UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente ANÁLISE DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS ORGÂNICO E CONVENCIONAL NO TERRITÓRIO DO LITORAL SUL DA BAHIA LUCIANO TOMÁS SANJUAN PORTELA ILHÉUS – BAHIA 2009 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente ANÁLISE DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS ORGÂNICO E CONVENCIONAL NO TERRITÓRIO DO LITORAL SUL DA BAHIA LUCIANO TOMÁS SANJUAN PORTELA Dissertação apresentada para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de concentração: Comunidades sustentáveis Orientadora: Drª Elis Cristina Fiamengue Co-orientador:Dr.Salvador Dal Pozzo Trevizan ILHÉUS – BAHIA 2009 1 P843 Portela, Luciano Tomás Sanjuan. Análise dos sistemas agrícolas orgânico e convencional no Território do Litoral Sul da Bahia / Luciano Tomás Sanjuan Portela. – Ilhéus, BA: UESC/PRODEMA, 2009. xxi, 135f. : il. Orientadora: Elis Cristina Fiamengue. Co-orientador: Salvador Dal Pozzo Trevizan. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Inclui bibliografia. 1. Ecologia agrícola. 2. Agricultura orgânica. 3. Agricultura sustentável. 4. Cultivos agrícolas. I. Título. CDD 577.55 2 DEDICATÓRIA A Maria Sanjuan Portela Mãe querida Exemplo de coragem e dedicação. A Paulinho Portela (em memória) exemplo de irmão, agricultor apaixonado, incentivador e amigo eterno, 3 AGRADECIMENTOS Na busca incessante pelo conhecimento, o amor, a fé e a sensibilidade foram por vezes confrontadas com a dúvida, o medo e o cansaço, mas o esforço prevaleceu apesar da imperfeição (que teimou em aparecer) e o fruto que surgiu, mesmo pequeno deverá servir para saciar a fome de alguns. A Elis Cristina Fiamengue orientadora, pela constante vontade de ver o trabalho progredir. A Salvador Trevisan pela constante presença, mesmo quando ausente. A Ricardo Hehem, Tiago Bucci e Amon Teixeira, mais que colegas amigos incansáveis e que combateram comigo o bom combate da busca do aperfeiçoamento diário. A Max de Menezes solícito e presente nas horas aflitivas, sempre com sabedoria e com palavras iluminadoras. Ao pessoal da Chácara das Sucupiras que através da simplicidade e persistência me ensinaram um nobre caminho de sabedoria. A todos os agricultores que de uma forma ou de outra colaboraram, como inspiradores ou participantes dessa dissertação. A Danniela Serafim que muito incentivou e colaborou nessa construção. Ao Professor José Levi do PRODEMA-Ce pela gentileza da participação na banca e o empenho nas correções da dissertação. 4 A todos os colegas que incentivaram, deram idéias, criticaram e auxiliaram de alguma forma na construção desse trabalho. A Neylor Calazans e Maria Schaun que sempre procuraram auxiliar. A todos os professores pela luz e pela dedicação. A Patrícia Rosado pelas correções e toques importantes. A Peninha (Joaquim Blanes) em memória pela inspiração na luta por uma agricultura mais inclusiva. Ao pessoal da agricultura familiar da CEPLAC de Ilhéus que mesmo no caos, conseguem fazer algo significativo e producente. Ao pessoal da Cooperativa CABRUCA pelo apoio e inspiração. Ao Sindicato Rural de Ilhéus pela disponibilidade e apoio. A Augusto César Cardoso pela presença constante e maravilhosa mesmo a distância. A Gorete, Maurício e Elie do IBGE pela disponibilidade das informações. A minha família que sempre esteve presente, as vezes com silêncio e distância, as vezes com idéias e carinhos. A todos que colaboraram, acreditaram e que de alguma forma participaram desse estudo e que buscaram contribuir para que o trabalho vingasse. A Deus pela presença constante e renovadora na minha vida, pela luz nos momentos difíceis, pela paz nos instantes de agonia e pelo amor manifestado como estímulo e inspiração. 5 PADRÃO O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu, Diogo Cão, navegador, deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei. A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por - fazer é só com Deus. E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês, Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português. E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar. Fernando Pessoa, Mensagem. 6 ESPERDÍCIO Ornamento portentoso Adornado de ouro e prata Tlinnn! No chão caiu... Lamentos não restou quase nada Mas os anos parados Não ficaram calados As bocas passando fome E ele um prato estagnado E agora? Apenas cacos! Derrete-os... E o ouro em pó Voltará a ser um simples prato Calando bocas famintas Realizando algo maior. Luciano Sanjuan 7 Pátria Minha Pátria é esse sentimento de amor que me liga a paisagem do país onde nasci. Minha pátria é essa voz que canta em mim o canto desses pássaros e me transmite a energia desses rios e a paz dessas florestas, dentro do contorno dessa paisagem Valdelice Pinheiro 8 ANÁLISE DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS ORGÂNICO E CONVENCIONAL NO TERRITÓRIO DO LITORAL SUL DA BAHIA* RESUMO Com a crise agrícola que se abateu sobre o Território do Litoral Sul da Bahia em meados da década de 1980, agravada pela doença fúngica “Vassoura de Bruxa”, o sistema de produção agrícola convencional, não conseguiu dar resultados satisfatórios no controle da doença, o que acarretou em sérios problemas socioeconômicos e ambientais. Nesse período vários produtores, ONGs e a CEPLAC, incentivaram o desenvolvimento da agricultura orgânica certificada, na busca de desenvolver uma agricultura mais conservacionista e com o foco do conhecimento voltado para o produtor. Buscando analisar a sustentabilidade agrícola entre o sistema de produção orgânico e o convencional (agroquímico) nas propriedades agropecuárias situadas no Território, analisamos aspectos econômicos e ambientais. Para isso, visitamos 24 propriedades agropecuárias, onde quantificamos a diversificação de cultivos, verificamos as práticas agrícolas de um e do outro sistema, identificamos as práticas conservacionistas (do solo, da vegetação e dos recursos hídricos) adotadas e comparamos as produtividades (da terra e do trabalho) entre esses dois sistemas de produção. Concluindo-se que apesar de não haver estrutura técnica adequada no Território, a agricultura orgânica certificada já consegue resultados econômicos semelhantes e, em alguns casos, superiores aos da agricultura convencional, que conta com todo um aparato técnico sendo que nas questões ambientais, a agricultura orgânica conseguiu percentuais de preservação dos mananciais hídricos, das matas e do solo melhores do que os da agricultura convencional, principalmente porque os orgânicos atentaram mais para o estabelecimento da reserva legal e de várias práticas conservacionistas do solo e da natureza. Palavras chave: Agroecologia, agricultura orgânica, agricultura convencional, sustentabilidade. *Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, julho de 2009. Pesquisa desenvolvida com recursos próprios e apoio da FAPESB (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia). 9 THE ORGANIC AND CONVENTIONAL AGRICULTURAL SYSTEMS IN THE SOUTHERN REGION OF BAHIA * ABSTRACT Since the agricultural crisis on the South East Coast of Bahia in the 1980s, the system of conventional agricultural production was not able to control agricultural diseases, and socioeconomic and environmental impacts result from that situation. At that time, several farmers, NGOs and the governmental institution, CEPLAC, encouraged the development of a certified organic agriculture, in the search of a more conservationist agriculture, focusing on farmers interest. A comparative analysis between the organic production and the conventional agriculture (agrochemical based agriculture) systems was developed, taking into account economical and environmental aspects. For that purpose, 24 farms were analyzed. Diversification were quantified, agricultural practices of both systems, conservationist practices (soil, vegetation and water resources management), soil and productivity for both systems were considered. Outputs show that certified organic agriculture gets similar economical results and, in some cases, better than the conventional agriculture, despite of the technical support that exist in the last case. Environmental advantages can be found at the organic agricultural system in terms of water, forests and soil conservation. Key-words: Agroecology, organic agriculture, conventional agriculture, sustainability. * A Master Dissertation on Regional Development and Environment of the Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, July 2009. This research received support from FAPESB (The State of Bahia Fundation for research support). 10 SUMÁRIO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS POEMAS RESUMO.................................................................................................................................viii ABSTRACT...............................................................................................................................ix SUMÁRIO..................................................................................................................................x LISTA DE FIGURAS..............................................................................................................xiii LISTA DE QUADROS.............................................................................................................xx LISTA DE TABELAS.............................................................................................................xxi 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................22 Objetivo geral...............................................................................................................25 Objetivos específicos...................................................................................................25 2 ÁREA DA PESQUISA – De Região Cacaueira à Território do Litoral Sul da Bahia.........................................................................................................................................27 2.1 Histórico da agroecologia no Território do Litoral Sul da Bahia.................................30 3 REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................36 3.1 Insustentabilidade socioeconômica e ambiental no Território do Litoral Sul..............36 3.2 Sustentabilidade agrícola no Território do Litoral Sul..................................................39 3.3 Diversificação e sustentabilidade agrícola..........,,,,,.....................................................44 11 3.4 Agricultura convencional, revolução verde ou agroquímica....................................45 3.5 Agricultura orgânica.................................................................................................47 4 METODOLOGIA....................................................................................................50 4.1 Municípios e fazendas pesquisadas pesquisados.....................................................50 4.2 Estratificação e amostragem simples aleatória ........................................................51 4.3 Fazendas visitadas....................................................................................................53 4.4 Questionário aplicado...............................................................................................54 4.5 Análises dos grupos..................................................................................................57 4.6 Análises econômicas................................................................................................57 4.7 Análise ambiental.....................................................................................................58 4.8 Fotos.........................................................................................................................60 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................61 5.1 Análise comparativa entre os produtores orgânicos e os convencionais do “grupo A”- Com fazendas até 30 hectares..............................................................................................62 5.1.1 Análise econômica dos produtores do grupo A.......................................................64 5.1.2 Comercialização e agroindústrias nas fazendas do grupo A...................................66 5.1.3 Técnicas agrícolas utilizadas pelos agricultores do grupo A..................................68 5.1.4 Diversificação de cultivos nas fazendas do grupo A...............................................77 5.1.5 Preservação dos recursos ambientais nas fazendas do grupo A..............................79 5.2 Análise comparativa entre os produtores convencionais e orgânicos do grupo B – de 31 a 100 hectares..............................................................................................82 5.2.1 Análise econômica dos produtores do grupo B........................................................83 12 5.2.2 Comercialização e agroindústrias nas fazendas do grupo B....................................87 5.2.3 Técnicas agrícolas utilizadas nas fazendas grupo B.................................................90 5.2.4 Diversificação de cultivos nas fazendas do grupo B................................................98 5.2.5 Análise ambiental nas fazendas do grupo B...........................................................101 5.9 Análise comparativa entre os produtores do grupo C – acima de 100 hectares......106 5.3.1 Análise econômica dos produtores do grupo C......................................................107 5.3.2 Comercialização e agroindústrias nas fazendas do grupo C..................................109 5.3.3 Técnicas agrícolas utilizadas nas fazendas do grupo C..........................................113 5.3.4 Diversificação de cultivos nas fazendas do grupo C..............................................118 5.3.5 Análise ambiental nas fazendas do grupo C – reserva legal, mata ciliar e RPPN...123 6 Considerações finais..............................................................................................127 REFERÊNCIAS...................................................................................................................130 13 LISTA DE FIGURAS Figura Página 1 Paisagem típica do Litoral Sul com o predomínio do sistema de plantio de cacau-cabruca.........................................................................27 2 Mesorregião Sulbaiana.................................................................................28 3 Microrregião de Ilhéus-Itabuna.....................................................................28 4 Território do Litoral Sul da Bahia..................................................................29 5 Rio Almada no auge da estiagem de novembro de 2007 com seu volume de água bem abaixo do normal e com seu leito tomado por baronesas..................................................................................38 6 Laboratório de pesquisas da Vassoura de Bruxa na CEPLAC.....................41 7 Práticas de conservação do solo com cobertura morta e revolvimento mínimo do solo........................................................................41 8 Tripé do desenvolvimento sustentável e da Sustentabilidade agrícola........................................................................................................43 9 Sistema agroflorestal com diversidade de cultivos – herbáceos, arbustivos e arbóreos..................................................................................44 10 Agroquímica levada ao extremo.................................................................46 11 Área de cacau onde foi aplicado herbicida.................................................47 14 12 Casca da cacau para ser misturada com pó de Rocha de Ipirá e ser utilizada como adubo..................................................................48 13 Pássaros catando insetos na horta orgânica...............................................49 14 Território do Litoral Sul da Bahia, com os municípios e as fazendas visitadas......................................................................................51 15 A diversificação de cultivos é uma característica dos produtores do grupo A................................................................................62 16 Receita total e Investimentos em insumos (em reais) nas fazendas do grupo A...................................................................................64 17 Percentual da origem dos rendimentos econômicos dos produtores do grupo A................................................................................65 18 Consórcio de cravo, goiaba e cupuaçu em fazenda do grupo A................66 19 Barcaça secando o cacau em fazenda convencional do grupo A..............67 20 Produtora comercializando seus produtos na central de abastecimento.............................................................................................67 21 Número de agricultores que se utilizavam assistência técnica, faziam análise de solo e fabricavam e utilizavam adubos na propriedade.................................................................................................68 22 Excesso de adubo –cinza industrial (preto) aplicado de forma aleatório no pé de cacau.............................................................................69 23 Utilização de adubo fabricado na fazenda com esterco de gado e casca de cacau........................................................................................69 24 Casqueiro de cacau não utilizado como adubo.........................................70 15 25 Percentual de produtores do grupo A que faziam queimadas...................71 26 Agricultor observando a queima dos restos de cultivo..............................71 27 Número de agricultores que utilizam cobertura morta nos dois sistemas do estrato A................................................................................72 28 Agricultor capinando a terra, retirando a cobertura do solo em fazenda convencional do grupo A........................................................73 29 Área bastante afetada pela retirada da cobertura morta através de seguidas capinas com enxada em fazenda convencional do estrato A................................................................................................73 30 Cobertura morta protegendo o solo e retardando o crescimento das invasoras..............................................................................................74 31 Leguminosa utilizada para a produção de biomassa.................................75 32 Pulverizador costal manual, facão e podão...............................................76 33 Gravioleira com o formigueiro da Caçarema.............................................76 34 Diversificação de cultivos dos produtores convencionais e orgânicos do grupo A.................................................................................77 35 Consórcio: aipim, banana e coco em fazenda convencional do grupo A......................................................................................................78 36 Número de produtores do estrato A que conservam os recursos Naturais.......................................................................................................79 37 Nascente de rio sem mata ciliar, utilizada para criação de gado em fazenda convencional do grupo A.........................................................79 16 38 Cacau sendo plantado em área de capoeira com mais de 92% da área já ocupada...........................................................................80 39 Mata Atlântica preservada com árvore centenária em reserva legal...............................................................................................80 40 Reserva legal averbada em fazenda orgânica do grupo A.........................81 41 Nascente com mata ciliar preservada em fazenda orgânica do grupo A........................................................................................................81 42 Diversificação de cultivos em fazenda do “Grupo B....................................82 43 Investimentos em insumos, receitas e custos (em reais) nas fazendas do grupo B....................................................................................84 44 Consórcio- pupunha, glilicídia e cupuaçu em fazenda orgânica do grupo B....................................................................................85 45 Estrutura de beneficiamento das fazendas orgânicas...............................86 46 Estrutura de beneficiamento do cacau das fazendas convencionais – cocho (onde fermenta o cacau) e barcaça (onde se seca o cacau)...............................................................................87 47 Laticínio em fazenda convencional do grupo B..........................................88 48 Cacau sem vassoura de bruxa e cacau com vassoura de bruxa...............89 49 Cacau fermentando num cocho e secador de cacau para os dias chuvosos.....................................................................................................90 50 Número de agricultores que disponibilizavam de assistência técnica, faziam análise de solo e utilizavam e faziam adubos na fazenda...................................................................................................90 17 51 Área de cacau dominada pela vassoura de bruxa.......................................91 52 Aplicação de pó de rocha a lanço (manual) em fazenda orgânica do grupo B...................................................................................................92 53 Cascas de cacau que não foram utilizadas como adubo e ficavam entulhadas nas roças de cacau das fazendas convencionais grupo do .............................................................................93 54 Casca de cacau ensacada para ser misturada com esterco de gado e pó de rocha................................................................................94 55 Número de fazendas do grupo B que utilizam - queimadas, cobertura morta e rotação de cultivos........................................................94 56 Solo queimado sem cobertura morta em fazenda do grupo ......................95 57 Solo depois de uma queimada com pouca cobertura morta e matéria orgânica em fazenda orgânica do grupo B................................96 58 Cultivo de cacau e banana com cobertura morta em fazenda orgânica do grupo B.....................................................................................97 59 Número de cultivos nas propriedades convencionais do grupo B...............99 60 Percentual da renda dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo – B................................................................................................99 61 Consórcio de açaí, glilicídia,banana, cacau e flores tropicais em fazenda orgânica do grupo B..............................................................100 62 Participação dos cultivos na renda bruta dos produtores orgânicos do grupo B.................................................................................100 18 63 Percentual de fazendas do grupo B que preservaram os recursos ambientais..............................................................................101 64 Fotografia aérea de uma fazenda orgânica com RPPN e reserva legal averbada. As listas vermelhas são os limites da fazenda, as áreas verde mais escuro são matas ou capoeiras..............................................................................................102 65 Ribeirão sem mata ciliar em fazenda convencional do grupo B...............102 66 Mata ciliar preservada no meio de uma pastagem semiintensiva.....................................................................................................103 67 Placa de identificação da RPPN em fazenda orgânica do grupo B.................................................................................................104 68 Trilha da RPPN com identificação das árvores em propriedade orgânica do grupo B.............................................................104 69 A pecuária bovina semi-intensiva estava em 7 das 8 propriedades do grupo C...........................................................................106 70 Custos e receita bruta (em reais) das fazendas do grupo C....................107 71 Sala de beneficiamento de flores tropicais em fazenda convencional do grupo C..........................................................................109 72 Sistema de secagem de cacau com cocho e barcaça em propriedade agrícola do grupo C........................................................110 73 Fábrica de polpas, geléias e doces.Em fazenda orgânica do grupo C...............................................................................................111 74 Futura fábrica de chocolate orgânico em Itabuna – Ba...........................111 75 Cacau orgânico selecionado sendo secado em barcaça numa fazenda do orgânica do grupo C....................................................112 19 76 Secador de cacau com um bom padrão de conservação e higiene..................................................................................................112 77 Número de agricultores que utilizavam assistência técnica, faziam análise de solo, adubação e fabricam adubos nas propriedade do grupo C........................................................113 78 Casqueiro pronto para ser misturado com Rocha de Ipirá para ser utilizado como adubo.........................................................114 79 Numero de agricultores que faziam queimadas, utilizavam cobertura morta e rotação de cultivos nas fazendas do grupo C............115 80 Solo queimado com pouca cobertura morta em fazenda convencional do grupo C.......................................................................116 81 Plantio de cacau em fazenda convencional do grupo com pouca cobertura morta....................................................................116 82 Plantio de cacau em sistema cabruca com cobertura morta oriunda do mato cortado e das folhas e troncos das árvores e bananeiras..............................................................................117 83 Trator multifuncional com carroceria.......................................................118 84 Número de cultivos existentes em cada fazenda convencionais do grupo C..............................................................................................119 85 Número de cultivos existentes em cada fazenda orgânicas do grupo C..............................................................................................119 86 Percentual do rendimento financeiro dos cultivos nas fazendas convencionais..........................................................................120 87 A pecuária semi-intensiva estava presente em 3 das 4 fazendas convencionais do grupo C..............................................121 20 88 Percentual do rendimento financeiro dos cultivos nas fazendas orgânicas do grupo C........................................................122 89 Número de fazendas do grupo C com reserva legal, mata ciliar preservada e RPPN................................................................123 90 Mata ciliar substituída por pastagens numa fazenda do grupo C.............124 91 Plantação de cacau substituindo a mata ciliar..........................................124 92 Fazenda orgânica do grupo C com reserva legal averbada (verde), plantações de cacau (cinza) e pastos (amarelo).........................125 93 Pastagem em área de preservação permanente (mata ciliar) em propriedade orgânica do grupo C............................................126 LISTA DE QUADROS Quadro Página 1 Dados comparativos da caracterização entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo A............................................................62 2 Produtos cultivados nos dois sistemas do grupo A..............................................77 3 Dados comparativos entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo B....................................................................................82 4 Produtos cultivados nos dois sistemas do grupo B...............................................98 5 Dados comparativos entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo C...................................................................................106 6 Produtos cultivados nos dois sistemas agropecuários do grupo C......................118 21 LISTA DE TABELAS Tabela Página 1 Receitas e custos (em reais) nos sistemas produtivos do grupo A.....................65 2 Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “A”....................................................................................68 3 Renda bruta, custos e renda líquida (em reais) dos produtores orgânicos e convencionais do grupo B.............................................................84 4 Análise da diversificação na renda total (em reais) dos produtores do grupo B.........................................................................................................85 5 Preço médio do cacau (em reais) comercializado nos sistemas de produção do grupo B.........................................................................................86 6 Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “B”......................................................................................91 7 Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo B...........................................................................................................99 8 Custos (em reais) dos produtores do grupo C..................................................108 9 Renda bruta, custos e renda líquida (em reais) dos produtores orgânicos e convencionais do grupo C.............................................................109 10 Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “C”.............................................................................113 11 Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo C.......................................................................................................120 12 Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas orgânicas do grupo C.......................................................................................................121 22 1 INTRODUÇÃO No Território do Litoral Sul da Bahia, a preocupação ambiental que se manifestou na Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Eco92, vem se materializando em ações de agricultores e ONG´s que, buscaram associar a produção agropecuária com a preservação ambiental, desenvolvendo projetos que foram elaborados buscando o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais com dificuldades econômicas agravadas pela disseminação da doença Vassoura de Bruxa nos cacauais. Nessa mesma década várias pesquisas e extensões agropecuárias demonstraram a necessidade emergente de buscar novos rumos para a agricultura no território do Litoral Sul, pois apesar da área pesquisada ser das mais conservadas do Brasil, os índices sociais e econômicos sempre indicavam baixos desempenhos. O baixo desempenho sempre se mostrou mais acentuados na zona rural do Território, por conta da distância do centro do poder (que está na zona urbana), sendo o rural “o atrasado”, “o distante”, “o ignorante”, “o sujo”, sem escolas, saúde e com estradas precárias. Quando estudante na EMARC - Escola Média em Agropecuária Regional da CEPLAC, na década de 1980, mesmo estudando numa escola de agropecuária, vivenciávamos a valorização do urbano, tudo que era necessário para o desenvolvimento vinha do “evoluído” meio urbano, o adubo químico, o inseticida, o 23 próprio conhecimento já não estava nas “mãos” do homem que trabalhava na terra, e sim do “técnico que geralmente morava na cidade” que sabia como resolver os problemas, desde o controle da formiga, até o “moderno” adubo nitrogenado que deveria ser utilizado. O homem do campo ficou dependente do mercado urbano, e as “soluções” sempre estavam “distantes” no tempo e no espaço da zona de trabalho do agricultor, que tinha que investir em deslocamento e logo um dia de trabalho para buscar uma “receita” de “veneno para acabar os insetos”, ou outra orientação qualquer que antes da revolução agroquímica eram conhecidas e divulgadas através das receitas caseiras da “roça”. “Podermos perceber uma intensificação da dependência do homem do campo à cidade para obter mercadorias necessárias não somente para o consumo, mas também para as suas práticas agrícolas” (CARVALHO, 2005, p. 4). Nesse custo de deslocamento e investimento do dia de trabalho, foi acrescentado o custo do agroquímico comprado, que por ser de última geração, geralmente era caro (para o poder aquisitivo principalmente do pequeno produtor rural) e tóxico, tanto para os animais como para o ser humano. Nos últimos 20 anos, além dos custos e distanciamentos dos saberes populares, a agroquímica não foi capaz de controlar a Vassoura de Bruxa e manter safras de cacau constantes e rendosas. A impossibilidade desse modelo produtivo de resolver o “problema da vassoura de bruxa” ocasionou reveses muito sofridos na zona urbana e principalmente na zona rural, com os agricultores falidos e endividados em todas as categorias de pequenos a grandes. “O controle da vassoura-de-bruxa, através dos métodos químico e cultural, mostrou-se oneroso e ineficaz” (DANTAS, [ 200-] ). 24 Durante a graduação em geografia, na UESC, de 2002 a 2005, desenvolvemos vários estudos tentando compreender se realmente esses saberes “tradicionais”, que eram empregados pelos agroecologistas eram realmente atrasados, antieconômicos e anti-producentes, ou pelo contrario eram viáveis, modernos (pois estavam em conexões mais diretas com os novos paradigmas ecológicos mundiais) socialmente mais justos e economicamente viáveis. As pesquisas demonstraram que a utilização dessas práticas baseadas nas vivências dos produtores com conceitos “ecológicos”, mesmo que utilizadas de forma rudimentar e sem pesquisas científicas para embasá-las, são viáveis e que existe muita má vontade e preconceito por parte dos pesquisadores e extensionistas em relação a esses sistemas de produção classificados como “atrasados”. Esse movimento no Território em busca de uma agricultura mais ecológica esta sintonizado com movimentos internacionais, “O meio ambiente tornou-se um tema debatido a nível oficial e mundial na Conferência Internacional da ONU para o Meio Ambiente em Estocolmo-1972”, (VESENTINI, 2000, p.4), na qual estabeleceu-se a necessidade da busca de “um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o ambiente humano” (NAÇÕES UNIDAS, 1972, p.1). Com o objetivo de buscar e estabelecer esses princípios de preservação e melhoria do meio ambiente, no Brasil, em 1975, foi criada a Comissão Permanente de Ecologia, numa época em que o país era carente de políticas de administração florestal, conforme aponta Primavesi (1982, p.1), essa carência de políticas voltadas ao meio ambiente provocou uma grande onda de devastação florestal na Mata Atlântica, que ficou reduzida aos atuais 7% de remanescentes. 25 Na Eco-92 “a ecologia ganhou status de tema dominante nas discussões internacionais e passou a ser moeda de troca, onde os países ricos passaram a exigir dos países pobres a contrapartida da preservação ambiental nas negociações financeiras” (VESENTINI, 2000, p. 3). Por outro lado, os países desenvolvidos emprestavam capitais e financiavam projetos de conservação/preservação nos países subdesenvolvidos. A nova realidade que se descortinou com os resultados obtidos por nós na graduação, se transformou em motivação para aumentar a escala da pesquisa, buscando verificar como estava transcorrendo a agricultura no Território, como estavam as fazendas (pequenas ou grandes) que ocupam tanto espaço e logo ganham dimensão gigantesca em qualquer conjuntura socioeconômica e ambiental que se venha a imaginar. A palavra “fazenda” então, nessa pesquisa, ganhou uma conotação de vida, de gente, de emprego, de água, de mata, de rio e cada elemento se fundindo a outros e construindo o espaço por nós pesquisado nos últimos dois anos, buscando com o rigor metodológico empregado dar as respostas que o sentimento motivou. Assim o objetivo geral da pesquisa foi analisar comparativamente a sustentabilidade agrícola entre o sistema de produção orgânico e o convencional (agroquímico) em propriedades agropecuárias situadas no Território do Litoral Sul da Bahia em aspectos econômicos e ambientais. Sendo os objetivos específicos – 1. Fazer uma analise dos sistemas convencional e orgânico de cada grupo estratificado, por tamanho das propriedades: Grupo A – até 30 hectares, grupo B – de 31 a 100 hectares e grupo C – acima de 100 hectares. 26 2. Identificar e quantificar a diversificação de cultivos agrícolas em fazendas do Território do Litoral Sul da Bahia, nos dois sistemas analisados; 3. Verificar as práticas agrícolas de um e do outro sistema em análise; 4. Identificar e caracterizar as práticas conservacionistas (do solo, da vegetação, recursos hídricos) adotadas por produtores do sistema orgânico e convencional; 5. Comparar as produtividades (da terra e do trabalho) entre os dois sistemas de produção. 27 2 Área da pesquisa – De Região Cacaueira a Território do Litoral Sul da Bahia Até o final da década de 1980, a estrutura organizacional da Região Cacaueira da Bahia girava quase que exclusivamente em torno da monocultura do cacau, que deu até nome a região pela importância econômica do cultivo, com a paisagem dominada por espécies arbustivas (cacaueiros) e arbóreas (jacarandás, sucupiras, jequitibás, etc.) e a superposição dos dois formando o sistema cacaucabruca1 como se vê na figura 1. Figura 1 - Paisagem típica do Litoral Sul com o predomínio do sistema de plantio de cacau-cabruca. 1 Cacau-Cabruca é um sistema ecológico de cultivo agroflorestal. Baseia-se na substituição de estratos florestais por uma cultura de interesse econômico, implantada no sub-bosque de forma descontínua e circundada por vegetação natural, não prejudicando as relações mesológicas com os sistemas remanescentes (Lobão, [200-]). 28 A Região Cacaueira se estendia desde o Recôncavo Baiano ao norte, até o extremo sul da Bahia e, a oeste, chegava até a microrregião do Planalto de Conquista, com uma grande diversidade de paisagens e de sistemas produtivos, como, por exemplo, o café em Vitória da Conquista, a pecuária extensiva em Eunápolis e Teixeira de Freitas e as plantações de cravo, piaçava e dendê no Baixo Sul entre Camamú e Valença. Em 1990 a Bahia foi reagrupada pelo IBGE, em sete mesorregiões e cada uma delas foi dividida em um certo número de microrregiões geográficas. Boa parte da Região Cacaueira ficou inserida na mesorregião Sulbaiana (figura 2), sendo a parte da mesorregião que mais concentrava a produção de cacau estabelecida como microrregião de Ilhéus-Itabuna (figura 3). Figura 2 – Mesorregião Sulbaiana. Fonte – IBGE e Wikipédia. Figura 3 - Microrregião de Ilhéus-Itabuna. Fonte – IBGE e Wikipédia. Em 2003 o Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, estabeleceu o plano de desenvolvimento sustentável implementando 29 diversos Territórios de Identidade, criando em parte da área da antiga Região Cacaueira o Território do Litoral Sul (figura 4). Figura 4 - Território do Litoral Sul da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. 30 A escolha do Território como matriz do trabalho se deu por conta da busca de uma escala maior, mais próxima e mais sintética do que se chamou de “região do cacau” com características mais “homogêneas”- “homogeneidade cultural, histórica, social, econômica e geográfica. Quanto maior o raio de distância do eixo ItabunaIlhéus mais se estará perto da heterogeneidade desses componentes, isto é, menor é a homogeneidade de espaço” (BERTOL, 2008, p. 25) para que com essa “redução” conseguíssemos estudar e retratar melhor os sistemas produtivos das fazendas pesquisadas. 2.1 Histórico da agroecologia no Território do Litoral Sul da Bahia Com o objetivo de estabelecer tecnologias que causassem menor impacto ambiental, algumas iniciativas com manejo agrícola ecológico foram introduzidas no Território do Litoral Sul da Bahia, entre elas destaca-se o pioneirismo da Cooperativa Agrícola Ilhéus Ltda - Coopercacau/Ilhéus que, em 1980, criou um departamento voltado para a introdução e disseminação da agroecologia2 no município de Ilhéus e em alguns municípios vizinhos e que, segundo o relato do sociólogo e agricultor 2 A agroecologia é entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis. Partindo, especialmente, de escritos de Miguel Altieri, observa-se que a agroecologia constitui um enfoque teórico e metodológico que, lançando mão de diversas disciplinas científicas, pretende estudar a atividade agrária sob uma perspectiva ecológica. Sendo assim a agroecologia a partir de um enfoque sistêmico, adota o agroecossistema como unidade de análise, tendo como propósito, em última instância, proporcionar as bases científicas (princípios, métodos e tecnologias com base ecológica (CAPORAL e COSTABEBER, 2009). 31 Ronaldo Santana, na época diretor da Cooperativa “a entidade contratou um técnico agrícola especializado em agroecologia, que assistia as fazendas dos associados que queriam praticar esse “novo” modelo de agricultura”. Ronaldo Santana também conta que a cooperativa também buscou estimular práticas agroecológicas através de palestras, distribuição de folhetos e venda de insumos na sua revenda agropecuária que funcionava na Avenida Itabuna em Ilhéus. O projeto durou cerca de dois anos e, por falta de apoio e estimulo das entidades regionais e dos agricultores, terminou sem atingir as metas propostas. Na década de 1990, a falência do cultivo do cacau (principal fonte de renda do Território) com a infecção das plantações com o fungo Moniliophthora Perniciosa da Vassoura de bruxa, desencadeou ou acelerou vários acontecimentos que contribuíram para o ressurgimento da agroecologia no território, dentre outros: - Criação do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da UESC; - Pesquisas da CEPLAC3 voltadas para os sistemas agroflorestais e sistema cabruca; - Criação de ONG´s voltadas à agroecologia e proteção do meio ambienteIESB, Jupará agroecológico, ABARÁ. - Criação do Parque Estadual da Serra do Condurú. A construção da Rodovia Ecológica Ilhéus/Itacaré numa área com remanescentes de Mata Atlântica em meados da década de 1990 (COSTA DO 3 CEPLAC- Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira- Órgão estatal de assistência técnica, ensino e pesquisa agropecuária no Território do Litoral Sul. 32 CACAU, 2008) e a implantação da Reserva Biológica de Una, incentivaram estudos que demonstraram a grande biodiversidade da Mata Atlântica no Território e a área se transformou em prioridade ambiental mundial, sendo considerada pela Conservação Internacional: Uma das mais importantes para a conservação da biodiversidade do planeta. Os títulos de Reserva da Biosfera e de Sítio do Patrimônio Natural Mundial reconhecem essa importância e indicam a necessidade de medidas efetivas de proteção. A região representa um dos principais centros de endemismo da Mata Atlântica para plantas, borboletas e vertebrados. Possui várias áreas indicadas como prioritárias para conservação da biodiversidade do bioma e detém ainda dois dos maiores recordes de diversidade de plantas arbóreas em todo o mundo, em floresta próxima ao Parque Estadual da Serra do Condurú...(Conservação Internacional, 2003). Com a crise da Vassoura de Bruxa iniciou-se um longo e doloroso processo de desequilíbrio socioeconômico e ambiental na região, que culminou com uma Crise regional profunda com a lavoura comprometida por causa da vassoura-de-bruxa (doença fúngica que atacou os cacauais da região) e a queda internacional dos preços do cacau, ocasionando o empobrecimento da região, forte êxodo rural, periferização acentuada das cidades da região cacaueira, principalmente Ilhéus e Itabuna (Bertol, 2008, p.52). Com a baixa produtividade dos cultivos de cacau, os fazendeiros começaram a buscar alternativas de sobrevivência, venderam madeira e derrubaram seus sistemas de produção de cacau e, em muitos casos, plantaram capim para a criação de bovinos. Com tanta importância ecológica no Território, logo se intensificaram as fiscalizações ambientais nas fazendas da região e as obrigações ecológicas passaram a ser cobradas aos agricultores que, sem muito preparo técnico para os pressupostos “preservacionistas”, tiveram que modificar seus métodos de cultivo, banindo práticas agrícolas seculares como o “pousio” no cultivo da mandioca, onde o agricultor depois de duas ou três colheitas deixava a terra repousar por três, quatro 33 ou mais anos, para a regeneração da estrutura produtiva com a formação da capoeira baixa e depois dessa regeneração, derrubava a capoeira, queimava e voltava a plantar. As leis ambientais passaram a determinar que essas áreas passassem a ser áreas de preservação, porque nelas a Mata Atlântica já estaria em estágio de regeneração, sendo proibida a derrubada da mata para plantações. Outra prática proibida por conta das novas leis ambientais foi a derrubada de áreas de mata com solo “descansado” para novos plantios que, somada à “proibição” do pousio, fez diminuir as áreas produtivas utilizadas pelos agricultores. Porém, essas determinações contribuíram para preservar importantes remanescentes de Mata Atlântica nas fazendas. Se, por um lado, as restrições ambientais dificultaram práticas agrícolas tradicionais, por outro lado, práticas agroecológicas que buscavam conciliar produtividade nos cultivos e preservação ambiental foram estimuladas, com técnicos de instituições governamentais (CEPLAC, UESC e EBDA4) e ONGs envolvendo vários agricultores com essa forma ecológica de produção agrícola. Essas novas formas de regulação da agricultura que decorrem da crescente preocupação ambiental, nos permitem pensar numa nova etapa da modernização agrícola, a da modernização ecológica, que pode ser vista como uma etapa superior da modernização que foi a revolução verde nos anos 60 e 70 e que se assenta em novas bases tecnológicas o que inclui a tecnologia da informação e as novas tecnologias biológicas (Silva, 2008, p. 7). A agricultura convencional ou agroquímica se fortaleceu no Território a partir dos anos de 1960 e quando ela foi implantada, o contexto mundial era outro, as 4 Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A. 34 florestas estavam bem mais preservadas. Décadas depois, o mundo já não detém as florestas que existiam naquela época (até os anos de 1970) e no caso específico da Mata Atlântica “atualmente, está reduzida a 7,84%, cerca de 102.000 km2 de sua cobertura florestal original. É o segundo ecossistema mais ameaçado de extinção do mundo” (DUZZIONI, 2005). Para Redclift e Goodman (Apud Altieri, 2001, p. 15), “a Revolução Verde contribuiu para disseminar problemas ambientais, como erosão do solo, desertificação, poluição por agrotóxicos e perda de biodiversidade”, principalmente nos países subdesenvolvidos da América Latina, Ásia e África, que não tinham condições econômicas de dar continuidade a um sistema produtivo que necessitava de muitos insumos externos as fazendas. Também não conseguiu resolver o problema da produção continua de alimentos nesses países ”não foi capaz de atingir os mais pobres, nem de resolver o problema da fome, da desnutrição” (Altieri, 2001. P. 15). A prática da monocultura do cacau também trouxe alguns problemas de ordem social: nos bons tempos do cacau, poucos alimentos eram plantados para consumo próprio, ou outros cultivos comerciais (baixa diversidade de cultivos). A lavoura cacaueira era a própria auto-suficiência dos fazendeiros. No entanto, em vários momentos de crise, a monocultura significava a falta de alimentos na mesa e o geógrafo e nutricionista da ONU Castro (1967) salientava “Este regime agrícola monocultor e latifundiário, arrasta as populações nativas a um nível de vida terrivelmente baixo... É mais uma zona de fome, alimentada pela fictícia riqueza do cacau”. As áreas do território eram destinadas quase que unicamente à monocultura do cacau para comercialização e, geralmente, exportação. 35 No final da década de 1990, agricultores, ONG´s e a CEPLAC estabeleceram um plano de fortalecimento da agroecologia regional com o objetivo final de certificar em agricultura orgânica fazendas do Território do Litoral Sul. Foram priorizadas fazendas próximas a importantes áreas de preservação, tendo como parâmetro “as diretrizes para o padrão de qualidade orgânico do IBD” (Associação de Certificação Instituto Biodinâmico5) com o objetivo inicial de exportar cacau orgânico com preços melhorados e a proteção de importantes remanescentes da Mata Atlântica, buscando estabelecer por meio da Certificação Orgânica (Selo orgânico6), uma relação de confiança e parceria com a sociedade, com a produção e comercialização de alimentos mais saudáveis. Esse projeto se concretizou com a criação de vários grupos de agricultores certificados em agricultura orgânica, criação de duas cooperativas orgânicas (CABRUCA e COOPASB) e duas feiras orgânicas semanais localizadas em Ilhéus e Itacaré. 5 IBD – Certificadora de produtos orgânicos filiada a IFOAN – International Federation of Organic Agriculture Movements 6 Selo de certificação de um alimento orgânico fornece ao consumidor muito além da certeza de estar levando para a casa um produto isento de contaminação química. Garante também que esse produto é o resultado de uma agricultura capaz de assegurar qualidade do ambiente natural, qualidade nutricional e biológica de alimentos e qualidade de vida para quem vive no campo e nas cidades. Ou seja, o selo "orgânico" é o símbolo não apenas de produtos isolados, mas também de processos mais ecológicos de se plantar, cultivar e colher alimentos. A certificação, mais do que um instrumento de confiabilidade para o mercado dos produtos orgânicos é uma poderosa estratégia de construção da cidadania, buscando mobilizar tanto as comunidades regionais quanto a sociedade como um todo, pela produção e consumo de alimentos mais saudáveis e harmonizados com as atuais demandas de preservação dos ambientes naturais. (PLANETA ORGÂNICO, 2007). 36 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Insustentabilidade socioeconômica e ambiental no Território do Litoral Sul da Bahia A agroquímica ou agricultura convencional, mesmo não levando em conta aspectos sociais e ambientais nas suas análises, apenas os econômicos, conseguiu se impor no cenário nacional e regional com o incentivo dos créditos agrícolas subsidiados feitos, segundo Moreira (2000), “para estimular a grande produção, as esferas agroindustriais e as empresas de fertilizantes químicos”. O sistema agroquímico baseado nos “pacotes tecnológicos” da revolução verde7, e adotado no Brasil a partir dos anos de 1960, foi criado nos países “industrializados do Norte” e logo disseminado por órgãos técnicos, escolas técnicas e universidades brasileiras. “A industrialização da agricultura, que é uma evidência desse processo[...] é portanto o capital que solda novamente o que ele separou agricultura e indústria, cidade e campo” (Oliveira, 1990, p.53). A maior parte da produção é realizada e consumida por uma minoria da população mundial presente nos países industrializados, a partir de sistemas produtivos ambientalmente degradantes, energeticamente ineficientes, e dependentes de altos imputs de insumos industriais e de uma fonte de energia não renovável (combustível fóssil) (KOZIOSKI e CIOCCA, 2009). 7 Revolução Verde - caracterizada pela intensificação, especialização, padronização e internacionalização dos produtos e do processo produtivos, foi baseada no paradigma tecnológico fundamentado pela modificação das condições naturais para favorecer o potencial genético de plantas e animais (FAO, 1995ª citado por Koziosk e Ciocca, 2009). 37 Já em 1964 as recomendações técnicas da CEPLAC propunham o controle de pragas do cacau com o inseticida BHC (VIEIRA, 2006, p. 93), que na mesma década já seria banido da Europa e dos Estados Unidos e, no ano de 1985, foi finalmente proibido no Brasil. O agrotóxico foi tirado de circulação porque estudos comprovaram sua capacidade de prejudicar a saúde humana, afetando inclusive o sistema nervoso central e o meio ambiente. “Os resíduos químicos do BHC são capazes de permanecer cerca de 100 anos no solo” (Ministério Público do Paraná, 2005). Outras técnicas da agricultura convencional também foram estimuladas e empregadas no Território do Litoral Sul, tais como: utilização de adubos químicos (NPK e P2O5), praguicidas (Malathion, formicidas e outros), fungicidas, com destaque para o uso do Óxido cuproso (Cobre Sandoz) e herbicidas (CEPLAC, 2008) criando assim o “pacote tecnológico” para produzir os frutos de ouro como era chamado o cacau nos áureos tempos do cultivo. Nos períodos que antecederam a crise dos anos de 1990, o ecossistema cacaueiro sofreu os impactos decorrentes do pacote tecnológico baseado em insumos modernos, principalmente na aplicação maciça de agrotóxicos, como os inseticidas e fungicidas cúpricos (Mascarenhas, 2004, p. 17). A atual crise da cacauicultura que já dura duas décadas (1989 - 2009), com boa parte das fazendas da região ainda bastante infectadas pelo fungo da “Vassoura de Bruxa (Crinipellis stromaticum), provocou uma baixa na produção regional do cacau, que registrou a sua menor produção na safra 1999/2000, com apenas 87 mil toneladas, contra 368 mil toneladas da safra de 1990” (CORRÊIA, 2003, p. 17). Os empregos na zona rural também sofreram um grande impacto com a crise cacaueira, os prejuízos, entretanto, não atingiram só os cacauicultores [...] estima-se que cerca da 200.000 trabalhadores rurais ficaram desempregados, 38 povoando hoje, com suas famílias, as favelas nos arredores dos centros urbanos da região cacaueira e da capital, com pesados custos sociais[...] Danos incalculáveis também foram infligidos ao meio ambiente do ecossistema da Mata Atlântica, (SANCHES, 2007, p. 4). Ambientalmente o ano de 2008 foi marcado pela maior estiagem dos últimos trinta anos no Território do Litoral Sul da Bahia, com os rios Cachoeira e Almada chegando a baixos volumes de água e elevada poluição (SANJUAN, 2008), com vários ribeirões e nascentes das suas bacias secos ou com baixos níveis de água. A Figura 5 mostra o leito Rio Almada formando pequenas lagoas ou poços d’água bastante poluídos. Figura 5 - Rio Almada no auge da estiagem de novembro de 2007 com seu volume de água bem abaixo do normal e com seu leito tomado por baronesas. Esses exemplos de insucessos sócio-econômicos e crise ambiental, na zona rural, foram resultados do modelo de crescimento econômico estabelecido no Território, formulado e implantado pela política econômica e tecnológica adotada na antiga “Região Cacaueira”. Os financiamentos eram liberados com vinculação da compra de insumos agroquímicos [...] o resultado dessa política apesar do não alcance das 39 metas físicas de produção e produtividade, foi a extrapolação de todas as metas estabelecidas para as práticas que faziam uso de agrotóxicos, com prejuízos irreparáveis para o homem e o meio ambiente, além dos efeitos na transferência de capital do campo para o setor industrial (CORRÊIA, 2003, p. 20). O atual Secretário Estadual da Educação da Bahia, Adeum Sauer, na época secretário municipal em Itabuna, pronunciou-se sobre a falência do modelo de crescimento estabelecido: Há um consenso de que é preciso haver uma saída para isso dentro desse consenso, é preciso que se pense uma solução para essa região, não apenas para o cacau, mas também para as diferentes classes sociais que a habitam. E que não se tente copiar modelos de fora (SAUER, [ 200- ] ). 3.2 Sustentabilidade agrícola no Território do Litoral Sul A sustentabilidade agrícola considera diferentes dimensões e processos “tem como base a valorização dos recursos internos dos sistemas agrícolas produtivos, que se traduz pela manutenção desses sistemas de produção e, consequentemente, sua produtividade, ao longo do tempo” (Gomes et AL., 2009, p. 24). Segundo Altieri citado por Freitas (2008) sustentabilidade agrícola é a “capacidade de um agroecossistema de manter a produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas”, essa busca da viabilidade agrícola no Território do Litoral Sul envolveu não só questões econômicas, mais foram acrescentados os pressupostos ecológicos e sociais da 40 agricultura sustentável que “funciona como um guarda-chuva sob o qual se inclui toda uma série de tecnologias agrícolas, sistemas de produção e estilos de agricultura...” (Caporal e Costabeber, 2004, p. 39) que buscaram valorizar nas questões sociais, a implantação e consolidação de associações8 e cooperativas9, que foram fatores coletivos de união de forças e esforços, várias associações rurais se consolidaram no território, existindo só no município de Ilhéus um conselho CONDECORI10 - com mais de 64 associações rurais filiadas. Apesar da predominância das pesquisas voltadas para a monocultura cacaueira e agroquímica, pesquisadores da CEPLAC e das ONGs locais buscaram desenvolver ao longo dos anos, tecnologias alternativas à dependência dos “pacotes tecnológicos da Revolução Verde”. Pesquisaram e implantaram práticas tais como: conservação do solo – com plantios em faixas de retenção em curva de nível (Jupará Agroecológico); diversificação de cultivos com implantação de sistemas agroflorestais/SAF (CEPLAC e IESB); Controle biológico do fungo da vassoura de bruxa com o TRICOVAB, fungicida contendo o fungo Trichoderma stromaticum (CEPLAC). Na figura 6 o trabalho dos pesquisadores nos laboratórios da CEPLAC. 8 Associação é toda ação ou iniciativa formal ou informal, onde pessoas, grupos ou entidades reúnem esforços, vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver problemas e gerar benefícios comuns (Melo, [199-], p. 221). 9 Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de um empreendimento de propriedade coletiva e democraticamente gerido (SEBRAE [200-]). 10 Conselho Municipal de Desenvolvimento de Comunidades Rurais de Ilhéus. 41 Figura 6 – Laboratório de pesquisas da Vassoura de Bruxa na CEPLAC. Fonte - CEPLAC. A biotecnologia tem sido empregada na agricultura com a utilização de “microorganismos eficientes” (EM), que são fungos e bactérias controladores de pragas e doenças “a matriz tecnológica do próximo século é a biotecnologia. Existem hoje novas palavras de ordem: reciclar, recursos naturais renováveis, ecologia, biodiversidade, sustentabilidade Pinheiro e Barreto (1996, p. 13)”. Isso requer que a agricultura seja vista como um ecossistema [...] e que práticas agrícolas e a pesquisa não se preocupem com altos índices de produtividade de uma mercadoria em particular, mas, sim, com a otimização do sistema como um todo. Altiere (2001 p. 59). Figura 7 – Práticas de conservação do solo com cobertura morta e revolvimento mínimo do solo. Fonte – Guia Rural Abril, 1986. 42 Também foram pesquisadas e difundidas práticas que protegem o solo dos raios solares e da chuva, através da construção e preservação interna e externa da matéria orgânica. Além da incorporação e manutenção da matéria orgânica como melhoradora das propriedades físico-químicas e biológica do solo, com esses objetivos foram difundidas técnicas agroecológicas tais como: - Revolvimento mínimo ou não revolvimento do solo com aração e gradagem (figura 7): - Uso de cobertura morta (mulche) (figura 7); - Manejo dos resíduos da colheita; - Rotação de cultivos; - Utilização de compostos e estercos; - Controle da erosão com curvas de nível; - Análises de solo e uso adequado de calcário e fertilizantes. A Agenda 21 brasileira que foi formulada por vários grupos técnicos (empresas estatais, ONGs e a sociedade civil organizada) em várias cidades e estados do Brasil, num grande esforço coletivo para estabelecer um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, definiu a agricultura sustentável como: Um sistema produtivo de alimentos e fibras que garanta: a) A manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade; b) Um mínimo de impactos adversos ao meio ambiente; c) Retornos adequados aos produtores; d) Otimização da produção com um mínimo de insumos externos;e) Satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda; f) Atendimento das necessidades sociais das famílias e comunidades rurais (MINISTERIO DO MÊIO AMBIENTE, 1999, p. 4). 43 A FAO (Organização das Nações Unidas Para Agricultura e Alimentação) na busca da sustentabilidade agrícola internacional definiu agricultura de conservação como: Uma transformação holística da produção agrícola baseada na intensificação do processo biológico de regeneração do solo, através, do manejo da matéria orgânica do solo, pelo eficiente uso da chuva, da umidade do solo e nutriente das plantas. Com objetivos globais de utilização sustentável dos recursos naturais buscando melhorar a infiltração da água, reduzir a erosão, melhorar a recarga dos aquíferos e a qualidade da água, seqüestro de carbono, a longo prazo melhorar a fertilidade do solo e a longo prazo reduzir o uso de agro-químicos (FAO, 2008). Estudos da EMBRAPA definiram metas mais específicas para o que deveria ser a sustentabilidade agrícola no Brasil (Figura 8), contemplando as três dimensões da sustentabilidade: No caso da sustentabilidade ambiental, primeiramente as exigências legais devem ser cumpridas, tais como a conservação das A.P.Ps. (Áreas de Proteção Permanente), restauração das matas ciliares e outras coberturas vegetais associadas a áreas de nascentes e aos cursos d’água e ambientes lêntico. A viabilidade ou sustentabilidade econômica está vinculada a uma série de fatores: climáticos, mercadológicos, política de comercialização etc., e deve promover lucro líquido para o produtor. A segunda dimensão é a da sustentabilidade social, ou seja o sistema de produção deve assegurar os direitos trabalhistas e as condições de trabalho adequadas aos empregados. A terceira dimensão é a sustentabilidade ambiental do sistema produtivo. A rentabilidade da produção não deve gerar passivo ambiental, ou qualquer dano aos sistemas ecológicos. A sustentabilidade econômica tem que ser obtida sem estorno do impacto negativo gerado sobre o meio ambiente. (MIRANDA, 2004). E conômico S ocial A mbiental Figura 8 – Tripé do desenvolvimento sustentável e da Sustentabilidade agrícola. 44 3.3 Diversificação e sustentabilidade agrícola A utilização de vários cultivos plantados em consórcios em forma de sistemas agroflorestais11 como na figura 9, podem gerar uma maior diversificação de receitas para os produtores, além dos benefícios agronômicos que um cultivo pode trazer para o outro. “O uso de uma série de espécies cultivadas com potencial sinérgico em suas interações com outras tantas, leva ao melhoramento das condições de cada uma delas, num estimulo mútuo de crescimento, saúde e vigor Gotsch (1996 p. 23) ”. 11 Sistema agroflorestal é uma forma de uso da terra na qual se combinam espécies arbóreas lenhosas (frutíferas e/ou madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou animais, de forma simultânea ou em seqüência temporal e que interagem econômica e ecologicamente. Um aspecto que determina a sustentabilidade desses sistemas é a presença das árvores, que têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, reciclando-os eficientemente e proporcionando maior cobertura e conservação dos recursos edáficos. objetiva otimizar a produção por unidade de área, com o uso mais eficiente dos recursos (solo, água, luz, etc.), da diversificação de produção e da interação positiva entre os componentes (EMBRAPA/AMAZÔNIA OCIDENTAL, [199?] ). 45 Figura 9 – Sistema agroflorestal com diversidade de cultivos – herbáceos, arbustivos e arbóreos. Fonte – ipesa.org.br A produtividade de tais espécies é aumentada pela dinamização do sistema de cultivo. O oposto dessa interação sinérgica é a monocultura, que no caso do cacau foi ampliada, pela monocultura do sombreamento quando se implantaram sombreamentos com a arbustiva eritrina (Erythrina falcata) em substituição ao sistema Cabruca. 3.4 Agricultura convencional, revolução verde ou agroquímica Junto com as inovações agronômicas, o “pacote tecnológico” da revolução verde criou uma estrutura de crédito rural subsidiado e paralelamente uma estrutura de ensino, pesquisa e extensão rural associadas ao modelo. Todo esse aparato criado, fez com que ele se expandisse muito rapidamente, apoiado por órgãos governamentais, pela maioria dos engenheiros agrônomos e pelas empresas produtoras de insumos (sementes híbridas, fertilizantes sintéticos e agrotóxicos). A agricultura convencional também chamada de agricultura moderna, “revolução verde” ou agroquímica, tem sua origem ligada a descobertas do século XIX, a partir de estudos de cientistas como Saussure, Boussingault e Liebig, que derrubaram a teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu carbono a partir da matéria orgânica do solo. Liebig difundiu a idéia que o aumento da produção agrícola seria diretamente proporcional a quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo (Planeta orgânico, 2004). A agroquímica foi desde o seu começo a grande aliada da monocultura (plantio de apenas uma cultura em determinada área). A ocupação de extensas áreas com uma só espécie (Figura 10) (geralmente culturas de exportação ex: cacau, café, cana de açúcar) facilita o desenvolvimento de pragas e doenças que não encontram barreiras ou inimigos naturais, necessitando a aplicação de 46 agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, fabricados a partir de combustíveis fósseis e da extração de depósitos minerais. O controle químico de pragas e doenças (agrotóxicos) pode baixar dramaticamente a população de pragas em curto prazo, controlando uma praga, mas também matando seus predadores naturais. Essas populações podem, com freqüência, se recuperar e alcançar números ainda maiores que antes e com resistência ao agrotóxico utilizado, sendo o agricultor a usar agentes químicos cada vez mais fortes. Figura 10 – Agroquímica levada ao extremo. Na agricultura convencional o cultivo do solo é intensivo, completa, profunda e regularmente, arando diversas vezes as áreas, degradando pela falta de matéria orgânica, compactando pelo trânsito repetitivo das máquinas, reduzindo a fertilidade do solo e aumentando acentuadamente as taxas de erosão. (PLANETA ORGÂNICO, 2004). A aplicação de herbicidas também tem sido uma prática comum nas plantações de cacau no território (Figura11), com os fazendeiros substituindo as roçagens tradicionais com facão, pela aplicação de herbicidas a base de glifosato (Roundap) ou outro composto dessecante de plantas. 47 Figura 11 – Área de cacau onde foi aplicado herbicida. Com a manipulação de genoma, as plantas são mais produtivas, requerem adubos sintéticos, melhores condições agronômicas, uso intensivo de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças e tornam os agricultores dependentes de produtores comerciais de sementes, como no caso das sementes transgênicas que os agricultores são obrigados a comprar e pagar royalty, além de modificar a composição interna da planta com genes estranhos a composição natural, com grande probabilidade dessa nova composição ser prejudicial a saúde humana e animal. 3.5 Agricultura orgânica A agricultura orgânica no Brasil é um mercado de cerca de US$ 250 milhões, com potencial de crescimento médio de 25% a 30% ao ano (SEBRAE, 2008). Já existem no país cerca de 15 mil propriedades certificadas e em processo de transição – 70% delas pertencem a agricultores familiares (SEBRAE, 2007). 48 No Território, o processo de certificação em agricultura orgânica, foi intensificado a partir do ano de 2000, com a certificadora IBD (Associação de Certificação Instituto Biodinâmico) sendo responsável por vários grupos certificados, destacando-se a formação das cooperativas Cabruca e COOPASB que exportam cacau para a Europa e EUA. “A agricultura orgânica é o sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade e agrotóxicos” (Associação de Agricultura Orgânica, [2008?] ), utiliza adubações com estercos animais, compostagem, adubação verde, rochas mineralizantes e restos de cultivos (Figura 12). O controle de pragas e doenças é feito com controle biológico, feromônio, caldas biológicas e caldas de plantas (pimenta, quarana e outras). A rotação de culturas e a cobertura do solo com os restos do cultivo anterior, também são prática que auxiliam na conservação da fertilidade na agricultura orgânica. Figura 12 - Casca da cacau para ser misturada com pó de Rocha de Ipirá e ser utilizada como adubo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) vem pesquisando a agricultura orgânica desde a década de 1950 no Centro Nacional de 49 Pesquisa de Agrobiologia (Embrapa Agrobiologia) em Seropédica - RJ. E seus pesquisadores definiram que A agricultura orgânica aplica os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, baseada numa visão holística da unidade de produção. Na agricultura orgânica, a unidade de produção é tratada como um organismo integrado com a flora e a fauna. (RICCI ET al., 2006). Um dos principais objetivos da agricultura orgânica é a proteção da fertilidade dos solos a longo prazo, estimulando sua atividade biológica, mantendo a sustentabilidade do sistema, com intervenção mecanizada cautelosa, fornecimento de nutrientes ao solo em forma natural (rochas mineralizantes) não obtidos por processos químicos (NPK), buscando a auto-suficiência em nitrogênio pelo uso de leguminosas e inoculações com bactérias fixadoras de nitrogênio, e com reciclagem de materiais orgânicos provenientes de resíduos vegetais e estercos animais. O controle de pragas e doenças pode ser realizado com caldas de plantas e com o “controle biológico [...] com o emprego de um organismo (predador, parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos econômicos às lavouras” (Ladislau, 2009). A Figura 13 é bastante representativa dessa situação retratada acima, nela pode-se visualizar pássaros catando pragas numa horta orgânica. Figura 13 – Pássaros catando insetos na horta orgânica. 50 4 METODOLOGIA 4.1 Municípios e fazendas pesquisadas A pesquisa foi realizada na região central do Território do Litoral Sul da Bahia (Figura 14) que reúne 26 municípios, na zona rural das cidades de Ilhéus, Itabuna, Barro Preto, Una, Itacaré, Uruçuca e Canavieiras, área que concentra a maior população e a maior quantidade de propriedades rurais do Território (IBGE, 2006), além de ser uma área de grande relevância ambiental, com relevantes unidades de conservação – Reserva Biológica de Una, Parque Estadual da Serra do Condurú, RPPNs, APAS, Parque municipal entre outros. Realizamos o total de 24 visitas por conta da limitação financeira da pesquisa, pois os recursos só permitiram a visita a esse número de propriedades, que se situavam distantes da zona urbana e em diferentes municípios do Território, sendo necessário percorrer trechos de estrada de terra em mau estado de conservação, em carro próprio, em alguns casos tendo que atravessar rios em canoas a remo, percorrer trechos em moto-taxi, enfiando o pé na lama e se embrenhando nas matas e capoeiras. Buscamos “analisar problemas reais, para buscar soluções, tendo em vista transformações úteis para a população” (THIOLLENT, 2002, p.2). 51 Figura 14 – Território do Litoral Sul da Bahia, com os municípios e as fazendas visitadas Fonte - Território do Litoral Sul, adaptado pelo autor. 4.2 Estratificação e amostragem simples aleatória Para a realização dessa pesquisa os sistemas produtivos foram divididos em orgânicos (certificados pelo IBD) e convencionais (agroquímicos), depois estratificamos por tamanho das propriedades: grupo A – fazendas entre 1 a 30 52 hectares, grupo B – fazendas entre 31 e 100 hectares e grupo C – fazendas acima de 100 hectares. É razoável supor que, de estrato para estrato, a variável de interesse apresente um comportamento substancialmente diverso, tendo, entretanto, comportamento razoavelmente homogêneo dentro de cada estrato (NETO, Pedro L.C., 1997). Outra possibilidade de estratificação utilizada seria a da CEPLAC (órgão de assistência agropecuária do Território), proposta pelo BNB (Banco do Nordeste do Brasil) que não levaria em conta o tamanho da propriedade e sim a renda agropecuária bruta anual e a renda extra-rural, conforme indicado a seguir. a) miniprodutor: quando sua renda agropecuária bruta anual média for igual ou inferior a R$ 150.000,00 e representar, no mínimo, 80% das suas receitas totais (rurais e extrarrurais), observado que, não atendido esse percentual mínimo de 80%, o mutuário será classificado como pequeno produtor; b) pequeno produtor: quando sua renda agropecuária bruta anual média for superior a R$ 150.000,00 e igual ou inferior a R$ 300.000,00 e representar, no mínimo, 70% das suas receitas totais (rurais e extrarrurais), observado que, não atendido esse percentual mínimo de 70%, o mutuário será classificado como médio produtor; c) médio produtor: quando sua renda agropecuária bruta anual média for superior a R$ 300.000,00 e igual ou inferior a R$ 1.900.000,00 e representar, no mínimo, 60% das suas receitas totais (rurais e extrarrurais), observado que, não atendido esse percentual mínimo de 60%, o mutuário será classificado como grande produtor; d) grande produtor: quando sua renda agropecuária bruta anual média for superior a R$ 1.900.000,00. (BNB, 2009, p. 3) No entanto numa época de crise econômica no Território pesquisado, e por essa metodologia se basear apenas em aspectos econômicos, optamos pela divisão por tamanho das propriedades. Depois de estratificarmos, fizemos uma amostra aleatória simples onde cada elemento teve a mesma oportunidade de ser incluído na amostra. “É a amostragem em que se pressupõe que todo o elemento da população tem a mesma 53 probabilidade de ser incluído na amostra extraída” (CARVALHO, [199?] ). Atribuindo a cada fazendeiro um número distinto, efetuamos sorteios até completar a amostra. Comparamos no mesmo nível de estrato os convencionais em relação aos orgânicos. No final do trabalho realizamos uma análise comparativa entre a agricultura orgânica e a convencional no Território do Litoral Sul da Bahia. 4.3 Fazendas visitadas Utilizamos para sorteio das fazendas a listagem dos produtores orgânicos certificados pelo IBD (Instituto Biodinâmico), fornecida pela CABRUCA (Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia) e para os produtores convencionais a listagem fornecida pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Ilhéus que inclui no seu quadro de associados produtores de várias cidades do Território pesquisado. Foram visitadas 24 propriedades agrícolas, sendo 12 que utilizam o sistema de produção orgânico e 12 o sistema de produção convencional, mesmo que as fazendas convencionais fossem em grande maioria no Território. As visitas foram realizadas com o acompanhamento dos agricultores, entre os meses de maio e agosto de 2008. Foram realizadas da seguinte maneira: chegávamos à fazenda pela manhã, onde depois de uma conversa com o proprietário ou com o gerente, realizávamos o seguinte roteiro: 1 – visita a casa sede e casa dos trabalhadores, 2 – visita às instalações (barcaças, secadores, agroindústrias, currais), 3 – visita às plantações e pastagens, 4 – visita às áreas de preservação (reserva legal, RPPN, mata ciliar), 5- visita aos mananciais de água (rios, nascentes, represas). As visitas geralmente terminavam à tarde, sempre fotografando os locais que achávamos de maior interesse para a pesquisa. 54 Em vários casos os proprietários só podiam visitar os imóveis nos finais de semana sendo que as chuvas nos meses de junho e julho de 2008 impossibilitaram visitas nesse período, pois as estradas ficavam intransitáveis e os trabalhos com fotografia foram dificultados (para não estragar a máquina fotográfica), o que só pôde voltar a acontecer a partir da segunda quinzena de julho. 4.4 Questionário aplicado Por conta da diversidade sócio-cultural com diversos níveis de escolaridade dos fazendeiros, optamos em coletar os dados através do questionário aplicado em forma de entrevista estruturada, buscando coletar informações a cerca do cotidiano das fazendas, das práticas agrícolas utilizadas, da preservação da mata ciliar, da reserva legal, da percepção sobre a evolução do sistema, dos rendimentos e despesas e de outros temas relacionados à vida socioeconômica e ambiental nas fazendas. O questionário foi dividido em vários blocos: - Tamanho da propriedade e local da moradia do agricultor; - Técnicas agrícolas recomendadas pela FAO - Cobertura morta - Rotação de culturas - Revolvimento do solo - Assistência técnica e adubações; - Diversificação de cultivos - Receitas e custos - Preservação ambiental - Mata ciliar 55 - Reserva legal - Queimadas - Postos de trabalho - Processamento agroindustrial nas fazendas A partir da identificação das técnicas agrícolas utilizadas pelos agricultores, verificamos qual sistema foi mais sustentável. Segundo os critérios de agricultura de conservação da FAO, que vem ao longo de décadas pesquisando a agricultura e a sustentabilidade das técnicas agrícolas empregadas em vários países do mundo, principalmente nos países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento que aponta Para alcançar a agricultura sustentável e lucrativa e subseqüentemente um sistema internacional dirigido ao melhoramento do sustento dos fazendeiros pela aplicação dos três princípios: perturbação mínima da terra (aração), cobertura de terra permanente e rotações de culturas (FAO, 2008). Como pouco se utilizava a remoção (aração e gradagem) de solo no Território, substituímos esse item da pesquisa pelas queimadas nas fazendas, pois essa prática agrícola vem sendo utilizada secularmente pelos produtores, com grandes prejuízos econômicos e ambientais. “O fogo é uma tecnologia do Neolítico, [...] afeta diretamente a físico-química e a biologia dos solos [...] reduz a biodiversidade e prejudica a saúde humana”. (EMBRAPA, 2008a). A análise de solo foi um dos critérios de avaliação técnica dos agricultores, pois sempre foi uma técnica consagrada, difundida, e utilizada no Território, pois os técnicos da CEPLAC sempre se utilizaram dessas análises para verificar as quantidades de nutrientes, níveis de alumínio tóxico e o Ph do solo. “Através da análise de solo, o agricultor ou pecuarista pode saber como está a fertilidade do solo 56 e obter indicações corretas sobre o tipo e a quantidade de calcário e adubo a serem aplicados” (EMBRAPA, 2008b). A assistência técnica foi outro critério quantificado na pesquisa, uma vez que essa prática tinha o objetivo de levar ao homem do campo, novas técnicas agropecuárias, oriundas das pesquisas realizadas nos órgãos técnicos e nas universidades, bem como resolver problemas fitossanitários nos cultivos, além de outros, o que deveria possibilitar o incremento da produtividade nos cultivos. A monocultura tem gerado graves problemas socioeconômicos no território, pois a frustração da safra do cacau geralmente tem levado a região a fortes crises, como a atual que fez desaparecer 200 mil empregos, por esse motivo, a diversificação de cultivo que é a implantação de novos produtos agropecuários, tais como fruticultura ou criações de animais, tem sido cada vez mais praticada no Território do Litoral Sul. “A diversificação é a saída para nossa sobrevivência, [...] a pequena propriedade não sobrevive com a monocultura, [...] a crise geralmente torna-se insuperável a partir de apenas uma fonte de renda” (PAVAN, 2009). O Território, apesar de ser a maior área produtora de cacau do Brasil, poucas políticas de desenvolvimento de agroindústrias foram implantadas, se contentando sempre em vender produtos pouco ou sem processamento. Algumas multinacionais estabeleceram grandes fábricas de transformação de amêndoas de cacau em lícor ou manteiga, mas apenas uma fábrica na região vem fabricando chocolate. Depois da crise da vassoura de bruxa esse processo de agroindustrialização começou a despertar interesse nos produtores e pesquisadores, principalmente na área de polpas de frutas, porém as pequenas unidades familiares de aproveitamento de produtos nas fazendas ainda não se concretizaram. “Esse processo consolidado 57 contribuirá para viabilizar novas frentes agrícolas e novas oportunidades de negócios e de realização de renda e postos de trabalho” (GASPARETTO, [199?] ). 4.5 Análises dos grupos Os dados coletados a partir do questionário foram tabulados e organizados em uma tabela, e através dessa tabela fizemos análises comparativas entre os sistemas em cada grupo, verificando aspectos socioeconômicos e ambientais. Por fim, elaboramos uma reflexão geral da agricultura no Território do Litoral Sul. 4.6 Análises econômicas Para a realização dos cálculos, os preços dos cultivos comercializados e insumos comprados, foram estabelecidos de acordo com os valores comercializados pelos produtores, de acordo com a flutuação de preços do mercado, a produção de cacau foi calculada em arrobas, representada pelo símbolo @, equivalente a 15 quilos. Os dados econômicos “são indicadores”, já que parte dos produtores não tinham anotações sistemáticas, sendo que parte das informações foram dadas “de cabeça”, sem que os dados estivessem anotados. Muitos cálculos tiveram que ser feitos no instante das perguntas. Os custos foram calculados somando-se: despesas com trabalhadores, mais as despesas com insumos (adubos, agrotóxicos, etc.). Por conta da complexidade 58 da tarefa, não foram incluídos custos com ferramentas, consertos de casas e barcaças, transportes e outros. Cálculos dos postos de trabalho - para análise dos custos dos postos de trabalho, generalizamos todos os postos de trabalho como assalariados. Os custos de um posto de trabalho/ano foram feitos baseados no salário mínimo de 2007 que foi de R$ 380,00 e foram realizados da seguinte maneira: – 12 salários mensais, mais férias = 1 salário + 1/3 do salário, mais 13º = 1 salário, mais encargos sociais = 8% do FGTS x 12 meses = 96% do salário e 8% do INSS x 12 meses = 96% do salário, mais salário família ( média de 2 filhos por trabalhador) 10% ao mês = 1 salário anual, totalizando 17 salários mínimos anuais. , ficando o custo anual de um posto de trabalho em R$ 6.460,00. A renda bruta do produtor foi calculada somando-se todas as receitas do ano de 2007. Custos – Soma dos salários e encargos dos trabalhadores, mais custos com compra de insumos, máquinas e equipamentos. A renda líquida foi obtida deduzindo os custos da renda bruta. 4.7 Análise ambiental Para a realização da análise ambiental, verificamos a existência ou não da reserva legal nas fazendas, que no Território do Litoral Sul da Bahia, por força da Lei Ambiental 7.803, de 18 de julho de 1989, teriam que possuir 20% da área da fazenda. Tendo essas reservas papeis fundamentais para a preservação de espécies e manutenção e proteção de mananciais de água entre outros benefícios. 59 “Além de garantir o equilíbrio ambiental, as reservas legais são também uma fonte de suprimento de matéria-prima e de recurso florestal para necessidades internas da propriedade” (PEREIRA, 2007). O outro elemento ambiental pesquisado foi a mata ciliar, elemento ecológico conservador e protetor dos rios (principais responsáveis pelo abastecimento de água no Brasil), controlam a erosão nas margens dos rios, evitando o assoreamento, sendo que essas matas protetoras, apesar de serem importantes para a preservação da vida no planeta, vem sendo bastante degradadas e destruídas, e pelo tamanho das áreas ocupadas pela agropecuária no Brasil e no Território da pesquisa, a preservação desses áreas se revestem de extrema importância e segurança socioeconômica e ambiental para a nação. “Além de minimizam os efeitos de enchentes, filtram os possíveis resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes (filtro natural) além de auxiliar na proteção da fauna local” (RIZZO, 2007). O terceiro elemento ambiental pesquisado foram as RPPN (Reserva Particulares do Patrimônio Natural) que se revestem de importância ambiental e econômica, para o Território por canta da possibilidade de geração de renda com preservação ambiental nesse momento onde a “crise“ da cacauicultura fechou milhares de postos de trabalho e crescem as áreas de cultivos agropecuários degradadores do meio ambiente no território e no seu entorno. Outro benefício da RPPN é o aumento das áreas protegidas, além de serem “importantes ferramentas na formação de corredores ecológicos [...] protegendo espécies endêmicas” (CNRPPN, 2005) 60 4.8 Fotos Fizemos fotos das propriedades, como instrumento metodológico para a caracterização das paisagens dos dois sistemas pesquisados “A paisagem é o reflexo e a marca impressa da sociedade dos homens na natureza” (RIBEIRO e ESTEVEZ, [2009?], p. 3). Buscamos fotografar paisagens que expressassem aspectos generalistas e específicos tanto dos sistemas orgânicos quanto convencionais. “A imagem é permeada de sentidos que falam à vivência do espectador, reelaborando e permitindo o afloramento de fragmentos de experiências” (PIRES, 2001). 61 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES A divisão (estratificação) das propriedades por tamanho, com os três estratos– de 1 a 30 hectares grupo A, de 31 a 100 hectares grupo B e acima de 100 hectares o grupo C, estabelecida através das nossas vivências como agricultor, pesquisador e extensionista agropecuário na zona rural do Território do Litoral Sul, se mostrou eficiente ao longo do trabalho, demonstrando que cada estrato pesquisado tinha suas especificidades socioeconômicas e ambientais em relação aos outros estratos, dentro da área de abrangência da pesquisa. 62 5.1 Análise comparativa entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo A – com fazendas até 30 hectares Figura 15 – A diversificação de cultivos é uma característica dos produtores do grupo A Quadro 1 - Dados comparativos da caracterização entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo A Convencionais Tamanho das fazendas Moradia dos proprietários Ocupação principal dos proprietários 17 hectares 2 de 4 agricultores moravam na fazenda 3 de 4 agricultura Orgânicas 15 hectares 2 de 4 moravam Na fazenda 2 de 4 agricultura Possuíam outra fazenda Nenhum possuía Nenhum possuía Possuíam automóvel 4 de 4 possuíam 3 de 4 possuíam Nível de escolaridade 2 de 4 fundamental 2 de 4 médio 2 de 4 fundamental 2 de 4 Superior 63 Nesse grupo de produtores que possuíam entre 1 a 30 hectares, a média do tamanho das propriedades ficou entre os convencionais em 17 hectares e entre os produtores orgânicos em 15 hectares. Sendo que 3 dos 4 agricultores convencionais e 2 dos 4 orgânicos desse grupo moravam na propriedade e nenhum dos agricultores desse grupo possuíam outras fazendas. Nos dois sistemas apenas 1 dos produtores orgânicos não possuíam automóvel o que indicava um bom nível de possibilidade de deslocamento e transporte da produção. No nível de escolaridade estava uma diferença entre os dois grupos, onde os 2 dos 4 convencionais mais escolarizados tinham o nível médio, já entre os orgânicos 2 dos 4 mais escolarizados já tinham cursado o nível superior e os 2 menos escolarizados cursaram o nível fundamental. A maior parte dos agricultores desse grupo (8 de 10) são agricultores familiares, o que os capacitariam a participar do PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), com possibilidades de adquirir financiamentos com juros reduzidos e comercializar seus produtos através da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), através de programas como o P.A.A. (Programa de Aquisição de Alimentos), que compra com preços “justos” os produtos cultivados pelos agricultores, no entanto apenas 1 dos produtores convencionais e 2 dos produtores orgânicos participam do P.A.A., como conseqüência os produtores perdem parte da sua produção na própria fazenda por falta de compradores ou vendem seus produtos aos atravessadores na maioria das vezes por preços irrisórios. 64 5.1.1 Análise econômica dos produtores do Grupo A Figura 16 - Receita total e Investimentos em insumos (em reais) nas fazendas do grupo A. Os produtores convencionais investiram em insumos em média R$1.269,25, tendo adquirido: calcário, adubo químico - npk, herbicidas e formicidas, enquanto os orgânicos investiram em insumos em média R$ 1.807,50 e compraram: pó de rocha, cinza, película de cacau, formicidas homeopáticos, fungicidas a base de fungos benéficos (para controlar doenças) e esterco. Mesmo investindo menos em insumos os produtores convencionais obtiveram um rendimento bruto/médio de R$ 16.665,00 por produtor, que foi maior que o rendimento dos orgânicos que chegaram a R$ 15.443,75,00 por produtor. 65 Tabela 1 – Receitas e custos (em reais) nos sistemas produtivos do grupo A. Receita Receita da Receita do Cacau Diversificação Geral Receita/ Receita/ Hectare Hec/cultivada Convencionais 4.965,00 11.700,00 16.665,00 980,29 1.388,75 3.983,50 11.460,25 15.443,75 1.029,58 1.404,00 Orgânico Apesar dos produtores convencionais conseguirem uma receita bruta 7,3% maior que os orgânicos, por conta das propriedades orgânicas serem menores (15 hectares e as convencionais 17 hectares) o rendimento por hectare foi 6,8% melhor entre os orgânicos e na receita por hectare cultivada, os resultados foram praticamente semelhantes, apenas 1,1% a mais para os orgânicos (Tabela 1). A renda com a diversificação de produtos (Figura 17) somou 63% da renda gerada nos dois sistemas, o que demonstrou que o cacau com 37% da renda ainda é muito importante para a economia desses produtores, mas a maior parte das suas rendas vem da diversificação de produtos (Figura 18, principalmente de cultivos de ciclos curtos e anuais, esse foi o grupo pesquisado que teve a menor dependência econômica do cacau. Figura 17 - Percentual da origem dos rendimentos econômicos dos produtores do grupo A. 66 Figura 18- Consórcio de cravo, goiaba e cupuaçu em fazenda do grupo A. 5.1.2 Comercialização e agroindústrias nas fazendas do grupo A Não existem agroindústrias nas fazendas desse estrato pesquisado. As pequenas quantidades produzidas não viabilizam a instalação de agroindústrias. O grupo de produtores orgânicos que é associado a cooperativa Cabruca (3 produtores) espera a criação de agroindústrias coletivas para processar seus produtos. Com a homogeneização dos preços do cacau no mercado convencional, tanto o cacau bem fermentado e seco, quanto o cacau mal beneficiado, são comercializados com o mesmo valor, o que faz com que os agricultores na sua maioria não fermentassem mais o cacau ou fermentassem pouco, e ensacassem o cacau para a comercialização com um teor de umidade maior que os 8% (que é tido como um cacau “superior” pelos padrões da CEPLAC) gerando um produto de baixa qualidade (Figura 19) que foi comercializado a uma média de R$ 57,00 por arroba. 67 Figura 19- Barcaça secando o cacau em fazenda convencional do grupo A. Por causa da pequena escala produtiva e das dificuldades de transporte, os pequenos produtores orgânicos (3 dos 4) não comercializam seu cacau como orgânico, vendem como convencional com preços de mercado, sem muitos cuidados com a fermentação e secagem, comercializando o produto com os intermediários. Os agricultores que moram nas propriedades produzem cultivos de ciclo anual como banana da terra, banana da prata, aipim, cultivos de ciclo curto - verduras, além de frutas diversas como, goiaba, coco, limão, lima, cana e outras e comercializam esses produtos em feiras livres e supermercados (Figura 20). Figura 20 – Produtora comercializando seus produtos na central de abastecimento de Ilhéus. 68 5.1.3 Técnicas agrícolas utilizadas pelos agricultores do grupo A Figura 21 - Número de agricultores que se utilizavam assistência técnica,faziam análise de solo e fabricavam e utilizavam adubos na propriedade. Tabela 2 – Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “A”. Convencionais Adubo utilizado Produtividade média do cacau por hectare 2 dos 4 agricultores usam - calcário, NPK, cinza, casca de cacau, esterco e pó de rocha 22@ Orgânicos 3 dos 4 agricultores usam - fosfato, cinza, rocha de Ipirá, película de cacau e esterco 13 @ Esse grupo foi o que apresentou o maior número de fazendas sem assistência técnica – entre as convencionais apenas 1 das 4 propriedades e entre as orgânicas 2 das 4 eram assistidas por técnicos agrícolas (figura 21), resultando em técnicas agrícolas aplicadas de forma aleatória como a utilização de adubos e corretivos de solo (calcário) sem fazer análise de solo (6 dos 8 produtores pesquisados). Os adubos utilizados, sem análises de solo não geraram os 69 resultados esperados pelos produtores como mostra a baixa média produtiva do cacau (tabela 2), o que deve ter ocasionado custos desnecessários, além de provocar efeitos indesejáveis como danos as plantas por utilização errada dos adubos (Figura 22). Figura 22 – Excesso de adubo –cinza industrial (preto) aplicado de forma aleatório no pé de cacau. Todos os produtores orgânicos desse grupo aplicaram adubos fabricados com casca de cacau misturada com esterco ou pó de rocha, demonstrando uma melhor otimização dos recursos “naturais” da propriedade (Figura 23). Figura 23 - Utilização de adubo fabricado na fazenda com esterco de gado e casca de cacau 70 Entre os produtores convencionais o número que utiliza a casca de cacau misturada com esterco ou pó de rocha, baixou para 2 dos 4 produtores, o que ocasionou o desperdício dessa importante fonte de matéria orgânica, que ficou acumulada em casqueiros que se transformam em fontes de doenças para as plantas e para os seres humanos por conta do acumulo de água nas cabaças de cacau. (Figura 24). Figura 24 - Casqueiro de cacau não utilizado como adubo. As queimadas continuam sendo utilizadas como técnica de plantio em todas as 4 fazendas convencionais (Figura 25), sendo que em 2 por já terem suas áreas de cultivo “limpas”, só utilizam a prática quando vão plantar e de forma localizada, as outras 2 utilizam para preparar a terra e manter os “pastos limpos e livres do carrapatos”. “Com freqüência, a preparação da terra começa com a queima da vegetação e dos restos da lavoura anterior, de modo a limpar a terra e espantar animais selvagens” (FAO, 2008). 71 Figura 25 - Percentual de produtores do grupo A que faziam queimadas. Já entre os produtores orgânicos desse grupo as queimadas foram abolidas. Os restos dos cultivos das safras anteriores ou os restos do mato são deixados no corredor entre as plantas, protegendo o solo e mais tarde com o apodrecimento desse material se transformando em adubo. “O fogo provoca a perda de minerais do solo e cerca de 90% deles vão para o espaço junto com a fumaça, em forma de gás carbônico e cinzas” (Figura 26) (UFRRJ, 2000). Figura 26 – Agricultor observando a queima dos restos de cultivo. Fonte – www.atarde.com.br 72 A cobertura morta, que mantém a terra “forrada” com uma camada vegetal, é um dos princípios da Agricultura de Conservação da FAO. Figura 27 - Número de agricultores que utilizam cobertura morta nos dois sistemas do estrato A. Entre os agricultores convencionais, nenhum utiliza a cobertura morta (Figura 27), o que vem provocando a diminuição da matéria orgânica e consequentemente o empobrecimento e a erosão no solo nessas fazendas, o que segundo a (FAO, 2008) “vem diminuindo as produções e os rendimentos financeiros dos produtores”. Esses agricultores preparavam a terra com queimadas e a utilização excessiva da enxada (Figura 28) e herbicidas para controlar o mato, o que provocou a carência de massa verde no solo expondo a terra a insolação, diminuindo a umidade do solo e comprometendo a biovida que existia e era adaptada a condição de menor insolação e maior umidade. 73 Figura 28 - Agricultor capinando a terra, retirando a cobertura do solo em fazenda convencional do grupo A. O resultado final da insolação provocada pela falta de cobertura morta são solos expostos, que tem como conseqüência o ressecamento e posteriormente a erosão que nos estágios mais avançados, inviabilizam cultivos e criações de animais (figura 29). Figura 29 - Área bastante afetada pela retirada da cobertura morta através de seguidas capinas com enxada em fazenda convencional do estrato A. 74 Todos os produtores orgânicos desse grupo utilizavam a cobertura morta para proteger e fertilizar o solo, sendo que alguns utilizavam a cobertura viva ou adubação verde que é a manutenção superficial no solo de plantas de elevada produção de biomassa, ricas em nutrientes, para melhorar o solo, física, química e biologicamente visando a conservação ou aumento da fertilidade (Figura 30). Figura 30- Cobertura morta protegendo o solo e retardando o crescimento das invasoras. Alguns produtores orgânicos utilizavam leguminosas para forrar e fertilizar o solo tais como – feijão de porco, kudzu tropical, glilicídia entre outras “As plantas mais utilizadas para cobertura morta geralmente são as leguminosas (Figura 31), porque contêm altas porcentagens de fósforo, potássio, cálcio e, principalmente de nitrogênio” (Batista, 2001). 75 Figura 31 – Leguminosa utilizada para a produção de biomassa. A rotação de cultivos foi aplicada por apenas 1 dos 4 produtores convencionais desse grupo, entre os produtores orgânicos esse número cresceu para 3 de 4 produtores, nesse outro principio da Agricultura de Conservação da FAO, “O solo se regenera mais rapidamente com crescimento de suas plantas nativas. Quando as sementes de plantas nativas não podem crescer por meios naturais, podem ser substituídas por plantas exóticas” (Unicamp, 2008). Pulverizadores costais manuais e bombas de formicida são as principais máquinas utilizadas nas lavouras dos produtores convencionais e orgânicas do grupo A, e as principais ferramentas são o facão e podão (Figura 32), a motosserra é encontrada em metade das fazendas, sendo que apenas uma fazenda possui microtrator e outra uma roçadeira. 76 Figura 32 – Pulverizador costal manual, facão e podão. Os insumos utilizados no controle de pragas e doenças nas fazendas orgânicas são: a planta comigo ninguém pode (Dieffenbachia picta Schott) que é utilizada no controle das formigas cortadeiras, a formiga caçarema (Azteca chartifex) (Figura 33) que é utilizada no controle da mosca das frutas da graviola e fungos controladores de doenças (Trichoderma sp. Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae). Figura 33 - Gravioleira com o formigueiro da Caçarema. 77 Verificamos que os agricultores convencionais utilizavam herbicidas para controle das “ervas daninhas” e formicida em pó para controle das formigas cortadeiras. 5.1.4 Diversificação de cultivos nas fazendas do Grupo A Figura 34- Diversificação de cultivos dos produtores convencionais e orgânicos do grupo A. Quadro 2 – Produtos cultivados nos dois sistemas do grupo A. ORGÂNICOS Cultivos perenes Cacau, borracha, coco, cupuaçu, CONVENCIONAIS Cacau, seringa, coco. açaí, goiaba, graviola, flores tropicais, acerola Cultivos anuais Banana prata, banana terra, aipim, Banana prata, banana terra, aipim e verduras. Criação de Ovinos Bovinos animais 78 Vários produtos já fazem parte da economia dos produtores rurais desse grupo (Quadro 2), mesmo os produtores convencionais já comercializavam 8 produtos diferentes, enquanto os orgânicos chegaram a 13 produtos que geraram receitas econômicas, o que traz maior segurança alimentar e econômica pra os produtores, pois se a safra de um produto é frustrada outro produto pode gerar capital e alimento (Figura 35).. O cacau esta presente em todas as propriedades orgânicas e em 3 das 4 convencionais desse grupo, demonstrando a importância desse cultivo para esses produtores no Território. Os produtores orgânicos já demonstram um bom percentual de diversificação de cultivos, onde o cacau é produzido nas 4 propriedades, a seringueira em 3 das 4 propriedades, banana da terra e da prata, cupuaçu, coco açaí e goiaba em 2 fazendas e a pupunha, acerola, flores tropicais, graviola e ovinos e polpas de frutas em 1. Figura 35 – Consórcio: aipim, banana e coco em fazenda convencional do grupo A. 79 5.1.5 Preservação dos recursos ambientais nas fazendas do grupo A Figura 36 - Número de produtores do estrato A que conservam os recursos naturais. Os pequenos produtores convencionais mesmo com a maioria morando nas fazendas (3 dos 4), não estão protegendo adequadamente seus recursos ambientais, os rios estavam sem a mata ciliar, o que vem provocando assoreamento e alargamento dos ribeirões, com efeitos nocivos também na qualidade da água de beber (Figura 37). As reservas legais só existem em 1 das 4 propriedades. Também não foi implantada nenhuma RPPN nas fazendas. Figura 37 - Nascente de rio sem mata ciliar, utilizada para criação de gado em fazenda convencional do grupo A. 80 As matas praticamente não existem em 3 das 4 fazendas convencionais desse grupo, restando apenas fragmentos de capoeira, que são utilizados como fonte de madeira para as fazendas, sendo derrubadas periodicamente para servir de estacas, lenha, cabos de ferramentas e etc.. As capoeiras persistem até os produtores terem condições de cabrucá-las ou derrubá-las e transformá-las em roças de cacau, banana ou aipim (Figura 38). Figura 38 - Cacau sendo plantado em área de capoeira com mais de 92% da área já ocupada. Entre os orgânicos 3 dos 4 produtores já averbaram, ou estavam averbando a reserva legal (Figura 40), o que preservou áreas de mata com exemplares seculares ou capoeiras com árvores mais jovens (Figura 39). Figura 39 - Mata Atlântica preservada com árvore centenária em reserva legal. 81 Figura 40 - Reserva legal averbada em fazenda orgânica do grupo A. Uma propriedade orgânica já possui RPPN, para futura recepção de turistas. Todas as fazendas desse grupo possuem pelo menos uma capoeira preservada. No entanto as matas ciliares (Figura 41) (que é uma obrigação estabelecida no código florestal) e que permite que os recursos hídricos sejam preservados, só são preservadas em 2 das 4 propriedades. Figura 41 – Nascente com mata ciliar preservada em fazenda orgânica do grupo A. 82 5.2 Análise comparativa entre os produtores convencionais e orgânicos do “grupo B” – de 31 a 100 hectares Figura 42 – Diversificação de cultivos em fazenda do “Grupo B”. Quadro 3 - Dados comparativos entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo B Convencional Orgânica Tamanho das fazendas 67 hectares 78 hectares Moradia dos proprietários 4 de 4 moram na cidade 3 de 4 moram na fazenda Ocupação principal dos proprietários 3 de 4 agricultura 3 de 4 agricultura Possuíam outra fazenda 2 de 4 possuíam outra fazenda 1 de 4 possuía outra Fazenda Possuíam automóvel 3 de 4 possuíam 3 de 4 possuíam Nível de escolaridade 2 de 4 nível médio 2 de 4 nível superior 3 de 4 nível superior 1 de 4 nível médio As fazendas convencionais do grupo B possuíam em média 67 hectares e nenhum dos seus proprietários morava na fazenda (absenteistas), sendo que 3 dos 83 4 produtores pesquisados tinham na atividade agropecuária sua principal ocupação profissional. Dentre eles 2 de 4 possuíam outras fazendas e 3 de 4 produtores possuíam automóveis. No item escolaridade 2 dos 4 produtores convencionais desse estrato possuíam nível superior e os outros 2 cursaram o nível médio. Entre os agricultores orgânicos desse grupo 3 dos 4 concluíram o nível superior e 1 concluiu o nível médio, o que consagrou esse grupo de produtores como o de mais alto nível de escolaridade entre todos grupos pesquisados. As fazendas orgânicas tinham em média 78 hectares e 3 dos 4 agricultores moravam na fazenda e o agricultor que não morava estava viabilizando sua mudança para a propriedade. Em relação a ocupação principal os dois grupos empataram com 3 dos 4 pesquisados tendo na agricultura sua ocupação principal, também 3 dos 4 agricultores dos dois sistemas possuíam automóveis. 5.2.1 Análise econômica dos produtores do grupo B Os produtores convencionais desse grupo investiram em média R$ 5.542,75 em insumos: calcário, adubo químico (NPK), herbicidas e formicidas. Os produtores orgânicos investiram em média R$ 2.663,75 e compraram: pó de rocha, cinza, biofertilizante, formicidas homeopáticos, fungos benéficos (para controlar doenças) e esterco. 84 Figura 43 - Investimentos em insumos, receitas e custos (em reais) nas fazendas do grupo B. O custos com mão de obra entre os convencionais foi de R$ 24.225,00 e os produtores orgânicos investiram em média R$ 30.685,00. Investindo menos em insumos e mais em mão de obra, os produtores orgânicos tiveram um rendimento bruto/médio de R$ 50.435,75 que foi 44,24% maior que o rendimento dos convencionais que chegou a R$ 28.118,75 (Figura 43). A renda líquida dos orgânicos chegou a R$ 17.087,00 enquanto os convencionais tiveram um prejuízo de R$ 1.649,00 em média por produtor (Tabela 3). Tabela 3 – Renda bruta, custos e renda líquida (em reais) dos produtores orgânicos e convencionais do grupo B. Renda bruta Custos Lucro líquido Convencionais 28.118,75 29.767,75 - 1.649,00 Orgânicos 50.435,75 33.348,75 17.087,00 O melhor rendimento econômico dos orgânicos se deu numa área cultivada de 153 hectares, sendo 27 hectares menor que o total cultivado nas áreas 85 convencionais que foi de 180 hectares, o que foi possível entre outros motivos por conta dos consórcios que os produtores orgânicos realizaram, principalmente com plantações de banana da prata, açaí e pupunha nos cacauais produtivos e novos consórcios utilizando palmeiras, cupuaçu e outros cultivos, que geraram 2, 3 ou mais rendimentos na mesma área produtiva (figura 44). Figura 44 - Consórcio- pupunha, glilicídia e cupuaçu em fazenda orgânica do grupo B. A renda com a diversificação de cultivos, já representa mais da metade dos rendimentos nos dois sistemas desse grupo (Tabela 4). Tabela 4 – Análise da diversificação na renda total (em reais) dos produtores do grupo B. Cacau Diversificação Renda Total Convencionais 11.168,00 16.950,75 28.118,75 Orgânico 24.453,50 25.982,25 50.435,75 86 Tabela 5 - Preço médio do cacau (em reais) comercializado nos sistemas de produção do grupo B. Sistema Preço médio Orgânico 69,61 Convencional 52,68 O cacau orgânico foi comercializado em média a R$ 69,61, enquanto o convencional ficou em R$ 52,68, uma diferença de 24,74% (Tabela 5), isso por conta da melhor estrutura de comercialização (cooperativa) e beneficiamento do cacau (Figura 45), que ajudaram os orgânicos a produzirem um cacau de melhor qualidade, somando à renda de cada produtor orgânico mais R$ 6.049.79 o que representou 12% de acréscimo à renda geral desses produtores. Figura 45- Estrutura de beneficiamento das fazendas orgânicas. Já os produtores convencionais comercializaram seus cacaus com as indústrias e com os exportadores, além de não terem beneficiado seus produtos e terem seus sistemas de beneficiamento degradados (Figura 46), produzindo um cacau sem qualidade e com menor valor de mercado que os produtos orgânicos. 87 Figura 46 - Estrutura de beneficiamento do cacau das fazendas convencionais – cocho (onde . fermenta o cacau) e barcaça (onde se seca o cacau). A moradia na fazenda (que acarreta um melhor gerenciamento), diversificação e consorcio de cultivos e melhores preços de comercialização foram (dentre outros) os principais fatores que influenciaram os melhores rendimentos econômicos dos produtores orgânicos desse grupo. 5.2.2 Comercialização e Agroindústrias nas fazendas do grupo B Entre os produtores convencionais desse grupo somente um possuía agroindústria (Figura 47), mesmo assim funcionando em estado precário, segundo o proprietário “Por causa da concorrência desleal na comercialização, ocasionado pela política local, eu pago imposto e o concorrente não”. Nas outras fazendas convencionais os produtores comercializavam seus produtos in-natura sem nenhuma “verticalização da produção” ou seja sem industrializar e agregar valor aos produtos. 88 Figura 47 - Laticínio em fazenda convencional do grupo B. Nas fazendas convencionais, o beneficiamento do cacau foi feito da forma mais barata, rápida e menos trabalhosa possível, se o produtor fizesse um melhor beneficiamento, o valor de comercialização seria o mesmo, porque no mercado de compra de cacau convencional não se paga mais pelo cacau de qualidade (Figura 48). Os produtores de cacau desse grupo comercializaram principalmente com os compradores intermediários, e com a indústria de cacau. Apenas um produtor vendeu seus produtos oriundos da diversificação de cultivos para os programas de assistência social do governo e com os supermercados. Nenhum produtor desse grupo comercializou nas feiras. 89 Figura 48 - Cacau sem vassoura de bruxa e cacau com vassoura de bruxa. Nas fazendas orgânicas do grupo B não existiam agroindústria instalada ou sendo instalada, no entanto a busca de um cacau com melhor qualidade, levou esses produtores a investirem no beneficiamento do cacau (Figura 49) e realizarem melhorias nas instalações das benfeitoria como cochos, barcaças e secadores. Além disso os produtores buscaram se capacitar com técnicos da CEPLAC e com os chocolateiros da Europa que estabeleceram os padrões exigidos para um cacau orgânico/fino: umidade em torno de 8%, secagem em locais limpos após uma fermentação de cerca de 6 a 8 dias e baixos índices de ardósia e defeitos como mofo ou embrião. Com esses ações os produtores conseguiram melhorar a qualidade do cacau e conquistar mercados mais exigentes no Brasil e na Europa, com preços mais estáveis e melhor remuneração. 90 Figura 49 - Cacau fermentando num cocho e secador de cacau para os dias chuvosos. . A maioria dos produtores orgânicos desse grupo (3 de 4) comercializou seus produtos com a cooperativa (Cabruca), onde entregaram seus cacaus de melhor qualidade - bem fermentados, bem secos (unidade de até 8%), bom cheiro e com outras características que possibilitaram que esses produtos fossem comercializados como orgânicos, conseguindo preços acima de R$ 70,00. O cacau orgânico contaminado com a vassoura de bruxa, foi comercializado como convencional, recebendo o valor de mercado do dia, que no ano de 2007 oscilou entre R$ 50.00 e 60.00. 5.2.3 Técnicas agrícolas utilizadas nas fazendas dos grupos B Figura 50 - Número de agricultores que disponibilizavam de assistência técnica, faziam análise de solo e utilizavam e faziam adubos na fazenda. 91 Tabela 6 – Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “B”. Convencionais Adubo utilizado Produtividade média do cacau por hectare Calcário, npk e esterco Orgânicos Rocha de Ipirá Cinza, biofertilizante, manipueira, gesso, cal hidratado 10 @ 14 @ Todas as fazendas convencionais desse grupo recebiam a visita de um técnico da CEPLAC (Figura 50), pelo menos uma vez a cada seis meses. Apesar da assistência técnica e das adubações (3 das 4 produtores adubavam), as produtividades do cacau foram em média de apenas 10 arrobas por hectare (Tabela 6), demonstrando que tanto o controle da vassoura (Figura 51), quanto outras práticas agrícolas não estão tendo os resultados esperados. Figura 51 – Área de cacau dominada pela vassoura de bruxa. 92 Já entre os produtores orgânicos, a falta de assistência técnica especializada em agricultura orgânica na região, inviabilizou a visitação desses profissionais as propriedades. Mesmo com o baixo nível de assistência técnica (apenas 1 de 4), os produtores orgânicos fabricaram seus adubos (3 dos 4), utilizando principalmente a casca de cacau, que misturavam com biofertilizante, esterco ou pó de rocha. Mesmo sem assistência técnica os produtores orgânicos desse grupo conseguiram médias produtivas melhores que as dos produtores convencionais (ver tabela 3), isto por conta dos investimentos que os produtores fizeram em cursos de agricultura orgânica, que os capacitam a tomar ações com maior conhecimento, como as adubações nas quantidades e nos momentos certos (Figura 52), bem como nas podas e os controles de pragas e doenças. Figura 52 - Aplicação de pó de rocha a lanço (manual) em fazenda orgânica do grupo B. 93 Por causa do seu baixo custo e do Ph da região ser quase sempre mais para ácido, o calcário foi utilizado em todas as fazendas do grupo convencional. O NPK (nitrogênio-fósforo-potássio) foi o adubo utilizado em 3 das 4 propriedades, sendo que a utilização desses dois adubos foi em 2 casos feita sem análises de solo, o que ocasionou o excesso ou a falta dos elementos (micros e macros) nas adubações. O fosfato de rocha foi utilizado em apenas 1 propriedade desse grupo. Os herbicidas foram utilizados em 3 das 4 propriedades. Apesar de 3 das 4 fazendas convencionais criarem gado, apenas 1 utilizava o esterco e fabricava adubo (biofertilizante e composto) para fertilização de seus cultivos, sendo que nas outras que não utilizavam o esterco, ele ficava no pasto ou entulhado nos cantos do curral e as cascas de cacau ficavam entulhadas nas roças (Figura 53). Figura 53– Cascas de cacau que não foram utilizadas como adubo e ficavam entulhadas nas roças de cacau das fazendas convencionais grupo do B. 94 Entre os orgânicos desse grupo todos faziam adubos na propriedade, utilizando principalmente a casca do cacau, misturada com esterco de gado, rocha de Ipirá ou rocha fosfatada. Um dos produtores espalhou o casqueiro e o cobriu com folhas para que ele apodrecesse e enriquecesse a terra no mesmo local onde foi colhido sem gastos adicionais com transporte. Com a utilização das cascas de cacau os agricultores diminuíram as fontes de inóculos de varias doenças humanas e do cacau (Figura 54). Figura 54 - Casca de cacau ensacada para ser misturada com esterco de gado e pó de rocha. Figura 55 – Número de fazendas do grupo B que utilizam - queimadas, cobertura morta e rotação de cultivos. 95 As queimadas foram realizadas em apenas 1 das 4 propriedades convencionais (Figura 55), sendo o produtor que ainda utilizava a pratica, o único do grupo que trabalhava com cultivos de ciclo anual (banana e mamão), porém as queimadas esporádicas que ele utilizava, significava a perda da fertilidade do solo por vários anos já que a matéria orgânica era toda queimada como mostra a Figura 56. Figura 56 – Solo queimado sem cobertura morta em fazenda do grupo B. Entre os agricultores orgânicos desse grupo 3 dos 4 já não queimavam mais para plantar e o produtor que utilizava a pratica, só queimava quando estava preparando a terra para plantios perenes depois da destoca, no entanto essa única queimada já era suficiente para expor o solo a insolação excessiva e comprometer por muito tempo a fertilidade do solo (Figura 57). 96 Figura 57 - Solo depois de uma queimada com pouca cobertura morta e matéria Orgânica em fazenda orgânica do grupo B. A cobertura morta foi pouco utilizada entre os produtores convencionais (apenas 1) (Figura 56), o que provocou a perda da camada protetora do solo, com a exposição direta do solo aos raios solares, provocando o ressecamento e a erosão da camada superior e mais fértil do mesmo. Todos os produtores orgânicos desse grupo utilizaram essa prática de conservação do solo recomendada pela FAO, buscando proteger o solo da insolação, preservar a biovida, fertilizar a terra, e proteger o solo da insolação, o que ocasionou um grande aporte de matéria orgânica, proporcionando uma maior preservação da umidade nos locais que possuíam cobertura morta mesmo nos períodos mais ensolarado. Nos locais onde a cobertura morta estava mais espessa as plantas invasoras demoraram mais de sair como pode ser observado na (Figura 58). 97 Figura 58 - Cultivo de cacau e banana com cobertura morta em fazenda orgânica do grupo B. A rotação de cultivos foi utilizada apenas pelos produtores orgânicos nos cultivos temporários: banana, aipim, etc. Todas as fazendas desse grupo possuíam pulverizadores costais manuais e motorizados, sendo que 50% das propriedades também possuíam motosserra. A fazenda convencional que tinha na pecuária leiteira sua principal atividade possuía equipamentos como: resfriador de leite e ordenhadeira mecânica, no entanto as ferramentas que predominaram nas fazendas desse grupo B foram o facão e o podão. Essas verificações demonstraram o baixo nível de tecnificação das fazendas, onde predominam ferramentas tradicionais como a enxada, o facão e o podão. 98 5.2.4 Diversificação de Cultivos nas fazendas do grupo B Os produtores orgânicos diversificaram (11 produtos) mais que os produtores convencionais (5 produtos) (Figura 4), principalmente utilizando consórcios, onde numa mesma área se cultivam dois ou mais produtos, gerando mais rendimentos na mesma área. Quadro 4 – Produtos cultivados nos dois sistemas do grupo B CONVENCIONAIS ORGÂNICOS Cacau, Pupunha Cacau, Cupuaçu, Pupunha, Açaí, Cultivos RPPN (turismo), perenes Coco e Piaçava Cultivos anuais Mamão e Banana da terra, Horta e Banana Banana da terra da prata Gado bovino Gado bovino Criação de animais Dentre todos os grupos pesquisados os convencionais desse estrato foi o que menos diversificou cultivos apenas 5, sendo que o cacau estava presente em todas as fazendas desse grupo, demonstrando a importância desse cultivo para esses produtores. O gado foi criado em 3 das 4 propriedades, pupunha, banana da terra e mamão estavam em apenas 1 (Figura 59). 99 Figura 59 - Número de cultivos nas propriedades convencionais do grupo B. Tabela 7 – Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo B. Produto Renda geral média por agricultor Cacau 11.168,00 Pupunha 5.618.75 Gado 9.765,00 Banana terra 1.112,50 Mamão 450,00 Total 28.114,25 O cacau além de ser cultivado em todas as fazendas convencionais desse grupo, foi o principal gerador de renda desses agricultores – 39,72% (Figura 60), com uma produção de 850 arrobas, em 83 hectares, perfazendo R$ 11.168,00, com uma produtividade média de 10 arrobas de cacau por hectare, o que se caracterizou como uma baixa produtividade. Figura 60 - Percentual da renda dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo - B. 100 Já nas fazendas orgânicas do grupo B, além do sistema cabruca onde o cacau foi plantado embaixo da mata em todas as fazendas, vários consórcios e sistemas agroflorestais (Figura 61) foram implantados, com seringueiras, glilicídia, pupunha, açaí, cupuaçu, coco, flores tropicais, banana prata e banana terra. Figura 61 - Consórcio de açaí, glilicídia,banana, cacau e flores tropicais em fazenda orgânica do grupo B. Nesse grupo a diversificação de cultivos foi significativa, gerando uma variada fonte de receitas com 9 produtos gerando receitas (Figura 62). O cacau continua sendo o principal produto comercial com 48% da receita bruta, a novidade nesse grupo é o turismo ambiental gerando receitas através das visitações as RPPNs. Figura 62– Participação dos cultivos na renda bruta dos produtores orgânicos do grupo B. 101 5.2.5 Análise ambiental nas fazendas do grupo B – reserva legal, mata ciliar e RPPN Figura 63 - Percentual de fazendas do grupo B que preservaram os recursos ambientais. Dentre os produtores convencionais desse grupo nenhum preservou ou averbou a reserva legal (Figura 63), contrariando o Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15/9/65) que diz que as florestas de domínio privado podem ser exploradas, mas com a conservação de 20% da cobertura arbórea em imóveis na Mata Atlântica. Em uma propriedade não restou nenhum tipo de vegetação natural, 100% da propriedade era plantação de cacau e nas outras três existiam apenas fragmentos de capoeira como vegetação natural. Entre os orgânicos 3 produtores preservaram e averbaram (legalizaram) as reservas legais (Figura 64), facilitando a reabilitação dos processos ecológicos, conservando a biodiversidade, protegendo a fauna e a flora local, auxiliando assim os processos agroecológicos de controle de pragas e doenças nas suas lavouras por conta do equilíbrio ambiental restabelecido. 102 Figura 64 - Fotografia aérea de uma fazenda orgânica com RPPN e reserva legal averbada. As listas vermelhas são os limites da fazenda, as áreas verde mais escuro são matas ou capoeiras. Fonte: IESB Quanto a mata ciliar 3 dos 4 produtores convencionais não preservou esses importantes sistemas florestais, que além de proteger exemplares da fauna e da flora local, controlam os processos erosivos das margens evitando o assoreamento dos cursos d´água (Figura 65). Figura 65 - Ribeirão sem mata ciliar em fazenda convencional do grupo B. 103 Entre os produtores orgânicos, o nível de preservação da mata ciliar subiu para 3 das 4 fazendas (Figura 66). Figura 66 – Mata ciliar preservada no meio de uma pastagem semi-intensiva. Nenhuma propriedade convencional desse grupo tinha implantado uma RPPN (Reserva Particular do Património Natural). Já entre os orgânicos desse grupo 2 das 4 fazendas pesquisadas possuíam RPPN’s (Figura 67) que são áreas de conservação ambiental em terras privadas, reconhecidas pelo SNUC (Sistema nacional de unidades de Conservação) como uma categoria de unidade de conservação. “A RPPN é criada a partir da vontade do proprietário, que assume o compromisso de conservar a natureza, garantindo que a área seja protegida para sempre, por ser de caráter perpétuo” (Cadastro Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), 2008). 104 Figura 67 - Placa de identificação da RPPN em fazenda orgânica do grupo B. As RPPNs além de preservarem importantes remanescentes de mata Atlântica, do trabalho de educação escolar feito nas mesmas, geraram renda aos produtores através de visitações de turistas e escolares (Figura 68). Figura 68 - Trilha da RPPN com identificação das árvores em propriedade orgânica do grupo B. 105 Nessas propriedades que tem RPPN’s os percentuais de mata ultrapassaram os 20% exigidos pela lei de preservação, chegando a mais de 35% de remanescentes de matas e capoeiras protegidos. 106 5.9 Análise comparativa entre os produtores do grupo C - acima de 100 hectares Figura 69 – A pecuária bovina semi-intensiva estava em 7 das 8 propriedades do grupo C. Quadro 5 - Dados comparativos entre os produtores orgânicos e os convencionais do grupo C. Tamanho das fazendas Moradia dos proprietários Convencional Orgânica 229 hectares 147 hectares 1 dos 4 moravam na fazenda Ocupação principal dos proprietários 1 dos 4 agricultura Possuíam outra fazenda 4 não possuíam Possuíam automóvel 4 dos 4 possuíam 2 dos 4 moravam na fazenda 3 dos 4 agricultura 4 possuíam 4 dos 4 possuíam As propriedades convencionais tinham em média 229 hectares, sendo o maior grupo com a maior área dessa pesquisa e apenas 1 dos seus proprietários morava na propriedade, além de que apenas 1 tinham na agricultura sua principal atividade econômica, configurando-se no menor percentual de produtores desses últimos 2 107 quesitos em toda a pesquisa (moradia na propriedade e atividade principal). Entre esses produtores apenas 1 possuía outra fazenda todos os produtores possuíam automóvel. Quanto ao nível de escolaridade 3 dos 4 produtores concluíram o nível médio e 1 concluiu o nível superior. As fazendas orgânicas tinham em média 147 hectares e 2 dos 4 proprietários moravam na propriedade, além de que 3 dos 4 produtores tinham na agricultura sua principal atividade econômica, todos os produtores desse grupo possuíam automóvel e também possuíam outra propriedade agropecuária. Quanto ao nível de escolaridade desse grupo 2 dos 4 produtores concluíram o nível médio e 2 dos 4 concluíram o nível superior. 5.3.1 Análise econômica dos produtores do grupo C Figura 70 – Custos e receita bruta (em reais) das fazendas do grupo C. 108 Tabela 8 – Custos (em reais) dos produtores do grupo C. Insumos Convencionais 7.437,50 Orgânicos 2.687,50 Mão de obra 69.445,00 75.905,00 Total despesas 76.882,50 78.592,50 Os produtores convencionais desse grupo investiram em insumos em média R$ 7.437,50 (Tabela 8), comprando adubo químico (NPK e supersimples), calcário, herbicida, formicida, inseticida Malation, suplemento protéico para bovinos e produtos veterinários. Os produtores orgânicos investiram em média R$ 2.687,50 em insumos e compraram – adubos orgânicos rocha de Ipirá e Fosbahia, cinza de industrias, gesso, calcário, formicida orgânico Macex e produtos veterinários. Os produtores convencionais investiram em mão de obra em média R$ 69.445,00, enquanto os orgânicos investiram em média R$ 75.905,00, esses dados demonstram que aqui no Território, também, se reproduziu uma tendência universal dos maiores investimentos dos produtores convencionais em insumos, e dos produtores orgânicos em mão de obra. O Melhor rendimento dos produtores convencionais de R$ 111.397,50 (Tabela 9) se deu numa área produtiva média de 125 hectares, com uma média de R$ 889.40 por hectare cultivada, 3% a mais que os 863,40 dos produtores orgânicos desse grupo, que tiveram em média uma renda bruta de R$ 82.669,56 em 96 hectares, sendo essas médias produtivas as mais baixas entre todos os estratos pesquisados. Essas baixas médias produtivas se devem aos poucos investimentos em tratos culturais nos cultivos e também por conta da baixa diversificação de 109 cultivos, pois os produtores dependem muito do cacau e com a infestação das lavouras com a vassoura de bruxa as produções ficaram muito baixas, gerando pouca renda (Tabela 9). Tabela 9 – Renda bruta, custos e renda líquida (em reais) dos produtores orgânicos e convencionais do grupo C. Convencionais Orgânicos Renda bruta Custos 111.397,50 76.882,50 34.515,00 82.669,56 78.592,50 4.076,50 Lucro líquido 5.3.2 Comercialização e Agroindústrias nas fazendas do grupo c Não existiam agroindústria nas fazendas convencionais do grupo C. Em 1 fazenda existia uma sala de beneficiamento (limpeza, lavagem e encaixotamento) de flores tropicais (Figura 71) e outro produtor ensacava leite na garagem da propriedade. Figura 71 – Sala de beneficiamento de flores tropicais em fazenda convencional do grupo C. 110 Os produtores convencionais desse grupo faziam o beneficiamento do cacau com o mínimo de qualidade possível (pouca fermentação e secagem sem muito controle da umidade) (Figura 72), além de não separarem o cacau limpo do cacau com vassoura de bruxa, pois o valor de comercialização no mercado convencional é o mesmo para um cacau de alta ou de baixa qualidade. Figura 72 – Sistema de secagem de cacau com cocho e barcaça em propriedade agrícola do grupo C. Já nas propriedades orgânicas do grupo C, foram construídas agroindústrias para processamento de frutas em 2 das 4 fazendas, sendo que em 1 delas (Figura 73) já estava sendo produzindo - doces, polpas e geléias, agregando valor aos produtos primários. A fabrica de chocolate orgâniico (Figura 74) estava com seu galpão montado, esperando as máquinas para poder funcionar. 111 Figura 73 – Fabrica de polpas, geléias e doces. Em fazenda orgânica do grupo C. Figuras 74 – Futura fábrica de chocolate orgânico em Itabuna - Ba. Os produtores orgânicos desse grupo são os que mais investiram em tecnologia de beneficiamento do cacau, conseguindo um cacau de boa qualidade aceito por chocolateiros da Europa (Figura 75). Com esse empenho eles conseguiram um sobre-preço no produto que chegou a cerca 30% acima do preço do cacau convencional. 112 Figura 75 – Cacau orgânico selecionado sendo secado em barcaça numa fazenda do orgânica do grupo C . O cacau orgânico para alcançar o padrão de qualidade superior, precisa ser separado do cacau contaminado com a vassoura de bruxa ou outras doenças, depois o lote é quebrado todo num único dia, sendo fermentado por vários dias (6 a 7), antes de ser seco ao sol ou no secador (Figura 76), de onde sai com no máximo 8% de umidade, conseguindo assim sobre-preços significativos. Figura 76 - Secador de cacau com um bom padrão de conservação e higiene. 113 5.3.3 Técnicas agrícolas utilizadas nas fazendas do grupo C Figura 77 - Número de agricultores que utilizavam assistência técnica, faziam análise de solo, adubação e fabricam adubos nas propriedade do grupo C. Tabela 10 – Média da produtividade do cacau e adubos utilizados entre os produtores do grupo “C”. Convencionais Adubo utilizado Produtividade média do cacau por hectare NPK, supersimples, Uréia, Calcário e esterco 22 @ Orgânicos Biofertilizante, rocha de Ipirá, gesso, cinza e fosbahia 12 @ Os produtores orgânicos e convencionais desse grupo, apesar do maior porte das fazendas (acima de 100 hectares), pouco investiram em assistência técnica. Apenas 1 das fazendas orgânicos tinham assistência técnica, no entanto os 2 114 produtores desse sistema que adubavam, faziam análises de solo periodicamente e fabricavam adubos, utilizando casca de cacau e outros restos de cultura. Entre os produtores convencionais 2 dos 4 tinham assistência técnica (Figura 77), no entanto nenhum produtor desse grupo fazia análise de solo, sendo que todos aplicavam adubos químicos (NPK, supersimples (P2O5) e uréia), o que demonstrava uma aplicação de adubos sem nenhum amparo científico, que pode provocar danos a terra ou desperdício, pois o nutriente que estava sendo aplicado, poderia não ser necessário naquela cultura ou naquele lugar. Apesar da razoável produtividade de 22 arrobas de cacau por hectare no ano de 2007, 2 das 3 fazendas a partir de 2008, entraram num processo de decadência das roças, acarretando o “quase” abandono do cultivo do cacau por causa do avanço da vassoura de bruxa. Entre os agricultores orgânicos desse grupo, 2 dos 4 fabricavam adubos nas propriedades, o que diminuiu as fontes de inóculos de várias doenças ligadas a propagação de fungos (Figura 78). Figura 78 – Casqueiro pronto para ser misturado com Rocha de Ipirá para ser utilizado como adubo em fazenda orgânica. 115 Foram utilizados em 2 das 4 fazendas orgânicas desse grupo: biofertilizante, rocha de Ipirá, gesso, cinza e fosbahia, e os mesmos fazendeiros que utilizaram esses adubos, fabricaram adubos nas propriedades, utilizando principalmente casca de cacau e outros restos de cultivo misturados principalmente com rocha de Ipirá e biofertilizante. Figura 79 – Número de agricultores que faziam queimadas, utilizavam cobertura morta e rotação de cultivos nas fazendas do grupo C. . Por ser uma prática barata, 2 dos 4 produtores convencionais desse grupo (Figura 79) ainda utilizaram a rudimentar técnica da queimada como prática produtiva, o que provocou uma diminuição da quantidade de matéria orgânica e o empobrecimento da biovida do solo, como mostra a (Figura 80). Entre os produtores orgânicos desse grupo a prática das queimadas foi completamente banida, evitando assim essa ação negativa que extermina os microorganismos (biovida), queima a matéria orgânica e vários nutrientes do solo, além da emissão de gás carbônico no ar. 116 Figura 80 – Solo queimado com pouca cobertura morta em fazenda convencional do grupo C. A prática da cobertura morta não foi utilizada em 3 das 4 propriedades convencionais (Figura 81), por conta dessa falta de cobertura morta os solos apresentavam ressecamento superficial e erosão laminar. Enquanto entre os orgânicos 3 das 4 propriedades utilizavam a prática que é recomendada pela FAO como “Agricultura de conservação” por preservar a matéria orgânica no solo, protegendo da insolação, conservando a umidade, auxiliando na preservação das propriedade físico e químicas do solo, mantendo a matéria orgânica superficial e mantendo a biovida nas camadas superiores do solo (Figura 82). Figura 81 - Plantio de cacau em fazenda convencional do grupo com pouca cobertura morta. 117 Figura 82 - Plantio de cacau em sistema cabruca com cobertura morta oriunda do mato cortado e das folhas e troncos das árvores e bananeiras. Todas as fazendas convencionais desse grupo possuíam pulverizadores costais manuais e motorizados, as fazendas também possuíam motosserras e apenas 1 das 4 possuía - trator, máquinas de quebrar cacau e bomba de irrigação, demonstrando que também nesse grupo a utilização de máquinas e equipamentos foi muito pequena, com a predominância da utilização do facão e do podão. Os Pulverizadores costais manuais também foram encontrados em 3 das 4 propriedades orgânicas desse grupo, 2 das 4 fazendas possuíam trator multifuncional (Figura 83) e apenas 1 das fazendas possuíam roçadeira motorizada, o que demonstrou que as fazendas desse grupo também pouco investiram em equipamentos de tecnologia, também preferindo investir em ferramentas simples como o facão e o podão. 118 Figura 83 – Trator multifuncional com carroceria. 5.3.4 Diversificação de cultivos nas fazendas do grupo C Quadro 6 – Produtos cultivados nos dois sistemas agropecuários do grupo C. Convencionais Cultivos perenes Orgânicos Cacau, Flores tropicais Cacau, produtos Coco, piaçava agroindustriais, seringa, urucum Cultivos anuais Criação de animais Mandioca/Farinha Banana prata Gado bovino Gado bovino e suíno 119 Os produtores do grupo B dentre os estratos pesquisados foram os que menos diversificaram (Quadro 6), concentrando seus investimentos no cacau e no gado, mesmo os poucos cultivos diversificados, foram em pequenas áreas, geralmente a título de experimento, sem grande importância econômica e restrito a um ou outro produtor (Figuras 84 e 85). Figura 84 - Número de cultivos existentes em cada fazenda convencionais do grupo C. Foram encontrados 6 cultivos comerciais nas fazendas convencionais do grupo C (Figura 84), sendo que em 3 fazendas existiam plantações de cacau e atividades de pecuária bovina. Os outros cultivos existiam em apenas 1 propriedade – flores tropicais, coco, extraiam piaçava e faziam farinha de mandioca. Figura 85 - Número de cultivos existentes em cada fazenda orgânicas do grupo C. 120 O cacau foi o principal produto cultivado nas fazendas convencionais desse grupo (Tabela 11), respondendo por 56% da renda desses produtores (Figura 86), demonstrando que mesmo com o ataque da vassoura de bruxa o cultivo continua muito importante para a economia desses produtores. Tabela 11 – Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas convencionais do grupo C. Produto Renda geral média por agricultor Cacau Gado Flores tropicais Piaçava Farinha Coco Total 60.797,50 33.550,00 12.500,00 3.750,00 425,00 375,00 111.397,50 Figura 86 – Percentual do rendimento financeiro dos cultivos nas fazendas convencionais A pecuária (Figura 87) ficou em segundo lugar com 30% da renda gerada nessas fazendas convencionais, demonstrando que necessita de pesquisas e tecnologias que a torne menos impactante para o meio ambiente e mais lucrativa. Os outros cultivos representaram pequenos ganhos e foram cultivados em apenas uma fazenda. 121 Figura 87 – A pecuária semi-intensiva estava presente em 3 das 4 fazendas convencionais do grupo C. Os agricultores orgânicos desse grupo produziram 7 produtos comerciais (Quadro 6), sendo o cacau o principal produto, pois estava presente em todas as fazendas do grupo, o gado bovino foi o segundo produto, gerando receitas em 3 das 4 propriedades. Os outros produtos foram de pequena importância, pois se encontravam em apenas 1 das 4 propriedades - polpas e doces, borracha, suínos, banana e urucum. Tabela 12 - Rendimentos (em reais) dos cultivos nas fazendas orgânicas do grupo C. Produto Cacau Gado Polpas e doces Seringa Suínos Banana Urucum Total Total 272.713,90 32.064,37 18.000,00 4.500,00 2.200,00 800,00 400,00 330.678,27 Média por produtor 68.178,47 8.016,09 4.500,00 1.125,00 550,00 200,00 100,00 82.669,56 122 Entre os produtores orgânicos desse grupo foi onde o cacau teve a maior importância econômica (Tabela 12), pois mesmo com a vassoura de bruxa, foi cultivado em todas as fazendas, gerando 83% da receita econômica do grupo (Figura 88). Figura 88 – Percentual do rendimento financeiro dos cultivos nas fazendas orgânicas do grupo C. Entre os orgânicos desse grupo a pecuária também ficou em segundo lugar como produto mais importante, e foi praticada em 3 das 4 fazendas, gerando 10% da receita, as polpas e doces apesar de contribuírem com apenas 5% da renda dos produtores, devem crescer em importância nos próximos anos, pois os agricultores estavam expandindo o negócio e preparando uma nova fabrica de chocolate, os outros produtos foram insignificantes para a economia geral do grupo. 123 5.3.5 Análise ambiental nas fazendas do grupo C – reserva legal, mata ciliar e RPPN. Figura 89 – Número de fazendas do grupo C com reserva legal, mata ciliar preservada e RPPN. Nenhuma fazenda convencional desse grupo tinha reserva legal averbada, ou em processo de averbação (legalização), no geral as matas eram utilizadas como fontes de madeira para as propriedades, ou como área de pousio (descanso) a espera de novos plantios, quando então era cabrucada (para novos plantios de cacau) ou derrubadas para virar pastagem ou cultivos temporários. Nenhuma fazenda desse grupo possuía RPPN e nenhum fazendeiro desse grupo tinha a intenção de investir em turismo. Nenhuma fazenda desse grupo tinha mata ciliar preservada. As áreas de cacau ou gado iam até a beira do rio provocando o assoreamento e a erosão das margens (Figuras 90 e 91). 124 Figura 90 – Mata ciliar substituída por pastagens numa fazenda do grupo C. Figura 91 – Plantação de cacau substituindo a mata ciliar. 3 dos 4 orgânicos pesquisados estavam com suas reservas legais averbadas (Figura 92), sendo na Mata Atlântica as reservas compostas de pelo menos 20% da área total do imóvel, onde não é permitido o corte raso da vegetação “a recomposição florestal da área da Reserva Legal que por qualquer motivo, estiver sem cobertura arbórea, tornou-se obrigatória devendo ser utilizadas espécies 125 nativas em sua recomposição” (MUSETTI, 200? p. 8). Esse processo de legalização das reservas vem auxiliando na conservação e reabilitação dos processos ecológicos, sendo essas reservas locais de abrigo e proteção da flora e da fauna silvestre. 447300 448200 449100 Localização: Nelson José N W Espólio de de 71 70 Oliveira S Soriano 62 E 8365500 8365500 446400 61 BAHIA Souza 72 Itajuípe Neto 48 69 73 63 Lomanto Jr. Fazenda 60 49 Cherubim 28 47 68 37 31 64 33 Teodoro 59 50 José 8364600 38 74 32 78 58 11 10 51 45 de 05 39 08 06 16 06 14 88 Capoeira 10 95 91 Represas 01 12 50 228 75 45 270 81 90 19 18 20 17 Legenda 23 01 02 24 03 26 25 Irineu Conrado de Oliveira 41 Fazenda São José Fazenda Esperança I Fazenda Esperança II Fazenda Esperança III Reserva Legal Guimarães 22 44 52 Total 16 21 40 57 Cacau Ribeiro 14 04 77 13 15 35 75 12 09 07 36 Oliveira 83 Mata 34 65 66 Área a ca 23 8364600 67 ha Pasto Tipologias 29 46 27 56 43 53 200 30 Wilson 8363700 Rosa 8363700 Rosa 54 Ozéas m 200 Meters 0 Sistema de Coordenadas - UTM Datum - Córrego Alegre Zona - 24 S Wilson 42 Gomes Herdeiros 76 de Maria de Lourdes C O N J U N T O SÃO J O S É Proprietário: Fernando Botelho Lima Domingos Município: Zona: Área Total: Reserva Legal 270 ha 81 a 90 ca 55 ha 13 a 42ca Lomanto Júnior Serra de Isabel Simões Estado: Bahia Data: Dezembro - 2003 Produzido por: 55 Laboratório de Geoprocessamento - IESB 446400 447300 448200 449100 Figura 92 – Fazenda orgânica do grupo C com reserva legal averbada (verde), plantações de cacau (cinza) e pastos (amarelo). A mata ciliar não estava sendo preservada pelos agricultores orgânicos desse grupo (Figura 93), boa parte das áreas que margeavam os ribeirões estavam ocupadas com plantações de cacau em sistema cabruca e pastarias para criação de gado. 126 Figura 93 – Pastagem em área de preservação permanente (mata ciliar) em propriedade orgânica do grupo C. Não existiam RPPNs nas propriedades orgânicas desse grupo de agricultores, por conta da concentração de esforços dos produtores na melhoria da produtividade do cacau. 127 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A agricultura orgânica, apesar de ter sido implantada no Território do Litoral Sul da Bahia recentemente (cerca de 10 anos), não ter muitos técnicos agrícolas especializados e contar com poucas pesquisas na universidade (UESC), nas faculdades do território e nos órgãos técnicos, já conseguiu resultados econômicos semelhantes e em alguns casos superiores aos da agricultura convencional, que conta com todo um aparato de pesquisas, de técnicos especializados, de lojas de insumos e de escolas. No contexto do Território boa parte dos sistemas de cultivo de cacau (principal produto agrícola) estavam implantados em “cabrucas”, que preservavam parte significativa do estrato superior da vegetação (árvores). Verificando as questões de acordo com a legislação ambiental em vigência, a agricultura orgânica conseguiu percentuais de preservação da mata ciliar, da reserva legal e de cobertura do solo bem melhores que os da agricultura convencional, principalmente porque os orgânicos atentaram mais para a averbação da reserva legal, implantaram RPPNs, além de estabeleceram outras práticas conservacionistas do solo e da natureza, já os produtores convencionais pouco atentavam para as três atividades ligadas a preservação ambiental pesquisadas (reserva legal, mata ciliar e RPPN). 128 Os produtores orgânicos do grupo B proporcionalmente ao tamanho das suas áreas e cultivos tiveram os melhores resultados econômicos e ambientais dentre os grupos pesquisados: implantação de RPPNs, averbação da reserva legal, e a observação da maioria das práticas conservacionista pesquisadas. Os produtores convencionais como era de se esperar investiram mais em insumos agrícolas (herbicidas, adubos químicos e pesticidas), enquanto os produtores orgânicos investiram mais em mão de obra, assistência técnica e utilizaram mais recursos da propriedade ao fabricarem adubos utilizando casca de cacau e outros resíduos dos cultivos, além de utilizarem plantas e insetos no controle de pragas e doenças, demonstrando com essas práticas uma melhor utilização dos recursos disponíveis na propriedade. Os produtores orgânicos foram mais diversificadores de cultivos que os produtores convencionais, pois os primeiros buscaram uma maior estabilidade produtiva/econômica através da implantação de sistemas agroflorestais, consórcios, além da busca da agroindustrialização dos seus produtos buscando a verticalização da renda, com a fabricação de doces, polpas e chocolate. Já nas técnicas agrícolas os produtores convencionais não utilizavam a cobertura morta recomendada como agricultura de conservação pela “FAO” e alguns ainda utilizavam as queimadas, entre os orgânicos poucos queimavam para plantar e quase todos utilizavam a cobertura morta. Por todas essas considerações a agricultura orgânica nos aspectos econômicos e ambientais mostrou-se muito mais sustentável que a agricultura convencional, devendo ser estimulada, pesquisada e tratada como uma tecnologia 129 viável e acessível para todos os cultivos e tamanhos de propriedades no Território do Litoral sul da Bahia. 130 REFERÊNCIAS ALTIERE, Miguel, Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3.ed, Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. 110 p. AMBIENTE BRASIL. Parque Estadual da Serra do Condurú. 2008. Disponível em: http://www. ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html& conteudo=./snuc/ nordeste/pe/ conduru.html. Acesso em 12/07/2008. ARAUJO et al. 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