SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DO CARMO ‐ 2015 Queridos irmãos e irmãs da família dos carmelitas descalços em Portugal, venho até junto de cada um de vós, neste dia em que celebramos a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, nossa Irmã, Mãe e Protectora, com votos de saúde, alergia e paz! Ao festejarmos o dia de Maria, nossa Mãe, sentimo‐nos mais irmãos e mais família, congregados como os discípulos com Maria no Cenáculo, em oração, enquanto aguardavam a vinda do Espírito Santo. Esta festa leva‐nos a olhar para a exemplaridade e maternidade de Maria na nossa vida de carmelitas consagrados ou seculares. Já pensamos no quanto Maria, a Senhora do Sim, a Mãe e Modelo de vida dos Carmelitas, nos estimula e desafia a ser mais humanos, mais discípulos, melhores consagrados, sacerdotes e leigos carmelitas? Se A invocamos como Rainha e Formosura do Carmelo, como a Senhora do Jardim, devemo‐nos recordar que um jardim para irradiar perfume e beleza tem a montante muito trabalho realizado: cavar, semear, plantar, regar e cuidar... Para que a nossa vida de carmelitas se pareça com esta Senhora do Jardim precisamos de cultivar as virtudes, os valores humanos e evangélicos até chegarmos a encontrar em nós e à nossa volta este mesmo Jardim; por isso é que os nossos Santos insistem tanto na nossa cooperação com Deus para que Ele recrie em nós as belezas do Primeiro Jardim que Ele sonhou para nós. O Jardim de Maria fala‐nos desse espaço íntimo da vida da Virgem Maria sempre cuidado, protegido, lugar de paz, amor e comunhão, de profunda harmonia com Deus, com os outros e com todas as criaturas. Estamos em Ano de Vida Consagrada e no Ano Jubilar dos 500 anos de Santa Teresa de Jesus. Estes dois acontecimentos já nos dão muitos motivos para refrescar a nossa identidade e definirmos metas de crescimento humano e espiritual, comunitário e familiar. O Papa Francisco, com a Encíclica sobre o «cuidado da casa comum», Louvado Sejas, fala‐nos de uma ecologia integral, «que reconheça o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com o mundo que o circunda» (15), onde todas as criaturas cooperem harmoniosamente em todas as áreas: humana, social, ambiental… num respeito recíproco e total, tal como o Criador desejou no projecto‐génesis. E na parte final, convida‐nos a pedir a Maria que «nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente» (241). E realmente a Virgem Maria é mestra de contemplação, capaz de colocar em harmonia todas as coisas; ela é modelo de ecologia integral porque Mulher sempre cheia de cuidados. Esteve sempre atenta, foi sempre obediente e cumpridora da vontade do Pai e por isso gerou à sua volta relações sãs e equilibradas consigo mesma, com Jesus e José, com os primos Zacarias e Isabel, com os seus parentes e vizinhos, mas também com a sociedade de então, pois enquanto cidadã cumpriu deveres; como mulher solidária e comprometida, denunciou os «poderosos que o Senhor há‐de derrubar dos seus tronos e exaltar os humildes». Maria é a mulher integral e Mãe terna desta «casa comum» que precisamos de cuidar. Por isso nos inspira a buscar novos estilos de vida que cuidem da «casa comum» em que habitamos e que para nós carmelitas esta «casa comum» começa em primeiro lugar nas nossas comunidades, sejam religiosas ou familiares. Com os olhos postos em Maria, a Senhora do Jardim, havemos de concluir como diz a Encíclica do Papa: «O descuido no compromisso de cultivar e manter um correcto relacionamento com o próximo, relativamente a quem sou devedor da minha solicitude e custódia, destrói o relacionamento interior comigo mesmo, com os outros, com Deus e com a terra» (70). As nossas famílias e comunidades teresianas de consagrados e leigos hão‐de ser o primeiro testemunho deste novo estilo de vida mais alegre, mais simples e mais fraterno, de verdadeiro cuidado do outro, para o qual o Papa Francisco nos convida; as nossas comunidades religiosas ou familiares devem ser, antes de tudo, lugares privilegiados do cuidado do irmão: na relação com o irmão, no seu cuidado desinteressado e gratuito, encontrarei a harmonia comigo, com os outros, com Deus e com a terra, «porque é dando que se recebe». O primeiro cuidado desta “casa comum” começa na atenção ao irmão. Todos os demais cuidados nascem deste cuidado primordial. Maria foi aquela que cuidou como ninguém de Jesus: «Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido» (241). Dela aprendamos, como seus filhos, a cuidar o irmão que é o Corpo do próprio Jesus, esse Corpo que aparece aos nossos olhos muitas vezes com aspecto desagradável, com modos e formas de ver que não são os nossos, com as suas feridas e as suas doenças físicas, psíquicas ou espirituais, que nos custa muitas vezes suportar, cuidar e amar. Mas o cuidado da «casa de comum» há‐de começar precisamente aqui e não noutro lugar. Entremos dentro de nós mesmos e perguntemo‐nos: como temos cuidado daqueles que vivem connosco? Tem sido com o mesmo cuidado com que a Virgem Maria tratou o Seu Jardim, o Seu Menino e o Seu Lar de Nazaré que os temos cuidado? Que cuidados esperam de mim os que vivem comigo? Que o olhar contemplativo da Senhora do Jardim do Carmo e o Seu exemplo nos ensine e ajude a cuidarmos de nós mesmos, como «imagem e semelhança de Deus», a cuidar das coisas do Pai tal como Jesus o fez e a cuidarmos dos irmãos e de todas as criaturas para que, admirando a sua beleza, nos recordemos que eles espelham a beleza do Criador que enamorou o coração de Maria e há‐de enamorar o coração de cada carmelita. Uma Santa Festa da Nossa Mãe do Carmo para todos vós e para as vossas famílias Pe Joaquim Teixeira, prov. 
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