I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
A PRODUÇÃO DE FUMO NA BAHIA: UMA ANÁLISE TERRITORIAL
José Antonio de Oliveira Fonseca
Mestrando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social - Universidade
Católica do Salvador - UCSAL (e-mail: [email protected])
INTRODUÇÃO
O presente artigo é parte do resultado preliminar da dissertação de mestrado
intitulada- Territorialidade da cultura do fumo em Cruz das Almas: tradições e mudanças.
Que tem como objetivo geral analisar a dinâmica territorial do desenvolvimento de Cruz das
Almas a partir da produção de fumo. Para alcançar o objetivo foi feita a delimitação do
território fumageiro na Bahia, em seguida, foi contextualizada a fumicultura em Cruz das
Almas, onde pôde se entender que a decadência na produção de fumo tem gerado
diferentes realidades no território cruzalmense, desde as transformações arquitetônicas,
com o surgimento de novos investimentos no setor educacional, no comércio e na indústria,
e ainda promovendo novas territorialidades.
A produção de fumo na Bahia é marcada por diferentes situações, crises, apogeus,
políticas antitabagismo, e fragilidades econômicas, que é susceptível á atividade fumageira
por ser produzida na perspectiva da exportação, visto que o mercado externo passa por
turbulências sociais, políticas, econômicas e cambiais. Sendo assim, a fumicultura é sujeita
aos processos desencadeados pela conjuntura do comércio exterior, onde os reflexos
atingem a produção agrícola, a industrialização e a dinâmica do território.
Conforme os dados do IBGE (2008), o mercado de fumo na Bahia vem
experimentando a queda da produção, e mesmo a fumicultura ter passado por várias
situações, a produção ainda é polarizada em alguns municípios. A partir dessa situação,
surge a necessidade de delimitar o território do fumo na Bahia, para se conhecer os limites
territoriais da produção nos municípios baianos, e entender Cruz das Almas, que é o
principal objeto desse estudo. De acordo com os dados do IBGE (2008), o município de
Cruz das Almas é o maior produtor de fumo da Bahia desde a década de 1980, e
atualmente passa por fase de declínio da produção, causando nova realidade social, política
e econômica no território.
Para discutir essa realidade, o presente artigo foi organizado em cinco seções. Iniciase com uma apresentação da agroindústria fumageira na Bahia. Na seguinte seção é feito a
delimitação do território fumageiro na Bahia. A terceira seção é abordada as questões
referentes ao território fumageiro de Cruz das Almas. Na quarta seção discute-se o percurso
metodológico e na última seção são feitas algumas considerações.
220
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A AGROINDÚSTRIA FUMAGEIRA NA BAHIA
O cerne da agroindústria do fumo na Bahia é representado por uma estrutura
agrícola contextualizada pela presença de pequenas e médias propriedades produtoras de
fumo, vinculadas as empresas beneficiadoras, fábricas de charutos e armazéns de
beneficiamento que juntos formam o complexo agroindustrial do fumo na Bahia1. Esse
complexo inclui a participação de vários municípios, que segundo os dados do IBGE (2008),
os principais são Cruz das Almas, Sapeaçu, Cabaçeiras do Paraguaçu, Governador
Mangabeira, Muritiba, Livramento de Nossa Senhora, Esplanada, São Felipe, Seabra, Sátiro
Dias, Antas, Feira de Santana,Conceição do Almeida, Inhambupe, Jacobina, Ipecaeta,
Santo Estevão, Coração de Maria, São Gonçalo dos Campos, Ouriçangas, Cicero Dantas,
Macaúbas, Pedrão, Castro Alves, Alagoinhas, Fátima , Antonio Cardoso e outros com
volumes de produção abaixo de 30 toneladas por ano,
sendo que a maioria desses
municípios estão localizados no Recôncavo, e se relacionam através da similaridade da
produção do fumo em quantidade e qualidade, para atender a demanda do mercado interno
e externo.
Alguns dos municípios que compõe o atual complexo agroindustrial fumageiro da
Bahia, mantém-se na liderança da produção por vários anos, construindo uma trajetória por
períodos de crescimento e decrescimento constantes, gerando oscilações na economia
baiana.
Segundo o SINDITABACO (2009), a fumicultura baiana produz atualmente as
variedades de fumo “Brasil-Bahia, destinado a capa e enchimento do charuto, SumatraBrasil, especial para capa clara de charutos, e Cuba-Brasil que produz capa escura para
fabricação de charutos e cigarrilhas.” A produção do fumo na Bahia, ultimamente é discutida
pelos empresários do setor e também pelos produtores rurais, pelo fato de estar havendo
nos últimos anos a redução, tanto na área plantada, como na produção em toneladas,
conforme demonstra a tabela abaixo.
Tabela 1- Produção de fumo na Bahia, 1990 a 2008
Ano-Safra
Área plantada em hectare
Produção em toneladas
1990
1991
1992
1993
1994
17.038
16.606
15.681
12.364
13.912
10.549
11.617
7.583
5.261
11.250
1
Nome aplicado por esse estudo ao aglomerado de empresas produtoras de fumo, armazéns de
beneficiamento e fábricas de charutos localizadas no Recôncavo e seus arredores.
221
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1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
16.475
16.847
14.607
13.597
12.300
10.399
10.597
11.164
12.458
10.894
11.950
12.930
11.413
8.445
11.970
12.944
9.630
10.508
9.491
8.419
8.846
9.947
11.192
9.730
10.987
13.069
10.722
8.662
Fonte: IBGE, 2008
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2010
A tabela 1 mostra a produção de fumo na Bahia, onde observa-se a existência de
crescimento e decrescimento do volume produzido durante o período analisado. O ano de
90 merece destaque, pois, nesse período, ocorreu a maior quantidade de área plantada com
fumo na Bahia, 17.038 hectares. Em contrapartida, o ano de 2008, foi o que menos se
plantou o fumo, apenas 8.445 hectares. Baseando-se nesses dados do IBGE, a redução da
área plantada com fumo na Bahia em 2008, pode representar uma possível crise do setor
fumageiro, podendo ter como conseqüências a diminuição da produção e da geração de
emprego e renda para toda sociedade envolvida na agroindústria fumageira na Bahia. A
redução da produção pode afetar outro segmento importante para a economia do estado- a
exportação -. Pois, parte da produção de fumo na Bahia é direcionada para o comércio
internacional, o que é mostrado na tabela 2
Tabela 2- Produção e exportação de fumo não manufaturado na Bahia, 2000 a 2008
Ano-Safra
Produção
Exportação
(em toneladas)
(em toneladas)
2000
8.419
4.400
2001
8.846
2.992
2002
9.947
2.847
2003
11.192
4.006
2004
9.730
3.784
2005
10.987
3.433
2006
13.069
4.128
222
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2007
2008
Municípios
Total
10.722
2000
2001
8.662
2002 2003
91.574
2.817.
2004
2005
3.611
2006 2007
29.201
2008
Fonte: MDIC/ Secex ,2008
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2010
Na Tabela 2 fica caracterizado que o fumo produzido na Bahia, tem grande aceitação
no mercado externo. Segundo a SEAGRI-BA (1999), “a produção baiana de fumo já nasce
integrada ao mercado internacional, por apresentar boa qualidade em nível mundial.” Por
conseguinte, ao longo dos anos, a Bahia especializou-se na produção de fumos castanhos,
cuja coloração varia de marrom bem claro a uma tonalidade mais escura, favorecendo a
produção de charutos e cigarrilhas para atingir a demanda do mercado externo, que a cada
dia torna-se mais exigente (SEAGRI, 1999, p.17).
Para a SEAGRI-BA (1999), a competitividade da fumicultura entre a produção baiana
e sulista, acontece até os dias atuais, mesmo tratando-se de cultivos e finalidades
diferentes, as duas regiões sempre buscam aumentar o volume produzido, para atingir o
objetivo maior “o lucro e a rentabilidade”. Para que esses objetivos sejam alcançados, é
necessário que o produtor tenha uma boa relação com as práticas agrícolas, o qual precisa
de cuidados especiais para favorecer o desenvolvimento da produtividade. No estado da
Bahia, a maioria dos municípios possui características que favorecem a fumicultura, com
resultados quantitativos no produto final, conforme podem ser observados no quadro a
seguir
Quadro 1- Os municípios da Bahia com maior produção de fumo em toneladas, 2000 a 2008
223
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Cruz das Almas
1.413
1.425
1.440
1.471
1.484
1.487
2.178
1.828
1.800
Sapeaçu
Cabaceiras do
Paraguaçu
Governador
Mangabeira
Muritiba
Livramento de N
Senhora
São Felipe
1.406
1.417
1.434
1.466
1.471
1.476
2.160
1.512
1.452
726
926
1.200
1.500
1.720
1.600
1.440
1.437
1.293
345
676
1.000
1.300
1.470
1.470
1.400
1.395
1.256
264
409
500
600
700
750
720
710
635
245
245
245
245
225
196
216
196
196
163
165
168
171
173
180
264
180
164
Feira de Santana
160
180
281
682
78
405
473
117
107
Santo Estevão
São Gonçalo dos
Campos
Total
405
408
426
438
230
389
518
608
65
432
450
474
516
234
450
539
627
55
5.559
6.301
7.168
8.389
7.785
8.403
9.908
8.610
7.023
Fonte: IBGE, 2008
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2010
O quadro 1 evidencia a produção de fumo nos municípios baianos, verifica-se que o
total produzido por Cruz das Almas, Sapeaçu e Cabaceiras do Paraguaçu desde o ano
2000, corresponde a mais de 50% da produção total dos dez municípios constantes na
tabela. Baseando-se nesses dados, pode-se constatar que os três municípios são a base da
agroindústria do fumo na Bahia, que é um composto empresarial complexo, para se
entender essa realidade, necessita-se de estudos cada vez mais detalhados sobre o
território fumageiro na Bahia e a sua delimitação, o se faz no discurso da
próxima
abordagem.
DELIMITAÇÃO DO TERRITÓRIO FUMAGEIRO NA BAHIA
O território fumageiro na Bahia é composto por vários municípios que produzem o
fumo em grande quantidade para os diferentes mercados, independente da sua localização
geográfica, ou do contexto regional.
Nesse momento, para se desenvolver um estudo
sistematizado da fumicultura da Bahia, é necessário fazer a delimitação do território, mesmo
sabendo que delimitar o território é uma tarefa difícil, principalmente pelo fato da existência
das complexidades nas relações que acontecem nesse contexto. Mais difícil seria, se ao
delimitar o território, não fosse levado em consideração os fatos históricos, políticos, sociais,
econômicos, geográficos e em alguns casos, o envolvimento do território com uma
determinada atividade agrícola no contexto regional ou local.
224
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Sendo assim, para facilitar esse processo, foi feito a delimitação do território do fumo
na Bahia. A delimitação não envolve todos os municípios do Recôncavo da Bahia2, o que é
comum nas publicações sobre a delimitação da área de estudo referente à fumicultura,
quando são abordados todos os municípios que fazem parte do Recôncavo e que produzem
o fumo, independente da quantidade, da espécie e da finalidade do uso.
Para fazer a delimitação do território do fumo na Bahia, tomou-se como referência o
município de Cruz das Almas, que conforme os dados do IBGE (2008) é o maior produtor e
reconhecido como o principal elo da cadeia produtiva do fumo no Recôncavo. A partir dessa
idéia, adotou-se o entrelaçamento dos valores referentes à produção de fumo: a) área
plantada com o fumo em hectare; b) quantidade de fumo produzida em toneladas; c)
rendimento médio da produção em quilograma por hectare; d) contigüidade territorial dos
municípios produtores de fumo da Bahia em relação a Cruz das Almas
Para sistematizar a delimitação, foram importantes os dados do IBGE, que trazem
Cruz das Almas como a maior área plantada em hectares, e a maior produção em toneladas
com a média em torno de 1.614 toneladas, com o rendimento médio de produtividade
alcançando 1.200 kg/hectare, no espaço temporal de 2000 a 2008, e ainda o município é
localizado em uma faixa territorial contígua com vários municípios produtores de fumo do
Recôncavo da Bahia.
Bahia
Território fumageiro
Fonte: IBGE, 2008
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2010
2
Chama-se de Recôncavo a Região que circunda a Bahia de todos os Santos, formando o grande
anfiteatro no qual, há mais de quatrocentos anos, se vem desenrolando um dos mais antigos
capítulos da colonização do Brasil, que serve de começo e que exatamente ali tem hoje uma
perspectiva mais promissora do seu futuro (COSTA PINTO, 1998, p.103)
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Esta delimitação do território fumageiro, feita exclusivamente para o referido estudo,
engloba quase todas “as sociedades” ligadas na tradição do plantio de fumo. Dessa
maneira, foram identificados os municípios que fazem parte dessa delimitação que são:
Cruz das Almas, Sapeaçu, Cabaceiras do Paraguaçu, Governador Mangabeira, Muritiba,
São Gonçalo dos Campos, Santo Estevão, Feira de Santana, Antonio Cardoso, Irará,
Ipecaeta, São Felipe, Conceição de Maria, Conceição do Almeida, Inhambupe, Esplanada.
A partir desse limite, foram considerados para essa pesquisa os municípios
supracitados que estão interligados pela rede de relações necessária ao substanciamento
das atividades da fumicultura, formando o recorte territorial do atual “Território fumageiro da
Bahia.” Dessa forma, ficou delimitado o território fumageiro na Bahia, exclusivamente para
esse trabalho, independente da regionalização pré- estabelecidas por órgão oficiais ou por
outros pesquisadores.
O TERRITÓRIO FUMAGEIRO DE CRUZ DAS ALMAS
A economia do município de Cruz das Almas tem como base principal o comércio e
serviços, e uma parcela da agricultura, que é centrada nos minifúndios, com as culturas de
mandioca, laranja, feijão e o fumo, que constitui objeto desse estudo.
A existência da
fumicultura em Cruz das Almas proporcionou a esse município, o destaque na produção do
fumo e dos seus subprodutos, fortalecendo a cada dia a construção do território, através da
dinâmica da sociedade envolvida na produção de fumo, processos, alianças e conflitos, em
que todos são responsáveis pela materialização do território fumageiro cruzalmense.
No caminho percorrido para caracterizar o território do fumo em Cruz das Almas,
foram encontrados vários produtores de fumo, nos povoados Embira, Boca da Mata, Pumba,
Lisboa, Vila Rebouças, Toquinha, Caminhoá, Combé, Bebe Água, Ponto Certo, Sapucaia,
Vila Tuá e Tapera. Nestas localidades, o sistema de cultivo é basicamente familiar, onde
alguns agricultores plantam o fumo como uma alternativa de renda, por ser uma cultura que
em pequena área pode proporcionar boa rentabilidade econômica. Ficou constatado na
pesquisa de campo, que parte dos agricultores dos povoados de Cruz das Almas, ocupa
com o fumo uma pequena percentagem da propriedade, já que o restante utiliza com
culturas complementares, conforme demonstra a tabela 3.
Tabela 3 – Pequenas propriedades onde o fumo é plantado em Cruz das Almas, 2009
Povoados
Área total da
propriedade
Área plantada
com fumo
226
% da área total da
propriedade
plantada c/fumo
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Pumba
Lisboa
Embira
Bebe Água
Boca da Mata
Boca da Mata
Tapera
Ponto Certo
Vila Poções
Vila Tuá
Sapucaia
Total
2,0 ha
3,0 há
3,0 ha
4,0 ha
4,0 ha
2,0 ha
1,0 ha
1,0 ha
1,5 ha
1,0 ha
2,0 ha
24,5 ha
0,5 ha
0,5 ha
1,0 ha
0,3 ha
0,3 ha
0,5 ha
0,5 ha
0,5 ha
0,3 ha
0,5 ha
0,2 ha
4,4 ha
25,0%
16,6%
33,3%
7,5%
7,5%
25,0%
50,0%
50,0%
20,0%
50,0%
10,0%
26,81%
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2009
No espaço urbano, o território fumageiro é representado pelas estruturas
arquitetônicas dos armazéns de beneficiamento e pelas fábricas de charutos instaladas na
cidade. No espaço rural, o território do fumo tem como referência as pequenas propriedades
e algumas fazendas produtoras. Algumas propriedades são cadastradas, e recebem
subsídios, assistência técnica e financeira das empresas beneficiadoras, com o objetivo de
produzir com qualidade e quantidade. Mesmo assim, pode-se observar na tabela 3, que nas
pequenas propriedades analisadas, são plantadas com fumo apenas uma média de 26,81%
do total da área. Enquanto isso, as fazendas produtoras plantam em maior área, conforme
somam maior área que as pequenas propriedades, conforme é apresentado no quadro 2.
Quadro 2 – Fazendas produtoras de fumo localizadas em Cruz das Almas, 2009
Fazendas produtoras de
fumo/Armazéns de beneficiamentos
Danco Comércio e Ind. de Fumos Ltda.
Áreas das propriedades
plantadas com o fumo
(ha)
740
Empregados
976
Ermor Tabarama Tabacos do Brasil Ltda
150
1.587
Fumex Tabacalera Tab. Brasil Ltda
350
738
Tabanor- Tabacos do Nordeste Ltda.
107
77
1.347
3.378
Total
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
Elaboração: José Antonio Fonseca2009
O quadro 2 mostra que as empresas de fumo, plantam em áreas maiores que os
pequenos produtores, além de usarem a tecnologia para plantio e cultivo do fumo,
227
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necessitam também de muita mão de obra, mesmo com a sazonalidade da cultura,
o
trabalhador tem a garantia de salário e renda por determinado período do ano.
A agroindústria do fumo em Cruz das Almas é também representada pelas fábricas de
charutos que geram empregos para muitos operários, principalmente a grande quantidade
de mulheres – as charuteiras-, o setor atualmente está reduzindo com apenas 194
empregos, conforme o quadro 3 a seguir.
Tabela 4- Fábricas de charutos instaladas em Cruz das Almas e a geração de empregos,
2009
Data de
Implantação
Nº empregos
diretos
Empregados
terceirizados
Charutos Leite Alves Ltda.
1999
54
25
Josefina Tabacos Ltda.
Luiz Sandes C. e
Cigarrilhas
Charutos S. Salvador
2001
14
03
2003
08
01
2006
05
01
Tabaqueira Le Cigar
1997
07
01
MR Charutos Ltda.
2001
09
02
Tabacos I. Da Bahia Ltda.
2002
04
01
Tabacos Mata Fina
2007
34
08
Don Francisco Charutos
Maria Gomes Simões
Velame
2006
11
02
1990
03
01
--
149
45
Nome da Empresa
Total
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
Elaboração: José Antonio Fonseca2009
As formas associativas também fazem parte do território fumageiro de Cruz das
Almas, contextualizadas através do Sindicato da Indústria do Tabaco- (SINDITABACO) e o
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Fumo e da Alimentação de Cruz das Almas(SINTIFA), atualmente com apenas 46 associados.
Essas associações sindicais são representatividades tanto do fumicultor como das
empresas produtoras de fumo. Todos esses elementos são integrantes do território
fumageiro, agentes responsáveis pelo desenvolvimento da fumicultura em Cruz das Almas e
nos municípios vizinhos.
Constatou-se ainda que, grande parte das empresas beneficiadoras de fumo possui
técnicos que prestam assistência às pequenas propriedades, entre estes profissionais estão
os engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas. Além da assistência técnica e financeira,
228
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as empresas coordenam e custeiam o transporte da produção, desde a propriedade até o
armazém de beneficiamento. Apesar do processo de assistência que os produtores de fumo
têm recebido, está diminuindo, aos poucos, a sua participação na fumicultura, em
decorrência da redução dos lucros, e das questões voltadas para as políticas antitabaco.
Tabela 5 - Número de produtores cadastrados nas empresas de beneficiamento de fumo de
Cruz das Almas e arredores, 2008 e 2009
Empresas produtoras de fumo/armazéns de
beneficiamento
Danco Comércio e Indústria de Fumos Ltda.
Nº de produtores cadastrados
2008
2009
612
560
Ermor Tabarama Tabacos do Brasil Ltda.
1.100
700
Fumex Tabacalera Tabacos do Brasil Ltda.
1.800
1.100
133
107
Tabanor- Tabacos do Nordeste Ltda.
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2010
Atualmente, o complexo fumageiro cruzalmense é composto por quatro empresas
produtoras e beneficiadora do fumo, o numero de empresas foi reduzido gradativamente no
decorrer da década de 1990, algumas foram desativadas, outras absorvida por empresas
maiores e o restante foi vendida, diminuindo a representatividade no município. Tudo isso
aconteceu “em decorrência do atraso técnico da fumicultura baiana e pela forte concorrência
das empresas européias” (NARDI,1996,p.15).
Com isso, as estruturas usadas por essas empresas algumas ficaram abandonadas,
outras deram lugar a novos empreendimentos, criando uma nova dinâmica territorial em
Cruz das Almas.
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Tabela 5- Armazéns de fumo da década de 1970, e suas novas funcionalidades em Cruz
das Almas, 2010
Nº
Empresas que compravam ou
beneficiavam o fumo em Cruz das
Almas
01
Armazém de Carlito Costa
Armazém da Ermor Tabarama
R Amado Queiroz, 107 tabela
02
Armazém de Dr. Ramiro Passos
Depósito da Danco Com Ind.
R R Barbosa, 965
03
Armazém Tamaba
Condomínio Residencial
R S Mendes, 640
04
Armazém de Carlos Carvalho
Depósito da Fumex Tabacalera
R S. Mendes, sn
05
Ponto de Compra do Sr. Almerindo
Serralheria Rodrigues
Rua S Mendes, 335
06
Car Leone Com Ind. de Fumos
Igreja Universal
R Juracy Magalhães 106
07
Suerdieck
Beneficiamento de limão
Rua treze de maio, 281
08
Armazém de Overbeck
Beneficiamento de fumo da
Ermor
R. Luiz Eloi passos,133
09
Armazém Danço Com de Fumos
Beneficiamento do fumo
R C Trajano Andrade, 133
10
Armazém Carl Leone Ind. de Fumos
Fumex (depósito) Junção das
Empresas
R Antonio Silveira França 24
11
Armazém da Suerdieck
Tabanor-Tabacos do Nordeste
12
Armazém Ovberbeck (Jorge
Almeida)
Beneficiamento da Ermor
Tabarama
Rua Crisostemo Fernandes,
671
R Jose da Rocha Passos,
242
13
Armazém de Garrido
Lojas Cacife de móveis
Av. Alberto Passos 213
14
Armazém da Suerdieck (extensão)
Depósito do Sup. São Paulo
Rua Ribeiro dos Santos 177
15
Fábrica Suerdieck
Supermercado Todo Dia
Rua Crisosgtmo. Fernandes
16
Armazém de Dr. Luiz de A.Passos
Supermercado São Paulo
Rua 15 de novembro, 25
17
Armazém de Dr. Luiz de A.Passos
Supermercados Rio Branco Ltda. Rua Otens, 30
18
Armazém de Dr. Luiz de A Passos
19
Armazém de Sr. Álvaro Brandão
20
Armazém do Sr. João Peixoto da
Silva
Moto Peças Pereira Ltda.
Rua J.B. da Fonseca 91
21
Armazém do Sr. João Gonçalves
Famam-Faculdade Maria Milza
Rua Manoel C. Rocha 308
22
Armazém de Cristovão Pinto
Junta do Ministério do Trabalho
Rua J B Fonseca s/n
23
Armazém do Sr. Julio Rocha
Bombonierre Rio doce Ltda.
Rua J.B. da Fonseca, 52
24
Armazém de Zinho Peixoto
Eletrônica de Renério
Rua J J SEABRA- 193
25
Fumex Tabacalera Ltda.
Beneficiamento do fumo
Rua José C.Rocha 81
26
Transcontinental Com ind. Fumos
Fumex Tabacalera-Produção
BR 101, km
27
IBF- Instituto Baiano do Fumo
EBDA
Praça Geraldo Suerdieck, 01
28
Sindicato dos empregados do fumo
Funcionamento
Rua Prof. A. Teixeira, 57
O que funciona atualmente no
local
Endereço
Loja da Ebal-Empresa Baiana de
Rua Otens, 01
Alimentos
Praça senados Temístocles
Nacional Calçados Ltda.
2
Fonte: Pesquisa de Campo: 2009
Elaboração: José Antonio Fonseca, 2009
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Os dados da tabela revelam que a maioria das empresas de fumo instaladas em
Cruz das Almas, desde o século XIX, não funcionam mais no mesmo local. Fica claro que a
indústria fumageira da Bahia perdeu terreno, tanto no que se refere a sua participação na
indústria brasileira do fumo, como no que diz respeito a sua importância para o próprio
conjunto da indústria baiana e para o território cruzalmense. Na tabela, ainda fica perceptível
a realidade da ocupação do território cruzalmense na década de 1970 a 1990, pelas
empresas fumageiras, mostrando as suas funcionalidades na ocupação do território, que ao
serem desativadas transformaram a dinâmica do território cruzalmense. Os armazéns de
beneficiamento do fumo existentes eram representados por comerciantes da cidade de Cruz
das Almas, com certa credibilidade e com uma relação de confiabilidade junto aos pequenos
produtores de fumo, e que contribuía para tornar um ramo de atividade de grande expressão
para o município.
METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto, foi realizada uma revisão bibliográfica, sobre
território /territorialidade e produção famageira, seguido de um levantamento de dados junto
ao IBGE, além de documentos oficiais, artigos publicados, registros de imprensa jornais e
revistas locais, regionais e nacionais on-line. Usou-se também dados de estudos
monográficos da biblioteca da UCSAL e da UFRB além de trabalhos disponíveis na World
Wide Web, para consulta. Tudo isso com o intuito de traçar a atual delimitação do território
fumageiro na Bahia, e conhecer a atual realidade da fumicultura de Cruz das Almas.
CONSIDERAÇÕES
Apesar do trabalho ainda está em andamento, com o resultado preliminar pode-se
inferir que a fumicultura da Bahia, está concentrada em cinco municípios, Cabaceiras do
Paraguaçu, Governador Mangabeira, Muritiba e Cruz das Almas que é o principal objeto
desse estudo.
Esses municípios apresentam sinais de declínio da produção desde a década de
1990, causados pela falta de recursos financeiros, mudanças climáticas, problemas
tributários, concorrência do mercado cubano, do contrabando e das campanhas
antitabagismo. Tudo isso faz desenvolver a atual crise do setor do fumo, fazendo
desaparecer algumas empresas do ramo, alguns armazéns estão sendo demolidos, e daí
começou a ser implantado outras atividades, como faculdades, comércios, industrias e
serviços, proporcionando uma nova realidade socioterritorial ao município de Cruz das
Almas.
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REFERÊNCIAS
ANUÁRIO BRASILEIRO DO TABACO - 2007. Santa Cruz do Sul: Gazeta Grupo de
Comunicações, RS.
ANUÁRIO BRASILEIRO DO TABACO - 2008. Santa Cruz do Sul: Gazeta Grupo de
Comunicações, RS.
ANUÁRIO BRASILEIRO DO TABACO - 2009. Santa Cruz do Sul: Gazeta Grupo de
Comunicações, RS.
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA. Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma AgráriaSEAGRI Programa de Revitalização da Cultura do Fumo do estado da Bahia: Salvador,
1999.
IBGE. PRODUÇÃO AGRÍCOLA MUNICIPAL, 2008. Rio de Janeiro, IBGE, 2010.
NARDI, Jean Baptiste. A história do fumo brasileiro. Rio de Janeiro: ABIFUMO, 1985.
NARDI, Jean Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial: lavoura, comércio e
administração. São Paulo: Brasiliense, 1996.
SINDITABACO. Sindicato da Indústria do Tabaco do Estado da Bahia, 2009. Disponível
em http// www.sindindustria.com.br/sinditabaco.com.br acesso em 10.de
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FONSECA, José Antonio de Oliveira