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PROCESSO TEÓRICO, ÉTICO E METODOLÓGICO: CAMINHOS PERCORRIDOS
Angela Maria Caulyt Santos da Silva
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa de Pós-Graduação em Educação
Eixo Temático 4: Pesquisa, Políticas Públicas e Direito à Educação
Categoria: Comunicação Oral
RESUMO
O objeto de investigação deste trabalho é a metodologia utilizada na pesquisa de doutorado
intitulada “Interfaces: Educação Especial & Seguridade Social” (2014). O objetivo é descrever
os modos de pesquisar, de maneira a evidenciar como os dados empíricos iniciais podem lançar
descobertas e possibilidades para novos caminhos a serem percorridos na metodologia da
pesquisa. No referencial teórico apropriamos de diversos autores que discutem elementos da
investigação científica como técnicas e instrumentos de coleta de dados, e Elias, para analisar as
categorias produzidas na tese, sobretudo por meio do conceito de configuração e equilíbrio de
poder. Notamos que a análise da metodologia e dos seus desdobramentos no decorrer da
realização do trabalho foi fundamental para evidenciar a organização de um delineamento
apropriado ao estudo e o surgimento de situações que foram possíveis em virtude da opção
metodológica.
Palavras-chave: Processo teórico, ético e metodológico de pesquisa; Movimentos
metodológicos; Dados direcionando caminhos à metodologia.
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PROCESSO TEÓRICO, ÉTICO E METODOLÓGICO: CAMINHOS PERCORRIDOS
Angela Maria Caulyt Santos da Silva
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa de Pós-Graduação em Educação
Eixo Temático 4: Pesquisa, Políticas Públicas e Direito à Educação
Categoria: Comunicação Oral
INTRODUÇÃO
Os processos teóricos, éticos e metodológicos consistem na carpintaria para a pesquisa, porque
enfocam escolhas, movimentos, técnicas e instrumentos para a produção dos dados, ambientes e
participantes pelos quais a pesquisa foi construída. Debruçamos na pesquisa de doutorado
concluída em 2014 intitulada: “Interfaces: Educação Especial & Seguridade Social”, que teve
como objetivo geral analisar as interfaces das políticas públicas sociais – educação especial e
seguridade social – no que se refere à garantia de direitos à educação de crianças com
deficiência e Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), entre zero e cinco anos de idade,
no município de Vitória/ES.
Na fundamentação teórico-metodológica da pesquisa inspirou-se em aspectos da teoria
figuracional do sociólogo Norbert Elias (1993, 1994a, 1994b, 2000 e outros) para discutir a
formação do Estado, a relação sociedade e Estado na formulação e execução de políticas
públicas e, sobretudo, para analisar as figurações de interdependência entre os setores sociais no
que se refere à práxis para atender à educação especial, em particular a faixa etária estudada.
Essa teorização sociológica contribuiu para entender a movimentação da balança de poder, a
relação decorrente das relações de grupos estabelecidos e os outsiders, dentre inúmeros outros
urdimentos que nos envereda para a história cultural e os processos de civilidade. Ademais em
outros teóricos que discutem técnicas e instrumentos para a produção e registro de dados
empíricos que em seguida apresentaremos.
REFERENCIAL TEÓRICO
É uma pesquisa de natureza qualitativa. Para Chizzotti (2003, p. 221) essa pesquisa adota
“multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e
enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados
que as pessoas dão a eles”. Segundo Minayo (1994, p. 22) esse tipo de pesquisa trabalha com:
“[...] o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.
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Dentro da abordagem metodológica, escolhemos o Estudo de caso, que é um método que se
ajusta ao objetivo desta pesquisa, pois conforme citados pelos autores Deus; Cunha; Maciel
(2010, p. 3) “é fundamental conhecer o que se aprende ao estudar o caso, sendo necessário um
estudo de particularidade e da complexidade de um caso singular, o que leva a entender sua
atividade dentro de importantes circunstâncias”. Empregamos técnica de Entrevista com
instrumento – roteiro em formulário semiestruturado - em dois formatos: um para as professoras
de sala de atividades e de educação especial e outro para os responsáveis/ mães. Entendemos a
que a entrevista “[...] face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em
que estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e
interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado” (SZYMANSKI, 2008, p. 12).
Utilizamos entrevista gravada (em áudio) para que a fala do entrevistado/a fosse trabalhada na
íntegra no momento de transcrição para obter com maior autenticidade as contribuições dos
entrevistados. Szymanski (2008, p. 14) também destaca a presença da narrativa durante a
entrevista, pois “Muitas vezes, esse conhecimento nunca foi exposto, nunca foi tematizado”. E
referenda “O movimento reflexivo que a narração exige acaba por colocar o entrevistado diante
de um pensamento organizado de uma forma inédita até para ele mesmo”.
Acerca da narrativa, Benjamin (1994, p. 205) comenta que as histórias sobrevivem a partir do
momento em que são recontadas, pois segundo esse autor “contar histórias sempre foi a arte de
contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas”. E de maneira
encantadora cita que nós perdemos, de nós e em nós mesmo, quando verdadeiramente ouvimos
histórias. “Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais
o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido”.
Também realizamos Grupo focal com técnicas das secretarias municipais de educação,
assistência social, saúde e do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Utilizamos questões
disparadoras para grupo focal. Gatti (2005, p. 69) ressalta que o grupo focal possibilita
proporcionar alguns benefícios para os profissionais participantes, tais como oportunizar a
ampliação das suas perspectivas em contato com sujeitos que não fazem parte de “seu círculo
mais próximo de relações, de se envolver em processos de decisão, de se inteirar de
informações, de interagir com pesquisadores na condição de experts, etc”. A pesquisa com
grupos focais permite compreender processos de construção da realidade por determinados
grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos,
comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das
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restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão,
por pessoas que partilham alguns traços comuns, relevantes para o estudo do problema visado.
Além de ajudar na obtenção de perspectivas diferentes sobre uma mesma questão, o grupo focal
permite também compreender ideias partilhadas por pessoas no dia-a-dia, e dos modos pelos
quais os indivíduos são influenciados pelos outros. Ibiapina (2007, p. 44) destaca que os papéis
sociais “ocupados pelos docentes são intercomplementares. [...] a docência não é construída
única e exclusivamente por meio das experiências individuais ou por meio das construções
históricas da categoria, mas pelas relações entre os dois fatores”.
Para Barbour (2009, p. 56) os grupos focais conseguem refletir temas e inquietações que são
fundamentais para os participantes, ao invés de irem consoante ao plano do pesquisador. Isso
significa que “os dados podem trazer surpresas. Os participantes podem, por exemplo, levar em
consideração em suas deliberações fatores que os pesquisadores não haviam antecipado [...].”
Barbour prossegue afirmando que o grupo focal possibilita tornar distinta a relevância para o
pesquisador de explicações que têm alternação “para percepções ou comportamentos - ou
mesmo de novos paradigmas teóricos, cuja consideração durante a análise pode vir a ser útil”.
Como procedimento para produção dos dados utilizamos a observação participante para
aproximar e conhecer as crianças que fizeram parte deste estudo. Para Gil (1989, p. 107 - 108) a
observação direta “consiste na participação real do observador na vida da comunidade, do
grupo ou de uma situação determinada. Nesse caso, o observador assume, pelo menos até certo
ponto, o papel de um membro do grupo”. Conforme Chizzotti (1997, p. 90) essa técnica “é
obtida por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as
ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista”.
Os Registros em diário de itinerância ou de campo e a análise dos dados produzidos
consistiram em ações logo após a vivência de cada contato telefônico ou visita institucional, e
também na aplicação de cada instrumento, para a produção de dados de cada etapa da pesquisa.
Ressalta-se que o registro em diário de itinerância ou de campo se concretizou após cada etapa
da pesquisa e, especialmente, mediante aplicação de quaisquer dos instrumentos para coleta ou
produção dos dados mencionados anteriormente. Foi um recurso para descrever o ambiente, as
emoções e indagações percebidas pela pesquisadora, no momento da entrevista e do grupo
focal. Consistiu em referências a temas de conversas ou observações, em uma anotação
ocasional que revela os urdimentos, as relações de poder/saber dos “bastidores”. Para
Malinowski (1997, p. 21): “Um diário, no sentido comum, pode ser um simples registro
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cronológico de eventos cotidianos. É isso que fazem, ou tentam fazer, muitas pessoas, como
uma espécie aide-mémoire para suas recordações ou de justificativa [...]”.
OBJETIVO
Descrever os modos de pesquisar, de maneira a evidenciar como os dados empíricos iniciais
podem lançar descobertas e possibilidades para novos caminhos a serem percorridos na
metodologia da pesquisa.
METODOLOGIA
Neste artigo podemos denominar de ‘metametodologia’, ou seja, a metodologia dentre de si
mesma. A pesquisa compreendeu movimentos interrelacionados os quais ajudaram a sequenciar
os procedimentos éticos, políticos e metodológicos realizados durante a investigação. Para tanto
se utilizou de diversos recursos e técnicas que serão detalhados a seguir, no desenvolvimento
desse artigo: submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP); as investigações preliminares
no campo empírico com apresentação do projeto e oficialização da pesquisa; denominação dos
participantes da pesquisa; um olhar para o município de Vitória/ES destacamos a Lei Municipal
nº 8.611/2014; aproximação da pesquisadora com os participantes da pesquisa e, por último, os
procedimentos para produção, organização e análise dos dados qualitativos.
DESENVOLVIMENTO
No primeiro movimento foi validado o projeto de pesquisa no CEP que são constituídos por
colegiado, multi e transdisciplinar, consultivo, deliberativo e educativo. Objetiva defender os
interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no
desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. O processo de submissão do projeto ao
CEP transcorreu por oito meses, devido a questões operacionais desse CEP. Solicitamos
autorização às Secretarias Municipais de Vitória: Assistência Social (Semas), Educação (Seme)
e Saúde (Semus) e ao INSS. Nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), após o aval
da direção a Seme foi informada. A contrapartida foi repassar às instituições a pesquisa
concluída, convidar os profissionais envolvidos para a defesa da tese e realizar encontro para a
apresentação analítica do estudo.
Para o segundo movimento as investigações preliminares foram importantes, mediante
negociação com os envolvidos, para adentrar e permanecer nos lócus pesquisados. Desde a
anuência à atenção aos procedimentos políticos, éticos e metodológicos. Foi necessário dialogar
com profissionais que atuam nas áreas pesquisadas, sondar os possíveis caminhos e
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prosseguimentos, pois que no plano das ideias o impossível é real e o irreal pode ser possível.
As implicações para desvelar algo no campo empírico, nos desafiam a procurar
colaboradores/apoiadores.
Segundo Tura (2011, p.192) “[...] verificar as conveniências e possibilidades. Há um longo
processo de negociação [...]”. Nesse sentido, foram realizadas investigações preliminares na
Semas, lócus que se constituiu em porta de entrada para a pesquisa empírica, a partir de reuniões
com gerentes, em momentos diferentes e acesso aos dados do CadÚnico do BPC na Escola.
Assim, ocorreram reuniões com técnicas, em posição de chefia, da Semas e, em seguida,
reuniões com diferentes profissionais em etapas e movimentos. A princípio foram eleitos dois
Programas de Transferência de Renda: Programa Bolsa Família (PBF) e BPC na Escola, por
constituírem interfaces entre as políticas públicas dos setores pesquisados e expressavam
similaridade.
Destacamos que a Semas aplicaria questionários a 413 beneficiários, nos territórios dos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS), (Diário de Itinerância – 11/09/2012). Utilizamos
os seguintes critérios1: crianças com deficiência ou TGD, entre zero a cinco anos, domiciliadas
em Vitória, matriculadas e frequentando a educação infantil, consideradas pelos CMEI como
público-alvo da educação especial. Identificamos neste rastreamento o total de 20 crianças que
preenchiam os critérios: 09 NÃO estavam cadastradas. Das 11 crianças cadastradas, 06
frequentavam escola, 04 NÃO, e 01 NÃO CONSTAVA essa condição no Cadastro (Diário de
Itinerância – 12/09/2012). O fato da criança estar cadastrada na Semas significou a oportunidade
de, na fase inicial da pesquisa empírica, obter informações que envolvessem serviços de outros
setores além da educação, pois complementaríamos dados por meio de visitas ao CRAS da
região administrativa domiciliada, por meio de consulta em prontuário da família.
As outras 03 crianças do total de 06 crianças que frequentavam o CMEI, 02 mesmo sendo
beneficiárias do Programa BPC na Escola, as diretoras desconheciam suas deficiências e
desconsideravam enquanto público-alvo da educação especial. Obtivemos informação na escola
que 01 criança tinha implante de válvula cerebral devido à hidrocefalia e participava de um
Projeto Social, no contra turno. Mediante crianças “não identificadas” como público-alvo da
educação especial, este critério de elegibilidade foi acrescido. De todas as crianças cadastradas
conforme levantamento atendia os critérios eleitos. Portanto havia problema para aumentar o
número de crianças para integrar a pesquisa: o que fazer caso não se encontrasse mais crianças,
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É importante informar que ao longo da pesquisa os critérios passaram por adequações.
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dentro da listagem das cadastradas na Semas e do quantitativo que não frequentavam escola (04
crianças) ou que não constava essa informação (01 criança)?
A princípio poderíamos pensar que estavam identificadas 03 crianças: 01 que resultou da
primeira triagem – alunos que, segundo a Semas, frequentavam escola regular - e 02 que, por
indicação das diretoras dos CMEI, poderiam entrar na pesquisa, e que assim não necessitaria
procurar por outras. Importante ressaltar que a motivação para aumentar o quantitativo foi em
virtude de - se as crianças estivessem frequentando CMEI, até abril de 2006 - os seus
responsáveis procuravam diretamente o INSS – Cadastro do Governo Federal. A partir de
então, o cadastro passou a ser realizado no CRAS bianualmente, embora ainda seja facultativo.
Nesse interstício a família já poderia ter matriculado a criança na educação infantil. A condição
de estar como NÃO CADASTRADA significava que recebia o benefício, porém ainda não
havia sido localizada pelo CRAS.
Em visita a Semas e, em seguida, a Seme soubemos que, em parceria, essas duas Secretarias
Municipais aplicariam o Questionário para Identificar as Barreiras de Acesso e Permanência da
Criança com Deficiência na Escola. Dependendo da renda familiar, além do BPC, o
beneficiário também pode receber o BPF. Consideramos então dois motivos: O primeiro é que
os cadastros são realizados bianualmente e os dados poderiam não estar fidedignos. Por isso, a
conduta foi contatar e visitar os CRAS da região domiciliada pela família da criança e tentar
por via de consulta ao prontuário físico obter informação e cruzar os dados com lista onde se
encontravam essas 05 crianças. Tomamos a iniciativa de informar à técnica que operacionaliza
o Programa BPC na Escola, na Seme. O segundo motivo é que a intenção era identificar ao
todo 05 crianças sujeitos da pesquisa, sendo que 02 ficariam em reserva para resguardar a
continuidade do processo de produção dos dados.
No contato com as diretoras dos CMEI, para confirmar informações do nome da criança e
escolarização segundo levantamento da Semas, uma diretora substituta de um CMEI sugeriu
que incluísse na pesquisa 01 criança surda, cuja mãe tem deficiência visual. Porém essa criança
não pode participar da pesquisa porque não recebia o BPC na Escola, ou pelo menos não se
encontrava no levantamento obtido em 12 de setembro de 2012, da Semas. Desta forma, a
criança e o respectivo CMEI não foram incluídos. Inicialmente crianças cadastradas na Semas
foram pesquisadas e, à medida que adentramos no campo empírico agregamos também aquelas
que ainda não eram cadastradas na respectiva Secretaria, ou seja, crianças que tivessem idade
igual ou inferior a cinco anos, com deficiência ou TGD, que fossem beneficiárias do BPC na
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escola e que frequentassem CMEI. Foi necessário então criar novos critérios de inclusão e de
exclusão dos participantes, bem como pensar nos riscos e benefícios da pesquisa.
O terceiro movimento - denominação dos participantes da pesquisa - a partir deste momento
identificamos por pseudônimos, crianças e profissionais das secretarias e do INSS, denominados
estrelas e os CMEI e instituições, constelações. Essa escolha recaiu na inspiração, a partir da
ideia eliasiana, de interdependência das relações humanas, entre um indivíduo e um grupo de
indivíduos, lembrando que Elias (1994a) enfatiza essa configuração. À primeira vista algum
leitor poderia associar à teoria de sistemas. Entretanto vale ainda ressaltar que Elias teceu
críticas às essas teorias sociais que tratam a sociedade como um “sistema social” como se
tivesse “um equilíbrio”, ou que havendo mudanças elas são consideradas apenas como
“disfunções” (ELIAS, 1994b, p. 232). Transportando essa ideia para composições estrelares,
imaginamos que as estrelas formam relações de interdependência, numa constelação. Por sua
vez as constelações interagem e se interdependem, formam uma rede de trocas em diferentes e
múltiplas relações de dependência.
O quarto movimento - um olhar para o município de Vitória/ES - destacamos a Lei Municipal
nº 8.611/2014 que ajustou o limite municipal de Vitória, passando a ter 09 Regiões
Administrativas2, 80 bairros, a população estimada para 2013 de 348.268 habitantes. Alguns
equipamentos sociais da Prefeitura Municipal de Vitória: 47 CMEI; 29 Unidades de Saúde
(US); 12 CRAS. Nas Regiões Administrativas escolhidas estavam os CMEI das crianças
pesquisadas: Jucutuquara, CMEI Carina, a escola de Canopus; Maruípe, CMEI Lyra, escola
de Vega e São Pedro, CMEI Andromeda, escola de Alpheratz.
No quinto movimento - aproximação com os participantes da pesquisa – foi identificada a
composição das equipes dos CMEI que compunham a territorialidade domiciliar das crianças
pesquisadas, Secretarias Municipais e INSS. Foram agendadas as entrevistas e os encontros em
formato de grupo focal com profissionais e as entrevistas semiestruturadas com os responsáveis
pelas crianças pesquisadas, mediante a disponibilidade dessas pessoas. Aos profissionais dos
CMEI, foi solicitado que expusessem os objetivos da pesquisa às mães ou responsáveis pelas
crianças, considerando o vínculo existente entre família e escola. Mesmo sendo pessoa estranha
para ambas as instituições, investimos no diálogo possível. Assim, depositamos na escola a
confiança nessa colaboração e a partir daí, agendamos a entrevista. O acesso ocorreu
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Disponível em: <http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/dados_regiao/regiao_1/regiao1.asp.> Acesso
em: 17 fev. 2014.
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institucionalmente a Seme/CMEI e Semas/CRAS, porque além de valorizar os vínculos
existentes entre os profissionais, sobretudo aqueles dos CMEI e familiares das crianças/alunos,
havia aspectos éticos, e as pessoas deveriam ser preservadas.
No sexto movimento - procedimentos para produção, organização e análise dos dados
qualitativos - foi fundamental a condução de procedimentos éticos como o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), estabelecimento de compromisso ético de exclusão
de partes da entrevista e do grupo focal. Depois de lido e discutido o TCLE foi assinado por
todos, em duas vias. Para organização e análise dos dados, o material adquirido por meio das
entrevistas semiestruturadas e dos grupos focais em áudio foi transcrito e, junto com as
anotações em diário de itinerância, foi organizado em categorização para em seguida, ser
analisado.
CONCLUSÕES
Observa-se que são poucas pesquisas em educação que submetem os projetos ao CEP. É mister
reconhecer movimentos do processo de pesquisar: o familiar, o exótico, o estranhamento, o
distanciamento e a dialética imersão-emersão-imersão do pesquisador na realidade pesquisada.
Dessa maneira, os caminhos percorridos para identificar os sujeitos, como chegar e como
sensibilizá-los para a colaboração na pesquisa é inelutável para a construção de entendimentos,
acordos e agendas que permeiam as relações sociais em que objetivos, argumentos e condução
da pesquisa envolverão os participantes de forma a se chegar à conclusão do trabalho. Os dados
direcionaram à participação de 03 crianças: Vega, Alpheratz e Canopus. Conforme mencionado
nos procedimentos éticos, as crianças só foram conhecidas após entrevista com suas
mães/responsáveis.
Muitos profissionais que participaram do grupo focal integravam diversos Conselhos
Municipais e são todos do sexo feminino: 1) Educação - Seme: 05 técnicas que
operacionalizavam ações de interfaces e de intersetorialidade entre educação e seguridade
social: BPC na Escola, Programas: Bolsa Família, Tempo Integral e Saúde Escolar. Em 03
CMEI: entrevistas com professores de sala de atividades – 03 e professores de educação
especial – 03; Grupos focais (um grupo focal por CMEI): diretoras – 03; pedagogas – 03;
professores de sala de atividades – 02; professores de educação especial – 02, no CMEI Carina
(escola de Canopus) somente a diretora e a pedagoga participaram do grupo focal. Os grupos
focais com técnicos: 1) Assistência Social – Semas: 03 técnicas; 3) Saúde - Semus: 03 técnicas;
4) INSS: 02 técnicas. As 03 mães/responsáveis pelas crianças foram entrevistadas.
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REFERÊNCIAS
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