgem também nomes como Lobão, Cazuza, Sandra de Sá,
Leo Jaime, Marina Lima, Lulu Santos e Arnaldo Antunes. Na MPB, consolida-se a cantora Simone,
além de novos nomes, como Fátima Guedes e Zizi Possi. No fim da década, o grupo paraense
Kaoma faz sucesso internacional com a lambada, iniciando uma onda de ritmos dançantes.
RITMOS POPULARES (DÉCADA DE 1990)
O Brasil volta-se para seus ritmos, e cerca de 80% do que se vende e ouve é música popular
brasileira. Os gêneros de maior sucesso são o pagode – Só pra Contrariar, Negritude Júnior, Zeca
Pagodinho –, a axé music, com Daniela Mercury e o grupo É o Tchan, e a música sertaneja, com
Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó. Surge o rap, um gênero
de declamação rítmica e musical que faz parte da cultura do hip-hop, com destaque para o grupo
Racionais MC’s e Rappin Hood. Em Pernambuco, emerge o movimento mangue beat, de Chico
Science & Nação Zumbi, e, no Rio, o funk carioca, com Claudinho e Buchecha e Latino. Em 1997,
a “paradinha funk” é introduzida no Carnaval por Mestre Jorjão, da Escola de Samba Viradouro. No
rock, surgem as bandas Cidade Negra, Los Hermanos, Skank, Raimundos, Jota Quest e Charlie
Brown Jr. A banda mineira Sepultura consolida nome e carreira no exterior. Na MPB despontam
Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Fernanda Porto, Marisa Monte, Chico César, Carlinhos Brown,
Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Lenine, Mônica Salmaso, Renato Braz e o virtuose do violão Yamandu
Costa.
(Fonte: http://historiandonanet07.wordpress.com/2011/06/11/era-dos-festivais/)
TEXTO 15
Uma peleja da arte contra as cidades que não sentem
Praça da Sé em pleno horário de almoço comercial: paulistanos em sua pressa rotineira e turistas
orientais perdidos em suas fotos de monumentos, não reparam em meio à multidão – ou
propositalmente não olham – aqueles sentados e deitados em cantos e muretas. Aqueles que
sempre estão ali, que moram ali, em todo lugar, ou em lugar nenhum. Os moradores de rua, ou
como muitas vezes também são chamados, mendigos. Ninguém os percebe mais, já fazem parte
da vista do ambiente. Quem mais os observa, mas com olhos de vigia, são os homens fardados, da
Guarda Civil Metropolitana, que ficam dando volta pela praça – feito mariposa em volta da
“lâmpida”, como já disse Adoniran.
Mas no dia 26 de julho, desta vez bem no meio da praça, outras pessoas começam a sentar e
deitar. Mas estas, aos olhos da sociedade, não são invisíveis. São brancas. E estão bem vestidas,
com trajes elegantes. Calmamente esticam seus cobertores velhos, feitos de feltro cinza, os
mesmos panos usados pelos tais moradores de rua – e ali se instalam. Em fração de segundos, e
sobressalto, aparecem as câmeras, em quantidade surpreendente. Rapidamente um aglomerado
se forma, algo como 70 pessoas ocupando metade da praça. Alguns leem livros ou papéis,
tricotam, muitos conversam entre si, e outros simplesmente se sentam, deitam e se deixam estar.
Das centenas de pessoas que por ali passam, muitos observam por alguns instantes e continuam
seu caminho, sem vontade de entender, ou tirando suas próprias conclusões. “Ah! Estão fazendo
novela!” – uma senhora exclama para outra, aliviada por descobrir o motivo daquele inesperado
alvoroço. “Vai sair na internet! Essas fotos vão sair na internet, hein!”, prevê um homem, ironizando
os 15 minutos de fama que qualquer um pode ter hoje em dia graças à rede. O primeiro conceito,
ou o preconceito: “Burgueses! Passem uma noite na rua pra saber como é bom!” E como deixar de
lado o clássico argumento do trabalho, ainda presente: “Bando de vagabundos!”.
Me aproximo de Maria Merquido da Silva, 57 anos, que por algum tempo ficou a observar tudo
aquilo, de corpo e olhos vidrados, e peço por uma pergunta: “Você sabe o que eles estão
fazendo?”. Ela leva alguns segundos para voltar da onde estava até que finalmente se vira pra mim
sorrindo: “Acho que sei. Eles estão protestando, não é?”. “Sim”, confirmo, “mas por quê?”. “Acho
que é pela liberdade dos moradores de rua”. Maria tem o costume de cumprimentar os mais
conhecidos, com a maior naturalidade da gentileza que gera gentileza. Principalmente aqueles que
dormem em frente à Caixa Econômica, onde ela trabalha. Ela e seus colegas já viram muitos
serem maltratados, e não concorda, procurando compreendê-los: “Nunca se sabe se algum dia sou
eu quem vai estar aí, não é mesmo?”.
Maria acertou em cheio. Foi exatamente por isso que o coletivo de teatro Cia. Autoretrato tomou a
iniciativa do ato. Chamado de Deitaço, contou com a participação de outros coletivos de teatro
amigos, como Território B e Núcleo 1408. Como foi divulgado por email e nas redes sociais,
convidava toda a sociedade a participar.
Depois de começar a frequentar mais o centro de São Paulo para ensaiar uma peça, o coletivo,
formado por cerca de quinze artistas, testemunhou uma série de atitudes violentas por parte da
Guarda Civil Metropolitana. Entre elas, uma registrada em vídeo, na qual guardas arrancam os
poucos pertences que os moradores de rua possuem– papelão, cobertores, e até bolsas com
documentos – e levam, sem saber pra onde vai.
No mesmo dia do acontecimento, o grupo foi até a Defensoria Pública para denunciar o abuso
inconsciente das autoridades. Descobriram, nesse momento, que não eram os únicos que haviam
feito uma denúncia, mas que isso não significava muita coisa. Segundos os advogados, a ação
pública de nada adianta, se não tiver visibilidade. Foi aí que surgiu a ideia de fazer o Deitaço, com
o objetivo de chamar atenção da sociedade e fazer um teste com a polícia. Também aconselhados,
pretendem encaminhar e protocolar a denúncia em todas as instâncias.
Por mais que pequena e um tanto estática, a cena atraía facilmente a atenção dos que passavam,
e muitos não se aguentavam de curiosidade. Construiu-se uma espécie de palco aberto, onde
qualquer pessoa podia entrar e interagir como quisesse, deixando muitos à vontade para chegar,
perguntar e até opinar. Pelo ouvido de Marina Carazza, atriz do coletivo Autoretrato, infelizmente
os pensamentos conservadores foram os mais escutados. Ainda que muitos concordassem que
existe um problema, há o juízo de que os mendigos deixam a rua feia e suja e que, por isso,
precisam ser retirados dali urgente.
Como se realmente fosse algo para ser higienizado – não seres humanos que precisam e têm
direito a casa, comida e trabalho. Como o que está sendo feito na gestão municipal que já
contabiliza oito anos, entre José Serra e Gilberto Kassab. Tentar esconder os moradores de rua em
regiões menos populosas da cidade. Empurrá-los para dentro de albergues que não tem estrutura
e não dão o atendimento que deveriam, de saúde e capacitação profissional. Uma verdadeira
segregação social.
O mais instigante para os observadores pareceu, entretanto, a enorme contradição proposital que
ali existia, entre o comportamento daquelas pessoas, como se morassem na rua, e a aparência
que elas tinham. “É lógico que a polícia não vai fazer nada com vocês! Vocês são da classe
média!”, alguém disse para Marina, sem perceber que a questão central é exatamente essa. O que
o coletivo imaginava e queria testar se comprovou: um grupo de pessoas que tem uma melhor
situação financeira, ou pelo menos aparenta ter, pode sentar no meio da praça e ficar quanto
tempo desejar; alguém em situação de miséria e abandono, não. Eles são menos cidadãos?
De qualquer forma, seja lá qual foi a natureza das reações, o que importa é que o debate tomou
vida. A rua, que o governo quer esvaziar mais ainda do que ela já é, graças ao individualismo e o
medo dos paulistanos, foi ocupada. A arte provou sua força de voz,com seu impacto subjetivo, às
vezes muito maior do que de uma passeata, com palavras e barulhos bagunçados. E, apesar da
internet ser uma das grandes culpadas pela espetacularização, ela também possui a capacidade
de potencializar os pequenos acontecimentos, como diz Gabriel Medina no vídeo abaixo. É a
conexão rua e rede, que pode tornar possível a reocupação do espaço público. Que já começou.
NÃO DEIXE DE CONFERIR ESTE LINK!
http://www.outraspalavras.net/2012/08/01/uma-peleja-da-arte-contra-as-cidades-que-nao-sentem/
Podemos considerar os jogos olímpicos um retrato intercultural e por isso merece a nossa
atenção e tem o seu destaque no cenário da cultura. Entender a sua origem, a sua importância,
fatos marcantes, a participação brasileira, as olimpíadas de Londres com todas as suas
superações e produções, interesses e desinteresses é amplificarmos a nossa lente para além da
nossa própria marca e cultura, transpondo-a e transformando-a!
TEXTO 16
Origem dos Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos se originaram em Olímpia
(Grécia antiga) em meados de 776 a.C., onde
existem registros em pedra em ruínas do templo de
Hera que comprova esta data. Naquele período, os
jogos eram realizados aos deuses gregos, sendo
que Zeus era o mais homenageado, pois na cidade
havia um grande templo em homenagem a ele e
quando esses jogos ocorriam Zeus era chamado
Zeus Olímpico.
Como os jogos eram realizados no templo de Zeus,
não era permitida a entrada de mulheres no local,
Ruínas de Olímpia, antiga sede dos Jogos Olímpicos
somente homens participavam e assistiam o
evento. Os homens que participavam dos jogos
eram escolhidos após rígidas investigações de conduta, sendo que qualquer violação era motivo
para que esse fosse punido severamente. Ainda, os participantes chegavam ao templo de Zeus
antes da data em que os jogos se iniciavam, pois era obrigatório que os participantes se
preparassem físico e espiritualmente para as competições.
Apesar dos jogos serem de caráter religioso, também era utilizado para apregoar a paz e a
harmonia entre os gregos. Para os vencedores das competições, era entregue uma coroa,
alimentação gratuita por toda a sua vida, garantia de seu lugar em teatros e o título de herói de sua
cidade.
Com a invasão romana sobre os gregos, os Jogos Olímpicos foram perdendo sua força e sua
identidade. Os jogos então eram realizados entre escravos e animais selvagens, o que foi proibido
em 392 a.C. pelo imperador romano Theodosius I quando se converteu ao cristianismo, proibindo
também toda e qualquer manifestação pagã na Grécia.
Por Gabriela Cabral / Equipe Brasil Escola
(Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/origem-dos-jogos-olimpicos.htm)
TEXTO 17
A importância dos Jogos Olímpicos
Arcos, símbolos dos Jogos Olímpicos.
Desde sua criação, há mais de 2.700 a.C, os Jogos Olímpicos assumiram um papel fundamental
na vida dos gregos. Para se ter uma ideia, as competições eram capazes de interromper as
guerras entre as cidades, num ritual conhecido por “trégua sagrada”. Posteriormente, após a
tentativa do francês Barão de Coubertin em reviver o espírito das primeiras competições, os Jogos
Olímpicos passaram a ser um evento globalizado e de grande importância em todo o mundo. Um
exemplo disso é sua própria bandeira, que representa a união dos cinco continentes.
Quando foram celebrados os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, se pretendia apenas
realizar um evento que reunisse algumas centenas de pessoas que praticavam o esporte como
atividade de tempo. Mal sabia o Barão de Coubertin que a competição iria se transformar em um
dos principais eventos culturais do planeta, ultrapassando, sem dúvida, os limites do esporte.
A notoriedade dos Jogos Olímpicos, criada tanto pelo seu caráter simbólico quanto pela sua
dimensão material, fez com que o evento se transformasse em palco de diversas manifestações
políticas ao longo do século XX. Alguns exemplos: Nas Olimpíadas de Berlim em 1936, Adolf Hitler
se recusou a reconhecer as vitórias do atleta norte-americano negro Jesse Owens; nas Olimpíadas
de Munique (1972), um atentado de um grupo terrorista palestino matou 11 atletas de Israel; os
Estados Unidos se recusaram a participar dos Jogos de Moscou (1980), e a URSS, das Olimpíadas
de Los Angeles (1984), em um claro contexto da Guerra Fria.
Os Jogos Olímpicos podem proporcionar um significativo avanço econômico para a cidade e o
país-sede do evento. Embora o fato de se candidatar ao megaevento exija uma série de
responsabilidades, principalmente em relação à infraestrutura das cidades-candidatas, os
benefícios econômicos gerados pelos jogos são bem maiores do que os próprios investimentos
para sua realização.
A projeção da cidade e do país-sede do evento é tamanha, que é capaz de provocar profundas e
permanentes mudanças socioeconômicas positivas. A atração de turistas de diversas partes do
mundo faz com que melhorias estruturais permanentes sejam feitas, como rede de transporte,
moradia e instalações esportivas. Sem contar nos inúmeros novos postos de trabalho que são
gerados direta ou indiretamente através do evento.
(Fonte:
http://www.brasilescola.com/educacaofisica/a-importancia-dos-jogos-olimpicos.htm)
TEXTO 18
Fraudes Olímpicas na Antiguidade
A ambição de muitos atletas antigos acabava degradando o caráter esportivo e religioso das
Olimpíadas Gregas.
Ao contrário do que muitos chegam a imaginar, os jogos olímpicos da Antiguidade não envolviam
apenas uma celebração aos deuses adorados pelos gregos. Treinamentos exaustivos, alimentação
balanceada e a remuneração dos atletas já eram práticas comuns nos jogos disputados na Grécia.
Ao longo do tempo, a competição conferia prestígio e poder às cidades-Estado vencedoras, que
passaram a patrocinar os atletas que disputariam os jogos.
Curiosamente, até a compra do “passe” de determinados atletas era feita pelas cidades-Estado. No
ano de 580 a.C., o legislador grego Sólon estipulou uma lei pela qual os vencedores olímpicos
teriam direito a um prêmio de aproximadamente 500 dracmas. A quantia era suficiente para, por
exemplo, adquirir um considerável rebanho de ovelhas. Além do prêmio, os campeões olímpicos
desfrutavam de outras regalias, como a isenção no pagamento de impostos.
Ao longo do tempo, o espírito competitivo das demais cidades-Estado impeliu as mesmas a tomar
medidas semelhantes às adotadas pelos atenienses. Além de incitar a disputa, o espírito
competitivo acabou perdendo lugar para o interesse financeiro. Alguns atletas, interessados por um
prêmio mais pomposo, chegavam a se vender para competir por outras cidades-Estado e os atletas
começaram a ser treinados e peneirados graças à ação de perspicazes professores de Educação
Física.
No ano de 388 a.C., o atleta cretense Sotades – que tinha vencido a última competição olímpica de
corrida de daulichos – aceitou competir pela cidade de Éfeso. Os cretenses ficaram inconformados
com a atitude de Sotades e, por isso, resolveram puni-lo com o exílio. O atleta Astilo de Crotona,
uma das mais vitoriosas cidades-Estado da Grécia Antiga, disputou as Olimpíadas de 492 a.C. pela
cidade
de
Siracusa.
Esses seriam alguns dos casos onde o espírito esportivo perdia espaço para o interesse material.
Na XCVIII Olimpíada, o pugilista Eupolos subornou três de seus adversários para que ele
ganhasse a competição. O senado da cidade Olímpia resolveu punir os atletas corruptos com uma
multa em dinheiro. Com os recursos arrecadados foram construídas estátuas em homenagem a
Zeus, sendo que em uma delas foram registrados os seguintes dizeres: “Não é com dinheiro, e sim
com pernas rápidas e um corpo robusto que se alcança a vitória de Olímpia”.
Todos estes casos de corrupção acabam com o ideal de que os povos gregos eram honrados e
competiam, apenas, em busca da glória e do reconhecimento. Estes personagens históricos não
viviam em um tempo em que o interesse e a corrupção estavam radicalmente subordinados a
valores morais incorruptíveis. Assim, como nos dias de hoje, a vaidade e o interesse pessoal foram
questões presentes nas Olimpíadas disputadas na Grécia Antiga.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
(Fonte:
http://www.brasilescola.com/educacaofisica/fraudes-olimpicas-na-antiguidade.htm)
TEXTO 19
O Brasil nos Jogos Olímpicos
O Brasil conquistou suas primeiras medalhas em jogos olímpicos em 1920; desde então, dezenas foram
conquistadas, tanto ouro, como prata e bronze.
Muito embora os Jogos Olímpicos da Era Moderna tenham tido início em 1896, as primeiras
medalhas conquistadas pelo Brasil em Jogos Olímpicos de Verão ocorreram apenas em 1920, nos
Jogos de Antuérpia. A seguir será apresentada uma tabela com os Jogos Olímpicos e o quadro de
medalhas conquistadas pelo Brasil a cada edição dos Jogos.
Ano
Cidade-Sede
Ouro
Prata
Bronze
1920
Antuérpia
1
1
1
1948
Londres
0
0
1
1952
Helsinque
1
0
2
1956
Melbourne/Stocolmo
1
0
0
1960
Roma
0
0
2
1964
Tóquio
0
0
1
1968
México
0
1
2
1972
Munique
0
0
2
1976
Montreal
0
0
2
1980
Moscou
2
0
2
1984
Los Angeles
1
5
2
1988
Seul
1
2
3
1992
Barcelona
2
1
0
1996
Atlanta
3
3
9
2000
Sidney
0
6
6
2004
Atenas
5
2
3
2008
Pequim
3
4
8
Jogos de 1920 – As medalhas foram conquistadas por Guilherme Paraense, na pistola rápida
(ouro); Afrânio da Costa, na pistola livre (prata); e Guilherme Paraense, Afrânio da Costa,
Sebastian Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade, na pistola em equipe (bronze).
Jogos de 1948 – Conquistou a medalha de bronze com a equipe masculina de basquetebol,
composta por: Alberto Marson, Alexandre Gemignani, Alfredo Rodrigues da Mota, Affonso de
Azevedo Évora, João Francisco Brás, Luís Benvenuti, Marcus Vinícius Dias, Massinet Sorcinelli,
Nilton Pacheco de Oliveira, Ruy de Freitas e Zenny de Azevedo.
Jogos de 1952 – A medalha de ouro foi conquistada no salto triplo por Adhemar Ferreira da Silva.
O primeiro bronze também veio do atletismo, no salto em altura, de José Telles Conceição,
enquanto o segundo bronze foi conquistado por Tetsuo Okamoto, nadando os 1.500m livres.
Jogos de 1956 – A única medalha dessa edição dos Jogos foi conquistada novamente por
Adhemar Ferreira da Silva, em prova de salto triplo.
Jogos de 1960 – As duas medalhas de bronze foram conquistadas na natação e no basquetebol.
Manoel dos Santos venceu a prova dos 100 metros livres. A seleção de basquete, responsável
pela aquisição da medalha, foi composta por: Algodão, Amaury, Wlamir, Mosquito, Édson,
Fernando, Jathyr, Rosa Branca, Sucar, Moyses, Waldemar e Waldyr.
Jogos de 1964 – Mais uma vez o basquete alcançou o terceiro lugar na competição. O time, dessa
vez, foi composto por: Amaury, Wlamir, Mosquito, Rosa Branca, Jathyr, Edson Bispo e Sucar,
Ubiratan, Friedrich Wilhelm Braun, Victor Mirschawka, Sérgio Machado e Edvar Simões.
Jogos de 1968 – O melhor resultado brasileiro veio, mais uma vez, com o salto triplo, mas agora
quem disputava era Nelson Prudêncio. Os dois bronzes vieram do boxe, com Servílio de Oliveira, e
da vela, disputada por Reinald Conrad e Burkhard Cordes.
Jogos de 1972 – As duas medalhas conquistadas foram o bronze. Uma delas por Nelson
Prudêncio, no salto triplo, e a segunda com o judô, na categoria meio-pesado, por Chiaki Ishii.
Jogos de 1976 – Mais uma vez o salto triplo foi responsável pelo pódio brasileiro, mas dessa vez,
com João do Pulo. A outra medalha de bronze veio da vela, com Reinald Conrad e Peter Ficker.
Jogos de 1980 – As duas medalhas de ouro vieram da vela, com Alexandre Welter e Lars
Bjorkstrom e com Marcos Pinto Rizzo Soares e Eduardo Penido. Os bronzes vieram com João do
Pulo, no salto triplo, e com a equipe de revezamento 4 x 200m na natação, formada por Jorge
Fernandes, Marcus Mattioli, Ciro Delgado e Djan Madruga.
Jogos de 1984 – Ouro conquistado no atletismo, nos 800m rasos, por Joaquim Cruz. O voleibol e o
futebol masculinos levaram a prata, assim como Ricardo Prado, nos 400m medley (natação),
Torben Grael e Daniel Adler, na vela e Douglas Vieira, no judô. Aliás, o judô também foi
responsável pelos dois bronzes, com Walter Carmona e Luís Onmura.
Jogos de 1988 – Aurélio Miguel, no judô, foi o responsável pelo único ouro brasileiro. Já as pratas
foram conquistadas por Joaquim Cruz, nos 800m rasos, e pelo futebol masculino. Robson Caetano,
nos 200 rasos, Torben Grael e Nelson de Barros Falcão, na vela, e Lars Grael e Clinio Freitas,
também na vela, ganharam o terceiro lugar.
Jogos de 1992 – O vôlei masculino e o judô, com Rogério Sampaio, ganharam ouro. Já a prata foi
alcançada por Gustavo Borges, na natação.
Jogos de 1996 – Foram muitas as medalhas conquistadas pelo Brasil, em Atlanta. Robert Scheidt e
Torben Grael e Marcelo Ferreira conquistaram duas medalhas de ouro, em categorias diferentes da
vela, assim como o voleibol feminino de praia. Vôlei de praia feminino também levou a prata, junto
com Gustavo Borges, na natação, e o basquete feminino. Os bronzes ficaram por conta do vôlei
feminino de quadra, duas conquistas na natação, duas no judô, hipismo, vela, futebol masculino e
revezamento 4 x 100m no atletismo.
Jogos de 2000 – Nessa edição, o Brasil não conquistou a primeira colocação em nenhuma
modalidade, porém levou seis pratas e seis bronzes. As pratas foram no vôlei de praia feminino e
masculino, vela, duas no judô e uma no revezamento do atletismo. Basquete, vôlei de praia e vôlei
de quadra femininos, vela, hipismo e natação ganharam o bronze.
Jogos de 2004 – Ao contrário de 2000, a edição de 2004 teve cinco ouros brasileiros: vôlei de praia
e de quadra masculinos, hipismo e duas conquistas na vela. As mulheres se responsabilizaram
pelas medalhas de prata com o voleibol e o futebol. Duas medalhas de bronze foram levadas pelo
judô e a terceira pela maratona.
Jogos de 2008 – Ouro conquistado na natação, no salto em distância e no voleibol feminino. Vôlei
de quadra e de praia masculinos, futebol feminino e vela ganharam a prata. E por fim, o judô
conquistou três de bronze, junto com a natação, o taekwon-do, a vela, o vôlei de praia masculino e
o futebol masculino.
(Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/o-brasil-nos-jogos-olimpicos.htm)
TEXTO 20
Olimpíadas de Londres 2012
Informações, Jogos Olímpicos, cerimônia de abertura e encerramento, mascotes, foto, modalidades, tocha
olímpica, modalidades.
Estão sendo realizados na cidade de Londres
(Inglaterra), os XXX Jogos Olímpicos. A abertura
ocorreu no dia 27 de julho. A cerimônia de
encerramento ocorrerá no dia 12 de agosto. O lema
dos jogos é "Live is one" ("Viva como se fosse o
único").
O estádio Olímpico de Londres foi construído no
Parque Olímpico. Sua capacidade é de 80.000
Estádio Olímpico de Londres
(foto de janeiro de 2012)
espectadores. Com toda estrutura em aço, o estádio recebeu a cerimônia de abertura em
27 de julho. A cerimônia de encerramento (12 de agosto) assim como todas as provas de
atletismo ocorrerão neste estádio.
As cerimônias de abertura e encerramento serão
aproximadamente, 4 bilhões de pessoas no mundo todo.
vistas
pela
televisão
por,
Mascotes das Olimpíadas de Londres 2012
Wenlock e Mandeville
Os mascotes das Olimpíadas de Londres se chamam Wenlock e Mandeville. São duas
gotas de aço feitas em animação de cartoon.
Tocha Olímpica
A Tocha Olímpica foi anunciada em 26 de maio de 2010. Ela passou pelas mãos de,
aproximadamente, 8.000 pessoas, durante 70 dias antes do evento. A tocha saiu da Grécia
em 18 de maio e chegou em Londres no dia 21 de julho de 2012. Antes da cerimônia de
abertura, a tocha olímpica foi conduzida por sete dias dentro da cidade de Londres.
Medalhas Olímpicas
As medalhas foram confeccionadas pela empresa Royal Mint (situada no sul de Gales).
Foram produzidas 4.700 medalhas que teve como designer um artista britânico.
Os ingressos
Ingressos das Olimpíadas 2012
Os ingressos tem cores diferentes, de acordo com o local onde a modalidade esportiva será
disputada. Cada ingresso apresenta também um desenho que simboliza um esporte. Para
que não haja falsificações, os ingressos apresentam recursos como, por exemplo, código
de barras, holograma e nome do comprador impresso.
Participação do Brasil
O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) definiu que a delegação brasileira, que participará das
Olimpíadas de Londres, será composta por 259 atletas. Serão 136 homens e 123 mulheres
que disputarão 32 modalidades olímpicas.
Atletas brasileiros que ganharam medalhas nas Olimpíadas de Londres 2012 (até
08/08/2012):
Medalha de ouro
- Sarah Menezes no judô (categoria ligeiro, até 48 kg).
- Arthur Zanetti nas argolas.
Medalha de prata
- Thiago Pereira na natação masculina (400 metros medley)
Medalha de Bronze
- Mayra Aguiar no judô (categoria até 78 kg).
- Rafael Silva no judô (categoria acima dos 100 kg).
- Cesar Cielo na natação (50 metros livres).
- Robert Scheidt e Bruno Prada na Vela (classe Star).
- Felipe Kitadai no judô (categoria até 60 kg).
- Adriana Araújo no boxe (categoria até 60 kg)
- Juliana e Larissa no vôlei de praia.
Voce sabia?
- Durante toda história dos Jogos Olímpicos Modernos, várias modalidades esportivas foram
excluídas do quadro de esportes olímpicos. Alguns exemplos: cabo de guerra, croquet,
críquete, raquets, esqui aquático, golfe, hóquei sobre patins, patinação artística, pelota
basca, motonáutica, pólo equestre, roque e rugbi.
- Para participar dos Jogos Olímpicos, um atleta tem que ser aprovado pelo Comitê Olímpico
de seu país e também pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Deve também participar de
competições oficiais classificatórias (torneios pré-olímpicos). Nestes torneios, o atleta deve
obter índices e/ou classificação determinados pelos comitês, de acordo com sua modalidade
esportiva, , que lhe garantam a participação.
- A expectativa é de que participem, nas Olimpíadas 2012, cerca de 10.500 atletas de 192
países e 13 territórios.
(Fonte: http://www.suapesquisa.com/olimpiadas2012/)
Por falar em Olimpíadas e para concluir esta coletânea, seguem três charges intituladas
Olimpíadas 2016. Para refletir e tirar suas próprias conclusões:
A quais temas estas
charges fazem alusão? Quais os aspectos sociais, éticos, políticos e culturais direta
ou indiretamente ali envolvidos?
OLIMPÍADAS 2016
(Fonte das charges: http://www.papodebuteco.org/2011/08/charge-olimpiadas-rio-2016.html)
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Ética, Cultura e Arte