VI Seminário de Iniciação Científica – SóLetras - 2009 ISSN 1808-9216
O INTÉRPRETE E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO REGULAR
Luiz Renato Martins da Rocha (G – UENP)
[email protected]
Sonia Maria Dechandt Brochado (Orientadora – UENP)
No presente trabalho, propõe-se abordar a inclusão de
surdos, nas salas de aulas do ensino regular do Brasil, apresentando
reflexões sobre este tema e ressaltando a função do intérprete neste
contexto.
Com base em entrevista aberta, realizada com duas
intérpretes de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, atuantes na rede
regular de ensino de uma cidade do interior do Paraná, pretende-se
relatar esta experiência na sala de aula. Fundamentando-se nas respostas
da entrevista é que se conduz as reflexões do presente trabalho.
O movimento da chamada educação inclusiva, que emerge
apoiado pela Declaração de Salamanca (1994), defende o compromisso
que a escola deve assumir de educar cada estudante, contemplando a
pedagogia da diversidade, pois todos os alunos deverão estar dentro da
escola regular, independente de sua origem social, étnica ou lingüística.
LACERDA (2000), alerta para o fato de que o aluno surdo,
freqüentemente, não compartilha uma língua com seus colegas e professores, estando em desigualdade lingüística em sala de aula, sem garantia
de acesso aos conhecimentos trabalhados, aspectos estes, em geral, não
problematizados ou contemplados pelas práticas inclusivas. A principal necessidade educativa especial dos surdos é lingüística, pois tem uma barreira comunicacional, a língua oral dos ouvintes, necessitando da língua de
sinais, que é visual, sinalizada, com uma gramática única e adequada a
sua cultura.
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Em geral, o aluno surdo é usuário de uma língua que
nenhum companheiro ou professor conhece. Ele é um estrangeiro que tem
acesso aos conhecimentos de um modo distinto dos demais e se mantém
isolado do grupo. A questão da língua é fundamental, pois, sem ela, as
relações mais aprofundadas são impossíveis, não se pode falar de
sentimentos, de emoções, de dúvidas, de pontos de vista diversos. Daí o
surgimento e a importância do instrutor surdo e do intérprete, no
panorama educacional inclusivo.
A história dos intérpretes se deu a partir de suas atividades
voluntárias e na medida em que os surdos foram conquistando o seu
exercício de cidadania. Quando a língua de sinais passou a fazer parte do
contexto escolar e o acesso a ela, direito lingüístico do surdo, as
instituições se viram obrigadas a garantir a acessibilidade através da
presença do profissional Intérprete de língua de sinais.
Isto começou a ocorrer no Brasil, na década de 90.
Contudo, a presença de um intérprete de LIBRAS em escolas brasileiras é,
sem dúvida, algo ainda pouco comum. A desinformação dos professores e
o desconhecimento sobre a surdez e sobre modos adequados de
atendimento ao aluno surdo são freqüentes.
O Intérprete, em nosso país, é o profissional que domina a
Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa, fazendo a interpretação
da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa. O ato de interpretar
deve se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada
na língua fonte, por isso este precisa ter conhecimento técnico para que
suas escolhas sejam apropriadas. Neste ato de interpretar faz-se
necessário: confiabilidade, imparcialidade, discrição, distância profissional
e fidelidade. Este profissional tem o código de ética, que é um
instrumento que orienta sua atuação, pois este deve estar presente em
seu cotidiano.
O intérprete é o profissional que irá intermediar as relações
entre professores e os alunos, bem como entre os colegas surdos e os
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colegas ouvintes. Segundo QUADROS (2004:51), o seu nível de atuação
depende do nível de participação do surdo na sociedade.
Objetivando reafirmar o papel desse profissional no contexto
inclusivo do surdo, realizamos uma pesquisa com duas intérpretes,
aplicando uma entrevista aberta com questões sobre o exercício dessa
função na sala de aula com surdos, suas necessidades e dificuldades, a
fim de refletir sobre essa função no contexto da surdez (vide Anexo 1).
Na função de intérprete, foi solicitado aos entrevistados que
fossem relatadas algumas experiências vivenciadas em sala de aula, como
preconceitos, dificuldades e que apontassem possíveis sugestões para
uma atuação mais satisfatória à inclusão do aluno surdo.
Foi relatado por parte dos entrevistados que o corpo
docente está despreparado, pois este vê o intérprete como um professor
que está avaliando as suas práticas pedagógicas. Atribuem ao intérprete a
responsabilidade do aluno não aprender, pois estes desconhecem que a
função dele não é de professor, e sim de mediador. Foram relatadas
também as dificuldades observadas em sala de aula, decorrentes da falta
de conhecimento do professor sobre o aluno surdo, como: falta de
aceitação da escrita do surdo, falta de avaliações diferenciadas, ditados
para surdo, passar o conteúdo e explicar ao mesmo tempo, falta de
recursos visuais e aulas totalmente expositivas.
Mediante estes apontamentos, foi solicitado ao intérprete
uma possível sugestão para uma atuação mais satisfatória na educação do
aluno surdo. Unânimes, disseram que o corpo docente precisa conhecer
mais sobre a educação inclusiva e as necessidades educacionais especiais
do surdo. Portanto, apresenta-se como uma proposta de educação
inclusiva, mas na realidade existe uma escassez de intérpretes e faltam
cursos de capacitação continuada para viabilizar práticas pedagógicas
inclusivas por parte dos professores. Assim, o projeto de inclusão precisa
ser concretizado com responsabilidade, pois senão o mesmo se torna
exclusão.
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Segundo QUADROS (2004:19) a Língua Brasileira de Sinais
é uma língua visual-espacial, articulada através das mãos, expressões
faciais e corpo, sendo esta utilizada pelas comunidades surdas brasileiras.
Foi homologada em 24 de Abril de 2002, a Lei Federal nº 10.436, que
reconhece LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais, como língua oficial das
comunidades surdas brasileiras. A partir daí nosso país passa a ter duas
línguas, o Português, como língua natural dos ouvintes, e a LIBRAS, língua
natural da comunidade surda.
Apesar de as leis do sistema educacional brasileiro garantir
a inclusão de alunos com necessidades especiais na rede regular de
ensino, segundo o censo oficial de 2000, o Brasil tem uma população de
182 milhões, dos quais 5,75 milhões são surdos, equivalente à população
inteira da Dinamarca. Deste total, 796.344 tinham menos de 24 anos. Já
no
censo
de
2003,
foi
constatado
que
56.024
surdos
estavam
matriculados nas escolas primárias e secundárias do país, com 2.041
formando-se do ensino médio; Portanto, a maior parte desses alunos
ainda está fora de qualquer tipo de escola.
Na
realidade
brasileira,
são
poucas
as
pessoas
com
formação específica para atuarem como intérpretes de LIBRAS. Tem
crescido o número de cursos oferecidos, todavia eles se concentram nos
grandes centros, atingindo um número restrito de pessoas. Desse modo, é
difícil encontrar, em cidades do interior, pessoas com formação específica
como intérprete de LIBRAS e que se disponham a atuar como intérprete
educacional, já que este trabalho exige dedicação de muitas horas
semanais, com horários fixos.
Deste modo, indaga-se, através da análise, se essa inclusão ocorre ou se essas competências estariam no plano do discurso e não
sendo vivenciadas nas salas de aulas.
LACERDA (2006:166) declara que a inclusão vem como uma
proposta adequada para o sistema que, vem se mostrando disposto ao
contato com as “diferenças”, porém não necessariamente satisfatória para
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aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais, pois estes
necessitam de uma série de condições que, na maioria dos casos, não têm
sido propiciadas.
A inclusão de alunos surdos no ensino regular significa mais
que apenas criar vagas e proporcionar recursos materiais, requer uma escola e uma sociedade inclusivas, que assegurem igualdade de oportunidades a todos os alunos, contando com professores capacitados e compromissados com a educação para todos.
Além disso, a presença do intérprete de língua de sinais não
é suficiente para uma inclusão satisfatória, sendo necessária uma série de
outras providências para que este aluno possa ser atendido adequadamente, como adequação curricular, aspectos didáticos e metodológicos,
conhecimentos sobre a surdez e sobre a língua de sinais, entre outros.
Referências
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. declaração de Salamanca e
linhas
de
ação
sobre
necessidades
educativas
especiais.
Brasília,MEC:1994.
LACERDA, C.B.F. A inserção da criança surda em classe de crianças
ouvintes: focalizando a organização do trabalho pedagógico, Disponível
em: <www.anped.org.br> Acesso em: 2000.
QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e Intérprete de língua
brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC: SEESP, 2004.
LACERDA, C.B.F . Inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem
alunos professores e intérpretes sobre esta experiência. Campinas-SP
Disponível em http://www.cedes.unicamp.br Acesso em: 2006
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Anexo 1
ENTREVISTA ABERTA
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REFLEXÃO SOBRE A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA
Solicitamos autorização do(a) autor(a) para coleta e divulgação de dados de pesquisa
de campo, destinada a subsidiar trabalho de pesquisa de iniciação científica,
compromentendo-nos com a não divulgação dos dados pessoais dos informantes.
ASSINATURA DO
INFORMANTE:____________________________________________________________
1) RELATO DE EXPERIÊNCIAS EM SALA DE AULA
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2) DIFICULDADES ENCONTRADAS EM SALA DE AULA NA FUNÇÃO DE
INTÉPRETE
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3) SUGESTÕES PARA ATUAÇÃO MAIS SATISFATÓRIA NA EDUCAÇÃO DO
ALUNO SURDO
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