Dos bichos todos o que eu mais estimo
É o porquinho e não é meu primo.
São nobres os porcos, inteligentes,
Bem educados e muito valentes.
Mas como não há regra sem excepção,
De vez em quando surge um parvalhão.
Diga-me você o que pensará
Se, passeando pelo bosque, lá
For encontrar um porco que trabalha
A construir uma casa de PALHA?
O lobo que tal viu pôs-se a pensar:
«Este tonto vai ser o meu jantar.»
«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então vou soprar mais forte que o vento,
A tua casinha não dura um momento!»
Por mais que rezasse a criatura
O lobo destruiu-lhe a arquitectura.
«Fiambre e presunto já eu provei.
De todos os lobos eu sou o rei.»
Do pobre porquinho, ao fim e ao cabo
Não se salvou nem a ponta do rabo.
Seguiu o seu passeio o lobo, inchado,
Mas o que viu logo o deixou pasmado:
Outra casa de porcos entre a folhagem
Toda feita de TRONCOS E RAMAGEM.
«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então eu vou soprar mais forte que o vento,
A tua casa não dura um momento.»
Gabou-se o lobo: «Vais ver, leitão!»
E pôs-se a soprar que nem um tufão.
Grunhiu o porquinho num alvoroço:
«Já comeste, ó lobo, um bom almoço.
Não queres comigo fazer um contrato?»
«Para eu te comer antes num prato?»
Agarrou-o sem lutas nem fadiga,
Num instante lhe estava na barriga.
«Dois gordos porquinhos comi a eito
Mas ainda não estou satisfeito»,
Disse o lobo. «Não me importaria
De comer outro lá para o meio dia.»
De modo que com passo sub-reptício
O lobo se abeirou de outro edifício,
Onde outro porquinho estava abrigado
Com medo de ser também devorado.
Mas este porquinho, que era o terceiro,
Foi mais esperto e muito matreiro.
Com palhas e ramos trabalha um tolo,
Ele fez a casa só de TIJOLO.
«Aqui não me apanhas», o
porco disse.
«Apanho-te já, tens muita tolice.»
«Para isso precisas de muito soprar
E a minha casa não vai abanar.»
O lobo soprou que nem um furacão,
A casa era forte, soprava em vão.
«Não a deito ao chão por mais que me irrite.
Vou deitá-la ao ar com dinamite.»
«Grande malvado!», gritou o porquinho,
«Hei-de salvar-me. Espera um bocadinho.»
No telefone pegou apressado
O nosso porco tão ajuizado.
À espera de ouvir algum bom conselho
Ligou para o Capuchinho Vermelho.
«Alô», disse ela, «Quem está a falar?
És tu, porquinho, que me vens contar?»
«Preciso que me ajude, Capuchinho,
Tenho problemas com um mau vizinho.»
«Vamos a ver o que posso fazer…
Ah, é um lobo que te quer comer.»
Disse a menina, nada amedrontada,
Pois com lobos estava habituada.
«Ai a minha vida corre muito torta»,
O porco disse. «Tenho um lobo à porta.»
«Os meus cabelos eu estava a lavar,
Espera aí, que já os vou secar.»
Pouco depois, através da floresta,
Chegou a menina, brava e lesta.
Lá estava o lobo, de olhos a brilhar
Como dois punhais prontos a cortar,
Abrindo a bocarra, afiando os dentes,
Rasgando a terra com garras valentes.
A menina puxou da camisola
Com rapidez sua velha pistola.
Mais uma vez no lobo acertou,
Só com um tiro o bicho matou.
O porquinho, espreitando pela janela,
Aplaudia aquela bela donzela.
Porquinho, nunca deves confiar
Que moça fina te queira ajudar.
Capuchinho Vermelho tem, meu bobo,
Dois belos casacões de pele de lobo.
E viaja com MALINHA DE MÃO
FEITA DE PELE DE PORCO, pois então!
FIM
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