UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Andreza da Silva Malaquias Maria Elizabete do Amaral Assunção SEXUALIDADE NA GESTAÇÃO BIGUAÇU 2008 1 Andreza da Silva Malaquias Maria Elizabete do Amaral Assunção SEXUALIDADE NA GESTAÇÃO Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem pela Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação da Professora Dra. Maria de Lourdes Campos Hames. BIGUAÇU 2008 2 ANDREZA DA SILVA MALAQUIAS MARIA ELIZABETE DO A. ASSUNÇÃO SEXUALIDADE NA GESTAÇÃO Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Enfermeiro e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde Biguaçu. Área de Concentração: Enfermagem Biguaçu, 10 de Julho de 2008. Profa. Dra. Maria de Lourdes Campos Hames UNIVALI – CE de Biguaçu Orientadora Profa. Msc. Adriana Dutra Tholl UNIVALI – CE de Biguaçu Membro Profa. MSC. Maria Catarina da Rosa UNIVALI – CE de Biguaçu Membro 3 AGRADECIMENTOS A nossa professora e orientadora Drª Maria de Lourdes Campos Hames, que nos auxiliou exaustivamente nesta luta, guiando-nos no caminho certo, nos apoiando nos momentos difíceis, incentivando-nos quando o desânimo e o cansaço se apoderavam de nós. A você, dedicamos esta vitória, pois, temos a certeza de que se não fosse a sua dedicação, não conseguiríamos chegar aqui. Podemos dizer que ganhamos muito em termos desfrutado da sua companhia em nossas vidas, e que a sua amizade, conquistada ao longo desses anos é o maior prêmio para esta conquista. Que Deus te abençoe, e ilumine todos os seus passos. A você o nosso muito Obrigado! As mulheres participantes do estudo, pela sua colaboração ao ter disponibilizado informações preciosas ao nosso trabalho. Aos nossos colegas acadêmicos, em especial (Zislene, Débora e Lucyane) pelos preciosos momentos em que compartilhamos juntas nossas alegrias e incertezas. À Juliana de Assunção, pela grande ajuda que nos deu para que pudéssemos concluir com êxito nosso trabalho monográfico. O nosso muito obrigada! À Nathália de Assunção, pela sua preciosa colaboração nos trabalhos e nas pesquisas que realizamos durante o decorrer do curso. O nosso muito obrigada! Aos professores do Curso de Graduação em Enfermagem, que nos acompanharam durante esta trajetória, contribuindo com nossa formação profissional e pessoal. Aos membros da banca examinadora, professoras: Adriana Dutra Tholl e Maria Catarina da Rosa, por terem aceitado e apreciado este trabalho, pelas palavras encorajadoras e pelo carinho com que sempre nos trataram. 4 AGRADECIMENTOS ANDREZA A DEUS pela vida, por ter guiado meus passos, por me dar forças para enfrentar os obstáculos e ter me feito uma vitoriosa. A Minha Querida Mãe, mulher magnífica, forte e guerreira, meu porto seguro, meu grande exemplo, a grande responsável pelo o que eu sou! Meu sucesso devo a ti! Amor da minha vida, as palavras são pequenas para expressar tamanha admiração e respeito que sinto por ti! Te amo muito mãe! Ao Meu Querido Pai por ter torcido por mim e por ter contribuído muito para que eu me tornasse o que sou hoje. Obrigado por tudo, Te amo muito! Ao Meu Marido Alexandre, razão do meu existir, a alegria de minha vida. O meu amor por ti, deu-me a força que eu precisava para chegar até aqui. A tua presença em minha vida, foi o complemento que necessitei durante toda esta trajetória para sentir hoje o gosto maravilhoso da vitória. Amo-te cada vez mais, obrigado pela tua presença em minha vida! A Minha Filha Isabeli, minha jóia preciosa, presente de Deus, seu encanto de criança, e seu rostinho de anjo me fizeram uma pessoa mais forte, pois você se tornou minha principal inspiração. Te amo muito meu amor! Aos meus queridos irmãos Elizandra, Jean e Íris que me acompanharam nas batalhas e por terem torcido muito por mim. Amo muito vocês! A minha amiga companheira de TCC por ter me proporcionado sua companhia e amizade durante estes quatro anos, por ter sido muitas vezes minha confidente, ter me apoiado nos momentos difíceis, e por ser esta grande pessoa. Que Deus te ilumine sempre e te dê grandes vitórias! A minha amiga Zislene, por ser esta pessoa tão humana, que sabe se colocar no lugar do outro e tem um coração disposto a ajudar sempre. Tenho certeza que você é e será sempre uma grande profissional, pois é raro encontrar pessoas como você. Obrigada por você ter me dado o privilégio da tua amizade! Que Deus te ilumine sempre! A minha professora mestra Helga Bresciani pelo exemplo de pessoa e profissional, pela humanização com que trata todos a sua volta, pela grande enfermeira que é. Podes ter certeza que serás o meu exemplo, tanto em minha vida 5 pessoal, como profissional! A minha professora mestra Janelice Bastiani, que além de grande amiga é uma grande pessoa, outro exemplo em minha vida. AGRADECIMENTOS MARIA ELIZABETE A Deus, que traça os caminhos da vida, por iluminar minha caminhada, por me oportunizar o conhecimento e por me permitir chegar até aqui. A meu pai (in memorian) que sempre esteve comigo, mesmo distante, por me ensinar o caminho da humildade, da paciência e do amor. Sua passagem por esta vida foi curta, porém seus ensinamentos foram de uma grandeza infinita. Que sua estrela continue a brilhar na eternidade. À minha mãe (Valmira) pela compreensão que demonstrou nas minhas ausências, pelo exemplo de mulher forte e batalhadora, pelo referencial que representa em minha vida. A Francisco, meu marido, pelo apoio incondicional que demonstrou nesta caminhada. Tenho muito a agradecer-te! Jamais esquecerei o quanto me ajudaste nos trabalhos e nas pesquisas. Tenho certeza que se cheguei até aqui devo muito a ti! Pois se não fosse o teu apoio e a tua força, jamais teria conseguido! Amo-te cada vez mais! Posso dizer com certeza: sou uma mulher de sorte, pois tenho-te em minha vida. A meus queridos filhos Juliana, Alexandre e Nathália, que foram de fundamental importância para a concretização deste sonho. Peço-lhes desculpas pelos momentos de ausência. Agradeço a compreensão e o carinho que vocês sempre tiveram comigo. Obrigada! Amo vocês demais. A minhas queridas irmãs, Elizete, Elaine e Maria. Poder contar com vocês foi mais uma benção de Deus para que eu pudesse chegar aqui. Aos meus Sogros Manoel e Amélia, pela força que sempre me deram e pelos momentos de apoio que recebi, quando me sentia desanimada e cansada. As minhas grandes amigas Adriana, Margarida, Ana, Flávia, Daniela e Zislene, irmãs de coração. Agradeço por estarem sempre do meu lado! As minhas professoras Janelice Bastiane e Eliane Mattos, que além de grandes professoras se tornaram grandes amigas! Obrigado pelo exemplo e ensinamentos que tive a oportunidade de desfrutar na companhia de vocês! 6 À Andreza, minha colega de TCC e grande amiga desta longa caminhada, pela ajuda e compreensão nos momentos difíceis que passamos juntas. Tenho muito a agradecer-te! Além da amizade que cultivamos tenho, por ti, um profundo respeito e admiração pela força e garra que sempre demonstraste! Acredito, que a nossa amizade permanecerá para sempre, pois foi construída com bases sólidas. Que Deus te abençoe! 7 SEXUALIDADE NA GESTAÇÃO Andreza Malaquias* Maria Elizabete do Amaral Assunção** RESUMO A gestação é um período de grandes transformações para o casal. O corpo se modifica, a emoção aumenta e os hábitos culturais são repensados e reafirmados. Com tantas novidades nos aspectos físico, emocional e cultural, essa fase pode acabar gerando no casal, dúvidas e inseguranças, principalmente no quisito sexualidade que, apesar da evolução técnico-científica dos últimos séculos, permanece marcada por tabus e medos. Partindo desta consideração e considerando os escassos trabalhos que abordam o tema em questão, desenvolvemos esta pesquisa de caráter exploratório descritivo, com técnica de análise qualitativa, visando compreender como se desenvolve a sexualidade durante a gestação. O referencial teórico de escolha foi a Teoria do Alcance dos Objetivos de Imogene King. Participaram da mesma 10 mulheres gestantes que realizavam o prénatal em uma unidade de saúde da rede básica de Florianópolis, no período compreendido entre novembro de 2007 a janeiro de 2008. Como resultado, encontramos três categorias: o perfil das gestantes participantes deste estudo, na qual são descritos o perfil das gestantes que participaram deste estudo, aspectos negativos da sexualidade na gestação, na qual são abordados temas como a aparente anormalidade da condição gestacional aparente na forma de desconfortos durante o ato sexual, a percepção do risco gestacional, a permanência dos mitos relativos ao processo e os conflitos psicológicos que decorrem da condição “profana e sagrada’ da gravidez e aspectos positivos da sexualidade na gestação, onde apontamos a possibilidade de amadurecimento afetivo do casal e a descoberta da sexualidade para além do contato físico. Acreditamos ter contribuído para a melhoria da qualidade da assistência através da interpretação e socialização dos conhecimentos obtidos na identificação dos sentidos expressos por estas mulheres em sua vivência sexual durante a gravidez. Palavras-chave: Mulheres. Sexualidade. Gestação. _______________________________ * Dicente do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. R:Antonieta de Barros, 732 Bl C2 Apto 107 Estreito, CEP 88070-700 Florianópolis/SC. Tel.: (48) 3028-4136 E-mail: [email protected]. ** Dicente do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. R: Desembargador Urbano Salles, 111 Apto 903 Bl A Centro, CEP 8800-000 Florianópolis/SC. Tel.: (48) 3223-9514. E-mail: [email protected]. 8 SEXUALITY IN THE GESTATION Andreza Malaquias* Maria Elizabete do Amaral Assunção** ABSTRACT The gestation is a period of great transformations for the couple. The body if modifies, the emotion increases and the cultural habits are rethink and reaffirmed. With as many new features in the aspects physical, emotional and cultural, this phase can finish generating in the couple, doubts and unreliabilities, mainly in the quisito sexuality that, although the technician-scientific evolution them last centuries, remains marked for taboos and fears. Leaving of this consideration and considering the scarce works that approach the subject in question, we develop this research of descriptive exploratório character, with technique of qualitative analysis, aiming at to understand as if it develops the sexuality during the gestation. The theoretical referencial of choice was the Theory of the Reach of the Objectives of Imogene King. They had participated of same the 10 gestantes women who carried through the prenatal one in a unit of health of the basic net of Florianópolis, in the period understood between November of 2007 the January of 2008. As result, we find three categories: profile of gestantes participant of this study, in which they are described the profile of the gestantes that had participated of this study, aspects negative of sexuality in gestation, in which they are boarded subjects as the apparent abnormality of the apparent gestacional condition in the form of discomforts during the sexual act, the perception of the gestacional risk, the psychological permanence of relative myths to the process and conflicts that elapse of the profane condition “and sagrada' of the pregnancy and aspects positives of the sexuality in the gestation, where we point the possibility of affective matureness of the couple and the discovery of the sexuality with respect to beyond the contact physicist. We believe to have contributed for the improvement of the quality of the assistance through the interpretation and socialization of the knowledge gotten in the identification of the express directions for these women in its sexual experience during the pregnancy. Word-key: Women. Sexuality. Gestation. _______________________________ * Dicente do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. R:Antonieta de Barros, 732 Bl C2 Apto 107 Estreito, CEP 88070-700 Florianópolis/SC. Tel.: (48) 3028-4136 E-mail: [email protected]. ** Dicente do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. R: Desembargador Urbano Salles, 111 Apto 903 Bl A Centro, CEP 8800-000 Florianópolis/SC. Tel.: (48) 3223-9514. E-mail: [email protected]. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUZINDO A TEMÁTICA E JUSTIFICANDO A ESCOLHA........................11 2 TEMA DO ESTUDO .............................................................................................. 12 3 PROBLEMA DO ESTUDO ..................................................................................... 13 4 APRESENTANDO OS OBJETIVOS ...................................................................... 14 4.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 14 4.2 Objetivos específicos........................................................................................... 14 5 REVISANDO A LITERATURA................................................................................15 5.1 Sexualidade: história e concepção... ................................................................... 15 5.2 Gestação e sexualidade: possibilidades e limites ............................................... 20 5.3 Interfaces do cotidiano profissional na realização do pré-natal na rede básica de saúde: competências esperadas do enfermeiro diante da compreensão da sexualidade na gestação ........................................................................................... 31 6 TRAJETÓRIA METODOLOGICA .......................................................................... 34 6.1 Tipo de Estudo .................................................................................................... 34 6.2 Local de desenvolvimento do estudo e participantes .......................................... 35 6.3 Instrumento para coleta análise e interpretação dos dados ................................ 36 6.4 Análise e interpretação dos dados ...................................................................... 37 6.5 Respeito aos princípios éticos ............................................................................. 37 7 CONHECENDO O REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................... 40 7.1 Um pouco sobre os dados biográficos de Imogene King (GEORGE, 2002) ...... 40 7.2 A Teoria do Alcance dos Objetivos de Imogene King.......................................... 41 7.2.1 Pressuposições básicas de Imogene King ....................................................... 43 7.2.2 Conceitos eleitos para utilização neste estudo................................................. 43 10 8 APRESENTADO O PEFIL DAS GESTANTES PARTICIPANTES NESTE ESTUDO.....................................................................................................................49 8.1 Caracterização das gestantes..............................................................................49 8.2 Os aspectos positivos da sexualidade na gestação............................................54 8.3 Os aspectos negativos da sexualidade na gestação...........................................60 9 RECOMENDAÇÕES...............................................................................................67 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................69 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 71 APÊNDICES ............................................................................................................. 77 APÊNDICE 1 - Roteiro de Entrevista Individual Semi-Estruturada............................79 APÊNDICE 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................................80 ANEXOS ...................................................................................................................81 ANEXO1 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Univali...............................82 ANEXO2 - Parecer do Comitê de ética da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis...............................................................................................................83 11 1 INTRODUZINDO A TEMÁTICA E JUSTIFICANDO A ESCOLHA A gravidez é um processo biológico que repercute no aspecto social, econômico, emocional, psicológico e sexual do homem e da mulher. Além disso, pode ter diferentes significados para cada um dos parceiros e para o casal. Também se constitui num momento único, diferente de todos os já vividos anteriormente, mesmo para mulheres que já tiveram outros filhos. Sendo assim, este momento precisa ser compreendido de uma maneira sempre muito especial, pois nunca mais se repetirá e poderá marcar profundamente a vida das pessoas envolvidas. Isto porque atrás de um útero existe uma mulher com todas as suas dimensões, uma mulher inteira, um homem inteiro e uma família inteira grávida. É preciso que o profissional dê atenção e observe toda essa amplitude (ÁVILA, 1998). Dentre os diversos significados que se encontram envolvidos na gestação, encontra-se a sexualidade feminina, caracterizada por Oriá, Alves e Silva (2004) como um dos aspectos mais importantes da existência humana, uma vez que significa a responsabilidade pelo próprio corpo e sua vivência, independente das imposições e/ou restrições sociais. Contudo, a sexualidade na gravidez ainda é um tema que envolve tabus, especialmente quando relacionado a mulher na qual incidem vários preconceitos sociais. Esta questão envolve, ainda, um déficit na educação sexual neste período da vida, o que dificulta o lidar com a sexualidade da gestante. Compreendemos que sendo a gestação um processo fisiológico e a sexualidade algo além do ato sexual, a mulher não precisa se abster de sua atividade sexual, a não ser quando a gestação estiver correndo risco por outro fator presente. Buscamos com este estudo, compreender como se desenvolveu a sexualidade durante a gestação, em um grupo de mulheres que realizaram o prénatal em uma unidade da rede básica de saúde de Florianópolis, no período compreendido entre novembro de 2007 a janeiro de 2008. Desta forma, acreditamos ter contribuído na melhoria da qualidade da assistência através da interpretação e socialização dos conhecimentos obtidos na identificação dos sentidos expressos por estas mulheres em sua vivência sexual durante a gravidez. 12 2 TEMA DO ESTUDO A sexualidade na gestação. 13 3 PROBLEMA DO ESTUDO Como se apresentou a sexualidade na gestação na perspectiva da gestante? 14 4 APRESENTADO OS OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Compreender como se desenvolve a sexualidade durante a gestação. 4.2 Objetivos específicos Apresentar o perfil das gestantes participantes deste estudo Identificar os fatores que interferem positivamente na sexualidade durante a gestação. Identificar os fatores que interferem negativamente na sexualidade durante a gestação. 15 5 REVISANDO A LITERATURA 5.1 Sexualidade: história e concepção... O termo sexualidade, criado no século XIX, representa um conjunto de valores e práticas corporais culturalmente legitimados na história da humanidade. Mais do que pertinente à atividade sexual e sua dimensão biológica, ele diz respeito a uma dimensão intima e relacional, que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações corporais com seus pares e com o mundo. A sexualidade, tal como a concebemos, abarca aspectos físicos, psico-emocionais e sócio-culturais relativos: a percepção e controle do corpo, ao exercício do prazer/desprazer e a valores e comportamentos em processos afetivos e sexuais. (HEILBORN, 1999). Em nossa cultura, os usos, costumes e padrões de interação sexual se modificaram diversas vezes no decorrer dos séculos. Os preconceitos morais, legais e religiosos tiveram início com o povo hebreu, há milhares de anos. Os hebreus do antigo testamento bíblico, ao assumirem a forma patriarcal, tornaram-se monógamos. (COSTA, 1986). Consideravam o casamento divino, com funções de reprodução e satisfação de necessidades sexuais, e a importância de manter a virgindade ate o casamento, mas não além da juventude. Com a expansão helênica, as mulheres casavam-se ainda meninas, já à primeira menstruação. A função da reprodução era muito importante. Dentro do costume grego, o contato homossexual masculino não era prejudicial ou desgastante, em oposição ao relacionamento heterossexual durante a imaturidade ou adolescência. (COSTA, 1986). Os romanos acabaram assimilando grande parte da cultura grega com relação a sexualidade. Do ponto de vista cristão do século XX, seus costumes sexuais podem ser considerados liberais ou libertinos. A classe dominante romana entregava-se a grandes prazeres sexuais, apenas parcialmente restringidos por leis constantemente reformuladas. Até o fim da idade média as atividades sexuais eram praticadas diante das crianças; bastava então ver e ouvir para aprender. (COSTA, 1986). Com o advento do cristianismo a virgindade, que já passara a ser importante em Roma, adquire cunho religioso e a castidade também é exaltada. Com a 16 Renascença e o estimulo da cultura, o cultivo do conhecimento e o surgimento das ciências, as coisas mudaram. Apareceram regras para reger o natural. (COSTA, 1986). A partir do século XVIII, que se dá a intensificação da masturbação, uma forma bastante característica de sexualidade dissociabilizada para aquela época. O laço entre a sexualidade e prazer foi sendo aos poucos, rompido. Por fim, dissociouse por completo a sexualidade da procriação, reduzindo-a à uma atividade puramente genital parcial, desprovida de erotismo e fantasia. Assim, para o homem moderno, a sexualidade acabou reduzida ao domínio mais intimo da vida moral. (COSTA, 1986). A diferença dos sexos foi traduzida em uma linguagem binária e hierarquizada, sendo que, apenas um dos termos era valorizado. Nesta lógica binária e diferencial, o feminino fica assinalado do lado inferior. A atividade masculina é exaltada e glorificada, enquanto que a feminina é de passividade. O corpo das mulheres é percebido como um receptáculo, que os homens tomam posse através do ato sexual. (BOZON, 2004). Por ter de ser a natureza feminina essencialmente inferior, maternal e reprodutiva, a sexualidade feminina só poderia estar relacionada a essas qualificações. Surge então a imagem da mulher ‘degenerada’ e da mãe ‘desnaturada’ por referência aos desvios da norma. As medidas repressivas da sexualidade tornam-se medidas terapêuticas, já que a norma instituída é a sexualidade procriadora. Nesse período combate-se o aborto, a esterilização voluntária e a masturbação. Potencialmente capazes de algumas dessas atitudes, as mulheres passaram a possuir, em sua natureza, um potencial de degeneração, de loucura e criminalidade. Pela interpretação destas “leis naturais” o prazer sexual deveria ser vivido a dois com a uma única finalidade: a de procriação. A sexualidade feminina exigia maior controle, já que se pensava que a mulher teria uma sexualidade mais fisiológica baseada no fenômeno do cio. (VIEIRA, 2002). Com a industrialização e a especialização, o homem volta-se para o público, indo trabalhar em um lugar longe de sua casa, criando-se então de um lado, um espaço produtivo (a rua) e, de outro, um espaço privado (da reprodução), a casa. Com esta cisão e com a saída do homem para o trabalho a mulher é alijada do processo de produção. Sua função é a de reproduzir e educar os filhos; suas 17 tarefas e ela própria são desvalorizadas. Instala-se assim a divisão sexual do trabalho. (RISSIN, 2000). Da inferioridade sexual e intelectual da mulher, de seu papel natural na reprodução da espécie e no cuidado com os filhos decorre naturalmente uma definição de função e de papel. A mulher é essencialmente esposa e mãe. Este papel de procriadora é inseparável do estatuto da servidão doméstica; ocupar-se de marido, filhos e da casa. (CRAMP e CASNABERT, 1990). Por outro lado, é reforçada a idéia de que ela só será feliz se for amada por um homem com quem se casará e terá filhos. Constrói-se assim o mito do amor romântico e o mito do amor materno. Neste sentido, Badinter (1985) afirma que o amor materno não é algo inerente à “natureza feminina”. É algo que pode existir ou não na mulher, que em uma mesma mulher pode existir em um momento e não existir em outro, que dependendo das circunstâncias, pode ser aprendido e desenvolvido na relação da mãe com o filho. Na década de 60, com o surgimento dos movimentos feministas a mulher obteve diversas conquistas, havendo um questionamento da limitação de suas funções ao papel de esposa e mãe. A mulher entra maciçamente no mercado de trabalho, começando a ocupar novas funções, contudo não deixa de exercer suas antigas. Assim, vêm tentando reequilibrar, no seu cotidiano, suas diversas funções. A proposição da possibilidade de realização das mulheres para além da maternidade é, desta forma, parte do ideário feminista. A felicidade nesta concepção não se esgota na maternidade. A mulher é um individuo, com vida própria, para além da vida dos filhos e do marido, sendo a busca de sua felicidade legítima e não fruto de egoísmo culposo. (RISSIN, [2000]; COSTA; AMADO, 1994). Na história da sexualidade no Brasil, os homens sempre foram mais sujeitos de sua sexualidade. Para eles o sexo fora do casamento e a prática da homossexualidade sempre foram mais públicos e causaram menos alvoroço que as práticas femininas. Desde a colônia, a ordem pro criativa lhes foi menos cobrada e, desde então, quando um casal não tinha filhos, a culpa era atribuída à mulher. (BANDEIRA, 1999). Quando se deseja ter uma concepção de sexualidade busca-se um termo que exprima as formulações mentais em torno dos atos corporais relacionados ao corpo e ao prazer, extrapolando a idéia de sexo. Este pode ter três significados: um como a posição do sujeito na reprodução sexuada: fecundante (o macho) ou gerador (a 18 fêmea), segundo estaria referido aos órgãos genitais externos e um terceiro diz respeito ao uso do termo sexo, fazer sexo, como sinônimo de ato sexual. Para relacionar ato sexual com reprodução normalmente são usados termos como coito e cópula, estando, este último, mais relacionado ao ato sexual entre os animais. (VILLELA; ARILHA, 2003). Para Schopenhauer (1960) o sexo é tanto para o homem quanto para os animais, um instinto. E tanto se apegou ele a esse conceito filosófico que chegou a afirmar que o âmago do mundo é irracional, fundamentalmente oposto a inteligência e a razão, contrariando assim a própria essência de toda empresa filosófica, que se baseia na razão e na inteligência para formular seus conceitos. De outro modo, Vieira (1977), o homem, por sua qualificação de racional, considera a sexualidade como um atributo da sua natureza integral, ligado às injunções da carne, dirigido, porém em última análise pela luz da razão e da inteligência. Sexualidade é, pois, o conjunto de reações de ordem física, psicológica e sentimental, com raízes na ética e na moral, normativa da conduta humana frente ao sexo. A finalidade do sexo, ainda que biologicamente se assemelhe a do animal pela sua característica de procriar, dele se distingue pelos atributos humanos, pelo relacionamento das pessoas, ligados entre si pela sensibilidade, pelo respeito, pela ética. (VIEIRA, 1977). O desenvolvimento da sexualidade começa a partir do nascimento. A diferença da sexualidade infantil é apenas que, nesta fase, a excitação apresenta-se mais intensa e difusa e, portanto, não se localiza, necessariamente, nos genitais. Na infância sua finalidade é diferente, já que se restringe a manipulação ou estimulação prazerosa. O papel sexual é adquirido pela criança através de dicas sobre como ela deve ou não se comportar, como ela deve agir ou reagir, segundo o seu sexo. (VIEIRA, 1977). À medida que a criança cresce, a priori, se impõe a ela um comportamento compatível com seu sexo, independentemente dos seus reais interesses ou motivações. A sexualidade se expressa ou assume contornos, dependendo muito da maneira como homem e mulher vivem na sociedade, o que deve ou não ser praticado por um e por outro, ou aquilo que se convencionou atribuir como função ao homem e a mulher. Estudiosos da psicanálise, tendo Freud como precursor, divulgaram a existência de uma energia sexual – chamada de libido – que estaria 19 indicando a busca de satisfação ou de prazer. Grande parte da energia psíquica é consumida pelo que denominamos energia sexual. O termo sexual nada tem a ver com a sensação ou a relação genital do adulto, mas com a forma de energia psíquica que está sempre a serviço da busca de toda satisfação relacionada ao ser humano. (COSTA, 1986). A sexualidade feminina tem sido vista essencialmente como uma resposta à sexualidade masculina e a relação sexual. Raramente se reconhece o fato de que a sexualidade feminina tenha uma natureza própria, complexa, que não se limita à contrapartida lógica daquilo que julgamos ser a sexualidade masculina. (HITE, 1982). Desta forma, ficaria com a mulher a maternidade e, para os homens, o exercício do poder, proteção e provimento da prole como modo adulto de realização da libido. (VILLELA; ARILHA, 2003). As décadas de 50 e 60 foram repletas de momentos históricos de transformação cultural. O movimento contra cultural (hippies), com a proposta do amor livre e a invenção da pílula anticoncepcional, favoreceram uma mudança radical na forma de mulher lidar com a sexualidade. Antes dessa época, a sexualidade da mulher estava sob total domínio do homem. A virgindade era garantia da ignorância sexual que se desejava das “mulheres de bem”. Cabia o homem, pressuposto como experiente em sexo, funcionar como professor para a mulher ignorante sexualmente. Daí que o comportamento sexual do homem sempre era tomado como correto como modelo de comportamento sexual a ser imitado pela mulher. Caso a mulher não estivesse sexualmente satisfeita, era atribuído a ela algum tipo de distúrbio ou problema, preservando-se a imagem de perfeição do comportamento sexual masculino. Após a década de 60 as mulheres passaram a valorizar o padrão feminino de sexualidade e a questionar a suposta perfeição do comportamento sexual masculino. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). Após a década de 60, as mulheres passaram a valorizar o padrão feminino de sexualidade e a questionar a suposta perfeição do comportamento sexual masculino. A pílula anticoncepcional permitiu que a mulher adquirisse experiência sexual com diferentes parceiros masculinos, livre de gestação indesejada e denunciadora da atividade sexual. A gravidez, que representava um impedimento de desligar-se do homem e um castigo pela relação sexual fora do casamento, ficou sob controle da mulher. O sexo deixou de ser uma atividade que acarretava 20 maternidade e passou a ser possível como simples atividade de prazer. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). Desta forma, a influência cultural e educacional tem importância fundamental na forma como a mulher e o homem compreendem a gestação e a sexualidade neste período. Os princípios e valores absorvidos pelo ser humano no convívio social determinam, até hoje, o papel que desempenham na sociedade. Apesar das grandes evoluções neste campo, os padrões cultural e social determinam, ainda, à mulher, o papel de reprodutora e cuidadora da espécie humana. Contudo, a gestação como conseqüência da atividade sexual, é uma necessidade para a manutenção da espécie. Para que o sexo fosse interessante, a natureza vinculou a atividade sexual, intensa sensação de prazer. O prazer é o meio que a biologia encontrou para fazer com que os sexos opostos se interessassem pela relação sexual, e assim se expusessem à reprodução. Portanto, em nossa cultura, a gravidez, quando aceita, libera grande euforia. Ela realiza e reafirma a concretização de um papel biológico essencial, tanto para a perpetuação da espécie quanto para a afirmação da própria feminilidade. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). 5.2 Gestação e sexualidade: possibilidades e limites A gestação e o período de grandes transformações para o casal. O corpo se modifica, a emoção aumenta e os hábitos culturais são repensados e reafirmados. Com tantas novidades nos aspectos físico, emocional e cultural, essa fase pode acabar gerando no casal, dúvidas e inseguranças. (REZENDE, 1999). As alterações da gestação decorrem, principalmente por fatores hormonais e mecânicos. São adaptações fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e psicológicas que acontecem na mulher durante a gravidez. (REZENDE, 1999). Neste período a mulher vive dois tipos de mudanças evolutivas concomitantes: mudanças físicas e emocionais no interior de si mesma e o crescimento do feto no seu útero. O modo como ela se sente com relação a estas mudanças pode variar largamente, dependendo de ter ou não planejado a gravidez, ser casada, estar vivendo com o pai do bebê, ou ter outros filhos. Esta variação dependerá também da idade dos outros filhos, de sua ocupação ou do seu desejo 21 de ter uma ocupação, das lembranças da infância e de seus sentimentos com relação aos próprios pais. Para a maior parte das mulheres, a gravidez é um período de emoções fortes, que sofrem modificações, variando do positivo ao negativo, freqüentemente ambivalentes. Com a conscientização de que em breve terá um bebê, particularmente se este for o seu primeiro, a mulher precisa se adaptar a uma dramática transformação em seu modo de vida, à medida que ela deixa de ser apenas um indivíduo responsável, primeiramente por si mesmo para tornar-se mãe, responsável pela vida e pelo bem estar da criança. Também haverá mudanças no seu relacionamento com o pai, já que agora terá de dividir seu tempo e atenção entre duas pessoas. (KLAUS; KENNEL, 1993). Trata-se da realização concreta de um grande desejo: o de galgar um estágio mais elevado na auto-estima. (NORONHA et al, 1997). Teoricamente, o percurso da gestação até a chegada da criança deveria ser um período de constante euforia e prazer, pela resolução de uma necessidade básica, vinda do próprio instinto As preocupações que angustiam a mulher tradicional são essencialmente referentes à boa formação e boa saúde da criança e a sua própria capacidade de desempenhar o papel de mãe. Os limites que a gravidez vai impondo durante seu curso são principalmente de ordem física, diminuindo a agilidade nos cuidados com a casa e com o marido. Apesar de a gestação ser uma experiência basicamente de ganhos, coexiste a experiência de perdas. Estas focalizam-se na perda das formas físicas, que gera temor de perda do interesse do marido. Esse receio em algum grau pode ser compensado pela maior atenção que a grávida recebe do contexto social como um todo. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE; 1997). Para a mulher atual, o leque de fontes de angústias perante a gestação ficou sensivelmente mais amplo. Tendo um mundo de possibilidades de realização pessoal diante de si, muito além da realização no papel de mãe, a mulher atual tende a viver a gestação não apenas como limitação física temporária, mas como a perspectiva de uma limitação existencial permanente. A gravidez pode assumir, em um dado momento, o significado de impedimento definitivo da realização de uma formação profissional, ou de uma viagem muito desejada, ou de uma ascensão na carreira. Pode ainda ser vivida não só como perda de atributos corporais, mas também perda de ideais e projetos pessoais que aparentemente ficam inviabilizados pela maternidade. É claro que a realidade tende a ser mais no sentido de 22 adiantamentos do que propriamente de perdas definitivas, mas esta visão realista em geral só é atingida muito tempo depois de terminada a gestação. É muito difícil para a gestante ser realista em um período como a gravidez, caracterizado por fortes sentimentos de insegurança, ansiedade e medo perante o desconhecido. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). A mulher atual tende a viver a gravidez com sentimentos ambivalentes de intensidade, mas extrema que a mulher tradicional. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). Nossa espécie atinge os níveis mais elevados do desenvolvimento na escala animal e dentre as vantagens dessa superioridade está à característica de usufruir do prazer sexual sem a finalidade de reproduzir. Nas demais espécies o coito é praticado só durante o período fértil das fêmeas, enquanto a fêmea humana se excita e tem prazer independente do período ovulatório. Somos os únicos animais a manter vida sexual ativa em período não fértil e até durante a gestação. (VITIELLO, 1998). Muitas condutas médicas, referentes aos aspectos da sexualidade durante a gestação, não apresentam bases científicas, reportando tabus e preconceitos de uma sociedade que detinha o poder masculino por meio da repressão á sexualidade feminina. (VITIELLO, 1998). Algumas complicações obstétricas foram por séculos atribuídos ao ato sexual. As pesquisas atuais procuram esclarecer a relação do coito com essas complicações. Não se encontra confirmação científica de que a relação sexual, numa gravidez normal, implique risco de abortamento, parto prematuro e ruptura prematura das membranas. (VITIELLO, 1998). As infecções vaginais e cervicais ocorridas pela contaminação no ato sexual não estão diretamente relacionadas com o coito, mas sim com o parceiro infectado. O controle destas infecções está nas medidas de prevenção ás doenças sexualmente transmissíveis e não na repressão á sexualidade da gestante. (VITIELLO, 1998). A atividade sexual é uma atividade fisiológica que não é naturalmente abolida durante a gravidez; portanto a sua proibição aleatória pode prejudicar o bem estar biopsicossocial da gestante. O fato é que o exercício da sexualidade humana se rege num complexo contexto biopsicossocial. Nossa espécie, pela aquisição de sutis características anatômicas e fisiológicas, é a única no reino animal a poder exercer a 23 sexualidade fora dos limitados padrões do sexo-reprodução. Nossa sexualidade, por isso mesmo, é influenciada fortemente, além dos fatores orgânicos, por elementos sociais e emocionais. E para cada um desses três compartimentos poderíamos traçar regras de "normalidade". (VITIELLO, 1998). No que diz respeito ao componente orgânico do exercício da sexualidade a norma fisiológica é que, diante de certos estímulos considerados eficientes (visão, tato, olfato ou mesmo imaginação), homens e mulheres entrem num ciclo de modificações orgânicas que se convencionou chamar de "Ciclo de Resposta Sexual". Assim, diante desses estímulos, é "normal" que homens e mulheres se excitem, tendo ereções ou lubrificações vaginais, bem como é "normal" que atingindo certo grau de excitação sobrevenha o orgasmo. O "anormal" aqui, isto é, o não cumprimento desse ciclo, é o que se convencionou chamar de "disfunção sexual". (VITIELLO, 1998). Quanto aos aspectos sociais do exercício da sexualidade, o normal é aquilo que foi esboçado linhas atrás, ou seja, a prática heterossexual por casais com as características descritas. O que foge a essas normas é denominado de "desvio" (como a gerontofilia e a homossexualidade, por exemplo), "parafilia" (como o sadomasoquismo) ou até mesmo de "perversão" (a necrofilia, por exemplo), embora essa nomenclatura ainda não seja bem universalizada, havendo os que denominam de "desvio" o que outros chamam de "parafilia", e vice-versa. (VITIELLO, 1998). É no componente psicológico do exercício da sexualidade, no entanto, que, em nosso ver, existem mais dificuldades em conceituar-se o normal. Na verdade, para saber se nossa sexualidade está sendo normalmente exercida, deve-se responder a indagação sobre se é ela satisfatória. Estou contente com minha sexualidade? Exerço-a prazerosamente? Estou satisfeito com a freqüência e com a maneira em que a exerço? Minha parceira (ou meu parceiro), por quem tenho afeto e a quem me é importante satisfazer, está feliz com esses parâmetros? A isso, a essa satisfação com o exercício da própria sexualidade, costuma-se denominar de "adequação sexual". Quando essa adequação não existe, ou seja, quando está insatisfeito com a prática da sexualidade, denomina-se a isso de "inadequação sexual", que em última análise é o objetivo de todas as correntes de terapia sexual, quer as de fundo orgânico, quer as de fundamentação psicológica. (VITIELLO, 1998). 24 Em resumo, poderíamos dizer que o "normal" em sexualidade se resume ao satisfazer-se e satisfazer sexualmente seu parceiro ou sua parceira, desde que isso não traga riscos ou danos a si mesmo, ao (ou à) parceiro e ao meio social. Dentro desse princípio, o que cada pessoa ou cada par faz no âmbito restrito de suas vidas privadas só a eles próprios interessa, cabendo a nós, como indivíduos e como membros da sociedade, respeitar as naturais e enriquecedoras diferenças que fazem do ser humano algo de tão maravilhoso. (VITIELLO, 1998). Em determinadas gestações patológicas, como no trabalho prematuro de parto, as restrições à atividade sexual são sustentadas pelo desconhecimento das implicações do coito nestes casos. (TEDESCO; ZUGAIB; QUAYLE, 1997). Durante o primeiro estágio da gravidez, a mulher adapta-se a ao conhecimento do fato de que será mãe. Quando pela primeira vez toma consciência de que está grávida, ela pode ter sentimentos variados. Um grande número de ponderações, variando desde uma mudança em seus padrões familiares até questões mais sérias, tais como problemas econômicos e penúrias domésticas ou dificuldades interpessoais, influencia a aceitação da gravidez. Este estágio inicial é aquele em que a mãe identifica o feto em crescimento como uma “parte integrante de si mesma”. (KLAUS; KENNEL, 1993). O segundo estágio envolve uma consciência do bebê no útero, como um indivíduo independente que geralmente começa com o evento extraordinariamente poderoso, que é a manifestação dos primeiros sinais de vida do bebê, a sensação do movimento fetal. Durante este período, a mulher começa a modificar o seu conceito do feto como um ser que é parte de si mesma, passando a considerá-lo um bebê vivo, que logo será um indivíduo independente. Esta consciência prepare a mulher para o nascimento e para a separação física do seu filho. Este estado de prontidão, por sua vez, estabelece as bases para um relacionamento com a criança. (KLAUS; KENNEL, 1993). Após as primeiras manifestações de vida do bebê, a mulher, de um modo geral, começará a ter fantasias sobre como será o bebê, atribuindo-lhe algumas características da personalidade humana e desenvolvendo sentimentos de apego. Nesta ocasião, ela pode aceitar melhor sua gravidez e mostrar mudanças significativas na sua atitude em relação ao feto. Bebês não planejados, não desejados, podem ser melhor aceitos.(KLAUS; KENNEL, 1993). 25 Além de ser um período de grandes transformações para o casal, a gravidez é, também, um período de adaptações. São adaptações em todos os sentidos; adaptações físicas, emocionais, existenciais e também sexuais. É importante ressaltar que a necessidade de adaptação não afeta só a mulher, nessa fase, mas também o homem. (BALLONE, 2004). Na verdade, não há nenhum impedimento absoluto ou uma condição inexorável para que a vida sexual continue satisfatória. Também seria demagogia afirmar textualmente que a sexualidade do casal continua, na gravidez, como se nada houvesse de diferente. Alguns autores costumam dizer, otimistamente, que tudo será como antes e, curiosamente, até melhor. Mas isso pode ser mais uma daquelas atitudes “simpáticas” que dão popularidade. (BALLONE, 2004). A partir do momento em que a mulher entra no período gestacional, iniciará um processo de desenvolvimento que conduzirá a várias transformações orgânicas e expressivas mudanças a nível biopsícossocial. (BALLONE, 2004). Portanto, no mínimo, não será sensato negar as contundentes alterações físicas que acontecem na mulher, tais como, o crescimento abdominal, a sensibilidade mamária, a ocorrência nem sempre oportuna de náuseas e vômitos, a maior lubrificação vaginal, entre outros. Todas essas são alterações orgânicas que as mulheres experimentam durante a gestação e que podem influir fortemente na vida sexual do casal. E não se trata de uma interferência por carência de afeto ou de sentimentos, mas por gerarem desconforto. (BALLONE, 2004). Durante a gravidez acontecem muitas transformações, fazendo com que estas interfiram na sexualidade do casal grávido. Náuseas e vômitos nos primeiros três meses de gravidez podem constituir um esmorecimento sexual. (KITZINGER, 1985). Muitas mulheres nunca experimentam isso, mas outras podem sentir-se enjoadas não só ao despertar pela manhã, mas no início da noite. Algumas têm enjôos durante o dia inteiro. A mulher pode ter náuseas em uma gravidez e nenhuma em outra. O cansaço e o “excesso em fazer coisas” desempenham freqüentemente um papel nisso. Comer regularmente é importante para evitar que o estômago esvazie. Pequenas e freqüentes refeições parecem ser preferíveis às abundantes e muito intervaladas. A maioria das mulheres que tiveram enjôos no começo da gravidez parecem sentir que, durante este tempo estavam preocupadas em manter o controle de seus corpos e em evitar situações em que as sensações se 26 tornassem irresistíveis, enquanto essa fase não passar, o sexo é apenas, mas um inconveniente que ameaça incliná-la para novas crises de náuseas. (KITZINGER, 1985). Do ponto de vista emocional, a mulher pode não se sentir atraente ou feminina, diminuindo com isto sua auto-estima. Pode ser conflitante estar num momento culturalmente considerado divino e, ao mesmo tempo, não estar gostando de si mesma.Os homens, por outro lado, não têm alterações orgânicas, mas podem ser afetados por questões emocionais, tais como a ansiedade em relação ao parto, à criação do filho, à responsabilidade de ser pai, etc... (BALLONE, 2004). Há outras coisas que podem inibir o ato sexual nessa primeira semana. Uma delas e a extrema sensibilidade nos seios. As mudanças nos seio que os preparam para a subseqüente alimentação do bebe, são alguns dos primeiros processos óbvios em que se pode ver que o corpo da mulher se adapta a gravidez. (KITZINGER, 1985). Algumas mulheres sentem-se tão desconfortáveis na cama á noite que acordam com pressão contra os seios e preferem usar um sutiã também para dormir. Quando isso acontece, a mulher não pode facilmente pensar em seus seios como objetos eróticos ou como brinquedos para o seu homem, embora a mulher de seios muito pequenos possa gostar de vê-los maiores e sentir vaidade com sua nova figura. A mulher recém grávida é facilmente machucada por um homem que goste de espremer, morder ou chupar energicamente suas mamas, como alguns homens fazem. Portanto, qualquer estimulação dos mamilos deve ser feita com muita suavidade e as carícias no seio começarão por toques tão leves quanto os de uma pena e só devem se tornar mais firmes se isso causar nela uma sensação agradável. Num estado de excitação sexual, os seios incham até 25%. Assim quando a mulher fica sexualmente excitada, ela termina de encher seus seios já dilatados, uma vez que mais sangue aflui às veias e os tecidos tornam-se ainda mais ingurgitados. E por isso que, quando ela está muito excitada, é capaz de retrair-se ao ser tocada pelo seu parceiro e então, de súbito, coloca-se na defensiva. (KITZINGER, 1985). Além disso, problemas relativos ao entorno circunstancial à gravidez também podem influir no bem estar sexual do casal. Essas questões dizem respeito ao planejamento da gravidez (pior, no caso desta ter sido indesejável), da qualidade prévia da relação entre o casal, da crença e medo de machucar o bebê durante o 27 ato sexual, enfim, são circunstâncias que podem propiciar alguma precariedade da vida sexual. (BALLONE, 2004). A sexualidade da mulher na gravidez dependerá, entre outros motivos, de como ela se percebe, se avalia e se valoriza nessa fase. Enfim, dependerá grandemente de sua auto-estima. Sentir-se amada e atraente, além da realidade dos fatos de estar sendo, de fato amada e de ser, de fato atraente, além dos esforços de seu companheiro em deixar claro seu sentimento por ela, depende decisivamente de sua auto-estima e, conseqüentemente, de sua afetividade. (BALLONE, 2004). Pelo lado prático, outro fator que deve ser levado em conta, é a posição com que o coito é realizado. Para que se torne prazeroso, é necessário encontrar o modo e a posição mais cômoda e agradável. Cabe à mulher, procurar essa posição, pois é ela que está com o corpo modificado. Muitas vezes, o tamanho avantajado da barriga na gravidez avançada torna mais difícil ainda esta ou aquela posição, fatores que influenciam o desempenho sexual do homem. (BALLONE, 2004). A maioria dos casais descobre provavelmente que quer adaptar as técnicas de fazer amor à medida que a gravidez avança. Qualquer peso sobre os seios é extremamente incômoda e a posição papai e mamãe fica muito ruim, a menos que o parceiro tenha o cuidado de sustentar todo o seu peso nos antebraços. Uma posição lateral em que a mulher fique de costas para o homem, aninhando-se no regaço dele, é freqüentemente confortável. Por essa razão, algumas mulheres gostam de ficar de quatro ou ajoelhadas, com o homem atrás. Uma vez que o feto tenha se ajustado à pelve, a mulher pode preferir agora uma posição em que seu parceiro a penetre por trás. Poderá gostar de ficar deitada, agachada ou ajoelhada de costas para ele, de modo que o útero, que se encontra quase em ângulo reto com a vagina, esteja livre de pressões e ela possa usar os músculos de suas nádegas para prender o pênis, controlando assim a profundidade da penetração. (KITZINGER, 1985). Do ponto de vista prático, o fator que mais diretamente influi na performance sexual masculina é, de fato, a questão estética da mulher. Dependendo das preferências do companheiro, as alterações na estética corporal da mulher servem como desestímulo à sua libido. (BALLONE, 2004). Muito embora por amor e respeito algo possa ser dito em sentido contrário, na realidade a perda de atrativos sexuais da mulher, que passa a não corresponder ao 28 modelo social de "sexualmente atraente", é um importante fator negativo sobre o desempenho sexual masculino. (BALLONE, 2004). A partir do segundo trimestre de gestação também se dá um aumento do edema da vulva e da vagina, associada à intensificação da lubrificação vaginal, feita à custa de maior congestão pélvica. A partir do terceiro trimestre de gestação, o próprio volume abdominal maior pode influir negativamente no desempenho masculino. A eliminação do colostro (pré-leite), algumas vezes em grandes quantidades, também pode interferir na excitabilidade e no orgasmo, deixando o casal mais confuso e receoso. (BALLONE, 2004). No começo do quarto mês, os tecidos em redor e dentro da vagina ‘’amadurecem’’e assim permanecem durante toda a gravidez. Willian Masters e Virginia Johnson (Human sexual Response) descreveram: a ingurgitação destes tecidos de um modo semelhante ao que se verifica na excitação sexual. Isso significa que a mulher está num permanente estado de excitação sexual. Ela também sente muito mais umidade. A lubrificação vaginal extra, a qual se filtra através das paredes espiraladas da vagina, pode tornar a mulher muito mais consciente de sua vagina. (KITZINGER, 1985). Do ponto de vista psicológico, a partir do terceiro trimestre acentua-se ainda mais os movimentos fetais, os quais já podem ser percebidos no contato corporal ou até visíveis. Esses movimentos representam, do ponto de vista psicológico, a presença viva do filho, a interpor-se entre o casal. Estes movimentos também podem inibir as manifestações da sexualidade. (BALLONE, 2004). O medo de aborto também exerce um acentuado efeito sobre a expressão física das sensações sexuais e ate sobre a capacidade da mulher para excitar-se. O resultado e que poderá ver o sexo como uma ameaça direta ao bebe e sentir-se demasiado tensa para relaxar e sentir prazer com o ato sexual. (KITZINGER, 1985) O temor de prejudicar o filho no momento da penetração vaginal, de provocar um aborto ou desencadear um parto prematuro é também um importantíssimo agravante da sexualidade masculina. Este mesmo temor no final da gestação leva o homem a sugerir posições alternativas de coito, que podem não ser tão prazerosas para a mulher. (BALLONE, 2004). Por volta dos sete meses, a indigestão e a azia podem constituir um problema quando a mulher se deita pelo que necessita ter a cabeça e os ombros bem elevados com almofadas. Isso significa que, em tais circunstâncias, ela poderá 29 preferir manter-se sentada para o ato sexual, usando um grande almofadão, uma cadeira ou um lado da cama. As fantasias da mulher em relação ao seu corpo- sua imagem do corpo- afetam sutilmente suas sensações sexuais. (KITZINGER, 1985). Ainda emocionalmente, a associação inconsciente entre a esposa grávida e a figura de sua própria mãe pode ocorrer dando um forte componente incestuoso à relação, com bloqueio quase total da sexualidade. (BALLONE, 2004). Cada casal grávido e único tem sua própria história, preocupações, temores, esperanças, anseios, alegrias, muitas dúvidas em relação ao processo gestacional. Por isso, faz-se necessária a discussão entre o casal grávido e a equipe de enfermagem sobre os mitos e crenças gerados neste período. (BALLONE, 2004). A mulher que se sente confiante a respeito de sua sexualidade e que normalmente gosta dela tem mais probabilidade de enfrentar tudo isso com maior disposição. Na realidade, algumas mulheres gostam mais de sexo assim que sabem estar grávidas. Poderá parecer estranho, mas ela acha mais fácil entregarem-se as suas sensações quando estão grávidas, porque já não há o risco de engravidar. (KITZINGER, 1985). A mulher que está se sentindo sobrecarregada, dessa forma, poderá ficar deveras consternada ao descobrir que seu parceiro não quer ter relações sexuais com ela ou que ele não consegue ter ou manter uma ereção. Muitos homens ficam preocupados com o receio de que possam causar danos ao bebê. Essa preocupação pode ter efeitos muito bons, porque eles ficam mais ponderados, mais solícitos e diferentes do que antes, a respeito do ato sexual. Mas um homem que esteja realmente assustado pode recusar-se até a tocar na mulher. (KITZINGER, 1985). Além de tudo isto, a gestação é marcada por tabus e crenças, que mesmo inválidas, podem, eventualmente, produzir efeitos na realidade. Aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Com o passar do tempo, começamos a perceber que os mitos sobre a gestação nos influenciam através de nossa cultura. Conforme Campbell (2002): são histórias de nossa vida, da nossa busca da verdade, da busca do sentido de estarmos vivos. Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana: daquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente. O mito é o relato da experiência de vida. (ZORZI, et al, 2003). Clinicamente, estando tudo bem, o ato sexual é uma fonte importante de prazeres e de aproximação amorosa do casal. Porém, o sexo, na maioria das vezes, 30 está ligado a mitos e receios durante a gestação. Há homens que se afastam nesta fase, outros se sentem mais estimulados. A mulher pode sentir-se pouco disposta ou muito sensual. (ZORZI et al, 2003). Nesta fase de transcrição, fantasias florescem. Nessa linha de pensamento, Raphael-Leff (1997) afirma que tanto a gestante, como seu companheiro, podem sentir-se preocupados com o efeito da penetração sobre o embrião, temendo que possa causar um aborto ou prejudicar o bebê de algum modo. (ZORZI et al, 2003). Na gravidez adiantada, embora o parceiro possa sentir-se mais relaxado, porque a robustez do bebê parece assegurada, por outro lado, a aumentada vivacidade pode ser sexualmente inibidora. A fantasia comum de ferir o feto ou a mulher com seu pênis pontiagudo traz ao casal tensões que podem ser sentidas com intensidades variáveis, já que, com o passar do tempo começou-se a perceber que os mitos sobre relação sexual influenciam-nos através de nossa cultura própria. Mas, o importante é que haja respeito entre os parceiros. Decidindo manter uma vida sexual, a gestante vai permitir encontrar novas formas de prazer, deverão continuar trocando carinhos e carícias, pois afeto e contatos físicos são essenciais para a gestante e o bebê. (FORNA, 1999). 31 5.3 Interfaces do cotidiano profissional na realização do pré-natal na rede básica de saúde: competências esperadas do enfermeiro diante da compreensão da sexualidade na gestação A interação enfermeiro e cliente no ciclo gravídico-puerperal deve ser fundamentada no diálogo, sensibilidade, afetividade, no prazer de estar com o outro e na atenção do bem estar físico, mental, social e espiritual. O enfermeiro é considerado um facilitador do processo de comunicação com os clientes, referindo serem as mensagens desse profissional de impacto considerável no âmbito do prénatal, do parto e do puerpério. (RODRIGUES; SILVA; FERNANDES, 2006). O papel do enfermeiro consiste em prestar os cuidados necessários para a mãe e criança, enfocando informações precisas sobre o parto, o puerpério, e puericultura, que minimizem os anseios e medos da cliente e que promovam um ambiente saudável para a adaptação física e emocional da mulher, da sua condição de gestante para nova condição de puérpera. (MONTICELLI, 1997). O enfermeiro deve atualizar e reorganizar seu papel como educador, estimulando os co-participantes do processo a expressar seus sentimentos, suas crenças, seus valores, possibilitando condições para se aprender com as clientes e rever o nascimento como um rito de passagem, que exige uma atitude transformadora que ultrapasse a visão biológica e tradicional, limitada ao cuidar de mulheres e recém-nascidos como se eles estivessem doentes. (MONTICELLI, 1997). O papel de educador requer do enfermeiro um potencial de visualizar a mulher como um ser humano e também capaz de redefinir seu modo de agir e superar expectativas. Ambos poderão promover a saúde com o estímulo ao auto cuidado, com vistas à melhoria das condições do parto, redução das incertezas e desenvolvimento de ações que transmitam segurança. (MONTICELLI, 1997). Fazem parte das responsabilidades desenvolvidas pelo enfermeiro da atenção básica: as ações de saúde da mulher, em que está inserido o pré-natal. O enfermeiro tem algumas responsabilidades a serem cumpridas no pré-natal especialmente: identificar a gravidez, cadastrar as gestantes de preferência no primeiro trimestre, observar se a gestante corre o risco desde a primeira consulta, oferecer suplementação alimentar para gestante de baixo peso, realizar imunizações 32 indicadas, avaliar o puerpério, realizar exames de rotina e promover atividades para promoção da saúde. (GRIEP; CAMPIOL, 2004). No entanto o pré-natal é feito de modo impessoal, frio, massificado e massificante, essencialmente técnico (e, muitas vezes com técnica nada desejável). Habitualmente envolve os profissionais mais inexperientes e mais desinteressados, o que o transforma o atendimento de caráter automatizado, secundário e inconseqüente. (ZORZI et al, 2003). Um atendimento pré-natal no qual se possa compreender o casal grávido, levando em consideração suas vivências, crenças e mitos em relação à gestação, certamente resultará em um cuidado humanizado. (ZORZI et al, 2003). Com o surgimento da lei do exercício profissional da enfermagem – Decreto nº 94.406-87 foi garantido ao enfermeiro realizar consultas pré-natais e solicitar exames à gestante de baixo risco. (GRIEP; CAMPIOL, 2004). A assistência de enfermagem possibilita um trabalho consciente e engajado, sendo reconhecida como o meio para conhecer e decidir sobre as nuanças do cuidado. (FERREIRA; VALLE, 2005). A assistência de enfermagem no pré-natal possibilita a comunicação e a interação entre o casal grávido e a enfermagem, se caracterizando com uma convivência, abrindo o canal de relação entre eles, possibilitando estar junto e prestar-lhes cuidados. Pois a assistência é algo mais que o cuidar, ela não se restringe as técnicas e aos cuidados rotineiros, mas exige que a visão ultrapasse o biológico, levando-a ao conhecimento sobre as pessoas em todos os aspectos do cuidar. (SILVA; TONETE, 2006). Tem-se, por parte da sociedade, a expectativa de que a família produza cuidados a seus membros e, nesse processo, pode estar envolvida a utilização de cuidados do sistema profissional de saúde para apoiá-la, fortalecê-la e orientá-la. Incluir famílias no cuidado do enfermeiro não apenas exige atenção especial às interações, ao impacto das vivências, mas também exige conhecer dinâmicas, crenças e formas de adaptação a situações diversas. Logo, na prática da enfermagem com famílias, os fenômenos que envolvem os processos de saúde e doença de seus membros devem levar em consideração as expectativas, relações e os contextos familiares. (SILVA; TONETE, 2006). Pode-se dizer, com toda certeza, que os mitos e as crenças exercem influencias no dia a dia do casal. Mesmo que alguns casais neguem 33 conscientemente a bagagem cultural durante o período gestacional, ela tende a se manifestar de forma inconsciente no seu cotidiano. (ZORZI et al, 2003). Portanto, os enfermeiros que atuam na atenção básica direcionada ao desenvolvimento pré-natal, não podem atuar como meros expectadores. Precisam entender e valorizar os mitos e as crenças dos casais, respeitando-os até o momento em que as influências culturais deixem de ser sadias e comecem a trazer riscos para a saúde da tríade (pai, mãe e filho). (ZORZI et al, 2003). Só assim, nosso cuidar da “sexualidade do casal grávido” será eficiente e benéfico para os sujeitos envolvidos, ou seja, os profissionais, a clientela e, por reflexo de uma ação comprometida, toda a sociedade que usufruirá de uma visão diferente, o de estar grávida e ser feliz em sua vida amorosa e sexual. 34 6 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Na concepção de Demo (1995) a palavra metodologia significa o estudo dos caminhos e dos instrumentos utilizados para se fazer ciência. É uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa. Ao mesmo tempo em que objetiva conhecer os caminhos do processo científico, também problematiza, criticamente, no sentido de indagar os limites da ciência, como referência à capacidade de conhecer ou de intervir na realidade. A metodologia pode ainda ser vista como um caminho do pensamento e da prática exercida quando abordamos a realidade. Ela inclui as visões teóricas de abordagem, o contíguo de técnicas que possibilitam a construção da realidade, e os sopros sublimes do potencial criativo do pesquisador. (MINAYO, 2000). O método é a luz que me direciona a olhar como investigador, nos permitindo pesquisar, analisar e buscar o conhecimento que nos propomos. 6.1 Tipo de Estudo Para compreender como se desenvolveu a sexualidade durante a gestação, realizamos esta pesquisa qualitativa de caráter exploratório-descritivo, compreendendo-a como adequada. A pesquisa qualitativa é particularmente útil como uma ferramenta que determina o que foi importante para os entrevistados e porque é importante. Apesar dos riscos e dificuldades impostos em função de seu caráter subjetivo, revela-se como um instrumento instigante, desafiador da compreensão de uma realidade percorrida de diferentes formas por diferentes atores. (DUARTE, 2002). Revela áreas de consenso, tanto positivo quanto negativo, nos padrões de respostas. Ela também determina quais idéias geram uma forte reação emocional. Além disso, é especialmente útil em situações que envolvem o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas idéias. (TRIVIÑOS, 1987). De acordo com Cervo e Bervian (1993), o estudo descritivo permitiu observar, registrar, analisar e correlacionar os fatos ou fenômenos especialmente do mundo humano. Permite, ainda, abordar dados e problemas que mereceram ser estudados 35 e cujo registro não consta de documentos. Uma das formas existentes de pesquisa descritiva foi estudo exploratório. Este é realizado especialmente quando há poucos conhecimentos sobre o problema a ser estudado. Para Gil (1991) os estudos exploratórios são desenvolvidos com o objetivo de proporcionar uma visão geral do tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Refere o autor, que as pesquisas descritivas-exploratórias são habitualmente realizadas por pesquisadores que se preocupam com a atuação prática. Concordamos com Triviños (1987) ao mencionar que a pesquisa qualitativa é uma forma adequada de investigar os problemas que surgem no dia a dia da enfermagem, porque o enfermeiro tem um espaço privilegiado enquanto observador, uma vez que: [...] O observador é um indivíduo separado da vida e das atividades, [...] tornando-se pessoa familiar e conhecida terá acesso a informações mais reais e verdadeiras do que aquelas obtidas por métodos tradicionais de coleta de dados. [...] é desenvolvida numa situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma [...] contextualizada. 6.2 Local de desenvolvimento do estudo e participantes Este estudo foi desenvolvido na unidade de saúde da Coloninha, pertencente à Prefeitura Municipal de Saúde de Florianópolis. Participaram do estudo, 10 gestantes que realizaram o pré-natal na referida unidade, no período de novembro de 2007 a janeiro de 2008. Na escolha da amostragem valorizamos o potencial de representatividade que cada uma destas mulheres trouxe para a profundidade e diversidade das informações relativas ao tema em questão. Estas mulheres se apresentaram em condições de manter uma boa comunicação oral com as pesquisadoras e aceitaram participar do estudo de acordo com as Resoluções 196/96 e 251/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da pesquisa envolvendo seres humanos. 36 6.3 Instrumento usado para coleta análise e interpretação dos dados Como estratégias para o alcance dos objetivos propostos, utilizamos um roteiro de entrevista individual semi-estruturada e informal (APÊNDICE 1- Roteiro de Entrevista Individual Semi-Estruturada), aliada a observação participante (HAGUETE,1992) e a técnica da escuta sensível (BARBIER, 1993) no encontro com as gestantes, aguçando nossos sentidos e trazendo a compreensão, das expressões verbais e dos sentimentos que emergiram no contexto relacional entre as pesquisadoras e as gestantes. A entrevista tida como recurso da pesquisa qualitativa, caracteriza-se como um encontro social com características que lhe são peculiares como à empatia, a intuição e a imaginação, que entrevistado, mediam o diálogo entre o entrevistador e o abordando o entrevistado e convidando-o a participar do projeto, trazendo a apreciação dele a respeito dos objetivos e até certo ponto, da utilidade social do mesmo. (MARTINS; BICUDO, 1994). Para Dileuze e Guattari (1995) a entrevista semi-estruturada é caracterizada a partir de uma ordem preestabelecida pelo entrevistador, contendo questões fechadas e diretas, porém com possibilidade de inclusão de perguntas abertas. O método ou técnica da observação participante foi concebido por Schwartz e Schwartz, na citação de Haguette (1992), não só como um instrumento de captação de dados, mas, como um instrumento de mudança social, de modificação do meio pesquisado. Os autores a definem como um processo no qual a presença de um observador numa situação social é mantido para fins de investigação científica, numa relação face a face com os observados e, em participando com eles em seu ambiente natural de vida. Desta forma, o observador é parte do contexto e ao mesmo tempo em que o modifica, é modificado pelo mesmo. Cabral (1999) ao referir-se a escuta sensível, menciona que não é possível desconsiderar o corpo e seu movimento como possibilidade de sentir o mundo; que além de se fazerem ouvidos, e ouvir o que interessa a si mesmo e a pesquisa, exigese escutar o que interessa ao outro também, aguçando a capacidade de ver além dos limites previamente estabelecidos. 37 6.4 Análise e interpretação dos dados Para análise e interpretação dos dados utilizamos o método de “Análise de Conteúdo” de Rodrigues e Leopardi (1999), que consistiu em formar categorias de dados verbais ou comportamentais, requerendo raciocínio e criatividade do pesquisador. Segundo as autoras, este é um método de indiscutível importância na pesquisa, uma vez que os procedimentos envolvidos na mesma foram dados através de fases ou etapas, oferecendo uma margem de flexibilidade de seus conteúdos. Falando de outra forma, a análise corresponde a um agrupamento por classificação. Desta forma, seguimos as etapas descritas por Rodriges e Leopardi (1999), quais sejam: pré-análise: foi a etapa que representou a organização de todo o material existente, a resposta aos questionários e as observações realizadas. Esta organização foi concomitante com o desenvolvimento da pesquisa. Os dados da observação foram agrupados na estrutura das situações das gestantes envolvidas no estudo, facilitando a sua interpretação. descrição analítica: foi realizada a codificação, classificação e categorização das informações obtidas. interpretação inferencial: foi feita a partir dos objetivos do estudo, concomitante com a interpretação referencial, uma vez que, no processo estas duas etapas não funcionaram separadas. Segundo Rodrigues e Leopardi, (1999, p. 59): “o pesquisador deve estar atendo não só ao conteúdo manifesto, mas também ao conteúdo latente [...] que é dinâmico estrutural e histórico”. Conforme cita Goldenberg (2001), o olhar científico não se reduz a certos procedimentos metodológicos, a pesquisa exige criatividade, organização, disciplina e modéstia, porque o confronto entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e a ignorância é uma constante. 6.5 Respeito aos princípios éticos Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí através do número 521/07 (anexo 1) e pelo Comitê de ética em 38 pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, através do número 164081 ( anexo2), para o seu desenvolvimento. Após liberação por esses comitês obedecemos aos demais preceitos éticos e legais exigidos pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e complementares que dispõe sobre as diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo seres humanos, com a aplicação do termo de consentimento Livre Esclarecido ( APÊNDICE 2) contendo, em linguagem acessível, a explanação da problemática, as justificativas, os objetivos, os procedimentos a serem utilizados para a sua efetivação, os riscos e/ou desconfortos previsíveis e os benefícios as participantes, bem como a confiabilidade do estudo e a liberdade para desistir em participar do mesmo a qualquer momento, bem como a forma de assistência e responsáveis(nome e telefone das pesquisadoras). A aceitação das participantes foi negociada com as mesmas no primeiro encontro, garantindo o anonimato pela utilização de pseudônimos e o sigilo das informações fornecidas. Os pseudônimos utilizados foram nomes de pedras preciosas, como segue: Pérola, Cristal, Rubi, Esmeralda, Diamante, Ônix, Ágata, Safira, Ametista e Quartzo. Ao aceitarem participar, foi esclarecido para as gestantes o conteúdo do termo para posteriormente assinarem. Seguindo os princípios éticos da beneficência e da justiça, todos os procedimentos da pesquisa não resultaram em qualquer risco à vida, a integridade e a saúde das participantes. Todas as participantes foram tratadas de forma igualitária, sem qualquer tipo de discriminação. Todas as informações obtidas nas entrevistas permaneceram confidenciais, sendo usadas somente para este estudo. Foi mantido o sigilo profissional evitando-se emitir julgamentos sobre os conhecimentos e crenças. Respeitamos, ainda, o Código de Ética e Deontologia da Enfermagem (2001) no que diz respeito ao Capítulo IV dos Deveres: 39 Art. 35 – Solicitar consentimento do cliente ou de seu representante legal, de preferência por escrito, para realizar ou participar da pesquisa ou atividade de ensino em enfermagem, mediante apresentação da informação completa dos objetivos, riscos e benefícios, de garantia do anonimato e sigilo, do respeito à privacidade e intimidade e sua liberdade de participar ou declinar de sua participação no momento que desejar. Art. 36 – Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa humana. Art. 37 – Ser honesto no relatório dos resultados da pesquisa. 40 7 CONHECENDO O REFERENCIAL TEÓRICO Para que possamos conviver e compreender os conflitos ocorridos no cotidiano, buscamos, muitas vezes, respostas que não podem ser respondidas de imediato. Desta forma, a escolha de um marco referencial é um elemento essencial para guiar a prática e análise das situações. O marco referencial tem a finalidade de tornar explícito no conjunto do estudo o olhar, o conhecimento em construção na conceituação em que se apóia, servindo como base para as reflexões, discussões e dados sobre as ações de enfermagem possíveis Neste estudo, utilizamos alguns conceitos da Teoria do Alcance dos Objetivos. (KING, 1981). 7.1 Um pouco sobre os dados biográficos de Imogene King (GEORGE, 2002) Imógene King nasceu em 1923 e concluiu sua educação básica em enfermagem em 1945, na St. John’s Hospital School of Nursing, em St. Louis, no Missouri. No período de 1945 a 1948 trabalhou como enfermeira domiciliar, de escola e de fábrica, para custear seus estudos para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Em 1948 graduou-se em Bacharel Educação em Enfermagem na Universidade de St. Louis. De 1947 a 1958 trabalhou como instrutora e chefe de enfermagem médico-cirúrgica e depois foi subdiretora da Escola de Enfermagem no Hospital St. John’s. Recebeu o título de Mestre em Enfermagem em 1957, pela Universidade de St. Louis e de Doutora em Educação (PhD) pela Escola de Professores da Universidade de Columbia , em Nova York, no ano de 1961. No período de 1961 a 1966, King foi professora de enfermagem na Universidade de Loyola, em Chicago, onde desenvolveu um programa de enfermeira master, utilizando um sistema conceitual. Durante este período, idealizou seu livro Towardd a Theory for Nursing: General Concepts of Human Behavior, revisou a bibliografia e firmou contrato com uma editora. De 1966 a 1968 foi subchefe de investigação de enfermagem no Departamento de Saúde, Educação e Bem-estar. Enquanto se encontrava em Washington D.C., publicou o artigo Uma estrutura conceitual para enfermagem na revista Nursing Research (1968). 41 De 1968 a 1972, King foi diretora da Escola de Enfermagem da Universidade de Ohio em Columbus. O manuscrito de seu livro já se encontrava no poder da editora e foi publicado em 1971. Em Toward a Theory for Nursing, King afirma que é necessária uma representação sistemática da enfermagem para desenvolver uma ciência que associa a arte no cotidiano da enfermagem. Neste livro desenvolveu uma estrutura conceitual para ajudar a evoluir na direção de uma teoria de enfermagem. Em 1972 voltou para Chicago e retornou ao programa de graduação na Universidade de Loyola, permanecendo até 1975 como membro do Comitê Assessor para Mulheres na Defesa, incluído dentro do Serviço do Departamento de Defesa. De 1978 a 1980 trabalhou também como coordenadora de investigação em Enfermagem Clínica no Centro Médico Loyola, Departamento de Enfermagem. No ano de 1980 mudou-se para Tampa-Flórida. Trabalhou como professora no College of Nursing, Universidade do Sul da Flórida. Seu segundo livro A Theory for Nursing: Systems, Concepts and Process foi publicado em 1981. King participou como membro da Associação Americana de Enfermagem da Liga Nacional de Enfermagem e de diversas sociedades honoríficas e profissionais. Seu terceiro livro foi publicado em 1986 e chamava-se Curriculum and Instrution in Nursing. Além dos três livros, King também escreveu vários capítulos de outros livros e múltiplos artigos em revistas profissionais. Aposentou-se em 1990, porém mantém-se atuando e planejando cuidados mediante sua teoria em TampaGeneral. Em 1992, King abriu a Segunda Conferência sobre Teoria Sigma Thete Tau (KING, 1981). 7.2 A Teoria do Alcance dos Objetivos de Imogene King Conforme descrevemos anteriormente, King é uma figura marcante na enfermagem mundial pela estruturação de seu Modelo de Sistemas Abertos interatuantes, marca principal de sua teoria, que denominou de Teoria do Alcance dos Objetivos. A estrutura conceitual proposta por King compõe-se de três sistemas interativos e dinâmicos, chamados de sistemas: pessoal, inter-pessoal e social. 42 Cada indivíduo é um sistema pessoal que interagindo com outro indivíduo forma o sistema inter-pessoal, grupos de interesses e necessidades especiais criam um sistema organizado e delimitado de regras sociais, comportando os sistemas sociais. A Teoria do Alcance dos Objetivos tem seu foco no sistema inter-pessoal e nas interações que se produzem entre indivíduos, especialmente nas relações enfermeira-cliente, a fase didática. Conforme King (1981), cada sistema é composto por conceitos que se interrelacionam para atender os objetivos comuns. Os conceitos relevantes de cada um desses sistemas são: Sistema pessoal: percepção, self, crescimento e desenvolvimento, imagem corporal, espaço e tempo; Sistemas inter-pessoais: interação, comunicação, transação, papel e estresse; Sistemas sociais: organização, autoridade, poder, status e tomada de decisões. Nesta teoria King (1981), cita que a meta da enfermagem é ajudar o indivíduo a manter sua saúde para que possa desempenhar seus papéis e não detém sua preocupação somente com pacientes hospitalizados, mas também com indivíduos com doenças crônicas e sobre os que precisam de reabilitação. A autora afirma que no seu modelo conceitual é possível identificar conceitos essenciais ao conhecimento da enfermagem enquanto disciplina, permite utilizar uma prática com base teórica e desenvolver um cuidado de qualidade aos indivíduos nos hospitais, ambulatórios e comunidades. É importante oferecer um atendimento humanizado, no qual a família esteja inserida como agente deste cuidado. Acredita a autora, que ela não pode ser vista apenas como a cumpridora das determinações dos profissionais de saúde, mas sua participação deve ser considerada e incentivada em todo o processo de cuidar/curar. 43 7.2.1 Pressuposições básicas de Imogene King Para a elaboração da Teoria do Alcance dos Objetivos, King (1981) considerou que os objetos de estudo da Enfermagem são as pessoas interagindo com seu ambiente, conduzindo-os a um estado de saúde, objetivando propiciar condições para o desempenho de seus papéis sociais. Suas pressuposições específicas relacionadas às relações entre enfermeira e cliente são: As percepções da enfermeira e do cliente influenciam o processo de interação; Os objetivos, as necessidades e os valores da enfermeira e do cliente, também repercutem no processo de interação; Os indivíduos têm o direito de saber acerca de sua saúde e da saúde de seus filhos; Os indivíduos têm o direito de participar das decisões que influenciam suas vidas, sua saúde, a saúde dos seus filhos e dos serviços da comunidade; Os profissionais da saúde têm o dever de compartilhar informações que ajudem os indivíduos a tomar decisões conscientes acerca dos cuidados com sua saúde e a saúde de seus filhos; Os indivíduos têm o direito de aceitar ou rejeitar o cuidado de saúde; Os objetivos dos profissionais de saúde e dos clientes podem ser incongruentes. 7.2.2 Conceitos eleitos para utilização neste estudo Pessoas: são seres sociais, conscientes, racionais, com propósitos, orientados para a ação e no tempo, que possuem habilidades para perceber, reagir, sentir e escolher dentre alternativas o seu curso de ação e estabelecer metas e objetivos. (KING, 1981). Neste estudo, as pessoas foram representadas pelas gestantes participantes do pré-natal na unidade de saúde de escolha para realização do mesmo. 44 Consideramos que estas mulheres interagem com o ambiente, são seres sociais, conscientes, racionais e reativas, que expuseram suas necessidades e que vivenciaram o processo especial de suas vidas: a gestação. Saúde: é uma experiência dinâmica da vida dos seres humanos, a qual implica no contínuo ajustamento aos estressores no ambiente interno e externo, através da ótima utilização dos processos individuais para atingir o potencial máximo para viver no dia-a-dia. (KING, 1981). A saúde pode ser percebida, e encarada de forma diferente por cada ser humano. Neste caso foi viver a situação de sexualidade na gestação, contrabalançando esta experiência com a harmonia ou com o conflito que o momento suscitou. Ficou evidente a necessidade de compartilhar crenças, percepções e valores e, a partir dessa visão, estabelecendo objetivos e os meios, em comum acordo, na tentativa de obter saúde. Ambiente: é caracterizado como universal (porque todos os indivíduos possuem algum conceito dele), pessoal ou subjetivo, individual, situacional e dependente das relações na situação dimensional como uma função de volumes, área, distância, tempo, e transacional ou baseado na percepção que o indivíduo tem da atuação. Inclui o espaço que existe em todas as direções; é o mesmo em todo lugar e é definido pela área física conhecida como território e pelos comportamentos daqueles que o ocupam. King (1981) classifica o ambiente do ser humano em interno e externo. É no ambiente interno (a estrutura biológica e psicológica) que ocorre a transformação de energia, capacitando a pessoa a ajustar-se às contínuas mudanças do ambiente externo (espaço físico e sociedade/ meio ambiente). A satisfação depende da harmonia e balanço de cada pessoa com o ambiente interno e externo. O ambiente externo é a posição do mundo que existe do lado de fora daquele limite que está em intercâmbio direto de energia e informações com o cliente. Neste estudo, o ambiente externo foi constituído pela unidade de saúde de escolha onde foi realizado o pré-natal, acrescido das situações pessoais referentes à condição de gestação. O ambiente interno foi representado pelo estado de relações interpessoais entre as gestantes e as pesquisadoras, bem como suas percepções pessoais. Enfermagem: é um processo proposital de ação, reação, interação e transação, pelo qual enfermeira e cliente compartilham informações sobre suas 45 percepções na situação de Enfermagem e como um processo de interação humana entre enfermeira e cliente, através do qual um percebe o outro e a situação, e através da comunicação fixam objetivos, exploram meios e concordam acerca dos meios para alcançar estes objetivos. A meta da enfermagem é ajudar os indivíduos a manterem sua saúde, para que possam funcionar em seus papéis. (KING, 1981) A enfermagem, neste estudo, foi um processo de interação entre as gestantes e as pesquisadoras, numa relação de troca e ajuda, onde ambas buscaram superar as suas dificuldades e promovendo a saúde individual ou coletiva na compreensão do processo de desenvolvimento da sexualidade na gestação. Este processo envolveu a utilização de conhecimentos teóricos e habilidades práticas por parte da enfermeira que considerou a percepção da cliente. Percepção: é a representação da realidade em cada ser humano. É a consciência das pessoas, objetos e acontecimentos. Mesmo pressupondo que as pessoas vivem no mesmo mundo e têm experiências comuns, elas diferem na seleção de imagem, preceitos, experiências sensoriais e conceitos que devem penetrar no seu meio perceptivo. A percepção relaciona-se com experiências passadas, com o conceito de si mesmo, com a herança biológica, com os antecedentes educacionais e com os grupos sócio-econômicos. (KING, 1981). A percepção deste estudo foi representada pela concepção advinda do processo interativo entre as pesquisadoras e as gestantes que participaram do estudo, pois ambas chegaram à situação com uma bagagem perceptiva acerca do processo de sexualidade na gestação, vivenciando-o de diferentes maneiras e harmonizando sua consciência com o que se mostrou na realidade. Comunicação: é um processo dinâmico, pessoal, irreversível e situacional através do qual há intercâmbio de informações, pensamentos e opiniões de uma pessoa a outra, face a face ou indiretamente. É o meio pelo qual se realiza a interação social, a aprendizagem e a transação num determinado ambiente. A comunicação pode ser verbal, escrita, falada e a não verbal através de gestos, atitudes e posturas, a luz, o calor, o frio, o olfato, o paladar, o espaço físico. Isto nos dará informações do meio ambiente. Todas elas influem na interação das pessoas, bem como o tempo é percebido pelas pessoas que interagem. Um aspecto muito importante do comportamento não verbal é o tato. (KING, 1981). 46 Neste estudo comunicação foi a troca de informações, pensamentos e opiniões entre as pesquisadoras e as gestantes na discussão do processo de desenvolvimento da sexualidade durante a gravidez, permitiu que estas se identificassem reciprocamente, cada qual com seus conflitos, necessidades e expectativas a respeito da situação. Interação: é um comportamento observável de duas ou mais pessoas em presença mútua, ou ainda, é o processo de percepção e comunicação entre pessoa e meio ambiente, entre pessoa e pessoa, representada por condutas verbais e não verbais que estão orientadas para o alcance dos objetivos. São influenciadas pelos diferentes conhecimentos, necessidades, objetivos, percepções e expectativas passadas que condicionam a forma de perceber a outra pessoa e a situação, emitindo julgamento, concebendo mentalmente um curso de ação e tomando decisões para atuar. Os dados básicos obtidos através das interações podem ser analisados para determinar se houve ou não transações. (KING, 1981). Neste estudo a interação foi um processo de ação e reação entre as pesquisadoras e gestantes participantes, no qual ambas colocaram suas percepções a respeito de sua situação de enfermagem e do ambiente, emitindo o seu julgamento, levando ou não a transação. Transação: é o processo observável onde os seres humanos interatuam entre si e com seu meio ambiente para trocar pontos de vista sobre uma situação dada e mediante acordos traçam linhas de ação comum, a fim de alcançar metas mútuas. É o componente da valorização das interações humanas no tempo e no espaço. É única e traduz as experiências dos seres humanos. (KING, 1981). Neste estudo, a transação foi o conceito que mais trabalhamos para o alcance dos objetivos. Através da interação com as participantes da pesquisa, alcançamos a transação, que nos levou ao alcance dos objetivos propostos. A percepção de cada gestante influenciou o processo de ação e reação e essa interação ocorreu de acordo com a realidade de cada uma, sua noção de tempo e espaço, suas crenças, suas expectativas, seus conhecimentos e experiências passadas, estabelecendo metas e desempenhando com ou sem estresse, os seus papéis relativos ao desenvolvimento da sexualidade na gestação. Papel: é definido o grupo de condutas esperadas de uma pessoa em relação às outras, dentro da posição que ocupa num sistema social e as regras que 47 determinam seus direitos e obrigações, a fim de alcançar um propósito nas organizações. (KING, 1981). Neste estudo, papel foi definido como conjunto de condutas esperadas da pesquisadora e da gestante participante, que assumiram ações recíprocas na resposta verdadeira ao questionamento sobre o vivido com relação à sexualidade na gestação. Estresse: é um estado dinâmico, individual e subjetivo pelo o qual o ser humano interage com o ambiente para manter o balanço para o crescimento, desenvolvimento e desempenho de seus papéis. É uma resposta energética de um indivíduo a pessoas, objetos e eventos chamados estressores. Pode ser tanto negativo quanto positivo e manifesta-se na forma fisiológica, psicológica e social. Parece ser um componente essencial na vida e neste sentido é universal. Interfere na percepção, na interação, na tomada de decisões, no desempenho de seu papel e no alcance de metas pessoais. O estresse pode ajudar um indivíduo a atingir um pico de realização ou esgotá-lo. (KING, 1981). Neste estudo, o estresse foi um processo dinâmico nas interações humanas de ajuste contínuo (físico, biológico, psicológico e social) dos indivíduos (pesquisadoras e gestantes participantes) consigo mesma, com outras pessoas e com o ambiente. Autoridade: é um processo transacional caracterizado por relações ativas e recíprocas, no qual os valores, o background e a percepção dos mesmos desempenham um papel na definição, validação e aceitação da atividade dos indivíduos dentro das organizações, é o poder de tomar decisões que guiam as ações de si e dos outros. (KING, 1981). Neste estudo, a autoridade foi representada pela capacidade da gestante em processo de investigação científica, conseguem expor, com clareza, os fatores que afetaram a sua sexualidade durante o ciclo gestatório. Poder: é potencialmente energia, é essencial para a ordem social, reside em posições nas organizações e está diretamente relacionado com a autoridade. É a capacidade para utilizar recursos em organizações para atingirem objetivos... É o processo através do qual uma ou mais pessoas influenciam outras pessoas numa situação... É a capacidade ou habilidade de uma pessoa ou grupo para alcançarem objetivos... Ocorre em todos os aspectos da vida e cada pessoa possui poder em potencial, determinado por recursos individuais e forças ambientais encontradas. 48 Poder é uma força social que organiza e mantém a sociedade. Poder é a habilidade de utilizar e mobilizar recursos para alcançarem objetivos. (KING, 1981). Neste estudo, o poder foi representado pela capacidade das gestantes na tomada de decisões sobre os rumos da sua sexualidade. Tomada de decisão: é um processo em que se escolhe uma alternativa entre muitas. É a forma de dar curso a uma ação, baseada em fatos e valores para alcançar a meta. É contínuo e dinâmico na vida das pessoas, grupos e organização. (KING, 1981). Neste estudo, a tomada de decisão foi conseqüência do poder que as gestantes tiveram como a decisão sobre os rumos da sua sexualidade na gestação. Cuidado: King (1981), não define cuidado, porém diz que o foco da enfermagem é o cuidado ao ser humano, baseado nas interações inter-pessoais. Por isso cuidar para nós neste processo é compartilhar conhecimentos e auxiliar na tomada de decisões, num processo de relação interpessoal enfermeiro-cliente e enfermeira-equipe de saúde, onde todos são capazes de perceber, julgar e agir, e num processo de reação e interação, conseguirem estabelecer uma transação, culminando em diminuição dos estressores presentes no processo relativo a sexualidade na gestação. A forma principal de cuidado nesta pesquisa foi o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento aos estressores na identificação dos sentimentos das gestantes com relação ao desenvolvimento da sexualidade na gestação, assegurando sua participação consciente, dinâmica e reflexiva. Sexualidade: representa um conjunto de valores e práticas corporais culturalmente legitimados na história da humanidade. Porém, muito mais do que é pertinentes a atividade sexual e sua dimensão biológica, o conceito diz respeito a uma dimensão íntima e relacional, que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações corporais com seus pares e com o mundo. A sexualidade abarca aspectos físicos, psico-emocionais e sócio-culturais relativos a: percepção e controle do corpo, exercício do prazer/desprazer e valores e comportamentos em processos afetivos e sexuais.(HEILBORN, 1999). 49 8 - APRESENTANDO O PERFIL DAS GESTANTES PARTICIPANTES DO ESTUDO Acreditamos ser pertinente, antes de iniciar a apresentação da análise e interpretação dos dados que definiram os resultados desta pesquisa, apresentar o perfil das mulheres envolvidas, para que o leitor possa ter uma melhor compreensão do estudo em questão. 8.1 – Caracterização das gestantes Participaram desta pesquisa dez gestantes que realizavam o pré-natal na Unidade de Saúde da Coloninha no período novembro de 2007 a janeiro de 2008, quando foi realizada a coleta de dados e que experenciavam a condição de estarem grávidas. Para identificá-las utilizamos nomes de pedras preciosas, como segue: Pérola, Cristal, Rubi, Esmeralda, Diamante, Ônix, Ágata, Safira, Ametista e Quartzo. A distribuição das gestantes de acordo com a faixa etária é apresentada na tabela1: Tabela 1: Distribuição das gestantes de acordo com a faixa etária. Faixa Etária Nº de participantes 10 a 20 anos 2 20 a 30 anos 5 30 a 40 anos 3 Total 10 Fonte: Dados Brutos A tabela 1 mostra que 80% das gestantes estão na fase adulta ( idade entre 20 e 40 anos). Segundo dados do Ministério da Saúde, 14,85% das mulheres que engravidaram e ganharam seus filhos em 2005, estão na faixa etária de 10 a 19 50 anos, e os outros 75,15 % destas mulheres estão na fase adulta. (BRASIL, 2005). O que condiz com o resultado da nossa pesquisa, que mostra que 80% das gestantes estão na fase adulta. A distribuição das gestantes de acordo com a escolaridade é apresentada na tabela 2: Tabela 2: Distribuição das gestantes de acordo com o nível de escolaridade. Nível de escolaridade Nº de participantes 1º grau completo 5 2º grau completo 4 Superior incompleto 1 Total 10 Fonte: Dados Brutos Ao observarmos a tabela 2, constatamos que 50% das participantes do estudo possuíam 1º grau completo, 40% 2º grau completo e 10% o superior incompleto. Justificando estes dados, Brasil (2005) menciona que a mulher com maior escolaridade e maior possibilidade de obtenção de renda, é menos propensa a gravidez não planejada. A mulher que engravida e não tem a proteção da família e da sociedade têm maior probabilidade de abandonar a escola, aumentando o índice de mulheres com baixo nível de escolaridade. Neste sentido constatamos que as mulheres com menor nível de escolaridade, são mais propensas à gravidez, sendo também consideradas de nível socioeconômico mais baixo, o que revela deficiência na implementação de políticas públicas de atenção à saúde da mulher em nosso país. Embora a gravidez seja um fenômeno biologicamente normal, ela é um acontecimento excepcional na vida de uma mulher e de sua família e, como tal, exige um desvio na organização de valores e funções. O modo pelo qual cada mulher age durante a crise da gravidez é determinado em grande parte por seu próprio estilo, bem como pela cultura a qual vive. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). A distribuição das gestantes de acordo com o estado civil é apresentada na tabela 3: 51 Tabela 3: Distribuição das gestantes de acordo com a situação conjugal. Situação Conjugal Nº de participantes Com companheiro 8 Sem companheiro 2 Total 10 Fonte: Dados Brutos Na tabela 3 observamos que 80% das mulheres participantes possuem companheiro conjugal e 20% vivem sem companheiro. Para Raphael-Leef (1997) a gravidez pode gerar um sentimento prazeroso se a mulher possuir um companheiro fixo, mesmo se acontecer no contexto de um casal que não desejava um filho. O autor descreve ainda, que dependendo do grau de intimidade do casal, eles podem compartilhar as alegrias e expectativas da “novidade”. Corroborando a citação anterior, Ziegel e Cranley (1985) salientam que o ajustamento da sexualidade durante a gestação, dependerá do completo relacionamento do casal, de sua maturidade, cultura, situação conjugal e sentimentos com respeito à gravidez. O ato sexual pode simplesmente mudar de uma atividade recreativa ou procriativa para uma de mútua criação ou expressão de experiências corporais. A concepção de uma criança desejada intensifica a ternura no ato sexual, aproximando o casal em sua nova condição de futuros pais. O casal pode experimentar um rejuvenescimento do desejo sexual, quando uma gravidez planejada é alcançada ou surge de forma inesperada, porém desejada. (RAPHAELLEEF, 1997). Se o casal possui um relacionamento amoroso ou estável, os parceiros serão capazes de transmitir seus sentimentos e adaptar-se-ão com maior facilidade à condição gestacional, encarando o relacionamento sexual com mais uma forma de experiência da sua intimidade. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). Para muitas mulheres, a criança concebida numa relação amorosa, é em si mesma a essência do amor, ou comprovação deste. Para outras, concepção 52 significa posse de um corpo sexual ativo e/ou evidência de feminilidade, virilidade ou potência. (RAPHAEL-LEEF, 1997). A distribuição das gestantes de acordo com a idade gestacional é apresentada na tabela 4: Tabela 4: Distribuição das gestantes de acordo com a idade gestacional. Idade Gestacional Nº de participantes 1º trimestre 1 2º trimestre 4 3º trimestre 5 Total 10 Fonte: Dados Brutos Na tabela 4, observamos que 50% das entrevistadas estavam no terceiro trimestre de gestação, 40% no segundo trimestre e 10% no primeiro trimestre. Rubi estava no primeiro trimestre, Esmeralda, Pérola, Ágata e Cristal estavam no segundo trimestre e Diamante, Safira, ônix, Ametista e Quartzo estavam no terceiro trimestre de gravidez. Como entrevistamos gestantes nos três trimestres de gestação, descreveremos a seguir um resumo de como se comporta a sexualidade nos três trimestres da gravidez. Para Ziegel e Cranley (1985), o desejo sexual durante a gestação pode variar de uma mulher para outra e, mesmo, de uma ocasião para outra para a mesma grávida. De maneira geral, ocorre uma discreta diminuição da atividade sexual no primeiro trimestre, devido a fadiga, e talvez, a náusea. Durante o segundo trimestre o aumento da congestão pélvica, tende a intensificar o desejo sexual, que inclusive pode exceder ao habitual para aquela mulher em particular. Novamente no terceiro trimestre, reduz-se o interesse pelo coito, uma vez que o feto cresce e pede mais da energia da mulher. A autora descreve ainda que as posições para o coito precisarão ser alteradas várias vezes durante a gestação, buscando-se assim maior conforto. Durante o primeiro trimestre a sensibilidade das mamas pode impedir uma pressão direta sobre elas, enquanto no terceiro trimestre o útero excessivamente aumentado impossibilita a posição tradicional, onde o parceiro masculino permanece 53 por cima. No último trimestre diminui o desejo da mulher pelo contato sexual e aumenta sua necessidade física de aconchego. A distribuição das gestantes segundo a situação empregatícia é apresentada na tabela 5: Tabela 5: Distribuição das gestantes de acordo com a situação empregatícia. Situação Empregatícia Nº de participantes Emprego formal 5 Desempregada 4 Emprego informal 1 Total 10 Fonte: Dados Brutos A tabela 5 mostra que 50% das mulheres participantes desta pesquisa possuem emprego formal, 40% estão desempregadas e 10% possuem emprego informal. Sendo assim podemos constatar que 50% das gestantes estão inseridas no mercado de trabalho. Muitos motivos têm levado a mulher para o mercado de trabalho: a emancipação feminina e a opção por um projeto profissional, o desemprego ou a perda de renda do cônjuge e o crescimento do número de mulheres chefes de famílias. Este ingresso da mulher no mercado de trabalho, no entanto, não tem sido fácil, devido à conjuntura político-econômica dos últimos anos, que tem criado muitas barreiras para todas as pessoas que procuram ocupação. (SANCHES; GEBRIN, 2003). Outras adversidades, porém, agravam ainda mais a situação da participação feminina no mercado de trabalho. Traduzidas em diversas formas de discriminação, revelam-se por meio de baixos salários, ocupação de postos precários, discriminação na contratação e ascensão, desemprego. (SANCHES; GEBRIN, 2003). Para Raphael-Leff (1997) o problema trabalho/gravidez afeta a mulher em todo o mundo. O adiamento da gravidez para facilitar o desenvolvimento da carreira significa que muitas mães em potencial têm um alto grau de responsabilidade em 54 seus afazeres não domésticos. Para cada mulher, o problema do retorno ao trabalho envolve dilemas pessoais no equilíbrio do desejo de auto atualização e as exigências da gravidez e maternidade, de acordo com sua própria orientação. O autor descreve ainda que os padrões de trabalho variam para diferentes mulheres em diferentes etapas da gravidez, dependendo de como cada futura mãe se sente com relação às exigências de seu trabalho específico e o significado que esse assume nesta ocasião de sua vida. Também estão implicadas as injuções de sua situação sócio econômica, expectativas culturais e crenças explicativas em sua sociedade. Encerramos desta forma, a caracterização das gestantes participantes da pesquisa. Apresentaremos, a seguir, os resultados obtidos através das falas de cada gestante, em resposta aos objetivos propostos. Para tanto, os depoimentos obtidos através das entrevistas serão apresentados e analisados através de justificativas com referência em literaturas específicas. Convém salientar que a abrangência das entrevistas e a grande disposição das gestantes em contribuir para a nossa pesquisa, trouxeram-nos uma riqueza de dados sobre a sexualidade na gestação, nos oferecendo um panorama amplo da fase na qual elas estavam vivendo. E é isso que pretendemos apresentar. 8.2 – Respondendo ao primeiro objetivo: os aspectos positivos da sexualidade na gestação. A gravidez é episódio fisiológico na vida da mulher. Em função dela seu organismo foi lentamente se preparando e adaptando num processo de modificações gerais e locais que a levaram da puberdade à maturidade sexual. (REZENDE, 1999). Portanto, para muitas mulheres, a gestação é um processo fisiológico, uma etapa a mais da sua vida reprodutiva. Partindo desta concepção Cristal menciona que a gravidez não alterou em nada a sua sexualidade, como pôde demonstrar através da sua fala: Eu vejo como normal, nada alterou. (CRISTAL). 55 Por outro lado, estar grávida mostrar-se mulher em sua “plenitude”, tornar-se mãe, é uma experiência rica e ameaçadora, pois uma gravidez gera não só um lindo bebê, que vem realizar sonhos ou retratar uma condição sublime, mas gera, paralelamente, uma multiplicidade de reações e emoções ambíguas. No entanto, a vivência de conflitos e transtornos psicológicos durante esta fase da vida da mulher é, ainda hoje, um assunto marginalizado, uma vez que não são percebidos ou, quando muito, encarados com exacerbada naturalidade e superficialidade. É comum verificarmos que nem a própria grávida é capaz de detectar ou nomear claramente o que está vivenciando. (BARACHO, 2007). Para Luz, Berni e Selli (2007), durante a gravidez a mulher percebe o filho como presença concreta dentro de si, o que lhe provoca certos cuidados que lhe impõem moderação e limites como medidas de preservação da saúde do feto. A gravidez é vista como um risco, um evento que pode ocorrer ou que está sujeito a inúmeras possibilidades aleatórias, mascaradas sob a forma de certezas e dúvidas, como pode ser exemplificado pelas palavras de Cristal. Agora mesmo que não dá mais, a gente têm medo...Será que não vai prejudicar o bebê? (CRISTAL) Sabemos, ainda, que as determinações sociais interferem na sexualidade de homens e mulheres e estabelecem atitudes próprias (diferentes) para ambos os sexos: cabe à mulher a responsabilidade do cuidado e da saúde dos filhos. (LUZ; BERNI; SELLI, 2007). Constatam-se os mitos criados sobre a maternidade e como eles se desvelam na vivência destas mulheres em sua cultura: responsabilidade única da mulher, não apenas dever, mas tarefa altamente idealizada, cercada de emoções por todos os lados. O amor materno é apenas sentimento humano e, como tal, incerto, frágil e imperfeito. Essas mulheres, mesmo ao viverem e assumirem a maternidade tomam para si o que lhes é socialmente cobrado e manifestam atitudes de exigência do papel masculino.(LUZ; BERNI; SELLI, 2007). Nesta perspectiva, Diamante expressou o apresso do marido que tornara-se mais gentil com ela durante a gestação. Ele estava bem cuidadoso comigo, preocupado, com medo de machucar a barriga (o bebê). (DIAMANTE) 56 No relacionamento homem/mulher, muitas vezes, as mulheres percebem-se em um processo mágico que inclui, conseqüentemente, responsabilidades. Esse processo é resultante da interpretação que fazem das atitudes e comportamentos do companheiro, principalmente nos encontros íntimos. A percepção desta experiência não se restringe as interações estabelecidas nestes momentos, mas incide na expectativa das interações de estabilidade futuras: ser protegida e sustentada, constituir um lar e uma família. (LUZ; BERNI; SELLI, 2007). A afetividade entre o casal aumenta principalmente se a gravidez é planejada e muito esperada. A diminuição da freqüência do ritmo sexual é perfeitamente compreensível pelo aumento do volume do útero que requer muita afetividade para as adaptações físicas e também emocionais. (MARTINS et al, 2008). Como em muitas outras situações da vida conjugal, homem e mulher reagem de forma diferente perante a afetividade sexual na gravidez. Não existe um comportamento típico para os casais grávidos, o único ponto em comum é que todos se confrontam com um aumento simultâneo de carinho e de medo. (MARTINS et al, 2008). A expressão deste carinho e medo que se interpõe, ficou clara na fala de Ágata. Ele ta bem atencioso comigo. Agora ele ta mais carinhoso, ta mais devagar, fala que não pode machucar o nosso bebê. (ÁGATA) Para Rico (2000), se o casal encontra-se num relacionamento estável, maduro e sólido, a vinda de um filho poderá uni-los de um modo mais pleno, ou mesmo se a intimidade entre os parceiros propicia um diálogo aberto e honesto, há possibilidade de se poder descobrir outros jeitos de relacionar-se sexualmente sem que haja penetração. Segundo Stoppard (1995), a gravidez é uma fase que permite a maior cumplicidade entre os parceiros ao descobrirem juntos, novos formas de buscar o prazer. Entendemos que estas experiências amorosas e sexuais, marcarão o início de uma vida sexual mais feliz e prazerosa; a criatividade e a cumplicidade do casal tornarão o ato sexual um momento especial durante a gestação, aprofundando o relacionamento conjugal de forma construtiva. Segundo Balaskas (1999), relação sexual é a expressão de afeto instintiva que coloca nossos corpos em contato e nossas almas em harmonia. E foi neste sentido que Diamante expressou seus sentimentos: 57 Na minha gravidez toda, eu criei um sentimento melhor pelo meu marido, parecia que amava ele mais ainda, foi uma coisa boa. Cada vez que tínhamos relação era com bastante carinho. (DIAMANTE). Desta forma, entendemos que a gravidez desponta como um momento no qual o casal tem a oportunidade de consolidar seu relacionamento e reafirmar seu amor, pois ambos se encontram embebidos de sensibilidade. Nesta perspectiva, a atividade sexual na gravidez como no pós parto, pode atingir níveis mais elevados quando os sintomas físicos da mulher são relevantes ou inexistentes (desconforto, dores, sangramentos vaginais). ( SILVA; FIGUEIREDO, 2005). Para Ágata, a sua sexualidade se tornou melhor durante a gravidez, como foi relatado em sua fala. Ah, ta melhor do que eu esperava. (ÁGATA) As alterações da vagina são devidas principalmente ao aumento da vascularização. Os vasos sanguíneos ficam realmente maiores. Essa mudança faz com que o tom rosado do revestimento mucoso, mude para vermelho ou mesmo púrpura. A mucosa fica mais espessa, ocorre hipertrofia dos músculos e o tecido conjuntivo fica mais frouxo. A descarga vaginal originária das glândulas cervicais é mais profusa. As alterações na vulva incluem edema e a vascularização aumentada, os tecidos perineais exibem alterações semelhantes as da vagina – maior vascularização, hipertrofia da pele e músculos e afrouxamento dos tecidos conjuntivos. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). As mudanças no corpo gravídico foram percebidas por Diamante e expressas em sua fala. Teve uma época que tive bastante vontade e logo chegava ao orgasmo. Notei que a vagina também ficou diferente. (DIAMANTE) Para Balaskas (1999) sentir orgasmo é perfeitamente seguro e na realidade pode ser bom para tonificar o útero e preparar o corpo para o parto, que por si só representa uma liberação orgástica. O período de relaxamento e felicidade que se segue ao orgasmo é calmo e vigoroso e produzirá uma grande onda de amor pelo bebê. 58 O significado médico e psicológico do relacionamento sexual no casal durante o período da gravidez, reveste-se de grande importância. Por um lado, a atividade sexual pode constituir um fator de risco, através da penetração e do orgasmo feminino, que podem prejudicar o feto; por outro lado, pode ser um fator protetor, dado a atividade sexual constituir também uma fonte importante de satisfação e bem-estar conjugal. A satisfação com o relacionamento marital diminui marcadamente durante a gravidez e depois do nascimento do primeiro filho. (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). A dúvida se reflete na fala de Cristal, que acha que deve existir sexo na gravidez, mas se pergunta se pode ser prejudicial ou não ao bebê. Deveria sim, se não prejudicar o bebê? (CRISTAL). As freqüentes dificuldades conjugais podem ter um impacto negativo a médio e longo prazo, quer ao nível da saúde física, quer ao nível do bem estar psicológico da mulher e do homem. (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). Segundo Mainou e Giménez (1995), o homem também passa por uma série de mudanças de atitude em relação ao sexo com a mulher grávida. O principal problema que o preocupa, é o medo de causar algum dano à gestante ou ao futuro bebê. O homem também pode apresentar certas dificuldades psicológicas que inibam seu desejo sexual, quase sempre relacionada com o medo de machucar a companheira, de sentir-se repelido, ou pela idéia de que a parceira já não sente interesse por ele, porque deixaram de ser amantes para se tornarem pais. Não só os aspectos psicológicos da mulher são afetados durante a gravidez, mas também os do seu companheiro, como é expresso na fala de Diamante. Às vezes ele tinha medo de machucar e conversava comigo sobre isso. (DIAMANTE). Maldonado (1986) refere que as alterações do desejo e do desempenho sexual tendem a surgir com maior intensidade a partir do segundo trimestre, embora às vezes se manifestem desde o início da gravidez. Quanto ao desejo sexual e a freqüência das relações na gestação, há controvérsias nos estudos. Para Sueiro, et al (1998), o desejo sexual e a freqüência sexual não são afetados pela gravidez. Aquilo que se observa são mudanças ao 59 nível do comportamento sexual, nomeadamente ao nível das posições do coito. Conforme podemos observar na fala de Diamante. Ele estava bem cuidadoso comigo, preocupado, com medo de machucar a barriga; Aí na posição papai e mamãe, ele tinha mais medo, porque ficava em cima da barriga. (DIAMANTE). Algumas mulheres têm uma redução do desejo sexual durante a gravidez, principalmente nos primeiros meses, quando ainda se sentem vulneráveis ou sofrem cansaço ou náusea. Estes sentimentos normalmente ocorrem na metade da gestação, mas podem voltar nas semanas que antecedem o parto, quando o peso do útero causa certo desconforto. Uma perda completa do apetite sexual durante a gravidez também pode ocorrer e é bastante normal. (BALASKAS, 1999). Todavia Silva e Figueiredo (2005), a gestação está associada a uma diminuição significativa na freqüência mensal do relacionamento sexual com penetração, na medida em que aponta para uma redução do desejo sexual, da freqüência do coito e da satisfação sexual. Contudo, um número reduzido de mulheres relata a perda total do desejo sexual e da satisfação e a interrupção do coito sexual durante o último trimestre. Para Diamante o último trimestre foi marcado pela diminuição do desejo sexual, diminuindo com isso a freqüência das relações, conforme relata em sua fala. Notei que no início da gravidez as relações sexuais eram melhores, depois eu já não sentia muito prazer, já no final eu não conseguia. (DIAMANTE). O interesse das mulheres por carícias/ternura mantém-se, contudo inalterado ou aumenta no período gravídico. De igual modo a preferência por atividades eróticas tende a manter-se sem variação na gravidez e no pós parto. Porém a estimulação vaginal torna-se menos importante no segundo e no terceiro trimestres, em geral as mulheres preferem carícias. (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). Rubi relata em sua fala que o companheiro respeita a sua vontade, quando ela diz querer apenas carinho. Ele até procura, mas se ele vê que vai rolar alguma coisa tudo bem. Se ele vê que eu quero carinho, fica só no carinho. (RUBI). 60 A ternura e a troca de carícias entre o casal diminuem quando é estabelecida uma relação rígida e superprotetora por parte da mãe o que converge com a hipótese levantada de que a diminuição da satisfação marital se encontra intimamente ligada com a questão da atenção que é disponibilizada para o cônjuge. A qualidade da vida marital está associada à satisfação sexual, no homem está ainda associada à atividade coital e a troca de carícias. (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). Alguns casais estão conscientes do desejo de ter um filho e a intenção de iniciar uma gravidez pode tornar sua vida sexual muito especial. Muitas vezes, no entanto, a concepção não é planejada, mais pode ser comemorada por meio da sexualidade durante a gravidez. Este é o momento no qual a mulher e seu parceiro estarão consolidando seu relacionamento e ambos precisarão dar e receber amor e afeto, ser tocados, acariciados e reafirmados em seu amor. Mais do que nunca, a intimidade, o carinho mútuo, o respeito e a consideração pelas necessidades um do outro são importantes. (BALASKAS, 1999). 8.3 Respondendo ao segundo objetivo: os aspectos negativos da sexualidade na gestação A gravidez é vista com um misto de sagrado e profano e ao constatá-la, a mulher é envolvida por uma aura de mistério que, de certa maneira, revela o esforço para recriar o mundo, remodelá-lo. Quando o sagrado se manifesta, revelam-se no espaço sagrado do corpo da mulher grávida as relações místicas com o Universo. A possibilidade de dar à luz é uma variante, na escala humana, da fertilidade na terra. Entretanto, a gravidez está vinculada ao profano, a um ato fisiológico que remete ao relacionamento sexual, uma impureza mundana. Estar grávida gera na mulher sentimentos vinculados à possibilidade de experienciar os objetivos e as circunstâncias da vida como ameaçadoras, e, sua sensibilidade, incita-lhe medo. Assim compreende-se porque, muitas vezes, não infringem os tabus: coisas sagradas devem ser protegidas da profanação. (LUZ; BERNI; SELLI, 2007). Nos primeiros três meses de gestação, tremendos ajustamentos emocionais e fisiológicos precisam ser feitos pela mulher grávida. Ela está se tornando uma espécie diferente de pessoa, tanto em termos de seu eu físico (pode estar muito 61 cansada, sofrer enjôos e vômitos), quanto em termos de seus sentimentos sobre si mesma e seu corpo. (KITZINGER, 1987). Maldonado (1986) refere que no primeiro trimestre da gestação a mulher sente mais necessidade de dormir do que normalmente. É como se o organismo se preparasse para as tensões fisiológicas adicionais aumentando a necessidade de repouso. Para Soifer (1992), este fenômeno é interpretado em termos de regressão e identificação da mulher com o feto. As maiorias das mulheres experimentam fadiga acentuada e lassidão no início da gravidez. Requer muitas horas de sono durante essa ocasião em comparação ao que realmente necessitava. Esse sentimento de grande fadiga, em geral, desaparece no final do terceiro mês de gestação, porém retorna durante o último trimestre da gravidez. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). O sintoma de sonolência, favorecendo a negação dos estímulos, revela-se proveitoso além de constituir uma defesa biológica adequada, que proporciona ao organismo uma quota maior de repouso, necessária para o trabalho que inicia. Por outro lado, a insônia deve ser considerada como expressão de uma situação de externa de ansiedade frente à gravidez. (SOIFER, 1992). Além disto, profundas alterações fisiológicas ocorrem no corpo materno durante a gravidez, envolvendo todos os sistemas. Esses ajustes funcionais em resposta a carga fisiológica aumentada começam na primeira semana de gestação e continuam durante toda ela. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). As alterações fisiológicas observadas na gravidez decorrem principalmente de fatores hormonais e mecânicos. Os ajustes verificados no organismo da mulher devem ser considerados normais durante o estado gravídico, enquanto determinem, por vezes, pequenos sintomas molestos à gestante. (REZENDE, 1999). As palavras de Rubi são exemplos claros da conjugação destes sintomas emocionais e físicos: Não tenho vontade. Não que incomode: é que a gente fica mais incomodada... Mais preguiçosa! Só quer dormir! ( RUBI). No início da gravidez a mulher, frequentemente, sente-se fisicamente ativada e emocionalmente arrebatada. Experimentando agitado bem estar durante o dia, ela 62 pode ser surpreendida ao encontrar-se inusitadamente fatigada e emocionalmente arrasada ao cair da noite. (RAPHAEL-LEEF, 1997). A lombalgia é uma queixa comum na gestação. Decorre da fadiga muscular e do estiramento que acompanha o desequilíbrio. A lombalgia e outros desconfortos, incluindo as varicosidades e o edema de pés e tornozelos, podem ser devidos à postura incorreta. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). Para Ziegel e Cranley (1985) as mamas aumentam de tamanho e firmeza, e ficam nodulares, por causa da hipertrofia dos alvéolos. O aumento é perceptível, algumas semanas após a concepção e continua por toda a gestação. Há também um aumento na vascularização no início da gravidez, e as veias superficiais ficam mais proeminentes. Essas alterações são geralmente acompanhadas por uma sensação de dor, formigamento e peso nas mamas no início da gravidez. Nos últimos três meses, ela pode ficar muito aflita com o peso de sua carga, incapaz de conseguir longos períodos de sono porque sente dentro do seu corpo algo como um jogo de futebol, ou por causa da azia. (KITZINGER, 1987). A vivência da sexualidade na situação de diamante demonstrou as dificuldades devido aos sintomas físicos decorrentes da gestação. No início comecei a sentir bastante enjôo, os meus seios começaram a ficar mais doloridos, eu tinha bastante vontade, só que não queria que tocasse nos meus seios, porque eles estavam doloridos (DIAMANTE). O abdome modifica de contorno à medida que o útero em crescimento estende-se para dentro da cavidade abdominal, ocupando-a cada vez mais, até que o feto contido pelo útero fique completamente dentro dela. Pelo fim da gravidez, o fundo uterino terá subido de modo a exercer pressão contra o diafragma. Os órgãos abdominais superiores ficam espremidos na parte superior da cavidade abdominal e os intestinos ficam acima, por trás e dos lados do útero. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). O peso do útero aumenta cerca de 20 vezes durante a gravidez de cerca de 60 g, antes da gestação, para cerca de 1000 g, ao termo. Ao fim da gravidez o útero tem de 30 a 35 cm de comprimento, de 20 a 25 cm de largura e 22 cm de profundidade. Sua capacidade terá aumentado de 500 a 1000 vezes, de aproximadamente 10 ml ou menos para uma média de 5000 ml. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). 63 A postura da mulher grávida se desarranja, precedendo mesmo a expansão de volume do útero gestante. Quando, porém a matriz evadida da pelve apóia-se a parede abdominal, e as mamas dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, o centro da gravidade se desvia para adiante. Todo o corpo se joga para trás, compensatoriamente. A atitude adotada então é, de modo involuntário, e de quem carrega objeto pesado, mantendo-o com as duas mãos, adiante do abdome. (REZENDE, 1999). Se a mulher sofre de náusea gravídica e seus seios ficam intumescidos e doloridos, se ela sente que todos os seus encantos físicos estão sendo apagados pela maternidade, as relações sexuais não podem mais ser o ritual para a pacificação das brigas, o ritual segundo o qual a aproximação física toma o lugar da falta de compreensão entre duas pessoas que podem achar difícil o ajustamento uma à outra. (KITZINGER, 1987). A náusea da gravidez pode ocorrer a qualquer momento durante o dia, porém aparece com mais freqüência de manhã cedo, assim que a mulher se levanta. Outro momento do dia onde ocorre náusea é no final da tarde ou o início do anoitecer, por volta da hora do jantar. (ZIEGEL e CRANLEY, 1985). Para Ziegel e Cranley (1985) a pirose é uma sintomatologia de muitas gestantes. É causado pelo refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago, sendo descrita como uma sensação de ardor, de início gástrico e posteriormente atingindo a garganta. Para a autora supracitada, o mal estar é uma forma de desconforto vago e mal definido, ocorre depois da alimentação. Pode não se manifestar nem como dor, nem como pirose, porém se parece com ambas e faz com que a mulher se sinta bastante desconfortável. Essas alterações corporais que se sucedem ao longo da gravidez, associamse por vezes, sentimentos de perda da auto-estima, devido a percepções subjetivas de fraca atratividade física e incapacidade de sedução. Freqüentemente também subsiste a idéia de irreversibilidade relativa à imagem corporal anterior à gravidez. (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). É fato que mudanças orgânicas da mulher grávida interferem sobremaneira no comportamento sexual do parceiro. A freqüente necessidade de mudanças de posição coital, a sensibilidade dos seios intumescidos e as mudanças gerais que ocorrem no corpo da grávida, fazem com tais situações se reflitam no 64 comportamento do companheiro. Além disso, para muitos homens a mulher grávida torna-se menos atrativa. Este é outro aspecto importante, o sentimento de fealdade, base de muitas depressões e fantasias ciumentas a respeito do marido e de seu possível afastamento numa relação extraconjugal. É também o momento em que diminui a libido sexual, dando ensejo a tais fantasias. O sentimento de fealdade encobre o desvio das vivências culposas derivadas do horror ao incesto (como a idéia do filho disforme), vivências que se exprimem mediante o mecanismo de apaziguamento do perseguidor: “sou feia, ele não me quer, quer a outra.” (SOIFER, 1992). A expressão desses sentimentos pode ser identificada nas falas de Esmeralda: Ele me falou que mulher grávida não é bonita, perde o valor. Daí eu fiquei meio assim... sem saber se é verdade ou mentira o que ele disse. (Esmeralda). Homem sempre gosta de fazer e ele não tem interesse, aí a gente fica pensando, por quê? (ESMERALDA). Outro sintoma importante na gestação é a ansiedade. Esta exprime o conflito de ambivalência, devido a intensificação das vivências persecutórias que existem por si mesmas frente à maternidade: são o produto dos sentimentos de culpa infantil tanto pelos ataques fantasiados à própria mãe como pelos desejos de ocupar seu lugar. A ansiedade aparece conscientemente de várias maneiras: como temor ao filho disforme, como medo de morrer no parto ou como angústia do próprio corpo disforme e medo de permanecer assim. (SOIFER, 1992). A ansiedade manifestada através da insegurança quanto a continuidade de um relacionamento sexual e afetivo forte com o companheiro, bem como o medo de perdê-lo, ficou evidente nas falas de Diamante e Rubi. Eu ficava um pouco insegura. Antes da gravidez já era assim, com medo de ele ter outra pessoa. Então, na gravidez aumentou, ainda mais, esta insegurança. (DIAMANTE). Quando eu acordo, eu penso, porque ele não quis me acordar, será que ele não quis me procurar? (RUBI). Segundo Mainou e Giménez ( 1995), a mulher grávida tem mais necessidade de amor e carinho do que antes da gravidez. 65 Para Ziegel e Cranley (1985) embora a gravidez seja um evento biologicamente normal, é um evento especial na vida da mulher distinto de outros períodos de sua vida, em que ocorrem alterações fisiológicas, emocionais e psicológicas intensas, além das perspectivas com a silhueta e aspecto, levando a gestante a perguntar “quem sou eu?”. Desta forma Maldonado (1986) cita que a gestação é, juntamente com a adolescência e o climatério, um período crítico de transição, mais que faz parte do processo normal de desenvolvimento. Desta maneira o caráter da gestante, assim como todo o seu corpo pode sofrer algumas modificações, pois a readaptação hormonal que ocorre neste período, pode provocar na futura mãe irritabilidade, sentimentos depressivos, etc. Com toda esta ambivalência de sentimentos a mulher grávida vive a sua sexualidade passando por várias turbulências emocionais, e nesses momentos achamos que não pode deixar de existir o diálogo entre o casal, afim de que, não haja mal-entendidos. A fala de Pérola confirma a citação de Vianna (2008) que diz que há grávidas que mantém sua sexualidade à tona do início ao fim da gestação, assim como o inverso: ausência total da libido, nojo do próprio corpo e do marido, etc. Tenho enjôo dele, do cheiro dele! Quando estou longe sinto vontade de ficar perto dele, mas quando chego perto, o cheiro dele já enjoa. (PÉROLA). Kitzinger (1987) relata, que a mulher pode não ter mais condições para realizar o ato sexual com o mesmo abandono despreocupado de antes, o que se agrava ainda mais pelo fato de ela sentir que o seu companheiro pode não continuar a desejá-la com o corpo assim deformado, e fica com medo de perder o seu amor. Sexo durante a gravidez é perfeitamente seguro. O feto em desenvolvimento está bem protegido pelo líquido amniótico e pelas membranas, e uma penetração profunda, não prejudicará o feto. Algumas vezes a relação sexual pode provocar um leve sangramento, porque os vasos sangüíneos ao redor do colo uterino ficam mais cheios durante a gravidez e um deles pode se romper. Normalmente isto não é motivo para preocupação. É pouco provável que a relação sexual provoque aborto, mas as mulheres com tendência a abortar frequentemente são aconselhadas a 66 evitar um contato sexual completo durante as primeiras 12 semanas, até que a gravidez esteja estabilizada. (BALASKAS, 1999). Para ilustrar esta afirmação científica, escolhemos as palavras de Ágata e Diamante. Tive um sangramento. Quando fui ao médico ele disse que era normal; que era pelo crescimento do útero. (ÀGATA). Teve uma situação em que a gente teve relações e sangrou um pouco, então fiquei preocupada com medo de perder o bebê. (DIAMANTE). Segundo Marzano (2000) a freqüência, as posições sexuais e as variações sexuais devem ser discutidas com o casal e se necessário, com o profissional de saúde. A dor, o sangramento, perda de líquidos vaginais e doenças como diabetes e hipertensão arterial e outras, podem alterar o ritmo sexual do casal. Em alguns casos as relações podem implicar em risco acentuado com interrupção da gravidez. 67 9 - RECOMENDAÇÕES A sexualidade humana é um processo pouco discutido em nosso meio, seja por crenças, tabus, preconceitos, fazendo com que muitas vezes este assunto passe despercebido. A sexualidade é um processo natural do ser humano, sendo para muitos autores uma necessidade humana básica, assim como comer e dormir, faz parte do bem estar do homem e da mulher. Assim também na gravidez é um assunto que merece destaque pois a gestante não deixa de ser mulher e como tal têm direito a uma sexualidade livre, esclarecida e decidida. Aos profissionais de saúde: Que os profissionais repensem a abordagem da gestante/ companheiro, atentando ao ser humano como um todo, provida de uma sexualidade livre e esclarecida. Que a comunicação seja uma ferramenta poderosa na interação enfermeira/cliente, fazendo com que o diálogo e o entendimento facilitem a vivência sexual da mulher e seu companheiro durante a gestação. Que ousem aproximações no seu dia a dia de cuidar do binômio mãe/pai que experenciam o processo de nascimento, quer seja pelo toque terapêutico, quer seja pelo olhar, pelo gesto, pela expressão facial, reconhecendo as peculiaridades e as fragilidades do momento num cuidado atencioso e compreensivo. Que a empatia seja sentimento fundamental na interação entre a gestante/pai e o profissional de enfermagem, pois uma atitude sensível e humanizada é importante no relacionamento humano. 68 Que os profissionais de saúde ajudem o casal a identificar e lidar com suas reações emocionais diante da experiência da vida sexual durante a gestação; Que os profissionais de saúde estejam conscientes do seu papel como educadores, na tentativa de diminuir o estresse e o medo vivenciado pelo casal grávido, diante da sua sexualidade; Que os profissionais de saúde respeitem os sentimentos e crenças deste casal, que já trazem consigo uma bagagem cultural respeito de sua sexualidade. 69 10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A gravidez é caracterizada por mudanças biológicas, psicológicas e sociais intensas na vida de um casal. Sendo uma fase de transição que necessariamente exige equilíbrios e adaptação dos envolvidos é, também, momento propício para uma nova integração da sexualidade. Como mencionam Silva e Figueiredo (2005), esta integração pode se processar de forma positiva ou negativa, aprofundando a vivência sexual na relação dos parceiros ou desencadeando dificuldades variadas que afetarão a saúde física e psicológica da gestante e seu parceiro. Tomando em consideração, ainda, que a gestação e a sexualidade são temas cerceados de tabus e mitos e que há uma tendência social, profissional e acadêmica na ignoração de elementos essenciais, como os fatores psicossociais, conceituais e individuais, nosso trabalho monográfico servirá de contribuição científica para a profissão e a sociedade, especificamente, para as mulheres que são ou vão ser gestantes. O ato de oportunizar espaço para ouvir os sentimentos, aspirações, medos, limitações, das gestantes na sua sexualidade possibilitou a aproximação destas, com seus verdadeiros interesses e aspirações, independente das crenças, valorizando assim seus sentimentos e vontades através de uma sexualidade, livre, esclarecida, decidida e sem preconceitos subsidiando a construção de um cuidado sensível, apoiado na empatia, compreensão e interação entre equipe de enfermagem, pais e bebês. Assim como os pseudônimos escolhidos, pedras preciosas, a gravidez também é um momento precioso e único na vida do casal grávido, e tudo aquilo que é vivido durante este período especial fica profundamente marcado na vida destes. Uma sexualidade vivida de forma intensa, livre de preocupações, medos e incertezas, faz com que este período seja especial para o casal e consequentemente para o bebê. As mulheres participantes deste estudo conseguiram exteriorizar seus sentimentos mais íntimos a respeito da sua sexualidade, trazendo a tona emoções e dúvidas que até então se encontravam guardadas, pois para estas mulheres a oportunidade de falar sobre o assunto lhes proporcionou bem estar na medida em que desabafaram seus medos, anseios e alegrias, dividindo suas experiências com 70 nós, acadêmicas que, como elas, somos mulheres e passamos pela experiência da gestação. Podemos observar que os aspectos negativos foram mais relevantes nas falas destas mulheres, sobressaindo-se sobre os aspectos positivos que relatados em algumas falas demonstrou que o amor e o carinho são fundamentais na vida do ser humano, especialmente nesta fase em que a mulher encontra-se mais sensível, percebendo com maior significado o carinho do seu companheiro. 71 11 REFERÊNCIAS ÁVILA, A. A. Socorro doutor: atrás da barriga tem gente. São Paulo: Atheneu, 1998. BADINTER, E. 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Número de Filhos: Praticante? 2- Dados para responder os objetivos do estudo Fale-nos sobre sua vida sexual antes da gestação Fale-nos sobre sua vida sexual na gestação (é uma experiência nova, é diferente, que sentimentos desperta em você, por que razão?...) Como você vê a questão sexual durante a gravidez (na sua experiência atual e em experiências anteriores, se possuir)? Você consegue me falar sobre situações que interferem de forma positiva para a sua sexualidade por estar grávida? Você consegue identificar fatores negativos, isto é, que prejudiquem a sua vida sexual por estar grávida? Tanto os fatores positivos, quanto os negativos, possuem relação com a postura de seu companheiro e/ou com a condição de estar grávida? Fale-me sobre os mesmos. Quais eram as suas expectativas com relação a resposta do seu companheiro a sua sexualidade durante a gravidez? Como você percebe esta resposta? Há algo mais que você queira me relatar, que não tenhamos perguntado? 79 APÊNDICE 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Nós, Andreza da Silva Malaquias e Maria Elizabete do Amaral Assunção, acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI – Campus Biguaçu, pretendemos desenvolver uma pesquisa com as mulheres atendidas na unidade de saúde da Coloninha com o objetivo de identificar como se apresenta a sexualidade na gestação na perspectiva da gestante na região da Grande Florianópolis e os pontos positivos e negativos em relação a este tema. Objetivos da Pesquisa: Compreender como se desenvolve a sexualidade durante a gestação. Identificar os fatores que interferem positivamente e negativamente na sexualidade durante a gestação. Identificar as expectativas da gestante com relação à resposta do companheiro a sua sexualidade. As informações fornecidas pelas usuárias decorrerão dos nossos encontros, onde serão registradas através de questionários que seguirá a Resolução N° 196/96 sobre a pesquisa com seres humanos, respeitando os preceitos éticos e legais no que diz respeito ao: Riscos e/ou desconfortos possíveis: a participação neste estudo não estará associada a nenhum risco para a sua saúde e /ou seu (a) filho (a). Mas você precisará dispor de algum tempo para os encontros. Benefícios para os participantes: através da sua participação, você poderá relatar seus anseios, dificuldades, sensações de perda ou alívio, indecisões sobre a sexualidade na gestação. Além disto, você estará ajudando a obter informações que serão importantes para a melhoria da qualidade da assistência, prestada as usuárias/gestantes que utiliza a instituição de saúde. Garantindo o sigilo: as informações que vocês/usuárias fornecerem durante os encontros serão estritamente confidenciais, seu nome nem de qualquer membro da família não será citado na apresentação desta pesquisa. Conseqüências da decisão em não participar ou abandonar a pesquisa: vocês/usuárias terão a liberdade de recusar-se a participar em qualquer fase da pesquisa, sem penalização e sem prejuízo para si. Esclarecimentos de dúvidas: Caso vocês, gestantes, encontrarem dúvidas desta pesquisa, ou por se sentir prejudicada por estar participando deste estudo, poderá procurar ou telefonar para a professora Maria de Lourdes Campos Hames, orientadora desta pesquisa, pelo fone (48) 8411 6981 ou 3257 6307. Eu, ________________________________________________, de acordo com os termos descritos acima, declaro para os devidos fins, que estou ciente da proposta oferecida. Neste sentido concordo em colaborar com esta pesquisa, além disso, responderei as questões obtidas no questionário, desde que seja garantida a confiabilidade de minha identificação e o direito de desistir da participação em qualquer momento. ____________________________ Assinatura da participante 80 ANEXOS 81 ANEXO 1 82 83 ANEXO 2