Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
25 e 26 de setembro de 2012
TENDÊNCIA SECULAR DA DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA E SUA
RELAÇÃO COM O IMC EM ADOLESCENTES DE BOM NÍVEL SOCIOECONÔMICO AVALIADOS EM ESCOLAS PARTICULARES DE
CAMPINAS - SP
André Luis Moreira Duarte
Silvia Diez Castilho
Faculdade de Medicina da PUC-Campinas
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Grupo: Indicadores de Qualidade Nutricional para a
Alimentação
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Resumo: Objetivo: Avaliar a tendência secular do
índice de massa corporal, pregas cutâneas e circunferências de acordo com o sexo e maturação
sexual, pois um aumento da deposição de gordura
abdominal pode apontar para um maior risco de
doenças crônicas. Métodos: Estudo descritivo comparativo de duas amostras transversais colhidas em
2001 e 2010. Dados de Peso, altura, IMC, MM, MG,
%GC, pregas cutâneas, circunferências e estágio
maturacional foram colhidos de 2795 jovens, de
ambos os sexos, com idade entre 7 e 18 anos, em
escolas particulares de Campinas. Resultados: O
número de obesos aumentou 85,19% nas meninas
e 33,13% nos meninos durante o período. Não houve alterações importantes na composição corporal.
A medida da cintura diminuiu em ambos os sexos
(p<0,0001) de 70,48 para 65,64cm no sexo feminino
e de 74,17 para 70,81cm no sexo masculino. Houve
aumento nas pregas do tronco em ambos os sexos,
com interação entre período e diagnóstico nutricional em G1 e G5. Conclusão: Houve aumento importante na prevalência de obesos, sem piora da intensidade da obesidade. O aumento das pregas do
tronco indica uma tendência ao aumento da deposição de gordura periférica. Medidas são necessárias
para a reversão do quadro a fim de evitar a deterioração da saúde dessa população.
um fator de pior prognóstico quanto ao surgimento
de Diabetes tipo2, Dislipidemia, Aterosclerose e
20,19,13
doenças cardiovasculares
. Com isso, é de
fundamental importância que além do peso, seja
avaliada a distribuição de gordura corporal, a fim de
estimar o risco para o desenvolvimento de doenças.
Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi
avaliar a tendência temporal do perfil nutricional, as
mudanças da composição corporal, bem como da
distribuição de gordura, através do Índice de Massa
Corporal (IMC), pregas cutâneas e circunferências,
em crianças e adolescentes, de acordo com o sexo
e maturação sexual, pois um aumento de gordura
visceral apontará para piora ainda maior do risco de
doenças crônicas.
Palavras-chave: Pregas cutâneas, Índice de Massa
Corporal, Adolescente.
Área do Conhecimento: Ciências da Saúde – Medicina II – Pediatria – FAPIC/REITORIA.
1. INTRODUÇÃO
A prevalência da obesidade tem aumentado nos
últimos anos, sendo esta atualmente um grande
3
desafio para saúde pública . O aumento de peso
acompanhado de maior deposição de gordura na
região abdominal (gordura visceral) é considerado
2. MÉTODO
Estudo descritivo comparativo de duas amostras
transversais, cujos dados foram obtidos em 2001 e
2010. Foram avaliados 2795 jovens (1345 em 2001
e 1450 em 2010) de ambos os sexos, com idades
entre 7 e 18 anos, em escolas particulares de Campinas – SP, Brasil, que não apresentavam doença
ou uso de medicação, que pudesse interferir no
crescimento e/ou ganho de peso, ou problema que
dificultasse a tomada das medidas.
A partir de estudos realizados com adolescentes
brasileiros calculou-se a idade média para cada
estágio de maturação sexual de Tanner e para esta
5,1,17
idade a variabilidade do IMC
. Por conveniência
e equilíbrio dos grupos e a fim de que as variáveis
pudessem ser analisadas em relação à maturação
sexual recomendou-se o maior n, para cada um dos
estágios de Tanner: 1140 sujeitos (114 sujeitos para cada um dos cinco estágios de Tanner – mama
M para as meninas e genitalia G para os meninos).
Os alunos foram avaliados pela mesma pesquisadora nos dois momentos, respeitando-se as normas
internacionais para antropometria. O peso e a esta-
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tura, pregas cutâneas tricipital (PCT), bicipital
(PCB), subescapular (PCSE), suprailíaca (PCSI) e
circunferências do braço, cintura (CC) e quadril
(CQ) foram tomadas de acordo com padrões inter11
nacionais . A massa magra (MM), a massa gorda
(MG) e o percentual de gordura corporal (%GC)
foram obtidos por bioimpedância (Tanita TBF-305).
A partir desses dados calculou-se o IMC, avaliado
pelos pontos de corte das curvas (Z-escore) da
OMS 2007. O estágio maturacional foi obtido por
autoavaliação comparativa com pranchas ilustrativas do desenvolvimento puberal (estágios maturacionais de Tanner). Para validar esse dado, nos
alunos cujos pais consentiram, a avaliação foi conferida pela pesquisadora 70,5% das meninas e
61,3% dos meninos, havendo alta concordância em
ambos os sexos respectivamente: 0.9558; 95%CI
0.9410-0.9707 e 0.9644; 95%CI 0.9510-0.9779).
Os dados foram processados no SAS. As variáveis
foram analisadas em relação à maturação de acordo com o diagnostico nutricional, considerando-se
os adolescentes sem (eutrófico + magreza) e com
excesso de peso (sobrepeso + obesidade). Nas
análises foram empregados o Qui-quadrado para
comparar proporções e a ANOVA, com transformações por postos, para comparar medidas numéricas
por período e diagnóstico nutricional e testar a interação. O coeficiente de Kappa ponderado foi utilizado para analisar a concordância entre a autoavaliação e a determinada pela pesquisadora. O nível de
significância adotado foi de 5%.
Este estudo teve aprovação do Comitê de Ética da
PUC-Campinas (protocolo 693/09).
3. RESULTADOS
Foram avaliadas 2795 crianças e adolescentes em
2001 (685 meninas e 660 meninos), e 2010 (750
meninas e 700 meninos), e não houve diferença na
distribuição por gênero entre as amostras
(p=0.6745), bem como na distribuição dos meninos
e meninas em relação ao estágio maturacional –
tabela I.
Houve diferença na mediana da idade nas duas
amostras (p=0,0098) sendo que em 2010 as crianças tiveram a mediana de idade 1 mês menor (148
meses) do que em 2001 (149 meses).
Tabela I. Distribuição comparativa das amostras colhidas em 2001 e 2010 em alunos de escolas particulares de Campinas-SP de acordo com os estágios de
maturação de Tanner.
Na tabela II são apresentados os diagnósticos nutricionais dos participantes de acordo com os pontos
de corte das curvas da OMS 2007, estabelecidos
pelo Z-escore do IMC/estatura. Entre 2001 e 2010,
a prevalência da obesidade aumentou 85,19% entre
as meninas (de 5,4 para 10%) e 33,13% entre os
meninos (de 14,7 para 19,57%).
Tabela II. Análise descritiva e comparação do diagnóstico nutricional pelo Z-escore do IMC (OMS 2007)
em alunos avaliados em escolas particulares de
Campinas-SP (2001-2010).
Em relação à composição corporal, entre 2001 e
20120, houve aumento na média do %GC nas meninas (de 27,96 para 28,96%; p=0,0048) mas não
entre os meninos (de 19,65 para 20,04%;
p=0,8150), não houve variação da média da MG,
tanto nos meninos (10,44 para 10,94kg; p=0,2126),
quanto nas meninas (13,71 para 14,01kg;
p=0,1366) e a MM aumentou entre os meninos (de
41,02 para 41,42kg; p=0,0073) e não se alterou entre as meninas (de 33,51 para 32,38kg; p=0,1349).
Entre 2001 e 2010 observa-se uma diminuição da
CC em ambos os sexos (p<0,0001); sendo que a
média passou de 70,48 para 65,64cm no sexo feminino e de 74,17 para 70,81cm no sexo masculino.
Quando analisadas por estágio de maturação, os
dados da CC são maiores em valor absoluto tanto
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para os meninos quanto para as meninas, em todos
os estágios de Tanner em 2001.
Como a CQ foi medida apenas na amostra de 2010
(76,5cm em G1 e 95,8cm em G5 - 72,4cm em M1 e
98,5cm em M5) não foi possível estabelecer comparação entre as amostras. A relação cintura quadril nas meninas em 2010 diminui na medida em
que elas madurecem e não se alterou nos meninos,
evidenciando o dimorfismo sexual (0,8 em M1 e 0,7
em M5 - 0,8 em G1 e 0,8 em G5).
Na tabela III são apresentados os dados obtidos na
mensuração das pregas cutâneas dos participantes.
Tabela III. Análise descritiva e comparação das médias das pregas tricipital, bicipital, subescapular e
supra-íliaca, por sexo, medidas em 2001 e 2010.
Figura I. Análise descritiva e comparativa das pregas
tricipital, bicipital, subescapular e supra-ilíaca, avaliadas em 2001 e 2010 por estágio de maturação de
mamas em meninas e genitália em meninos.
Tabela IV. Resultado da ANOVA comparando os valores de variáveis da composição corporal e distribuição de gordura em alunos avaliados em escolas particulares de Campinas-SP, 2001 e 2010, de acordo
com o diagnóstico nutricional.
Nota-se que enquanto a média das pregas cutâneas dos braços diminuíram (p<0,0001), entre 2001
e 2010, as do tronco aumentaram significantemente
tanto nas meninas quanto nos meninos. Vale lembrar, no entanto, que todas elas traduzem a gordura
periférica.
Na figura I pode-se observar o comportamento das
pregas cutâneas, de acordo com o estágio maturacional em 2001 e 2010, que apontam para as diferenças entre os sexos no que diz respeito à distribuição da gordura. Nota-se o aumento progressivo da
PCT das meninas à medida que amadurecem e
diminuição nos meninos, enquanto a PCSE pouco
varia nos meninos e aumenta nas meninas.
A tabela IV mostra a interação entre o período avaliado (2001 e 2010) e o diagnóstico nutricional (com
e sem excesso de peso; ou seja, sobrepeso + obesidade e eutrófico + magreza) para as variáveis
MM, MG, %GC, estatura, IMC, CC (gordura visceral) e somatória da PCT com a PCSE (gordura subcutânea ou periférica). A interação destas variáveis
não foi significante (p>0,05) exceto para MM e estatura em M2, %GC em G5, e somatória das pregas
em G1 e G5.
Para MM em M2, os desdobramentos mostraram
diferença significante quando se comparou o diagnóstico nutricional dentro do mesmo período
(p<0,0001 para 2001 e p=0,02 para 2010); as meninas com excesso de peso tinham mais MM que as
sem nos dois períodos. Comparando-se os mesmos diagnósticos de 2001 com os de 2010, não
houve diferença significante (p=0,1712) entre meninas sem excesso de peso, mas houve (p=0,0005)
entre as com IMC acima do desejado. As meninas
com sobrepeso + obesidade em M2 tinham menos
MM (28,9 kg) em 2010 do que em 2001 (30,4 kg).
Para estatura, também em M2, os desdobramentos
mostram que quando se comparou o diagnóstico
nutricional dentro de um mesmo ano não houve
diferença (p=0,2665) entre a estatura das meninas
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sem excesso de peso (146,7 cm) com as com excesso de peso (148,1 cm) em 2001, mas houve em
2010 (p=0,0466) – respectivamente 146,1 e 142,4
cm. As meninas com sobrepeso + obesidade avaliadas em 2010 eram mais baixas do que as sem
excesso de peso. Quando se comparou o mesmo
diagnóstico nutricional nos dois períodos, não houve diferença significante entre as sem excesso de
peso (p=0,1956), mas houve entre as com sobrepeso + obesidade (p=0,0002). As meninas com excesso de peso avaliadas em 2010 eram mais baixas (142,4 cm) que as avaliadas em 2001 (148,1
cm).
Para o %GC em G5 os desdobramentos dos efeitos
mostraram diferença quando se fixou o período e
comparou o diagnóstico nutricional (p<0,0001 para
2001 e p<0,0001 para 2010). Quando se fixou o
diagnóstico e comparou o período, não houve diferença (p=0,9318) entre os meninos sem excesso de
peso dos 2 períodos, mas houve (p=0,0048) entre
os com sobrepeso + obesidade. O %GC em G5 foi
maior nos com excesso de peso em 2010 (20,5%
em 2001 para 25,9% em 2010).
No que se refere à somatória das PCT e PCSE em
G1 os desdobramentos dos efeitos mostram diferença quando se fixou o período e se comparou o
diagnóstico nutricional (p<0,0001 tanto em 2001
quanto em 2010). Quando se fixou o diagnóstico
nutricional e se comparou o período houve diferença significante entre os meninos sem excesso de
peso (em G1 os meninos sem excesso de peso em
2001 tinham mais gordura periférica – 18,4mm – do
que os em 2010 – 14,9mm; p<0,0001), mas não
entre os com excesso de peso (p=0,1838). Já em
G5 houve diferença significante quando se fixou o
ano e se comparou o diagnóstico nutricional
(p<0,0001) e quando se fixou o diagnóstico nutricional e se comparou o ano, só nos com excesso de
peso (p=0,0062). Nestes a somatória das pregas foi
maior em 2010 (38,5mm) do que em 2001
(30,6mm).
4. DISCUSSÃO
Este estudo além de fornecer dados sobre a tendência da obesidade em crianças e adolescentes
brasileiros, avaliados de acordo com o estágio de
maturação sexual acrescentou às mudanças da
composição corporal observadas entre 2001 e 2010
2
– resultados já publicados – dados sobre possíveis
alterações na distribuição de gordura nesse período. Embora tenha havido um aumento da prevalência do excesso de peso e a intensidade da obesidade não tenha de modo geral variado, uma vez que a
composição corporal foi semelhante nos dois momentos para a maioria dos estágios maturacionais,
ao contrário do que se esperava, observou-se aumento na gordura periférica e não na cintura.
Analisamos dados antropométricos de duas amostras, obtidas pela mesma pesquisadora com intervalo de dez anos. O desenho do estudo, no entanto,
apresenta a limitação de dificultar a interpretação
das variáveis antropométricas ao longo do processo
maturacional, pois por analisar amostras transversais não foram os mesmos adolescentes avaliados
em cada estágio maturacional nos dois momentos.
Assim as mudanças pontuais de composição corporal em M2 e G5 e distribuição da gordura, em G1 e
G5,devem ser interpretadas com cautela.
Observa-se, entre 2001 e 2010, um aumento da
prevalência de obesidade em ambos os sexos,
sendo este maior entre as meninas (85,19%) do
que entre os meninos (33,13%), embora a obesidade ainda continue a predominar nos meninos. Isso
aponta para uma deterioração da saúde em ambos
os sexos, com tendência à equiparação de prevalência. Esses resultados acompanham a tendência
15,18
. Tendo em vista
observada em outros estudos
as influencias do nível socioeconômico no poder
aquisitivo e de consumo, e consequentemente na
alimentação, comparações com dados nacionais
devem analisados dentro do contexto. A cidade de
Campinas é considerada uma metrópole, situada na
região Sudeste do Brasil, com desenvolvimento socioeconômico similar a de cidades de países já desenvolvidos. Além disso, a população estudada é
proveniente de escolas particulares sendo geralmente frequentada por alunos de médio a alto nível
socioeconômico.
Analisando o diagnóstico nutricional, considerando
os estágios de maturação, não notamos de modo
geral diferença em relação à composição corporal,
entre os períodos estudados, demonstrando que o
aumento de obesos, não foi acompanhado pela piora na intensidade da obesidade. As alterações pontuais detectadas em M2, G5 e G1, quando se compara 2001 com 2010, devem ser interpretadas dentro das limitações de estudos transversais. A diminuição da MM e estatura observada em M2, em
2010, entre as meninas com excesso de peso pode
ser interpretada com consequente à antecipação da
menarca que ocorre nas meninas obesas. Estas por
maturarem mais cedo podem partir de uma estatura
inferior no início do estirão de crescimento (estágio
de maturação M2) que seria compensada nos estágios seguintes pela maior amplitude do pico de ve17
locidade de crescimento . Já nos meninos com
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IMC acima do desejado, em 2010, o %GC maior
observado em G5 pode apontar para um desequilíbrio energético já existente entre ganho e gasto de
energia, provavelmente não identificado nas fases
anteriores, devido ao maior gasto de energia con2
sumida no crescimento .
Embora tenha ocorrido aumento da prevalência de
obesidade, a CC não aumentou entre os períodos
avaliados. Consideramos este um dado positivo e
interessante já que o aumento da CC pode ser um
importante fator preditivo para riscos à saúde, e que
está geralmente associado ao aumento de peso 4,7.
Na literatura encontramos estudos com resultados
semelhantes aos nossos. Moreno et al. (2012), ao
estudarem 791 adolescentes espanhóis, divididos
em duas amostras, entre os anos de 2001 a 2007,
observaram uma diminuição do IMC e da CC e um
aumento das pregas cutâneas, em ambos os se12
xos, embora mais significativo nas meninas . Linhares et al. (2012), em seus estudos sobre obesidade geral e abdominal em adultos brasileiros, notaram crescimento na prevalência de sobrepeso e
obesidade, porém com diminuição da CC em mu10
lheres e estabilização da mesma em homens .
Em contrapartida, inúmeros trabalhos demonstram
aumento da CC em crianças e adolescentes. Li et
9
al. (2006) observaram aumento dessa medida em
crianças e adolescentes estadunidenses entre
8
1988-1994 e 1999-2004. Já Kolle et al. (2009) , ao
estudarem 859 crianças norueguesas de ambos os
sexos, com idade média de 9 anos, distribuídas em
duas amostras (1999 e 2005) observaram que durante esse período não houve alteração do IMC,
mas constataram aumento da CC e das pregas cutâneas, mostrando que o IMC, por não distinguir
MG MM, pode subestimar as alterações da composição corporal.
Quanto às pregas cutâneas constatamos aumento
significativo entre os períodos em ambos os sexos,
nas pregas do tronco enquanto as pregas do braço
pouco variaram. Tanto as pregas do tronco como as
pregas dos braços refletem deposição de gordura
no tecido subcutâneo. Apenas nos meninos em G1
e G5 observamos interação significativa entre período e diagnóstico nutricional, quanto à somatória
das pregas tricipital e subescapular. A existência de
interação entre esses efeitos aponta para o fato de
que o maior acúmulo de gordura periférica em indivíduos com excesso de peso em G5 e o menor acúmulo nos sem excesso de peso em G1 podem
ser explicados pela mudança do perfil nutricional
dos avaliados no período entre 2001 e 2010.
Os determinantes do processo de ganho de peso
são complexos e envolvem uma interação entre
características pessoais como predisposição genética, hábitos alimentares, estilo de vida, sendo influenciados também por aspectos sociais, econômicos
16
10
e culturais . Linhares et al. (2012) concluem que
as influências sociopolíticas e econômicas podem
afetar a prevalência de obesidade na população.
Nos últimos dez anos o Brasil seguiu de maneira
favorável quanto à economia, com aumento do rendimento médio dos brasileiros, obtendo destaque no
cenário econômico mundial. É provável que essas
mudanças econômicas tenham afetado de maneira
importante o poder aquisitivo, com aumento do consumo da população e, por conseguinte, maior tendência ao ganho de peso. Além disso, o sedentarismo, dieta rica em carboidratos, frituras e alimentos industrializados podem ser responsáveis pelo
quadro atual.
Alguns estudos conduzidos nos EUA, Austrália,
Rússia e países Europeus já apontam para uma
estabilização da epidemia da obesidade em crianças e adolescentes, enquanto no Japão foi observado diminuição da prevalência desse distúrbio nu14
tricional . Em nosso estudo podemos perceber
uma tendência positiva no que diz respeito ao excesso de peso. Esse dado é preocupante e demonstra a necessidade de intervenções imediatas
que contemplem tanto o tratamento como também
programas de prevenção à obesidade e integre os
diversos setores da sociedade, incluindo profissionais ligados à saúde, educação, mídia e governo,
com o intuito de mudar o prognóstico da saúde
6
dessa população .
Dessa forma, concluímos que durante o período
estudado houve um aumento da prevalência de obesos, sem piora da intensidade da obesidade, uma
vez que de modo geral não se observou mudança
na composição corporal. Houve aumento das pregas cutâneas do tronco, caracterizando assim uma
tendência ao aumento da deposição periférica da
gordura. Medidas são necessárias para que se
consiga reverter o aumento da prevalência de excesso de peso antes que isso comece a afetar de
modo mais incisivo a composição corporal e a deposição de gordura central que agravaria ainda
mais o risco de doenças nesta população.
AGRADECIMENTOS
À PUC-Campinas pela bolsa FAPIC/Reitoria.
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