Relato de Caso
Osteoma extra-canalicular do osso temporal
Ivan Senis Cardoso Macedo 1
Matheus Tardelli Alckmin 1
Davi Sandes Sobral 2
André Afonso Nimtz Rodrigues 3
Fernando Antonio Maria Claret Alcadipani 4
Extracanalicular osteoma of temporal bone
Resumo
Abstract
Osteoma do osso temporal é um raro tumor ósseo benigno,
circunscrito, lento crescimento e origem desconhecida.
Apresentamos o relato de um caso de osteoma de mastoide, em
paciente do gênero feminino, 33 anos de idade, com história de
dez anos de abaulamento em região mastoide direita, dolorosa
nos últimos anos, submetida à conduta cirúrgica. A importância
do diagnóstico diferencial reside na possibilidade de outras
neoplasias mastóideas apresentarem prognóstico pior.
Temporal bone osteoma is a rare benign tumor that grows slowly
and remains stable for many years. The reported patient was
a 33-year-old woman who presented a ten-year history of a
progressively enlarging mass behind her right ear. The diagnosis
of mastoid osteoma was made and the patient underwent
surgery for correction of cosmetic deformity. Other neoplasms
of the mastoid region, such as osteosarcoma and osteoblastic
metastasis, should be considered for the differential diagnosis.
Descritores: Osteoma; Osso Temporal; Processo Mastoide.
Key words: Osteoma; Temporal Bone; Mastoid.
Introdução
Osteomas de cabeça e pescoço são tumores benignos encontrados com maior frequência na região frontoetmoidal. O osteoma do osso temporal é uma entidade
rara quando localizado na mastoide e, na parte escamosa do osso temporal, causando apenas deformidades
cosméticas como abaulamento externo ou uma protrusão retro-auricular. Os osteomas de mastoide são circunscritos, apresentam crescimento lento, predominam
mais no gênero feminino e na faixa etária entre segunda
e terceiras décadas de vida1,2. Outros tumores podem
afetar a região do mastoide e, entre eles, os osteossarcomas e lesões metastáticas osteoblásticas despertando
a atenção para a necessidade do diagnóstico definitivo3.
Relato de caso
Paciente do gênero feminino, 33 anos de idade, procurou ambulatório de Cirurgia de Cabeça e Pescoço com
queixa de abaulamento na região retro-auricular direita,
crescimento lento há 10 anos. Nos últimos anos surgiu
dor com o apoio da cabeça, ao deitar-se do lado direito e
ao usar óculos. Negava trauma, sintomas auditivos, distúrbios do equilíbrio ou paralisia do nervo facial. Ao exame
físico, observamos abaulamento de 10 x 5cm na região
mastoidea direita, pouco doloroso à palpação, superfície
lisa, recoberta por pele normal sem sinais inflamatórios
ou de infiltração. Os cortes axiais e coronais da tomografia computadorizada mostraram lesão óssea de base
larga envolvendo o córtex da parte mastóidea do osso
temporal. O ouvido médio e interno não apresentava envolvimento assim como o canal do nervo facial (Figura
1). Optou-se pela conduta cirúrgica por meio de incisão
retro-auricular direita com descolamento do periósteo
para exposição da lesão e remoção completa ao nível da
cortical óssea normal da parte mastóidea do osso temporal com cisel (Figura 2). Utilizou-se drill para regularizar a
superfície óssea. Não ocorreram complicações pós-operatórias e o resultado estético foi satisfatório.
1) Acadêmico de sexto ano da Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP.
2)Professor Colaborador da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP.
3)Professor Colaborador da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP.
4) Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP. Responsável pelo Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP
Instituição: Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Jundiaí / SP - Brasil.
Correspondência: Fernando Antônio Maria Claret Alcadipani – Av. Carlos Salles Bloch 660 – Jundiaí / SP – Brasil – CEP 13208-100 – E-mail: [email protected]
Recebido em 12/01/2010; aceito para publicação em 16/05/2010; publicado online em 20/07/2010.
Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 2, p. 149-150, abril / maio / junho 2010
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Osteoma extra-canalicular do osso temporal.
Macedo et al.
Figura 1. Corte coronal da tomografia computadorizada mostrando lesão óssea de base larga envolvendo o córtex da parte mastóidea do
osso temporal.
Figura 2. Incisão retro-auricular direita com exposição da lesão óssea
no processo mastoide direito.
Discussão
A radiografia simples dos osteomas apresentam
suas bordas bem definidas e a tomografia computadorizada define com precisão uma estrutura óssea bem delimitada de crescimento externo ao mastoide3,4.
O tratamento cirúrgico está indicado por razões cosméticas nos osteomas da porção escamosa e mastoide
do temporal com bons resultados estéticos. Possíveis
complicações do osteoma de mastoide compreendem
as recorrências, o comprometimento do nervo facial, lesão do seio sigmoide e a disacusia neurossensorial por
compressão do canal auditivo interno. O detalhe técnico
da cirurgia é remoção cuidadosa da cobertura periostal
e obtenção de uma margem segura da cortical da mastoide ao redor. Nas lesões intracanaliculares a cirurgia é
realizada com o propósito de preservar a audição, equilíbrio e o nervo facial5.
A importância do caso reside em estabelecer o diagnóstico diferencial principalmente com as neoplasias
malignas da região mastóidea que apresentam pior
prognóstico1,2,4.
Osteomas do osso temporal podem comprometer
todas as suas porções incluindo: escamosa, mastóidea,
petrosa, processo estiloide e timpânica. Quando localizados na porção extra-canicular do osso temporal a porção mastoide tem sua maior incidência4,5.
É lesão formadora de tecido ósseo, benigna, constituída por tecido ósseo maduro e bem diferenciado,
com uma estrutura predominantemente laminar com organizados canais Haversianos, estroma intertrabecular
contendo osteoblastos, fibroblastose, células gigantes e
ausência de células hematopoéticas3. A etiologia é controversa e ainda não totalmente conhecida, existindo
três teorias clássicas: embriológica, traumática e infecciosa. História de cirurgia e/ou radioterapia na região do
mastoide e as disfunções da glândula pituitária podem
ser principais causas3.
Histopatologicamente são classificados em compactos e esponjosos, podendo ocorrer predomínio de um ou
de outro componente, chamados de mistos. Os osteomas
compactos originam-se a partir de ossificação membranosa e os esponjosos a partir de ossificação endocondral.
Apresentam uma tendência ao crescimento lento, estimado em 1,61mm/ano, variando de 0,44 a 6,0mm/ano3,5.
Clinicamente são assintomáticos e raramente podem causar dor e sinais inflamatórios, a dor induzida por
pressão pode ser referidas no pescoço, ouvido externo e
médio, fato ocorrido no caso apresentado3,5.
Os diagnósticos diferenciais devem ser feitos com:
osteossarcoma, metástase osteoblástica, granuloma
esosinofílico isolado, doença de Paget, tumor de células gigantes, osteoma osteoide, meningioma calcificado,
displasia fibrosa monocística1,2,4.
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Referências
1. D´Ottavi LR, Piccirillo E, De Sanctis S, Cergua N. Mastoid osteomas:
review of literature and presentation of two clinical cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 1997;17(2):136-9.
2. Takenaka PMS, Perez FRP, Patrocínio SJ, Ribeiro JT. Osteoma de
mastóide: relato de caso e revisão da literatura. Rev Bras Otorrinolaringol. 2004;70(6):846-9.
3. Yuen HW, Chen JM. External auditory canal osteoma. Otol Neurotol.
2008;29(6):875-6.
4. Güngör A, Cincik H, Poyrazoglu E, Saglam O, Candan H. Mastoid
osteomas: report of two cases. Otol Neurotol. 2004;25(2):95-7.
5. Van Dellen JR. A mastoid osteoma causing intracranial complications. A case report. S Afr Med J. 1977;51(17):597-8.
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 2, p. 149-150, abril / maio / junho 2010
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