António Maria Lisboa: poeta do poeta
Autor(es):
Silva, Manuela Parreira da
Publicado por:
Crescente Branco: Associação Cultural e Recreativa
URL
persistente:
URI:http://hdl.handle.net/10316.2/37354
Accessed :
30-Dec-2015 20:39:53
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letras & artes
2
MANUELA PARREIRA DA SILVA
Universidade Nova de Lisboa
ANTÓNIO MARIA LISBOA
POETA DO POETA
Mas os grandes poetas já morreram todos
ou estão velhíssimos.
Cristina Campo, Os Imperdoáveis
…o poeta não morre (como poderia ele
morrer?!...)
António Maria Lisboa
De António Maria Lisboa se pode dizer que é o mais surrealista e o menos surrealista
dos poetas (surrealistas) portugueses: o mais surrealista, pela radicalidade da sua poética;
o menos surrealista, pela recusa reiterada de um rótulo de Escola.
Lendo uma das suas cartas a Mário Cesariny, recebida em 7 de Janeiro de 1952,
percebemos quer as razões desta recusa, quer os pressupostos em que assenta o seu
conceito de Poesia como Metaciência.
Em Dezembro do ano anterior, surgira um folheto intitulado Do Capítulo da Probidade,
cujos signatários – Cesariny, Mário-Henrique Leiria, Henrique Risques Pereira, Carlos
Eurico da Costa, Fernando Alves dos Santos e Cruzeiro Seixas, além do próprio Lisboa
– rebatem as afirmações feitas por Alexandre O’Neill na Antologia Tempo de Fantasmas
(editada por Cadernos de Poesia). Na citada carta, António Maria Lisboa censura o facto
de o seu nome aí ter sido incluído sem autorização. Apesar do reparo, o poeta (que,
então, se encontra no Sanatório da Quinta dos Vales, perto de Coimbra) escreve:
se a vossa pressa não fosse tão apressada eu teria dado o suficiente para encher o resto da
folha que imprimiram. Mas não faz mal. Por outro lado também não fizeram mal em me
incluir entre os vossos nomes embora de futuro ser melhor eu saber o que assino e além
ou apesar de estar de acordo com o que na nota se diz. O que não aconteceu nesta pode
muito bem acontecer noutra: a ideia ou afirmação de que pertenço a grupo surrealista.
(PAML, p. 292 )
Logo a seguir, acrescenta:
Nesse sentido é bem nítida a minha posição declarada: não pertenço a grupo surrealista
algum, não nego o surrealismo, as suas conquistas, a experiência realizada; não posso é
suspender-me em atitudes, gestos, palavras, ditos já convencionais. É aos actos-palavras
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e não às palavras que supõem actos, que me dirijo. Não me interessará que se digam ou
não surrealistas ou outra coisa, interessa-me o que dizem após isso. (ibid.)
Creio encontrar-se nesta passagem uma explicação clara para a posição assumida por
António Maria Lisboa: dizer-se surrealista, ou membro de qualquer grupo afim, nada
significaria se constituísse apenas uma declaração de intenções. Para o poeta, palavra
e acto não existem como termos separados ou consecutivos – a palavra é acto, o acto
implica a palavra, como deve ser sempre em poesia.
De resto, encontramos no referido folheto contra-O’Neill, uma epígrafe do próprio A.
Maria Lisboa, datada de 1949, que corrobora inteiramente o que, mais tarde, escreverá
na carta:
A actividade surrealista não é, como Jorge de Sena quer (e outros também) uma simples
libertação de coisas que chateiam, mas um golpe fundo, e de cada vez que é dado, na
realidade presente… Não é mero exercício para se dormir melhor na noite seguinte, mas
esforço demoníaco para se dormir de maneira diferente… (ibid., pp. 403-404)
Ser surrealista não é, pois, para Lisboa, um simples modo de estar, ou de vestir, é
procurar, na radicalidade do acto poético, uma forma outra de viver, de ser Livre.
Com efeito, diz o poeta no seu absolutamente fundamental manifesto-poema Erro
Próprio, lido na Casa da Comarca de Arganil, em 3 de Março de 1950:
Dentro dos nomes genéricos, mais amplos e capazes de abrigar as personalidades mais
díspares, foi até hoje o Surrealismo que me apareceu, pois os seus princípios e, portanto,
denominadores comuns são poucos e indistintos – automatismo psíquico, Liberdade,
o encontro dum determinado ponto do espírito sintético, o Amor, a transformação da
realidade, a recuperação da nossa força psíquica, o Desejo, o Sonho, a Poesia. Mas,
mesmo assim, depressa, posto a funcionar, se criaram as diversas cores Surrealistas
(sem no entanto negar os seus princípios… claro!) e de tal forma, e tanto mais feroz,
que o movimento ou passa a ser a cauda dum Pontífice Inadmissível ou cai na ofensa e
na querela inútil do EU SOU tu não és (…). (ibid., p. 83)
Esta Liberdade (maiusculada) é incompatível até com a pertença a «um agrupamento
de indivíduos Livres». O trabalho poético, vê-o António Maria Lisboa como
«absolutamente individual», «sendo só possível uma colaboração por intermédio de
publicações, de cartas, de pequenas ou grandes conversas em grupo não superior a 3»
(ibid., p. 274) , conforme se lê numa outra carta a Mário Cesariny, datada de 15 de Maio
de 1950.
A rejeição de uma vida de grupo propícia à guerrilha, à intriga, às dissidências, num
meio «onde a ofensa e a malevolosidade é um hábito de 8 séculos de velhas-comadres»
(ibid.), passa pelo assumir da necessidade de uma Iniciação, forçosamente pessoal
e intransmissível. Ela traduz-se, afinal, naquilo a que Lisboa chama «a conquista da
Liberdade e do Amor» que «são indubitavelmente conquistas individuais e só como
indivíduos as podemos fazer» (ibid., p. 76).
«Uma mudança de rumo de TODOS e em TUDO não pode deixar de começar em
nós individualmente», escreve Lisboa em Erro Próprio (ibid., p. 81). A mudança, ou
a transformação urgente da sociedade, que o Surrealismo propõe, só é possível se o
Poeta não pactuar com a «Realidade Inferior dos bichos alinhados à espera do céu ou
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do inferno» (ibid., p. 90). É que a Realidade do Poeta é a Surrealidade, isto é, a vida
«transfigurada pela Magia, pelo Desejo, pela Vontade, pelo Amor, pela Liberdade, pelo
conhecimento sábio, pela POESIA!» (ibid., p. 91).
A descoberta desse rumo, cumpre ao Poeta fazê-la, e fazê-la dentro dos limites
ilimitados do seu acto poético, que é «fechado e não aberto», como a dada altura afirma,
hermético, solitário, íntimo. Cumpre-lhe, então, transmutar a sua própria natureza,
obrar em si, no seu próprio Corpo, a Grande Obra. E fazer, de alguma maneira, por
alcançar o Plano Superior de Poeta Mago, ou, dito de outra forma, por encontrar «A
PASSAGEM PARA O EXTERIOR DO BICHO MONSTRO QUE HABITAMOS»
(ibid., p.81); aceder também a esse ponto do espírito, intuído por André Breton, a partir
do qual «la vie et la mort, le réel et l’imaginaire, le passé et le futur, le communicable et
l’incommunicable, le haut et le bas cessent d’être perçus contradictoirement» (Breton,
1979, pp. 72-73).
Sendo a determinação deste ponto, o móbil fundamental de toda a actividade surrealista,
como defende o poeta francês, compreende-se a afirmação de António Maria Lisboa,
colhida também em Erro Próprio, de que o Pensamento poético é o único com
verdadeiro valor, por ser o «único interessado na Realidade que se nos apresenta num
todo e não parcelada» (PAML, p. 78). Compreende-se igualmente a sua oposição crítica
face a uma poesia que se pretenda mera «fixação da realidade». «Cada vez mais sinto
vontade de não me confundir com os artistas “fixadores do real” – o surrealismo está
cheio deles», escreve na já citada carta a Mário Cesariny (ibid., p. 277), e estaria talvez a
pensar também, neste momento, nos neo-realistas seus contemporâneos, cujo propósito
de uma literatura útil, objectiva, politicamente (e partidariamente) comprometida,
sempre se lhe afigurou de curto alcance e pouco poética, historicamente datada.
Para o Surrealismo de António Maria Lisboa, não se trata de denunciar os males sociais,
de mostrar o que está à vista. «Retirem da minha frente os que “jogam” com o Povo
e o Homem da Rua. As paredes do meu quarto são a paisagem a que me habituei e se
saio pela janela às vezes é para ofender quem me pede submissão», esclarece em Erro
Próprio (ibid., p. 76). De facto,
Trata-se de INVENTAR O MUNDO! Descobrir as semelhanças e dissemelhanças, pôr
a nu o rendilhado que une o Invisível ao Visível, estabelecer um Arco-voltaico entre o
Consciente e o Inconsciente, entre o Passado e o Futuro, provocar um Curto-circuito
para os destruir isolados, perfurar a Razão com a Loucura e vice-versa – todas as formas
são boas, todas as conjugações possíveis! (ibid., p. 93)
Inventar, desta maneira, o Mundo é desígnio surreal de todos os tempos. É também por
este motivo que intitular-se surrealista, desta ou daquela facção, se revela redutor; e estar,
por assim dizer, ao serviço de uma limitada transformação social, decorrente embora de
um absoluto non-conformisme, se torna improfícuo. Ora, «o Poeta precisamente só o
será quando a sua imaginação for além da imaginação do Universo», pois que «A Razão
é outra e é Louca», lê-se em «Certos outros sinais» (ibid., p. 216). Por isso, o propósito
de António Maria Lisboa é antes um «Projecto de Sucessão» (título de um poema do
opúsculo Ossóptico): «Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua/ (…)/ beber-se por um
copo de oiro e sonharem-se Índias» (ibid., p. 151-152); ou, num «rêve oublié» (título de
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outro poema), «continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros / (…) / Abrir-se a
janela para entrarem as estrelas / abrir-se a luz para entrarem olhos / (…) / E no CIMO
disto tudo uma montanha de ouro // E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata» (ibid., p.
153).
Inventar o Mundo pressupõe, inevitavelmente, um conceito de poesia irredutível a
qualquer concessão aos padrões comuns, e uma praxis de poesia radical, aceitando que a
linguagem foi dada ao homem, ainda no dizer de André Breton, «pour qu’il en fasse un
usage surréaliste» (Breton, 1979, p. 44). É seguindo os ditames desse uso surrealista da
linguagem, através do qual as palavras se sucedem, praticando entre si «la plus grande
solidarité», e buscando exprimir «le fonctionnement réel de la pensée» (ibid., p. 36), que
António Maria Lisboa intenta provocar o Curto-Circuito, donde saltará a faísca de uma
iluminação, ou estabelecer, como postula em Erro Próprio, uma relação essencial entre
o Consciente e o Inconsciente. Leia-se, a título de exemplo, o final de «Sétimo poema»:
A chave de pedra desceu suspensa do alto da torre por um cabelo. Nele existe um
orifício fino e longo por onde passa um Mar e moram Montanhas e Abismos. Apenas um
Bicho povoa o Tempo rodando até à fascinação. (PAML, p. 188)
É, assim, através da não renúncia à Consciência, mas da afirmação da «Inconsciência e
[d]a Consciência disso», conforme nos diz, numa ressonância visivelmente pessoana; é
através da subversão da linguagem poética - cuja «dificuldade» de leitura, nas palavras
de um dos raros exegetas lisbonianos, Carlos Felipe Moisés, «é total, como se em sua
obra aflorasse nítida, a própria consciência do acto criador» (ibid., p.349) - que António
Maria Lisboa se afirma, preferencialmente, Poeta Metacientista.
A Metaciência, termo-conceito inventado pelo próprio Lisboa, pretende, como escreve
numa carta a Mário-Henrique Leiria, em 23 de Abril de 1950: «dar ao Homem o Centro
do Universo de que ele anda arredado, por outras palavras: fazer com que o Homem
possua no Cérebro, na Mão, todos os raios da Esfera deste Universo como formas a
propulsar para outro». E configura-se como «um movimento de Poetas absolutamente
em oposição àqueles que são apenas “fixadores do real”» (ibid., p. 282). Alcançar
esta posição, escreve ainda, «só é possível por um exercício iniciático». O Poeta
Metacientista sabe-o.
Sobre o mesmo assunto, versa a carta a Cesariny, escrita alguns dias depois da que se
acaba de citar. Nela, explicita o modo como concebeu aquilo a que chama Metaciência;
Meteu-se-me na cabeça além de outras coisas fazer um estudo completo das chamadas
ciências ou artes mágicas, extrair-lhes aquelas pretensões ridículas ou simplesmente
falsas descaradamente e delas retirar-lhes uma síntese (de cada uma) que por sua vez
iriam entroncar numa só “ciência” que para lhe dar um nome chamaria METACIÊNCIA
forçosamente que este estudo seria acompanhado ou vai ser acompanhado por um
outro sobre a iniciação egípcia e apresentaria, ao apresentar a METACIÊNCIA, a
concepção do Universo deles Egípcios e a concepção do METACIENTISTA que como
os Surrealistas vê o Universo “UNO E MÁGICO” (ibid., p. 277)
É sabido que o seu interesse nessas matérias - que podemos sintetizar na palavra
Ocultismo, ou Esoterismo -, se deve à influência de Sarmento de Beires, com quem
conviveu, quando da estadia em Paris (onde manteve também contactos com alguns
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surrealistas franceses, nomeadamente Benjamin Péret), em 1949. É precisamente numa
carta aos amigos, enviada daquela cidade, em 29 de Março desse ano, que o dá a saber:
«A grande notícia é talvez a minha iniciação Mágica-Espírita-ocultista-cabalística-istaista-ista-ista, etc., a compra de livros sérios que me esgotaram as massas (…)» (ibid., p.
251).
Ainda que esta iniciação deva ser tida num sentido restrito, de simples tomada de
conhecimento de um largo espectro de disciplinas esotéricas, a verdade é que a
entrada numa linha ideativa que nega o pensamento lógico (enquanto responsável
pela dessincronismo do homem com o Universo) e o sobre-racionalismo, só pode
ter encontrado em António Maria Lisboa total acolhimento. A sua proposta de uma
Metaciência decorre, sem dúvida, dessa mesma iniciação. Contudo, a palavra escolhida
(ainda provisória, como se lê acima) pode não ser a mais adequada, na consideração de
Pinharanda Gomes, expressa num artigo recente:
Talvez tivesse sido preferível adoptar, para o saber que se propunha, o nome de
Metalógica. Se, na Lógica, as ferramentas de trabalho se ordenam à construção de uma
gramática lógica, - a palavra, o juízo, a definição – na Metalógica (dita Metafísica) o
objectivo ou escopo é constituído pelo entendimento dos universais, para além dos
particulares. (Gomes, 2013, p. 51)
Ao afirmar que «a existência é imprevisível pelo processo racional de 2+2/ 4» (PAML,
p. 77), o poeta metacientista (ou metalógico?) aceita ipso facto a imprevisibilidade e
o automatismo – a chave iniciática, no seu entender – como meios privilegiados para
atingir essa lumière de l’image de que fala Breton, propiciadora da mais bela das noites,
la nuit des éclairs, perto da qual o dia não passaria de uma noite.
A poesia de António Maria Lisboa corporiza inteiramente este desígnio bretoniano. E
ele confirma-o exemplarmente em «Operação do Sol»:
O exercício, o jogo da imagem não é senão um meio, uma forma iniciática. (…) Agrupar
as mais belas imagens sob a designação de poema e dar a lê-lo a um numeroso público
não coincide necessariamente com a Negra Actividade Poética que nos leva a criar
entre o Indivíduo e o Cosmos um corredor livre e por ele um movimento incessante de
enriquecimento comum. (ibid. p. 170)
Sublinhe-se a expressão Negra Actividade Poética, que remete para uma Poesia
encarada como a Obra ao Negro de um processo alquímico, própria de um Poeta que,
por caminhos obscuros, faz luz na noite, ou busca o Ouro - «A Poesia: Realidade Liberta
– que de novo se fica só, abandonado e de novo se é a noite! OURO VERMELHO
AZUL PRETO» (ibid., p 212).
Cada poema de António Maria Lisboa é um acontecer luminoso. E a sua poesia
é, conceptual e realizadamente, uma Metapoesia, quer no sentido de que se volta
hermeticamente sobre si mesma, qual serpente que morde a própria cauda e desenha o
Infinito, quer no sentido de que procura questionar e transcender a condição precária
do ser humano dividido. Cada poema surreal de António Maria Lisboa convoca um
novo mapa, uma nova terra Livre, com «Novas Cidades onde habitarão os Poetas», com
Homens e Mulheres unidos, nesse «PONTO NEVRÁLGICO ONDE COINCIDEM O
AMOR MÚLTIPLO E ÚNICO» (ibid., p. 81) - «Ísis e Osíris – a realidade misturada.
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Tudo é possível até a nossa própria vida!» (ibid., p. 216).
De António Maria Lisboa se poderia também dizer que é o mais eficaz doutrinário e
filósofo dos poetas surrealistas portugueses, aquele que levou mais além, mais fundo,
uma reflexão sobre o fazer poético, o que melhor terá conseguido harmonizar teoria e
prática (se assim me posso exprimir). Ele é, por assim dizer, o «poeta do poeta», para
usar a expressão conferida por Heidegger a Hölderlin (e que Carlos Felipe Moisés
lembra, num ensaio já citado). Ele é, no entanto, também aquele poeta vidente,
prematuramente desaparecido, que Sarmento de Beires recorda assim:
uma grande alma, um atormentado da vida e da forma, lutando contra os limites da
expressão verbal que não chegava para a grandeza do seu pensamento, e que talvez se
perca no paul do esquecimento por aquele fenómeno não raro, da falta de perdão dos
pigmeus para aqueles que se agigantam. (ibid., p. 328)
Lembremo-lo, então, como um Poeta imperdoável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Breton, André, Manifestes du surréalisme, Paris: Gallimard, 1979;
Gomes, Pinharanda, «António Maria Lisboa: uma gnoseologia lógico-poética», A Ideia, n.º 72,
Nov. 2013, pp. 49-56;
António Maria Lisboa, Poesia, texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos, Lisboa:
Assírio & Alvim, 1977 [abreviado: PAML]
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António Maria Lisboa: poeta do poeta Autor(es): Silva, Manuela