UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Estudo da influência do biodiesel de mamona como aditivo antioxidante para o biodiesel de girassol e soja Hellyda Katharine Tomaz de Andrade Silva ________________________________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, março de 2011 Hellyda Katharine Tomaz de Andrade Silva ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO BIODIESEL DE MAMONA COMO ADITIVO ANTIOXIDANTE PARA O BIODIESEL DE GIRASSOL E SOJA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Química. Orientador: Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior NATAL/ RN 2011 UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte Silva, Hellyda Katharine Tomaz de Andrade. Estudo da influência do biodiesel de mamona como aditivo antioxidante para o biodiesel de girassol e soja. – Natal, RN, 2014. 180f. : il. Orientador: Prof. Dr. Valter José Fernandes Júnior. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de PósGraduação em Química. 1. Biodiesel – Dissertação. 2. Transesterificação – Dissertação. 3. Estabilidade oxidativa – Dissertação. 4. P-DSC – Dissertação. 5. Rancimat – Dissertação. I. Fernandes Júnior, Valter José. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título RN/UF/BCZM CDU 662.756 DEDICATÓRIA A meu querido e bondoso Deus A minha mãe Cleilda que através do seu sacrifício, propiciou-me a oportunidade de estudar e pelo seu exemplo, chegar onde estou. AGRADECIMENTOS “A gratidão é um dos sentimentos, a qual denota a essência do homem. É por intermédio deste, que o aprendizado da nossa não auto-suficiência aflora e a aceitação de que sempre necessitaremos do próximo, se dá humildemente...” Munida por este sentimento e de forma singela, almejo externar minha mais terna e sincera gratidão a todos que contribuíram para a concretização deste trabalho. A Deus, responsável por esta “fotólise”. A Ti Senhor, pela orientação oriunda da Tua luz. Bondade, misericórdia, amor e conforto, estiveram presentes como acalanto nas dificuldades e fustigações da árdua batalha, encorajando-me até o fim. A toda minha família, em especial a minha mãe, Maria Cleilda, que é e sempre será exemplo e por ter me conduzido à maior de todas as lições que é dispor de caráter, dignidade e respeito ao próximo, elementos que são fontes de inspiração e aprendizagem na minha formação. Ao professor Dr. Valter José Fernandes Júnior, pela orientação, oportunidade, compreensão, paciência e valioso aprendizado. Ao Prof. Dr. Antonio Souza de Araújo pelas contribuições e pelo apoio. Ao Coordenador do PRH-22, Senhor Prof. Cordeiro que juntamente com os Senhores Carlos Alberto Poletto e José Marcos Leite Pacheco (PETROBRAS), gentilmente me ajudaram em algumas indagações para enriquecimento deste trabalho. Aos queridos colegas da ICR3 Científica, Jeferson Benvindo e Sander Lima pelas dúvidas elucidadas quanto à metodologia dos equipamentos. A Fátima Dutra e a todos do Laboratório de Cromatografia (CENPES – PETROBRAS), pela amizade e pelos riquíssimos ensinamentos nas análises de biodiesel por cromatografia a gás, bem como pela oportunidade. As queridas amigas Dra. Amanda Gondim, pela relevante e incomensurável contribuição, amizade e apoio, MSc. Edjane Buriti pela colaboração na realização das análises termogravimétricas, Fabíola Correia por todo apoio desde o início e por ter sido meu braço direito na execução dos experimentos e ao amigo Tarcísio Amaro pelo auxílio no processo de purificação do biodiesel. Aos colegas do Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes pela amizade e auxílio: André, Camila, Cedrick, Giovanna, Lívia, Luan, Mariana, Nadjane, Rafaela, Sabrina, Telma e Regina. Aos meus queridos amigos, Ana Cláudia, Emerson Faião, José Antônio, Filipe Alves e Stevie Hallen pelo companheirismo, amizade e auxílio na realização deste trabalho. Aos colegas do Laboratório de Catálise e Petroquímica: Aline Araújo, Ana Adalgisa, Anne Gabriela, Geraldo Eduardo, João Paulo, Késia Kelly, Luzia Patrícia, Larissa Luz, Maria Costa (Dedéia), Marcela Barbosa, Marcílio Pelicano, Regineide Lima, Ricardo Miguel, Thiago Chellappa e Vinícius Caldeira. A todas as minhas amadas irmãs da Residência Universitária Praça Cívica, que na ausência do meu lar, foram a minha família. Aos meus queridos “pais adotados” Dr. Ricardo Craciun e MSc. Marciano Furukava pelas palavras de incentivo e carinho. A todos os professores da graduação pela valiosa contribuição não apenas na minha formação acadêmica, mas também pela agregação de valores, em especial ao Dr. Filipe Martel, Dr. Franklin Nelson da Cruz, MSc. Luiz Seixas das Neves, Dr. Marconi Floripe Ginani e Dr. Ótom Anselmo. A minha querida “mammy” Dona Irany, por todo o amor e cuidado desde a minha iniciação científica e ao Seu Antônio Murilo (secretário do PRH – 30) pelo incansável esforço quanto às tentativas de fomentar a divulgação deste trabalho. Ao Programa de Pós-Graduação em Química pela oportunidade, em especial aos funcionários Ana Alice e Severino Higino. As bancas examinadoras pela relevante contribuição na revisão e, por conseguinte aperfeiçoamento deste trabalho. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis por fomentar este estudo. Não poderia, EM HIPÓTESE ALGUMA, finalizar essa nota de agradecimento sem mencionar duas pessoas indescritíveis, que se não fosse o incomensurável apoio, contribuição e amizade que a mim foi dedicado, vencer a “energia de ativação” para este processo, teria sido muito mais difícil. É muito bom saber que temos seres humanos tão especiais, que nos estendem a mão quando mais necessitamos. A vocês Profa. Dra. Tatiana de Campos Bicudo e MSc. Mariana Santana a minha mais terna gratidão e amizade. MUITO OBRIGADA vocês foram os meus catalisadores !!! Alegrei-me sobremaneira no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; “Tudo posso Naquele que me fortalece”. Epístola do Apóstolo Paulo aos Filipenses 4:10-13 RESUMO Biodiesel é um combustível constituído por mono-alquil-ésteres de ácidos graxos de cadeias longas, derivado de óleos vegetais ou gordura animal. Este combustível pode ser utilizado em motores de ignição por compressão para a propulsão de veículos automóveis ou geração de energia, como um substituto parcial ou total de diesel fóssil combustível. O biodiesel pode ser processado a partir de diferentes mecanismos. A transesterificação é o processo mais comum para obtenção do biodiesel, em que um éster reage com um álcool para formar outro éster e um novo álcool. Essas reações são normalmente catalisadas pela adição de um ácido ou uma base. Inicialmente, foram determinadas as propriedades físico-químicas dos óleos de girassol, mamona e soja de acordo com as especificações de metodologias de teste padronizadas, com o intuito de avaliar se os mesmos possuíam condições favoráveis para serem utilizados como matéria-prima na reação de transesterificação. O biodiesel desses óleos foi obtido através da reação de transesterificação pela rota metílica, fazendo uso de KOH no preparo do catalisador (metóxido de potássio). O rendimento das reações de transesterificação foi acima de 93% m/m. Os biocombustíveis e as blends foram caracterizados pelos índices de acidez e iodo, ponto de fulgor, pela massa específica, pelos teores de enxofre, metanol e ésteres. As estabilidades térmica e oxidativa foram avaliadas através da Termogravimetria (TG), da Calorimetria Exploratória Diferencial sob Pressão (P-DSC) pelos métodos dinâmico e isotérmico, e do Rancimat. As amostras de biodiesel de girassol e soja apresentaram conformidade com as especificações estabelecidas pela Resolução ANP no 7/2008. O biodiesel de mamona, como esperado, apresentou elevadas massa específica e viscosidade cinemática. A adição do biodiesel de mamona como antioxidante ao biodiesel de girassol e de soja é promissora, pois promoveu uma melhora significativa na resistência à auto-oxidação e, por conseguinte, na estabilidade oxidativa de ambos. Para as blends estudadas, o aumento da concentração de biodiesel de mamona contribuiu para um aumento da massa específica, viscosidade cinemática e ponto de fulgor. As blends que apresentaram conformidade às exigências da ANP foram àquelas compreendidas na faixa de 20-40% de biodiesel de mamona adicionado, o que as tornam candidatas à substituta do diesel fóssil. Palavras-Chaves: Biodiesel. Transesterificação. Estabilidade Oxidativa. P-DSC. Rancimat. ABSTRACT Biodiesel is a fuel made up by mono-alkyl-esters of long chain fatty acids, derived from vegetable oils or animal fat. This fuel can be used in compression ignition engines for automotive propulsion or energy generation, as a partial or total substitute of fossil diesel fuel. Biodiesel can be processed from different mechanisms. Transesterification is the most common process for obtaining biodiesel, in which an ester compound reacts with an alcohol to form a new ester and a new alcohol. These reactions are normally catalyzed by the addition of an acid or a base. Initially sunflower, castor and soybean oil physicochemical properties are determined according to standard test methods, to evaluate if they had favorable conditions for use as raw material in the transesterification reaction. Sunflower, castor and soybean biodiesel were obtained by the methylic transesterification route in the presence of KOH and presented a yield above 93% m/m. The sunflower/castor and soybean/castor blends were studied with the aim of evaluating the thermal and oxidative stability of the biofuels. The biodiesel and blends were characterized by acid value, iodine value, density, flash point, sulfur content, and content of methanol and esters by gas chromatography (GC). Also studies of thermal and oxidative stability by Thermogravimetry (TG), Differential Scanning Calorimetry High Pressure (P-DSC) and dynamic method exothermic and Rancimat were carried out. Biodiesel sunflower and soybean are presented according to the specifications established by the Resolution ANP no 7/2008. Biodiesel from castor oil, as expected, showed a high density and kinematic viscosity. For the blends studied, the concentration of castor biodiesel to increased the density, kinematic viscosity and flash point. The addition of castor biodiesel as antioxidant in sunflower and soybean biodiesels is promising, for a significant improvement in resistance to autoxidation and therefore on its oxidative stability. The blends showed that compliance with the requirements of the ANP have been included in the range of 20-40%. This form may be used as a partial substitute of fossil diesel. Keywords: Biodiesel. Transesterification. Oxidative stability. P-DSC. Rancimat. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Evolução dos biocombustíveis no Brasil.................................................. 25 Figura 2 - Potencialidade brasileira para produção de oleaginosas........................... 28 Figura 3 - Representação do arranjo molecular dos triglicerídeos em moléculas de gordura e óleo............................................................................................................. 32 Figura 4 - Plantação de girassóis em Fargo, Dakota do Norte nos Estados Unidos e sementes de girassol................................................................................................. 33 Figura 5 - Fases de desenvolvimento do girassol, com as respectivas exigências térmicas e hídricas...................................................................................................... 35 Figura 6 - Cacho de mamona e endosperma da semente da mamoneira................... 38 Figura 7 - Esquema ilustrativo da organografia da mamoneira................................. 39 Figura 8 - Estrutura molecular do ácido ricinoléico de estrutura linear e com a formação das pontes de hidrogênio intramoleculares................................................. 41 Figura 9 - Plantação de soja transgênica na cidade de Ronda Alta, Rio Grande do Sul e grãos de soja...................................................................................................... 43 Figura 10 - Mecanismo da transesterificação de óleos vegetais catalisada por base. 51 Figura 11 - Reações envolvidas na transesterificação de triglicerídeos.................... 52 Figura 12 - Perfil cinético da reação de transesterificação........................................ 53 Figura 13 - Esquema da reação iodométrica do ácido oléico, mostrando a clivagem da ligação e a titulação do iodo em excesso............................................ 60 Figura 14 - Reações químicas representativas para a adição dos reagentes de Wijs (ICl) e de Hanus (IBr) para formação de I2................................................................ 60 Figura 15 - Viscosímetro de Ostwald........................................................................ 64 Figura 16 - Mecanismo simplificado da autoxidação inicial de um lipídeo.............. 67 Figura 17 - Esquema geral de mecanismo de oxidação lipídica. RH – ácidos graxos insaturados; R• - radical livre; ROO• - radical peróxido, e ROOH – hidroperóxido.............................................................................................................. 69 Figura 18 - Estrutura para o ácido linolênico (C18:3) e seu isômero com arranjo de insaturações conjugadas......................................................................................... 71 Figura 19 - Esquema representativo da suscetibilidade dos hidrogênios para uma porção do ácido linolênico (C18:3) como substrato e sua probabilidade de ocorrência................................................................................................................... 72 Figura 20 - Mecanismo de atuação dos antioxidantes primários, onde ROO• e R• radicais livres, AH – antioxidante com um hidrogênio ativo e A• - radical inerte..... 73 Figura 21 - Esquema representativo para determinação do período de indução....... 77 Figura 22 - Modo de funcionamento do backflush (válvula de fluxo reverso) e do injetor split/splitless.................................................................................................... 80 Figura 23 - Curva típica para obtenção do OIT......................................................... 84 Figura 24 - Ensaio de estabilidade à oxidação ilustrando a determinação do período de indução...................................................................................................... 86 Figura 25 - Curva típica do ensaio de estabilidade oxidativa proposto pela norma EN14112..................................................................................................................... 87 Figura 26 - Reação de transesterificação do óleo de girassol e reação do metóxido de potássio com o óleo de girassol no reator EUROSTAR........................ 89 Figura 27 - Processo de separação do biodiesel de girassol no reator e por gravimetria.................................................................................................................. 90 Figura 28 - Processo de lavagem do biodiesel metílico e biodiesel após o processo de purificação.............................................................................................................. 91 Figura 29 - Reação de transesterificação do óleo de mamona e processo de separação entre o biodiesel de mamona e a glicerina................................................. 92 Figura 30 - Container de aço-inox utilizado para armazenagem das amostras......... 92 Figura 31 - Fluxograma geral da produção de biodiesel........................................ 93 Figura 32 - Titulador potenciométrico automático de bancada modelo AT-500N da marca KEM............................................................................................................ 96 Figura 33 - Densímetro digital de bancada DE-40.................................................... 100 Figura 34 - Equipamento HFP 380 Pensky Martens utilizado para a determinação do ponto de fulgor....................................................................................................... 102 Figura 35 - Tampa do aparelho de ponto de fulgor................................................... 103 Figura 36 - Analisador de enxofre TS 3000 da Thermo Scientific............................ 105 Figura 37 - Viscosímetro cinemático TVB445.......................................................... 107 Figura 38 - Equipamento de cromatografia a gás utilizado para determinação do teor de metanol e etanol em biodiesel......................................................................... 109 Figura 39 - Analisador da estabilidade oxidativa de biodiesel, óleos e gorduras, modelo 843 Biodiesel Rancimat da Metrohm............................................................ 114 Figura 40 - Cromatograma da determinação de metanol e etanol do biodiesel de girassol........................................................................................................................ 123 Figura 41 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de girassol.................................................................................................... 126 Figura 42 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de mamona.................................................................................................. 126 Figura 43 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de soja.......................................................................................................... 127 Figura 44 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre a massa específica do biodiesel de girassol e do biodiesel de soja................................................................ 130 Figura 45 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre a viscosidade cinemática do biodiesel de girassol e do biodiesel de soja......................................... 132 Figura 46 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre o ponto de fulgor do biodiesel de girassol e do biodiesel de soja.................................................................. 133 Figura 47 - Curvas TG/DTG do óleo de girassol, óleo de mamona e óleo de soja... 136 Figura 48 - Sobreposição das curvas TG do óleo de girassol e do seu respectivo biodiesel...................................................................................................................... 141 Figura 49 - Sobreposição das curvas TG do óleo de mamona e do seu respectivo biodiesel...................................................................................................................... 141 Figura 50 - Sobreposição das curvas TG do óleo de soja e do seu respectivo biodiesel...................................................................................................................... 142 Figura 51 - Sobreposições das curvas TG do biodiesel de girassol, mamona e soja. 143 Figura 52 - Sobreposições das curvas DTG do biodiesel de girassol, mamona e soja.............................................................................................................................. 143 Figura 53 - Sobreposições das curvas TG das blends composta por biodiesel de girassol e mamona (G/M) nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80%................................ 145 Figura 54 - Curvas DTG sobrepostas das blends de biodiesel de girassol e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80%........................................................... 146 Figura 55 - Sobreposições das curvas TG das blends composta por biodiesel de soja e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80%................................................. 147 Figura 56 - Sobreposições das curvas DTG das blends composta por biodiesel de soja e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80%................................................. 148 Figura 57 - Curvas de P-DSC dinâmica sobrepostas do biodiesel de girassol, mamona e soja............................................................................................................ 150 Figura 58 - Curvas de P-DSC dinâmica sobrepostas das blends de girassol e mamona....................................................................................................................... 151 Figura 59 - Sobreposição das curvas de P-DSC das blends de soja e mamona......... 153 Figura 60 - Sobreposições das curvas de P-DSC modo isotérmico para os biocombustíveis de girassol, mamona e soja.............................................................. 154 Figura 61 - Sobreposição das curvas de P-DSC do modo isotérmico das blends de girassol e mamona...................................................................................................... 156 Figura 62 - Sobreposição das curvas de P-DSC, método isotérmico das blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%............................................................................. 157 Figura 63 - Sobreposição das curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) dos óleos de girassol, mamona e soja......................................................................... 159 Figura 64 - Sobreposição das curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) dos biocombustíveis de girassol, mamona e soja a 110 °C........................................ 160 Figura 65 - Curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) sobreposta do biodiesel de girassol, mamona e soja a 110 °C........................................................... 162 Figura 66 - Curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) sobreposta do biodiesel de girassol, mamona e soja a 110 °C........................................................... 163 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Composição aproximada dos ácidos graxos em alguns óleos e gorduras comuns........................................................................................................................ 30 Tabela 2 - Ácidos graxos de ocorrência natural com seus respectivos pontos de fusão............................................................................................................................ 31 Tabela 3 - Características físico-químicas do óleo de girassol.................................. 37 Tabela 4 - Características físico-químicas do óleo de mamona................................. 42 Tabela 5 - Características físico-químicas do óleo de soja........................................ 45 Tabela 6 - Composição média de ácidos graxos (%) dos óleos de girassol, mamona e soja............................................................................................................ 45 Tabela 7 - Tamanho da alíquota a ser analisada conforme acidez da amostra de acordo com a NBR 14448........................................................................................... 97 Tabela 8 - Tamanho da alíquota a ser analisada conforme teor de enxofre da amostra, de acordo com a NBR 5353......................................................................... 106 Tabela 9 - Condições de análise para determinação do teor de enxofre total pela ASTM D6751............................................................................................................. 106 Tabela 10 - Condições de análise de acordo com a NBR 15343............................... 110 Tabela 11 - Condições de programação de temperatura do forno para análise de teor de ésteres............................................................................................................. 112 Tabela 12 - Composição e percentuais relativo do padrão F.A.M.E mix (C8:0 C24:1)......................................................................................................................... 112 Tabela 13 - Características físico-químicas dos óleos de girassol, mamona e soja... 117 Tabela 14 - Rendimento das reações de transesterificação das amostras de biodiesel...................................................................................................................... 119 Tabela 15 - Características físico-químicas do biodiesel de girassol, mamona e soja obtidos pela rota metílica.................................................................................... 120 Tabela 16 - Dados obtidos na determinação de metanol e etanol do biodiesel de girassol, mamona e soja por cromatografia a gás....................................................... 124 Tabela 17 - Determinação e quantificação do total de ésteres do biodiesel de girassol, mamona e soja por cromatografia a gás....................................................... 128 Tabela 18 - Dados termogravimétricos do óleo de girassol, mamona e soja............. 139 Tabela 19 - Dados termogravimétricos do biodiesel de girassol, mamona e soja..... 144 Tabela 20 - Dados termogravimétricos das blends girassol/mamona na razão de aquecimento 10 ºC.min-1............................................................................................. 147 Tabela 21 - Dados termogravimétricos das blends soja/mamona na razão de aquecimento 10 ºC.min-1............................................................................................. 149 Tabela 22 - Dados das temperaturas onset (OT) e de pico (Tp) obtidas por P-DSC através do método dinâmico para os biocombustíveis de girassol, mamona e soja... 150 Tabela 23 - Dados da temperatura onset (OT) obtidos por P-DSC através do método dinâmico para as blends de girassol/mamona................................................ 152 Tabela 24 - Dados das temperaturas onset (OT) obtidos por P-DSC através do método dinâmico para as blends de soja/mamona...................................................... 153 Tabela 25 - Dados dos tempos de indução oxidativa (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico do biodiesel de girassol, mamona e soja........................ 155 Tabela 26 - Dados dos tempos de indução oxidativa (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico para as blends girassol/mamona..................................... 156 Tabela 27 - Dados do tempo de indução oxidativo (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico para o biodiesel de girassol, mamona e soja................... 158 Tabela 28 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para os óleos de girassol, mamona e soja................................................................................ 159 Tabela 29 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para o biodiesel de girassol, mamona e soja.......................................................................... 161 Tabela 30 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para as blends girassol/mamona.............................................................................................. 162 Tabela 31 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para as blends soja/mamona.................................................................................................... 164 LISTA DE ABREVIATURAS ABIOVE - Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas AGL - Ácidos Graxos Livres AH - Antioxidante ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis AOCS - American Oil Chemist’s Society AOM - Active Oxygen Method ASTM - American Society of Testing and Materials BLEND G/M - Mistura de biodiesel de girassol e mamona BLEND S/M – Mistura de biodiesel de soja e mamona B100 – Biodiesel puro BHA - Buthylated Hydroxy Anisole BS EM - British Standart CG - Cromatografia a Gás CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento DMA - Análise Mecânica Dinâmica DSC - Calorimetria Exploratória Diferencial DTA - Análise Térmica Diferencial DTG - Termogravimetria Derivada FAME - Fatty Acid Methyl Esters FID - Flame Ionization Detector IA - Índice de Acidez ICOA - International Castor Oil Association ICTAC - International Confederation for Thermal Analysis and Calorimetry II - Índice de Iodo LII - Límpido e Isento de Impurezas ND - Não Detectado NI - Não Identificado IP - Induction Period OIT - Tempo de Indução Oxidativo OSI - Oxidative Stability Index OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo PE - Ponto de Ebulição PF - Ponto de Fusão PNDB - Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel PDSC - Calorimetria Exploratória Diferencial a Alta Pressão PTV - Programmed Temperature Vaporization PV - Value Peroxid RANP - Resolução da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis RDC - Resolução da Diretoria Colegiada SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TG - Termogravimetria TMA - Análise Térmica Mecânica TMDSC - Calorimetria Exploratória Diferencial com Temperatura Modulada USDA - United States Department of Agriculture UV - Ultra-violeta SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 20 2 OBJETIVOS...................................................................................................... 23 2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 23 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 23 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................... 24 3.1 ATUAL SITUAÇÃO ENERGÉTICA............................................................. 24 3.2 ENERGIAS RENOVÁVEIS........................................................................... 26 3.2.1 Óleos e gorduras......................................................................................... 29 3.2.1.1 Girassol...................................................................................................... 33 3.2.1.1.1 Características do óleo de girassol....................................................... 36 3.2.1.2 Mamona..................................................................................................... 37 3.2.1.2.1 Características do óleo de mamona..................................................... 40 3.2.1.3 Soja............................................................................................................. 42 3.2.1.3.1 Características do óleo de soja............................................................. 44 3.3 ÓLEOS VEGETAIS COMO ALTERNATIVA DE COMBUSTÍVEIS ........ 46 3.4 BIODIESEL..................................................................................................... 47 3.4.1 Processo de obtenção de biodiesel............................................................. 48 3.4.1.1 Reação de transesterificação....................................................................., 50 3.4.2 Biodiesel de girassol.................................................................................... 53 3.4.3 Biodiesel de mamona.................................................................................. 54 3.4.4 Biodiesel de soja.......................................................................................... 55 3.5 ESPECIFICAÇÕES DO BIODIESEL............................................................. 57 3.5.1 Índice de acidez........................................................................................... 57 3.5.2 Índice de iodo............................................................................................... 59 3.5.3 Massa específica ......................................................................................... 61 3.5.4 Viscosidade cinemática............................................................................... 62 3.5.5 Ponto de fulgor............................................................................................ 64 3.6 ESTABILIDADE DE ARMAZENAMENTO................................................. 65 3.6.1 Reação de oxidação..................................................................................... 68 3.6.1.1 Antioxidantes............................................................................................. 73 3.7 METODOLOGIAS PARA TESTE DE ESTABILIDADE ............................ 74 3.7.1 Teste de forno Schaal.................................................................................. 75 3.7.2 Método do oxigênio ativo............................................................................ 75 3.7.3 Índice de estabilidade oxidativa................................................................. 76 3.7.4 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão............................... 77 3.8 CROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA.................................................... 78 3.8.1 Técnicas de injeção...................................................................................... 78 3.9 ANÁLISE TÉRMICA...................................................................................... 81 3.9.1 Termogravimetria (TG)............................................................................. 82 3.9.2 Termogravimetria derivada (DTG).......................................................... 83 3.9.3 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão............................... 83 3.10 RANCIMAT.................................................................................................. 85 4 METODOLOGIA............................................................................................. 88 4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ÓLEOS VEGETAIS.......................................... 88 4.2 OBTENÇÃO DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA.......... 88 4.2.1 Biodiesel a partir dos óleos de girassol e soja........................................... 89 4.2.2 Biodiesel a partir do óleo de mamona....................................................... 91 4.2.3 Fluxograma da produção de biodiesel...................................................... 93 4.3 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA..................................................... 94 4.3.1 Ácidos graxos livres.................................................................................... 94 4.3.2 Índice de acidez........................................................................................... 95 4.3.2.1 Óleos vegetais............................................................................................ 95 4.3.2.2 Biocombustíveis e blends........................................................................... 96 4.3.3 Índice de iodo............................................................................................... 98 4.3.4 Massa específica a 20 °C............................................................................. 100 4.3.5 Ponto de fulgor............................................................................................ 101 4.3.6 Teor de enxofre total por fluorescência ultravioleta................................ 104 4.3.7 Viscosidade cinemática a 40 ºC.................................................................. 107 4.4 CROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA.................................................... 108 4.4.1 Determinação de metanol e etanol em biodiesel....................................... 108 4.4.2 Teor de ésteres............................................................................................. 111 4.5 ESTUDO DA ESTABILIDADE TÉRMICA E OXIDATIVA DOS ÓLEOS VEGETAIS, BIOCOMBUSTÍVEIS E SUAS RESPECTIVAS BLENDS................................................................................................................ 113 4.5.1 Termogravimetria (TG/DTG).................................................................... 113 4.5.2 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (P-DSC)............... 113 4.5.3 Estabilidade oxidativa a 110 °C pelo método Rancimat.......................... 114 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 116 5.1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS ÓLEOS DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA............................................................................................... 116 5.2 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA............................................. 119 5.3 CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA POR CROMATOGRAFIA À GÁS............................................................. 123 5.3.1 Determinação do metanol e etanol no biodiesel de girassol, mamona e soja......................................................................................................................... 123 5.3.2 Determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de girassol, mamona e soja...................................................................................................... 125 5.4 EFEITO DA ADIÇÃO DO BIODIESEL DE MAMONA SOBRE O BIODIESEL DE GIRASSOL E SOJA NAS PROPORÇÕES 20, 40, 50, 60 E 80% ....................................................................................................................... 129 5.4.1 Massa específica.......................................................................................... 130 5.4.1.1 Blends girassol/ mamona e soja/mamona.................................................. 130 5.4.2 Viscosidade cinemática............................................................................... 131 5.4.2.1 Blends girassol/mamona e soja/mamona................................................... 131 5.5 ESTUDO DA ESTABILIDADE TÉRMICA E OXIDATIVA....................... 134 5.5.1 Análise termogravimétrica (TG/DTG)...................................................... 135 5.5.1.1 Óleo de girassol, mamona e soja................................................................ 135 5.5.1.2 Biodiesel de girassol, mamona e soja........................................................ 140 5.5.1.3 Blends......................................................................................................... 145 5.5.1.3.1 Blends girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%.................................... 145 5.5.1.3.2 Blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%.......................................... 147 5.5.2 Análise por calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (PDSC)...................................................................................................................... 149 5.5.2.1 Método dinâmico...................................................................................... 149 5.5.2.1.1 Biodiesel de girassol, mamona e soja................................................... 149 5.5.2.1.2 Blends de girassol/ mamona 20, 40, 50, 60 e 80%.............................. 151 5.5.2.1.3 Blends de soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%..................................... 152 5.5.2.2 Método isotérmico..................................................................................... 154 5.5.2.2.1 Biodiesel de girassol, mamona e soja................................................... 154 5.5.2.2.2 Blends de girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%............................... 155 5.5.2.2.3 Blends de soja/mamona 20, 40, 50,60 e 80%...................................... 157 5.5.3 Rancimat...................................................................................................... 158 5.5.3.1 Óleo de girassol, mamona e soja................................................................ 158 5.5.3.2 Biodiesel de girassol, mamona e soja........................................................ 160 5.5.3.3 Blends girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%.......................................... 161 5.5.3.4 Blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%................................................ 163 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 165 7 BIBLIOGRAFIA............................................................................................... 169 Capítulo 1 - Introdução 20 1 INTRODUÇÃO A preocupação, bem como a discussão e a busca por combustíveis ambientalmente corretos, tem nos últimos anos aguçado a comunidade científica. Busca esta, bem antecedente às etapas de escassez que sumarizaram na crise mundial do petróleo. Essa preocupação reside no fato, de que os combustíveis que suprem a grande demanda energética serem oriundos principalmente de fontes não-renováveis de energia, acentuando ao fato de serem nocivos ao meio ambiente e, por conseguinte poluidores em potencial (KNOTHE et al., 2005, MA et al., 1999, CAMARA, 2006). Atualmente, as mudanças climáticas associadas à liberação de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis, ao alto preço internacional do petróleo e à preocupação com o desenvolvimento sustentável tem contribuído para a retomada da intenção original de Rudolph Diesel de empregar óleos vegetais em motores movidos a diesel mineral (SCHUCHARDT et al., 2007). Os óleos vegetais foram inicialmente, estudados como fonte alternativa de combustíveis pelo engenheiro alemão Rudolph Christian Karl Diesel, logo após a obtenção da patente para o seu motor de auto-ignição em 23 de fevereiro de 1892. Em 1898, por ocasião da Feira Mundial de Paris o motor foi oficialmente apresentado, fazendo uso de óleo de amendoim como combustível. Os primeiros motores tipo diesel eram de injeção direta, razão pela qual, podiam ser alimentados por petróleo filtrado, óleos vegetais in natura e até mesmo por óleo de peixe. Nesse âmbito, entre 1911 e 1912 afirmou “o motor a diesel poderá ser alimentado por óleos vegetais, e ajudará no desenvolvimento agrário dos países que vierem a utilizá-los. O uso de óleos vegetais como combustível pode ser insignificante hoje em dia, mas com o tempo, irão se tornar tão relevante quanto o petróleo e o carvão vegetal são atualmente.” (CAMARA, 2006). Óleos vegetais são misturas compostas essencialmente por triacilglicerídeos de diferentes ácidos graxos (SUAREZ, 2007), que atribuem ao fluido algumas propriedades físicas como alta viscosidade, elevado ponto de névoa e baixa volatilidade, além de características químicas, como alto grau de insaturação, cujos efeitos no motor limitam a sua possibilidade de uso na forma direta. Dessa forma, visando à modificação das propriedades indesejáveis dos óleos vegetais no motor, várias abordagens têm sido consideradas para contornar esses problemas. Na literatura são mencionadas algumas possíveis soluções as quais possibilitem Capítulo 1 - Introdução 21 a inserção dos óleos vegetais na matriz energética, tais como: modificações no motor, misturas de óleos vegetais com diesel fóssil, microemulsificações, transesterificação e craqueamento ou pirólise de óleos, gorduras ou ácidos graxos, sendo este último inviável economicamente por ocorrer a altas temperaturas (acima de 350 °C) na ausência ou presença de um catalisador. (MIERTUS, 2009, SUAREZ e MENEGHETTI, 2007). Dentre as possibilidades apresentadas, a transesterificação, de fato, denota ser uma excelente opção, devido à simplicidade no processo de obtenção e viabilidade tecnológica e de custos, além de boas conversões e alto rendimento de produtos (SCHUCHARDT et al., 2007, FONTOURA et. al., 2008). O biodiesel apresenta-se como um recurso natural renovável e biodegradável, e devido às vantagens apresentadas nos aspectos econômico, tecnológico, social e ambiental, verifica-se que a produção do mesmo é sustentável (CONCEIÇÃO et al., 2007). No entanto, a oferta de matéria-prima parece ser uma das principais dificuldades restritivas para a implementação de um programa de produção extensiva de biodiesel. A maior parte do biodiesel produzido no mundo deriva do óleo de soja e canola, porém, segundo Parente (2003), todos os óleos vegetais podem ser transformados em biodiesel. Dentre eles, o óleo de girassol destaca-se por suas excelentes características físico-químicas, cuja produção da oleaginosa está entre as maiores culturas do mundo, apresentando viabilidade técnicoambiental na produção de biocombustíveis (SOUZA et al., 2005). Atualmente, a matéria-prima para produção de óleo no Brasil encontra-se fortemente concentrada na cultura da soja. A diversificação da matéria-prima é uma saída para o aumento da oferta de oleaginosas destinada à produção de biodiesel. Nesse contexto, o óleo de mamona é uma das mais promissoras matérias-primas entre as disponíveis no Brasil. A mamoneira cresce mesmo sem cultivo e em grandes quantidades na maioria dos países tropicais e subtropicais. É bastante tolerante a diferentes climas e tipos de solos, além de ser disponível a baixo custo (OGUNNIYI, 2006). Tem características incomuns para um óleo vegetal, a exemplo da viscosidade elevada e a maior solubilidade em álcoois, decorrentes das ligações de hidrogênio dos seus grupos hidroxilas, além de uma alta estabilidade. A determinação da qualidade do combustível é, portanto, um aspecto de grande importância para o sucesso da comercialização do biodiesel. A manutenção da oferta de um combustível de alta qualidade é um pré-requisito para aceitação do biodiesel no mercado (KNOTHE, 2005). Alguns biocombustíveis obtidos de uma única fonte de Capítulo 1 - Introdução 22 oleaginosas não atendem às especificações exigidas e, nesses casos, uma alternativa é a utilização de blends de biodiesel utilizando diferentes oleaginosas. O biodiesel é susceptível à oxidação quando na presença de fatores como ar, elevada temperatura, luz e outros parâmetros que podem acelerar os processos oxidativos. A questão da estabilidade oxidativa afeta a qualidade do biodiesel principalmente em decorrência de um longo período de armazenagem. Os testes acelerados, recorrendo a condições padronizadas de oxidação acelerada (oxigenação intensiva, tratamento térmico e/ou catálise metálica), permitem estimar de forma rápida a estabilidade oxidativa de uma matéria graxa. Uma vez que os fenômenos naturais de oxidação são processos lentos, desenrolando-se frequentemente ao longo de vários meses, os testes de estabilidade em tempo real tornam-se por vezes incompatíveis com o controle de qualidade em nível industrial. Deste modo, os testes de estabilidade acelerados assumem particular importância na rotina analítica. Os procedimentos padrões para a determinação da estabilidade oxidativa (medida do período de indução) utilizam equipamentos Rancimat e Oxidative Stability Instruments (OSI). Porém, muitos pesquisadores têm procurado por técnicas mais rápidas e eficientes para tal análise, e em muitos estudos, tem sido utilizado a Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), pois a oxidação é um fenômeno exotérmico e o tempo de análise média é de 4 horas, bem menor do que através dos métodos convencionais (GONDIM, 2009). É nessa premissa que este trabalho visa avaliar o efeito e a viabilidade da adição do biodiesel de mamona como agente antioxidante em distintas percentagens, sobre as estabilidades térmica e oxidativa do biodiesel metílico de girassol e de soja, em frações mássicas variando de 20 a 80% m/m. Capítulo 2 - Objetivos 23 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL O referido trabalho visa avaliar o efeito e a viabilidade da adição do biodiesel metílico de mamona como agente antioxidante em distintas percentagens, sobre as estabilidades térmica e oxidativa do biodiesel metílico de girassol e de soja, em frações mássicas variando de 20 a 80% m/m. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Determinar as propriedades físico-químicas dos óleos de girassol, mamona e soja, visando à qualidade dos mesmos para a produção do biodiesel; Obter o biodiesel de girassol, mamona e soja pela rota metílica e catálise homogênea alcalina; Caracterizar os biocombustíveis pelas suas propriedades físico-químicas, bem como, determinar os teores de ésteres, metanol e/ou etanol por cromatografia a gás; Obter as blends girassol/mamona e soja/mamona nas percentagens: 20, 40, 50, 60 e 80%; Estudar a estabilidade térmica dos óleos, biocombustíveis e suas respectivas blends utilizando a termogravimetria (TG/DTG); Avaliar e comparar a estabilidade oxidativa dos óleos, biocombustíveis e das blends, fazendo uso de métodos termoquímicos, tais como: Calorimetria Exploratória Diferencial a Alta Pressão (P-DSC) e Rancimat. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 24 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 ATUAL SITUAÇÃO ENERGÉTICA Decorreram entre os anos de 1973 e 1980, os dois choques mais íngremes do petróleo, durante os quais o Brasil sofreu o impacto da elevação dos preços, principalmente devido a uma forte dependência materializada na importação de 80% do óleo bruto consumido no país. A partir do novo patamar de preços e das necessidades de crescimento econômico e desenvolvimento industrial, o país adotou duas grandes estratégias para contornar a crise investindo no aumento da produção doméstica de petróleo e na implantação do Proálcool, considerado como o mais bem-sucedido programa de substituição de combustíveis derivados de petróleo do mundo. Hoje, a matriz energética brasileira é um exemplo de sustentabilidade, pois conta com a maior participação de energias renováveis (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2010). Segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), os preços do petróleo podem alcançar, em breve, US$ 200 o barril, e muitos analistas acreditam que nunca será inferior a US$ 100. As consequências desse novo patamar para o Brasil poderão acarretar em um grau de dependência infinitamente inferior àquele verificado nas décadas de 1970 e 1980, o que permite afirmar, com uma política energética adequada, que os desafios do futuro, no âmbito energético, poderão ser sanados. Segundo a Revista BiodieselBR, a produção de petróleo segue uma curva em forma de sino (curva de Hubbert). Na parte ascendente da curva, os custos de produção são significativamente mais baixos do que na parte descendente, quando é necessário um maior esforço (despesa) para extrair petróleo de poços que estão tendendo a inativez, ou seja, o petróleo é abundante e barato na curva ascendente, escasso e caro na curva descendente. O pico da curva coincide com o ponto em que as reservas mundiais de petróleo estão consumidas em 50%. Peak Oil é o termo da indústria para o topo da curva e, uma vez passado esse pico, a produção de petróleo começa a decair enquanto os custos começam a aumentar (BIODIESELBR, 2010). As estatísticas mais otimistas indicam que o pico da produção petrolífera será alcançado entre os anos de 2020/35. Normalmente, estas estimativas advêm de agências Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 25 governamentais como o Observatório Geológico dos Estados Unidos, das companhias de petróleo, ou de economistas que não consideram a dinâmica do esgotamento de recursos. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), cerca de 45% da energia e 18% dos combustíveis consumidos no Brasil já são renováveis. No mundo, 86% da energia advêm de fontes energéticas não-renováveis. Pioneiro mundial no uso de biocombustíveis, o Brasil alcançou uma posição almejada por muitos países que buscam fontes renováveis de energia, como alternativas estratégicas ao petróleo. A figura 1 sumariza o histórico da evolução dos biocombustíveis no Brasil em virtude das crises do petróleo, que resultaram em escassez e, por conseguinte, alto custo de aquisição dessas fontes de energia limpa. Figura 1 - Evolução dos biocombustíveis no Brasil. Fonte: ANP, 2010 A permanência dos preços atuais poderá acarretar numa recessão em muitos países devido ao impacto dos preços dos energéticos na economia, inclusive nos preços dos alimentos. Adicionalmente, podem ser destacados os seguintes aspectos: aumento da Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 26 necessidade de políticas de conservação de energia, de ampliação da fronteira de prospecção e aproveitamento das reservas existentes, e, principalmente, da busca por fontes renováveis de energia. Sendo esta a mais poderosa arma no combate à escalada de preços das commodities agrícolas. Diversas razões justificam um programa que tem por intuito substituir o diesel oriundo do petróleo. Para o Brasil é um fator relevante, pois o mesmo, não possui autosuficiência em diesel e sua posição é de importador. É neste âmbito, que o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) surge visando à implantação do processo de produção e do uso desse biocombustível de forma sustentável, técnica e econômica, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, com a geração de emprego e renda. 3.2 ENERGIAS RENOVÁVEIS Mediante o que foi exposto, tem-se buscado por outras fontes de energia que não sejam limitadas, finitas e não-renováveis, como no caso do petróleo e seus derivados. Essas fontes denominadas energias alternativas ou renováveis incluem o carvão vegetal, as energias solar e eólica e a biomassa. Segundo Omachi et al. (2004), biomassa é todo material orgânico, não-fóssil, que possua energia química intrínseca. Podem ser incluídas no grupo das biomassas todas as vegetações aquáticas ou terrestres, as árvores, o lixo orgânico, resíduo de agricultura, esterco de animais e outros tipos de restos industriais. As oleaginosas são opções de fontes de matéria-prima, os óleos vegetais, para a produção de combustíveis renováveis. O Brasil é um país que por sua extensa área geográfica e climas tropical e subtropical apresenta uma ampla diversidade de matérias-primas cotejadas para a produção de biodiesel. Dentre as principais, estão oleaginosas como: algodão, amendoim, dendê, girassol, mamona, pinhão manso e soja (CARTILHA BIODIESEL SEBRAE, 2009). Na literatura, podem ser encontrados diversos estudos oriundos de pesquisas brasileiras sobre o tema fontes renováveis. Nesse âmbito, podem ser citados os trabalhos desenvolvidos por Sodré et al. (2011) cujo enfoque foi o estudo das propriedades físicoquímicas de blends (misturas) de biodiesel de óleo de fritura ou biodiesel de óleo de mamona com óleo diesel mineral. Os pesquisadores avaliaram algumas propriedades como a densidade, viscosidade cinemática, índice de cetano, as temperaturas de destilação e o Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 27 teor de enxofre, os quais foram medidos de acordo com métodos de teste padrão. Foi observado um aumento da densidade e da viscosidade concomitante ao aumento da concentração do biodiesel. Enquanto o teor de enxofre e o índice de cetano foram diminuídos com o elevado teor do biodiesel no óleo diesel mineral. Soares et al. (2010) estudaram os parâmetros favoráveis à produção do biodiesel obtido pela síntese etanólica dos óleos de nabo forrageiro, girassol e soja. Os parâmetros avaliados foram à quantidade de catalisador, o tempo reacional e a temperatura, os comportamentos térmicos também foram avaliados. Além disso, também foi investigada a relação entre o rendimento de conversão e a composição química dos ácidos graxos de cada matéria-prima. Uma metodologia rápida de degradação térmica e contato com o ar foi a estudo desenvolvido por Célio et al. (2009), para avaliar a estabilidade oxidativa do biodiesel do óleo de mamona sob influência de quatro tipos de antioxidantes fenólicos sintéticos e a concentração de cada um foram observados. Com a finalidade de ilustrar a relevância dessas matérias-primas no âmbito energias renováveis e a potencialidade do país na produção de oleaginosas, a figura 2 ilustra um mapa com a distribuição dos diversos cultivares oleaginosos no território brasileiro, a qual, permite a visualização das regiões brasileiras e as principais matérias-primas nelas produzidas, levando em consideração as condições edafoclimáticas do zoneamento agroecológico. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 28 Figura 2 - Potencialidade brasileira para produção de oleaginosas. Mapa construído a partir dos trabalhos de Meireles (2003) e do Zoneamento Agrícola de Risco Climático – MAPA Fonte: Cartilha SEBRAE, 2009 O semiárido brasileiro é uma das maiores, mais populosas e também mais úmidas ecoregiões do mundo, estendendo-se por uma área que abrange a maior parte dos Estados da Região Nordeste (86,48%), a Região Setentrional do Estado de Minas Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo (2,51%), ocupando uma área total de 974.752 km2 (RODRIGUES, 2009 apud BELTRÃO, 2009). Ainda na Figura 3.2 é perceptível a forte predominância de pinhão-manso, algodão e mamona no semi-árido nordestino, fontes que se destacam por apresentarem um alto teor de óleo em suas sementes, resistência à seca e por serem tradicionalmente cultivadas pelo produtor da região (BELTRÃO, 2009). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 29 3.2.1 Óleos e gorduras Óleos e gorduras são substâncias insolúveis em água (hidrofóbicas), de origem animal, vegetal ou mesmo microbiana, formadas predominantemente de produtos de condensação entre glicerol e ácidos graxos chamados de triacilglicerídeos (MORETTO e FETT, 1998). Triacilglicerídeos, também chamados de triglicerídeos, são compostos em que os três grupos OH do glicerol são esterificados com ácidos graxos (BRUICE, 2006). Quando constituídos em grande parte por ácidos graxos saturados apresentam pontos de fusão e/ou ebulição altos, caso contrário, se há uma considerável proporção de ácidos graxos insaturados e poliinsaturados, os pontos de fusão são mais baixos, e isso também dependerá da natureza da ligação. A tabela 1 mostra a percentagem aproximada de ácidos graxos em alguns óleos e gorduras comuns, pode-se observar a relação existente entre o número de insaturações com o ponto de fusão de ambos. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 30 Tabela 1- Composição aproximada dos ácidos graxos em alguns óleos e gorduras comuns Ácidos Graxos Saturados Ácidos Graxos Insaturados PF Láurico Mirístico Palmítico Esteárico Oléico Linoléico Linolênico (°C) (C12:0) (C14:0) (C16:0) (C18:0) (C18:1) (C18:2) (C18:3) Manteiga 32 2 11 29 9 27 4 - Banha de Porco 30 - 1 28 12 48 6 - Humana 15 1 3 25 8 46 10 - Baleia 24 - 8 12 3 35 10 - Milho 20 - 1 10 3 50 34 - Algodão -1 - 1 23 1 23 48 - Oliva -24 - - 6 3 19 24 47 Linhaça -6 - - 7 2 84 5 - Amendoim 3 - - 8 3 56 26 - Cártamo -15 - - 3 3 19 70 3 Gergelim -6 - - 10 4 45 40 - Soja -16 Fonte: Bruice, 2006 - - 10 2 29 51 7 Gorduras Óleos Dentre todas as espécies relatadas, o óleo de oliva (Tabela 1) é o que apresenta maior percentual de ácido linolênico (C18:3), e, por conseguinte, o menor ponto de fusão. Segundo Bruice (2006), as propriedades físicas dos ácidos graxos dependem do comprimento da cadeia de hidrocarbonetos e do grau de insaturação; como esperado, os pontos de fusão dos ácidos graxos aumentam com o aumento da massa molecular devido ao aumento das interações de van der Waals entre as moléculas. A banha de porco é a que apresenta o maior percentual de ácido esteárico (C18:0) e o segundo maior ponto de fusão, sendo o maior PF o da manteiga devido à maior concentração dos ácidos graxos saturados: láurico (C12:0) e mirístico (C14:0), quando comparado a substância supracitada. As ligações duplas em ácidos graxos insaturados possuem geralmente a configuração cis. Essa configuração produz uma curvatura nas moléculas que as impede de empacotarem firmemente como os ácidos graxos saturados. Como resultado, os ácidos graxos insaturados possuem menos interações moleculares e, portanto, pontos de fusão mais baixos que os ácidos graxos saturados com massas Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 31 moleculares equivalentes. Os pontos de fusão dos ácidos graxos insaturados diminuem à medida que o número de duplas ligações aumenta. Um ácido graxo com 18 átomos de carbono saturado, por exemplo, funde a 69 °C; a 13 °C, se possuir uma ligação dupla; a -5 °C, caso possua duas ligações duplas; e em -11 °C, se possuir três duplas ligações, como pode ser visto na tabela 2 abaixo (BRUICE, 2006). Tabela 2 - Ácidos graxos de ocorrência natural com seus respectivos pontos de fusão Número de Nome Nome carbonos Comum Sistemático fusão (°C) 12 Láurico Dodecanóico 44 14 Mirístico Tetradenóico 58 16 Palmítico Hexadecanóico 63 18 Esteárico Octadecanóico 69 20 Araquídico Eicosanóico 77 Estrutura Ponto de Saturado Insaturado 16 Palmitoléico (9Z)- hexadenóico 0 18 Oléico (9Z)- octadecenóico 13 18 Linoléico (9Z,12Z)octadecadienóico -5 18 Linolênico (9Z,12Z,15Z)octadecatrienóico -11 20 Araquidônico (5Z,8Z,11Z,14Z)eicosatetraenóico -50 20 EPA (5Z,8Z,11Z,14Z,17Z)eicosapentaenóico -50 Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 32 Os óleos vegetais diferem das gorduras, quanto ao seu estado de agregação à temperatura ambiente. Enquanto os óleos são líquidos, em virtude da presença de insaturações nas cadeias, que dificultam assim as interações moleculares, as gorduras se caracterizam por misturas sólidas, em geral, por exibirem maior facilidade de empacotamento intermolecular, em virtude da proporção dos grupos acila saturados e insaturados presentes nos triglicerídeos. Os ácidos graxos representam mais de 95% da massa molecular dos seus triglicerídeos (MORETTO e FETT, 1998). Na figura 3 estão ilustradas as estruturas de uma molécula de gordura (a) e um óleo (b). Figura 3 - Representação do arranjo molecular dos triglicerídeos em moléculas de gordura (a) e óleo (b). (a) (b) Fonte: Bruice, 2006. Além dos triacilgliceróis, os óleos contêm vários componentes em menor proporção, como: mono e diglicerídeos (importantes como emulsionantes); ácidos graxos livres; tocoferol (importante antioxidante); proteínas, esteróis e vitaminas (REDA e CARNEIRO, 2007). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 33 3.2.1.1 Girassol O girassol (Helianthus annuus L.) é uma planta oleaginosa, dicotiledônea, pertencente à família Asteraceae, também conhecida como Compositea ou composta, originária da América do Norte, provavelmente do Sudoeste dos Estados Unidos (figura 4) (ANWAR, 2008 apud BELTRÃO, 2009). Esta espécie teve maior desenvolvimento na antiga União Soviética, estando atualmente concentrada principalmente na Federação Russa, Ucrânia, Argentina, Índia e França, países considerados os maiores produtores mundiais na atualidade. No Brasil, presume-se que o cultivo do girassol tenha sido iniciado na época da colonização, principalmente na região Sul, com a introdução do hábito do consumo de suas sementes torradas (BELTRÃO, 2009). Figura 4 - (a) Plantação de girassóis em Fargo, Dakota do Norte nos Estados Unidos e (b) sementes de girassol. (a) (b) Fonte: Wikipédia, 2010 O girassol consiste numa das principais culturas de oleaginosas em todo o mundo, cuja produção de óleo está entre 45-50% (baseado na massa de sementes sem casca) (ANWAR, 2008). De acordo com o USDA (United States Department of Agriculture), na safra de 2003/04, o girassol esteve entre as cinco maiores culturas de oleaginosas produtoras de óleo vegetal comestível do mundo com 7,88%, em desvantagem apenas para Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 34 soja (56,3%), canola (11,69%), algodão (10,46%) e amendoim (9,58%). No Brasil, segundo esse mesmo órgão, pelos dados da CONAB, a produção de girassol do ano de 2003/08, passou de 85,8 para 144,3 toneladas métricas (BARROS, 2008). Quando comparado à maioria das espécies normalmente cultivadas no Brasil, apresenta características importantes, quando comparada à maioria das espécies normalmente cultivadas no Brasil, das quais destacam-se: ciclo curto, elevada qualidade e bom rendimento de óleo, que fazem dela uma opção atrativa aos produtores brasileiros (FERRARI, 2005). Devido a essas particularidades agronômicas e à crescente demanda dos setores industrial e comercial, a cultura do girassol está se constituindo em uma importante alternativa econômica no sistema de rotação, consórcio e sucessão de culturas nas regiões produtoras de grãos (OLIVEIRA,VIEIRA, 2004). Embora possua um sistema radicular pivotante e profundo, caule vigoroso - como ilustrado na figura 5, e ciclo rápido - entre 65 a 155 dias da emergência das plântulas, esta é sensível à seca, podendo ser até um pouco tolerante em determinados períodos de seu ciclo e dependendo do estresse, em condições de deficiência de água, sua produtividade pode ser reduzida drasticamente (BELTRÃO, 2009). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 35 Figura 5 - Fases de desenvolvimento do girassol, com as respectivas exigências térmicas e hídricas. Fase Vegetativa Germinação Fase Reprodutiva Crescimento Lento Floração Enchimento de Aquênios Maturação Fisiológica Acelerado Duração: Duração: Duração: Duração: Duração: 4 a 10 dias 50 a 70 dias 10 a 15 dias 20 a 30 dias 15 a 25 dias Temperatura: Temperatura: Temperatura: Temperatura: Período 23 °C 23 a 28 °C < 35 °C 20 a 24 °C Seco Água/dia: Água/dia: Água/dia: Água/dia: 0,5 a 0,7 mm 0,7 a 6,0 mm 6,0 a 8,0 m 4,0 a 6,0 m Fonte: Castro, 2007 Segundo Castro et al. (2005), temperaturas elevadas podem prejudicar o desenvolvimento desta Asteraceae, em especial em condições de estresse hídrico. Esses pesquisadores atribuem como temperaturas ótimas para o cultivo e desenvolvimento do girassol, a faixa entre 18 e 24 °C, temperaturas estas, que distam da realidade do semiárido nordestino. A partir desta oleaginosa, é produzido o óleo comestível e os subprodutos da extração, tais como: tortas, expeller e farinhas, que são também aproveitadas. Segundo Oliveira e Vieira (2004), mais de 90% da produção mundial de girassol são destinados à Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 36 elaboração de óleo comestível, e a maior parte dos 10% restantes, para alimentação de pássaros e para o consumo humano direto. De acordo com Oliveira e Vieira (2004), para cada tonelada de grão, em média, são produzidos 400 kg de óleo, 250 kg de casca e 350 kg de torta, com 45 a 50% de proteína bruta, sendo este subproduto, basicamente, aproveitado na produção de ração, em misturas com outras fontes de proteína. 3.2.1.1.1 Características do Óleo de Girassol A qualidade de um óleo vegetal está intrinsecamente ligada a sua composição química, ou seja, é dada pela composição de ácidos graxos, e sua utilidade na indústria também depende desse fator. Um exemplo são os óleos direcionados ao ramo alimentício, como os óleos utilizados para frituras, que devem possuir um alto grau de estabilidade oxidativa a temperaturas elevadas (OLIVEIRA e VIEIRA, 2004); para tal, devem apresentar na sua composição teores mínimos de ácidos graxos insaturados, altamente susceptíveis aos processos oxidativos. Portanto, os teores de ácidos oleico (C18:1), linoleico (C18:2) e linolênico (C18:3) devem ser relativamente baixos nesses compostos gráxeos. Essa característica também é considerada para os óleos vegetais direcionados ao ramo energético, pelo mesmo motivo. O óleo de girassol está entre os óleos vegetais que apresentam um dos maiores percentuais de ácidos graxos poliinsaturados, principalmente o ácido linoléico (C18:2) (OLIVEIRA e VIEIRA, 2004). No entanto, contém apenas traços do ácido linolênico, facilmente oxidável na presença de luz e calor (OLIVEIRA e VIEIRA, 2004). As percentagens do ácido linoléico e oléico são de aproximadamente 90% do total de ácidos graxos presentes no óleo de girassol. Há uma relação inversa entre ambos, sendo esta, fortemente influenciada pelas condições ambientais, em especial a temperatura, durante o desenvolvimento das sementes. Em temperaturas elevadas, ocorre aumento nos níveis de ácido oléico e diminuição nos níveis de linoléico (OLIVEIRA e VIEIRA, 2004). As propriedades físico-químicas do óleo de girassol estão listadas na tabela 3. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 37 Tabela 3 - Características físico-químicas do óleo de girassol Propriedades Físico-Químicas Valores de referência Massa Específica a 20 °C (g.cm-3) 0,915 – 0,920 Índice de Refração a 25 °C 1,467 – 1,469 Índice de Iodo (g I2.100g-1) 110 – 143 Índice de Saponificação (mg KOH.g-1) 188 – 194 Matéria Insaponificável (%) < 1,5 Acidez (g ácido oléico.100g-1) < 0,3 Índice de Peróxido (meq.kg-1) < 10 Valores de Referência: RDC No482, de 23/09/1999, da Agência Nacional da Vigilância Sanitária – ANVISA Fonte: Campestre, 2008 3.2.1.2 Mamona A mamoneira (figura 6) é uma oleaginosa de destacada importância no Brasil e no mundo, a partir dela é obtido o óleo de mamona, também conhecido por óleo de rícino, óleo de tangantangan, óleo de palma Christi, neolóide e óleo de castor, este é extraído da semente da planta Ricinus Communis L., pertencente à família Euphorbiaceae, a qual é abundantemente encontrada em regiões de climas topical e subtropical (MURA, 2005). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 38 Figura 6 - (a) Cacho de mamona e (b) endosperma da semente da mamoneira. (a) (b) Foto: Walmar Pessoa Fonte: Beltrão, 2007 Esta Euphorbiaceae apresenta crescimento denominado dicotômico, com vários pontos de crescimento na mesma planta. Na figura 7 está ilustrada a organografia da mamoneira, onde são observados os cachos principais e os de segunda e terceira ordens, tanto em crescimento, como na fase de botão floral, este fato evidencia um período indefinido de reprodução da mamoneira que depende do ambiente. A continuidade das chuvas promove a emissão contínua de cachos pela planta, o que acaba se tornando uma grande vantagem competitiva para condições de ocorrência de estresses ambientais, em particular o hídrico (por falta ou excesso de água) e o término ocasionado pela ocorrência de temperaturas supra-ótimas (BELTRÃO, 2009). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 39 Figura 7 - Esquema ilustrativo da organografia da mamoneira adaptada de Weiss (1983) in Beltrão et al. (2007). Fonte: Beltrão et al., 2009 A mamona é de fácil cultivo e resistente à escassez de água, por esse motivo é ideal para o extenso Semiárido Nordestino. Nessa região existem quase quatro milhões de hectares apropriados, onde se pode alcançar o rendimento de até 1,5 toneladas de sementes por hectare, enquanto a média nacional é de 750 kg de baga/ha quilos. Além disso, a mamona pode se tornar uma alternativa produtiva para cerca de 1,5 milhões de pessoas de baixa renda na região mais carente do Brasil (SILVA e LINO, 2009 apud BELTRÃO, 2009). O teor de óleo extraído das sementes da mamona pode variar entre 35 a 55% (BELTRÃO, 2009) mas a maior parte das cultivares plantadas comercialmente no Brasil possui teor de óleo variando entre 45 e 50% (BELTRÃO, 2009; CVENGROS, 2006). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 40 3.2.1.2.1 Características do óleo de mamona Mura (2005), caracteriza o óleo de mamona como um líquido viscoso, amarelo claro de odor característico, familiarmente conhecido devido ao seu uso como óleo purgativo, cuja semente é extremamente tóxica devido à presença da proteína licina, mas que não se encontra no óleo (ENCYCLOPEDIA OF CHEMICAL TECHNOLOGY, 1980; THE MERCK INDEX, 2001; VILAR, 1991 apud MURA, 2005). O óleo de mamona é considerado como um recurso comercial único de aplicações singulares na indústria química em virtude da sua composição, cerca de 90% do óleo é composto por um triglicerídeo, principalmente por ricinoleína, que é o componente majoritário do ácido ricinoléico (ácido 12-hidroxi-9-octadeceno; C18:1,OH). O ácido ricinoléico possui uma ligação insaturada, o qual lhe confere características peculiares como o único óleo vegetal naturalmente hidroxilado, portanto, pertencente ao grupo dos hidroxiácidos, além das propriedades químicas atípicas, é caracterizado pelo seu alto peso molecular (298) e baixo ponto de fusão (-5 °C) (BELTRÃO, 2008; CVENGROS, 2006). O grupo hidroxila confere ao óleo de mamona a propriedade exclusiva de solubilidade em álcool (WEISS, 1983; MOSHKIN, 1986 apud BELTRÃO, 2008) e uma alta viscosidade, a qual é mantida em uma ampla faixa de temperatura, essa propriedade é apontada como a grande problemática que circunda o uso do óleo de mamona como matéria-prima na produção de biodiesel, pois mesmo após o processo de transesterificação o biodiesel apresenta valores de viscosidade que não se adequam as especificações. A alta viscosidade pode ser atribuída à formação das pontes de hidrogênio inter ou intramoleculares, como pode ser observado na figura 8, nas moléculas do ácido ricinoléico, além de solidificarem a baixas temperaturas, possibilitando assim uma alta estabilidade oxidativa (WEISS, 1983; SAVI FILHO, 1999 apud BELTRÃO, 2008). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 41 Figura 8 - Estrutura molecular do ácido ricinoléico de estrutura “linear” (a) e com a formação das pontes de hidrogênio intramoleculares (b) Fonte: Medeiros, 2010 A principal razão para a grande demanda mundial pelo óleo de mamona são suas formas de utilização, tais como: hidrogenado, desidratado e oxidado, servindo como base para diversos produtos industriais. Esses produtos, segundo International Castor Oil Association (ICOA) são oriundos das seguintes reações químicas, listadas em ordem de relevância: pirólise para produção do nylon, hidrogenação, desidratação, fusão cáustica para produção dos ácidos sebácico e undecilênico e do heptaldeído (ambos, subprodutos da pirólise), sulfonação, alcoxilação, oxidação/polimerização, esterificação, dimerização (da desidratação) e outras (ICOA, 2009). Dentre as vertentes supracitadas e outras ainda não relatadas, fazem do óleo de mamona uma interessante matéria-prima de estrutura peculiar, as suas propriedades estão ilustradas na tabela 4. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 42 Tabela 4 - Características físico-químicas do óleo de mamona Propriedades Físico-Químicas Valores de referência Massa Específica a 25 °C (g.cm-3) 0,945 – 0,965 Índice de Refração 25 °C 1,473 – 1,477 Índice de Iodo (g I2.100g-1) Índice de Saponificação (mg KOH.g-1) 81 – 91 176 – 187 Matéria Insaponificável (%) - Acidez (g ácido oléico.100g-1) - Índice de Peróxido (meq.kg-1) - Valores de Referência: Physical and Chemical Characteristics of Oils, Fats and Waxes – AOCS. Fonte: Campestre, 2008 3.2.1.3 Soja A soja [Glycine max (L.) Merrill] (figura 9) é uma espécie de leguminosa nativa, pertencente à família Fabaceae, também conhecida com Leguminosae, proveniente da Ásia Oriental, onde se desenvolveu principalmente ao longo do Rio Amarelo, na China. Portanto, nas três primeiras décadas do século XX, a produção de soja era quase exclusivamente feita nos países do Oriente, como a China, Indonésia, Japão e Coréia (BELTRÃO, 2008). O início da evolução da soja ocorreu com o aparecimento de plantas naturais oriundas do cruzamento entre duas espécies de soja selvagem na antiga China (EMBRAPA, 2010). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 43 Figura 9 - (a) Plantação de soja transgênica na cidade de Ronda Alta, Rio Grande do Sul (b) grãos de soja (a) (b) Fonte: Folha.com. Fonte: Agroanalysis, 2010 Atualmente, seu desenvolvimento se concentra principalmente nos Estados Unidos, este, considerado maior produtor mundial e com produção estabilizada, o Brasil e a Argentina, são respectivamente o segundo e terceiro maiores produtores mundiais, os únicos que possuem a capacidade de atender a demanda por alimentos, a China o quarto, é considerado maior consumidor, além de possuir uma produção também estabilizada. Segundo a USDA, no ano de 2006 foram produzidos nos Estados Unidos, Brasil, Argentina e China, cerca de 84, 59, 41 e 17 milhões de toneladas de soja, respectivamente, (ABIOVE, 2010). De acordo com Beltrão et al. (2008) o advento da soja no Brasil ocorreu em 1908, por intermédio dos imigrantes japoneses, que a introduziram no Estado de São Paulo. A partir da década de 60, os agricultores brasileiros do Sul se interessaram pelo seu cultivo de forma extensiva. Em virtude de um sistema agroindustrial de grande proporção e já consolidado a soja, tornou-se a única oleaginosa com escala suficiente para a produção imediata de biodiesel. Certificam Moreira e colaboradores (1999) que atualmente, a soja é reconhecida como um alimento rico em proteínas e lipídios e que a sua inclusão na alimentação humana tem se tornado cada vez maior, o que acaba criando um impasse entre a produção de alimentos versus energia. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 44 Com relação ao teor de óleo extraído das sementes, de acordo com Medeiros (2009) apenas 22,7 % são obtidos, em um estudo sobre o efeito do ambiente (locais) na percentagem de óleo em sementes de soja, Hamawaki et al. (2010), citam um percentual obtido de 23,78%, os mesmos autores citam em seu trabalho Albrecht et al. (2008), onde neste, foi obtido 28,52% e por eles considerado como resultado ótimo, devido ser o maior encontrado na literatura para a cultura da soja (HAMAWAKI, 2010). 3.2.1.3.1 Características do óleo de soja Quanto a composição média do óleo de soja, Vieira et al. (2010) mencionam que seja constituído, principalmente, pelos ácidos linoléico (54,5%), oléico (22,3%), ácidos graxos insaturados com pontos de fusão em -5 e 4 ºC, respectivamente, bem como ácido palmítico (12,7%), linolênico (4,5%) e esteárico (3,9%) (BELTRÃO, 2008). Em virtude da presença dos ácidos graxos saturados de cadeias longas (que possuem elevados pontos de fusão) proporcionam turvação no óleo. Portanto, o óleo de soja é considerado por possuir um potencial para produção de biodiesel, pela abundância dessa matéria-prima e suas propriedades físico-químicas (VIEIRA, 2010). Para Beltrão et al. (2008), os ácidos graxos insaturados, particularmente o oléico, linoléico e o linolênico, são os que se destacam da fração lipídica do óleo de soja, por serem facilmente oxidados, sendo o número de insaturações nas moléculas um fator decisivo para a velocidade da reação. Característica esta, que inevitavelmente é repassada aos correspondentes dos ésteres metílicos ou etílicos (biodiesel) obtidos a partir desta oleaginosa. O processo de oxidação no biodiesel causa um aumento da sua viscosidade pela ocorrência de reação de polimerização envolvendo as duplas ligações, que em estágios mais avançados, podem levar a formação de materiais insolúveis, tais como goma e sedimentos que podem entupir os filtros de combustível, bem como, a elevação da acidez e a presença de hidroperóxidos (ambos decorrentes do desencadeamento de processos oxidativos) que podem ocasionar a corrosão de componentes do sistema de injeção de combustível bem como o tanque de elastômeros (MONYEM, Van GERPEN, 2001 apud BELTRÃO, 2008). As propriedades físico-químicas do óleo de soja, bem como, a composição média dos óleos de girassol, mamona e soja estão ilustradas nas Tabelas 5 e 6 respectivamente. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 45 Tabela 5 - Características físico-químicas do óleo de soja Propriedades Físico-Químicas Valores de referência Massa Específica a 20 °C (g.cm-3) 0,916 – 0,922 Índice de Refração a 25 °C 1,465 – 1,475 Índice de Iodo (g I2.100g-1) 120 – 141 Índice de Saponificação (mg KOH.g-1) 180 – 200 Matéria Insaponificável (%) < 1,0 Acidez (g ácido oléico.100g-1) < 0,2 Índice de Peróxido (meq.kg-1) < 100 Valores de Referência: The United States Pharmacopeia – USP 27; RDC N° 482 de 23/09/1999 da Agência Nacional da Vigilância Sanitária – ANVISA Fonte: Campestre, 2008 Tabela 6 - Composição média de ácidos graxos (%) dos óleos de girassol, mamona e soja Ácidos Graxos Óleo de Girassol Óleo de Mamona Óleo de Soja Mirístico (C14:0) < 0,5 - < 0,5 Palmítico (C16:0) 3,0 – 10,0 1,0 – 2,0 7,0 - 14,0 < 1,0 - < 0,5 Esteárico (C18:0) 1,0 – 10,0 0,9 – 2,0 1,4 – 5,5 Oléico (C18:1) 14,0 – 35,0 2,9 – 6,0 19,0 – 30,0 Linoléico (C18:2) 55,0 – 75,0 11,2 44,0 – 62,0 Linolênico (C18:3) < 0,3 0,3 4,0 – 11,0 - 87,0 - < 4,5 < 1,0 < 2,5 Palmitoléico (C16:1) Ricinoléico [C18:1(OH)] Outros Valores de Referência: RDC N° 482 de 23/09/1999 da Agência Nacional da Vigilância Sanitária – ANVISA Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 46 3.3 ÓLEOS VEGETAIS COMO ALTERNATIVA DE COMBUSTÍVEL De acordo com Suarez e Meneghetti (2007), o uso de óleos ou gorduras de origem vegetal ou animal, in natura, como combustível para motores à combustão interna, bem como, seus derivados e ácidos graxos foram propostos ao longo dos últimos 100 anos. O uso direto de óleos vegetais como combustível apresenta como principal vantagem a simplicidade do processo, uma vez que não é necessária nenhuma etapa de alteração química. No entanto, as altas viscosidade (cerca de 11-17 vezes maior do que o diesel) e temperatura de evaporação, bem como a baixa volatilidade, dificultam o emprego em motores convencionais, sendo necessários motores adaptados, como o motor ELSBETT (MEHER, 2006). Outro problema apresentado por esta alternativa é a formação de depósitos de coque e grafite nos motores e nos sistemas de injeção, o que acaba por danificar os mesmos minimizando a sua vida útil. A esses inconvenientes, podem ser somados: peso excessivo desses motores, os quais requerem ajuste em tratores e/ou máquinas agrícolas; complexidade na manutenção de componentes internos; viabilidade econômica duvidosa, pois o custo aquisitivo deste equipamento é superior ao custo atribuído a equipamentos convencionais (NIETIEDT, 2010). Óleos vegetais não-modificados utilizados como combustível também não é recomendado para operações de longa duração, pelo comprometimento no funcionamento do motor. As eficiências dos motores que utilizam óleos vegetais quando comparados com o diesel também são relativamente díspares, mostrando que o rendimento energético para o óleo vegetal é menor que o diesel fóssil. O principal impasse para utilização de óleos vegetais como combustível é que sua viscosidade é superior ao diesel e, dessa forma, não se adequada à utilização direta nos motores diesel. As principais transformações químicas de óleos, gorduras ou ácidos graxos, em espécies que possam ser usadas como biocombustíveis são: craqueamento e hidrotratamento de óleos ou gorduras, craqueamento de ácidos graxos, transesterificação de óleos e gorduras e esterificação de ácidos graxos (SUAREZ, MENEGHETTI, 2007; MIERTUS, 2009). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 47 3.4 BIODIESEL De acordo com Dabdoub et al. (2009), data 31 de agosto de 1937, o marco da primeira tentativa de transformação de um óleo vegetal em ésteres metílicos ou etílicos, este, atribuído ao pesquisador belga Charles George Chavanne, descrita pela patente “Procédé de transformation d’huiles végétales em vue de leur utilisation comme carburants”, na qual elucida na reivindicação número 15 da mesma, a idéia da utilização dos mesmos como combustível para motores de combustão interna. Nesta patente e em artigo posterior, é descrita a transesterificação do óleo de palma africana (dendê) com metanol ou etanol na presença de ácido sulfúrico como catalisador (CHAVANNE, 1938; CHAVANNE, 1943 apud DABDOUB, 2010). A definição para biodiesel adotada na Lei n° 11.097 de 13 de janeiro de 2005, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira é: Combustível para o uso em motores a combustão interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável, derivado de óleos vegetais ou de gorduras animais, que possa substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil. O biodiesel é um combustível obtido a partir de matérias-primas vegetais e animais. Nas matérias-primas provenientes dos óleos vegetais estão listadas a soja, mamona, colza (canola), palma, girassol, amendoim, entre outros. As matérias-primas de origem animal são obtidas do sebo bovino, suíno e de aves. Está inclusa também dentre as alternativas os óleos oriundos de fritura (cocção) (CARTILHA BIODIESEL SEBRAE, 2009). Como definido pela Lei supracitada, este biocombustível é utilizado visando à substituição do óleo diesel, em percentuais adicionados neste combustível ou integral. O biodiesel é uma relevante oferta para o segmento de combustíveis por ser derivado de biomassa (matéria orgânica de origem vegetal ou animal que pode ser utilizada para a produção de energia), menos poluente e renovável (CARTILHA BIODIESEL SEBRAE, 2009). Para a produção de biodiesel, a oleaginosa mais competitiva será aquela que apresentar maior produtividade de óleo por hectare, maior tecnologia de cultivo, menor custo de produção, bem como, tiver os subprodutos com maior valor agregado no mercado. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 48 A maior parte do biodiesel produzido no mundo deriva dos óleos de soja e canola (CANAKCI e Van GERPEN, 2001), porém, segundo Parente (2003), todos os óleos vegetais são passíveis a conversão em biodiesel (PARENTE, 2003 apud FERRARI, 2005). Para Beltrão et al. (2009), as oleaginosas que apresentam um alto teor de óleo nas sementes, são favoráveis para a produção de biodiesel. Dentre estas, pode-se destacar amendoim, girassol e mamona, todas com cultivares que apresentam mais de 45% do peso das suas sementes em óleo. Outras oleaginosas como soja e dendê, apresentam menores teores. Para o semiárido brasileiro, porém, estas oleaginosas apresentam algumas limitações, devido à necessidade de terrenos planos e água em demasia no seu ciclo anual. Segundo David (2009), a mamona (Ricinus communis L.) por apresentar um teor de óleo considerável permitindo uma larga aplicação industrial é considerada como matériaprima do futuro, devido à sua adaptabilidade às diferentes condições ambientais. Entretanto a escassez e a baixa qualidade de sementes disponíveis no mercado é um dos maiores entraves à expansão da cultura da mamona. Um dos desafios da pesquisa é o aprimoramento de técnicas de produção, colheita e armazenamento para a obtenção de sementes de qualidade, destacando como um atrativo agrícola na produção de biodiesel. Albuquerque et al. (2008) destacam que no semiárido nordestino a produção de biodiesel a partir do óleo de mamona tem recebido destaque pelo Governo Federal e alguns Estaduais, tais como dos estados da Bahia e do Ceará. Entretanto, além da mamona existem outras oleaginosas com elevados teores de óleo, bem adaptadas ao clima desfavorável da região como o algodoeiro e o pinhão manso, os quais necessitam de estudos, domesticação e seleção de genótipos mais uniformes e produtivos (ALBUQUERQUE, 2008 apud BELTRÃO, 2008). Para o uso no semiárido, em regime de sequeiro, poucas espécies podem ser exploradas com rentabilidade pelos agricultores organizados em pequenas cooperativas ou associações, dentre elas estão a mamoneira e o algodoeiro (SOUSA, 2006 apud BELTRÃO, 2008). 3.4.1 Processo de produção de biodiesel O biodiesel é obtido através de um processo químico chamado transesterificação, o qual gera dois produtos: um éster (biodiesel) e glicerina (produto valorizado no mercado de sabões) (PARENTE, 2003). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 49 De acordo com Meher et al. (2006), o processo de transesterificação é afetado por alguns fatores, dentre eles o teor de ácidos graxos livres e o índice de umidade, estes, determinam a viabilidade do processo de transesterificação de óleos vegetais. Portanto quanto maior a acidez do óleo vegetal menor é a eficiência de conversão. O tipo e a quantidade de catalisador é outro agravante na produção de biodiesel. Os catalisadores utilizados para transesterificação de triglicerídeos são classificados como básicos, ácidos, enzimáticos ou catalisadores heterogêneos, dentre os quais os catalisadores básicos, como os hidróxidos de sódio e potássio, bem como, os metóxidos oriundos destes, são mais eficientes (MA e HANNA, 1999). A transesterificação catalisada por base é uma reação mais rápida, em virtude ao ânion metóxido ser um nucleófilo mais eficiente que o metanol, isto facilita o ataque ao grupo éster do triglicerídeo, resultando numa formação mais rápida do biodiesel (RINALDI, 2007). Porém, se o óleo possuir um alto teor de ácidos graxos livres e mais água, a transesterificação catalisada por ácido é mais adequada. O catalisador atua exclusivamente na cinética da reação, portanto, é comum atribuir que um aumento na sua quantidade, propiciará num processo mais rápido de obtenção. Porém, a possibilidade de reações paralelas com o catalisador, gera subprodutos diminuindo a seletividade da reação desejada. Para processos químicos, isto se torna inviável, pois subprodutos implicam em etapas de purificação e, por conseguinte, uma diminuição do rendimento do processo e aumento do custo do produto (RINALDI, 2007). Na produção do biodiesel catalisada por base, além da reação de transesterificação, pode também ocorrer a saponificação dos ésteres ou dos próprios triglicerídeos, através da hidrólise básica. A saponificação consiste na formação de sabão, isto é, sais de ácidos graxos, o que também pode ocorrer devido a um alto teor de ácidos graxos livres nos óleos. Komers et al. (2001), estudaram a composição da solução de KOH em metanol como associado na reação do óleo de colza na produção de biodiesel, segundo esses autores, os verdadeiros agentes catalisantes na transesterificação alcalina são os íons alcóxidos (alcolatos) RO-. Os cátions mais comuns são K+ ou Na+, a solução de tais eletrólitos fortes em um dado álcool pode ser obtida por três maneiras. 1) Dissolução do alcóxido K sólido (ou Na) por exemplo (CH3ONa), 2) dissolução K ou Na metálico puro ou 3) dissolução de KOH ou NaOH (todos em um dado álcool). Como descrito nas reações abaixo: Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 50 RONa (+R’OH) → RO- + Na+ (+R’OH) Na + ROH →Na+ + RO- + H2 NaOH + ROH → Na+ + RO- + H2O (+R’OH) Segundo os autores a primeira e a segunda reações são mais vantajosas, para a reação de alcoólise, pois não há contribuição de água na mistura de reação, porém o uso destas, no âmbito tecnológico é limitado devido ao elevado custo e risco na sua preparação, a terceira opção é mais utilizada na tecnologia do biodiesel. 3.4.1.1 Reação de transesterificação O termo transesterificação faz menção a uma importante classe das reações químicas orgânicas, quando um éster reage com álcool para formar um novo éster e novo álcool, esta, é denominada alcoólise. Essa reação em particular é também chamada de transesterificação porque um éster é transformado em outro através da troca dos grupos alcóxidos (BRUICE, 2006; RINALDI, 2007). A reação de transesterificação de um triglicerídeo, resultando na formação dos ésteres metílicos ou biodiesel está ilustrada na figura 10. Tanto a hidrólise de ésteres como a alcoólise são reações muito lentas, em virtude da água e do álcool serem nucleófilos pobres, como também, os ésteres possuírem muitos grupos de saídas básicos. Essas reações são sempre realizadas em laboratórios e ambas podem ser catalisadas por ácidos. A taxa de hidrólise também pode ser aumentada pelo íon hidróxido e da alcoólise pela base conjugada (RO-) de um álcool reagente (BRUICE, 2006). A transesterificação pode proceder tanto por base ou ácido, no entanto, a catálise homogênea alcalina (com hidróxido de potássio ou sódio, assim como os alcóxidos correspondentes), é um processo muito mais rápido do que a catálise ácida (FREEDMAN, 1986; FREEDMAN, 1984; CANAKCI; 1999 apud KNOTHE, 2004). O mecanismo da transesterificação catalisada por base está mostrado na figura 10, a primeira etapa (Eq. 1) consiste numa reação da base com o álcool, produzindo um alcóxido e o catalisador protonado. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 51 O ataque nucleofílico do alcóxido ao grupo carbonílico do triglicerídeo gera um intermediário tetraédrico (Eq.2), (TAFT et al. 1950; GUTHRIE, 1991 apud SCHUCHARDT, 1998), a partir de um arranjo intramolecular, o éster de alquila e o ânion correspondente do diglicerídeo são formados (Eq.3). Por último, o ânion deprotona o catalisador, regenerando as espécies ativas (Eq.4), que agora é capaz de reagir com uma segunda molécula de álcool iniciando outro ciclo catalítico. Diglicerídeos e monoglicerídeos são convertidos pelo mesmo mecanismo a uma mistura de alquil ésteres e glicerina (SCHUCHARDT, 1998). Figura 10 - Mecanismo da transesterificação de óleos vegetais catalisada por base. Equação (1) Equação (2) Equação (3) Equação (4) Fonte: Schuchardt, 1998 O processo geral consiste de uma sequência de três reações consecutivas, nas quais mono e diacilglicerídeos são formados como espécies intermediárias (figura 11). Para que Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 52 a reação de transesterificação seja completamente favorável, a proporção molar 3:1 de álcool por triacilglicerídeo é necessária. Entretanto, devido ao caráter reversível da reação, o agente transesterificante (álcool) geralmente é adicionado em excesso, para deslocar o equilíbrio e desta forma contribuir para um aumento no rendimento do éster, bem como permitir a sua separação da glicerina formada (MEHER et al., 2004; MA e HANNA et al., 1999; SCHUCHARDT et al., 1998). Figura 11 - Reações envolvidas na transesterificação de triglicerídeos. 1ª Etapa Triglicerídeo Diglicerídeo Éster Metílico Diglicerídeo Monoglicerídeo Éster Metílico Monoglicerídeo Glicerina Éster Metílico 2ª Etapa 3ª Etapa Fonte: Suarez et al., 2007 Um aspecto interessante da transesterificação de óleos vegetais é seu perfil cinético. A transesterificação de triglicerídeos não ocorre em uma única etapa; em geral, os triglicerídeos rapidamente transformam-se em diglicerídeos e monoglicerídeos. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 53 Entretanto, a conversão do monoglicerídeo em éster metílico ou etílico constitui uma etapa lenta da reação. A figura 12 ilustra o perfil cinético típico da transesterificação de um triglicerídeo em termos das concentrações de triglicerídeos, mono e diglicerídeos e biodiesel em função do tempo de reação (KNOTHE, 2005; RINALDI, 2007). Figura 12 - Perfil cinético da reação de transesterificação. Fonte: Rinaldi, 2007 adaptado de Knothe et al., 2005. 3.4.2 Biodiesel de girassol O girassol (Helianthus annus L.) é uma cultura que apresenta características favoráveis sob o ponto de vista agronômico como: ciclo curto, elevada qualidade e bom rendimento em óleo. Seus principais produtos são a ração animal e o óleo produzido de suas sementes, que além de ser amplamente utilizado na alimentação humana, pode dar origem ao biodiesel. Atualmente, a área cultivada de girassol no Brasil é cerca de 150 mil hectares, ainda é inexpressiva. No entanto, a Petrobras já tem estimulado o cultivo de girassol numa área de 35 mil hectares, entre os estados da Bahia, Sergipe e Minas Gerais, onde se encontram usinas de produção de biodiesel da referida empresa. O biodiesel de girassol vem sendo estudado por inúmeros autores como sendo uma alternativa viável. Siler-Marinkovic e Tomasevic (1998) estudaram a variação das condições (razão molar metanol: óleo, percentual de catalisador e tempo de reação) de obtenção do biodiesel de girassol in situ, através da catálise ácida via rota metílica. Os Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 54 resultados apresentados indicaram que o tempo de reação favorável é após 1 hora, a 65 °C. Porém, é possível obter um biodiesel de boa qualidade após 4 horas de reação a 30 °C (condições reacionais brandas) com catalisador ácido forte e alta razão molar, neste caso, o custo de produção é baixo. Soares et al. (2010) investigaram o efeito das mudanças nas condições reacionais de obtenção do biodiesel provenientes do nabo forrageiro, soja, girassol e mamona, através da etanólise alcalina sobre o rendimento e conversão, bem como a estabilidade térmica. Parâmetros como quantidade do catalisador, tempo e as temperaturas de reação foram avaliados. Foi observado que os rendimentos variaram entre 70 e 100% e que todos os óleos foram passíveis a reação de transesterficação, com excessão da mamona, utilizando 1% de catalisador, tempo de 4 horas a 50 °C, o nabo forrageiro foi o que apresentou o menor rendimento, este, atribuído a baixa concentração de ácido linoléico quando comparado as demais oleaginosas em estudo. Com base na análise térmica, etapas sequenciais de perda de massa foram observadas, indicando que os biocombustíveis sofreram decomposição térmica e oxidativa com a subsequente eliminação de diferentes frações de moléculas em cada etapa. De acordo com trabalho de Ferrari e Souza (2009), através dos ensaios realizados com o biodiesel de girassol obtido por rota etílica básica, foi verificado que parâmetros como: ponto de fulgor, viscosidade cinemática a 40 ºC, teor de enxofre, corrosividade ao cobre, ponto de entupimento do filtro a frio, resíduo de carbono, massa específica, índices de acidez e iodo, bem como o teor de fósforo, se enquadraram dentro das especificações estabelecidas pela ANP. No entanto, este, apresentou estabilidade oxidativa a 110 ºC em torno de 1,17 horas, ou seja, inferior a especificação vigente que é de 6,0 horas. 3.4.3 Biodiesel de mamona O Brasil é o principal país produtor da mamona, onde a planta cresce nativa com alto rendimento por hectare, embora seja o segundo maior produtor mundial de soja, o Governo Brasileiro tem promovido a indústria do biodiesel a base desta oleaginosa em virtude da oferta rentável que o mercado da mamona pode propiciar às regiões que a oferta é baixa (onde a soja não pode ser cultivada) (HAAS e FOGLIA, 2005). Além disso, ésteres alquílicos a base de óleo de mamona com o grupo hidroxila na posição 12 são de interesse, Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 55 devido as suas propriedades físicas a baixas temperaturas (KULKARNI e SAWANT, 2003; CVENGROS et al., 2006). O biodiesel de mamona possui uma alta viscosidade, característica esta inerente, ao ácido ricinoleico. Como relatado, esta propriedade se deve à hidroxila presente na cadeia carbônica, a qual induz à ligação de hidrogênio (uma ligação forte), que pode ser tanto intermolecular (entre a hidroxila e o oxigênio da carbonila de outro ácido) como intramolecular (quando ocorre uma ligação na própria molécula entre a hidroxila e a sua carbonila) (ANP apud SILVA, 2010). A viscosidade do biodiesel de mamona tornou-se um dos problemas mais evidentes do mesmo, tornando-o um dos ésteres mais viscosos, dessa forma excedendo os limites permitidos pela portaria da Agência Nacional do Petróleo (3,0 a 6,0 mm2.s-1). A alta viscosidade resulta em uma queima incompleta do biodiesel, o que provoca a formação dos acúmulos de carbono nos bicos injetores e nos anéis de pistões (BELTRÃO, 2008). Segundo a Agência Nacional do Petróleo (2001), a mistura de até 40% com biodiesel de mamona adequa-se às especificações (AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO, 2001). Para Maia (2006), a partir deste percentual a adição de biodiesel deve ser feita cautelosamente, pois uma amostra contendo 40% de biodiesel de mamona apresenta uma viscosidade cinemática igual a 5,23 mm2.s-1 (valor muito próximo ao limite) (MAIA, 2006). Embora o biodiesel de mamona possua densidade e viscosidade acima dos limites especificados, uma proporção deste biocombustível pode ser adicionada tanto ao diesel de petróleo, como a outro biodiesel oriundo de outra fonte vegetal, fazendo com que o mesmo se adeque as especificação da ANP, mantendo o baixo ponto de inflamabilidade ou fulgor (> 208 ºC), elevada estabilidade térmica e elevado número de cetano (BELTRÃO, 2008). 3.4.4 Biodiesel de soja O biodiesel de soja possui como constituinte majoritário o éster linoleato (C18:2), este biodiesel possui uma maior concentração de ésteres insaturados, os quais acarretam numa diminuição da viscosidade, pois há um enfraquecimento nas forças de dispersão entre as cadeias apolares em decorrência de uma menor área de contato e interações entre as moléculas (ANP apud SILVA, 2010). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 56 Ferrari et al. (2005) obtiveram biodiesel através da reação de transesterificação do óleo de soja neutro e etanol anidro, utilizando NaOH como catalisador. O estudo foi focado na caracterização, bem como no estudo do consumo médio deste biodiesel e das misturas biodiesel/diesel em um gerador de energia expresso em L.h-1. Para tal, os autores utilizaram combinações de biodiesel e diesel nas proporções de 0, 5, 10, 20, 40, 60, 80 e 100%. Os resultados denotaram que a adição de até 20% de biodiesel proporcionou numa diminuição do consumo de combustível, por outro lado, acima deste percentual foi observada uma elevação no consumo. Os autores referenciam em seu trabalho, o estudo realizado por Monyem e Van Gerpen (2001), no qual foi também observado que o desempenho do motor com biodiesel puro e suas misturas foi similar à observada com diesel combustível com a mesma eficiência térmica, quanto ao consumo de combustível foi mais elevado, possivelmente atribuído ao seu menor poder calorífico. O estudo desenvolvido por Doll e colaboradores (2008), comparou biocombustíveis obtidos a partir do óleo de soja, como pela sua borra através da pirólise, no qual foram focadas as seguintes propriedades físicas: densidade, viscosidade e tensão superficial, tanto do biocombustível puro como em blends. Os autores citam em seu trabalho, embasados nos resultados, que a pirólise consistia numa alternativa viável de obtenção de biocombustíveis e que este, quando obtido pela borra do óleo de soja, apresentou ser bastante similar ao diesel de petróleo no que compete às propriedades físicas supracitadas. De posse ao exposto, algumas pesquisas concernentes à síntese do biodiesel do óleo de soja podem são relatadas na literatura, em que se buscam: Otimização do processo de síntese - A partir da reação de transesterificação, pirólise ou craqueamento dos triacilglicerídeos (NOUREDDINI e ZHU, 1997; DOLL et al., 2008; SANTOS et al., 1998); Aprimoramento do biocombustível frente às especificações - Fazendo menção ao controle de qualidade, a fim de assegurar um melhor desempenho no motor (FERRARI et al., 2005); Verificar o perfil de combustíveis fósseis com a adição de biodiesel de soja como misturas binárias (OLIVEIRA et al., 2006; ALISKE et al., 2007), ou com aditivos (DOMINGOS et al., 2007) e outros; Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 57 Observar o comportamento do biodiesel mediante processo de armazenagem, estudando principalmente a sua estabilidade oxidativa, através do OSI como parâmetro de determinação da resistência relativa à oxidação (DUNN, 2005b). 3.5 ESPECIFICAÇÕES DO BIODIESEL Em função da relevância que circunda o biodiesel, bem como a sua regulamentação, o estabelecimento de padrões de qualidade para este se constitui um fator primordial. A especificação do biodiesel destina-se a garantir a sua qualidade e é pressuposto para obter um produto adequado ao uso. Assegurar um combustível de qualidade sob qualquer âmbito, garantir os direitos dos consumidores e preservar o meio ambiente são os focos principais na preocupação com as especificações do biodiesel (BIODIESEL BR, 2010). 3.5.1 Índice de acidez A conservação do óleo, gordura ou dos seus respectivos biocombustíveis é indicada pelo índice de acidez ou número de neutralização (RAMOS, 2009), o qual é definido como a massa de hidróxido de potássio necessária para neutralizar os ácidos graxos livres em 1g de amostra. Um índice de acidez elevado propicia um efeito negativo no que diz respeito à qualidade do óleo, pois uma pronunciada acidez pode catalisar reações intermoleculares nos triacilgliceróis, ao passo em que afeta a estabilidade térmica do combustível na câmara de combustão. Ressaltando também, no caso do emprego carburante do óleo, a elevada acidez livre tem ação corrosiva sobre os componentes metálicos do motor (GALVÃO, 2007). Parente (2003) relata sobre esta corrosividade (no biodiesel neutro ela é zero). Quando há uma elevada acidez este se torna corrosivo, portanto, salienta também a existência de uma correlação entre o índice de acidez e a corrosividade. Para os biocombustíveis que apresentem valores de índice de acidez expressivos, Parente indica como forma de minimizar este efeito a mistura com diesel fóssil ao nível de até 20% (PARENTE, 2003). Se o índice de acidez nos óleos ou gorduras for muito elevado, apenas uma etapa de pré-tratamento de esterificação não pode reduzir eficientemente os ácidos Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 58 graxos livres devido ao alto teor de água produzida durante a reação. Neste caso, uma mistura de álcool e ácido sulfúrico pode ser adicionada aos óleos ou gorduras três vezes (três etapas de pré-esterificação) (LEUNG, 2010). O monitoramento da acidez no biodiesel, portanto, é de grande relevância durante a estocagem, na qual a alteração dos valores neste período pode significar a presença de água. O método recomendado pela EN 14214 é o EN 14104, o qual utiliza uma solução alcoólica de KOH como titulante e fenolftaleína como indicador (LOBO, 2009). No tocante ao método potenciométrico a ser utilizado, Mahajan et al. (2006) menciona que à primeira vista o ASTM D 664, possa ser a escolha mais sensata, por ser este um método, que possui algumas vantagens, como ser útil na titulação de amostras coloridas, em que as mudanças de cor do indicador não podem ser visualizadas. Apesar de ser amplamente utilizado para as avaliações dos índices de acidez total e forte, bem como, possuir repetibilidade aceitável, ele apresenta uma reprodutibilidade medíocre, tal inconveniente é atribuído a possível variação dos eletrodos, salientando também que este método não faz menção sobre precisão. Nesse âmbito, os autores desenvolveram um estudo focando a validação de outro método potenciométrico, o ASTM D974, como método de medida do índice de acidez tanto de biodiesel como óleos vegetais. O estudo quantifica a precisão e a repetibilidade do método a respeito da titulação de ácidos graxos em ésteres de ácidos graxos, em vez de confirmar as deficiências do ASTM D664. O método ASTM D974 está embasado na titulação em sistema não-aquoso e utiliza uma solução de KOH em isopropanol como titulante e p-naftolbenzeína como indicador, a mudança desse indicador de laranja para verde no ponto final pode ser vista até mesmo em amostras coloridas. O estudo apresentou boa precisão e repetibilidade em todas as indicações que a reprodutibilidade é aceitável. De acordo com Knothe (2006b), trata-se de um método mais indicado para análise de biodiesel. Os métodos adotados pela Resolução n° 07/08 são os mesmos indicados pelas normas americana e européia, além do método de titulação potenciométrica ABNT NBR 14448. Todas as normas descritas acima estabeleceram limites máximos de acidez de 0,5 mg de KOH.g-1 (KNOTHE, 2006b; MAHAJAN, 2006; LOBO, 2009). Reda e colaboradores (2007b) elaboraram um método de determinação do índice de acidez em biodiesel etílico de milho, bem como, de outras fontes por ressonância magnética nuclear protônica. O método proposto estava embasado na correlação linear entre os prótons olefínicos e alifáticos e prótons vinílicos. Os resultados apresentaram boa Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 59 correlação com valores determinados pelo método oficial. Para Lobo (2009), no entanto, para este método, deve-se levar em consideração o custo de aquisição e manutenção do equipamento. Como relatado no estudo realizado por Knothe (2006c) referenciando o trabalho de Canakci et al. (1995), o índice de acidez e a viscosidade cinemática, no entanto, são dois métodos fáceis para uma rápida avaliação da qualidade do biodiesel e esses parâmetros aumentam continuamente com deterioração da qualidade dos combustíveis (CANAKCI, 1995 apud KNOTHE, 2006c). 3.5.2 Índice de iodo O índice de iodo consiste numa importante determinação analítica para especialistas em óleos e gorduras, bem como em combustíveis oriundos dessas fontes, pois está intrinsecamente relacionado à estrutura das mesmas. Knothe (2002) denomina este índice como um índice de estrutura, o qual corresponde à medida de insaturação total dessas substâncias. Apesar de não ser considerado um índice de qualidade por está ancorado a parâmetros relacionados a processamentos, em alguns casos, os óleos ou gorduras são submetidos a reações, e os produtos resultantes justificam a inclusão de índices de qualidade adicional. É o caso da produção de ésteres metílicos a partir de óleos vegetais ou gorduras para uso de biodiesel, estes critérios adicionais são o teor de glicerina total e livre (glicerina livre decorrente da clivagem das cadeias dos ácidos graxos, glicerina total, incluindo glicerina ligada na forma de acilglicerídeos) (KNOTHE, 2002). O índice de iodo é a medida do grau de insaturação dos ácidos graxos presentes no óleo, gordura ou no biodiesel, é expresso em termos de centigramas de iodo absorvido por grama de amostra (% de iodo absorvido) independentemente se a reação tiver sido efetuada com iodo ou outro halogênio (F, Cl, Br e I). Sob determinadas condições, o iodo pode ser quantitativamente introduzido nas duplas ligações dos ácidos graxos insaturados e dos triglicerídeos (MENDONÇA, 2008). Como ilustrado na figura 13, o ácido oléico é submetido à reação iodométrica ocorrendo a clivagem na ligação , com a subsequente adição do halogênio, e, por conseguinte, a determinação da quantidade de halogênio que reagiu poderá ser efetuada. O método proposto para determinação do índice de iodo em biodiesel é padronizado pela EN 14111. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 60 Figura 13 - Esquema da reação iodométrica do ácido oléico, mostrando a clivagem da ligação e a titulação do iodo em excesso. H H H H CH3(CH2)7C = C(CH2)7COOH + I2 CH3(CH2)7C - C(CH2)7COOH I2 + 2Na2S2O3 2NaI + Na2S4O6 I I Como o I2 é pouco reativo, é comum a adição de ICl e IBr. Portanto, antes da titulação do excesso de halogênio, deve-se adicionar KI para fornecer a quantidade equivalente de iodo do ICl ou IBr, como ilustrado na figura 14. Figura 14 - Reações químicas representativas para a adição dos reagentes de Wijs (ICl) e de Hanus (IBr) para formação de I2. ICl + KI I2 + KCl IBr + KI I2 + KBr O I2 proveniente do excesso de ICl é titulado com tiossulfato de sódio (Na2S2O3). Na literatura há dois métodos de determinação do índice de iodo, um utiliza ICl (Wijs) e outro IBr (Hanus). O método de Wijs é o mais utilizado, pois é mais exato, enquanto o método de Hanus apresenta resultados entre 2 a 5% mais baixos do que o de Wijs. Reda e colaboradores (2007b) mostraram que é possível calcular o índice de iodo e a massa molar média, ao estudarem amostras de biodiesel etílico de algodão, bem como de outras amostras de biodiesel fazendo uso da espectroscopia de ressonância magnética nuclear com boa correlação, se comparado ao método oficial. Apesar de rápido e sensível, o custo desse tipo de análise e manutenção do equipamento torna-se um empecilho para a aplicação da técnica. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 61 O número de insaturações não tem apenas efeito nos valores de massa específica e viscosidade no biodiesel, mas também é de grande importância na estabilidade oxidativa, uma vez que a presença de oxigênio em condições favorecidas de luz e calor se torna uma agravante para controle de qualidade do combustível. O valor máximo aceito pela norma EN 14214 é de 120 g I2.(100g)-1. A Resolução n° 07/2008 ANP solicita apenas o registro do resultado da análise. 3.5.3 Massa específica De acordo com Silva et al. (2005), a massa específica ou densidade absoluta é uma característica própria de cada material, portanto, está diretamente relacionada com a estrutura molecular das suas moléculas. Quanto maior o comprimento das cadeias carbônicas do alquiléster, maior será o valor desta propriedade, no entanto, este valor decrescerá com o número de insaturações presentes na molécula (LOBO, 2009; SILVA, 2005). A massa específica depende da composição relativa dos ésteres graxos e também da presença de impurezas, como por exemplo, o álcool ou substâncias adulterantes (TAT e GERPEN, 2000). De acordo com Menezes et al. (2006) é uma importante propriedade para o sistema de injeção, a partir dela, a bomba e os injetores são ajustados para fornecer um volume prédeterminado de combustível, o parâmetro determinante na câmara de combustão sendo a razão entre as massas de ar/combustível. Para tanto, o estabelecimento de uma massa específica mínima é justificada pela necessidade de se obter o máximo de energia para o motor (MENEZES, 2006). Comparado ao diesel mineral, o biodiesel apresenta maior massa específica. Dentre os padrões de qualidade, a norma ASTM não considera relevante a densidade do biodiesel como parâmetro de qualidade. Tanto para a resolução brasileira, como para a norma européia, os métodos de análise da massa específica do biodiesel são os mesmos comumente aplicados aos derivados de petróleo (LOBO, 2009). A norma européia estabelece valores de densidade entre 860 a 900 kg.m-3, com determinação através dos métodos EN ISO 3675, que utiliza hidrômetros de vidro, e EN ISO 12185, que emprega densímetros digitais. A Resolução n° 07/08, fixa uma faixa de valores de densidade entre 850 a 900 kg.m-3. Nesta resolução, além dos métodos indicados Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 62 pela norma européia, são estabelecidos os métodos ASTM D1298 e NBR 7148 (hidrômetros de vidro) e os métodos ASTM D4052 e NBR 14065 (densímetros digitais). A resolução brasileira estabelece ainda que o biodiesel produzido tenha um prazo máximo de um mês, a contar da data de certificação, para ser comercializado. Passado este prazo, deve ser realizada uma nova análise da massa específica a 20 ºC, onde, havendo diferença inferior a 3,0 kg.m-3 em relação ao valor do certificado, deverão ser novamente analisados o teor de água, o índice de acidez e a estabilidade oxidativa a 110 ºC. Caso a diferença seja superior a 3,0 kg.m-3, deverão ser reavaliados todos os parâmetros de qualidade da resolução (LOBO, 2009). 3.5.4 Viscosidade cinemática A viscosidade cinemática é definida como a resistência à vazão que um líquido apresenta quando submetido à ação da gravidade, dessa forma indica sua resistência ao escoamento e o seu inverso é a fluidez (FONTOURA, 2008; RINALDI, 2007). Na prática, é medido o tempo de escoamento de um determinado volume de líquido através de um viscosímetro capilar, o produto entre a medida de tempo de fluxo e a constante de calibração do tubo viscosímetro, é o valor referente a viscosidade cinemática (ASTM D 445 apud FONTOURA, 2008). Segundo Knothe e Steidley (2005), a viscosidade cinemática, constitui-se de uma das mais importantes propriedades de um combustível. A viscosidade cinemática possui influência no processo de queima na câmara de combustão do motor, portanto, reside neste fato, o interesse em transesterificar óleos vegetais ou gorduras em biodiesel, uma vez que a redução da viscosidade cinemática de alguns compostos evita problemas operacionais, tais como depósitos no motor. A alta viscosidade ocasiona heterogeneidade na combustão do biodiesel, devido à diminuição da eficiência de atomização na câmara de combustão, ocasionando a deposição de resíduos nas partes internas do motor (LOBO, 2009). De acordo com Korus (1982), um dos resultados óbvios da formação de polímeros é o aumento da viscosidade em óleos e seus respectivos combustíveis (KORUS, 1982 apud JAIN e SHARMA, 2010). Um estudo desenvolvido por Knothe e Steidley (2005) teve por intuito a obtenção de um banco de dados da viscosidade cinemática (em condições idênticas a 40 ºC) que pudesse ser utilizado na elucidação da influência da estrutura de compostos graxos, tais Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 63 como: comprimento da cadeia (variando os fragmentos de ácidos e álcoois de ésteres) bem como, a natureza e configuração das duplas ligações. Para tal, os pesquisadores fizeram uso de ésteres graxos saturados e os insaturados mais comuns (com configurações cis e trans), bem como os seus triglicerídeos correspondentes e fragmentos de álcoois graxos. Foi observado que a viscosidade cinemática aumenta com o comprimento da cadeia carbônica (número de carbonos) e com o grau de saturação, sofrendo influência da configuração das ligações duplas (ligações do tipo cis proporcionam uma diminuição quando comparada a trans). No que compete a compostos hidroxilados, foi também observado que introdução de um grupo OH aumentava significativamente o valor da viscosidade para o ricinoleato de metila. Os autores mencionam que esta consideração é importante para a produção de biodiesel de mamona, em virtude de ser um combustível que em sua forma pura excede as especificações dos padrões de biodiesel devido ao alto teor de ácido ricinoléico no óleo de mamona. Um segundo grupo OH também proporcionou um aumento significativo na viscosidade cinemática quando comparados os dados para os álcoois oléico (C18H36O) e ricinoleico (C18H36O2). A reversão no efeito sobre a viscosidade cinemática da fração de ácidos graxos versus porção de álcool foi parcialmente observada, a qual podendo ser atribuída a diferenças nas forças intermoleculares (variando com o comprimento da cadeia). Uma reversão no efeito sobre a viscosidade de fragmentos de ácido carboxílico versus fragmentos de álcool também foi observada para compostos C10 comparados a compostos C18 insaturados, desta forma, foi estabelecida uma sequencia do efeito dos fragmentos oxigenados sobre a viscosidade cinemática, a que se segue: COOH ~ C-OH > COOHCH3 ~ C=O > C-O-C > sem oxigênio. A ramificação tem um efeito menor sobre a viscosidade cinemática do que a presença e a natureza das duplas ligações. A viscosidade de ésteres ramificados não diferiu significativamente daquela aos seus análogos de cadeia linear (com o mesmo número de carbonos). Segundo Rinaldi et al. (2007), existem várias maneiras de se determinar a viscosidade, sendo que a mais utilizada é a medida de um fluxo capilar usando um viscosímetro de Ostwald, o sistema está ilustrado na Figura 15, a amostra deve estar numa quantidade suficiente para encher até a metade do bulbo do viscosímetro, como mostrado em (C), em seguida é preso em garra, por sucção a amostra é elevada para o bulbo (A), é Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 64 deixado que a amostra escoe livremente, o tempo é cronometrado entre as marcas (a) e (b) e a medida realizada. Os sabões residuais, bem como os glicerídeos não reagidos (mono-, di- e triglicerídeos) e os produtos da degradação oxidativa do biodiesel, aumentam a viscosidade do biodiesel. Estes contaminantes podem, portanto, ser monitorados indiretamente através da determinação da viscosidade cinemática a 40 ºC. Figura 15 - Viscosímetro de Ostwald. A a b B C Fonte: Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina, 2010 3.5.5 Ponto de fulgor O ponto de fulgor é definido conforme a ASTM D-93, como uma medida da temperatura a qual, um combustível deve ser aquecido de modo que uma mistura de vapor e ar (acima do combustível) possa ser inflamada (BAJPAI e TYAGI, 2006). Para o biodiesel, os valores de ponto de fulgor são, consideravelmente, mais elevados (normalmente a partir de 170 °C) quando comparado com o diesel fóssil, cujo ponto de fulgor mínimo pode ser tão baixo quanto a 38 °C (RESOLUÇÃO ANP N° 42, 2010), porém mínimas quantidades de álcool adicionadas ao biodiesel ocasionam um decréscimo significativo neste valor (BIOMASS LOGISTICS TECHNOLOGY apud LOBO, 2009). Este comportamento torna o ponto de fulgor um parâmetro relevante no tocante ao armazenamento e transporte, principalmente quando a reação de Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 65 transesterificação for conduzida com metanol que, além de altamente inflamável, apresenta elevada toxidez. Boog et al. (2010), utilizaram em seu trabalho o ponto de fulgor como análise quantitativa de álcool residual em amostras de biodiesel etílico de milho, soja e girassol, bem como, biodiesel metílico de gordura bovina, no estudo foi observado uma correlação direta entre estes parâmetros, portanto podendo ser utilizado diretamente para determinar o teor de álcool residual. 3.6 ESTABILIDADE DE ARMAZENAMENTO Durante as duas últimas décadas, a pesquisa de combustíveis alternativos tem-se centrado sobre a possível utilização de ésteres alquílicos (metílicos especialmente) oriundos de óleos graxos renováveis. As vias da reação de degradação para os ésteres metílicos derivados de óleos naturais são determinados pela insaturação olefínica na cadeia dos ácidos graxos (FORMO, 1979 apud WAYNICK, 2005). A cadeia dos ácidos graxos não é alterada durante o processo químico pelo qual os óleos graxos são transesterificados em ésteres alquílicos (MARCH, 1992 apud WAYNICK, 2005). Portanto, a química de degradação do biodiesel será a mesma dos óleos graxos os quais foram derivados. Embora as propriedades de estabilidade química do biodiesel tenha sido investigadas por apenas cerca de 20 anos, as propriedades de estabilidade química de óleos graxos tem sido objeto de investigação por 80 anos. Um dos principais critérios para a qualidade de um biocombustível é a sua estabilidade de armazenamento. Óleos vegetais tendem especialmente a deteriorar-se devido às reações hidrolíticas e oxidativas, o grau de insaturação os tornam suscetíveis a polimerização oxidativa e / ou térmica, que pode levar à formação de produtos insolúveis que causam problemas no sistema de combustível, especialmente na bomba injeção (MITTELBACH, 2001). A estabilidade de armazenamento é geralmente definida como a resistência relativa de um combustível líquido a mudanças físicas e químicas causadas pela sua interação com o ambiente (WESTBROOK, 2003 apud DUNN, 2005). Embora suficientemente promissor, o biodiesel obtido por transesterificação é suscetível ao processo de oxidação (MOSER, 2009) quando exposto ao ar, pois os óleos vegetais utilizados como matérias-primas contêm compostos insaturados, os quais estão Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 66 propensos a reações de oxidação que se processam a temperatura ambiente, diferentemente dos óleos derivados do petróleo, que são estáveis à temperatura de destilação, mesmo em excesso de oxigênio (RAMOS, 2000). O perfil de ácidos graxos nos óleos e gorduras propicia no desenvolvimento da rancidez oxidativa, devido à quantidade de insaturações presente no ácido graxo, principalmente os ácidos oléico (C18:1), linoléico (C18:2) e linolênico (C18:3) (ROBYE et al., 1994 apud FERRARI, 2009). A taxa de autoxidação depende do número e da localização das ligações duplas de metilenos interrompidos (MOSER, 2009). A rancidez oxidativa afeta a qualidade do combustível em resultado de um longo período de estocagem. Portanto, uma legítima preocupação no que diz respeito ao monitoramento da qualidade do mesmo tem sido direcionada aos efeitos da oxidação. Dessa forma, manter a qualidade do biodiesel e suas misturas com combustíveis destilados do petróleo, durante um longo período de estocagem é um consenso entre produtores, fornecedores e usuários de combustível (STAVINOHA e HOWELL, 1999 apud FERRARI, 2009). O biodiesel por ser sensível à luz está sujeito à degradação por foto-oxidação. Este tipo de oxidação é um mecanismo que envolve a adição direta de oxigênio singlete (1O2) aos ácidos graxos insaturados. O oxigênio singlete reage diretamente com as duplas ligações presentes no óleo, produzindo hidroperóxidos conjugados e não-conjugados (FERRARI, 2009). De acordo com Moser (2009), a autoxidação de lipídeos, incluindo o biodiesel, produz radicais livres através da abstração do hidrogênio na presença de vários iniciadores tais como: luz, calor, peróxidos, hidroperóxidos e metais de transição, como ilustrado na figura 16. Esses radicais reagem exotermicamente com o oxigênio molecular para produzir peróxidos, os quais reagem com lipídeos não-oxidados para produzir radicais livres adicionais (FRANKEL, 2005 apud MOSER, 2009). Geralmente, a etapa limitante na autoxidação dos lipídeos é a abstração do hidrogênio. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 67 Figura 16 - Mecanismo simplificado da autoxidação inicial de um lipídeo. Fonte: Moser, 2009. Para Stavinoha e Howell (1999), o monitoramento dos efeitos da degradação oxidativa sobre a qualidade do biodiesel (durante o armazenamento a longo prazo) representa uma preocupação legítima. Portanto, a avaliação da qualidade do biodiesel em conformidade às normas para combustível, tais como a especificação ASTM D6751 (ASTM, 2003), é rigorosa e possui tempo dispendioso. A oxidação do biodiesel em condições aceleradas (com temperatura elevada e purga com ar seco ou oxigênio) aumenta a viscosidade e os índices de acidez e de peróxido (DUNN, 2002; MONYEM et al., 2000; THOMPSON et al., 1998; BONDIOLI et al., 1995; DU PLESSIS et al., 1985 apud DUNN, 2006). Tanto a viscosidade, como o índice de acidez possuem limites máximos fixados na D6751. Apesar do índice de peróxido não ser listado, o aumento da concentração de hidroperóxidos aumenta o número de cetano (um parâmetro que é listado na especificação ASTM D6751). O aumento do índice de peróxido pode reduzir o tempo de atraso de ignição do combustível (VAN GERPER, 1996; CLOTHIER et al., 1993 apud DUNN, 2006). No entanto, a extensa degradação oxidativa causa decomposição dos hidroperóxidos e eventualmente a diminuição dos índices de peróxido e cetano, levando a um aumento do tempo de atraso de ignição (DUNN, 2002; MONYEM et al., 2000; GAN et al., 1995; MIYASHITA e TAKAGI, 1988 apud DUNN, 2006). Para tal, há necessidade de Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 68 desenvolver métodos analíticos para o monitoramento rápido e preciso da qualidade do biodiesel em relação aos efeitos da degradação oxidativa durante o armazenamento. Um projeto nomeado BIOSTAB, patrocinado pela European Commission, iniciado e finalizado em março de 2001 e 2003, respectivamente, foi desenvolvido com o intuito de estabelecer critérios e procedimentos analíticos para determinar a estabilidade do biodiesel, em condições reais, bem como, compreender a influência das condições de armazenamento sobre a qualidade deste, definir um nível mínimo de antioxidantes sendo eles naturais ou sintéticos, e por fim, determinar os efeitos da estabilidade do biodiesel durante o uso como combustível automotivo e de aquecimento (BONDIOLI et al. 2002; MITTELBACH e SCHOBER, 2003; PRANKL, 2002; LACOSTE e LAGARDERE, 2003 apud DUNN, 2006). O método padrão unificado adotado nos estados da União Européia foi baseado na análise do período de indução oxidativo a 110 °C pelo método Rancimat. É importante salientar que os estudos do BIOSTAB foram realizados em biodiesel cuja matéria-prima possuía um baixo teor de ésteres metílicos poliinsaturados (óleo de canola, óleo de cozinha usado, etc.). Dunn e Knothe (2003), Canakci et al. (1999) recomendaram em seus trabalhos uma temperatura do bloco de aquecimento inferior a 60 °C para medida do período de indução pelo OSI em análises de biodiesel de soja, para evitar a rápida degradação a altas temperaturas. 3.6.1 Reação de oxidação A reação de oxidação consiste em um processo multi-etapas onde os produtos primários: hidroperóxidos (oriundos da oxidação dos ácidos graxos poli-insaturados) e dienos conjugados (pelo deslocamento das duplas ligações dos hidroperóxidos) são decompostos e interagem quimicamente com outros para formar inúmeros produtos secundários de oxidação (WAYNICK, 2005). Os lipídeos são constituídos por uma mistura de mono, di e triglicerídeos, ácidos graxos livres, glicolipídeos, fosfolipídeos, esteróis e outras substâncias, a maior parte dessas substâncias é passível ao processo de oxidação em diferentes temperaturas (BERSET, 1996 apud RAMALHO, 2006). Estes podem sofrer oxidação por processos distintos como: reações hidrolíticas (catalisadas pelas enzimas lipase ou pela ação de calor e umidade), oxidação enzimática Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 69 (quando as enzimas lipoxigenases atuam sobre os ácidos graxos insaturados), fotoxidação (através da radiação UV em presença de fotossensibilizadores) e por fim autoxidação. Segundo Berger et al. (1995), o processo de autoxidação é o principal mecanismo de oxidação de óleos e gorduras (BERGER, 1995 apud RAMALHO, 2006). Formo et al. (1979) e Gunstone (1995) mencionam que os primeiros trabalhos sobre a química de oxidação dos óleos graxos, postularam um ataque direto do oxigênio aos carbonos insaturados (FORMO, 1979; GUNSTONE; 1995 apud WAYNICK, 2005). No entanto, esta abordagem não conseguiu explicar certas observações em trabalhos posteriores. Por volta de 1942, foi proposta por Farmer e colaboradores uma seqüência de reações inter-relacionadas para explicar o processo da autoxidação dos lipídeos (FARMER, 1942 apud RAMALHO, 2006). Em meados da década de 1950, a atual teoria da reação em cadeia da peroxidação foi firmemente estabelecida. A peroxidação ocorre por um conjunto de reações classificadas como: iniciação, propagação, e terminação (FORMO, 1979 apud WAYNICK, 2005) como ilustrada na figura 17: Figura 17 - Esquema geral de mecanismo de oxidação lipídica. RH – ácidos graxos insaturados; R• - radical livre; ROO• - radical peróxido, e ROOH – hidroperóxido. Iniciação: RH + I R + IH Propagação: R + O2 ROO ROO + RH ROOH + R Término: ROO + R ROOR ROO + ROO ROOR + O2 Produtos estáveis R + R R-R Conforme ilustrado, a primeira etapa denominada iniciação, envolve a abstração de um hidrogênio de um átomo do carbono alílico na molécula do ácido graxo, em condições Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 70 favorecidas de luz e calor, para produzir um radical livre à base de carbono (TOLEDO, 1985 apud RAMALHO, 2006). Se o oxigênio diatômico estiver presente, o radical livre formado está prontamente suscetível ao ataque deste (RAMALHO, 2006). A formação de um radical peróxido (produto primário de oxidação) é extremamente rápida (COWAN, 1979; COSGROVE, 1987 apud WAYNICK, 2005). Embora os radicais peróxido livres, não serem tão reativos quanto aqueles proveniente do carbono, estes são suficientemente reativos para abstrair rapidamente um átomo de hidrogênio de um carbono, para formar outro radical e um hidroperóxido (ROOH). O novo radical livre de carbono pode reagir com o oxigênio diatômico para continuar o ciclo de propagação. A estrutura dos radicais formados depende da natureza dos ácidos graxos presentes. Os radicais livres formados atuam como propagadores da reação, resultando em um processo autocatalítico (TOLEDO, 1985 apud RAMALHO, 2006). Essa reação em cadeia cessa quando dois radicais livres reagem entre si numa etapa de encerramento com a formação de produtos estáveis (produtos secundários de oxidação). Durante o período inicial de oxidação, a concentração ROOH continua muito baixa até que tenha decorrido um intervalo de tempo. Esse intervalo é chamado período de indução e sua determinação se dá pela estabilidade oxidativa de óleos graxos ou biodiesel, bem como, pelas condições sob as quais é forçado. Uma vez que o período de indução é alcançado, o nível de ROOH aumenta rapidamente, indicando o início do processo de oxidação global (WAYNICK, 2005). De acordo com Cowan et al. (1979) e Formo et al. (1979) a estrutura de insaturação dos ácidos graxos insaturados deve ser a primeira compreendida e, por conseguinte a química de oxidação. Na maioria dos óleos vegetais que ocorrem naturalmente (incluindo linhaça ou linho, cártamo, girassol, milho, algodão, canola, colza e soja), a insaturação olefínica múltipla ocorre em uma configuração metilênica interrompida. Essa estrutura está ilustrada na figura 18 para o ácido linolênico e é contrastada com seu isômero, o qual possui um arranjo de insaturações conjugadas. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 71 Figura 18 - Estrutura para o ácido linolênico (C18:3) e seu isômero com arranjo de insaturações conjugadas. Metileno Interrompido Conjugado Fonte: Waynick, 2005 Na figura é observado que um arranjo conjugado de insaturações olefínicas múltiplas é termodinamicamente estável, devido à estabilização parcial transmitida pela deslocalização dos elétrons (CAREY, 1987 apud WAYNICK, 2005). Entretanto, o rearranjo espontâneo de uma configuração metilênica interrompida, para uma configuração conjugada não ocorre a baixas temperaturas devido à alta energia de ativação associada ao rompimento e a reforma de ligações (COWAN, 1954 apud WAYNICK, 2005). Os hidrogênios mais lábeis são geralmente os que estão envolvidos no processo de peroxidação, principalmente aqueles ligados a carbonos alílicos, são facilmente removidos (FORMO et al., 1979 apud WAYNICK, 2005). Em virtude à estabilidade de ressonância transmitida pelo sistema de elétrons no grupo olefínico adjacente, carbonos que são simultaneamente alílicos a dois grupos olefínicos serão extremamente suscetíveis a abstração do hidrogênio. Os grupos metileno que interrompem as insaturações (olefínicas múltiplas) nos ácidos graxos poliinsaturados em muitos óleos vegetais, são exemplos de carbonos que são bis-alílicos, portanto, muito mais suscetíveis ao início da peroxidação. O esquema da figura 19, ilustra os dois carbonos mais suscetíveis à reação de peroxidação (COSGROVE et al., 1987; KNOTHE e DUNN, 2003 apud WAYNICK, 2005), bem como, os radicais livres formados e os hidroperóxidos resultante, fazendo uso de uma parte da cadeia do ácido linolênico (C18:3) como substrato. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 72 Figura 19 - Esquema representativo da suscetibilidade dos hidrogênios para uma porção do ácido linolênico (C18:3) como substrato e sua probabilidade de ocorrência. Fonte: Waynick, 2005 Na figura ilustrada acima, pode-se observar que os hidroperóxidos, possuem tanto o mesmo nível de insaturação olefínica, como a cadeia de ácidos graxos principal, embora com uma relevante distinção: dois-terços dos hidroperóxidos totais possíveis possuem poliinsaturações que não são inteiramente metilênica interrompida, mas que agora contêm um dieno conjugado (GUNSTONE, 1984 apud WAYNICK, 2005). O mesmo ocorrerá quando uma cadeia do ácido linoléico (C18:2) é oxidada. Estudos têm mostrado que no caso da oxidação do ácido linolênico (C18:3), os dois hidroperóxidos formados pelo ataque direto do oxigênio sobre os carbonos metilênicos contribuem com uma percentagem insignificante para a distribuição total das seis estruturas teóricas (GUNSTONE, 1984 apud WAYNICK, 2005). Essa relevante distinção é frequentemente omitida em trabalhos de pesquisa, os quais discutem as tendências químicas que ocorrem em óleos oxidados. Com o intuito de minimizar a autoxidação em óleos e combustíveis derivados destes, Mukai et al. (1993) denotaram a necessidade de diminuir a formação de radicais livres por intermédio de antioxidantes, os quais, em pequenas quantidades, atuem Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 73 interferindo no processo de oxidação de lipídios (MUKAI et al., 1993 apud RAMALHO, 2006). 3.6.1.1 Antioxidantes Antioxidantes são substâncias químicas que inibem o processo oxidativo, são constituídos por um conjunto heterogêneo de substâncias formadas por vitaminas, minerais, pigmentos naturais e outros compostos vegetais e, ainda enzimáticos, conhecidos como antioxidantes naturais, ou ainda aqueles formulados pela indústria: os antioxidantes artificiais, cujo intuito é de bloquear o efeito danoso dos radicais livres. Segundo Bailey (1996), os antioxidantes podem ser classificados em primários, sinergistas, removedores de oxigênio, biológicos, agentes quelantes e antioxidantes mistos (BAILEY, 1996 apud RAMALHO, 2006). Os antioxidantes primários são compostos fenólicos que promovem a remoção ou inativação dos radicais livres formados durante a iniciação ou propagação da reação, através da doação de átomos de hidrogênio a estas moléculas, interrompendo a reação em cadeia (SIMIC e JAVANOVIC, 1994 apud RAMALHO, 2006). Frankel (1980) apresentou o mecanismo de ação, o qual está representado na figura 20. Figura 20 - Mecanismo de atuação dos antioxidantes primários, onde ROO e R - radicais livres, AH – antioxidante com um hidrogênio ativo e A - radical inerte. ROO● + AH ROOH + A● R● + AH RH + A● A Produtos estáveis Fonte: Ramalho, 2006. O átomo de hidrogênio ativo do antioxidante é abstraído pelos radicais livres R• e ROO• com maior facilidade que os hidrogênios alílicos das moléculas insaturadas. Dessa forma, espécies inativas são formadas para a reação em cadeia e um radical inerte (A•) Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 74 procedente do antioxidante. Este radical, estabilizado por ressonância, não tem a capacidade de iniciar ou propagar as reações oxidativas. Na literatura estão relatados diversos trabalhos, que fazem uso de antioxidantes tanto naturais como sintéticos, bem como, blends compostas por biodiesel/diesel e biodiesel/biodiesel com o intuito de aumentar a estabilidade do biodiesel durante a sua armazenagem. Os antioxidantes ocorrem naturalmente como tocoferóis, os quais previnem a oxidação dos óleos vegetais, porém a quantidade intrínseca destes, não se torna suficiente para assegurar uma maior estabilidade oxidativa durante a estocagem. Como a maior parte das plantas de produção de biodiesel, opera sem destilação do produto final, implica que os antioxidantes naturais permanecem no produto. Portanto, durante a destilação do biodiesel, a maioria dos tocoferóis é eliminada no resíduo de destilação, o que requer a adição de antioxidantes para garantir que o combustível possua uma considerável estabilidade oxidativa. Nesta pesquisa, o biodiesel de mamona foi utilizado como antioxidante natural removedor de oxigênio, atuando na captura do oxigênio presente no meio através de reações químicas estáveis, tornando-os consequentemente, indisponíveis para atuarem como propagadores da autoxidação. 3.7 METODOLOGIAS PARA TESTE DE ESTABILIDADE Na literatura são descritos alguns métodos destinados a determinar ou estimar a resistência à oxidação de uma amostra. Dentre esses métodos, citam-se o de OSI (Oil Stability Index), indicado para óleos vegetais, o método de estufa, o AOM (Active Oxygen Method), o de índices de peróxido e anisidina (teor de aldeídos), dentre outros. Porém, o método padrão para determinação da estabilidade oxidativa adotada pela Resolução n° 7 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, utiliza o teste Rancimat, e estabelece um período de indução mínimo de 6 horas a 110 °C. No entanto, o inconveniente do método reside no fato de que o tempo de análise (dependendo da amostra) pode ser demasiadamente extenso. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 75 3.7.1 Teste de forno Schaal Um dos métodos mais antigos é o teste do forno de Schaal (JOYNER, 1933; SHERWIN, 1970 apud WAYNICK 2005). Nesse procedimento, um forno de convecção é mantido a uma temperatura específica e as amostras de óleos são armazenadas (abertas) dentro do forno. O ponto final do teste é inicialmente detectado pela análise organoléptica (aroma e sabor). Modificações posteriores desse procedimento usam outros parâmetros químicos, tais como um rápido aumento no índice de peróxido para determinar o ponto final. Outro teste de armazenamento de aquecimento em forno utiliza o peso ganho de uma amostra pré-pesada como parâmetro determinante (MOSER, 1966; CHANINE, 1974 apud WAYNICK, 2005). O início de um rápido ganho de peso é interpretado como a incorporação de oxigênio no óleo. 3.7.2 Método do oxigênio ativo O Active Oxygen Method, AOM (Método AOCS Cd 12-57) tem sido utilizado há sessenta anos (RIEMENSCHNEIDER, 1945 apud WAYNICK, 2005) com várias modificações (MORRIS, 1949; SHERWIN, 1967; SHERVIN, 1970; LAUBLI, 1986; HILL, 1995 apud WAYNICK, 2005). Este procedimento de teste consiste no aquecimento de uma amostra de óleo a uma temperatura pré-determinada enquanto ar seco é borbulhado a uma taxa definida. O tempo (geralmente em horas) necessário para que o índice de peróxido específico seja alcançado é considerado o parâmetro de medida. Um rápido aumento do índice de peróxido é usado na maioria das vezes como fator determinante para o ponto final. Um método semelhante (ASTM D2274) foi desenvolvido pela indústria de combustíveis derivados do petróleo, o qual utiliza filtração e a medida gravimétrica para posterior determinação do período de oxidação dos insolúveis produzidos quando o combustível é aquecido e oxigênio é borbulhado através da amostra (normalmente 16 horas a 95 °C). Um teste oxidativo menos severo é o ASTM D4625, no qual a amostra em um frasco ventilado é armazenada a 43 °C por 13 semanas ou mais. O combustível resultante é filtrado para medir os insolúveis totais como uma indicação da instabilidade do combustível. O método descrito pela ASTM D525 é um teste de bomba pressurizada que foi desenvolvido para medir a estabilidade à oxidação da gasolina e tem sido utilizado para Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 76 biodiesel (STAVINOHA e HOWELL, 1999; BONDIOLI et al., 2002 apud WAYNICK, 2005). 3.7.3 Índice de estabilidade oxidativa O Oxidative Stability Index (OSI) tornou-se comumente utilizado na Europa. De acordo com este método, o biodiesel deve cumprir um período de indução (PI) de pelo menos 6 horas quando testado a 110 °C (BIOSTAB, 2003). O equipamento Metrohm Rancimat é o mais utilizado para medir o OSI, portanto os termos "Rancimat" e "OSI" são frequentemente utilizados como sinônimos na literatura aberta quando se refere ao método de ensaio. OSI tem sido utilizado em programas experimentais e envolve a passagem de ar através de uma amostra aquecida de óleo ou ésteres graxos, como ilustrado na figura 21 (HILL, 1995; BONDIOLI, 1995; MITTELBACH, 2001 apud WAYNICK, 2005). O ar passa pela amostra e entra no tubo contendo água, onde a condutividade é monitorada. Um aumento acentuado na condutividade é interpretado como indicativo da formação de ácidos carboxílicos de cadeia curta solúveis em água, ou seja, produtos secundários de oxidação. Estudos mostraram que uma das espécies ácidas primárias formadas no teste OSI/Rancimat é o ácido fórmico. De acordo com deMan et al. (1987), um mecanismo químico foi proposto para explicar como os hidroperóxidos se decompõem para formar ácido fórmico. Durante o teste OSI, a quimiluminescência tem sido citada na literatura como uma abordagem alternativa para monitorar a oxidação de compostos graxos (DEMAN, 1987; MATHAUS, 1996 apud WAYNICK, 2005). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 77 Figura 21- Esquema representativo para determinação do período de indução. Amostra Ar H2O Termostato Célula condutivimétrica Fonte: Mittelbach e Gangl, 2006 Vários estudos têm sido realizados mostrando que o teste Rancimat quando executado em diferentes temperaturas, o logaritmo do período de indução (PI) será uma função linear da temperatura de ensaio, ou seja, a plotagem do log (OSI PI) versus T resulta em uma linha reta (HASENHUETTL, 1992; JEBE, 1993; TIAN, 1999 apud WAYNICK, 2005). 3.7.4 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão Pressurized differential scanning calorimetry (P-DSC) tem sido utilizada em vários estudos para medir a estabilidade oxidativa de óleos e ésteres graxos (com e sem adição de antioxidantes). Se o teste for realizado isotermicamente, o tempo necessário para detectar uma reação exotérmica é considerado tempo ou período de indução. Caso contrário, a temperatura em que um pico exotérmico é detectado é chamada de temperatura inicial de oxidação (OIT). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 78 3.8 CROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA A cromatografia é um método físico-químico de separação, o qual está fundamentado na migração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a diferentes interações entre duas fases imiscíveis: as fases móvel e estacionária (DEGANI, 1999). A separação de compostos voláteis pode ser feita através da cromatografia em fase gasosa, na qual a fase móvel é usualmente um gás relativamente não-reativo, tais como: hélio, nitrogênio ou hidrogênio. Os princípios são os mesmos que regem a cromatografia líquida, porém, o resultado é apresentado, frequentemente, como um cromatograma, ao invés de uma série de amostras eluídas (ATKINS e JONES, 2006). O cromatograma mostra quando cada soluto foi eluído, e as alturas dos picos, quanto de cada componente está presente na amostra. A identidade do soluto, o qual produziu cada pico pode ser determinada comparando-se sua posição com uma base de dados de compostos conhecidos. A quantidade de cada soluto presente é determinada a partir da área do pico (ATKINS e JONES, 2006). 3.8.1 Técnicas de injeção A utilização de um injetor que introduza amostras com pequena ou nenhuma perda devido à alta massa molecular ou termolabilidade é uma exigência crítica na técnica de injeção. Esta pode ser feita por injetores na coluna a frio (“on column”) ou por temperatura programável (PTV) (GROB, 1979 apud PEREIRA e AQUINO NETO, 2000). De acordo com Wang et al. (1983) e Grob (1993), a injeção da amostra diretamente na coluna é mais vantajosa, particularmente para amostras de alta massa molecular, porém, misturas complexas frequentemente obtidas de fontes naturais incluem geralmente frações de alta complexidade e compostos de alta massa molecular ou polares, o que pode acarretar em dois problemas: o tempo de retenção das substâncias aumenta e, por conseguinte, haverá uma diminuição na resolução de misturas complexas (GROB, 1993 apud PEREIRA e AQUINO NETO, 2000). O injetor com temperatura programável (PTV) é uma combinação do injetor clássico, com e sem divisão de fluxo (split/splitless) acoplado na coluna a frio, em que a amostra é introduzida no sistema cromatográfico a baixas temperaturas, mas em um injetor Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 79 especialmente projetado e não diretamente na coluna. A utilização deste pode produzir resultados semelhantes aos realizados por injeção na coluna a frio, para n-alcanos com elevados pontos de ebulição, bem como para misturas de compostos termolábeis (GROB, 1993; THOMSOM 1992; SCHOMBURG, 1983 apud PEREIRA e AQUINO NETO, 2000). Faria e colaboradores (2007) apresentaram uma proposta na modificação da metodologia descrita pela NBR 15343 (determinação do teor de metanol e etanol em biodiesel). Apesar de o método ser simples e apresentar baixa variabilidade (implicando em boa indicação da qualidade dos resultados), o tempo de análise torna-se inviável (cerca de uma hora). Nessa proposta, os pesquisadores instalaram no cromatógrafo uma válvula de reversão de fluxo (backflush), para possibilitar que logo após a eluição do padrão interno o fluxo da coluna fosse revertido para fora do cromatógrafo, não permitindo que os componentes mais pesados do biodiesel percorressem toda a coluna. Dessa forma, com a incorporação do backflush no injetor PTV, os compostos pesados podem ser expelidos para fora do sistema de entrada, impedindo a contaminação da coluna, enquanto permite a transferência eficiente dos compostos de interesse. Por intermédio dessa modificação, o tempo de análise foi reduzido para menos de dez minutos (FARIA, 2007). A figura 22 mostra o funcionamento do dispositivo de fluxo reverso (backflush) nas entradas do PTV. Quando a válvula de retrolavagem está desligada, o gás de arraste flui em sua direção normal através da entrada. Um fluxo muito pequeno, fornecido pelo restritor, é capaz de limpar constantemente o conector “T” entre a pré-coluna, a coluna analítica e a linha de entrada de retrolavagem. Do contrário, o sistema desvia o gás diretamente para a conexão “T” no final da pré-coluna, dessa forma, varrendo tanto esta última e a entrada na direção oposta, com o chamado “fluxo reverso”. Nesta configuração, o gás de arraste é capaz de efetuar a "lavagem" ainda na pré-coluna ou no injetor diretamente para a ventilação, através da linha do injetor split. O pequeno fluxo fornecido pelo restritor na outra direção evita que o material volte através do liner de entrada (MUNARI e CAVAGNINO, 2007). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 80 Figura 22 - Modo de funcionamento do backflush (válvula de fluxo reverso) e do injetor split/splitless. BACKFLUSH LIGADO TRANSFERÊNCIA SPLITLESS Linha de purga do septo Backflush desligado BACKFLUSH DESLIGADO Linha de purga do septo Linha de purga do septo Backflush desligado Gás Backflush ligado Gás Gás Linha de Separação Restritor de fluxo Linha de Separação Restritor de fluxo Forno Coluna Conector T Restritor de fluxo Précoluna Pré-coluna Coluna Forno Pré-coluna Coluna Conector T Fluxo Forno Conector T Alto Muito baixo Baixo Sem fluxo Fonte: Munari e Cavagnino, 2007 3.8.2 Métodos de quantificação de compostos Na quantificação dos compostos, é estabelecida uma correlação entre o sinal do detector e a quantidade do componente de interesse. Os sistemas mais utilizados para quantificação são: normalização, padronizações externa e interna e ainda métodos de adição. Para a quantificação dos compostos presentes no biodiesel, tanto pela EN 14110 como a EN 14103, a padronização interna é a indicada. Esta consiste no uso de uma substância que não esteja contida na amostra, ela é normalmente incorporada à solução da amostra antes da injeção (quando se faz necessário o uso de alta precisão), pois o padrão interno está submetido às mesmas condições da substância de interesse (ENGELHARDT, 1917; POOLE, 1991 apud VALENTE SOARES, 2001). Por esse método, pequenos desvios de tempo de retenção e na sensibilidade do detector (ocorridas entre análises distintas em um mesmo dia) são corrigidos (WERNIMONT, 1985 apud VALENTE SOARES, 2001). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 81 O tempo de retenção do composto de interesse pode ser calculado relativo ao padrão interno, minimizando discrepâncias no tempo de retenção ocorridas entre corridas distintas. Uma das grandes utilidades de um padrão interno está associada aos casos em que o analito não é estável para armazenamento sob a forma de padrão (VALENTE SOARES, 2001). 3.9 ANÁLISE TÉRMICA De acordo com a International Confederation for Thermal Analysis and Calorimetry (ICTAC), a análise térmica consiste em um grupo de técnicas nas quais as propriedades físicas e/ou químicas de uma substância (substâncias e/ou produtos de reação) é medida em função da temperatura, enquanto a substância é submetida a um programa controlado de temperatura, numa atmosfera específica (MACKENZIE, 1978). Segundo Dollimore e Keatch (1975), uma programação controlada de temperatura significa aquecimento ou resfriamento da amostra a uma razão definida. A análise térmica é empregada nos estudos de decomposição térmica, determinação de umidade, voláteis, resíduo, calor específico, transição vítrea, fusão e teor de cinzas, oxidação térmica, cinética da reação, diagrama de fases e tempo de armazenamento dentre outros. As principais vantagens da análise térmica são a utilização de quantidades pequenas de amostra, resultados mais rápidos e precisos, ausência de preparação da amostra. Porém, a desvantagem, reside no fato do custo relativamente alto dos equipamentos e por ser uma técnica destrutiva. Atualmente, a termoanálise é realizada por basicamente cinco técnicas: Termogravimetria (TG) / Termogravimetria derivada (DTG); Análise Térmica Diferencial (DTA); Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC); Análise Mecânica Térmica (TMA); Análise Mecânica Dinâmica (DMA). Essas técnicas de caracterização de materiais podem ser aperfeiçoadas através da combinação com outras técnicas analíticas, principalmente, para caracterização de Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 82 produtos gasosos liberados, podendo ser possível à realização de medidas simultâneas das mais distintas propriedades (BROWN, 1998 apud GALVÃO, 2007). Dentre os vários sistemas simultâneos existentes, pode-se citar: a termogravimetria acoplada à cromatografia em fase gasosa (TG-CG); termogravimetria acoplada a um espectrômetro de massa (TG-MS) e termogravimetria-cromatografia gasosa-espectrometria de massa (TG-CG-MS) (DOLLIMORE et al., 1984; SZEKELY et al., 1992 apud GALVÃO, 2007). Métodos analíticos térmicos, tais como: análise termogravimétrica, calorimetria exploratória diferencial convencional e a alta pressão, têm sido aplicados na análise de oxidação de lubrificantes sintéticos oriundos do petróleo, lubrificantes biodegradáveis, óleos para turbina de aviões e polímeros (SHARMA e STIPANOVIC, 2003; GAMELIN et al., 2002; RIGA et al., 1998;YAO, 1997; ZEMAN et al., 1995; ZEMAN et al., 1993 apud DUNN, 2006). 3.9.1 Termogravimetria (TG) Técnica de análise térmica em que a variação de massa da amostra (perda ou ganho) é determinada como uma função da temperatura e/ou tempo, enquanto a amostra é submetida a uma programação controlada de temperatura (MATOS, 2010). Os três métodos comumente utilizados são dinâmico, isotérmico e quase-isotérmico. A estabilidade térmica é definida como a capacidade de uma substância em manter as propriedades, durante o processo térmico, o mais próximo possível de suas características iniciais (o ambiente de exposição deve ser considerado). Souza et al. (2007) estudaram o perfil termogravimétrico e a calorimetria exploratória diferencial do biodiesel de algodão, indicando que as etapas de decomposição estão associadas à volatilização e/ou decomposição dos ésteres metílicos. Além disso, foi realizado o estudo cinético através das curvas TG do óleo e do biodiesel de algodão. Dantas et al. (2007) também avaliaram o comportamento térmico e cinético do biodiesel de milho obtido por rota metílica e etílica. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 83 3.9.2 Termogravimetria derivada (DTG) As curvas derivadas são obtidas a partir das curvas de fluxo de calor através de um algoritmo matemático, as quais auxiliam na interpretação dos dados. Normalmente, elas podem ajudar a definir os limites de cálculo, bem como na resolução dos dados, especialmente quando os picos se sobrepõem (GABBOTT, 2008). A primeira curva derivada é útil para analisar as transições graduais, como a transição vítrea, e é muito útil para a análise termogravimétrica (TGA), estudos nos quais a perda de massa produz uma etapa, já a segunda produz um máximo ou mínimo para cada inflexão da curva original. 3.9.3 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (P-DSC) A Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) é definida como uma técnica que mede as temperaturas e o fluxo de calor associado com as transições dos materiais em função da temperatura ou do tempo. A curva DSC fornece informações tanto qualitativas como quantitativas sobre as mudanças físicas e químicas que envolvem processos endotérmicos (absorção de calor), exotérmicos (liberação de calor) ou mudança de capacidade calorífica (MOTHÉ e AZEVEDO, 2002). Calorimetria Exploratória Diferencial a Alta Pressão (P-DSC) é uma técnica analítica desenvolvida para avaliar a estabilidade oxidativa de polímeros, utilizando fluxo de calor diferencial entre a amostra e o termopar de referência em diferentes temperatura e pressão. Esta técnica é demasiadamente utilizada no controle de qualidade de polímeros e na determinação de pressão de vapor, bem como na estabilidade oxidativa de lubrificantes (GONDIM, 2009). O tempo de indução oxidativo (OIT) é definido como o tempo necessário para o surgimento da evidência de oxidação de uma amostra, quando exposta a uma atmosfera oxidante a uma determinada temperatura (isotérmico). O teste determina o intervalo de tempo entre o início do teste e o aparecimento de oxidação (evento exotérmico). O início de oxidação é sinalizado por um brusco aumento do calor ou da temperatura da amostra. O tempo de indução é determinado pela extrapolação da temperatura onset, como apresentado pela figura 23. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 84 Figura 23 - Curva típica para obtenção do OIT. Fonte: Rhee, 1991 Estudos mostraram que a P-DSC tem a vantagem de oferecer um número maior de moléculas de oxigênio disponíveis para a reação, permitindo a aceleração da reação em temperatura mais baixa (DUNN, 2006). Stavinoha e Kline (2001) aplicaram o método D ASTM 6186 (tempo de indução oxidativa para óleos lubrificantes através de um calorímetro exploratório diferencial pressurizado) e relataram que este método era apropriado para monitorar e verificar o ponto de estabilidade oxidativa de antioxidantes adicionados ao biodiesel (STAVINOHA E KLINE, 2001 apud DUNN, 2006). Estudos mais recentes (DUNN, 2005b) demonstraram o uso das análises dinâmicas por P-DSC na determinação dos efeitos de diferentes tipos e concentrações de antioxidantes na estabilidade oxidativa do biodiesel metílico de soja. Litwinienko et al. (2000a), estudaram a cinética de autoxidação dos ésteres metílicos oriundos de ácidos graxos de cadeias carbônicas longas (compreendidas entre C12-C18) por DSC, os parâmetros cinéticos E, Z e k concernem ao efeito total da oxidação, os quais, podem ser usados na comparação da estabilidade oxidativa das gorduras e seus componentes. A faixa da energia de ativação compreendida entre 106,0 - 125,3 kJ.mol-1 foi confirmada por CG para uma cinética de primeira-ordem. Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 85 Litwinienko e Kasprzycka-Guttman (2000b) realizaram o mesmo estudo para os ácidos graxos insaturados e seus ésteres. Pelas curvas DSC, os autores observaram para o ácido oléico monoinsaturado e seus ésteres dois picos máximos. O primeiro e o segundo picos de máximo da taxa de aquecimento se sobrepuseram, a qual foi atribuída à similaridade dos parâmetros cinéticos de auto-oxidação e processos de oxidação adicionais a temperaturas de 165-250 °C. Como os ácidos oléico e erúcico, e seus ésteres, consomem menos oxigênio, o efeito exotérmico de auto-oxidação não foi tão visível como seria para compostos poli-insaturados. DSC sob pressão (PDSC) foi utilizada por Gamlin e colaboradores (2002) para avaliar o comportamento de ignição oxidativa espontânea e a degradação dos óleos de base (natural, semissintético e sintético). Óleos de base com maior viscosidade, dentro da mesma classe, tendem a se degradar em temperaturas mais altas. Cruz e Hassel (1976) foram os primeiros a aplicar DSC e P-DSC em análise de gorduras e óleos comestíveis. Resultados destes estudos, em combinação com estudos realizados por Tan e colaboradores (2002) mostraram uma boa correlação entre os períodos avaliados pelo método isotérmico por P-DSC (em minutos) e OSI (em horas ou dias). Santos et. al (2009b) estudaram o biodiesel de babassu etílico quanto a sua estabilidade térmica e oxidativa através das técnicas de TMDSC e PDSC e foi observado que durante a fase de aquecimento, a fase sólida de ésteres etílicos apresentaram uma transição endotérmica associada ao processo de solidificação. Conceição et. al (2009) avaliaram a propriedade do óleo de mamona após processo de refino e, conseqüentemente, as características do biodiesel utilizando PDSC. Foi observado que o biodiesel obtido a partir de óleo neutralizado apresentou uma maior estabilidade, estando provavelmente relacionada à diminuição da acidez. 3.10 RANCIMAT O conceito de estabilidade oxidativa é relevante, uma vez que a vida útil de um produto está relacionada à sua resistência a decomposição por intermédio do ar. A determinação da estabilidade oxidativa baseia-se na metodologia de ensaio acelerado, originalmente proposta por Hadorn e Zurcher (1974). Este ensaio é conhecido como Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 86 método Rancimat e consiste em expor a amostra a um fluxo de ar (10 L.h-1) a 110 ºC, conforme ilustrado na figura 24. Figura 24 - Ensaio de estabilidade à oxidação ilustrando a determinação do período de indução. Fonte: Metrohm Information, 2007 De acordo com a metodologia proposta pela EN 14112, a amostra é colocada em tubo reacional fechado a uma temperatura de 110 °C, enquanto é atravessada por um fluxo contínuo de ar. Os ésteres metílicos presentes, são oxidados a peróxidos como produtos de oxidação primários. Decorrido o tempo determinado, os ácidos graxos são decompostos a produtos de oxidação secundários, além de compostos orgânicos voláteis como: ácidos orgânicos de baixa massa molecular (principalmente os ácidos fórmico e acético). O fluxo de ar transporta esses ácidos graxos orgânicos para uma cela de medição contendo água destilada (que atua como solução de absorção). A condutividade da água é monitorada continuamente e a formação de ácidos carboxílicos voláteis é indicada por um aumento da condutividade na cela de medição. O tempo que decorre até que os produtos secundários de oxidação sejam detectados é conhecido como tempo de indução e é uma medida da estabilidade oxidativa da amostra. Um súbito incremento da condutividade é denominado período de indução (PI), durante o qual é constatado um rápido aumento da taxa de oxidação, do índice de peróxido, da absorção de oxigênio e de formação de voláteis (DE MAN, 1984). Capítulo 3 - Fundamentação Teórica 87 Uma curva típica obtida através do ensaio de estabilidade oxidativa acelerado (Rancimat) está ilustrada na figura 25. Figura 25 - Curva típica do ensaio de estabilidade oxidativa proposto pela norma EN 14112. Fonte: Gondim, 2009 Por intermédio do software do programa é realizada a extrapolação das curvas (condutividade versus tempo), a partir das quais é possível estimar o tempo máximo para estocagem de biodiesel (a uma dada temperatura). Araujo et. al (2009) avaliaram a estabilidade oxidativa do biodiesel de mamona, bem como a influência do tipo e da concentração de antioxidantes fenólicos distintos, fazendo uso de duas metodologias: Rancimat e PetroOXY. O PetroOXY é uma técnica que está fundamentada na detecção do tempo de indução quando as amostras estão em contato com oxigênio puro, a pressões e temperaturas elevadas. No referido estudo os autores observaram que a utilização de antioxidantes aumentou de 6-15 vezes a estabilidade oxidativa do biodiesel de mamona. Os melhores resultados foram observados ao utilizarem BHA a 2000 ppm (para esse tipo de óleo). Capítulo 4 – Metodologia 88 4 METODOLOGIA Neste capítulo, está descrita a metodologia utilizada nas análises dos óleos vegetais, desde o tratamento, até a obtenção dos biocombustíveis e suas respectivas blends. A caracterização físico-química das amostras e todo o aparato experimental necessário para o estudo estão relatados. Os experimentos para caracterização físico-química e estabilidade oxidativa foram realizados no Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes (LCL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As análises direcionadas ao estudo térmico foram realizadas no Laboratório de Catálise e Petroquímica (LCP) da UFRN. Os ensaios de ácidos graxos livres, para caracterização dos óleos, foram realizados na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) situada em Mossoró – RN. 4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ÓLEOS VEGETAIS Os óleos vegetais foram adquiridos da empresa CAMPESTRE Indústria e Comércio de Óleos Vegetais LTDA, situada no município de São Bernardo do Campo/SP, e foram caracterizados através das seguintes análises físico-químicas: ácidos graxos livres, índice de acidez, índice de iodo, massa específica (ou densidade absoluta), ponto de fulgor. É importante salientar que, embora a metodologia adotada para caracterização dos óleos vegetais faça uso de um conjunto de análises, nas quais estão inclusas o teor de ácidos graxos livres, índices de acidez e iodo, as análises de massa específica e ponto de fulgor foram realizadas, pois se tornam relevantes no sentido de indicar sobre o estado de conservação do óleo e a conversão dos ácidos graxos em ésteres metílicos através da reação de transesterificação. 4.2 OBTENÇÃO DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA. O biodiesel de girassol, mamona e soja foram obtidos através da reação de transesterificação como proposto na literatura (STAMENKOVIC, 2008; GALVÃO, 2007) e por tentativas no caso do biodiesel de mamona (todos através da rota metílica catalisada por base). Capítulo 4 – Metodologia 89 4.2.1 Biodiesel a partir dos óleos de girassol e soja A obtenção dos biocombustíveis de girassol e soja foi conduzida através da reação de transesterificação alcalina pela rota metílica. As quantidades do óleo, metanol e catalisador a serem utilizadas foram calculadas a partir dos percentuais de ácidos graxos presentes na composição química de cada oleaginosa, obtidos de uma massa molar aparente do óleo. Teoricamente, a proporção oleaginosa/álcool é de 1:3, mas a razão utilizada foi de 1:6, em virtude de que um excesso de álcool propicia o deslocamento do equilíbrio favorecendo a formação dos ésteres metílicos, acarretando em um maior rendimento. Foram utilizadas cerca de 1000 g do óleo vegetal (previamente tratado por aquecimento a 110 °C por 3h em estufa), 200 g de metanol e 10 g de catalisador. Inicialmente, o metanol e o hidróxido de potássio foram postos para reagir, sob agitação constante, até completa homogeneização do catalisador básico, resultando no metóxido de potássio. Em seguida, este foi adicionado ao óleo de cada oleaginosa em um reator EUROSTAR da marca IKA LABORTECHNIK (figura 26b). A mistura permaneceu sob agitação constante por duas horas, a temperatura ambiente, para que a reação de transesterificação pudesse ser concretizada. Figura 26 - Reação de transesterificação do óleo de girassol (a) óleo de Girassol, (b) reação do metóxido de potássio com o óleo de girassol no reator EUROSTAR. (a) (b) Capítulo 4 – Metodologia 90 Ao término da reação, as duas fases já podiam ser nitidamente observadas, uma menos densa e clara e outra mais e densa e escura, conforme ilustrado na figura 26 (a). A mistura foi transferida para um funil de decantação, com a finalidade de uma melhor separação de fases por gravimetria como mostra a figura 26 (b). Decorridas 24 horas de decantação, a fase inferior foi recolhida, restando apenas a fase menos densa. Em seguida, foi realizado um teste de miscibilidade dessas fases, como proposto por Rinaldi et al. (2007), para caracterizar os produtos formados. Cada fase foi colocada em um erlenmeyer, a um foi adicionado hexano e ao outro etanol. A fase mais densa foi imiscível em hexano, porém miscível em etanol, enquanto a fase menos densa foi miscível em ambos os solventes. Essas características levam a conclusão de que a fase inferior é um líquido polar a glicerina (subproduto da reação), e a fase superior um líquido apolar, o biodiesel (RINALDI, 2007). Figura 27 - Processo de separação do biodiesel girassol, (a) no reator e (b) por gravimetria. (a) (b) O biodiesel foi submetido a um processo de lavagem exaustiva apenas com água destilada morna (figura 28). O controle do processo de lavagem foi feito através da medida do pH da água residual, utilizando fenolftaleína como indicador, no qual o ponto de viragem (passagem da coloração rosa para incolor) é um indício da neutralização do efeito básico promovido pelo catalisador. Ao término da lavagem, os traços de umidade e de metanol no biodiesel foram eliminados através do aquecimento em estufa a 110 ºC por três Capítulo 4 – Metodologia 91 horas e, dessa forma, foi obtido o biodiesel “puro”, que foi, em seguida, armazenado em containers de aço inoxidável, com o intuito de minimizar o processo de oxidação. Figura 28 - Processo de lavagem do biodiesel metílico (a) e biodiesel após o processo de purificação (b). (a) (b) Concretizado o processo, foi realizada a caracterização do biodiesel puro. Todo o procedimento supracitado foi repetido para a obtenção do biodiesel das demais oleaginosas utilizadas neste trabalho. 4.2.2 Biodiesel a partir do óleo de mamona O procedimento adotado para a síntese do biodiesel de mamona foi distinto das demais oleaginosas estudadas neste trabalho, em virtude da sua elevada acidez e viscosidade. O procedimento para o cálculo da massa molar do óleo de mamona decorreu da mesma forma como para o óleo de girassol e soja. Após algumas tentativas variando a concentração do catalisador, razão álcool/óleo e temperatura, as melhores condições que favoreceram a obtenção do biodiesel de mamona, foram aquelas onde se utilizou a razão óleo de mamona/álcool 1:9. Portanto para uma massa de 1000 g de óleo, foram utilizadas aproximadamente 350 g de metanol e 10 g de catalisador alcalino. Capítulo 4 – Metodologia 92 Figura 29 - Reação de transesterificação do óleo de mamona (a), processo de separação entre o biodiesel de mamona e a glicerina (b). (a) (b) Figura 30 - Container de aço-inox utilizado para armazenagem das amostras (a) e (b). (a) (b) Capítulo 4 – Metodologia 93 4.2.3 Fluxograma da produção de biodiesel A figura 31 ilustra o fluxograma com a metodologia para produção de biodiesel. Figura 31- Fluxograma geral da produção de biodiesel. Metanol KOH Óleo de Girassol Metóxido de potássio Reação de Transesterificação Separação das fases Biodiesel Bruto Glicerina Lavagem e Secagem Biodiesel (puro) Fonte: Gondim, 2009 Capítulo 4 – Metodologia 94 4.3 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO – QUÍMICA Os óleos (girassol, mamona e soja) foram estudados em conformidade às normas da American Oil Chemists Society (AOCS). As amostras de biodiesel e as blends foram analisadas de acordo com as normas da American Society of Testing and Materials (ASTM), British Standart (BS EN) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Todas estas compiladas no Regulamento Técnico da ANP no 1/2008 através da Resolução no 7/2008 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP. 4.3.1 Ácidos graxos livres Óleos e gorduras, quando na presença de umidade e calor estão propensos à hidrólise, a qual acarreta o rompimento das cadeias do triglicerídeo, liberando ácido graxos (POLINUTRI, 2008 apud GONDIM, 2009). Portanto, o teor de ácidos graxos livres no óleo ou na gordura animal é um indicativo da pureza dos mesmos, ou seja, é um indício do estado de conservação de ambos. O método que determina o teor de ácidos graxos livres presentes em óleos e gorduras é a percentagem de ácidos graxos livres, descrita pela AOCS. Este método determina o percentual de ácidos graxos livres em óleos comuns, brutos e refinados, sendo expressa em percentagem de ácido oléico (MORETTO E FETT, 1998). Esta propriedade é útil como parâmetro de transesterificação, pois dependendo do teor da amostra, define-se a necessidade de realizar um processo de neutralização da mesma, bem como aumentar a quantidade de catalisador no processo reacional de transesterificação ou realizar um processo de purificação. A determinação dos ácidos graxos livres em óleo foi realizada de acordo com o método AOCS Ca 5a-406. Inicialmente foram pesadas 5 g da amostra em um erlenmeyer seguidos da adição de 50 mL de álcool etílico a 95%, previamente neutralizado com solução aquosa de NaOH 0,1 N. Em seguida, a solução foi aquecida sobre uma placa térmica até o início da ebulição. Esta solução foi titulada ainda quente com solução aquosa de NaOH 0,1 N, utilizando 0,5 mL de solução etanólica de fenolftaleína a 1% (como indicador), até que a coloração rosa se mantivesse persistente (cerca de 15 segundos). O cálculo do teor de ácidos graxos livres foi realizado através da equação 1: Capítulo 4 – Metodologia % AGL V A Ct 28,2 m 95 (Equação 1) Em que: AGL e o teor de ácidos graxos livres; VA é o volume (mL) da solução de NaOH a 0,1 N gasto para titular a solução; Ct é a concentração da solução de NaOH e m é a massa (g) da amostra. 4.3.2 Índice de acidez O índice de acidez é definido como a quantidade de base, expressa em miligramas de hidróxido de potássio por gramas de amostra, necessária para titular a mesma até a determinação do ponto de final (ponto de equivalência) em conformidade com a norma ASTM D 664. De acordo com Mahajan et al. (2006), para o biodiesel, o número de acidez deriva-se quase exclusivamente do teor de ácidos graxos contidos na espécie. Isso porque os ácidos graxos podem ser formados pela hidrólise dos ésteres, ambos na matéria-prima dos triglicerídeos e no biodiesel durante a sua obtenção. 4.3.2.1 Óleos vegetais Segundo Moretto e Fett (1998), a acidez livre de uma gordura decorre da hidrólise parcial dos glicerídeos. Por isso, não é uma constante ou característica, mas é uma variável que está relacionada à natureza e à qualidade da matéria-prima, com a qualidade e a pureza do mesmo, bem como com o processamento e as condições de conservação do óleo. Para determinação do índice de acidez nos óleos vegetais, dois gramas da amostra foram colocadas em um erlenmeyer de 125 mL, ao qual também foram posteriormente adicionados 25 mL de uma solução neutra de éter etílico-álcool (2:1) neutra e submetida à agitação. Foram adicionadas duas gotas de indicador fenolftaleína e titulada com solução de NaOH 0,1 N até aparecimento da coloração rosa. O índice de acidez foi obtido pelo cálculo a partir da equação 2: IA VA f 5,61 m (Equação 2) Capítulo 4 – Metodologia 96 Em que: VA é o volume (mL) da solução de NaOH 0,1 N gastos na titulação; f fator de correção da solução de NaOH; 5,61 é o equivalente-grama do NaOH. 4.3.2.2 Biocombustíveis e blends A Resolução da ANP no 7/2008 faz menção a três possíveis métodos para a obtenção do índice de acidez: ASTM D664 – Acid Number of Petroleum Products by Potentiometric Titration; EN 14104 – Fatty and oil derivatives – Fatty acid methyl esters (FAME) – Determination of acid value; NBR 14448 – Produto de Petróleo - Determinação do índice de acidez pelo método de titulação potenciométrica. A metodologia adotada neste trabalho para determinação do índice de acidez nas amostras de biodiesel foi àquela descrita pela NBR 14448. Um titulador potenciométrico automático, modelo AT-500N da marca KEM (figura 32), equipado com um eletrodo indicador de vidro e um eletrodo de referência (ou eletrodo combinado), a leitura do resultado é obtido quando o ponto de equivalência é atingido. Figura 32 - Titulador potenciométrico automático de bancada modelo AT-500N da marca KEM. Capítulo 4 – Metodologia 97 A quantidade de massa da alíquota a ser analisada depende do conhecimento prévio do índice de acidez da amostra. Na literatura, os índices de acidez para os três biocombustíveis em estudo estão compreendidos na faixa de 0,05 a 0,9 mg KOH.g-1. De acordo com a norma NBR 14448 (tabela 7), para esta faixa de acidez, 20 g de cada amostra devem ser utilizadas, as quais foram pesadas com auxílio de um becker em uma balança analítica da marca Mettler Toledo, com precisão 0,0001 g. Em seguida, adicionou-se 125 mL da solução solvente (composta por 5 mL de água destilada, 495 mL de iso-propanol e 500 mL de tolueno). A solução solvente foi previamente titulada com solução alcoólica de hidróxido de potássio (0,1 N) e o resultado obtido em mL (correspondente ao branco). A solução alcoólica de hidróxido de potássio foi padronizada com uma solução alcoólica de ácido clorídrico (0,1 N), sendo determinada, dessa forma, a concentração da solução titulante. Tabela 7 - Tamanho da alíquota a ser analisada conforme acidez da amostra de acordo com a NBR 14448. Índice de Acidez Massa da alíquota Precisão da determinação 0,05 a 0,9 20±2 0,10 1,0 a 4,9 5,0±0,5 0,02 5 a 19 1,0±0,1 0,005 20 a 99 0,25±0,02 0,001 100 a 260 0,10±0,01 0,0005 Fonte: NBR 14448 Tanto para titulações manuais como automáticas o índice de acidez é calculado a partir da equação 3. IA (V A VB ) Ct 5,61 m (Equação 3) Capítulo 4 – Metodologia 98 Em que: IA é o índice de acidez, VA é o volume (mL) de solução alcoólica de KOH a 0,1 N usados para titular a amostra; VB é o volume (mL) da solução alcoólica de KOH gasto na titulação da solução solvente (branco); Ct é a concentração (N) da solução de KOH obtida na padronização e m é a massa (g) da amostra. O resultado foi expresso em mg KOH.g-1 (amostra). 4.3.3 Índice de iodo O índice de iodo é a medida da insaturação do óleo e/ou gordura e é definido como a massa de halogênio em gramas, expresso como iodo absorvido por gramas da amostra. Para a determinação do índice de iodo a Resolução da ANP no 7/2008 faz menção a Norma européia EN 14111. O ensaio foi realizado fazendo uso do mesmo titulador utilizado na determinação do índice de acidez, um titulador potenciométrico automático, modelo AT-500N e marca KEM. Para efetuar o ensaio, foram inicialmente preparadas três soluções intituladas: Solução solvente – composta por ciclohexano e ácido acético glacial (1:1) em volume; Iodeto de Potássio (KI) a 10% em meio aquoso; Tiossulfato de Sódio (Na2S2O3.5H2O) 0,1 molar em meio aquoso. A solução de tiossulfato de sódio foi previamente titulada com solução de dicromato de potássio (K2Cr2O7) de concentração 0,1 molar. A solução de tiossulfato deve ser utilizada por no máximo sete dias. Em um becker de 500 mL, foram pesadas cerca de 0,13 a 0,15 g da amostra em uma balança analítica, marca Mettler Toledo com precisão de 0,0001 g. Posteriormente, foram adicionados 20 mL da solução solvente, para total dissolução da amostra. Em seguida, foram adicionados 25 mL do reagente de Wijs (cloreto de iodo – ICl em ácido acético), quando bem homogeneizados, a mistura final foi mantida em repouso por 1 hora ao abrigo da luz. Decorrido o tempo necessário para a reação, a mistura foi retirada do abrigo da luz, em seguida foram a ela adicionados 20 mL da solução de iodeto de potássio (10%) e 150 mL de água destilada previamente aquecida (livre de CO2) e, finalmente, a mesma foi Capítulo 4 – Metodologia 99 titulada com a solução de tiossulfato de sódio, até o aparecimento de uma fraca coloração amarela. Como o ensaio é realizado de forma automática não é necessário utilizar amido como indicador. É importante salientar que antes da análise ser efetuada, é necessário realizar a medida do branco, em que todo o procedimento experimental é efetuado na ausência da amostra. O índice de iodo é obtido por intermédio da seguinte equação 4: II (VB V A ) * C *12,69 m (Equação 4) Em que: II é o índice de iodo, VA é o volume (mL) da solução de tiossulfato de sódio a 0,1 molar gasto na titulação da amostra; VB é o volume (mL) da solução de tiossulfato de sódio gasto na titulação da solução solvente (branco); Ct é a concentração (N) da solução de tiossulfato de sódio obtida na padronização e m é a massa (g) da amostra. O valor de índice de iodo é reportado em g de I2.(100g)-1 da amostra. Capítulo 4 – Metodologia 100 4.3.4 Massa específica a 20 °C A determinação da massa específica é embasada na metodologia estabelecida pela ASTM D1298. O ensaio foi realizado em um densímetro digital de bancada, da marca METTLER TOLEDO, modelo DE-40 Density Meter (figura 33). Este equipamento possui controle da temperatura do banho. Figura 33 - Densímetro digital de bancada DE-40. Fonte: Gondim, 2009 A calibração do equipamento foi realizada com água destilada. Em seguida, cerca de 25 mL da amostra contida em um erlenmeyer foi introduzida no tubo (limpo e seco) do densímetro, através de sucção. Para que a análise seja realizada de forma satisfatória, é imprescindível verificar o surgimento de bolhas no tubo no momento da sucção, pois este é um interferente. Após a verificação da ausência de bolhas, a leitura foi realizada diretamente no visor do equipamento a 20 ºC. A massa específica é uma propriedade que está diretamente relacionada com as estruturas moleculares dos alquil ésteres constituintes do biodiesel, salientando que esta propriedade é um indicador relevante da qualidade, tanto para combustíveis automotivos, como para os de aviação e marítimos, afetando estocagem, manuseio e combustão (GONDIM, 2009). Capítulo 4 – Metodologia 101 4.3.5 Ponto de fulgor O ponto de fulgor é a temperatura mínima na qual é observada a liberação de vapores de um líquido, em quantidade suficiente para formar uma mistura inflamável com o ar (LOBO, 2009). De acordo com a Resolução da ANP no 7/2008, o ponto de fulgor pode ser determinado através das normas: NBR 14598 – Produtos de Petróleo - Determinação do Ponto de Fulgor pelo aparelho de vaso fechado Pensky-Martens; ASTM D 93 – Flash Point by Pensky-Martens Closed Cup Tester; EN ISO 3679 – Determination of flash point – Rapid equilibrium closed cup method. Os valores de ponto de fulgor permitidos para o biodiesel variam concomitantemente às normas supracitadas. A norma ASTM D6751 (método analítico ASTM D93) é a mais restritiva dos três parâmetros de qualidade de biodiesel que estão sendo analisados, fixando um valor mínimo de 130 °C, enquanto a norma EN 14214 (método analítico EN ISO 3679) estabelece um valor de 120 °C e a Resolução ANP n° 7/2008 o valor de 100 °C. A determinação do ponto de fulgor procedeu de acordo com a ASTM D93. A medida foi realizada em um equipamento Pensky-Martens de vaso fechado semiautomático, da marca HERZOG, modelo HFP 380 Pensky Martens (figura 34). Este equipamento consiste de uma cuba de teste (cobre), tampa e obturador, dispositivo de agitação, fonte de aquecimento, dispositivo de fonte de ignição (gás butano), banho de ar, e prato superior de acordo com a figura 35. Capítulo 4 – Metodologia 102 Figura 34 - Equipamento HFP 380 Pensky Martens utilizado para a determinação do ponto de fulgor. Para a determinação do ponto de fulgor aproximadamente 75 mL, medidos em proveta, das amostras (óleos vegetais, biocombustíveis e blends) foram transferidos para a cuba ou até que o nível da amostra atingisse a marca na parte interior da cuba. Em seguida, a cuba foi fechada com a tampa teste, introduzido o termômetro (+90 a 350 oC - ASTM DC) em local específico e em seguida a chama teste foi acesa. A amostra foi mantida sob agitação com rotação de 100 rpm com aquecimento de 40%. Capítulo 4 – Metodologia 103 Figura 35 - Tampa do aparelho de ponto de fulgor. Mm (pol) min max (min) (max) D 12.7 13.5 (0.50) (0.53) E 4.8 5.6 (0.19) (0.22) F 13.5 14.3 (0.53) (0.56) G 23.8 24.6 (0.94) (0.97) H 1.2 2.0 (0.05) (0.08) I 7.9 ... (0.31) (...) J 12.27 12.32 (0.483) (0.485) K 16.38 16.64 (0.645) (0.655) L 18.65 19.45 (0.734) (0.766) Fonte: ASTM D93 Quanto ao acionamento da fonte de ignição para o início do teste, embora a norma ASTM D93 fixe 130 °C como temperatura mínima, alguns autores preferem utilizar esta temperatura como ponto de partida para acionar a fonte de ignição. Neste trabalho, foi adotada a temperatura de 45 °C (temperatura utilizada para o diesel mineral) para o início do teste. Para observação da chama, o aquecimento foi fixado em 40%, ao atingir a temperatura de 45 °C foi diminuído para 35%, a leitura foi efetuada a cada 1 ºC. O ponto Capítulo 4 – Metodologia 104 de fulgor é observado quando aplicada a fonte de ignição, provoca-se um lampejo no interior da cuba de teste. 4.3.6 Teor de enxofre total por fluorescência ultravioleta A presença de elementos indesejáveis no biodiesel também se torna uma legítima preocupação de qualidade, pois estes elementos atuam como venenos de catalisadores e acabam afetando os conversores catalíticos. Um exemplo desses venenos é o fósforo, proveniente dos fosfolipídeos, e o enxofre, que no caso do diesel mineral, é característico do próprio petróleo. O biodiesel, no entanto, é rotulado como sendo isento de enxofre (KNOTH, 2006), porque este provém de fontes vegetais. Entretanto, este biocombustível pode apresentar pequenas quantidades desse elemento. As normas que regem as metodologias para determinação do teor de enxofre em biodiesel são: ASTM D6751 – Total Sulfur in Light Hydrocarbons, Motor Fuels and Oils by Ultraviolet Fluorescence; EN ISO 20846 – Petroleum Products – Determination of low sulfur content – Ultraviolet fluorescence method; EN ISO 20884 – Petroleum Products – Determination of sulfur content of automotive fuels- Wavelenght dispersive X-ray fluorescence spectrometry. A norma EN 14214 estabelece o valor máximo de enxofre no biodiesel em 10 mg.kg-1, com determinação através da espectrometria de fluorescência molecular (método EN ISO 20846) ou através de fluorescência de raios-X por energia dispersiva em comprimento de onda (método ISO 20884), já a norma ASTM D6751 estabelece através do método D5354, por fluorescência molecular, o valor máximo de 0,05%massa. A Resolução nº 07/2008 limita a quantidade de enxofre em 50 mg.kg-1, podendo ser determinado por quaisquer dos métodos descritos acima. A determinação do teor de enxofre para os óleos vegetais, biocombustíveis e blends foi embasada na norma ASTM D5354, que apesar de ser direcionada a hidrocarbonetos líquidos, é aplicada também para naftas, destilados, óleos e combustíveis para motores como: gasolina, gasolina rica em oxigênio, diesel, biodiesel e combustível de aviação, cujo ponto de ebulição varie na faixa de aproximadamente 25 a 400 °C, viscosidades Capítulo 4 – Metodologia 105 compreendidas entre 0,2 a 20 cSt (mm2.s-1) a temperatura ambiente e que contenha de 1,0 a 8.000 mg.kg-1 de enxofre total (ASTM D5354). Figura 36 - Analisador de enxofre TS 3000 da Thermo Scientific. O ensaio foi realizado em um equipamento TS 3000 da Thermo Scientific (figura 36) com detector de fluorescência ultravioleta, esse equipamento possui um sistema de combustão, onde o enxofre é oxidado a dióxido de enxofre (SO2). Inicialmente, a amostra foi submetida a homogeneização. Com aproximadamente 50 mL, foi realizada a lavagem do becker (com a própria amostra por três vezes) e cerca de 10 mL foram destinadas para a lavagem da seringa, 30 µL foram succionados e depois cuidadosamente aferido para 20 µL (essa quantidade é baseada no conhecimento prévio da concentração de enxofre da amostra de acordo com a tabela 8) e, em seguida, injetado no forno do equipamento. Capítulo 4 – Metodologia 106 Tabela 8 - Tamanho da alíquota a ser analisada conforme teor de enxofre da amostra, de acordo com a NBR 5353 Curva 1 (Enxofre, mg.L-1) Curva 2 (Enxofre, mg.L-1) Curva 3 (Enxofre, mg.L-1) 0,50 5,00 100,00 1,00 25,00 500,00 2,50 50,00 1000,00 5,00 100,00 10,00 Alíquota para injeção Alíquota para injeção Alíquota para injeção 10-20 µL 5-10 µL 5 µL Fonte: NBR 5354 As condições de análise estão listadas na tabela 9. Tabela 9 - Condições de análise para determinação do teor de enxofre total pela ASTM D6751 Temperatura do Forno Ajuste do fluxômetro de oxigênio do forno Ajuste do fluxômetro da entrada de oxigênio Ajuste do fluxômetro da entrada do gás de arraste (Ar/He) 1075 ± 25°C 450 – 500 mL.min-1 10 – 30 mL.min-1 130 – 160 mL.min-1 O resultado é calculado automaticamente pelo software do equipamento de acordo com as equações descritas na referida norma, o teor de enxofre total é dado pela média aritmética das análises e reportado em mg.kg-1. Capítulo 4 – Metodologia 107 4.3.7 Viscosidade cinemática a 40 ºC Dentre as propriedades físicas dos combustíveis, a viscosidade é uma das mais relevantes, visto que, se muito significativa afeta a atomização do combustível na câmara de combustão podendo provocar, entre outros problemas, a formação de depósitos. O controle da viscosidade do combustível visa garantir um funcionamento adequado dos sistemas de injeção e bombas de combustíveis, além de preservar as características de lubricidade do biodiesel (TECPAR, 2008 apud GONDIM 2009). A medida da viscosidade cinemática foi realizada tanto para os óleos vegetais, como para os biocombustíveis e as blends, em conformidade com a norma ASTM D 445, fazendo uso de um viscosímetro da marca ISL, modelo TVB445 (figura 37), utilizando um capilar do tipo Cannon Fenske com constante igual 0,03892 (mm2.s-1).s-1, com banho térmico à 40 ºC. Figura 37 - Viscosímetro cinemático TVB445 Fonte: Gondim, 2009 A norma EN 14214 (método analítico EN ISO 3104) estabelece um intervalo aceitável de viscosidade entre 3,5 a 5,0 mm2.s-1, enquanto a norma ASTM D6751 (método analítico D 445) permite um intervalo um pouco mais amplo, de 1,9 a 6,0 mm2.s-1. A Resolução n° 07/2008, além dos métodos analíticos citados, recomenda também o método ABNT NBR 10441. A faixa de viscosidade permitida pela referida Resolução é de 3,0 a 6,0 mm2.s-1 (LOBO, 2009). Capítulo 4 – Metodologia 108 Para realizar a análise da viscosidade cinemática, cerca de 15 mL da amostra foram transferidos para o capilar e, em seguida, o mesmo foi colocado no banho por cerca de 20 minutos (tempo suficiente para amostra alcançar o equilíbrio térmico). Após ter alcançado o equilíbrio, a amostra foi succionada para ajuste do seu nível superior para a posição da primeira marca do braço capilar. Posteriormente, o tempo de escoamento foi medido até a segunda marca. Este intervalo de tempo foi substituído na equação 5 e as viscosidades das amostras puderam ser determinadas. A viscosidade cinemática foi calculada de acordo com a equação 5. ct (Equação 5) Em que: é viscosidade cinemática (mm2.s-1) ; c é a constante do capilar (mm2.s-1).s-1; e o t é o tempo (s). O resultado da viscosidade cinemática deve ser reportado em mm2.s-1. 4.4 CROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA. 4.4.1 Determinação de metanol e etanol em biodiesel O teor de álcool no biodiesel pode ser utilizado para avaliar o processo de purificação do biodiesel. A concentração de álcool é determinada pelo método cromatográfico EN ISO 14110, indicado pela norma EN 14214, para determinação de metanol no biodiesel, e pela Resolução n° 7/2008 da ANP, para determinação tanto de metanol como etanol. Embora a especificação européia indique a norma EN 14110, a qual utiliza a técnica de cromatografia a gás com um dispositivo headspace acoplado. Esta técnica não é muito utilizada em análises de combustíveis, pois o dispositivo headspace, eleva o preço do sistema cromatográfico, tornando o mesmo inviável. Em contrapartida, o equipamento utilizado na metodologia descrita pela NBR 15343 é um cromatógrafo de configuração básica, comum nos laboratórios de cromatografia, sendo esta a grande vantagem do Capítulo 4 – Metodologia 109 método (FARIA, 2007). Portanto a técnica de análise adotada neste trabalho foi embasada na NBR 15343, fazendo uso da técnica de padronização interna para quantificação. O padrão interno utilizado foi o álcool terc-butílico. O cromatógrafo modelo TRACE CG ULTRA marca THERMO SCIENTIFIC, é equipado com detector de ionização de chama de hidrogênio, injetor tipo split/splitless e coluna capilar de sílica fundida, com fase estacionária 100% metil silicone, acoplado a um amostrador automático (figura 38). Figura 38 - Equipamento de cromatografia a gás utilizado para determinação do teor de metanol e etanol em biodiesel. Fonte: Gondim, 2009 As condições analíticas estão ilustradas na tabela 10. Essa metodologia é aplicável a amostras de biodiesel provenientes de qualquer oleaginosa, incluindo mamona. Capítulo 4 – Metodologia 110 Tabela 10 - Condições de análise de acordo com a NBR 15343 Injetor Split/Splitless Volume de Injeção Vazão de Split Temperatura Coluna Fase estacionária Dimensões 1,0 µL 50 mL.min-1 250 ºC Pressão do gás de arraste (cte) Vazão inicial do gás de arraste Gás de arraste Forno Tempertaura inicial Rampa Temperatura final Tempo final Detector FID Temperatura Tempo total de análise 66,50 min 100% metil silicone 30 m x 0,32 mm x 3 mm 12.00 psi 2 mL.min-1 Hidrogênio 50 °C por 6 min 20 °C.min-1 260 °C 50 min 260 °C Fonte: Faria, 2007 As amostras foram adicionadas do padrão interno antes da injeção, monitorando a concentração sugerida pela referida norma. A quantificação dos teores dos alcoóis presentes nas amostras de biodiesel é realizada a partir da obtenção da curva de calibração interna, previamente construída. Para tal, foram utilizados para preparação dos quatro padrões: metanol, etanol, t-butanol (padrão interno) e butanol (solvente). A curva de calibração construída para determinação do teor de metanol e etanol utiliza as equações 6 e 7. RA Ac API (Equação 6) Em que: RA é a relação entre a área do componente C e o padrão interno; AC é área obtida do componente C; API é área obtida do padrão interno (t-butanol); C é o componete de interesse, pode ser metanol ou etanol. Capítulo 4 – Metodologia RM 111 mc m PI (Equação 7) Em que: RM é a relação entre a massa (g) do componente C e massa (g) padrão interno; mC é massa (g) pesada do componente C; mPI é massa (g) pesada do padrão interno (tbutanol); C é o componete de interesse (pode ser metanol ou etanol). A curva de calibração para determinação da concentração de metanol com padronização interna foi construída utilizando equação 8. RM (a x xR A ) bx (Equação 8) Em que: RM é a relação entre a massa (g) do componente C e massa (g) padrão interno; RA é a relação entre a área do componente C e o padrão interno; ax é o coeficiente de inclinação da reta; e bx é o valor onde a reta cruza o eixo da ordenada. 4.4.2 Teor de ésteres O teor de éstes corresponde à medida da pureza do biodiesel para quantificar o teor de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos com cadeia entre C14 e C24. Este parâmetro é previsto pela norma EN 14214 e na Resolução ANP n° 7/2008, cuja percentagem mínima exigida de éster é de 96,5%massa, determinada através do método cromatográfico EN ISO 14103, o qual utiliza a cromatografia a gás (GC-FID) com padronização interna, coluna do tipo capilar com fase estacionária de polietilenoglicol (FONTOURA, 2008; LOBO 2009). O ensaio foi realizado em um cromatógrafo a gás, modelo TRACE CG ULTRA, marca THERMO SCIENTIFIC, equipado com detector de ionização de chama de hidrogênio, injetor tipo split/splitless acoplado a um amostrador automático. A coluna capilar utilizada foi de polietileno glicol TR-WAX (Thermo), indicada para a análise de compostos polares, tais como: ésteres, álcoois, cetonas e glicóis, bem como, para separação de isômeros aromáticos. O gás de arraste utilizado foi o hélio em vazão de 1 mL.min-1, Capítulo 4 – Metodologia 112 volume de injeção de amostra foi de 1 L, temperatura do detector de 250 ºC. A programação do forno utilizada está listada na tabela 11. Tabela 11 - Condições de programação de temperatura do forno para análise de teor de ésteres Programação de Temperatura do Forno Temperatura Inicial Taxa de aquecimento 01 Taxa de aquecimento 02 150 oC por 6 minutos o -1 o por 5 minutos 5 ºC.min até 240 ºC por 2 minutos 10 C.min até 210 C -1 A solução de padrão interno foi preparada com concentração 2 mg.g-1 de metil heptadecanoato (C17:0) em n-heptano. Foram pesadas 0,05 g da amostra no próprio vial (com o auxilio de uma balança analítica com precisão de 0,0001 g) e 1 g da solução de padrão interno, numa proporção 5:100 (amostra e solução padrão). Para a identificação e posterior quantificação dos ésteres, foi utilizado o padrão FAME mix (C8:0 - C24:1), cuja composição e os percentuais relativos dos ésteres estão listados na tabela 12. O padrão foi preparado na mesma proporção da amostra. Tabela 12 - Composição e percentuais relativo do padrão F.A.M.E mix (C8:0 - C24:1) Ester Metílico Caprilato (C8:0) Decanoato (C10:0) Laureato (C12:0) Miristato (C14:0) Palmitato (C16:0) Palmitoleato (C16:1) Estereato (C18:0) Oleato (C18:1) Linoleato (C18:2) Linolenato (C18:3) Araquidoneato (C20:0) Behenato (C22:0) Erucicato (C22:1) Lignocereato (C24:0) Concentração mássica (%) 8,00 8,00 8,00 8,00 11,00 5,0 8,0 5,0 5,0 5,0 8,0 8,0 5,0 8,0 Capítulo 4 – Metodologia 113 A razão relativa entre as áreas na determinação de esteres é utilizada para a verificação da linearidade do detector. 4.5 ESTUDO DA ESTABILIDADE TÉRMICA E OXIDATIVA DOS ÓLEOS DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA, BIOCOMBUSTÍVEIS E SUAS RESPECTIVAS BLENDS. 4.5.1 Termogravimetria (TG/DTG) A análise termogravimétrica (TG/DTG) foi empregada para medir os efeitos do aumento da temperatura de forma constante (rampa de aquecimento) sobre a massa das amostras, quando purgadas com ar a pressão ambiente, com intuito de estudar a estabilidade térmica e o processo de vaporização e decomposição das amostras em estudo. As curvas TG foram obtidas com uma termobalança de marca Mettler Toledo, modelo TGA/SDTA-851. O controle experimental, a aquisição de dados e os resultados das análises foram realizados pelo software do equipamento. As amostras foram colocadas em um cadinho de alumínio aberto de 900 µL. A razão do fluxo de purga de gás foi de 60 mL.min-1. Após o equilíbrio a 25 °C, a amostra foi aquecida a 10 ºC.min-1 até 600 ºC. 4.5.2 Calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (P-DSC) A análise por P-DSC foi realizada visando estudar a estabilidade oxidativa das amostras e no caso das blends o efeito da adição do biodiesel de mamona no biodiesel de girassol e soja, a uma determinada temperatura e pressão. Através desta análise foi possível determinar o Temperatura de Indução Oxidativa (OIT), se este é dinâmico, e o Período de Indução (PI), se este for isotérmico. As curvas por Calorimetria Exploratória Diferencial a Alta Pressão (P-DSC) foram obtidas em um calorímetro da marca NETZSCH, modelo DSC 204 HP acoplado à célula, DSC Pressure Cell, sob pressão 1400 KPa, em atmosfera de ar sintético. No ensaio foi utilizado um cadinho de alumínio aberto e massa de amostra de aproximadamente 10 mg. As análises foram realizadas pelos métodos dinâmico e isotérmico. As curvas obtidas através do método dinâmico foram realizadas utilizando uma rampa de aquecimento de 10 ºC.min-1 até 600 ºC. No método isotérmico o teste é iniciado a 50 ºC e, Capítulo 4 – Metodologia 114 em seguida, submetido a uma taxa de aquecimento de 10 ºC.min-1 até 110 ºC, onde é mantido em isoterma até a total oxidação da amostra. 4.5.3 Estabilidade oxidativa a 110 ºC pelo método Rancimat Os ensaios de estabilidade oxidativa para obtenção do período de indução dos óleos, das amostras de biodiesel e suas respectivas blends foram realizados conforme a norma Européia (EN 14112), utilizando um equipamento da marca METROHM, modelo Biodiesel Rancimat 843 (figura 39). Figura 39 - Analisador da estabilidade oxidativa de biodiesel, óleos e gorduras, modelo 843 Biodiesel Rancimat da Metrohm. Fonte: Metrohm Information, 2007. Inicialmente, 3,0 g das amostras foram acondicionadas em um tubo de ensaio e alocadas em um bloco de aquecimento com variação de temperaturas fixadas em 110, 120, 130 e 140 °C (para verificar o efeito da temperatura sobre a estabilidade oxidativa das mesmas) com fluxo de ar constante de 10 L.h-1 e fator de correção (T) de 0,9 ºC. Os produtos oriundos da decomposição térmica e oxidativa foram arrastados pelo fluxo de ar para dentro de uma célula condutivimétrica de medição (abastecida de água destilada como solução de absorção). O período de indução foi observado quando ocorreu um súbito aumento da condutividade elétrica da célula, o qual representa a formação de Capítulo 4 – Metodologia 115 produtos secundários de oxidação. O indício do término da análise se deu quando a condutividade atingiu 200 µS.cm-1, este método de ensaio é completamente automatizado. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 116 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os resultados das análises para os óleos vegetais (utilizados como matéria-prima), os biocombustíveis (biodiesel) obtidos pela reação de transesterificação, através da rota metílica, bem como para as blends desses biocombustíveis. Todas as amostras foram caracterizadas de acordo com os padrões técnicos estabelecidos por órgãos competentes e específicos para cada tipo de amostra. Para obtenção das blends, ao biodiesel de girassol e soja foi adicionado o biodiesel de mamona, nas concentrações de 20, 40, 50, 60 e 80% m/m, com intuito de estudar a eficiência deste e, por conseguinte, a viabilidade do mesmo como aditivo antioxidante, quando estudada a estabilidade térmica e oxidativa das mesmas, através das análises de termogravimetria (TG/DTG), calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (P-DSC) e Rancimat. 5.1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS ÓLEOS DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA A caracterização físico-química dos óleos vegetais foi realizada visando avaliar se os mesmos possuíam condições favoráveis para serem utilizados como matéria-prima na reação de transesterificação e, por conseguinte uma melhor qualidade do biocombustível obtido. Para tal, foram efetuadas as seguintes análises: ácidos graxos livres, enxofre total, índices de acidez e iodo, massa específica, viscosidade cinemática e ponto de fulgor, os dados estão reportados na tabela 13. A caracterização físico-química se torna relevante, pois as condições da reação de transesterificação, dependendo do óleo vegetal, podem se adequar a este, como por exemplo, utilizar outro tipo de álcool ou catalisador, bem como quantidade de reagentes, tempo de reação e temperatura. O óleo também pode receber um pré-tratamento, caso não esteja favorável ao processo reacional (MORETTO & FETT, 1998). Capítulo 5 - Resultados e Discussão 117 Tabela 13 - Características físico-químicas dos óleos de girassol, mamona e soja Óleo de Óleo de Óleo de Girassol Mamona Soja Ácidos graxos livres (%) 0,0 0,1 0,3 Enxofre total (mg.kg-1) 0,2 0,3 0,3 Índice de acidez (mg KOH.g-1) 0,1 2,0 0,18 Índice de iodo (g de I2.100g-1) 135,4 90,8 126,2 Massa específica a 20ºC (kg.m-3) 919,8 962,0 921,2 Ponto de fulgor (°C) 314,7 293,7 318,0 Viscosidade cinemática a 40 º C (mm2.s-1) 35,5 141,5 36,5 Característica De acordo com Freedman et al. (1984), os principais parâmetros que afetam a reação de transesterificação são: a razão molar óleo vegetal ao álcool, tipo e quantidade de catalisador, tempo, temperatura e os teores de ácidos graxos livres e água no óleo e, por conseguinte, a ordem cinética, as taxas de reação e a energia de ativação (FREEDMAN, 1984; FREEDMAN, 1986). A reação de transesterificação é diretamente influenciada pelas características do óleo vegetal, as quais dificultam o processo de obtenção do biodiesel. Segundo Knothe et al. (2006), uma das características relevantes é o valor do índice de acidez, estes pesquisadores estimam que este parâmetro deve ser inferior a 1 mg KOH.g-1. No entanto, Ramadhas et al. (2005a) e Sharma e Singh (2007) citam que só é possível ocorrer a transesterificação catalisada por base, se o óleo possuir acidez inferior a 4 mgKOH.g-1. A Resolução da Diretoria Colegiada n° 270 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estima em inferior a 0,6 mgKOH.g-1. Segundo Santos (2010), a quantidade de ácidos graxos livres tem uma implicação direta na reação de transesterificação, de forma que o rendimento atinja o máximo da reação quando o valor for inferior a 0,5%. Estes são indicativos de impurezas e podem afetar no rendimento da reação, com a subsequente formação de subprodutos (SANTOS, 2010). Capítulo 5 - Resultados e Discussão 118 Os óleos de girassol e soja apresentaram valores de índice de acidez de acordo com os parâmetros permitidos pelas resoluções vigentes para serem utilizados na reação de transesterificação convencional, exceto o óleo de mamona, pela resolução RDC n° 270 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Segundo Knothe (2005), tal parâmetro está relacionado com o estado de conservação do óleo, o qual pode ser atribuído à presença de ácidos graxos livres, uma vez que a decomposição dos glicerídeos catalisada pela luz, e a rancidez proveniente desse processo é quase sempre acompanhada pela formação desses compostos. Mahajan et al., (2006), relacionam o índice de acidez exclusivamente ao conteúdo de ácidos graxos formados pela hidrólise das ligações dos ésteres, tanto na matéria-prima como no biodiesel durante a sua obtenção. Portanto, os resultados indicam que o óleo de mamona, não possuía boa qualidade de conservação, implicando na necessidade de um tratamento prévio desse óleo antes da reação de síntese do biocombustível. De acordo com Ramadhas (2005a), um alto índice de acidez implica num menor rendimento na obtenção do biodiesel. O que pode ser corroborado com os dados da tabela 14, em que o óleo de mamona apresentou um maior índice de acidez, e, por conseguinte, um menor rendimento. Nesse âmbito, Moretto e Fett (1998) indicam um pré-tratamento para o óleo quando este apresenta um alto índice de acidez. O pré-tratamento consiste num processo de neutralização, através da adição de uma solução alcalina, tal como: hidróxido de sódio (NaOH) ou carbonato de sódio (Na2CO3), pois estas eliminam do óleo os ácidos graxos livres e outros componentes definidos como “impurezas” (proteínas, ácidos oxidados, produtos de decomposição de glicerídeos), seguida de uma operação de secagem ou desumidificação (PARENTE, 2003). A neutralização ocorre na interface do óleo e a solução alcalina. Sendo estas fases intersolúveis, a neutralização exige uma dispersão alcalina em óleo, porém quando o óleo apresenta um nível de acidez elevado isso acarreta em biodiesel de má qualidade (MORETTO & FETT, 1998). No presente trabalho, o óleo de mamona foi submetido ao pré-tratamento sugerido pelos pesquisadores, embora sem êxito. Os óleos vegetais exibiram uma alta viscosidade cinemática, sendo esta maior para o óleo de mamona por este apresentar na sua composição um alto teor de ácido ricinoléico. A viscosidade está diretamente relacionada ao tamanho e, por conseguinte, ao peso molecular do ente químico, portanto, quando o comprimento das cadeias aumenta, há Capítulo 5 - Resultados e Discussão 119 também um aumento na viscosidade, que por sua vez, diminui com as insaturações. Logo, a viscosidade é função das dimensões da molécula e de sua orientação, ou seja, aumenta com a hidrogenação (MORETTO & FETT, 1998). Para os óleos de girassol e soja, as viscosidades foram similares, podendo ser atribuídas à semelhança na composição química de ambos. 5.2 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA Os rendimentos da reação de transesterificação dos óleos vegetais foram calculados e estão apresentados na tabela 14. Foi observado que a reação que apresentou maior rendimento reacional foi aquela em que se fez uso do óleo de girassol como matéria-prima, e este óleo foi o que apresentou o menor índice de acidez. Tabela 14 - Rendimento das reações de transesterificação das amostras de biodiesel Amostras Rendimento (%) Biodiesel de Girassol 98,6 Biodiesel de Mamona 93,6 Biodiesel de Soja 95,7 Para garantir a qualidade do biodiesel é necessário estabelecer padrões de qualidade, com o intuito de fixar teores limites dos contaminantes que não venham prejudicar a qualidade nas emissões da queima, bem como o desempenho, a integridade do motor e a segurança no transporte e manuseio. Devem ser monitoradas também possíveis degradações do produto durante o processo de estocagem (LOBO, 2009). De acordo com Parente Jr (2009), o biodiesel deve se adequar às especificações vigentes, bem como ser diferenciado por qualidade ou custo, caso contrário não poderá ser designado por biodiesel. Na tabela 15 estão apresentados os dados referentes à caracterização físico-química do biodiesel de girassol, mamona e soja, em conformidade com a Resolução ANP nº 7, de 19.3.2008 - DOU 20.3.2008, que atualmente determina os padrões de qualidade nacional para o biodiesel, tendo como referência: American Society Capítulo 5 - Resultados e Discussão 120 of Testing and Materials (ASTM), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e British Standard (BS EN). Tabela 15 - Características físico-químicas do biodiesel de girassol, mamona e soja obtidos pela rota metílica Característica Método Unidade Biodiesel Limites Girassol Mamona Soja ANP Aspecto - - LII LII LII LII Enxofre Total ASTM D 4294 % massa 0,4 0,3 0,5 - Índice de Acidez, (máx) - mg.KOH g-1 0,3 0,9 0,2 0,5 Índice de Iodo EN 14111 g I2.100g-1 125,2 87,7 126,2 Anotar Massa Específica a 20 ºC ASTM D 4052 kg.m-3 883,3 920,4 881,9 850 - 900 Ponto de Fulgor, (mín) ASTM D 93 182 236 184 100 4,3 13,0 4,6 3,0 - 6,0 ° C Viscosidade ASTM mm2.s-1 Cinemática D 445 LII – Límpido e Isento de Impurezas Quando comparados os resultados da caracterização físico-química dos biocombustíveis aos dados dos óleos vegetais, foi observado que as reações de transesterificação foram realizadas com êxito. Um dos indícios para tal é a diminuição significativa da viscosidade cinemática, massa específica e do índice de iodo. Para a viscosidade cinemática foi observada uma diminuição em quase dez vezes. A viscosidade elevada é um dos fatores que limita o uso de óleos vegetais como combustível. Essa diminuição é um indício da conversão dos triglicerídeos em ésteres metílicos, embora as interações que compõem a ambos serem similares (forças de Van der Waals), o tamanho molecular dos triglicerídeos é consideravelmente maior do que os ésteres metílicos (RINALDI et al. 2007). Segundo Lobo et al. (2009), a alta viscosidade ocasiona heterogeneidade na combustão do biodiesel, devido à diminuição da eficiência de atomização na câmara de Capítulo 5 - Resultados e Discussão 121 combustão, ocasionando a deposição de resíduos nas partes internas do motor. Dos biocombustíveis analisados foi observado que o biodiesel de mamona apresentou a maior viscosidade, resultante de uma relação direta com a natureza da matéria-prima utilizada. De acordo com Dabdoub et al. (2009), a alta viscosidade, neste caso, mesmo após a transesterificação do óleo pode reduzir a atomização do combustível, causando uma maior formação de depósitos no sistema de injeção, além de dificultar o trabalho do sistema de bombeamento do combustível. Além do tamanho da cadeia e do grau de saturação, a configuração das duplas ligações (cis e trans) influencia na viscosidade. Configurações cis apresentam viscosidades inferiores à da configuração trans. Já a posição da dupla ligação e a presença de ramificação ligada aos ésteres tem pouca ou nenhuma influência na mesma (GONDIM, 2009). A conversão dos triglicerídeos em ésteres metílicos pode ser também enfatizada, além dos dados da viscosidade cinemática, junto aos dados da massa específica e do índice de iodo, para os quais observa-se uma diminuição. A massa específica do biodiesel está diretamente relacionada com a estrutura das suas moléculas. Quanto maior o comprimento da cadeia carbônica do alquiléster, maior será a densidade, no entanto este valor decrescerá quanto maior for o número de insaturações presentes na molécula (LOBO,2009). Dentre os padrões de qualidade apresentados, a norma ASTM não considera relevante a massa específica do biodiesel como parâmetro de qualidade. Tanto para a resolução brasileira, como para a norma européia, os métodos de análise da massa específica do biodiesel são os mesmos comumente aplicados aos derivados de petróleo. A norma européia estabelece valores de massa específica entre 860 a 900 kg m-3, com determinação através dos métodos EN ISO 3675, que utiliza hidrômetros de vidro, e EN ISO 12185, que emprega densímetros digitais. A RANP nº 07/2008, fixa uma faixa de valores de densidade entre 850 a 900 kg.m-3. Nesta resolução, além dos métodos indicados pela norma européia, são estabelecidos os métodos ASTM D1298 e NBR 7148 (hidrômetros de vidro) e os métodos ASTM D4052 e NBR 14065 (decímetros digitais). A resolução brasileira estabelece ainda que o biodiesel produzido tem um prazo máximo de um mês, a contar da data de certificação, para ser comercializado. Passado este prazo, deve ser realizada uma nova análise da massa específica a 20 ºC, e, havendo diferença inferior a 3,0 kg.m-3 em relação ao valor do certificado, deverão ser novamente analisados o teor de Capítulo 5 - Resultados e Discussão 122 água, o índice de acidez e a estabilidade à oxidação a 110 ºC. Caso a diferença seja superior a 3,0 kg.m-3, deverão ser reavaliados todos os parâmetros de qualidade da resolução (LOBO, 2009). O índice de iodo como por definição, corresponde à medida do grau de insaturação, ou seja, o grau quantitativo de insaturações na amostra. Não tem apenas efeito nos valores de densidade e viscosidade, mas também é de grande relevância na estabilidade oxidativa do biodiesel: a diminuição deste indica a clivagem de uma parte das insaturações na amostra (LOBO,2009). O ponto de fulgor do biodiesel, se completamente isento de metanol ou etanol, é superior à temperatura ambiente, significando que o combustível não será inflamável nas condições normais ao ser transportado, manuseado e armazenado, servindo inclusive para ser utilizado em embarcações. Este parâmetro é influenciado pela massa molecular e composição estrutural das substâncias. Quando comparados os valores dos pontos de fulgor dos biocombustíveis, verificou-se que o biodiesel de mamona exibiu o maior ponto de fulgor, seguido pela soja e girassol. Como supracitado, isso reside no fato dessas duas matérias-primas apresentarem composições químicas similares, como por exemplo, a presença de ácidos graxos com menor número de carbonos quando comparados ao biodiesel de mamona, bem como menor percentual de compostos insaturados, que apresentam uma menor rigidez frente aos insaturados, dessa forma facilitando a volatilização dos mesmos. Como as matérias-primas utilizadas na obtenção de biodiesel são teoricamente isentas de enxofre, os seus respectivos biocombustíveis também o serão, os valores das medidas de enxofre total, apresentaram-se bem próximos, e o teor expresso pode ser atribuído às pequenas discrepâncias encontradas no próprio erro experimental. Cabe ressaltar que a ausência de enxofre nos biocombustíveis confere grande vantagem em relação ao diesel, pois elimina a emissão de gases de enxofre (SOx) causadores da chuva ácida, uma vez que esta é o resultado da combinação desse tipo de gás com o hidrogênio presente na atmosfera, ocasionando precipitação sob a forma de vapor d’água (FERRARI, SOUZA, 2005). Em suma, os bicombustíveis obtidos dos óleos de girassol e soja apresentaram-se em conformidade com a Resolução n° 7/2008 da ANP, enquanto o biodiesel de mamona apresentou elevada massa específica e viscosidade cinemática (propriedades que limitam seu uso como combustível B-100) além de uma elevada acidez. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 123 5.3 CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL DE GIRASSOL, MAMONA E SOJA POR CROMATOGRAFIA À GÁS Através da cromatografia a gás é possível determinar e quantificar o teor de metanol e etanol, bem como os ésteres metílicos presentes no biodiesel. 5.3.1 Determinação do metanol e etanol no biodiesel de girassol, mamona e soja A especificação do biodiesel possui parâmetros rigorosos quanto à presença de impurezas. Uma dessas impurezas é o álcool residual (metanol e/ou etanol) (GONDIM, 2009), oriundos do processo de transesterificação, uma vez que para o favorecimento da produção do biocombustível, o equilíbrio da reação é deslocado para a formação dos ésteres pelo uso de um excesso de álcool. O álcool deve ser totalmente removido do biocombustível durante o processo de purificação. De acordo com a Resolução Técnica ANP no 1/2008 e ASTM D6751, o limite máximo permitido é de 0,2% m/m. O cromatograma obtido de acordo com a norma NBR 15343 para o biodiesel de girassol está apresentado na figura 40, enquanto os perfis cromatográficos para os demais biocombustíveis (mamona e soja) foram os mesmos do biodiesel de girassol. Figura 40 - Cromatograma da determinação de metanol e etanol do biodiesel de girassol. 1500 1500 TRACE GC-FID ESQUERDO Name 0 0 1 t-butanol (PI) Etanol 500 Millivolts 1000 Metanol Millivolts 1000 500 0 2 3 4 5 6 7 8 Minutes Pelo cromatograma, observou-se que o metanol elui primeiro, seguido das eluições do etanol e do padrão interno (terc-butanol), em virtude do tamanho da cadeia carbônica de cada álcool. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 124 Segundo Faria (2007), a presença de metanol ou etanol no biodiesel, em concentrações superiores ao especificado pela legislação vigente, interfere no ponto de fulgor (propriedade importante dos combustíveis) e como supracitado, está relacionada ao armazenamento e transporte dos mesmos. Pela Resolução n° 7/2008 da ANP, o teor máximo permitido para álcool (metanol ou etanol), no biodiesel é de 0,2% massa. Sendo assim, a sua determinação deve ser feita através de metodologias bem estabelecidas. A especificação européia indica a norma EN14110, que utiliza a técnica de cromatografia a gás com headspace, um dispositivo que não é muito utilizado em análises de combustíveis, por se tratar de um acessório que eleva o custo do sistema cromatográfico. O equipamento utilizado na metodologia descrita na NBR15343 é um cromatógrafo com uma configuração básica, muito comum nos laboratórios de cromatografia a gás, sendo essa a grande vantagem do método (FARIA, 2007). Esse método é aplicável a amostras de biodiesel provenientes de quaisquer oleaginosas, inclusive mamona. Na tabela 16, estão apresentados os resultados da quantificação do metanol e etanol. De acordo com a análise, nenhum dos biocombustíveis apresentou um teor de metanol ou etanol significativo, isto é um indício de que o processo de purificação (lavagem e secagem) dos biocombustíveis foi realizado com êxito. Os valores estão dentro do limite especificado pela resolução vigente, portanto os biocombustíveis analisados podem ser considerados seguros para o transporte, manuseio e armazenamento. Tabela 16 - Dados obtidos na determinação de metanol e etanol do biodiesel de girassol, mamona e soja por cromatografia a gás Características Metanol Etanol Total Especificação Biodiesel de Girassol 0,015 NI 0,015 0,2 Biodiesel de Mamona 0,023 NI 0,023 0,2 Biodiesel de Soja 0,023 NI 0,023 0,2 NI – Não Identificado. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 125 5.3.2 Determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de girassol, mamona e soja A quantificação dos ésteres é outro fator relevante, uma vez que esse parâmetro corresponde à medida da pureza do biodiesel, pois evidencia a conversão dos ácidos graxos em ésteres (metílicos e/ou etílicos) após a reação de transesterificação. O teor de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos é obtido a partir da quantificação de ésteres com cadeias compreendidas entre C14 e C24. A norma indicada sugere a cromatografia a gás (CG-FID) com padronização interna (heptadecanoato de metila), coluna do tipo capilar com fase estacionária de polietilenoglicol (FONTOURA, 2008, EN 14103 – Fats and oil derivates – Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of ester and linoleic acid methyl esters contents). O teor de ésteres graxos é expresso como fração mássica (%). Nas figuras 41, 42 e 43, estão ilustrados os cromatogramas das amostras de biodiesel metílico de girassol, mamona e soja metílico, respectivamente. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 126 Figura 41 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de girassol. 1200 Biodiesel de Girassol C18:2 1000 600 C18:1 0 0 2 4 6 C22:0 C22:1 C14:0 C12:0 200 C24:0 C17:0 C18:0 C16:0 400 C18:3 C20:0 C20:1 mV 800 8 10 12 14 Tempo de retenção (min) Figura 42 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de mamona. 1200 Biodiesel de Mamona C18:1:OH 1000 C18:1 600 C24:0 C18:2 C18:3 200 C16:0 C17:0 C18:0 400 C14:0 mV 800 0 0 2 4 6 8 10 Tempo de retenção (min) 12 14 16 Capítulo 5 - Resultados e Discussão 127 Figura 43 - Cromatograma da determinação e quantificação dos ésteres no biodiesel de soja 1200 Biodiesel de Soja C18:2 1000 C18:3 C18:1 200 C20:0 C20:1 C16:1 C17:0 C18:0 400 C22:0 600 C16:0 mV 800 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Tempo de retençao (min) Nos cromatogramas para o biodiesel de girassol (figura 41), mamona (figura 42) e soja (figura 43), foram detectados os principais ésteres de cada oleaginosa. Para o biodiesel de girassol, os picos mais intensos observados foram dos ésteres oleato e linoleato de metila, compostos insaturados. Para o biodiesel de mamona, o ricinoleato de metila proveniente do ácido ricinoléico (componente majoritário); e para o biodiesel de soja, os ésteres estearato, oleato e linoleato, sendo o primeiro saturado e os demais insaturados. Através das análises cromatográficas, no que compete às estabilidades térmica e oxidativa, pode-se estimar que os biocombustíveis de girassol e soja sejam mais pobres em virtude da quantidade significativa de ésteres insaturados. Os tempos de retenção e os percentuais relativos (%m/m) de cada éster detectado estão apresentados na tabela 17. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 128 Tabela 17 - Determinação e quantificação do total de ésteres do biodiesel de girassol, mamona e soja por cromatografia a gás Ésteres Metílicos B100 Girassol Tempo de retenção (min) B100 Mamona % m/m Tempo de retenção (min) % m/m B100 Soja Tempo de retenção (min) % m/m Miristato (C14:0) 3,293 0,67 3,292 0,29 3,297 0,28 Palmitato (C16:0) 4,232 7,70 4,223 2,38 4,238 8,24 Palmitoleato (C16:1) 4,498 0,19 4,340 0,04 4,512 2,03 Estearato (C18:0) 5,680 3,23 5,650 1,17 5,690 2,63 Oleato (C18:1) 5,770 19,26 5,740 5,25 5,780 18,60 Linoleato (C18:2) 6,077 42,99 6,038 9,88 6,073 42,68 Linolenato (C18:3) 6,457 2,49 6,445 0,95 6,335 8,79 Araquidoneato (C20:0) 7,132 0,80 7,225 0,54 6,728 1,12 Behenato (C22:0) 8,998 1,12 8,660 1,31 8,678 1,00 Erucicato (C22:1) 9,390 0,32 9,003 0,49 9,007 0,71 - - 11,308 71,90 - - 12,178 0,17 12,747 0,09 12,320 0,03 Outros - 15,97 - 4,11 - 12,51 Total de Insaturados - 65,25 - 88,51 - 72,81 Total de Saturados - 13,69 - 5,78 - 13,30 Total de Ésteres - 94,91 - 98,40 - 98,62 Ricinoleato (C18:1:OH) Lignocereato (C24:0) De acordo com o Regulamento Técnico no 1/2008, embasado na norma européia EN 14103, o teor de ésteres deve ser superior a 96,5% e para o éster metílico proveniente do ácido linolênico inferior a 12% m/m. Este, por apresentar o maior número de insaturações, e, por conseguinte, se presente em concentração significativa, propicia o Capítulo 5 - Resultados e Discussão 129 processo de oxidação. Os biocombustíveis de mamona e soja apresentaram-se dentro dos limites quanto ao teor mínimo de ésteres presentes no biodiesel, enquanto o biodiesel de girassol, não atendeu a esta especificação. Os biocombustíveis provenientes dos óleos de girassol e soja apresentaram uma quantidade de ésteres insaturados, superior ao de saturados. Esta evidência implica em que, ambos possuem uma maior probabilidade de sofrer um processo oxidativo mais efetivo quando comparados ao biodiesel de mamona. Apesar do biodiesel de mamona ter apresentado 88,5% de ésteres insaturados, 71,9% corresponde a um éster monoinsaturado (ricinoleato de metila). Embora insaturado, este éster confere ao biodiesel de mamona uma propriedade singular frente aos outros biocombustíveis, de ser estável tanto a temperaturas relativamente altas como na presença de oxigênio, em virtude das ligações de hidrogênio intra e intermoleculares. No tocante ao teor de éster metílico proveniente do ácido linolênico, o biodiesel de mamona apresentou uma concentração não significativa deste os biocombustíveis de girassol e soja, apesar de apresentarem uma quantidade superior, se comparado ao de mamona, apresentaram-se em conformidade ao teor mínimo deste éster, sendo um indício de serem mais suscetíveis ao processo oxidativo. 5.4 EFEITO DA ADIÇÃO DO BIODIESEL DE MAMONA SOBRE O BIODIESEL DE GIRASSOL E SOJA NAS PROPORÇÕES 20, 40, 50, 60 e 80% Visando o uso do biodiesel de mamona como combustível pelas propriedades de estabilidade tanto térmica como oxidativa, em contrapartida, indesejáveis como: massa específica e viscosidade cinemática, o biodiesel de mamona foi adicionado nas percentagens de 20, 40, 50, 60 e 80% m/m, aos biocombustíveis de girassol e soja, os quais exibiram conformidade aos parâmetros requeridos pela especificação vigente. Embora estes biocombustíveis não possuam uma boa estabilidade oxidativa, foi observado o efeito da adição do biodiesel de mamona frente a massa específica e viscosidade cinemática destes biocombustíveis. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 130 5.4.1 Massa Específica 5.4.1.1 Blends girassol/mamona e soja/mamona Nas Figuras abaixo (Figura 44), está ilustrado o efeito da adição do biodiesel de mamona, na massa específica dos biocombustíveis de girassol e soja. Como observado uma adição de até 40% de biodiesel de mamona é aceitável no biodiesel de girassol, de acordo com o limite estipulado pela Agência Nacional do Petróleo Gás e Biocombustíveis. Enquanto para o biodiesel de soja foi de 50%, estas quantidades elevaram as massas específicas para 897 e 899 kg.m-3 respectivamente, sendo que o limite permitido para biocombustíveis está compreendido na faixa entre 850-900 kg.m-3. Figura 44 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre a massa específica do (a) biodiesel de girassol e do (b) biodiesel de soja 925 920 Massa Especifica a 20° C das Blends Girassol/Mamona (a) -3 Massa Específica (Kg.m ) 915 910 905 900 895 890 885 880 0 20 40 60 80 100 Percentual de biodiesel de mamona adicionado ao biodiesel de girassol (%) Capítulo 5 - Resultados e Discussão 131 925 Massa Específica a 20° C das Blends Soja/Mamona 920 -3 Massa Específica (Kg.m ) 915 (b) 910 905 900 895 890 885 880 0 20 40 60 80 100 Percentual de biodiesel de mamona adicionado ao biodiesel de soja (%) 5.4.2 Viscosidade Cinemática 5.4.2.1 Blends Girassol/ Mamona e Soja/ Mamona A figura 45 ilustra o efeito da adição do biodiesel de mamona sobre a viscosidade cinemática dos biocombustíveis de girassol e soja. Como esperado, a adição do biodiesel de mamona provocou o aumento na viscosidade cinemática de ambos. O limite especificado pela ANP para a viscosidade cinemática do biodiesel compreende um intervalo de 3,0 - 6,0 mm2.s-1 . As blends preparadas com frações mássicas acima de 20% mostraram-se fora dos limites permitido pela portaria. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 132 Figura 45 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre a viscosidade cinemática do (a) biodiesel de girassol e do (b) biodiesel de soja 14 12 2 -1 Viscosidade Cinemática (mm s ) Viscosidade Cinemática a 40°C das Blends Girassol/Mamona (a) 10 8 6 4 0 20 40 60 80 100 Percentual de Biodiesel de Mamona adicionado ao Biodiesel de Girassol (%) 14 12 2 -1 Viscosidade Cinemática (mm s ) Viscosidade Cinemática a 40°C das Blends Soja/Mamona (b) 10 8 6 4 0 20 40 60 80 100 Percentual de Biodiesel de Mamona adicionado ao Biodiesel de Soja (%) Pode-se observar também que para as blends preparadas com biodiesel de soja e mamona com frações mássicas de 40 e 50%, não houve uma diferença muito significativa de viscosidade. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 133 5.4.3 Ponto de Fulgor 5.4.3.1 Blends Girassol/ Mamona e Soja/ Mamona Um aumento significativo foi observado ao passo da adição do biodiesel de mamona no ponto de fulgor das amostras (figura 46) o que proporciona um combustível termicamente estável e, por conseguinte seguro para transporte. A resolução não estabelece valores máximos para a temperatura do ponto de fulgor, pelo contrário, estabelece um valor mínimo de 100 °C. Quanto maior for o ponto de fulgor, mais interessante se torna o biodiesel no tocante a armazenagem. Figura 46 - Efeito da adição do biodiesel de mamona sobre o ponto de fulgor do (a) biodiesel de girassol e do (b) biodiesel de soja. 240 Ponto de Fulgor (°C) 230 Blends girassol/mamona (a) 220 210 200 190 180 0 20 40 60 80 100 Percentagem de biodiesel de mamona adicionado ao biodiesel de girassol(%) Capítulo 5 - Resultados e Discussão 134 240 Blends Soja/Mamona Ponto de Fulgor (°C) 230 (b) 220 210 200 190 180 0 20 40 60 80 100 Percentagem de biodiesel de mamona adicionado ao biodiesel de soja (%) Diferentemente das análises de massa específica e viscosidade cinemática, um acréscimo de 10% de biodiesel mamona apresentou-se bastante significativo, uma vez que elevou a temperatura de 190 a 214 °C (nas blends de fração mássica 40 e 50%, composta por girassol e mamona), bem como, de 189 a 213 °C (nas blends compostas por soja e mamona). 5.5 ESTUDO DA ESTABILIDADE TÉRMICA E OXIDATIVA A estabilidade térmica e oxidativa dos óleos vegetais, dos biocombustíveis e suas respectivas blends foram estudadas através da Análise Termogravimétrica (TG/DTG), Calorimetria Exploratória Diferencial sob Alta Pressão (P-DSC) e Rancimat. Para avaliar a estabilidade térmica e as reações de oxidação que ocorrem em óleos e gorduras, o uso de métodos termoanalíticos, como: termogravimetria, termogravimetria derivada (TG/DTG) e calorimetria exploratória diferencial (DSC), têm sido eficientes para estimar a qualidade dos óleos através da determinação de parâmetros cinéticos e do período de indução oxidativo. Por outro lado, como a decomposição termoxidativa envolve reações endotérmicas e exotérmicas, é possível calcular a energia envolvida no processo pelas técnicas DTA e DSC. Portanto, estes métodos são mais vantajosos que os métodos convencionais, em virtude da sensibilidade e precisão, sendo necessárias quantidades de Capítulo 5 - Resultados e Discussão 135 amostras pequenas e os resultados são obtidos mais rapidamente (SOUZA, 2004; SANTOS, 2002; GARCIA, 2007 apud PARDAUIL, 2010). Pardauil et al. (2010), atentam para a importância de avaliar o processo e as condições de estocagem, bem como, as reações de decomposição dos óleos, em que a principal reação é a oxidação e também a verificação das estabilidades térmicas. Segundo Dunn (2005) para o estudo da estabilidade oxidativa, o método mais indicado é a calorimetria exploratória diferencial sob alta pressão, por fornecer moles de oxigênio disponíveis para reação, permitindo a aceleração da reação a baixas temperaturas. A literatura mostra que a termogravimetria pode ser importante para verificar a tendência de algumas substâncias ao processo oxidativo, mas não é suficiente no detalhamento de parâmetros como período de indução e temperatura de indução oxidativa. Rudnick e colaboradores (2001) apresentaram resultados termogravimétricos do estudo da estabilidade oxidativa do óleo de linhaça com adição de dois antioxidantes, que correlacionando a estabilidade térmica com a oxidativa. Segundo os autores, os métodos termoanalíticos podem ser utilizados na predição da estabilidade de óleos vegetais e para a avaliação da eficiência de antioxidantes. 5.5.1 Análise Termogravimétrica (TG/DTG) A análise termogravimétrica foi realizada com intuito de estudar a estabilidade térmica de cada amostra, bem como a pureza dos materiais precursores. O comportamento termogravimétrico das matérias-primas, dos biocombustíveis e suas blends, foram verificados através da determinação de alguns parâmetros, tais como: temperatura inicial e final de decomposição, temperatura do pico da curva da termogravimetria derivada (DTG) e as etapas de decomposição e perda de massa. 5.5.1.1 Óleo de girassol, mamona e soja A figura 47 ilustra a variação de massa versus temperatura na razão de aquecimento de 10 °C.min-1, em atmosfera de ar sintético de 60 mL.min-1, com o intuito de avaliar o perfil termogravimétrico das matérias-primas. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 136 Figura 47 - Curvas TG/DTG: (a) óleo de girassol; (b) óleo de mamona e (c) óleo de soja. 0.000 100 546,0 °C -0.002 -0.004 60 -0.006 1/°C Perda de massa (%) 80 40 -0.008 20 426,8 °C (a) -0.010 TG Óleo de Girassol DTG Óleo de Girassol 0 396,3 °C 0 100 200 300 400 -0.012 500 600 Temperatura (°C) 0.000 100 549,3 °C -0.002 -0.004 60 -0.006 40 428,3 °C -0.008 20 (b) -0.010 TG Óleo de Mamona DTG Óleo de Mamona 379,5 °C 0 -0.012 0 100 200 300 400 Temperatura (°C) 500 600 1/°C Perda de massa (%) 80 Capítulo 5 - Resultados e Discussão 137 0.000 100 547,5 °C -0.002 -0.004 60 -0.006 40 (c) 20 100 200 -0.010 396,7 °C 0 0 -0.008 421,0 °C TG Óleo de Soja DTG Óleo de Soja 300 400 1/°C Perda de massa (%) 80 500 600 Temperatura (°C) Na figura 47, através das curvas DTG pode-se observar que todos os óleos vegetais apresentaram três etapas de decomposição térmica e que as temperaturas do pico máximo dessas perdas de massa foram similares, porém com intensidades distintas e mais acentuadas na figura 47(b) para o óleo de mamona. Segundo Vernon e Ross (1936), o óleo de mamona é constituído por aproximadamente 95% de ácidos graxos, sendo que 80% correspondem ao ácido ricinoléico e os 15% restantes a uma mistura de ácidos oléico, linoléico, esteárico e dihidroxiesteárico. À primeira etapa de perda de massa pode estar associada à volatilização/decomposição do ácido ricinoléico (ácido graxo majoritário desta oleaginosa). Por apresentar apenas uma insaturação na sua estrutura molecular e ligações fortes do tipo hidrogênio, a intensidade da perda pode ser corroborada por estes fatores. Já as terceiras etapas são bem similares e ocorreram nos três óleos. Buzás e Kurucz (1979) analisaram a decomposição térmica dos óleos de girassol e canola (frescos e após tratamento térmico por TG/DTG e DTA). Os pesquisadores observaram três etapas de decomposição para os óleos frescos. Dweck e Sampaio (2004) avaliaram a decomposição térmica dos óleos de canola, girassol, milho, oliva e soja pelas mesmas técnicas termoanalíticas, encontrando boas correlações entre a temperatura inicial de decomposição e o calor de combustão dos óleos, exceto para o óleo de milho. Conceição et al. (2007) estudaram a degradação térmica e oxidativa do óleo de mamona, em que foi observada três etapas de perda de massa, a estes eventos térmicos os Capítulo 5 - Resultados e Discussão 138 autores atribuíram a decomposição e/ou volatilização dos triacilglicerídeos (principalmente o ácido ricinoléico), nas seguintes faixas de temperatura: 221-395, 395-482 e 482-773 °C, com perdas de massa de 56, 31 e 12%. Santos et al. (2004) compararam as curvas de TG/DTG e DSC de alguns óleos vegetais atribuindo a primeira etapa (200 - 380 ºC) a termodecomposição da maioria dos ácidos graxos poliinsaturados (sendo esta a etapa, segundo os autores, a mais relevante para determinação da ordem da estabilidade oxidativa das amostras). A segunda (380 - 480 ºC) etapa foi relacionada à decomposição dos ácidos graxos monosaturados (durante essa reação, as duplas ligações são quebradas levando a saturação das moléculas dos triglicerídeos que são os constituintes dos óleos vegetais), já a terceira etapa (480 - 600 ºC) a decomposição térmica dos ácidos graxos saturados. Em contrapartida, Buzás e Kurucz (1979) e Dweck e Sampaio (2004) atribuíram a última etapa a decomposição dos óleos de girassol e canola e a oxidação de diferentes materiais residuais carbonáceos formados no evento térmico anterior, respectivamente. Vernon e Ross (1936) estudaram as características do resíduo de óleo de mamona quando submetido ao craqueamento térmico. Segundo esses autores, sob a influência de calor determinadas propriedades como os índices de acidez, saponificação, acetil e iodo do resíduo são influenciados, sendo assim, o resíduo se torna uma fonte de informações sobre o mecanismo de ruptura da molécula. A fórmula estrutural do ácido ricinoléico indica que o provável local da cisão, ocorre entre o décimo segundo e décimo terceiro carbono para produzir um aldeído. A porção glicerol da molécula se rompe facilmente para resultar em acroleína, o terceiro possível produto seria o ácido undecilênico, porém os estudos da época observaram que após a remoção do heptadeíldo e da acroleína, o produto final consistia de uma mistura complexa. Os mesmos autores citam o trabalho desenvolvido por Perkins e Cruz (1927), os quais encontraram na destilação a 400 °C e pressão de 50 mm., um destilado composto por cerca de 40% heptaldeído e 20% de ácido undecilênico. Roy (1933) estudou as mudanças no óleo de mamona quando aquecido a 140 °C na presença de oxigênio e nitrogênio e verificou que as propriedades como viscosidade cinemática, índice de iodo, acidez e refração tem uma influência direta na presença de oxigênio, em que foi observado um aumento. Barbot (1933) sugeriu um rearranjo molecular como o meio em que a molécula Capítulo 5 - Resultados e Discussão 139 pode romper-se sob a influência de calor. Os resultados do trabalho desenvolvido por Vernon e Ross se tornam relevantes para essas interpretações. Na tabela 18, estão apresentados o intervalo de temperatura e o percentual de perda de massa para cada etapa, bem como a massa residual. Tabela 18 - Dados termogravimétricos do óleo de girassol, mamona e soja Amostra Óleo de Girassol Óleo de Mamona Óleo de Soja Etapa Intervalo de Temperatura (oC) Perda de Massa (%) 1ª 195 – 410 50,3 2ª 410 - 500 44,3 3ª 500 - 590 4,1 1ª 195 – 400 54,6 2ª 400 - 505 40,3 3ª 505 – 585 4,1 1ª 250 – 410 50,4 2ª 410 – 500 43,0 3ª 500 - 590 4,9 Massa residual (%) 1,4 1,1 1,6 Como relatado, os óleos vegetais apresentaram três eventos de perda de massa, esses perfis provavelmente associados à volatilização/evaporação dos ácidos graxos insaturados (em primeira instância) e o segundo a volatilização/evaporação dos ácidos graxos saturados, já o terceiro a uma decomposição térmica da possível formação de resíduos carbonáceos de alta massa molecular oriundos dos eventos térmicos anteriores, uma vez que ocorreu a altas temperaturas. Para os óleos de girassol e mamona, a primeira etapa de perda de massa foi de 50,3 e 54,6% a uma temperatura inicial de 195 ºC. Já para o óleo de soja, começou a uma temperatura mais elevada em 250 °C com perda de massa de 50,4%. Dentre os óleos estudados aquele que apresentou a maior formação de massa residual foi o óleo de soja. Com 1,6 %, seguida do óleo de girassol e mamona, com respectivamente 1,4 e 1,1%. Os resultados indicaram que o óleo de soja apresentou estabilidade térmica acima de 250 °C. Portanto, dentre as três oleaginosas a mais estável, esse resultado embora seja Capítulo 5 - Resultados e Discussão 140 controverso por se tratar de um óleo cuja composição seja majoritária a presença de ácidos graxos insaturados. Esses resultados corroboram mais uma vez, a possibilidade de que o óleo de mamona não estivesse em condições favoráveis para ser utilizado como matériaprima para obtenção de biodiesel, em virtude do elevado índice de acidez e viscosidade. Como discutido, o índice de acidez e a viscosidade cinemática estão relacionados ao estado de conservação do óleo. 5.5.1.2 Biodiesel de Girassol, Mamona e Soja Nas figuras 48, 49 e 50 estão ilustradas as sobreposições das curvas TG dos óleos vegetais e seus respectivos biocombustíveis. Como observado, houve uma redução significativa da estabilidade térmica destes. Os ésteres apresentaram temperaturas de decomposição inferiores aos óleos, como esperado, pois os ésteres de ácidos graxos que compõem o biodiesel são facilmente oxidados. Isto se deve ao fato de que o biodiesel possui viscosidade cinemática inferior ao óleo, facilitando desse modo, a difusão do oxigênio nas amostras (SANTOS, 2009a). De acordo com Santos et al. (2009a), o método termogravimétrico é basicamente quantitativo, porém, o intervalo de temperatura no qual a perda de massa ocorre é qualitativo, pois, a perda de massa depende das características instrumentais e das amostras. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 141 Perda de Massa (%) Figura 48 - Sobreposição das curvas TG do óleo de girassol e do seu respectivo biodiesel. 100 100 80 80 60 60 40 40 20 20 Biodiesel de Girassol Óleo de Girassol 0 0 100 200 0 300 400 500 600 Temperatura (°C) Perda de Massa (%) Figura 49 - Sobreposição das curvas TG do óleo de mamona e do seu respectivo biodiesel. 100 100 80 80 60 60 40 40 20 20 Biodiesel de Mamona Óleo de Mamona 0 0 100 200 0 300 400 Temperatura (°C) 500 600 Capítulo 5 - Resultados e Discussão 142 Perda de Massa (%) Figura 50 - Sobreposição das curvas TG do óleo de soja e do seu respectivo biodiesel. 100 100 80 80 60 60 40 40 20 20 Biodiesel de Soja Óleo de Soja 0 0 100 0 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) Nas figuras 51 e 52 estão ilustradas as sobreposições das curvas TG/DTG, respectivamente, dos biocombustíveis. Pode-se observar que diferentemente dos óleos vegetais, o biodiesel das três oleaginosas apresentaram apenas uma etapa de perda de massa a qual está associada à volatilização/decomposição dos ésteres de ácidos graxos. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 143 Figura 51 - Sobreposições das curvas TG do biodiesel de girassol, mamona e soja. Biodiesel de Girassol Biodiesel de Mamona Biodiesel de Soja 100 Perda de Massa (%) 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) Figuras 52 - Sobreposições das curvas DTG do biodiesel de girassol, mamona e soja. 0.002 0.000 -0.002 -0.004 DTG 1/°C -0.006 -0.008 -0.010 -0.012 -0.014 Biodiesel de Girassol Biodiesel de Mamona Biodiesel de Soja -0.016 -0.018 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) A partir das curvas DTG foi observado para os biocombustíveis, uma única perda de massa associada à volatilização e/ou combustão dos ésteres metílicos, pois o evento térmico dos mesmos ocorreu em uma única etapa. Esta etapa foi associada à saída do grupo funcional éster, portanto indicada na figura por uma perda de massa. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 144 A temperatura máxima da termodecomposição (tmáx) também pode ser obtida. O ponto de máximo na curva DTG (temperatura de pico) apresentou uma inflexão no estágio em que a variação de massa ocorreu mais rapidamente. Entre os três biocombustíveis, o biodiesel de mamona foi o que apresentou a maior temperatura de termodecomposição, seguido do biodiesel de soja e girassol, respectivamente 296,3, 274,6 e 269,6 °C. Esses dados conferem ao biodiesel de mamona, portanto, a maior estabilidade térmica. A tabela 19 consiste especificamente dos intervalos de temperatura dos ésteres e as percentagens de perda de massa e massa residual. Tabela 19 - Dados termogravimétricos do biodiesel de girassol, mamona e soja Amostra Etapa Intervalo de Perda de Massa Temperatura (oC) Massa (%) Residual (%) Biodiesel de Girassol 1ª 100 – 350 94,6 5,4 Biodiesel de Mamona 1ª 120 – 402 96,3 3,7 Biodiesel de Soja 1ª 100 – 350 97,0 3,0 De posse aos resultados foi observado que os biocombustíveis provenientes dos óleos de girassol e soja apresentaram intervalos de temperatura de perda de massa iguais. Tal fato, podendo ser atribuído à similaridade na composição química dessas matériasprimas. Embora a diferença não tenha sido muito significativa, o biodiesel de mamona apresentou uma resistência à decomposição acima de 120 °C, portanto sendo este o biodiesel termicamente mais estável. Também foi observado que o biodiesel de girassol foi o que apresentou maior percentagem de massa residual. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 145 5.5.1.3 Blends 5.5.1.3.1 Blends Girassol/Mamona 20, 40, 50, 60 e 80% Na figura 53 está ilustrada a sobreposição das curvas TG das blends composta por biodiesel de girassol/mamona. Blend Girassol/Mamona 20% Blend Girassol/Mamona 40% Blend Girassol/Mamona 50% Blend Girassol/Mamona 60% Blend Girassol/Mamona 80% 100 Perda de Massa (%) 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) Figuras 53 - Sobreposições das curvas TG das blends composta por biodiesel de girassol e mamona (G/M) nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80% Para o comportamento térmico da blend composta por 20% de biodiesel de mamona em ar sintético foi observado que o início da decomposição ocorreu a 100 °C, seguida pela blend composta por 40% a qual iniciou sua decomposição a 125 °C, já as blends compostas por 50% e 60%, não apresentaram uma diferença significativa (apenas de 1 °C). Portanto, a blend que apresentou maior estabilidade térmica foi a composta por 80% de biodiesel de mamona, apresentando estabilidade térmica acima de 140 °C, esta foi também a que apresentou menor teor de massa residual. Todos os processos de decomposição findaram a 400 °C. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 146 Figura 54 - Curvas DTG sobrepostas das blends de biodiesel de girassol e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80% 0.002 0.000 -0.002 DTG (1/°C) -0.004 -0.006 -0.008 -0.010 -0.012 Blend Girassol/Mamona 20% Blend Girassol/Mamona 40% Blend Girassol/Mamona 50% Blend Girassol/Mamona 60% Blend Girassol/Mamona 80% -0.014 -0.016 -0.018 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) Na tabela 20 estão listados os dados termogravimétricos para as blends compostas por biodiesel de girassol e mamona. Foi observado que concomitantemente ao acréscimo da concentração do biodiesel de mamona, a estabilidade térmica das blends aumentou, pois as mesmas passaram a adquirir as características físico-químicas do composto majoritário. A blend que apresentou o menor intervalo de temperatura, maior temperatura de pico e menor massa residual foi a blend composta por 80% de biodiesel de mamona, isso implica numa maior resistência à decomposição frente à temperatura. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 147 Tabela 20 - Dados termogravimétricos das blends girassol/mamona na razão de aquecimento 10 ºC.min-1 Etapa Intervalo de Temperatura (oC) T(pico) °C Perda de Massa (%) Massa residual (%) Blend G/M 20% 1ª 100 – 400 277,5 96,3 3,7 Blend G/M 40% 1ª 125 – 400 280,4 96,3 3,6 Blend G/M 50% 1ª 129 – 400 283,5 97,5 2,5 Blend G/M 60% 1ª 130 – 400 286,5 96,3 3,7 Blend G/M 80% 1ª 140 – 400 288,4 97,6 2,3 Amostra 5.5.1.3.2 Blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% Nas figuras 55 e 56 estão ilustradas as sobreposições das curvas TG/DTG das blends, oriundas do biodiesel de soja e mamona, respectivamente. Figura 55 - Sobreposições das curvas TG das blends composta por biodiesel de soja e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80% Blend Soja/Mamona 20% Blend Soja/Mamona 40% Blend Soja/Mamona 50% Blend Soja/Mamona 60% Blend Soja/Mamona 80% 100 Perda de massa (%) 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 Temperatura (°C) 500 600 Capítulo 5 - Resultados e Discussão 148 Ao comparar as estabilidades térmicas das blends compostas por 20 e 40% de biodiesel de mamona foi observada uma diferença de 10 °C. Já para as blends compostas por 50 e 60%, uma diferença de 13 °C, bem como, para a blend composta por 80% de mamona. A blend com a mesma percentagem no biodiesel de soja foi a que obteve a maior estabilidade térmica dentre todas, se comparado com o girassol foi a que produziu o menor teor de massa residual com 0,3%. Figura 56 - Sobreposições das curvas DTG das blends composta por biodiesel de soja e mamona nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80% 0.002 0.000 -0.002 DTG (1/°C) -0.004 -0.006 -0.008 -0.010 -0.012 Blend Soja/Mamona 20% Blend Soja/Mamona 40% Blend Soja/Mamona 50% Blend Soja/Mamona 60% Blend Soja/Mamona 80% -0.014 -0.016 -0.018 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) No trabalho desenvolvido por Vernon e Ross (1936) os autores ao avaliar os índices de ácidos graxos livres, saponificação e acetil (propriedades inerentes ao resíduo do óleo de mamona) à temperatura de pirólise e observaram uma diminuição do índice de acetil em 465 °C. Esta diminuição (neste ponto) é uma evidência do desaparecimento do grupo hidroxila do óleo de mamona, dessa forma, indicando a possível formação do ácido undecilênico e o heptaldeído. Como o biodiesel de mamona é praticamente composto por ricinoleato de metila, a degradação ocorre mais uniformemente, portanto o baixo teor de massa residual esteja provavelmente associado ao desaparecimento dessa estrutura majoritária durante o processo térmico para formar os compostos residuais. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 149 Tabela 21 - Dados termogravimétricos das blends soja/mamona na razão de aquecimento 10 ºC.min-1 Etapa Intervalo de Temperatura (oC) Tpico (ºC) Perda de Massa (%) Massa Residual (%) Blend S/M 20% 1ª 113 – 400 283,8 97,4 2,2 Blend S/M 40% 1ª 123 – 400 284,3 98,7 1,3 Blend S/M 50% 1ª 132 – 400 288,9 98,6 1,3 Blend S/M 60% 1ª 145 – 400 289,2 98,7 1,3 Blend S/M 80% 1ª 165 – 400 296,5 99,7 0,3 Amostra 5.5.2 Análise por calorimetria exploratória diferencial a alta pressão (P-DSC) A análise por P-DSC foi realizada com o intuito de estudar a estabilidade oxidativa do biodiesel de girassol, mamona e soja metílicos e suas respectivas blends, e, por conseguinte, avaliar o efeito e a eficiência do biodiesel de mamona como antioxidante sob condições severas de pressão. 5.5.2.1 Método Dinâmico Através das curvas P-DSC dinâmicas é possível obter dados como a temperatura inicial (OT) e do pico oxidativas. 5.5.2.1.1 Biodiesel de Girassol, Mamona e Soja A figura 57 ilustra as curvas P-DSC dinâmica do biodiesel de girassol, mamona e soja. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 150 Figura 57 - Curvas de P-DSC dinâmica sobrepostas do biodiesel de girassol, mamona e soja 10 Biodiesel de Girassol Biodiesel de Mamona Biodiesel de Soja exo -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 8 6 4 2 0 -2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Temperatura (°C) Os dados obtidos das curvas P-DSC dinâmica, temperatura inicial e de pico de oxidação estão listadas na tabela 22. Tabela 22 - Dados das temperaturas onset (OT) e de pico (Tp) obtidas por P-DSC através do método dinâmico para os biocombustíveis de girassol, mamona e soja OT (oC) Tp (oC) Biodiesel de Girassol 159,4 519,0 Biodiesel de Mamona 198,4 515,0 Biodiesel de Soja 163,7 523,8 Amostra De acordo com a tabela 22, o biodiesel de mamona apresentou a maior estabilidade térmica oxidativa, seguida do girassol e da soja. Dunn (2005) estudou a estabilidade oxidativa do biodiesel de soja fazendo uso da P-DSC tanto pelos modos dinâmico e isotérmico. Para o modo dinâmico foi utilizada uma pressão de 2000 kPa, com rampa de aquecimento de 5 °C.min-1 e fluxo de ar de 35 mL, os autores encontram uma temperatura Capítulo 5 - Resultados e Discussão 151 onset de 115,9 °C e temperatura de pico de 137,66 °C. A temperatura encontrada por Dunn foi inferior, pois a pressão utilizada foi superior à pressão utilizada neste trabalho (1100 kPa). Embora a P-DSC não esteja especificada na ASTM D6751 ou EN 14214 como método padrão de qualidade, a técnica se torna relevante na determinação da temperatura onset devido a rapidez de obtenção dos dados e a necessidade de uma pequena quantidade de amostra (< 5 mg), o que propicia uma boa precisão para a medida da degradação oxidativa (SHARMA e STIPANOVICH, 2003; LITWINIENKO e KASPRZYCKAGUTTMAN, 1998 apud MOSER, 2009). 5.5.2.1.2 Blends de girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% A figura 58 ilustra as curvas P-DSC dinâmica das blends composta por biodiesel de girassol e mamona, nas proporções 20, 40, 50, 60 e 80% m/m. Figura 58 - Curvas de P-DSC dinâmica sobrepostas das blends de girassol e mamona 10 Blend Girassol/Mamona 20% Blend Girassol/Mamona 40% Blend Girassol/Mamona 50% Blend Girassol/Mamona 60% Blend Girassol/Mamona 80% -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 8 exo 6 4 2 0 -2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Temperatura (°C) Os dados obtidos das curvas P-DSC dinâmica para as blends de girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% m/m, temperatura inicial e dos picos de oxidação estão listadas na tabela 23. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 152 Tabela 23 - Dados da temperatura onset (OT) obtidos por P-DSC através do método dinâmico para as blends de girassol/mamona Amostra OT (°C) Blend G/M 20% 162,7 Blend G/M 40% 170,4 Blend G/M 50% 172,5 Blend G/M 60% 172,9 Blend G/M 80% 187,5 Pela análise da figura 58 e os dados da tabela 23 foi observado uma ordem crescente da temperatura de onset (OT) à medida que ocorreu um aumento na concentração do biodiesel de mamona (utilizado como antioxidante), este comportamento foi esperado devido o biodiesel de mamona possuir um OT superior ao biodiesel de girassol, 198,4 e 159,4 °C, respectivamente. 5.5.2.1.3 Blends de soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% A figura 59 representa as curvas P-DSC dinâmica das blends de soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% m/m. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 153 Figura 59 - Sobreposição das curvas de P-DSC das blends de soja e mamona 10 Blend Soja/Mamona 20% Blend Soja/Mamona 40% Blend Soja/Mamona 50% Blend Soja/Mamona 60% Blend Soja/Mamona 80% -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 8 6 exo 4 2 0 -2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Temperatura (°C) Os dados obtidos das curvas de P-DSC dinâmica para as blends de soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% m/m, temperatura inicial e de pico de oxidação estão listadas na tabela 24. Tabela 24 - Dados das temperaturas onset (OT) obtidos por P-DSC através do método dinâmico para as blends de soja/mamona Amostra OT (°C) Blend S/M 20% 169,3 Blend S/M 40% 176,9 Blend S/M 50% 177,0 Blend S/M 60% 182,1 Blend S/M 80% 189,6 A partir da figura 59 e tabela 24 foi observado que o mesmo comportamento exibido pelas blends compostas por biodiesel de girassol e de mamona ocorreu para as Capítulo 5 - Resultados e Discussão 154 blends compostas por soja e mamona, estas últimas apresentaram uma maior temperatura de oxidação, o que implica numa maior estabilidade oxidativa. 5.5.2.2 Método Isotérmico 5.5.2.2.1 Biodiesel de girassol, mamona e soja O método isotérmico foi utilizado com finalidade de determinar o tempo de indução oxidativa ou período de indução dos biocombustíveis e suas respectivas blends a temperatura a 110 ºC. A figura 60 ilustra as sobreposição das curvas obtidas por P-DSC no modo isotérmico do biodiesel de girassol, de mamona e de soja. Figura 60 - Sobreposições das curvas de P-DSC modo isotérmico para o biodiesel de girassol, de mamona e de soja. 0.7 -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 0.6 Biodiesel de Girassol Biodiesel de Mamona Biodiesel de Soja exo 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 0 2 4 6 8 10 12 Tempo (h) O dado extraído das curvas obtidas pela P-DSC modo isotérmico para o biodiesel de girassol, mamona e soja foi o tempo de indução oxidativa (OIT), os quais estão listados na tabela 25. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 155 Tabela 25 - Dados dos tempos de indução oxidativa (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico do biodiesel de girassol, mamona e soja Amostra OIT (h) Biodiesel de Girassol 1,2 Biodiesel de Mamona 7,3 Biodiesel de Soja ND ND – Não detectado De acordo com a tabela 25, não foi possível detectar o tempo de indução oxidativo (OIT) para o biodiesel de soja utilizando uma pressão de 1100 kPa a temperatura de 110 °C. Nos primeiros minutos de análise, a isoterma apresentou um brusco aumento do fluxo de calor não sendo possível detectar o ponto de inflexão (como observado na figura 60). Para a determinação do OIT do biodiesel de soja será necessário a redução da pressão de análise. Para os biocombustíveis de girassol e de mamona o tempo de indução oxidativa foi determinado, o biodiesel de mamona apresentou um resultado mais significativo, consequentemente uma considerável estabilidade oxidativa à alta pressão. 5.5.2.2.2 Blends de girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% A figura 61 ilustra a sobreposição das curvas obtidas por P-DSC no modo isotérmico das blends composta por biodiesel de girassol e mamona. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 156 Figura 61 - Sobreposição das curvas de P-DSC do modo isotérmico das blends de girassol e mamona Blend Girassol/Mamona 20% Blend Girassol/Mamona 40% Blend Girassol/Mamona 50% Blend Girassol/Mamona 60% Blend Girassol/Mamona 80% 0.7 exo -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (h) Os dados obtidos das curvas de P-DSC no modo isotérmico das blends de girassol/mamona estão listados na tabela 26. Tabela 26 - Dados dos tempos de indução oxidativa (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico para as blends girassol/mamona Amostra OIT (h) Blend G/M 20% 1,4 Blend G/M 40% 2,7 Blend G/M 50% 3,5 Blend G/M 60% 3,6 Blend G/M 80% 6,9 Pelos valores da tabela 26, foi verificado um aumento significativo na estabilidade oxidativa das blends ao passo do aumento da concentração do biodiesel de mamona na blend. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 157 5.5.2.2.3 Blends de soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% A figura 62 exibe a sobreposição das curvas obtidas por P-DSC no modo isotérmico das blends de soja/mamona. Figura 62 - Sobreposição das curvas de P-DSC, método isotérmico para as blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80%. 0.7 Blend Soja/Mamona 20% Blend Soja/Mamona 40% Blend Soja/Mamona 50% Blend Soja/Mamona 60% Blend Soja/Mamona 80% exo -1 Fluxo de Calor (mW.mg ) 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 0 2 4 6 8 10 Tempo (h) Os tempos de indução oxidativo obtidos das curvas P-DSC no modo isotérmico das blends de girassol/mamona estão listadas na tabela 27. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 158 Tabela 27 - Dados do tempo de indução oxidativo (OIT) obtidos pela análise de P-DSC, método isotérmico para o biodiesel de girassol, mamona e soja Amostra OIT (h) Blend S/M 20% 0,7 Blend S/M 40% 1,0 Blend S/M 50% 1,4 Blend S/M 60% 2,8 Blend S/M 80% 6,5 Nos dados referente aos tempos de indução oxidativos tanto para as blends G/M, como para as blends S/M, foi observado que o biodiesel de mamona promoveu uma melhora significativa na estabilidade oxidativa do biodiesel de girassol e mamona. 5.5.3 Rancimat O teste de Rancimat foi realizado com intuito de estudar a estabilidade oxidativa, das amostras, quando estas, são submetidas a um fluxo de ar e aquecimento, visando à determinação do período de indução (PI), bem como, o efeito da temperatura na estabilidade oxidativa das mesmas. 5.5.3.1 Óleo de girassol, mamona e soja Na figura 63, estão ilustradas as curvas do ensaio de estabilidade oxidativa obtida através do Rancimat para o óleo de girassol, mamona e soja. Um súbito incremento é observado na curva, onde é determinado o ponto de inflexão (PI). O rápido aumento da taxa de oxidação expressa pelo aumento de condutividade é ocasionado pela formação de peróxido e de voláteis, quando a amostra é colocada em contato com fluxo de ar e submetida à temperatura de 110 ºC. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 159 Figura 63 - Sobreposição das curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) dos óleos de girassol, mamona e soja. -1 Condutividade (S.cm ) 200 150 100 50 Óleo de Girassol Óleo de Mamona Óleo de Soja 0 0 10 20 30 40 50 Tempo (h) Os dados obtidos pelo teste Rancimat dos óleos de girassol, mamona e soja estão listadas na tabela 28. Tabela 28 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para os óleos de girassol, mamona e soja Amostra Período de Indução (h) Óleo de girassol 4.3 Óleo de mamona 43.2 Óleo de soja 6.6 Conforme observado na figura 63, o óleo de mamona exibiu uma excelente resposta à estabilidade oxidativa, pois apresentou um período de indução de 43,2 h, ou seja, isto indica que este óleo nas condições de análise, só sofrerá alterações que comprometam suas propriedades (ocasionada pela oxidação) após 43,2 h sob um fluxo de ar de 10L.h -1 e temperatura de 110 ºC. Este óleo, em virtude da sua composição, como discutido, Capítulo 5 - Resultados e Discussão 160 apresentou-se como uma importante fonte de matéria-prima candidata à obtenção de biodiesel, por não se degradar com facilidade como as demais oleaginosas analisadas neste estudo. 5.5.3.2 Biodiesel de girassol, mamona e soja Na figura 64 estão apresentadas as curvas de Rancimat para o biodiesel de girassol, mamona e soja na temperatura 110 ºC. Figura 64 - Sobreposição das curvas Rancimat (teste de estabilidade oxidativa) dos biocombustíveis de girassol, mamona e soja a 110 °C -1 Condutividade (S.cm ) 200 150 100 50 Biodiesel de Girassol 110°C Biodiesel de Mamona 110°C Biodiesel de Soja 110°C 0 0 10 20 30 40 50 Tempo (h) Os dados obtidos pelo teste Rancimat do biodiesel de girassol, mamona e soja estão listadas na tabela 29. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 161 Tabela 29 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para o biodiesel de girassol, mamona e soja Amostra Período de Indução (h) Biodiesel de Girassol 3.1 Biodiesel de Mamona 41.1 Biodiesel de Soja 4.5 De acordo com a tabela 29 e a figura 64 foram observados que o biodiesel de mamona exibiu um excelente período de indução frente os demais biocombustíveis, cerca de dez vezes. Como discutido esse comportamento foi atribuído à composição química e a natureza das ligações que o componente majoritário (neste caso o ricinoleato de metila) realiza: ligações inter e intramoleculares, dessa forma, conferindo ao biodiesel de mamona uma considerável estabilidade oxidativa de 41,1 h sob atmosfera oxidante de 40 L.h-1 a 110 ºC. O biodiesel de girassol e de soja não atenderam as especificações da Resolução no 7/2008 da ANP, cujo tempo de permanência sob atmosfera oxidante deveria ter sido de no mínimo 6,0 horas. Logo, estes biocombustíveis não poderão ser comercializados na sua forma B100. 5.5.3.3 Blends girassol/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% Na figura 65 estão apresentadas as curvas de Rancimat para as blends de girassol/mamona à temperatura 110 ºC. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 162 Figura 65 - Sobreposição das curvas Rancimat para as blends composta por girassol e mamona a 110 °C -1 Condutividade (S.cm ) 200 150 100 50 Blend Girassol/Mamona 20% Blend Girassol/Mamona 40% Blend Girassol/Mamona 50% Blend Girassol/Mamona 60% Blend Girassol/Mamona 80% 0 0 5 10 15 20 25 Tempo (h) Os dados obtidos pelo teste Rancimat dos blends girassol/mamona estão listadas na tabela 30. Tabela 30 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para as blends girassol/mamona Amostra Período de Indução (h) Blend G/M 20% 4.39 Blend G/M 40% 7.20 Blend G/M 50% 8.59 Blend G/M 60% 11.11 Blend G/M 80% 19.33 De acordo com os dados apresentados na tabela 29, observou-se que o aumento de concentração de biodiesel de mamona na composição das blends girassol/mamona contribuiu para o aumento da sua estabilidade oxidativa, corroborando os demais resultados obtidos pela P-DSC. A adição de 40% de biodiesel de mamona no biodiesel de Capítulo 5 - Resultados e Discussão 163 girassol contribuiu para um período de indução de 7,20 horas, dessa forma, esta blend já atenderia a especificação vigente para a estabilidade oxidativa de no mínimo 6h. 5.5.3.4 Blends soja/mamona 20, 40, 50, 60 e 80% Na figura 66 estão apresentadas as curvas de Rancimat das blends de soja/mamona na temperatura 110 ºC. Figura 66 - Sobreposição das curvas Rancimat para as blends composta por soja e mamona a 110 °C -1 Condutividade (S.cm ) 200 150 100 50 Blend Soja/Mamona 20% Blend Soja/Mamona 40% Blend Soja/Mamona 50% Blend Soja/Mamona 60% Blend Soja/Mamona 80% 0 0 5 10 15 20 Tempo (h) Os dados obtidos pelo teste Rancimat dos blends soja/mamona estão listadas na tabela 31. Capítulo 5 - Resultados e Discussão 164 Tabela 31 - Períodos de indução (IP) obtidos pela análise de Rancimat para as blends soja/mamona Amostra Período de Indução (h) Blend Soja/Mamona 20% 6.71 Blend Soja/Mamona 40% 9.37 Blend Soja/Mamona 50% 11.28 Blend Soja/Mamona 60% 12.64 Blend Soja/Mamona 80% 19.33 Assim como para as blends compostas por biodiesel de girassol e de mamona, observou-se um aumento da estabilidade oxidativa com a presença da maior concentração de biodiesel de mamona, resultados também que podem ser corroborados pela P-DSC. Para as blends compostas por biodiesel de soja e mamona foi observado que a adição de apenas 20% do biodiesel de mamona foi suficiente para elevar o período de indução oxidativa para um valor superior a 6 h a 110 ºC, conforme exigido pela ANP. Capítulo 6 - Considerações Finais 165 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os óleos de girassol e soja apresentaram-se aptos a obtenção de biodiesel de acordo com os parâmetros permitidos pelas resoluções vigentes, já o óleo de mamona, como esperado, apresentou elevado índice de acidez, massa específica e viscosidade, portanto, não sendo o mais indicado a submissão da reação de transesterificação, pela Resolução da Diretoria Colegiada n° 270 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A reação de transesterificação foi realizada com êxito, um dos indícios para tal foi a diminuição significativa da viscosidade cinemática em quase dez vezes, da massa específica e o índice de iodo quando comparados os resultados da caracterização físicoquímica dos biocombustíveis aos dados dos óleos vegetais. O rendimento das reações de obtenção dos biocombustíveis de girassol, mamona e soja foram respectivamente, 98,6, 93,6 e 95,7%, como discutido, este rendimento foi atribuído a relação inversa entre o rendimento de reação e índice de acidez dos óleos vegetais. A caracterização físico-química dos biocombustíveis indicou que para aqueles obtidos dos óleos de girassol e soja, apresentaram-se em conformidade com as especificações vigentes. O biodiesel de mamona, como esperado, apresentou elevada massa específica e viscosidade cinemática, características oriundas da composição química da sua matéria-prima, o teor majoritário de quase 90% de ácido ricinoléico, portanto não se adequando aos parâmetros exigidos pela Resolução n° 7/2008 da ANP. No tocante ao ponto de fulgor, dentre os três biocombustíveis, o biodiesel de mamona foi aquele que apresentou a maior temperatura, seguido pelo de soja e girassol. Isso se deve ao fato de que, para esses dois biocombustíveis a similaridade entre as composições químicas acarretam em ponto de fulgores bem próximos, em virtude a presença de ácidos graxos com menor número de carbonos, quando comparados ao biodiesel de mamona, bem como, o menor percentual de compostos saturados, os quais apresentam uma menor rigidez frente aos insaturados, dessa forma facilitando assim a volatilização dos mesmos. Através da cromatografia a gás para a quantificação de metanol e etanol, não foram detectados teores significativos de álcool residual nos três biocombustíveis, estes apresentaram teores inferiores a 0,2% m/m, limite máximo permitido pelas especificações, o que implica afirmar que o processo de purificação (lavagem e secagem) do biodiesel Capítulo 6 - Considerações Finais 166 decorreu de forma eficaz, portanto podendo ser considerados como seguros para o transporte, manuseio e armazenamento. Estes resultados estão de acordo com a análise de ponto de fulgor dos três biocombustíveis, devido à relação direta existente entre ambos, um teor de álcool residual considerável implica num ponto de fulgor baixo. Através dos cromatogramas, foram observados os principais ésteres oriundos de cada oleaginosa. Para o biodiesel de girassol os ésteres oleato e linoleato de metila, para o biodiesel de mamona o ricinoleato de metila e para o biodiesel de soja ésteres estearato, oleato e linoleato. A determinação desses ésteres através da cromatografia, no que compete a estabilidade térmica e oxidativa implica que os biocombustíveis de girassol e soja, foram mais pobres em virtude da quantidade significativa de ésteres insaturados. A quantificação do teor de ésteres nos biocombustíveis, por cromatografia a gás, é um fator relevante, pois está diretamente relacionado à pureza dos mesmos, pois evidencia a conversão dos ácidos graxos em ésteres (metílicos e/ou etílicos). De acordo com o Regulamento Técnico n° 1/2008, o teor de ésteres em biodiesel deve ser no mínimo 96,5%. Os biocombustíveis obtidos neste trabalho, com exceção do biodiesel de girassol apresentaram uma conversão significativa, portanto estes apresentaram teores de ésteres acima do limite especificado pela resolução intrínseca neste regulamento. No tocante ao teor de éster metílico proveniente do ácido linolênico, o biodiesel de mamona apresentou uma concentração não significativa deste, os biocombustíveis de girassol e soja, apesar de apresentarem uma quantidade superior, se comparado ao de mamona, apresentaram-se em conformidade ao teor mínimo deste éster, portanto um indício a maior suscetibilidade ao processo oxidativo. As blends utilizadas neste trabalho foram obtidas com intuito de melhorar a estabilidade térmica e oxidativa dos biocombustíveis, através da adição do biodiesel de mamona, uma vez que o biodiesel de mamona possui excelente estabilidade térmica e oxidativa, em contrapartida possui elevado índice de acidez, massa específica e viscosidade cinemática. O aumento da concentração de biodiesel de mamona no biodiesel de girassol e soja contribuiu para o aumento da massa específica, viscosidade cinemática e ponto de fulgor das blends. A adição de até 40 e 50% de biodiesel de mamona é aceitável no biodiesel de girassol e soja, respectivamente, com relação a massa específica. Enquanto que para a viscosidade cinemática aquelas acima de 20% de biodiesel de mamona, não atenderam as exigências da especificação. Quanto ao ponto de fulgor, a especificação estabelece um Capítulo 6 - Considerações Finais 167 valor mínimo de 100 °C, portanto aquelas blends que apresentaram melhor ponto de fulgor foram as que possuíam 80% de biodiesel de mamona, tanto no biodiesel de girassol, como no de soja. Os óleos vegetais, utilizados como matéria-prima apresentaram três etapas de decomposição térmica e perfis de termodecomposição similares, sendo que mais intenso para o biodiesel de mamona, atribuído a natureza da ligação (pontes de hidrogênio) do componente majoritário (ácido ricinoléico). Esses perfis foram associados a volatilização/evaporação dos ácidos graxos insaturados, em primeira instância, e o segundo a volatilização/evaporação dos ácidos graxos saturados já o terceiro a uma decomposição térmica com a formação de polímeros, uma vez que ocorreu a altas temperaturas. Os biocombustíveis apresentaram uma redução significativa nas temperaturas iniciais de termodecomposição se comparados a suas matérias-primas, pois os ésteres que compõem o biodiesel são facilmente oxidados em virtude de o biodiesel possuir viscosidade cinemática inferior ao óleo, isto, facilitando desse modo, a difusão do oxigênio nas amostras. O único evento térmico observado está associado à volatilização e/ou combustão dos ésteres metílicos. Dentre os três biocombustíveis estudados, o que apresentou maior estabilidade térmica foi o de mamona, seguido do girassol e soja, os quais obtiveram temperaturas iguais. O aumento da concentração do biodiesel de mamona ao biodiesel de girassol e soja metílicos promoveu uma melhora na estabilidade térmica das blends, a blend composta por 80% de biodiesel de mamona elevou a estabilidade térmica de 100 °C em 140 °C e 165 °C, no biodiesel de girassol e soja, respectivamente e o término do evento térmico de todas as blends ocorreu em 400 °C, o teor de massa residual produzido foi de 2,3 e 0,3%, respectivamente. A técnica TG é muito utilizada para verificar a propensão de uma amostra à oxidação, pois quanto maior o teor de insaturações, menor a estabilidade oxidativa. Para o estudo da estabilidade oxidativa, os resultados mostraram que quanto maior a quantidade de compostos insaturados presentes no biodiesel, menor é a sua estabilidade oxidativa. Através da P-DSC tanto nos modo dinâmico como isotérmico, foi observado que o biodiesel de mamona possui a maior temperatura onset dos biocombustíveis estudados, isso implica afirmar que este biodiesel é o mais estável, no modo isotérmico não foi possível detectar a temperatura de indução oxidativa do biodiesel de soja utilizando uma pressão de 1100 kPa, o que sugere mudanças nas condições de análises. Capítulo 6 - Considerações Finais 168 A adição de biodiesel de mamona como antioxidante ao biodiesel de girassol e soja é promissora, pois promoveu uma melhora significativa na resistência à auto-oxidação e, por conseguinte, na sua estabilidade oxidativa de ambos. As blends que apresentaram conformidade às exigências da ANP foram aquelas compreendidas na faixa de 20-40%. Desta forma poderão ser utilizadas como substitutas ao diesel fóssil. Capítulo 7 – Bibliografia 169 7 BIBLIOGRAFIA ABIOVE. Disponível em: http://www.abiove.com.br/sustent/abiove_pal_sustentabilidade_soja_29jun06.pdf>. 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