anais do 2º encontro nacional de pesquisadores em dança (2011) Danç
Dança:
a: contrações epistêmicas
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Ver-tebras: ação da imagem no corpo
Emanuela Camargo 1
Faculdade de Artes do Paraná
Introdução
A presente pesquisa de cunho teórico e prático iniciou-se em um processo
investigativo prático do estudo da coluna vertebral no Um - Núcleo de Pesquisa Artística
em Dança da FAP 2, em 2009. Do desejo em investigar a estrutura e a funcionalidade da
coluna, surge a relação com o sentido da visão e com as informações/imagens que os olhos
vêem, as quais emergem da relação entre o corpo e o ambiente, alterando a reorganização
do corpo.
Assim, a proposta de investigação apresenta como interesse compreender como o
corpo se reorganiza em movimento a partir da percepção visual. Entendendo que as
informações percebidas pelos olhos são reconhecidas pelo corpo através das imagens.
Imagens estas, que se apresentam como potência na reorganização do corpo, assim como
nas mudanças de estado corporal 3 e dinâmicas de qualidade de movimento.
Busca-se identificar como acontece o processo de percepção em VER-tebras
juntamente com o processo sensório-motor. Além disso, investiga-se como o corpo lida
com os fluxos de imagens e como ele se reorganiza através das imagens que o olho
percebe, questão que permeia toda pesquisa. O estudo que aqui se desenvolve é o de olhar e
perceber como o corpo experimenta e, ao mesmo tempo, porque está em constante troca
com o ambiente transforma e reelabora tais imagens em um processo contínuo no espaçotempo, possibilitando a construção de uma dramaturgia corporal.
Para auxiliar nos estudos do sentido da percepção, da reflexão sobre de que maneira
1
Bailarina, Intérprete-criadora em Dança Contemporânea. Graduanda em Dança pela Faculdade de Artes do
Paraná (2007 a 2010).
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UM –Núcleo de pesquisa artística em dança da FAP tem como foco a pesquisa do movimento, a fim de criar
novos caminhos para que o bailarino- criador- intérprete possa descobrir sua própria individualidade,
buscando a expressividade do ser na dança e na arte.
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Estado Corporal é aqui compreendido como um conjunto de sucessivas operações e alterações da paisagem
corporal produzidas pelo constante diálogo e permeabilidade entre corpo e ambiente (SALA, 2010)
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imagem é fluxo de informação e como se dá no corpo, possibilitando a construção de uma
dramaturgia corporal, utiliza-se, entre outros, os estudos de Mark Taylor (2003), Adriana
Bittencourt Machado (2007) e Christine Greiner (2008).
Percepção do corpo-ambiente
Inúmeras informações do/no ambiente estão disponíveis e é através do processo de
percepção que o indivíduo é capaz de se relacionar e integrar sensorialmente com essas
informações. Compreendendo que o processo perceptivo na presente pesquisa se dá pela
interação das relações entre mente e corpo, corpo e ambiente, foco interno e externo, em
que essas relações acontecem juntas, uma em função da outra.
O que é importante compreender na pesquisa é que movimentos não se constituem
somente em mecanismos de ação, mas também de percepção do ambiente, enfatizando-se
que, além dos registros dinâmicos se darem por regulação sensório-motor, não há primazia
de um sobre o outro, pois ambos acontecem juntos. A atividade motora possibilita a
ativação de categorização perceptiva, a qual está em pleno campo de transformação. Mover
e perceber são inseparavelmente ligados: qualquer movimento que se faz cria uma
experiência sensória, e a experiência sensória estimula mais movimento. “É importante
permitir que cada experiência sensória se resolva em uma resposta motora, e reciclar o ato
motor em novas experiências sensórias” (TAYLOR, 2007: 3).
Entendendo que o corpo e a mente integrados pelo aparato sensório-motor sugere
uma porta de entrada para o desenvolvimento de movimentos, percepções e para o
estabelecimento de relações com o ambiente, é necessário se compreender o processo
fisiológico da percepção.
Mark Taylor (2007) entende que o processo perceptivo é construído pelo diálogo
entre sentir, perceber e mover o corpo no/com ambiente. Para ele, sentir é mecânico,
envolvendo a estimulação dos receptores sensórios e nervos. Os nervos sensores são
aqueles cujo caminho predominante de fluxo é da periferia dos corpos para o SNC (cérebro
e coluna vertebral), carregando informações estimuladas por forças no ambiente exterior
como luz, ondas de som, entre outras. Estimulação que pode ocorrer nos olhos, sendo
interpretada como visão e, no ouvido, como audição. Todas essas informações seguem para
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centros no cérebro através de nervos sensores e se tornam parte do corpo em um nível
celular.
Perceber, portanto, não é um processo mecânico. É a transformação da informação
sensória que é captada em uma única e individual interpretação do ambiente. Perceber diz
respeito à relação pessoal com a informação que se recebe do ambiente. No ato de perceber
o corpo cria o mundo ao seu redor.
Mover é um processo mecânico. É o meio de resposta, de agir no/sobre o ambiente.
Os nervos motores são aqueles cujo caminho do fluxo predominante é do SNC (cérebro e
coluna vertebral) em direção à periferia dos músculos e órgãos, organizando mudanças
espaciais dentro dos tecidos. Essas instruções permitem aos corpos se moverem através do
espaço. Os nervos motores, portanto, permitem às percepções se porem em ação.
Imagem é corpo: um fluxo inestancável como estratégia para construção de
dramaturgia corporal
O que se pretendeu tratar nesta discussão é de que maneira a imagem é fluxo de
informação e como isso se dá no corpo, em um fluxo constante que transita entre o corpo e
o ambiente, e compreender o funcionamento como índice dos estados do corpo a cada
micro-transformação, que ocorrem a todo momento, pois o corpo está em relação com o
ambiente e este, por sua vez, proporciona a troca de informações em um fluxo de
movimento inestancável, tão necessário para a construção da dramaturgia corporal. “Na
dança [...] imagem no corpo é uma das possibilidades de sua comunicação além de seu
próprio acesso ao mundo” (MACHADO, 2007: 12).
Quando o corpo em VER-tebras dança, ele se relaciona com o espaço, com o tempo
e com as informações que o olho vê, sendo estas reconhecidas pelo corpo através das
imagens, por serem uma maneira lógica-sensitiva4 de se responder com autonomia sobre
estas informações. Não é preciso entender imagem apenas como algo que vem de fora para
dentro. A imagem é corpo e se transforma ao mesmo tempo em que se constitui no fluxo de
4
A imagem é lógica-sensitiva, pois estabelece com o mundo real uma relação de signo, que por si só carrega
uma carga subjetiva, por não ser nunca a verdadeira “coisa” presente no mundo, mas sim a perspectiva de
cada observador sobre esta coisa, que é o que se torna a imagem.
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informações que o corpo troca com o ambiente.
É a partir das imagens que se entende, estabelece e cria maneiras de se comunicar
com o mundo, pois “imagens se constituem na possibilidade de acesso ao mundo e, ao
mesmo tempo, de ser acessado” (MACHADO, 2007: 28). Assim, a troca de informações
com o ambiente é contínua – o que não significa que seja linear; ao contrário, pode ser
repleta de encruzilhadas e bifurcações no meio do caminho – e propõe ao corpo uma
constante renovação e transformação de idéias.
Considerações Finais
Esta pesquisa delineou um possível caminho de entendimento que o corpo é
imagem em movimento. Compreende-se que imagem, corpo, movimento e percepção
transitam não apenas no processo criativo, como também na capacidade de criar relações e
gerar sentidos. Esta compreensão permite atualizar e reorganizar o modo de construir e
pensar dança. Assim, possibilita que as fronteiras entre processo de escrita e de criação
artística sejam borradas, permitindo a reflexão de que Dança é relação.
Bibliografia
DAMASIO, Antonio. O erro de Descartes. Disponível em: <http://www.scribd.
com/doc/4550695/> Acesso em 22 ago 2010.
GALLAHUE, D. L. e OZMUN, J. C. 2005. Compreendendo o desenvolvimento motor –
bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, Phorte, 2005.
GREINER, C. 2008.
Annablume.
O corpo: pista para estudos indisciplinares. 3ed. São Paulo,
GREINER, C. e KATZ, H. Por uma teoria do corpomídia. Disponível em:
<http://artesescenicas.uclm.es/archivos_subidos/textos/237/Christine%20Greiner%20y%20
Helena%20Katz.%20Por%20uma%20teoria%20do%20corpomidia.pdf>. Acesso em 21 jun
2010.
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