Novos usos do FGTS para consórcios atraem compradores - Imóveis - Gazeta do Povo
IMÓVEIS
Quinta-feira, 09/09/2010
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Andréia Faria usou o FGTS em abril para quitar as parcelas do consórcio de um apartamento no Água Verde
MERCADO
Novos usos do FGTS para consórcios atraem
compradores
Além de dar um lance ou complementar a carta de crédito, quem tem um consórcio de imóvel pode
usar os recursos do fundo para liquidar a dívida, amortizar parcelas ou pagar até 80% do valor das
prestações
Publicado em 05/09/2010 | MARIANA DOMAKOSKI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
Desde que foi regulamentada pela Caixa Econômica Federal, em março deste ano, após ter sido aprovada pelo
Conselho Curador do FGTS em 2009, a medida que permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para
liquidar, amortizar ou pagar 80% do valor das prestações de um consórcio imobiliário atraiu novos consumidores.
Segundo Reinaldo Bertini, presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) para o
Paraná, ainda é cedo para afirmar que o aumento da procura pelo consórcio é resultado dessas novas possibilidades.
Para ele, isso é reflexo do aquecimento do mercado. “Acredito que só conseguiremos mensurar essa diferença agora,
a partir do segundo semestre. Penso que será um crescimento de 15% a 20% no número de vendas.”
Algumas administradoras de consórcio relatam um aumento nas vendas, caso da Unilance. O coordenador da
empresa, Rodrigo Rodrigues, afirma que houve grande procura, por meio do call center, por informações a respeito
dos usos do FGTS nas novas operações, o que levou à contratação de dois funcionários específicos desde março. “A
cada mês aumenta o número de vendas, cerca de 20% a 30%. Acredito que seja reflexo dessas novas facilidades”,
diz.
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REGRAS
Para usar o FGTS nas três novas modalidades, o coordenador de FGTS da Caixa Econômica Federal Orlando
Coraiola Filho aponta alguns requisitos:
- É preciso que o trabalhador tenha vínculo de, no mínimo, três anos com a conta de FGTS.
- Ele já deve ter sido contemplado, estar com o imóvel e com a conta de FGTS em seu nome.
- Na data de aquisição do imóvel, não pode ter nenhuma outra propriedade com financiamento ativo do Sistema Financeiro
da Habitação (SFH).
- Na data de aquisição do imóvel, o titular da compra não pode ter nenhuma propriedade em seu nome na mesma cidade
onde trabalha, municípios limítrofes a ela ou em sua região metropolitana.
- No caso de quitação ou amortização do saldo devedor (pagamento de parte desse saldo), é necessário esperar dois anos
para utilizar o fundo novamente.
- A negociação é feita entre a administradora e a Caixa, sendo necessário apenas que o cliente colha a documentação
necessária e a entregue à administradora.
- No caso de quitação ou amortização do saldo devedor, a Caixa tem o prazo de cinco dias úteis para liberar o recurso à
administradora, após o pedido.
- Para pagamento de 80% do valor das parcelas, todo o fundo é liberado à administradora, que deverá guardar esse
dinheiro e descontar dele a porcentagem referida.
Mais informações pelo site www.caixaconsorcios.com.br , no link “Uso do FGTS em consórcio”.
Na Porto Seguro Consórcio, o aumento também é sentido e foi calculado mês a mês em relação a 2009. O gerente
Fábio Braga aponta para um crescimento de 12% em janeiro, de 10% em fevereiro, 20% em março – mês em que
passaram a vigorar as novas regras – e uma média de 20% nos últimos três meses.
Ele ressalta que cerca de metade das contemplações do primeiro semestre foram realizadas com o uso do FGTS,
tanto nas velhas modalidades – para dar lances e para complementar a carta de crédito – quanto nas novas. “Antes
disso, percebíamos que muitos deixavam de comprar o consórcio porque não era permitido o uso do fundo. Agora o
consórcio tem todas as facilidades de um financiamento”, diz Braga. Para ele, além das novas modalidades
permitidas, o aquecimento do mercado imobiliário também ajudou a alavancar as vendas. “As construtoras investem
mais, dando mais segurança para o consumidor. ”
A Ademilar é outra administradora que credita o aumento de vendas ao uso do FGTS. A superintendente Tatiana
Schuchowsky Reichmann diz que, de janeiro a agosto deste ano, as vendas aumentaram em 53% em relação ao
mesmo período do ano passado. “Cerca de oito pessoas nos procuram todos os dias, querendo mais informações
sobre como proceder. Até agora, 13 dos nossos consorciados conseguiram usar o FGTS para quitar, amortizar ou
pagar parte das parcelas.”
Tatiana acredita que, além de vantajosas para o cliente, as novas modalidades trazem benefícios à própria
administradora. “Quando uma pessoa paga as parcelas, já está acostumada a separar certa quantidade da renda para
isso. Usando o FGTS, ela pode direcionar esse dinheiro para outra cota”, explica. No caso dos 13 clientes que optaram
pelo uso, 70% compraram novas cotas, de acordo com a superintendente.
Quem já usou
A televendedora Andréia Aparecida Faria usou o fundo nas novas modalidades para quitar as parcelas da casa
própria, que comprou por meio de uma carta contemplada. Em abril, ela quitou as 34 parcelas restantes de um
apartamento no Água Verde, onde mora há cinco anos, com o dinheiro do fundo. “Vi que era melhor pagar o que
faltava. Assim, poderia investir em outra coisa. Quero esperar dois anos e começar uma reforma na minha casa”,
conta.
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Para sair do apartamento alugado que dividia com dois colegas, no qual cada um pagava de R$ 300 a R$ 350 de
aluguel, e ter uma casa própria para morar com a futura esposa, o economista Roberval Alves Ferreira comprou uma
carta de consórcio de R$ 100 mil em julho de 2007, para um imóvel de R$ 150 mil. Foi sorteado em setembro do
mesmo ano e comprou o imóvel em novembro, pagando R$ 30 mil com suas economias e os R$ 20 mil restantes com
recursos do FGTS – utilizando a modalidade já existente na época, que permitia a complementação da carta de
crédito.
Em janeiro de 2008, mudou-se para o sobrado no bairro Seminário. No último semestre do ano ficou desempregado,
o que alterou o planejamento financeiro. “Como ainda devia parte dos R$ 100 mil no consórcio, precisava diminuir o
valor das parcelas por um tempo, até me estabilizar. Há um ano ingressei novamente no mercado, mas ainda sinto os
reflexos”, conta Ferreira.
Como havia passado mais de dois anos do primeiro uso do FGTS, ele usou novamente o recurso, agora com as novas
medidas, utilizando o fundo para pagar 80% do valor das parcelas durante um ano. “Saí de um compromisso de
pagar R$ 1.000 por mês para um compromisso de pagar R$ 200. Isso aliviou meu orçamento.”
Investimento
O professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Demian Castro vê as novas
possibilidades de uso do FGTS em consórcios imobiliários como uma forma de beneficiar segmentos da classe média,
que começaram a procura pela casa própria. “Flexibiliza o acesso para pessoas que não podem pagar as taxas
cobradas pelos bancos.”
Para Breno Lemos, professor do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e conselheiro do
Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR), investir esse dinheiro em um imóvel é mais vantajoso do
que deixá-lo no fundo, mesmo com o aquecimento do mercado e os altos preços. “Ano passado, o rendimento nominal do FGTS foi de apenas 3,9%. Deixar o fundo parado representa perder poder de compra.”
Lemos comenta que a vantagem de usar o FGTS nessas novas modalidades é poder livrar a parte da renda destinada
ao pagamento das parcelas. Isso permite que a pessoa invista em outros fundos, como títulos da dívida pública, que
têm rendimento líquido anual de cerca de 9,5%. “Usar o FGTS para comprar um imóvel é trocar um negócio que
rende pouco por outro que rende mais”, diz.
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