Teologia da Vida
Religiosa
A Estrutura Antropológica dos
Votos:
Um Voto em Três
L. . Boff.
O Problema dos votos não está
nos votos
Para muitos religiosos a vida religiosa é vista como
um fardo pesado de regras, constituições,
caminho de interiorização e tradição.
Falta um elo unificador e um motivo iluminador que
dê sentido ás regras e ás varias formas concretas
da vivencia religiosa.
A crise reside na ausência de um Absoluto na vida
que confira sentido ás mínimas ações.
Do contrário V.R. se torna
martírio e uma sucessão
ritualística de comportamentos e palavras.
Os SANTOS não se questionavam sobre
os votos, eles viviam o Evangelho.
Não entravam na V.R. com o fim de
observar os votos, mas de viver Deus em
todas as manifestações.
O único voto radical:
a consagração total a Deus.
O esforço de muitos em querer libertar os
votos de sua exigência jurídica, na realidade
liberta muito pouco se não colocar á luz o
verdadeiro sentido dos votos.
Os três votos
pobreza castidade e
obediência detalham a doação total a Deus.
Votos: uma tríplice qualificação nova da tríplice
dimensão estrutural do ser humano.
Os três votos incidem sobre as três
dimensões estruturais em que se
articula a vida humana.
É uma profunda conversão que
atinge as raízes estruturais do viver
humano, com as coisas, com o Outro e
com os outros.
O voto de pobreza
homem com as coisas.
tange a relação do
O voto de castidade
refere-se à
dimensão masculino-feminino.
O voto de obediência
homem comunidade.
toca na relação
Assim, os votos detalham o único voto de
consagração, destinando-o e concretando-o
nas três articulações fundamentais da vida.
O conteúdo essencial dos votos: o
senhorio pleno de Deus.
Se alguém se consagra a Deus é porque intenciona fazer
Deus o pólo orientador de todas as dimensões da vida.
Por isso o núcleo essencial dos votos que deve se
realizar em qualquer concretização histórica – reside em
restituir o senhorio pleno de Deus sobre todas as coisas
e deixar que ela aconteça em sua original gratuidade.
SER POBRE é vivenciar: tudo o que vem ad-vem, ter
é receber.
Tanto um rico
como um
desprovido de
bens pode ser
pobre.
•Pobreza não consiste na
busca da miséria nem no
desprezo dos bens.
• O que é pobreza e riqueza
varia de época para época.
Um índio não é considerado POBRE por não possuir nenhuma
calça, nem o religioso , professor de uma Universidade, é
considerado rico por possuir uma biblioteca, instrumento
indispensável para seu trabalho.
Assim, não é nada seguro que um
religioso desprovido de seus bens
materiais seja pobre.
Ele pode ser um asceta, mas ainda não
um pobre, porque pode ser rico em
vontade de poder, em desejos e em
desfaçatez de pedir e pedir sem outras
considerações.
Pobreza não consiste numa virtude conquistada ou num
habito adquirido de nada possuir. Ela possui uma raiz mais
profunda que faz com que tanto o rico como o desprovido
de bens materiais possam ser pobres.
Pobreza é o próprio estatuto ontológico-criacional de
todo ser humano.
•
Ser
criatura é
não ter
Pobre não é tanto aquele
que pede, mas aquele
que dá e dá sem limites
Ser pobre é compreender que tudo o que
vem, ad-vem, tudo o que tem, pro-vem.
Até a capacidade de receber é dada por
Deus.
Ser pobre é vivenciar
concretamente essa
umbilical dependência
de Deus.
A pregação da pobreza não deve indicar sobre o
ter e não ter, mas sobre a necessidade de se viver
o ser-criatura,de ser ver tudo como gratuidade e
de se despojar sempre de todo o instinto de
posse e de poder.
Só assim se cria a
possibilidade de alguém ser
realmente pobre e não apenas
um asceta a quem lhe é tirado
o direito e o poder de dispor
dos bens e que por isso pouco
ou nada possui.
A pobreza é uma
atitude tão
difícil que se
alguém diz: “sou
pobre” já não é
mais pobre.
O religioso que se
consagrou a Deus
e fez de Deus o
projeto
fundamental de
sua vida é
convocado a ver
tudo a partir de
Deus e daí
relacionar-se com
os bens de tal
maneira que eles
não sejam outra
coisa que dom
recebido e a ser
doado adiante.
Castidade: não nasce de uma ausência, mas de
uma superabundância
O celibato ou a
virgindade não é
egoísmo nem desprezo
da sexualidade.
Não é um voto de
desamor, mas da
radicalidade do amor.
A criatura amada revela
e vela o Amor absoluto
e é ponte para Ele,
onde descansa seu ser
O religioso não
renuncia a
reciprocidade
homem-mulher mas
potencializa-a de tal
maneira que nas
pessoas vê o Amor
absoluto e a partir
dele vive o
relacionamento
com os outros.
A castidade não nasce de uma ausência, mas das
exigências de uma superabundância.
Castidade não é desprezo
do matrimônio como
martírio também não
significa descaso da vida.
O matrimonio é o
caminho para novas vidas,
para o futuro e para as
promessas nova história
amanhã.
Castidade é a vivencia
da fé na vida eterna
presente, manifestada
definitivamente em
Jesus Cristo,
enchendo o futuro e
realizando as
promessas.
Obediência: só quem tem autoridade obedece
verdadeiramente
A obediência é a
forma de viver a
pobreza ao nível
das pessoas e da
organização do
poder numa
comunidade.
O cristão é um servo de todas
as coisas e a todos sujeito.
Em sua liberdade pode
acolher a vontade do outro.
O amor que Deus
suplica do ser humano
supõe a liberdade. Não
pode haver coação
sobre ele, porque sem
liberdade não pode
viver a obediência.
Obedece não porque a
lei manda, mas porque
ele assim o escolheu
Obediência não tem nada a
ver com passividade,
conformidade e
identificação cega á
vontade do outro. Mas é
um movimento da
liberdade que decide
acolher a vontade da outra
pessoa. E se decide, não
por causa de conveniências
pessoais, mas porque se
esvaziou de tal maneira,
que livremente acolhe o
designo do outro
compreendido como
mensagem de Deus.
Quanto mais
alguém vive nesta
dimensão, tanto
mais autoridade
moral
possui,porque se
alimenta não de sua
vontade e do seu
poder, mas do
mistério de Deus.
Impor ao outro seus próprios ditames ou as
determinações religiosas é exercer poder, mas não
necessariamente autoridade.
O voto de obediência não vem tirar o ser humano das
conjunturas do poder e da autoridade pois, pela
consagração lhe confere uma ótica, pela qual tenta
descobrir dentro delas a concreção da vontade de Deus.
É na mediação dos homens que o designo de Deus e as
aspirações humanas encontram sua explicitação e caminho.
Conclui-se que os votos não
trazem à essência da vida religiosa
nenhum conteúdo teológico novo.
Eles detalham a única consagração total
a Deus, pela qual o ser humano quer
deixar Deus ser o Senhor e Deus sobre
toda a sua vida em todas as suas
manifestações, especialmente sobre os
três eixos radicais sobre os quais ela
gira.
A Igreja acolhe e defende a vida
religiosa como um dom precioso de
Deus para toda a comunidade. Por isso a
fixação canonico-jurídica dos votos,
antes de ser empecilho ás novas formas
de vida religiosa, quer ser seu amparo.
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