CÓDIGO DE CORREÇÃO: ___ ___ ___ ___
CONCURSO PÚBLICO PARA O CARGO DE PROFESSOR
DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO ― 2013
CADERNO III ― PARTE ESPECÍFICA
QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA (DISCURSIVAS)
Visto:
Questão 41
(Valor 08 pontos)
Ilari & Basso (2011), no livro O Português da gente: a língua que estudamos / a língua que
falamos, referem-se à palavra vernáculo da seguinte forma: “caracteriza um modo de aprender as
línguas: o aprendizado que se dá, por assimilação espontânea e inconsciente, no ambiente em que as
pessoas são criadas.” (p. 15) Esse caráter espontâneo da linguagem se contrapõe ao que é ensinado
formalmente na escola.
Nessa perspectiva, explique a distância estabelecida entre a fala da maioria da população
brasileira e a norma culta prescrita pela gramática com base no uso que se faz dos pronomes pessoais.
Utilize no máximo 20 linhas.
Conforme a norma culta prescrita pela gramática, os pronomes pessoais, que designam
as pessoas do discurso e a “não-pessoa” (3ª. p.s.), dividem-se em três tipos: do caso reto, do
caso oblíquo e de tratamento. No uso que faz desses pronomes, no entanto, verificam-se
diferenças significativas.
A segunda pessoa do singular tu, cuja concordância muitas vezes não segue a norma
culta, tem se restringido a certas regiões do país, sendo substituída frequentemente pelo
antigo pronome de tratamento você. A expressão a gente, por sua vez, tem sido utilizada de
forma equivalente à primeira pessoa do plural nós, ainda que as respectivas concordâncias
não coincidam. Os pronomes oblíquos, que exercem, sobretudo, função de complementos
verbais, são frequentemente empregados no lugar dos retos e vice-versa. A segunda pessoa
do plural vós está em desuso.
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CADERNO III ― PARTE ESPECÍFICA
QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA (DISCURSIVAS)
Visto:
Questão 42
(Valor 10 pontos)
Os romances realistas de Machado de Assis, escritos a partir de 1881, retratam famílias
predominantemente urbanas formadas quase sempre pelo núcleo marido, esposa e filhos. Nessas obras,
situações de conflito são constantes: triângulos amorosos, sentimentos ambíguos, ciúmes, casamentos
de conveniência, relações tediosas e supostas traições.
A partir desse cenário, discorra sobre a construção das personagens femininas de seus romances
realistas, de modo que retrate a visão machadiana sobre a sociedade burguesa do final do século XIX.
Fundamente sua resposta com base na análise de uma personagem significativa dos livros Memórias
Póstumas de Brás Cubas ou Quincas Borba.
Utilize no máximo 20 linhas.
As obras da fase realista de Machado de Assis têm como cenário a cidade do
Rio de Janeiro do final do século XIX e início do século XX. Suas personagens são
representantes autênticas da sociedade burguesa vigente na época, e suas narrações
são sempre conduzidas por protagonistas masculinos, o que influencia o leitor a
perceber a mulher a partir dessa perspectiva.
Como a sociedade da época era fortemente marcada pelo patriarcalismo e pelo
conservadorismo e, nessa condição, a figura feminina estava ideologicamente
submissa ao homem, esta representação se constitui numa forma de inviabilizar as
mulheres do ponto de vista moral. Eram mulheres causadoras de conflitos,
ambiciosas, interesseiras e mentirosas, que tiravam proveito das relações afetivas
para ascenderem na vida. As mulheres machadianas são retratadas com sensual
coragem para lutarem pelos seus ideais.
Virgília era uma mulher bonita, ambiciosa, atrevida e dissimulada. Parecia
gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais se revelou disposta a romper com
sua posição social ou dispensar o conforto e o reconhecimento da sociedade.
Percebe-se a intenção do autor em criar uma personagem burguesa e com valores
burgueses.
OU
Marcela era uma mulher sensual, mentirosa e interesseira que amava quem a
mimasse, não com carícias e gracejos, mas com bens materiais. Representa a
sociedade burguesa do Segundo Reinado como dama elegante e ambiciosa,
sustentada por homens da alta sociedade carioca.
(O candidato pode fundamentar a sua resposta com uma outra personagem
dos romances citados.)
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QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA (DISCURSIVAS)
Visto:
Questão 43
(Valor 12 pontos)
Bakhtin (1992), em seu artigo Os gêneros do discurso, estabelece importantes definições sobre
os gêneros discursivos. Denominados como “tipos relativamente estáveis de enunciados”, relacionam-se
diretamente a diferentes situações sociais. Para o autor, conteúdo temático, estilo e construção
composicional são elementos essenciais dos gêneros, determinados pelas especificidades de cada esfera
de comunicação.
Considerando esses preceitos, analise o texto Ensinamento, de Adélia Prado, seguindo as
orientações abaixo:
- especifique o conteúdo temático (sentidos produzidos em determinada realidade sociocultural);
- descreva o estilo com base na seleção lexical, frasal e gramatical utilizada;
- examine a construção composicional a partir dos aspectos estruturais do gênero.
Utilize no máximo 30 linhas.
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 118.
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CADERNO III ― PARTE ESPECÍFICA
QUESTÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA (DISCURSIVAS)
Ensinamento consiste
em um
poema, gênero literário
produzido
Visto:
por
meio da
interlocução entre um poeta e seus leitores, com a finalidade de provocar o prazer estético.
Quanto a seu conteúdo temático, trata da supremacia do amor sobre todas as coisas, inclusive
sobre educação e conhecimento. O poema leva o leitor a refletir a respeito de diferentes
aprendizados que transcendem o universo escolar; um universo sustentado sob os laços do
amor. O “ensinamento” se dá primeiramente no seio familiar para, num segundo momento, se
fortalecer no ambiente escolar.
Para compor o estilo, a poeta utilizou um vocabulário simples, que reproduz de forma
mais fidedigna o cotidiano, como se verifica, por exemplo, na construção de imagens como
“arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente”. Ao mesmo tempo, explorou
jogos de palavras como “fina” e “luxo”, atribuindo valores ao estudo e ao amor. Seus versos
são livres, de diferentes extensões. Por meio da combinação entre substantivos e adjetivos,
reflete sobre o que é essencial na vida, sobre os “ensinamentos” que ela proporciona. Como os
gêneros literários são mais propícios à identificação dos estilos individuais, a autora revela
sua habilidade poética ao tratar de um tema bastante recorrente de forma singular.
Na construção composicional, o poema é constituído com uma única estrofe de dez
versos. Um texto pequeno, aparentemente despretensioso, mas com densidade temática. É
possível perceber sequências argumentativas (“a coisa mais fina do mundo é o sentimento”),
narrativas (“aquele dia de noite, o pai fazendo serão”) e descritivas (reprodução de flashes do
dia a dia familiar) que se mesclam. Com precisão minuciosa e lirismo, Adélia Prado condensa
em poucos versos a complexidade das relações humanas e familiares.
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