Pesquisa Qualitativa em HIV/Aids:
uma experiência em
Belo Horizonte e Recife
Paula Miranda-Ribeiro
Cedeplar/UFMG
Apresentação preparada para o “Workshop Internacional
sobre Demografia dos Países Africanos Lusófonos”
Belo Horizonte, 22 a 24 de maio de 2007
Equipe
Coordenadora:
Paula Miranda-Ribeiro
Sub-coordenadora:
Andréa Branco Simão
Pesquisadores:
André Junqueira Caetano
Cláudia Ferreira Souza
Josete Lins
Maria Eponina de Abreu e Torres
Marisa Alves Lacerda
Marla Barroso França
• Projeto: “Comparação dos perfis e percepções de
vulnerabilidade de mulheres negras e brancas ao
HIV/Aids em Belo Horizonte e Recife”, financiado
pela UNESCO/Ministério da Saúde.
• Objetivo: analisar a situação de vulnerabilidade
da população de mulheres negras (pretas e
pardas), entre 18 e 59 anos, não infectadas pelo
vírus do HIV, residentes nos municípios de Belo
Horizonte (MG) e Recife (PE), vis-à-vis a situação
das mulheres brancas.
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MOTIVAÇÃO
• Trabalhos recentes sobre HIV/Aids chamam a
atenção para o fato de que no Brasil, assim como
em outros lugares do mundo onde as
desigualdades sociais são marcantes, a epidemia
da Aids atinge de forma mais intensa os grupos
socioeconômicos menos privilegiados.
• Entre 2000 e 2004, por exemplo, o percentual de
casos de Aids entre as mulheres negras aumentou
de 33,5% para 37,2%. Entre as mulheres brancas,
no mesmo período, o percentual de casos declinou
de 65,6% para 62,0%.
• No caso dos municípios de Belo Horizonte e
Recife, os dados da pesquisa Saúde Reprodutiva,
Sexualidade e Raça/cor (SRSR), realizada pelo
Cedeplar em 2002, indicam que, embora o
conhecimento sobre doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs) seja praticamente universal
entre as mulheres brancas e negras residentes
nestes municípios, o mesmo não acontece em
relação ao conhecimento sobre HIV/Aids. Quando
perguntadas se a Aids tem cura, 8% das mulheres
em Belo Horizonte e 15% em Recife não souberam
responder ou disseram que sim, a Aids tem cura.
• Um outro dado desta pesquisa revela que, entre
as mulheres sexualmente ativas, somente 13,3%
das brancas e 16% das negras em Belo Horizonte e
10,3% das brancas e 12,3% das negras no Recife
utilizam o preservativo masculino em suas relações
sexuais. Em outras palavras, o percentual de
mulheres sexualmente ativas que lança mão de um
método eficaz de prevenção ao HIV/Aids é
pequeno nestes municípios.
METODOLOGIA
• Este projeto tem duas grandes fases:
• 1a: natureza quantitativa (survey)
• 2a: caráter qualitativo (entrevistas em
profundidade)
• Os dados do survey SRSR foram coletados em
2002, no domicílio da entrevistada, a qual
respondeu um questionário individual com
perguntas distribuídas em quatorze sessões do
questionário e que incluíram desde a
caracterização do domicílio, caracterização da
entrevistada, utilização de plano de saúde,
reprodução, história de gravidezes e de
nascimentos, pré-natal e pós-parto,
anticoncepção, atendimento/acompanhamento
médico, casamento e atividade sexual,
planejamento da fecundidade até a caracterização
do marido/companheiro.
• As informações foram coletadas de mulheres que
possuíam, na época da pesquisa, entre 15 e 59
anos completos, residentes em domicílios
particulares permanentes, situados no município
de Belo Horizonte e Recife.
•Diferente do recorte etário geralmente utilizado
em pesquisas de natureza demográfica e
epidemiológica, a investigação incluiu mulheres
entre 15 e 59 anos, para que aspectos da
sexualidade e saúde reprodutiva feminina fossem
melhores compreendidos, mesmo após o final do
período fértil da maioria das mulheres.
• No total, foram feitas 1.302 entrevistas
completas no município de Belo Horizonte e 1.106
no município de Recife.
• O plano amostral foi o de conglomerado. Na
primeira etapa, adotou-se um cadastro baseado no
arquivo agregado de setores censitários do IBGE,
contendo informações preliminares sobre os totais
de pessoas e domicílios recenseados pelo referido
Instituto durante o Censo Demográfico de 2000. O
plano amostral estratificado conglomerado foi em 3
estágios.
• 1o estágio: o cadastro de setores do IBGE foi
usado para estratificar e selecionar uma amostra
de setores no município. Os setores selecionados
na amostra foram visitados pelas entrevistadoras,
que fizeram a operação de listagem dos domicílios
encontrados em cada um deles;
• 2o estágio: nos setores sorteados, foi
selecionada uma amostra de domicílios, os quais
foram visitados pelas entrevistadoras para
cadastramento dos moradores e identificação da
população elegível; e
• 3o estágio: nos domicílios com moradoras
elegíveis, somente uma mulher era selecionada
através de sorteio.
• Os setores que representavam cadeias e asilos
foram excluídos e os setores normais foram
agrupados por região de planejamento.
• As favelas foram agrupadas como um setor à
parte.
• Esta combinação produziu 70 setores em cada
município.
• A amostra dos setores foi feita através do
método de seleção sistemática, com probabilidades
proporcionais ao tamanho, sendo usada como
medida de tamanho o número total de domicílios
particulares encontrado em cada setor por ocasião
do Censo Demográfico de 2000. Essa estratégia,
combinada com a idéia de selecionar um número
fixo de domicílios por setor, permitiu a obtenção de
uma amostra de domicílios com probabilidades
aproximadamente iguais de seleção no município.
• Para obter 1.200 domicílios em cada município,
uma amostra sistemática simples foi utilizada para
selecionar cerca de 29 domicílios em cada setor.
• A fim de delinear perfis de mulheres, está sendo
utilizado o método Grade of Membership (GoM).
• Diferente da maioria dos métodos estatísticos,
que se baseia na teoria dos conjuntos clássicos,
segundo a qual cada elemento só pode pertencer a
um conjunto, o método GoM se baseia na teoria
dos conjuntos nebulosos, segundo a qual um
mesmo elemento pode ser, simultaneamente,
membro parcial de múltiplos conjuntos, segundo
diferentes escores, ou graus de pertinência.
• A utilização do GoM possibilitará que se faça, a
partir dos dados da pesquisa SRSR, uma
classificação, ou uma tipologia, das mulheres entre
18 e 59 anos quanto aos seus níveis de
vulnerabilidade ao HIV/Aids, levando em conta
características consideradas importantes para esse
tipo de análise.
• Levando em conta a literatura, dividimos estas
características em 4 blocos.
• 1o bloco: sócio-demográfico (idade, escolaridade,
raça/cor, situação conjugal, etc.)
• 2o bloco: normas, valores e percepções (se acha
que teria condições de dizer não à relação sexual
caso o parceiro se recusasse a usar preservativo;
se acha que é legítimo que a mulher tome
iniciativa quanto à relação sexual, etc.)
• 3o bloco: conhecimento (conhecimento sobre
formas de prevenção e cura da Aids, etc.)
• 4o bloco: comportamento (uso de preservativo,
número de parceiros nos últimos 12 meses, uso de
álcool na 1a relação sexual, etc.)
• A análise feita através do GoM tem 3 objetivos:
• 1o: identificar os grupos de maior
vulnerabilidade ao HIV/Aids;
• 2o: descrever as diferenças existentes entre
as mulheres brancas e negras, no que se refere
à sua vulnerabilidade frente ao HIV/Aids; e
• 3o: permitir o recrutamento das mulheres a
serem entrevistadas no módulo qualitativo da
pesquisa.
• Os dados qualitativos serão coletados por meio
de entrevistas em profundidade em julho/agosto
de 2007.
• Estas entrevistas serão realizadas com mulheres
auto-declaradas negras e brancas, entre 18 e 59
anos, nos municípios de Belo Horizonte e Recife.
• Em cada município, serão entrevistadas 40
mulheres.
•A seleção das participantes se dará ou por meio
de estratégias aleatórias ou de conveniência.
•Nas estratégias aleatórias, as mulheres serão
abordadas diretamente pelas pesquisadoras ou por
recrutadoras, sem que se conheça previamente a
mulher.
•Nas estratégias de conveniência, serão utilizadas
redes de contatos e de conhecimentos.
•As mulheres abordadas serão informadas sobre os
propósitos da pesquisa, bem como da dinâmica da
entrevista da qual estarão sendo convidadas a
participar.
•Todas aquelas que aceitarem participar da
pesquisa, receberão um termo de consentimento
livre e esclarecido, onde constam informações
referentes aos objetivos da pesquisa, à
necessidade de gravação da mesma, ao sigilo das
informações, e onde a participante declara saber
que sua participação é voluntária e não lhe
acarretará nenhum prejuízo pessoal ou de
qualquer ordem.
•Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UFMG.
•As entrevistas serão realizadas pelas
pesquisadoras envolvidas no projeto.
•A equipe participará de treinamentos prévios, com
vistas a homogeneizar os procedimentos de
abordagem e condução das entrevistas.
•Considerando que as entrevistas incluirão
somente mulheres, as entrevistadoras serão,
também, mulheres.
Temas a serem incluídos no roteiro, não
necessariamente nesta ordem -- ainda em versão
bastante preliminar; sugestões são MUITO bemvindas!
1) Conhecendo a mulher – o que vamos
perguntar sobre a vida dela para conhecê-la
melhor (Como cuida de sua saúde? Saúde em
geral? Relacionamentos?)
2) Comportamento do(s) parceiro(s) sexual(is)
atual(is) (que é(são) e o que sabe sobre ele(s) –
acha que é fiel? Tem outras relações? Sabe como
ele era antes de ficar com ela – tinha fama de ser
mulherengo?, etc)
3) Conhecimento sobre HIV/Aids e ISTs
4) Acesso aos serviços de saúde/prevenção (faz
exames de prevenção? Ela e/ou parceiro já fez
exame de HIV/Aids?)
5) Comportamento sexual presente e passado
(hoje pode ter comportamento de risco, mas podia
não ter no passado e vice-versa)
6) Relações com grupo (família, religião, amigos,
escola – no sentido de como o grupo afeta sua
percepção sobre, por exemplo, cuidado com a
saúde e tb sobre a vulnerabilidade ao HIV/Aids)
7) Percepção da vulnerabilidade (a entrevistada se
considera vulnerável ao HIV/Aids? O que é ser
vulnerável?)
8) Normas e valores em relação ao comportamento
sexual
9) Redes sexuais (parceiros passados, os parceiros
de seus parceiros, ...)
10) Relações de gênero
11) História de vida (quadro com eventos
importantes e datas ou idades em que eles
ocorreram)
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