UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias
Fernando Jorge Coutinho Roriz
Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros.
Orientador:
Prof. Dr. Filipe da Costa Silva
Co-orientador:
Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo
VILA REAL, 2010
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias
Fernando Jorge Coutinho Roriz
Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros.
Dissertação apresentada à Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias Departamento de Ciências Veterinárias - da Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Medicina
Veterinária.
Orientador:
Prof. Dr. Filipe da Costa Silva
Co-orientador:
Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo
VILA REAL, 2010
i
Este trabalho, foi elaborado com vista à obtenção do curso de Mestrado Integrado em
Medicina Veterinária da UTAD, de acordo com o determinado no Decreto-Lei nº 74/2006 (Processo
de Bolonha), de 24 de Março, e no Regulamento de Estudos Pós-Graduados em vigor na UTAD.
ii
Orientador Científico: __________________________________________________________
Professor Doutor Filipe de Costa Silva (Departamento de Ciências Veterinárias, UTAD)
Co-orientador Científico: _______________________________________________________
Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo (Médico Veterinário)
iii
À minha família, por tudo aquilo que para mim representa.
À Mónica, pelo amor e suporte incondicional.
iv
Agradecimentos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Agradecimentos
Agradeço ao Dr. Filipe Costa e Silva, meu Orientador de Mestrado, e amigo, sempre prestável em
qualquer situação. Agradeço-lhe pela paixão e pela arte que me transmitiu, pelo seu apoio em todas as
situações e pela sua paciência em me orientar em qualquer dúvida que me foi aparecendo ao longo do
estágio e mesmo da dissertação. Agradeço-lhe ainda pela ajuda preciosa em todo este trabalho.
Agradeço ao Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo, pessoa que além de ser o motor de todos os meus
conhecimentos práticos na área, sempre teve grande paciência e humildade no ensinamento dos mesmos.
Agradeço-lhe também pela sua amável disposição e pelo apoio prestado em ter aceitado ser CoOrientador desta mesma Dissertação de Mestrado.
Agradeço ao Dr. Jorge Manuel Evangelista pela paciência e ensino de toda a metodologia por ele aplicada
na área.
Uma palavra de enorme apreço merece também toda a equipa dos Serviços Veterinários Associados, pela
prestabilidade, simpatia, e sabedoria que sempre me prestou durante todo o tempo em que a acompanhei.
Gostaria de salientar uma palavra de grande estima ao Dr. Carlos Cabral e ao Dr. Pedro Meireles, pelo
enorme apoio prestado, sem querer desta forma menosprezar qualquer elemento da equipa.
Agradeço aos meus Pais, ao meu irmão, Cunhada e Sobrinho, que sempre me animaram e apoiaram em
todos os momentos, tendo acompanhado o meu trabalho ao logo de todos os dias que dediquei a esta
Dissertação. Obrigado por me animarem em todos os bons e maus momentos, por me ensinarem a crescer
e a ter ambições. Simplesmente, obrigado por existirem!
Um obrigado também a toda a restante família, em especial ao Avô António Roriz e à Avó Maria
Coutinho, pelo amor que sempre me deram.
Agradeço à Liliana Azevedo, Maria do Céu, Patrício Carvalho e Carlos Jardim, pelo apoio, ânimo e
coragem que sempre me deram, pela sua amizade,e por me terem acompanhado em todos os momentos,
altos e baixos, de toda a escrita deste documento.
Finalmente, e sem querer menosprezar por vir quase no fim, mas antes pelo contrário, a salientar tudo o
que me deu, uma palavra à Mónica Carvalho, pessoa essa que sem ela nada disto teria sido possível.
Obrigado por me apoiares, por me incutires a paixão pela Veterinária, por me levantares sempre que caía,
por me animares, me fazeres sorrir, por me mostrares o quanto faz sentido lutar por algo que
ambicionamos. Obrigado por me ensinares a sonhar, por me ensinares a viver! Obrigado por me amares!
v
Agradecimentos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Sem ti, Mónica, nada seria na minha vida como hoje é! Obrigado, do fundo do coração! Ele tem sempre
um lugar guardado para ti!
Uma palavra de agradecimento também aos Pais da Mónica, pessoas que revelaram um enorme dedicação
e apoio durante todos estes anos de Medicina Veterinária.
A todos os que me ajudaram no decorrer do trabalho, deixo aqui o meu sentimento de gratidão.
vi
Abstract – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Roriz F. “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”. Vila Real, Portugal: 2010. Dissertação
(Mestrado Integrado em Medicina Veterinária) apresentada à Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias
- Departamento de Ciências Veterinárias - da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Resumo
O deslocamento do abomaso é uma das patologias mais frequentes em clínica de espécies
pecuárias e a patologia que mais usualmente requer cirurgia abdominal em vacas leiteiras,
podendo afectar bovinos de qualquer idade e sexo.
Este pode começar como uma simples Dilatação Abomasal e dar-se depois à esquerda, à
direita, ou mesmo no sentido anterior. Entre estes, o mais frequente é o deslocamento à esquerda.
Apesar de se tratar de uma doença descoberta no século XIX, o facto de ter uma etiologia
multifactorial faz com que seja uma afecção difícil de controlar. É uma patologia do periparto e
surge directamente associada ao maneio nutricional, principalmente àquele praticado no período
de transição. Os contributos considerados essenciais para o Deslocamento Abomasal (DA) são a
atonia e a acumulação de gás abomasal, que consequentemente levam à distensão do órgão. São
vários os factores de risco que favorecem a ocorrência do DA, dividindo-se estes em factores de
risco de nível alimentar, climatérico e do animal. Todos estes têm vários parâmetros.
Os sinais clínicos são comuns a diversas afecções, sendo importante a acentuada
diminuição na produção de leite.
O diagnóstico é baseado na auscultação associada à percussão, sendo audível uma
ressonância metalotimpânica denominada “Ping de Deslocamento” e ainda na auscultação
associada à sucussão, o que permite ouvir fluidos e sons de “chapinhar”, entre outros parâmetros
diagnósticos mais exaustivos.
A correcção do deslocamento mais segura e que mais recidivas evita é a cirúrgica, para a
qual estão descritas diversas técnicas. As perdas produtivas e os encargos associados ao
acompanhamento médico-veterinário fazem com que esta patologia tenha elevada importância
económica.
A prevenção está dependente do controlo dos vários factores de risco, procurando
proporcionar uma boa adaptação do sistema digestivo e evitar o desequilíbrio de nutrientes, a
imunossupressão durante o periparto e a diminuição da ingestão de matéria seca.
Palavras-chave: deslocamento do abomaso, frequente, multifactorial, periparto, atonia, factores
de risco, ping de deslocamento, cirurgia.
vii
Abstract – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Roriz F. “Abomasal Displacement in Dairy Cattle”. Vila Real, Portugal: 2010. Dissertation (Master in
Veterinary Medicine) presented in Agrarian and Veterinary science’s school – Department of Veterinary
Science - Trás-os-Montes e Alto Douro University.
Abstract
Abomasal displacement is one of the most frequent pathologies in large animal medicine
and the one that most frequently requires surgery in dairy cows. It might affect cows in any age
or sex.
It might begin like a simple Abomasal Bloat and then develop to the left, right, or anterior
way. Among these, left abomasal displacement is the most frequent one.
Although it is a pathology already described in the XIX century, the fact that it has a
multifactorial etiology makes it difficult to control. It is a peripartum pathology and it appears
directly associated to nutritional management, mainly the one practiced during the transitional
period. The essential contributes for the abomasal displacement are the atony of the organ, and
the accumulation of abomasal gas, factors that lead to the organ’s distension. There are several
risk factors, that might be alimentary, climatic and of the animal itself. All of these have several
parameters.
Clinical signs are common to several affections, and the most important one is the
reduction of milk production.
Diagnosis is based on the auscultation associated to percussion, where a metallictympanic resonant sound can be heard called the Abomasal Ping, and on the auscultation
associated to succussion or ballottement, that might enable the hearing of a splashing or wave
sound. among other more exhaustive diagnostic parameters.
The correction of Abomasal Displacement that prevents the most recurrences is surgery,
for which multiple techniques are described. Production loss and Veterinary Surgeon expenses
make this pathology of a high economical relevance.
Prevention is dependent on the control of the risk factors, trying to proportionate a good
digestive system adaptation and avoiding nutrient unbalance, periparturient imunossupression,
and the reduction of dry matter ingestion.
Key-words: Abomasal Displacement, Frequent, Multifactorial, Periparturient, Atony, Risc
Factors, Abomasal Ping, Surgery.
viii
Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos – “Deslocamento do Abomaso em
Bovinos Leiteiros”
Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos
- AGV: Ácidos Gordos Voláteis
- AGNE: Ácidos Gordos Não Esterificados
- AINES: Anti-Inflamatórios Não Esteróides
- AP: Ante-Parto
- AST: Aspartato Amino-Transferase (Transaminase Glutâmica-Oxaloacética)
- BEN: Balanço Energético Negativo
- BPM: Batimentos Por Minuto
- cm: Centímetro
- DA: Deslocamento do Abomaso
- DAA: Deslocamento Anterior do Abomaso
- DAD: Deslocamento do Abomaso à Direita
- DAE: Deslocamento do Abomaso à Esquerda
- EI: Espaço Intercostal
- FB: Fibra Bruta
- G: Gauges
- g/L: Grama por Litro
- IV: Intravenoso
- IM: Intramuscular
- L: Litro
- L/h: Litro por Hora
- Lx: Vértebra Lombar Número x
- mEq/L: Miliequivalentes Por Litro
- mg/L: Miligramas Por Litro
- mg/Kg: Miligramas por Kilograma de Peso Vivo
- MHz: Megahertz
- mm: Milímetros
- mmHg: Milímetros de Mercúrio
- MS: Matéria Seca
- NDF: Fibra Neutro Detergente
- pH: Potencial Hidrogeniónico
- PO: Per os
- PP: Pós-parto
ix
Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos – “Deslocamento do Abomaso em
Bovinos Leiteiros”
- RPT: Reticuloperitonite Traumática
- SC: Subcutâneo
- SU: Sem Unifeed
- TMR: Total Mixed Ration
- Tx: Vértebra Torácica Número x
- US: Unifeed Simples
- USRO: Unifeed com Suplementação de Ração na Ordenha
- VA: Vólvulo Abomasal
- VCM: Volume Celular Médio
- ºC: Símbolo de Grau Célcio
- % - Sinal de Percentagem
- ® - Sínal de Registado
x
Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ÍNDICE GERAL:
Agradecimentos……………………………………………………………………………... v
Resumo……………………………………………………………………………………… vii
Abstract……………………………………………………………………………………... viii
Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos…………………….................. ix
Índice de figuras………………………………………………………………….................. xv
Índice de tabelas………………………………………………………………….................. xvi
Índice de Gráficos/Quadros…………………………………………………………………. xvii
I – Revisão Bibliográfica…………………………………………………………………… 1
1. Introdução………………………………………………………………………………… 1
1.1. Notas Introdutórias…………………………………………………………................. 1
1.2. Aspectos Históricos…………………………………………………………………… 1
2. Anatómo-Fisiológica e Exame do Sistema Gástrico dos Bovinos……………................... 2
3. Tipos de Deslocamento…………………………………………………………………… 5
3.1. Dilatação do Abomaso……………………………………………………................... 6
3.2. Deslocamento do Abomaso à Esquerda……………………………………................. 6
3.3. Deslocamento do Abomaso à Direita………………………………………................. 6
3.3.1. Deslocamento do Abomaso à Direita sem Torção………………………………… 6
3.3.2. Deslocamento do Abomaso à Direita com Torção………………………………… 7
3.4. Deslocamento Anterior do Abomaso………………………………………................. 8
4. Epidemiologia…………………………………………………………………………….. 8
5. Etiologia…………………………………………………………………………………... 10
6. Fisiopatologia…………………………………………………………………................... 11
6.1. Factores de Risco……………………………………………………………………... 13
6.1.1. Factores de Risco Associados à Dieta…………………………………………….. 13
6.1.1.1. Maneio e Nutrição no Pré-Parto……………………………………................... 13
6.1.1.2. Dieta Rica em Concentrado…………………………………………................. 14
6.1.1.3. Fibra Bruta na Dieta…………………………………………………................. 15
6.1.2. Factores de Risco Associados ao Animal……………………………….................. 15
6.1.2.1. Raça e idade…………………………………………………………................. 15
6.1.2.2. Produção Leiteira…………………………………………………….................. 16
xi
Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
6.1.2.3. Final de Gestação……………………………………………………................. 16
6.1.2.4. Doenças Concomitantes……………………………………………................... 17
6.1.2.4.1. Cetose Subclínica Pré-existente………………………………….................. 17
6.1.2.4.2. Hipocalcemia……………………………………………………………….. 17
6.1.2.5. Predisposição Genética…………………………………………………………. 18
6.1.2.6. Variados Factores de Risco Animal…………………………………................. 18
6.1.3. Factores de Risco Associados ao Ambiente……………………………………….. 18
6.1.3.1. Estação do Ano………………………………………………………………… 18
6.1.3.2. Influência Climatérica……………………………………………….................. 19
7. Sinais Clínicos………………………………………………………………….................. 19
7.1. Dilatação Abomasal……………………………………………………….................... 19
7.2. DAE………………………………………………………………………................... 19
7.3. DAD………………………………………………………………………................... 21
7.3.1. DAD sem torção…………………………………………………………………… 21
7.3.2. VA………………………………………………………………………................. 21
7.4. DAA………………………………………………………………………................... 22
8. Diagnóstico……………………………………………………………………................... 22
8.1. Anamnese…………………………………………………………………................... 22
8.2. Exame externo………………………………………………………………………… 22
8.2.1. Exame do meio ambiente………………………………………………................... 22
8.2.2. Exame do Estado Geral………………………………………………..………...… 23
8.2.2.1. Exame Visual Externo……………………………………………….................. 23
8.2.2.2. Exame Físico…………………………………………………………………… 24
8.2.2.3. Exames Específicos…………………………………………………………….. 25
8.2.2.3.1. Percussão…………………………………………………………................. 25
8.2.2.3.2. Auscultação com Percussão………………………………………………… 25
8.2.2.3.3. Sucussão…………………………………………………………………….. 27
8.2.2.3.4. Auscultação com sucussão………………………………………………….. 27
8.3. Exame Interno………………………………………………………………………… 27
8.3.1. Palpação Rectal…………………………………………………………………... 27
8.4. Exames complementares…………………………………………………….................. 28
8.4.1. Ultrassonografia……………………………………………………………………. 28
8.4.2. Hemograma e Bioquímica Sanguínea……………………………………………… 28
xii
Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
8.4.2.1. Hemograma…………………………………………………………………….. 28
8.4.2.2. Bioquímica Sanguínea……………………………………………….................. 29
8.4.3. Exames Semi-Quantitativos da Urina e do Leite………………………………….. 30
8.4.4. Laparotomia Exploratória (Laparoscopia)…………………………………………. 30
8.4.5. Abomasocentese percutânea (recolha de fluido do Abomaso)……………………. 31
8.5. Necrópsia……………………………………………………………………………… 31
9. Diagnósticos Diferenciais…………………………………………………………………. 32
10. Tratamento…………………………………………………………………….................. 33
10.1. Tratamento médico…………………………………………………………………… 34
10.1.1. Dilatação Abomasal, DAE, DAA………………………………………………… 34
10.1.2. DAD……………………………………………………………………………… 37
10.2. Tratamento Cirúrgico………………………………………………………………… 38
10.2.1. Preparação Cirúrgica Comum………………………………………….................. 38
10.2.2. Tratamento Cirúrgico Fechado…………………………………………………… 38
10.2.2.1. Abomasopexia percutânea por sutura cega…………………………………… 38
10.2.2.1.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 38
10.2.2.1.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 39
10.2.2.2. Abomasopexia percutânea com sutura de Barras……………………………... 39
10.2.2.2.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 39
10.2.2.2.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………... 40
10.2.2.3. Abomasopexia percutânea com sutura de Barras por Laparoscopia………….. 40
10.2.2.3.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 41
10.2.2.3.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………... 42
10.2.3. Tratamento Cirúrgico Aberto……………………………………………………... 43
10.2.3.1. Omentopexia (Método de Hannover) ou Abomasopexia paralombar
direita………………………...…….………………………………………………………… 43
10.2.3.1.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 43
10.2.3.1.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 45
10.2.3.2. Abomasopexia Paramedial Direita…………………………………................. 46
10.2.3.2.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 46
10.2.3.2.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 47
10.2.3.3. Abomasopexia Paralombar Esquerda…………………….…………………… 48
10.2.3.3.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 48
xiii
Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
10.2.3.3.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 49
10.2.3.4. Omentopexia Paralombar Esquerda (Método de Utrecht)….………………… 50
10.2.4. Terapêutica Cirúrgica para DAD…………………………………………………. 50
10.2.5. Acções Pós-Cirúrgicas Comuns…………………………………………………... 51
11. Recidivância e Complicações……………………………………………………………. 52
12. Prognóstico………………………………………………………………………………. 52
12.1. DAE………………………………………………………………………………….. 52
12.2. DAD……………………………………………………………………….................. 54
13. Prevenção…………………………………………………….…………………………... 55
II – Investigação………………………………………………………………….................. 57
II.1. Material e Métodos…………………………………………………………………….. 57
III – Resultados……………………………………………………………………………... 58
IV – Discussão……………………………………………………………………................. 62
V – Conclusão……………………………………………………………………………….. 63
VI – Bibliografia………………………………………………………………….................. 64
VII – Anexos……………………………………………………………………………….... xviii
xiv
Índice de Tabelas – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ÍNDICE DE FIGURAS:
Figura 1 – Compartimentos Gástricos dos Ruminantes (imagem adaptada)……………….. 1
Figura 2 – Anatomia do Abdómen dos Ruminantes (imagem adaptada)…………………... 4
Figura 3 – Dilatação do Abomaso (imagem adaptada)……………………………………... 6
Figura 4 – Modos de Rotação do Abomaso (imagem adaptada)……………….................... 7
Figura 5 – Afundamento Pronunciado do Globo Ocular…………………………................ 24
Figura 6 – Zona de Auscultação do Ping de DA em DAE e DAD e VA (imagem
adaptada)…………………………………………………………………………................. 26
Figura 7 – Auscultação com Sucussão Abdominal (imagem adaptada)……………………. 27
Figura 8 – Técnica de Rolamento (imagem adaptada)……………………………………… 35
Figura 9 – Anestesia local em L invertido (imagem adaptada)...…………………………… 44
Figura 10 – Preparação pré-cirúrgica de cirurgias presenciadas durante o estudo de
campo……………………………………………………………………………………….. xx
Figura 11 – Anestesia Local………………………………………………………................ xxi
Figura 12 – Anestesia Paravertebral………………………………………………………… xxi
Figura 13 – Abomasopexia paralombar direita observada durante o estudo de
campo……………………………………………………………………………………….. xxii
Figura 14 – Omentopexia Paralombar direita (método de Hannover) observada durante o
estudo de campo……………………………………………………………………………. xxiii
xv
Índice de Tabelas – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ÍNDICE DE TABELAS:
Tabela 1 – Diagnósticos Diferenciais de DAE……………………………………………… 32
Tabela 2 – Diagnósticos Diferenciais de DAD e VA………………………………………. 33
Tabela 3 – Resultados SPSS V.11 relativos ao número de animais por tipo de DA……….. 59
Tabela 4 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda
percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60
Tabela 5 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda
percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60
Tabela 6 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda
percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60
Tabela 7 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo
de alimentação ao tipo de DA………………………………….............................................. 61
Tabela 8 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo
de alimentação ao tipo de DA………………………………….............................................. 61
Tabela 9 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo
de alimentação ao tipo de DA…………………………………............................................. 61
Tabela 10 – Registos obtidos no Estudo de Campo………………………………................ xviii
xvi
Índice de Gráficos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ÍNDICE DE GRÁFICOS:
Gráfico 1 – Percentagem relativa das patologias associadas ao DA………………………… 59
Gráfico 2 – Tipo de Deslocamento e o número de casos associados……….……………….. 59
Gráfico 3 – Associação da perda percentual de produção ao tipo de DA…………………... 60
Gráfico 4 – Relação entre o tipo de DA e o tipo de alimentação………………….............… 62
xvii
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
I – Revisão Bibliográfica
1. Introdução
1.1 – Notas introdutórias
Na actualidade, os bovinos seleccionados para altos níveis de produção leiteira são
alimentados com grandes quantidades de granulado, altamente energético, sendo obrigados,
porém, a permanecer grande parte do seu tempo em confinamento total, sendo o seu exercício
limitado. Todos estes factores, entre outros que serão abordados mais adiante, contribuem para a
atonia abomasal, o grande precursor do Deslocamento do Abomaso (DA)
4,24,41,63,76,103,104,151,152
.
Assim nota-se cada vez mais uma taxa crescente do número de casos de DA, sendo uma
das principais entidades patológicas na Clínica de Vacas Leiteiras de elevada produção
152
. Além
disso, a sua importância é reforçada com as elevadas perdas económicas observadas, de entre as
quais os custos com o tratamento, a diminuição da produção de leite, o maior cuidado com o
maneio e também o refugo dos animais ou mesmo a sua morte 4,35,103,132.
A escolha do tema Deslocamento do Abomaso foi feita pelo elevado número de casos
observados e pelo interesse em perceber o porquê dessa incidência, e tentar procurar formas de
ajudar os produtores a prevenir a ocorrência desta doença. Esta é uma patologia comum e que
está descrita desde 1950, mas que apesar de ter várias resoluções com sucesso, não consegue
ainda ser evitada, apresentado um importante impacto económico nas explorações leiteiras do
nosso país.
Durante a elaboração do presente documento, notou-se também alguma falta de
publicações recentes sobre o tema. Porém, há que salientar que ocorreram muito poucas
alterações acerca dos conhecimentos sobre esta patologia nos últimos anos.
Segue-se então um esclarecimento mais detalhado sobre a patologia em questão.
1.2 – Aspectos Históricos
O primeiro caso de DA foi diagnosticado e descrito em 1898 por Carougeau e Prestat, no
“Journal de Médecine Vétérinaire et de Zootechnie” da Escola de Medicina Veterinária de Lyon
em França. Estes referem-se a um caso de Vólvulo Abomasal (VA) num vitelo de 8 dias. Porém,
se forem tidos em conta apenas os Deslocamentos observados em animais adultos, consideramos
como primeiro caso, o descrito em 1928 por Hilger, também em França, seguido de Vink em
1930, na Holanda, com dois casos de Deslocamento do Abomaso à Direita (DAD)
diagnosticados post mortem 1,42,81.
1
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Surgiram entretanto alguns relatos de DA, de entre os quais o de Emsbo em 1945, que
afirmava que o DAD era causa comum de mortalidade em Bovinos na Dinamarca, e também o
de Loje, igualmente na Dinamarca, que afirmava o Deslocamento do Abomaso à Esquerda
(DAE) ser mais frequente do que DAD 1,42.
Em 1950, Begg descreveu pela primeira vez com algum detalhe um caso de
Deslocamento do Abomaso à Esquerda
42,81,136
. Descrevia então três casos de DAE, um deles
cujo diagnóstico foi efectuado por laparoscopia e outros dois nos quais foi encontrado um “som
ressonante” do lado esquerdo, sob a metade inferior das últimas costelas, sendo esses animais
submetidos então a jejum durante dois dias, como forma de tratamento 42. No entanto, em 1954,
Moore, nos Estados Unidos, afirma ter encontrado o primeiro caso com diagnóstico positivo de
um caso de DA em 1948, tendo proporcionado uma resolução cirúrgica 42,81. Sabe-se, porém, que
Begg (1950) e Müller (1953) foram os primeiros a tentar a terapia cirúrgica para o DAE
1,42
.
Quanto a tratamentos cirúrgicos, em 1959, Straiton e Mcintee, no Reino Unido, relatam a
abomasopexia pela primeira vez 42.
Por fim, e tendo em conta os inúmeros relatos que surgiram desde então, refere-se a
importância da publicação de Dirksen, na Alemanha, em 1962, e também de Lagerweij e
Numans, na Holanda, no mesmo ano, acerca de dois métodos de abomasopexia que se vieram a
tornar muito usuais no presente, o método de “Hannover” e o de “Utrecht”
1,42
.
2 – Revisão Anatómo-Fisiológica e Exame do Sistema Gástrico dos Bovinos
Os compartimentos gástricos dos ruminantes são divididos em quatro partes: Rúmen,
Retículo, Omaso e Abomaso, pelos quais o conteúdo alimentar passa sucessivamente
16,36,55,85,119,127
. (Figura 1)
Figura 1 – Compartimentos gástricos dos Ruminantes16
Todos estes compartimentos ocupam, no seu conjunto, praticamente toda a metade
esquerda da cavidade abdominal e também uma parte substancial da direita 6,16,36.
2
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Desses quatro compartimentos, o Abomaso é aquele que se equipara ao estômago de um
Monogástrico. 9,14,15,16 Este localiza-se essencialmente no lado direito da cavidade abdominal e as
suas relações anatómicas são com o peritoneu ventral da cavidade abdominal, com o retículo,
cranealmente, e com o omaso, craneodorsalmente. Passa também sob o saco craneal do rúmen,
cruzando em torno do omaso, na região do umbigo, da esquerda para a direita da linha média,
onde ascende para formar o piloro, isto uma vez que a porção craneal, a região cárdica, tende a
estar mais descaída para a esquerda 6,36,55,85,103,104,119,127.
Há que notar, porém, que a projecção topográfica do abomaso para a cavidade abdominal
varia essencialmente com a idade e com a fisiologia do animal (casos de gestação, fases de
contracção rumino-reticular e omasal e estado de repleção abomasal). Pode-se dizer, no entanto,
que a sua área principal de localização num bovino adulto será a nível do 5º/6º ao 10º/11º
espaços intercostais, na região mais ventral do abdómen direito
36,85,103,119
. (Figura 2)
No momento do nascimento, o Abomaso está preparado para levar a cabo a digestão do
leite. O Abomaso predomina, assim, sobre os demais compartimentos, sendo notável, não só
pelo seu tamanho, que ultrapassa o dos três restantes compartimentos, como também pela sua
maturidade funcional. Neste momento, o abomaso estende-se desde o fígado e abdómen até à
entrada da pélvis e desde o solo até metade do diâmetro vertical da cavidade abdominal. Só perto
das três semanas de vida, quando há uma mudança alimentar nos animais, o Rúmen inicia a sua
evolução mais concreta, dando origem, aos poucos e poucos, à anatomia normal da cavidade
abdominal de um bovino adulto, no qual compreende 80% da capacidade dos compartimentos
gástricos, ao passo que o Abomaso corresponde a apenas 7%. Note-se que este passa por uma
fase de desenvolvimento grande até, aproximadamente, às 8 semanas, podendo esse período ser
aumentado, dependendo do regime alimentar 36,55,62,102,144,145.
Sendo o Abomaso o segmento dos compartimentos digestivos de um Ruminante que se
equipara ao estômago normal de um Monogástrico, estudando a sua anatomia interna, vê-se que
é revestido por uma mucosa glandular de coloração rosa, recoberta de um muco fluido, cuja
suavidade ao tacto contrasta com a sentida nos outros compartimentos gástricos. A superfície da
mucosa está aumentada em aproximadamente seis vezes, devido ao grande pregueamento da
parede interna. Estas pregas formam-se desde a porção do Fundus (originada a partir do orifício
Omaso-Abomasal, sendo a parte mais ampla do estômago) até ao Piloro (Porção mais distal do
Abomaso, que se comunica com o Duodeno), constituído este por um Antro Pilórico (dilatação
após o Corpo) e pelo Esfíncter Pilórico. Há que notar ainda que, tal como o estômago de um
3
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Monogástrico, o Abomaso é constituído também pelo Corpo, porção entre o Fundus e o Piloro
16,36,55,85,127
.
Os movimentos abomasais num animal adulto são bastante lentos, consistindo em
contracções circulares da porção proximal e movimentos peristálticos mais fortes a nível do
piloro. Esta segunda actividade parece ser desencadeada pelo contacto do conteúdo digestivo
com o piloro, quando o omaso contrai. É possível que estas modificações normais da posição
facilitem o deslocamento, juntamente com outros factores, uma vez que a ausência de propulsão
do alimento e a acumulação de gás (atonia pós acumulação de gás no fundus), juntamente com
mudanças de posição, possa facilmente levar ao deslocamento 36,62,103,104,107.
Fig. 2 – A – Anatomia Normal do lado Esquerdo; B – Anatomia Normal do lado Direito; C – DAE; D – DAD com
Vólvulo2
Como o abomaso está bem fixo cranealmente ao omaso, que tem um peso considerável, e
distalmente à porção cranial do duodeno, estando também fixo pela sua curvatura menor pelo
omento menor ao fígado, compreende-se ser a porção média aquela que tem uma maior
facilidade em deslocar-se ao longo da porção ventral da cavidade abdominal. Além disso, as
contracções do rúmen e retículo podem permitir ao abomaso, com uma posição relativamente
flutuante devido à acumulação de gás, deslocar-se até ao lado esquerdo, entre o rúmen e a parede
abdominal esquerda, a nível das três ou quatro últimas costelas. Já no deslocamento à direita, a
porção média do Abomaso situar-se-á entre os intestinos e a parede abdominal direita. Note-se
que estas situações serão explicadas de forma mais detalhada à frente 36.
4
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Em situação normal, o exame físico do abomaso é muito limitativo, uma vez que este
apenas pode ser localizado e estudado por meio do conhecimento anatómico, conjuntamente com
a auscultação, ultrassonografia e paracentese, as quais nos permitem, com algum grau de
segurança, saber que estamos na sua presença, ou ainda por palpação externa, percussão, punção
ou radiografia. Assim, apenas em situações patológicas, como as que se verão mais à frente,
entre outras, poderemos examiná-lo de forma mais concreta, por meio de sinais mais específicos
103,119
.
Assim, o exame por palpação rectal e/ou externa apenas nos permite ter certezas de que
realmente sentimos o abomaso em situações patológicas, tais como abomasites, DAD, entre
outras. O mesmo acontece por percussão, uma vez que quando em situação normal, não nos é
permitido saber com certeza os limites do órgão. Pode ser dito, porém, que o seu som à
percussão é subtimpânico a relativamente maciço, dependendo do seu estado de repleção. Já em
termos de auscultação, embora se saiba pouco acerca dos ruídos do abomaso, sabe-se distinguir
entre o som quase nulo do peritoneu, o peristaltismo intestinal e o som das contracções ruminais,
e da crepitação do omaso, pelo que o abomaso pode ser assim localizado 119.
O abomaso pode ser identificado também por ecografia na linha média ventral,
caudalmente ao processo xifóide, na região paramediana direita e esquerda. Este é visualizado
como um órgão de ecogenicidade heterogénea, moderadamente ecogénico, devido ao seu
conteúdo. A motilidade não pode ser observada, embora as suas dimensões relativas possam ser
detectadas 18,19,20,103.
Efectuando uma abomasocentese, pode ser avaliado o fluido quanto à sua cor, cheiro,
presença ou não de sangue e quanto ao pH e valores de Cloretos. Em situação normal, a cor varia
de verde-acastanhado (cor de azeitona) a cinza e o fluido apresenta um cheiro azedo. O seu pH
varia de 1,38 a 4,50. Valores mais elevados ocorrem na presença de hemorragia, bílis ou
abomasite crónica devida à Ostertagiose. Os valores normais de Cloreto no fluido abomasal de
Bovinos são determinados por colorimetria ou mercurimetria. Em animais adultos oscilam entre
100 a 135 mmol/L. Estes valores aumentam relativamente (155 mmol/L) em caso de DA
20,103,119
.
3 – Tipos de Deslocamento do Abomaso
Existem quatro formas de Deslocamento do Abomaso. São elas a Dilatação do Abomaso,
o Deslocamento do Abomaso à Esquerda, o Deslocamento do Abomaso à Direita, e o
Deslocamento Anterior do Abomaso, este último algo desconhecido 2,41,47,88,103,165.
5
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Deve-se notar também que, devido à anatomia do abomaso e a todas as interligações com
outros órgãos, quando este sofre deslocamento, o retículo, o omaso, o duodeno e o fígado
também se deslocam conjuntamente 103.
Sabe-se, contudo, que a forma mais comum de DA é o DAE 4,41,88,103.
3.1 – Dilatação do Abomaso
Em qualquer tipo de Deslocamento, este é precedido por uma atonia abomasal. A atonia
não permite ao Abomaso ter qualquer tipo de onda peristáltica, levando a acumular gás no seu
interior, sem que consiga expulsá-lo, levando assim à Dilatação 84,103,149. (Figura 3)
Fig. 3 – Dilatação do Abomaso 84
3.2 – Deslocamento do Abomaso à Esquerda (DAE)
Caracteriza-se por um deslocamento completo ou parcial do abomaso dilatado entre o
rúmen e a parede abdominal ventral. Assim, o abomaso localizar-se-á caudalmente ao omaso e à
esquerda do rúmen. A curvatura maior, que passa ventralmente ao rúmen, é aprisionada entre o
rúmen e a parede abdominal esquerda, sendo a sua posição mais usual no flanco esquerdo
inferior 2,4,39,41,88,103,152. (Figura 2)
3.3 – Deslocamento do Abomaso à Direita (DAD)
Dentro deste tipo de Deslocamento, poderemos também englobar dois subtipos: DAD
com Torção ou Volvo Abomasal e DAD sem Torção 39,41,103.
3.3.1 – DAD sem Torção
No caso de DAD, o abomaso enche com gás, mas permanece do lado direito do animal,
posicionando-se entre o fígado e a parede abdominal direita. Em casos muito graves, pode
estender-se caudalmente para a região pélvica. Nestes casos, o fluido acumulado encontra-se
obstruído e o animal apresenta-se, eventualmente, em estado de choque e desidratação. Apesar
6
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
disso, apenas uma pequena quantidade de ingesta consegue passar, sendo assim as fezes escassas
2,39,41,103
.
3.3.2 DAD com Torção ou Vólvulo Abomasal (VA)
O Vólvulo é a rotação do abomaso pelo seu eixo mesentérico, ao passo que a torção é a
rotação de um órgão tubular ao longo do seu eixo longitudinal. Tanto um como o outro, resultam
na obstrução vascular e lesão isquémica. Na generalidade, quando falamos em Torção e Vólvulo
do Abomaso, as duas situações são englobadas como Vólvulo, sendo mais comum a rotação em
torno do eixo maior do órgão 13,14,39,54.
Seguidamente à fase de dilatação e deslocamento, o abomaso pode rodar no sentido dos
ponteiros do relógio, ou em sentido contrário, visto pela direita, num plano vertical ao longo do
eixo horizontal que passa transversalmente pelo orifício omaso-abomasal 2,39,103,138.
Na sua forma aguda, devido a uma obstrução completa do piloro, esta manifesta-se por
um grande desconforto para o animal. Esta rotação é na ordem dos 180 a 270º e denomina-se
também de obstrução aguda. Envolve ainda uma grande distensão abdominal, com
comprometimento circulatório e necrose isquémica 103. (Figura 2 e Figura 3)
Fig. 3 – Modos de Rotação do Abomaso 86
Legenda: Diagrama ilustrando dois possíveis modos de rotação do abomaso, omaso e duodeno cranial aquando da
ocorrência de VA; (1) normal; (2) dilatação simples e deslocamento à direita; (3) vólvulo de 180º em volta do eixo
longitudinal do omento menor, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, visto por detrás do animal; (2´) rotação do
abomaso em 90º num plano sagital, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, visto pelo lado direito do animal; (3’)
rotação do abomaso e omaso de 180º em volta do eixo transverso do omento menor, empurrando o duodeno cranialmente,
medial ao omaso; (4) vólvulo de 360º no sentido contrário aos ponteiros do relógio, fase final da rotação resultante de
qualquer um dos modos de rotação. (D) duodeno, (E) esófago, (G) omento maior, (L) omento menor, (O) omaso, (P)
piloro, (Q) retículo, (R) rúmen
7
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
3.4 – Deslocamento Anterior do Abomaso (DAA)
No Deslocamento Anterior, o Abomaso localiza-se cranealmente no abdómen, sem
grande distensão de gás, encontrando-se entre o Retículo e o Diafragma 88,103,123,168.
4 – Epidemiologia
A incidência do DA em bovinos leiteiros varia, dependendo do país, de 0 a 7% por ano,
segundo dados de Van Winden. Deve-se considerar contudo uma grande variação no nível de
exploração entre os vários países 24,78,152. Sabe-se também que quando a incidência do DA numa
exploração é elevada, pode resultar em perdas económicas consideráveis
152
. Esta incidência foi
indicada por Pehrson e Stengärd como sendo entre 10 a 20% 35.
Analisando a relação entre os casos de DAE e DAD, diz-se ser traduzida por um rácio
7.4:1
103
. Wolf diz que o
DAE predomina com uma taxa de aproximadamente 80% de
ocorrência, ocorrendo esta essencialmente nas primeiras quatro semanas após o parto 163,164.
Relativamente à taxa de sobrevivência associada ao DA, no DAD, a média de
sobrevivência estimada ronda os 61-74%
125
. Já para DAE, não se tendo encontrado dados
relativos a uma a taxa de mortalidade total, apenas se pode afirmar que, em vacas com DAE e
diarreia associada, esta é muito maior (21%) do que a verificada para vacas com DAE e fezes
normais (8%) 103.
O DA ocorre essencialmente em bovinos de raça Holstein-Frísea, Holstein Alemã, Jersey
e Guernsey
152,163,164
. Por outro lado, o DAE é raro ser encontrado em bovinos de raça German
Fleckvieh. Geishauser et al. e Uribe et al. apresentam resultados de 0,24 para a heritabilidade de
DA em gado Alemão (German black-pied cattle) e de 0,28 em vacas Holstein 152.
Estudos comprovam que a selecção para uma elevada estatura e grande profundidade de
abdómen e tórax podem explicar a predisposição racial anteriormente relatada. Estas raças
podem ter um risco aumentado de DA, devido à grande distância, notada verticalmente, entre o
abomaso e o cólon descendente, o que prejudica o esvaziamento do abomaso
35,161
. Assim,
aceita-se genericamente que a predisposição genética é um importante factor de risco para a
ocorrência de DA
35,163,164
. De acordo com Wolf et al., ambos os tipos mais comuns de DA
(DAE e DAD) estão geneticamente altamente relacionados, concluindo que ambas as formas da
doença são determinadas pelos mesmos genes 103,161,163.
Numa análise relativa ao período crítico de ocorrência da patologia para DAE, o período
de maior risco é aquele que complementa o primeiro mês pós-parto, sendo que o risco vai
aumentando com a idade
152
. Wolf relata que o período que compreende as primeiras quatro
semanas pós-parto é o mais importante, enquanto Radostits refere que 90% dos casos ocorrem
8
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
nas primeiras 6 semanas pós-parto, ocorrendo também casos ocasionais algumas semanas antes
do parto 103,163,164.
A primeira lactação é também um período de risco relativo de desenvolvimento de DA.
Isso pode ser resultado de má adaptação social e nutricional da primípara 152.
Por outro lado, contrariamente ao DAE, que ocorre essencialmente nas primeiras 4
semanas pós-parto, apenas 50-70% dos DAD são encontrados neste período, enquanto os
restantes ocorrem independentemente do estádio de gestação ou lactação
35
. Pelo contrário,
Radostits e outros autores dizem que o DAD ocorre geralmente em bovinos adultos, no período
entre as 3 e as 6 semanas pós-parto
34,103,146
. Sendo os dados anteriores referentes a bovinos de
leite, há que referir que o deslocamento abomasal à direita e o vólvulo foram descritos em
bovinos de aptidão de carne entre o primeiro mês e os 6 anos de idade, com uma idade média de
10 meses 120.
É reconhecida a maior incidência de DAE com o aumento da idade
35,163,164
. Porém, há
35
também relatos de que a incidência é aumentada em novilhas no primeiro parto .
Já os casos de DAD ocorrem mais frequentemente em vitelos sem qualquer história de
patologia prévia, desde alguns meses de idade até aos 6 meses. Ocorre também em vacas e
touros adultos, mas em muito menor grau 103,104.
Radostits et. al, afirma que o período de maior risco é entre os 4-7 anos de idade para
todas as patolgias de DA 80,103,146.
Realizando uma análise da relação de DA ao nível produtivo, sabe-se que quanto maior o
nível produtivo, maior é o risco de desenvolvimento de DA 44.
Por outro lado, as vacas com excesso de Condição Corporal no momento do parto
apresentam um maior risco de DAE. Segundo Shaver, as incidências para uma condição corporal
baixa (2,75 a 3,25), média (3,25 a 4) e alta (≥4) são respectivamente de 3.1, 6.3 e 8.2% 132.
As vacas com DA apresentam uma menor ingestão alimentar antes do diagnóstico
99
.A
afirmação é concordante com os estudos de Dirksen, que sugere que perante um menor
enchimento ruminal, existe uma maior facilidade do Abomaso em deslocar-se para a esquerda,
mesmo antes de serem detectados quaisquer sinais. O mesmo acontece com alimentação à base
de forragem de má qualidade
69
. Estudos epidemiológicos mostram uma correlação entre o
fornecimento de alimento com baixo teor de fibra e alto em concentrado e a incidência de DA
152,153
. Cameron sugere ainda o facto de o risco aumentar no final da gestação, devido à vaca ser
alimentada com um nível baixo de fibra
24
. Posto isto, Shaver descreve ser recomendado um
comprimento da fibra de 1,3 a 2,5 centímetros
9
132
. Conclui-se também daqui o facto de que
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
quanta mais silagem de milho se der, maior a probabilidade de ter um DA
25,151
. Van Winden
refere ainda um risco 4 vezes maior para DA em fêmeas alimentadas ad libitum no período de 1
a 1,5 anos de idade 152.
Há indicações de que a época e as alterações meteorológicas podem induzir a patologia
26,35,103
. Cannas da Silva relata que há uma maior incidência no Inverno e início da Primavera,
que não podem ser relacionadas com uma maior frequência de partos. Diz-nos também que a
incidência aumenta durante a mudança de dias com sol, quentes e secos, para dias com condições
húmidas e frias. A explicação provável está no mau armazenamento da silagem e na diminuição
da ingestão de alimento 26,103.
5 – Etiologia
A etiologia do DAE é multifactorial. Porém, está intimamente relacionada com a
quantidade e qualidade do alimento ingerido antes e depois do parto. O período de transição, que
vai desde as 2 semanas pré-parto até às 2 a 4 semanas pós-parto, é o que maior risco apresenta na
etiologia do DAE, como já foi referido. Deve-se ao facto de que a diminuição da ingestão de
alimento no pré-parto e o seu lento aumento no pós-parto são factores de risco que causam
diminuição do estado de repleção ruminal, reduzida relação forragem:concentrado e aumento da
incidência de patologias no pós-parto 97,103,132,152,163,164.
São indicadas como possíveis causas de DAE a alimentação no pré-parto com
quantidades excessivas de concentrado, a diminuição do volume ruminal causada pela grande
depressão da ingestão no pré-parto e reduzida relação forragem:concentrado, a diminuição da
motilidade ruminal devida ao aumento do teor de AGV com consequente diminuição do
enchimento abomasal. A alimentação com altos teores de concentrado resulta na diminuição da
motilidade abomasal e na maior acumulação de gás neste compartimento
24,25,132,151,152,153
.
Assim, pode-se compreender a etiologia do DAE como a alimentação com elevados
teores de concentrado na gestação avançada, levando isso a uma distenção gasosa e
hipomotilidade do abomaso 37,38,103,132.
Estas causas serão as mesmas que levarão também a uma Dilatação Abomasal e a um
DAA. A diferença reside na fisiopatogenia do processo
84,88,103,123,149,168
.
Já no caso de DAD, a sua etiologia não está ainda muito compreendida, julgando-se
porém ser semelhante à do DAE. Pensa-se que a atonia abomasal é o grande precursor da
Dilatação Abomasal e deslocamento, com consequente torção. Neste caso, a distensão abomasal
poderá ocorrer quer por obstrução pilórica ou por atonia primária da musculatura abomasal. O
10
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
último factor parece ser o mais provável como causa da obstrução em bovinos adultos. Porém, o
primeiro é mais apontado como causa em jovens 37,38,39,97,132.
Notar-se-á mais adiante porém, que estas não são as únicas causas, uma vez que há
também numerosos factores de risco no DA, quer seja em DAE, DAD, DAA, ou uma simples
dilatação.
6 – Fisiopatologia
Tal como foi anteriormente afirmado para a etiologia, também a patogenia do DA está
ainda muito por explorar e definir. Muitos dos documentos que relatam este tema têm já vários
anos inclusive.
Como se verá, a fisiopatologia do DA conta essencialmente com a explicação de quais os
factores que levam à Dilatação Abomasal e ao favorecimento do seu deslocamento anterior, à
esquerda, ou, pelo contrário, à direita.
A redução da ingestão de matéria seca (MS) é de aproximadamente 35% na última
semana pré-parto, o que faz aumentar as concentrações de triglicéridos hepáticos no pós-parto
imediato
120
. A elevada quantidade de concentrado, dada na alimentação de vacas leiteiras, no
pré-parto, provoca a diminuição da motilidade ruminal e o aumento da acumulação de gás no
abomaso
65,103,104,132
ou total (atonia)
. Este decréscimo da motilidade abomasal pode ser parcial (hipomotilidade)
17,95
. A atonia abomasal pode ter como causa uma elevada concentração de
ácidos gordos voláteis, que em conjunto com a contínua fermentação microbiana da ingesta leva
à acumulação de gás e, consequentemente, à distensão do órgão, sendo estes os dois contributos
essenciais para o DA
35,41,63,73,103,146,152
. O gás acumulado no abomaso é composto
maioritariamente por metano (70%), seguido de dióxido de carbono e azoto
152
. Para além da
teoria da fermentação prolongada, facilitada pelo aumento do pH abomasal no pós-parto, que
leva à produção de gás, existe outra teoria que defende que a quebra da concentração de cálcio
plasmático, em conjunto com valores baixos de insulina, pode reduzir a secreção de ácido no
abomaso, resultando num aumento da produção de gás
59
. Para a atonia, pode ainda ajudar a
diminuição do tónus do músculo liso, causada por hipocalcemia 60,97.
O tamanho das partículas ingeridas é importante para o estímulo mecânico da ruminação
e para a prevenção do DAE, todavia, não está definido o tamanho mínimo que mantém o normal
funcionamento de todos os compartimentos gástricos
41,63
. Porém, estudos que contemplam o
tamanho das partículas da forragem foram já descritos na secção de Epidemiologia 132.
A ocorrência do DAE está também associada a determinadas doenças concomitantes, que
na sua maioria são acompanhadas por processos febris e inflamatórios. Nestes casos, a alteração
11
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
na motilidade abomasal pode ser provocada pelo efeito depressivo de endotoxinas e substâncias
pirogénicas endógenas (Interleucina-1). As contracções retículo-ruminais são abolidas pela
estimulação dos mediadores inflamatórios sobre o tónus do músculo gástrico liso, o que leva à
inibição dos reflexos, e pelo efeito depressor directo sobre o núcleo central vagal. Apesar de não
existirem relatórios acerca do efeito da febre, endotoxinas e mediadores inflamatórios
directamente sobre abomaso, há registos desses mesmos efeitos no aparelho gastrointestinal de
várias outras espécies, atestando que as funções motora e secretora podem ser inibidas 41,70,82.
Muitas vacas com DAE apresentam também cetose clínica. No entanto, o papel de causa
efeito nesta relação não está ainda esclarecido. A cetonémia grave pode deprimir a motilidade
gastrointestinal. Contudo, a cetose pode resultar da diminuição da disponibilidade de nutrientes,
que se seguiu à anorexia, causada pela diminuição de passagem da ingesta pelo estômago
anterior e pelo desconforto causado pelo DAE 23,41,50,51,103.
Um outro dado a ter em conta é a quantidade de espaço livre no abdómen, que permite a
movimentação do abomaso. Tais factores encontram-se mais pormenorizadamente descritos na
secção seguinte, relativa aos factores de risco associados ao animal.
Em determinadas circunstâncias, o abomaso adopta posições anormais, o que aumenta a
probabilidade do seu deslocamento. São disso exemplos o decúbito prolongado causado por
claudicação, a hipocalcémia, um parto difícil, ou a existência de cubículos curtos que dificultam
o acto de levantar. Todos estes factores devem ser considerados. No entanto, quando uma vacaria
em particular tem uma incidência de DAE alta, deve ser imediatamente estudado o regime
alimentar e o maneio nela praticados, uma vez que estes factores ocupam um lugar de destaque
na etiologia do DA 34.
O abomaso atónico e repleto de gás desloca-se ventralmente e por baixo do rúmen, ao
longo da parede abdominal esquerda, geralmente em posição lateral ao baço e ao saco dorsal do
rúmen. O fundo e a grande curvatura do abomaso são os primeiros a mudar de posição, seguidos
do piloro e duodeno. O omaso, retículo e fígado também se deslocam. O deslocamento do
abomaso à esquerda resulta invariavelmente na ruptura da zona de fixação do omento maior ao
abomaso 2,4,36,39,41,63,103,152.
O abomaso pode ocasionalmente ficar preso anteriormente entre o retículo e o diafragma,
situação denominada de “deslocamento do abomaso anterior”. Num estudo com 161
deslocamentos de abomaso, 12% dos casos pertenciam ao deslocamento anterior 88,103,123,168.
No caso de DAD, após a atonia inicial, há a acumulação de fluido e gás, o que empurra o
abomaso gradualmente mais distendido numa posição caudal e direita. Após esta fase de
12
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
dilatação, relativamente comum aos outros tipos de deslocamento, a distensão abomasal pode ser
de tal ordem, que impeça a sua evacuação de conteúdos para o intestino. Isso leva à gradual
diminuição do trânsito intestinal 2,39,41,103.
À medida que a pressão gasosa do abomaso aumenta, a disposição anatómica dos órgãos
pode predispor a que ocorra um caso de VA. Ao mesmo tempo, a perfusão decresce, resultando
em graus variados de isquémia na mucosa abomasal e na sua lesão com ulceração e perfuração,
daí que um dos sintomas típicos seja o de fezes com melena 2,41,103.
No caso de VA, após a fase anteriormente descrita, o abomaso gira simplesmente numa
direcção horária ou antihorária, levando à necrose isquémica mais acentuada do órgão
2,39,86,103,138
.
6.1 - Factores de risco
Como foi anteriormente verificado, existe ainda pouca informação disponível sobre dados
epidemiológicos de DAD. Assim, e tendo em conta o que já foi descrito na etiologia do DA,
sabe-se que a maior parte dos factores de risco se relacionam com o DAE, considerando-se
portanto similares, uma vez que a causa primária da patologia é comum a todas as formas de DA.
A causa exacta para o DAE é desconhecida, no entanto, foi observada uma associação
entre a ocorrência desta doença e condições climatéricas adversas, dieta com elevados níveis de
concentrados e baixos valores de fibra bruta (FB), doenças concomitantes, idade, raça e
predisposição genética 41,103,104.
De uma forma geral, podem ser distinguidas três grandes áreas de factores de risco de
DA: Factores de risco associados à dieta; Factores de risco associados ao animal; e factores de
risco associados ao ambiente 88,103,168.
6.1.1 - Factores de risco associados à Dieta
Entre os vários factores de risco identificados, a nutrição, é provavelmente, o mais fácil
de controlar em efectivos leiteiros
24
. Acrescentam-se, assim, outras informações não referidas
ainda no capítulo de Epidemiologia.
6.1.1.1 - Maneio e nutrição no pré-parto
De acordo com o observado em efectivos de produção leiteira, existe uma importante
associação entre o balanço energético negativo (BEN), reflectido pelo aumento da concentração
dos ácidos gordos não esterificados (AGNE), e o DAE
24,150,152,153
. Podem enunciar-se os
seguintes factores de risco associados ao maneio nutricional do pré-parto e, consequentemente,
13
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ao BEN: elevados níveis de condição corporal, inadequado fornecimento de dieta, dietas com
níveis superiores a 1,65 Mcal de NEL/kg de matéria seca e estações de Inverno e Verão
24,26,35,87
.
As vacas alimentadas com dietas altamente energéticas no período seco, podem ficar obesas, o
que pode levar a uma diminuição da ingestão de matéria seca no pré-parto. Os partos durante os
meses quentes de Verão também contribuem para a diminuição da ingestão de matéria seca. A
lipidose hepática, comum em vacas com condição corporal superior à desejada, é considerada
um factor de risco para o DAE 24,25,103,151.
São ainda considerados factores de risco os casos de cetose diagnosticados antes do
deslocamento abomasal. A cetose está associada a uma baixa ingestão de MS, o que conduz à
diminuição da repleção e, consequentemente, do volume ruminal, reduzindo a motilidade dos
pré-estômagos e, provavelmente, a motilidade abomasal. Este menor volume ruminal oferece
ainda menor resistência ao DAE 24,103.
O encurtamento do período seco, juntamente com a oferta de uma dieta com elevado teor
energético durante todo o ciclo gestação-lactação, resulta numa melhoria do balanço energético,
bem como do estado metabólico das vacas na lactação subsequente 108.
6.1.1.2 - Dieta rica em concentrado
A produção leiteira cada vez mais intensiva fez com que se começasse a dar mais
concentrado e menos forragem às vacas, para que assim produzissem mais leite. No entanto, esta
adaptação leva a alterações metabólicas e a doenças, tais como DA e a acidose. As vacas
produzem leite através da matéria seca que consomem. O grande problema é que, muitas vezes, a
humidade de certos elementos incorporados na dieta é superior à suposta aquando da
formulação, sendo o seu peso maior, administrando-se assim menos nutrientes do que o
necessário e falhando a supressão das necessidades dos animais 73.
Existe uma maior incidência de DAE quando é oferecida uma maior quantidade de
concentrado na dieta, durante o pré-parto. A vantagem da dieta completa (TMR - total mixed
ration) é permitir o controlo do rácio forragem: concentrado. Uma TMR específica para o grupo
de transição com maior quantidade de fibra efectiva está recomendada no pós-parto inicial
152,153,87
.
O aumento de concentrado na dieta aumenta a passagem de ingesta do rúmen para o
abomaso, o que, por sua vez, causa a elevação da concentração de AGV, que pode inibir a
motilidade abomasal
34,96,150,152
. A passagem da ingesta para o duodeno fica assim
impossibilitada, acumulando-se no abomaso. O grande volume de metano e dióxido de carbono
encontrados no abomaso depois da ingestão de concentrado, pode ficar aí aprisionado, causando
14
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
a sua distensão e deslocamento. Contudo, a importância do aumento da concentração de AGV
abomasais como causa de atonia abomasal é ainda controversa 103.
Há que ter em conta que, dietas deficientes em energia, oferecidas no final do pré-parto,
podem também aumentar o risco de DAE, pela falha no aumento da capacidade de absorção das
papilas ruminais e falha na adaptação da microflora ruminal à ingestão de dietas do pós-parto,
com níveis energéticos superiores. Este aumento de absorção de energia pode ajudar a reduzir a
incidência de lipidose hepática e cetose. A oferta de concentrado no pré-parto é polémica, sendo
difícil definir os limites das suas vantagens e desvantagens. Até que mais dados estejam
disponíveis, Shaver considera razoável a oferta de suplemento de concentrado no final da
gestação na ordem dos 0,5 a 0,75% do peso vivo do animal 103,132.
6.1.1.3 - Fibra bruta na dieta
Uma concentração de FB na dieta de vacas leiteiras inferior a 16-17% é considerada um
importante factor de risco para DAE. A ração peletizada finamente moída e a fibra de curto
comprimento podem ser factores de risco, por provocarem reduzida função ruminal e supressão
do apetite, o que leva a uma repleção ruminal fraca e ao aumento da fermentação, que por sua
vez faz aumentar os AGV e a produção de gás 103,131.
Recentemente, Stengärde e Pehrson reportaram que a fibra neutro detergente (NDF),
componente da silagem, era baixa em efectivos com problemas de DA e que alimentar com
TMR é um factor de risco para o deslocamento. Concluíram que oferecer uma forragem com
baixo NDF, ou seja inferior a 25%, era um factor de risco mais importante para o deslocamento
do que a quantidade de concentrado dada junto ao parto e que o princípio para a prevenção do
DA é manter um bom estado de repleção ruminal 96,137.
Animais alimentados com forragens com elevada digestibilidade de NDF comem mais e
produzem melhor 140.
6.1.2 - Factores de risco associados ao animal
6.1.2.1 - Raça e idade
Os bovinos leiteiros apresentam um maior risco de desenvolver DAE e DAD do que
bovinos de carne, da mesma forma que, entre os bovinos, as fêmeas estão mais predispostas a
desenvolver DAE do que os machos. Contudo, os machos apresentam a mesma incidência de
DAE e DAD 52,103. Os estudos de raça foram já discutidos no capítulo de Epidemiologia.
15
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Como já foi referido, o risco para ambas as doenças aumenta com a idade, sendo maior
entre os 4 e os 7 anos
80,103,146
. No entanto, é importante referir que ambas as alterações
patológicas podem ocorrer em qualquer idade
referem precisamente o contrário
87
34,52
. Este tema é controverso e outros estudos
. Por exemplo, Sexton et al., apresentam a distribuição de 39
vacas com DAE de acordo com o número de lactação, sendo que 71,7% dos casos sugiram nas
primeiras três lactações. De notar ainda que animais com idade inferior a um ano apresentam
DAD com maior frequência do que DAE 146.
6.1.2.2 - Produção leiteira
A relação entre a produção leiteira, ou o potencial da mesma, e o DAE foi examinada em
vários trabalhos, tendo sido inconclusivos os resultados obtidos
maior incidência da doença deu-se em vacas altas produtoras
40,58,103
. Nalgumas observações a
52,103
. Outros defendem que uma
maior produção leiteira na lactação anterior não aparenta ser um factor de risco para o DAE
118
.
Alguns estudos demonstraram uma associação entre efectivos leiteiros com elevada média de
produção leiteira e com alta capacidade de transmissão genética dessa mesma característica e a
elevada ocorrência de DAE
24,103,112
. Estudos posteriores concluíram que não havia diferença
entre os efectivos produtores de leite que eram de alta ou baixa produção, e a sua relação com o
DAE. Existem poucas correlações genéticas entre DAE, produção de leite e proteína, devendo
estes factores ser independentes para a selecção 103.
6.1.2.3 - Final da gestação
Uma vez que o parto parece ser o principal factor precipitante da doença, foi postulado
que no período final da gestação o rúmen é levantado do chão abdominal pelo útero e o abomaso
é empurrado anteriormente e para a esquerda, por baixo do rúmen. Depois do parto, o rúmen
continua a encurralar o abomaso, especialmente se este está atónico ou distendido com comida,
como é de prever caso a vaca seja alimentada intensamente 36,55,103,146.
Um estudo apresentado por Constable et al. refere que durante as 2 primeiras semanas
pós-parto ocorreram proporcionalmente menos vólvulos abomasais que DAE, 28% e 57%
respectivamente
146
. Uma vez que foram menos os casos de DAD no pós-parto imediato, é
sugerido que o volume ruminal pode influenciar directamente a direcção do deslocamento
abomasal. Com base nos dados, é sugerido que a atonia abomasal é um pré-requisito para DAD e
DAE. Acredita-se que um volume ruminal normal é uma barreira efectiva contra o DAE e que a
grande incidência de DAE em vacas lactantes é o resultado do seguinte conjunto de factores:
16
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
diminuição do volume ruminal, aumento do espaço abdominal imediatamente depois do parto e
uma maior exposição a factores que conduzem a atonia abomasal 35,37,38,68,97,103,152.
A normal posição do abomaso, ligeiramente à direita da linha média, torna fora do
periparto o deslocamento presumivelmente mais fácil para a direita
146
. Já o VA é esporádico e,
como apresentado no estudo anterior, não está associado ao parto da mesma forma que os DA 41.
Um outro factor prende-se com o facto de actualmente a selecção genética das vacas
leiteiras ser feita de forma a dar preferência aos animais com maior profundidade corporal.
Algumas famílias de vacas leiteiras possuem maior incidência de DAE, quando comparadas com
outras, o que se tornou mais óbvio com a prática da transferência de embriões 34,35,74,163,164.
6.1.2.4 - Doenças concomitantes
Comparando vacas com DAE com vacas controlo, as primeiras têm maior probabilidade
de já terem tido retenção placentária, cetose, distócia, nados-mortos, metrite, mastite, patologia
podal, gestação gemelar ou hipocalcémia
35,53,80,103,136,146
referidas também ocorrem, mas com menor frequência
entidades patológicas e o DA é difícil de estabelecer
. Nos animais com DAD as doenças
116
103
. A relação causa-efeito entre estas
. As doenças do periparto enunciadas
participam na diminuição da motilidade gastrointestinal, que, por sua vez, precipita o
deslocamento 146.
Apesar dos factores de risco em vitelos, touros e bovinos de aptidão de carne não estarem
tão bem determinados como para as vacas leiteiras, podem ser considerados na patogénese os
casos de úlcera do abomaso, corpos estranhos e sedimentos abomasais 146.
6.1.2.4.1 - Cetose subclínica pré-existente
A cetose é uma das complicações mais comuns do DAE. A dúvida está em saber se a
preexistência de cetose subclínica é ou não um factor de risco para o deslocamento. Alguns
estudos clínicos afirmam que sim 27,41,50,103.
O aumento da concentração de corpos cetónicos no leite é proclamado um importante
factor de risco para DAE. As vacas com DAE têm o dobro da probabilidade de padecer de outra
doença, quando comparadas a animais sem deslocamento, e a presença dessas entidades
patológicas pode ser factor de risco para a cetose 50,103.
6.1.2.4.2 - Hipocalcemia
A relação causa efeito entre hipocalcemia e DA não está totalmente esclarecida. Tem sido
assumido que uma redução dos níveis de cálcio plasmático predispõe a vaca ao deslocamento
17
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
por diminuição da motilidade e esvaziamento abomasal
118
. Contudo, existe uma outra hipótese:
as dietas ricas em concentrado provocam a acumulação de líquido no abomaso, atraso no seu
esvaziamento e estimulam a libertação de calcitonina, resultando numa diminuição dos níveis de
cálcio nas vacas que sofrem de DA. Nalguns casos, a hipocalcemia pode resultar do anormal
funcionamento abomasal, em vez de ser causa deste 12.
6.1.2.5 - Predisposição genética
O DAE e o DAD estão geneticamente correlacionados e ambas as formas da doença são
determinadas pelo mesmo gene 103,104,161,163,164.
Tal como referido anteriormente, a selecção de bovinos com maior profundidade corporal
é também um factor de risco enorme a ser considerado 34,35,74,163,164.
6.1.2.6 - Outros factores de risco para o animal
O exercício físico esporádico, incluindo saltar para montar outras vacas durante o estro,
são factor de risco comum em casos de DA não associado ao parto. O exercício violento e o
transporte de animais podem contribuir para a patogénese de VA em adultos ou vitelos, sem que
exista uma história de doença imediatamente anterior associada à fase de dilatação abomasal 103.
Ainda assim, alguns clínicos defendem que o exercício tranquilo, tal como andar na pastagem,
ajuda a diminuir a incidência de DAE 41.
O DAD surge, por vezes, após correcção do DAE pela técnica de rolamento 74.
6.1.3 – Factores de risco associados ao ambiente
6.1.3.1. Estação do ano
Um estudo realizado no Canadá demonstrou uma maior incidência de DAE no final do
Inverno/ início de Primavera, depois da época de estabulação, ou seja, de Janeiro a Abril
26,103
.
São vários os outros estudos epidemiológicos que apontam para uma maior frequência de DA
neste mesmo período, não estando unicamente atribuídos a um aumento do número de partos
24,26
.
Num estudo norte americano, a probabilidade de ocorrência de DAE e de DAD variou
consideravelmente durante o ano, com o menor número de casos registado no Outono. O DAE e
DAD foram mais frequentes em Janeiro e Março, respectivamente. A maior incidência da doença
na Primavera pode também estar relacionada com a menor qualidade da forragem armazenada
18
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
durante o Inverno, o que resulta na depleção do fornecimento das mesmas e ainda com as
condições climatéricas características dessa estação 23,103.
6.1.3.2. Influência climatérica
Em 2004 foi apresentado um estudo acerca da influência dos efeitos climatéricos na
ocorrência de deslocamento do abomaso. Vários parâmetros foram avaliados diariamente, sendo
eles: pressão atmosférica, pressão de vapor de água, humidade relativa, temperatura, variação de
temperatura (máxima e mínima), precipitação, insolação e velocidade do vento. A velocidade do
vento e a pressão atmosférica não tiveram qualquer efeito na doença. Houve uma maior
probabilidade para o DA perante baixas pressões de vapor de água, elevada humidade relativa,
baixa temperatura do ar, baixas variações de temperatura, elevada precipitação e baixa insolação.
Uma alteração de dias solarentos, quentes e secos, para dias frios, encobertos e húmidos, esteve
associada com o aumento da prevalência da patologia 26.
7 – Sinais Clínicos
O DA apresenta uma variedade muito grande de sinais clínicos, que vão desde aqueles
que são comuns a um grande número de alterações patologica, até aqueles que são mais
específicos. A diversidade de sinais é de tal forma grande, que, em alguns casos, um sinal
evidente pode não o ser noutros 41,103.
7.1 – Dilatação abomasal
Todos os animais com DA começam por ter dilatação abomasal. Esta pode ser moderada
a grave, inicialmente, e tende a agravar-se com o deslocamento. Porém, entende-se como
Dilatação Abomasal apenas a fase sem qualquer tipo de Deslocamento
39,41,63,84,103,149
.
Os sinais clínicos mais frequentes neste caso são a distensão abdominal moderada, visível
ou não perceptível, fezes diarreicas, o decúbito prolongado, depressão moderada e alguma
letargia, sinais de cólica (animal pontapeia o flanco, faz decúbito frequente, emite gemidos,
encontra-se agitado) e, por fim, o bruxismo 34,63,84,103,149.
7.2 – DAE
Animais com este tipo de patologia começam por ter anorexia parcial, ou seja, têm apetite
selectivo por alimento mais rico em fibra (feno ou palha), recusando assim o concentrado. Em
casos mais avançados, a anorexia pode ser total, com consequente diminuição da defecação,
contracções ruminais e, consequentemente, com diminuição ou ausência total de ruminação
37,39,41,102,103,144,145
.
19
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Dependendo do avanço do processo, as fezes podem apresentar-se muito duras e secas,
recobertas com uma película de muco, indicando diminuição do trânsito intestinal, ou podem ser
também sob o aspecto de uma diarreia de consistência pastosa, com componentes fibrosos pouco
triturados 41,97,102,144,145.
As frequências cardíaca e respiratória são geralmente normais (poderá haver alguma
taquicardia de aproximadamente 100 bpm), bem como a temperatura corporal, que pode chegar
aos 39.5ºC. Porém, em 40% dos casos poderá ser notória alguma bradicárdia (40 a 60bpm)
103,158
.
Outro sinal frequentemente encontrado e devido a uma forte desidratação, é a presença de
afundamento do globo ocular. Consequentemente à desidratação observada e também devido à
dor gerada pela patologia, pode também ser notório algum grau de abatimento do animal
37,39,41,144,145
.
Um dos sinais ao qual o produtor maior importância dá, talvez devido à sua enorme
relevância em termos de perdas económicas, é a diminuição da produção leiteira e da quantidade
de gordura no leite 37,39,41,144,145.
Este último facto deve-se, nomeadamente, aos elevados níveis de concentrado ingeridos
pela vaca implicarem uma menor mastigação e ruminação, o que, juntamente com uma maior
ingestão de amido, levam a que a capacidade tampão do rúmen diminua. Assim, o pH ruminal
decresce, havendo uma fermentação instável, o que leva a uma menor relação
Acetato:Butirato/Propionato, com menor digestão de fibra e decréscimo dos precursores lácteos
e de gordura no sangue. Tudo isto tem como grande consequência menor produção de leite 37.
Também o próprio aspecto do animal pode indicar a presença da patologia. A postura de
sofrimento, com sinais de cifose, pescoço esticado, embora típica de reticuloperitonite, pode ser
indicativa de qualquer sinal de dor intensa a nível abdominal, adoptando o animal essa postura
por forma a minimizar os sinais de dor 41,39,97,119,141,146.
Pode ser também notório o abaulamento da fossa paralombar esquerda, logo atrás da
última costela, notando-se uma notável assimetria da silhueta abdominal. Porém, deve ser
referido que esta situação apenas é visível em casos de um grau de DA grave 5,17,19,56,75.
Tal como na situação explicada anteriormente para a menor produção leiteira, o menor
aporte energético da alimentação em bovinos com DA pode também levar a situações de cetose.
Os sinais concomitantes com o DA são porém reduzidos, tais como fezes pouco digeridas, odor
adocicado da expiração, urina e fezes 37,41,103,119,141,144,145.
20
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
7.3 – DAD
7.3.1 – DAD sem torção
Os sinais clínicos de um caso de DAD sem torção são bastante similares aos encontrados
em casos de DAE, mas com algumas diferenças significativas. De entre estas diferenças, podem
ser salientadas o tipo de excreção fecal, o nível de produção de leite, o grau de anorexia e a
gravidade dos restantes sinais, embora similares 41,97.
Neste caso, as fezes podem ser expulsas em quantidade bastante diminuta, secas, escuras,
com muco, o que indica a diminuição do trânsito intestinal
37,41,103
. Além disso, também a
anorexia é mais evidente, podendo chegar-se mais rapidamente a uma situação de anorexia total
37,41,103
.
Quanto ao nível produtivo de leite, refere-se que em casos de DAD, seja ele com ou sem
torção, a diminuição do nível produtivo é bastante mais abrupta do que em caso de DAE,
atingindo níveis muito mais baixos e mais rapidamente 37,41,103.
Todos os outros sinais, como sinais de cetose, desidratação, depressão, são bastante mais
evidentes, mas todos eles, tal como os anteriores, podem ser confundidos com casos graves de
DAE
37,41,103
. Destes, apenas não se verifica alteração na fossa paralombar, quer esquerda quer
direita, pelo que já foi explicado na secção de Anatomia do presente documento.
7.3.2 – VA
A situação é similar à apresentada para um caso de DAD sem torção. Neste caso, são
mais notórios os sinais de dor e mais graves todos os outros sinais 37,39,41,97,103.
O abdómen encontra-se visivelmente distendido no lado direito, sendo a depressão e
fraqueza bastante marcadas. A desidratação é também um sinal óbvio, sendo que as frequências
respiratória e cardíaca se encontram também elas aumentadas. Também as fezes são ainda mais
secas e moldadas do que no caso anterior, apresentando-se mais escuras. Sinais como o decúbito,
inquietude, vocalização, associados aos restantes sinais, podem ser indicativos de tal situação
37,39,41,97,103
.
Um sinal importante é a palidez observada a nível das mucosas, apresentando-se estas
também secas e frias. Esta também se verifica em DAD sem torção, embora não tão evidente
97,103
.
Numa situação deste tipo, o tecido abomasal pode ficar totalmente desvitalizado, com
necrose da parede abomasal. Assim, pode resultar em sinais de choque e endotoxémia 37,39,41.
21
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
7.4 – DAA
Os sinais clínicos de DAA são inespecíficos, variáveis e suaves. Estes são sinais
compatíveis com uma indigestão pós-parto, com perda de peso, diminuição do volume fecal,
sinais de cetose e diminuição da produção leiteira. Zadnik refere ainda a presença de algum
refluxo de fluido abomasal 88,103,123,166,168.
8 – Diagnóstico
8.1 – Anamnese
Todo o exame diagnóstico deverá começar por uma anamnese cuidada, de forma a tornálo exacto e rigoroso 68,119,158.
Embora, na generalidade, as produções leiteiras intensivas tenham associadas doenças
com sinais comuns, há certos indícios associados ao DA que poderão ser orientados pela
anamnese 68,119,158.
No caso de DAE, DAA e Dilatação Abomasal, esta deve incidir, além das questões
normais da Anamnese, tais como, qual o motivo da consulta, história médica, há quanto tempo
apareceram os sinais, se afecta um animal ou um grupo, entre outras demais questões, de entre
estas destacam-se dúvidas mais específicas. Destas realçam-se questões como o nível produtivo
do animal, idade, tipo e frequência de alimentação, alteração de dieta, frequência de ruminação,
tipo de fezes, patologias concomitantes, alteração da condição corporal, alteração do nível
produtivo 34,41,68,97,103,141,146,158.
No caso de DAD, além das questões anteriores, deverá ser colocada a questão de algum
trauma sofrido recentemente pelo animal 41,103.
8.2 – Exame Externo
Este deverá compreender o exame do meio ambiente, exame visual e exame do estado
geral
68,119,157
.
8.2.1 – Exame do meio ambiente
Neste exame deve ser observado o acesso a determinado tipo de alimentos, a propensão
para quedas e traumas e a sobrepopulação. Deve também ser avaliada a qualidade do alimento. O
nível produtivo, embora não seja um factor ambiental, é também importante ser avaliado, pois
como já foi referido, tem bastante influência na propensão de DA 37,68,119,157.
Os estudos de Cannas da Silva e outros investigadores propõem também uma influência
das alterações ambientais para o aparecimento de DA. As alterações climáticas, particularmente
22
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
quando são bruscas, interferem negativamente no estado hígido dos animais. Os aspectos
ambientais compreendem época do ano, clima, sistema e qualidade do alojamento 24,28,41,103.
8.2.2 – Exame do Estado Geral
Um exame clínico aprofundado e eficaz pode ser suficiente para realizar o diagnóstico
final. Os sinais clínicos variam conforme o tipo de deslocamento, a possibilidade da livre
passagem da ingesta e o grau de afecção vascular do abomaso
103,119,157
.
O exame do estado geral tende a avaliar externamente o animal e a proceder-se ao exame
físico, ou seja, à monitorização da temperatura rectal, auscultação da área pulmonar e cardíaca,
da frequência cardíaca, frequência respiratória, estado de hidratação e mucosas, avaliação dos
linfonodos, e finalmente à auscultação abdominal e dos movimentos de mistura ruminal 119,157.
8.2.2.1 – Exame visual externo
O exame começa por uma inspecção visual, à distância, para tentar averiguar o estado
mental, postura, atitude, temperamento, condição corporal, silhueta abdominal (em quatro
quadrantes), o que nos permitirá focalizar depois na afecção abomasal 119,157.
Podem haver manifestações de dor abdominal, que incluem o pontapear do abdómen,
relutância em levantar ou deitar, movimentos mais lentos e cuidados. Pode também haver
alguma vocalização por parte do animal 39,41,68,119,141.
Deve ser avaliada também a excreção fecal e o apetite. Situações de tenesmo, diarreia e
depressão poderão também ser observadas. A ruminação deverá estar presente e ser observada
numa situação normal 68,97,102,157.
Deve também ser avaliado o afundamento do globo ocular, bem como a qualidade do
pêlo 37,39,41,103,141.
A observação do flanco é também ela importante, pois em situações de distensão
exagerada, pode ser notória uma alteração de conformação do flanco. A postura é também
importante ser avaliada. Em caso de DAE, poderá ser notória na fossa paralombar esquerda
alguma proeminência provocada pelo abomaso dilatado e deslocado. Em caso de DAD, o flanco
direito pode estar mais distendido, em forma de meia-lua, ou mesmo uniformemente, na porção
posterior à décima costela, na zona mediana entre o dorso e o ventre do animal, caso se trate de
VA e DAD simples. Já no caso de torção abomasal, pode haver uma distensão bilateral
41,64,97,103,119,141
.
23
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
8.2.2.2 – Exame Físico
A temperatura rectal está geralmente normal, excepto numa situação de DAD,
principalmente se for um VA, no qual aparece algo aumentada, ou num DAE agudo (39,5ºC)
22,103,158
.
A auscultação pulmonar e cardíaca dever-se-á revelar normal, exceptuando em casos de
patologia associada em que haja comprometimento pulmonar ou doença cardíaca 22,103,158.
A frequência cardíaca não deve apresentar alterações em caso de DAE, excepto se
bastante grave. Já no caso de DAD, tende a aumentar ligeiramente e mais ainda em VA, na qual
aumenta com a gravidade da patologia. Em estado de gravidade tal, em que o animal se encontre
em endotoxémia, tende a haver taquicardia 22,29,103,158.
No caso da frequência respiratória, o comportamento é similar ao da frequência cardíaca
103,158
.
Os linfonodos dever-se-ão apresentar normais, salvo haja alguma patologia concomitante
em que haja compromentimento do sistema imune 68,119,158.
Quanto ao estado de hidratação do animal e às mucosas, em qualquer caso de DA, o
animal tende a aparecer com alguma desidratação. Esta desidratação tende a agravar-se com o
grau de deslocamento e se for um caso de DAD e VA. Um sinal característico que pode ser
observado é o afundamento do globo ocular e olhos mais secos, tal como a mucosa ocular, o que
revela uma desidratação profunda. Tal situação pode também ser comprovada pela prega de pele
e mucosas secas (ver figura 5) 37,39,41,102,103,141,144,145.
Fig. 5 – Afundamento pronunciado do globo ocular (foto do autor)
Os movimentos de mistura ruminal (auscultação abdominal) encontram-se diminuídos ou
haver atonia, tal como os intestinais, diminuidos ou ausentes, dada a diminuição do trânsito
intestinal, provocada pela diminuição da passagem do alimento, devido ao DA. À auscultação,
não se ouvem, portanto, borborigmos intestinais, ou estes encontram-se bastante diminuídos. É
também notório em DAE que, na zona de projecção do abomaso distendido, o rúmen não será
audível, mas poderão ser ouvidas contracções mais diminuídas no cavado do flanco esquerdo. É
24
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
possível ouvir no abomaso deslocado uns sons espontâneos de ressonância timpânica e em
intervalos regulares 68,119,128,158.
Já a auscultação do abomaso é raramente efectuada, dado não possuir interesse de maior,
uma vez que os sons são raramente audíveis, ou seja, borborigmos de baixa frequência acústica
68,119,158,17,57,77.
À palpação abdominal nota-se essencialmente o que é possível observar no perfil
abdominal, ou seja, pode ser possível sentir o abomaso repleto de gás, mas apenas quando a
distenção é bastante grande. Neste caso, palpa-se a nível do cavado do flanco esquerdo,
justamente após a última costela. Esta, porém, é difícil de interpretar 34,39,41,97,103,119,141.
8.2.2.3 – Exames específicos
Como os exames anteriores podem ser inconclusivos, restam-nos exames específicos que
poderão dar o diagnóstico definitivo.
8.2.2.3.1 – Percussão
A percussão, embora não fornecendo dados quanto à dor, pressão, contornos do abomaso,
permite obter informações de valor diagnóstico extremo, essencialmente quando associada à
auscultação 49,68,119,128.
Quando o abomaso está dilatado (DA), a sua percussão produz um som timpânico,
porque se encontra repleto de gás, ou, pelo menos, em parte. É possível delimitar uma zona
timpânica, frequentemente oval, que mascara a falta de sonoridade normal do rúmen, num DAE,
e dissimula de forma evidente a sonoridade normal do fígado no caso de DAD 49,68,119,128.
8.2.2.3.2 – Auscultação com percussão
A auscultação com percussão revela-se uma técnica essencial e pode dar o diagnóstico
definitivo de uma situação de DA. A auscultação com percussão baseia-se na auscultação com
ajuda de um martelo plexímetro, ou simplesmente com o bater dos dedos, percutindo a área em
redor do estetoscópio. Como o abomaso se encontra distendido por líquido ou gás, o som obtido
é claro, timpânico, de ressonância metálica e timbre variável, denominado geralmente de Ping de
DA 41,68,103,119,128,141,102.
É de referir que 3,5% das vacas não apresentam o som ping de DA, sendo estes devidos
provavelmente aos casos raros em que o abomaso se posiciona entre o retículo e o fígado (DAA),
em vez de ficar aprisionado junto da parede ruminal. O mesmo se passará com a Dilatação
Abomasal simples 103,123,134,168.
25
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
No caso de DAE, o som Ping de DA é quase sempre encontrado, mas em alguns casos de
difícil audição. Este deve ser audível desde a nona até à décima terceira costelas (ver fig 6). A
zona de ressonância é variável em extensão e em posição e depende bastante do estado de
distensão abomasal. É possível encontrar um som metalo-timpânico numa posição mais dorsal e
no cavado do flanco. Raramente o ping de DA está situado craneal e ventralmente, na zona de
projecção reticular 34,102,128,146.
Fig. 6 – Zona de auscultação do Ping de DA em DAE (esquerda) 68 e DAD e VA (Direita) 102
Em DAD, a zona de ressonância (Ping de DA) não é fácil de encontrar e pode ser
intermitente durante um período de 24 horas. O Ping de DA pode ser encontrado, em geral, da
nona à décima terceira costelas e, frequentemente, na metade ou terço dorsal da zona delimitada
por estas duas costelas (ver fig 6). No caso de torção, o Ping de DA encontrado é forte e a
percussão desta zona revela um som líquido. O som de ressonância é raramente encontrado na
fossa paralombar 34,128,146.
Em DAA, a auscultação com percussão deve ser efectuada de ambos os lados do
abdómen. Na maioria dos casos de DAA, grande parte dos sons, se não todos, são audíveis no
terço cranial do abdómen, logo após o limite da silhueta cardíaca, e de ambos os lados do tórax.
Podem também ser audíveis logo anteriormente ao retículo, sendo algo variável a posição do
abomaso num caso de DAA. Assim, deve ser percutida toda esta zona 5,18,31,65.
Com alguma frequência, durante o exame físico não é possível a auscultação do Ping de
DA característico, mais em casos de DAE, do que em DAD. Isto pode ser devido a uma situação
de DAA, ou em casos de resolução espontânea do DA. Estes casos são conhecidos por
“floaters”, ou seja, o grau de deslocamento varia, uma vez que, em caso de DAE, por exemplo, o
abomaso flutua entre o rúmen e a parede costal esquerda, adoptando diferentes posições. Noutros
casos, apenas com uma regulamentação do regime alimentar pode haver resolução espontânea do
DA, desde que este seja pequeno. De modo a evitar estas situações, deve ser-se mais persistente
no exame físico 103,151.
26
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
8.2.2.3.3 – Sucussão
Na sucussão, são aplicadas forças de tensão ligeira no abdómen da vaca (na zona e abaixo
do cavado flanco esquerdo e direito), prevendo assim ouvir som de líquido na cavidade
abdominal. O som presente num DA é o de “splash” ou de uma “onda em rebentação”, o que
implica a presença de líquido e gás no mesmo órgão 68,102,119.
8.2.2.3.4 – Auscultação com sucussão
Fig. 7 – Auscultação com Sucussão abdominal 102
Na auscultação com sucussão, prevê-se ouvir melhor ainda o som da sucussão, uma vez
que este pode ser difícil de ouvir quando se aplica apenas sucussão. O estetoscópio deve ser
aplicado na zona onde mais se ouve o som Ping de DA 68,102,119.
8.3 – Exame interno
8.3.1 – Palpação Rectal
No DAE, não é possível palpar o abomaso, a menos que a dilatação seja extrema.
Contudo, algumas características do rúmen podem ser avaliadas. A palpação rectal permite
constatar uma disposição anormal das vísceras abdominais. Para o DAE, a matéria fecal é
emitida em reduzidas quantidades, com uma consistência por vezes diminuída e um aspecto algo
gorduroso, advindo do baixo trânsito intestinal verificado, levando à maior acumulação de muco
em torno do bólus fecal. Pode haver variações no aspecto das fezes, embora essas características
tenham sido explicadas previamente 68,119,128.
Já no caso de DAD, só é possível palpar o abomaso em certos casos de forte distensão
abomasal. Por vezes, pode sentir-se o abomaso na parte direita da cavidade abdominal como um
balão único e dilatado, cuja tensão pode ser variável. A sua superfície pode ser lisa, ou por vezes
rugosa, quando o omento se prende em torno do abomaso. Mesmo que a palpação permita
distinguir o deslocamento de outras doenças, não se consegue distinguir, contudo, o tipo de
DAD, com ou sem torção. Tudo isso terá de ser avaliado por meio da avaliação do trânsito
intestinal. No caso de DAD, a matéria fecal é emitida em menor quantidade, com consistência
27
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
nitidamente de trânsito intestinal diminuído, ou seja, envolta em muco. O seu aspecto foi já
explicado anteriormente 64,68,119,128.
No DAA e na Dilatação Abomasal não é possível, por palpação rectal, qualquer tipo de
diagnóstico por meio da simples palpação, uma vez que a anatomia não o permite. Nestes casos,
as fezes poderão ser mais líquidas a normais 103,123,128,134,168.
8.4 – Exames complementares
8.4.1 – Ultrassonografia
A ecografia pode também ser usada como um auxiliar de diagnóstico em DA, quando os
achados diagnósticos anteriores não são conclusivos e se tem à disposição um ecografo. Para
isso, vão ser utilizados transdutores lineares de 3,5MHz. Certos autores como é o caso de Braun,
sugerem porém sondas lineares de 5MHz 18,19,101,102,103,139,155.
Em DAE, o abomaso é inspeccionado desde os últimos três-quatro espaços intercostais de
ventral para dorsal, cada vez mais dorsalmente (na zona indicada anteriormente para percussão).
Ventralmente, no abomaso deslocado é possível identificar ingesta fluidificada em quantidades
variáveis. Ao deslocar a sonda dorsalmente pelo abomaso, é possível identificar cada vez mais
conteúdo gasoso e o fenómeno de reverbação pode ocorrer. Por vezes, podem ser encontradas
pregas rugosas no compartimento fluido do abomaso, o que é compatível com DAE e o distingue
do Rúmen em caso de dúvida 18,19,103,155,101,102,139.
Em DAD, seguindo a mesma técnica utilizada para o DAE, mas aplicando a sonda na
zona de percussão de DAD, também é possível o mesmo tipo de observação
18,19,103,155,101,102,139
.
8.4.2 – Hemograma e Bioquímica Sanguínea
As maiores variações da normalidade ocorrem a nível da bioquímica sanguínea.
É de notar que no caso de DAD, as alterações são mais evidentes do que em DAE
116
.
8.4.2.1 – Hemograma
Em DA, por si só, os valores de hemograma estão geralmente normais.
O hematócrito encontra-se também ele normal, exceptuando em situações de complicação
(torção abomasal e cronicidade da patologia) 29,92,103.
Associado ao valor das proteínas totais, o hematócrito permite estimar o nível de
desidratação do animal. Uma hipovolémia, ou mesmo um choque hipovolémico, pode instalar-se
durante esta entidade patológica, provocando assim uma deterioração do estado geral do animal
29,64,92
.
28
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Poderá haver uma ligeira hemoconcentração, evidenciada por aumento do valor do VCM
(Volume Celular Médio), da hemoglobina e das proteínas séricas
29,103
. Usualmente apresentam
uma ligeira hemoconcentração, evidenciada pelo aumento dos valores do hematócrito,
hemoglobina e proteína plasmática total. Essa hemoconcentração é consequência da retenção de
fluidos ao nível do abomaso deslocado e bloqueio no transporte dos mesmos para o duodeno
103,116,117
.
No caso de DAD, poderá haver uma leucopenia com neutropenia com desvio à esquerda,
devida à necrose isquémica, stress e possível estado inicial de peritonite 29,103.
8.4.2.2 – Bioquímica sanguínea
As anomalias bioquímicas graves (azotémia, hipocloremia, hipocalemia, hipoglicemia)
são frequentes em bovinos de carne com DA. Em vacas de leite, estas anomalias estão presentes,
mais em casos de evolução lenta, e podem variar com a idade do animal. Nas vacas de leite,
embora haja cetonúria, os valores de glicemia encontram-se geralmente normais. Estes valores
são mais marcados em caso de DAD 29,57,92,103.
Além disso, os sintomas de indigestão que acompanham o DA são geralmente
acompanhados por manifestações de cetose. Assim, haverá também uma cetonémia decorrente
do DA 11,29.
Segundo os estudos de Nicol, metade das vacas que apresentam acidúria, estão também
em alcalose metabólica. A esta situação dá-se o nome de acidúria paradoxal. Esta acontece dado
que a desidratação e a hipocalemia resultam numa resposta renal, que consiste na reabsorção de
sódio e na excreção de hidrogénio, o que faz com que a urina do animal seja ácida, mesmo
estando ele em alcalose metabólica, daí o nome de acidúria paradoxal 34,92,146.
Para uma avaliação laboratorial da alcalose metabólica (situação mais comum), há que ter
em conta que o valor normal de bicarbonato sanguíneo é de 24mEq/L, ou 1500mg/L. A alcalose
metabólica é causada pelo sequestro de ácido clorídrico no abomaso e no rúmen. O ácido
clorídrico não segue o seu curso natural para o duodeno, onde normalmente é absorvido, para em
seguida ir tamponar o bicarbonato de sódio no plasma. Desta forma, ocorre o aumento do pH
sanguíneo, aumenta ainda a concentração de bicarbonato plasmática e a de cloro diminui
33,34,92,103,116,130,146
.
Na torção abomasal, existe ainda a possibilidade de um problema ácido-base misto. Uma
acidose metabólica, por produção de ácido láctico, pode instalar-se consecutivamente a lesões
tissulares, sobrepondo-se à alcalose metabólica 33,92,116,146.
29
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Em caso de acidúria, o valor normal de cloro no sangue (3,6g/L ou 100-110mEq/L) pode
baixar para valores de 50mEq/L. Em caso de torção, os valores decrescem mais ainda. Já em
caso de alcalose, a hipocalémia atinge valores na ordem de 187mg/L ou 4,6mEq/L. Estas
concentrações muito baixas de potássio levam a uma degradação do estado geral do animal, com
diminuição do tónus muscular e sonolência 33,92.
As vacas com DA apresentam, geralmente, glicemia elevada, apesar de uma taxa elevada
de insulina. Para certos autores, um aumento da concentração de glucose pode estar associado a
stress e toxémia, o que explica a presença de valores normais em animais tranquilizados
64,92,117
.
Em relação a enzimas hepáticas, as alterações são notadas geralmente na AST e
bilirrubina, que aumentam, consequentemente à lipidose hepática que, geralmente, acompanha o
DA. Nestas vacas, além das alterações hepáticas, há também diminuição da concentração de
lipoproteínas 29,50,51,64,80,92,103.
A calcemia é significativamente baixa. Estes valores baixam, em geral, mais após o parto,
e podem ser uma causa do DA
33,64,92,103
. Todos os autores consideram que este problema pode
ser uma causa ou consequência de DA, e deve ser imediatamente corrigido 92. Esta ocorre devido
à alcalose metabólica e à diminuição da ingestão e absorção de cálcio 33.
A concentração de sódio plasmático está normal a não ser que haja perda de água
hipotónica ou perda renal de sódio, como compensação da fase inicial de alcalose 33,116,130.
Em DAA, as análises laboratoriais mostram comummente hiperbilirrubinemia,
cetonemia, suave hemoconcentração, e ligeiras hipocloremia, hipocalemia, e hipocalcemia 88.
8.4.3 – Exames semi-quantitativos da Urina e do Leite
A Cetonúria acompanha o DA e trata-se de um elemento não negligenciável, que traduz
um esgotamento do glicogénio hepático. Os corpos cetónicos acidificam a urina e podem
modificar o seu pH, comprometendo ainda mais a uma acidúria 29,34,92,103,146.
Os corpos cetónicos podem ser postos em evidência no leite, pelo reagente de Rothera no
teste Ketolac® (para o leite) ou Ketostix® (para a urina). Este teste pode ser usado 2 semanas pósparto, para prever DA 11,103.
Em caso de DA, pode haver uma acidúria paradoxal 11,103,146.
8.4.4 – Laparotomia Exploratória (Laparoscopia)
A Laparoscopia permite a inspecção do conteúdo abdominal através de um endoscópio
inserido na cavidade peritoneal, a partir de uma pequena incisão. É usado um endoscópio rígido,
laparoscópio, ligado a uma fonte de halogéneo através de um cabo de fibra óptica para
30
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
transmissão de luz, permitindo assim a visualização do conteúdo abdominal e a posição dos
diferentes órgãos, dando-nos assim a prova do tipo de DA existente. Os achados serão descritos
mais à frente, na técnica de necrópsia 6,7,45,109.
8.4.5 – Abomasocentese percutânea (colheita fluido Abomaso)
A abomasocentese percutânea destina-se à avaliação do fluido abomasal, comparando
parâmetros normais com os valores lidos na altura. A medição do pH, ausência de
microorganismos, aspecto e odor, permitem diferenciar o fluido abomasal, ruminal e de outros
distintos fluidos de outros órgãos digestivos 103,156.
O fluido abomasal normal é aquoso, com odor acre, cor verde acinzentada, sem sangue e
pH entre 1.38 e 4.50 103,152.
A punção de fluido abomasal pode revelar-se importante em suspeitas de DA,
complicadas por úlceras e peritonite, essencialmente. Nestes casos, o líquido peritoneal revela
uma elevada concentração de proteínas totais e o fluido abomasal um pH mais elevado, devido à
presença de sangue, diferenciando-o de um DA simples. O fluido pode também conter sangue
em caso de DAD com torção 103.
No caso de DAE, a abomasocentese é efectuada entre o 10-11º espaços intercostais, no
terço médio do abdómen. Já em DAD, entre o 8º-10º espaços intercostais 103.
Um resultado negativo neste teste não pode nunca ser interpretado como não havendo
DA, uma vez que o fluido abomasal pode ser mínimo e o abomaso não estar nesse preciso local
de punção 103.
8.5 – Necrópsia
Embora a necrópsia não seja uma técnica usual de diagnóstico, sendo utilizada apenas
para confirmação post-mortem, é impostante descrever aquilo que pode ser encontrado, pois os
achados são comuns à Laparotomia Exploratória.
Durante a necrópsia de um animal com DAE, o abomaso além de ser encontrado fora da
sua posição anatómica normal, pode encontrar-se cheio de gás e líquido, entre o rúmen e a
parede abdominal esquerda e ventral. Em alguns casos, podem ser notadas ulcerações e
aderências fibrinosas. O fígado pode também evidenciar esteatose, uma patologia concomitante
bastante comum 54,103.
Já no caso de DAD, o abomaso é encontrado visivelmente distendido com gás ou fluido
abomasal e o rúmen com excessivo fluido ruminal, devido ao impedimento do trânsito intestinal.
Em torção, o abomaso encontra-se torcido, geralmente no sentido anti-horário e distendido com
31
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
fluido sanguinolento. No caso da torção ocorrer na junção reticulo-omasal, pode ser encontrado o
omaso também distendido. Numa oclusão completa, o abomaso pode encontrar-se rupturado,
hemorrágico ou gangrenoso 54,103.
9 – Diagnósticos Diferenciais
O DAE deve ser diferenciado das patologias dos pré-estômagos e do abomaso, que
causam também inapetência a anorexia, cetose, reduzida ou motilidade reticuloruminal anormal
e sons anormais à percussão e auscultação do abdómen esquerdo/direito, fluido viscoso à
palpação 103,101,102,145,158. Assim, devemos estabelecer como diagnósticos diferenciais:
Indigestão
símples
Cetose
primária
RPT crónica/
subaguda
Indigestão
vagal
Síndrome da
“vaca gorda”
Timpanismo
ruminal
Pneumoperitoneu
Afecção
DAE
Tabela 1 – Diagnósticos diferenciais de DAE 27,34,41,63,102,103,141,145,158
√/X
√
√
√
√
√
√/X
√
√
√/X
√
√
√
√
√
√/X
√
√
√
√
√
√
√/X
√/X
√
√
√
√/X
√/X
√
√
√/X
Sinais
Sinais vitais normais
Inapetência a anorexia
Diminuição da produção
leiteira
Diminuição da frequência e
intensidade das contracções
ruminais
Ping de DA
Som timpânico Ruminal
confundível com Ping de DA
Recuperação espontânea em
24h
Fezes secas e em quantidade
normal
Ocorrência a 2-6 semanas pósparto
Tratamento prolongado
Estase ruminal com aumento
do volume ruminal
Emissão de gemidos
Hemograma normal
Teste de Barra , Preensão
Lombar e Descida de Rampa
Positivos
Distensão abdominal
progressiva com ou sem
Distenção Abomasal
Mais comum no pré-parto
Desidratação comum
Condição corporal excessiva
no parto
Cetonúria
Caso de Diagnóstico
Diferencial
√
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
√
√/X
√/X
√
√
X
√
X
X
X
X
X
X
√/X
X
√
X
X
X
X
X
√/X
X
√
X
X
X
X
X
X
X
√
√
√
√
X
X
√
√
X
√
√/X
X
√
X
√/X
√/X
X
√
X
√/X
√/X
√/X
√/X
X
X
X
√/X
√
√/X
√
X
X
X
√
X
X
X
X
√
X
X
X
√
X
√
√
X
√
X
X
X
√
X
√/X
√
√
X
X
X
X
X
X
√/X
X
X
X
X
√
X
X
√/X
X
√/X
X
X
√
X
X
DAE
DAE/
DAD
DAE
DAE/
DAD
DAE
Legenda: √ - Presente X - não presente
32
DAE
DAE
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Ulceração
abomasal
com dilatação
moderada
Torção cecal
Hidropisia
fetal
Dilatação/
Dilatação e
torção cecal
Obstrução
intestinal
Dilatação do
cólon
descendente e
recto
Peritonite
difusa
√/X
√
X
√
√
√
X
√
√/X
√
√/X
√/X
√/X
√
√/X
√
√
√/X
X
√
√
√
√
√
√
√/X
√
√
√/X
√
√
√
√
√
√
X
√
√
√
√
√
√
X
X
X
X
√
√
√
X
X
X
X
√
√
X
X
X
X
√
√/X
√
X
√
√
X
√
√
X
X
√/X
√
√
√
√
X
√X
√
X
X
√/X
√/X
√
X
X
√
√/X
√/X
√/X
√
√/X
√
√/X
√
√
√
X
√
√
X
√
√
√
√
√
√
√
√
√
√/X
√
√/X
√/X
√
√/X
√
√
X
X
√/X
X
X
√/X
X
X
√/X
X
X
√/X
X
X
√/X
X
X
X
X
X
√/X
X
√/X
X
X
√
X
√
√
X
√
√
√
√/X
X
X
√
X
X
X
X
X
√
X
X
X
√
√
X
√
X
X
√
X
√
√
√/X
X
√
X
X
√
X
DAD
DAD
DAD
DAD
DAD
DAD
DAD
DAD
VA
DAD
Afecção
Impactação
do abomaso
+ Indig. vagal
Tabela 2 – Diagnósticos diferenciais de DAD e VA 27,34,41,63,102,103,141,145,158
Sinais
Sinais vitais normais
Inapetência a anorexia
Diminuição da produção
leiteira
Diminuição da frequência e
intensidade das contracções
ruminais
Ping de DA
Som timpânico à percussão
direita confundível com Ping
de DA
Fezes secas e escuras em
menor quantidade
Estase ruminal com aumento
de volume ruminal
Emissão de gemidos
Hemograma normal
Distensão abdominal
progressiva com ou sem
Distenção Abomasal
Desidratação comum
Cetonúria
Shock
Abomaso na posição
anatómica normal
Melena
Palpável rectalmente
Hematoquésia
Caso de Diagnóstico
Diferencial
Legenda: √ - Presente X - não presente
10 – Tratamento
O tratamento do DA tem por objectivo reposicionar o abomaso na sua localização
anatómica, tratar as alterações electrolíticas e de ácido-base, assim como as doenças que existam
concomitantemente. São variadas as técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas descritas para o
tratamento do DA 41. A escolha do tratamento cirúrgico ou médico num caso simples de DA vai
depender do valor do animal, da existência de outras doenças associadas, da fase de gestação e
da experiência do clínico
34
. É de notar que, embora em número reduzido, há casos que
recuperam mesmo sem tratamento, mais nos casos de DAA e DAE, outros apenas com
tratamento médico, inclusive casos ligeiros de DAD 65,103.
Podem ser tidos em conta alguns dados acerca do estado do animal antes de decidir
realizar a cirurgia, como, por exemplo, o facto de se alimentar convenientemente ou não, o ter
diarreia, o estado de hidratação ou os níveis de enzimas hepáticas. No entanto, não existe
nenhuma regra, nem há dados totalmente decisivos. Desta forma, há que considerá-los em
33
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
conjunto e tentar tomar a decisão o mais depressa possível, o que comprovadamente faz
aumentar a taxa de sucesso da cirurgia 117.
A dificuldade em diferenciar inicialmente um DAD de um VA inicial, faz com que
muitas vezes se opte pela cirurgia 17,41,146.
10.1 – Tratamento Médico
10.1.1 – Dilatação abomasal, DAA e DAE
A terapêutica médica não apresenta resultados com tanto sucesso como a terapêutica
cirúrgica. Esta inclui a correcção de todas as condições anteriores: hipocalemia, hipocalcemia,
desidratação, acetonemia, correcção do trânsito gastro-intestinal, prevenção ou tratamento de
infecções. Para isso, usam-se várias técnicas. A terapêutica médica inclui o uso de laxantes orais,
ruminatórios, antiácidos e medicamentos colinérgicos, com o objectivo de estimular a motilidade
gastrointestinal
34
. Apesar de alguns aspectos da terapêutica médica serem importantes como
complemento à terapêutica cirúrgica, quando usados sozinhos a sua probabilidade de resolver um
DAE é inferior a 5% 146.
O “rolamento” (Figura 8) é uma técnica amplamente utilizada em casos simples de DAE
e consiste, de acordo com o método de Reuff´s, em derrubar o animal sobre o seu lado direito e
depois colocá-lo em decúbito dorsal. O princípio do método baseia-se no facto de o abomaso,
repleto de ar, se deslocar para a posição mais dorsal (posição anatómica) enquanto o animal se
apresenta em decúbito dorsal. Antes da sua execução, convém relembrar que é necessário um
jejum de 36-48h para redução do tamanho do rúmen, permitindo então o reposicionamento do
abomaso. O veterinário deve confirmar a localização do abomaso por auscultação associada a
percussão. O animal é mantido nessa posição por aproximadamente 5 minutos, durante os quais
é balançado gentilmente para a direita e para a esquerda, ao mesmo tempo que o abdómen é
massajado vigorosamente, na tentativa de fazer o abomaso flutuar para a posição média ventral
(fisiológica). Quanto mais tempo se mantiver nesta posição maior a quantidade de líquidos e gás
sequestrados no abomaso que vão fluir no sentido do duodeno e dos pré-estômagos. Pode ser
necessária uma sedação para facilitar a manipulação do animal. O animal é então rolado para a
esquerda, ficando em decúbito lateral, de modo a que o rúmen esteja sempre em contacto com o
peritoneu parietal esquerdo, o que evita a rápida recidiva do DAE
imediatamente incentivado a levantar-se
34,37,41,141,158
. O animal é
34
. Em seguida, deve fazer-se auscultação do flanco
esquerdo, de forma a comprovar a não presença do abomaso nesta posição
37,158
. A vantagem
desta técnica é ser rápida, fácil e económica, no entanto, tem como desvantagem o facto de
34
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
aproximadamente 70% dos casos recidivarem, necessitando de novo rolamento ou cirurgia. O
sucesso da técnica é de apenas 20% e existe ainda a possibilidade de casos de DAE virem a
tornar-se casos de DAD, ou até mesmo VA
34,37,95,158
. O rolamento, ou qualquer outro
procedimento que exija decúbito dorsal, deve ser evitado ao máximo em vacas gestantes, pois
pode induzir volvo mesentérico
73
. Além disso, pode também levar à torção mesentérica, torção
cecal, torção do cólon e do útero 97.
Figura 8: Técnica do rolamento; (a) vista caudal de vaca com DAE, (b) vista caudal de vaca com DAE em decúbito
lateral direito, (c) auscultação e percussão com a vaca em decúbito dorsal; (1) abomaso, (2) rúmen, (3) fígado (4)
omaso 59.
Após a terapêutica médica, sozinha ou em conjunto com o “rolamento”, o animal deve
ser encorajado a comer o máximo de feno possível, para assim encher o rúmen com forragem
grosseira. Isto vai actuar como dissuasor físico para a recorrência do deslocamento, bem como
promover a motilidade ruminal e, por conseguinte, a motilidade gastrointestinal. Alimentos
concentrados devem ser adicionados à dieta de forma gradual 34.
Caso existam doenças associadas ao deslocamento, tais como metrite, mastite, cetose,
estas devem ser tratadas em simultâneo, ou então o resultado do tratamento médico fica
comprometido 34.
Mais recentemente, foi ainda sugerida a acupunctura como terapêutica médica, em casos
de DA 34. Foi realizado um estudo com 12 vacas com DA, tendo sido divididas em dois grupos,
para avaliar a resposta à terapêutica com electro-acupunctura e moxabustão. Em ambos os
grupos, os pontos de acupunctura usados bilateralmente eram: “Pi yu” (10cm lateral à linha
média dorsal do 10º Espaço Intercostal, “Wei yu” (igual ao Pi Yu, mas no 11ºEI) e “Guan Yuan
yu” (na depressão caudal da última costela, entre os músculos longíssimo e ileocostal). Em cada
um dos grupos houve uma vaca que não respondeu ao tratamento e teve de ser submetida a
35
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
abomasopexia. Estes dois métodos terapêuticos são considerados uma alternativa eficiente,
segura e económica, à cirurgia para correcção de casos de DA 60,70,82.
Depois de diagnosticado e tratado um DA, o trato gastrointestinal recupera a sua
normalidade mecânica e funcional, o que torna a administração de fluidos e electrólitos
suficiente para a correcção das alterações ácido-base, de electrólitos e da hidratação nos casos
simples de DA 34.
É prática corrente a administração de cloreto de potássio, como descrita anteriormente,
após a correcção do deslocamento, uma vez que a baixa de potássio leva a uma baixa motilidade
gastrointestinal 92. Contudo, em animais que estão débeis, deve suspeitar-se de hipocalemia (<3,0
mEq/L) e estes necessitam de uma terapêutica mais intensa com fluidoterapia IV e suplemento
de potássio. Ocasionalmente as vacas com hipocalemia não respondem aos suplementos de
potássio, nem aos fluidos salinos e pioram, quando os níveis plasmáticos de potássio são
inferiores a 2 mEq/L. Os animais que, apesar da resolução da hipocloremia e da alcalose, não
respondem ao suplemento de potássio, são muitas vezes aqueles que foram tratados de forma
agressiva para cetose, com a administração de glucose e corticosteróides
34
. A administração
deve ser de cloreto de potássio por via oral, na dose de 30 a 120g, duas vezes ao dia, sob a forma
de cápsulas de gelatina adicionadas à água de beber, ou através de uma sonda gástrica, para
ajudar a corrigir o desequilíbrio electrolítico 64.
No caso de suspeita de hipocalcemia devem ser administradas soluções de cálcio
(Gluconato de Cálcio ou Magnésio, ou Hipofosfito de Cálcio à dose de 30g/600kg em solução de
10% IV), por via subcutânea (SC), ou intravenosa (IV) de forma lenta 64.
Também a desidratação deve ser tratada com o auxílio de Solução Salina. Todos os
valores de volume de fluidos devem ser então calculados (PV x %Desidratação) 23,41,103.
Na correcção da acetonemia, podem ser utilizados corticoesteróides, em vacas vazias ou
no início da gestação, preferindo-se córticos de acção lenta, como a dexametasona. Utiliza-se
também glucose IV, ou percursores das mesma. Para diminuir a formação de corpos cetónicos,
podemos utilizar niacina (12g/dia durante 8 dias). Como hepato-protectores podem também ser
utilizados a metionina ou sorbitol. Poderá também ser utilizada solução parenteral de dextrose e
administração oral de propilenoglicol, o que previne ocorrência de esteatose hepática. Niehaus
refere ainda a utilização de Niacina oral e insulina em associação com glucose IV 2,41,93,103,111.
Vários reguladores do trânsito gastrointestinal podem também ser utilizados. Destes,
refere-se a combinação de Hioscina-n-butil-bromido e Dipirona como Antiespasmolíticos,
actuando em sinergia em casos de DAD com espasmos do piloro
36
65
. Também o uso de
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
antidopaminérgicos está recomendado para correcção da paresia da motilidade. Entre estes,
conta-se com a Metoclopramida e a Eritromicina
94,136,162
. Também a administração oral de
Procinéticos, distribuída por 4 doses, com 12 horas de intervalo, associada a uma dieta hídrica de
48h, poderá ser indicada em caso de fezes muito secas 41,103,136.
Podem finalmente ser instauradas medidas dietéticas, permitindo a redução do volume do
rúmen e facilitando a reposição espontânea do abomaso em casos de DAE simples. Este método
é, porém, difícil de instaurar, uma vez que os animais com DA apresentam geralmente um
apetite caprichoso. É aconselhado, assim, suprimir a silagem de milho e o concentrado durante
duas semanas 103,154.
A principal desvantagem da terapêutica médica é a de ter sempre o risco de uma eventual
recidiva 21,59.
10.1.2 – DAD
Em casos com moderada dilatação e deslocamento mínimo está indicado o tratamento
com 500ml de borogluconato de cálcio a 25% IV, que irá melhorar a motilidade abomasal e
ajudar a proteger a mucosa de possíveis ulcerações. A estes animais num período de 3 a 5 dias,
deve ser oferecido feno de boa qualidade e nenhum concentrado. Em casos com dilatação
moderada, ligeira hemoconcentração e alcalose metabólica, o tratamento atempado com fluidos e
electrólitos IV e per os (PO) apresenta bons resultados na restauração da motilidade
gastrointestinal. A administração oral de 5 a 10 litros de óleos minerais por dia e de 500g de
hidróxido de magnésio por animal adulto, a cada dois dias, têm sido usados na tentativa de
evacuar o conteúdo abomasal 65,103.
A combinação de jejum com hioscina-n-butilbrometo e dipirona apresenta, com base na
experiência prática dos autores, recuperações ao fim de 48 horas, na ordem dos 77%
136
. A
terapêutica médica pode incluir ainda a administração de medicamentos colinérgicos (no entanto,
Radostitis et al. defendem que a sua eficácia é duvidosa) e de vitamina E e selénio, no sentido de
estimular e restaurar a integridade do músculo liso. Um estudo realizado refere que este
tratamento antioxidante, administrado antes da cirurgia correctiva do DA, acelera a
convalescença, o que foi medido pela motilidade ruminal 126. Outras medidas a ser tomadas são:
aumentar o exercício, proporcionar o acesso a pasto, aumentar a ingestão de fibra, aumentar o
tamanho das partículas ingeridas para estimular a actividade ruminal e ter em atenção a ingestão
de minerais com especial cuidado para o cálcio, fazendo os suplementos necessários 95.
A técnica de rolamento do animal, descrita para o DAE, nunca deve ser executada em
casos de DAD, uma vez que predispõe a ocorrência de torção 34,41.
37
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
10.2 – Tratamento Cirúrgico
São vários os métodos cirúrgicos disponíveis e a eleição de um vai depender, do caso em
questão, do potencial rendimento individual do animal e da preferência e experiência do clínico
130
.
Os métodos mais comuns são 21,34,41,91,146:
- Tratamento Cirúrgico Fechado: Abomasopexia percutânea por sutura cega,
Abomasopexia percutânea com sutura de barras (ou método Sterner/Grymer), Abomasopexia
percutânea com sutura de barras por Laparoscopia;
-
Tratamento
Cirúrgico
Aberto:
Abomasopexia
paralombar
esquerda,
Omentopexia paralombar esquerda (ou método de Utrecht), Abomasopexia paramedial direita,
Omentopexia paralombar direita (ou método de Hannover);
10.2.1 – Preparação cirúrgica comum
A antibioterapia preventiva é considerada como um aspecto positivo. A administração de
antibióticos de largo espectro, antes, durante e depois da cirurgia, permite a diminuição da
probabilidade de desenvolvimento de microorganismos indesejáveis 39,43,144,145,146.
Para preparação do campo cirúrgico é necessária uma correcta contenção do animal,
permitindo apenas breves movimentos, de forma a minimizar o seu stress. A preparação
asséptica permite limitar a contaminação proveniente da flora bacteriana do pêlo e mucosas. A
preparação asséptica da zona cirúrgica começa pela tricotomia e lavagens sucessivas com água
morna e sabão e antisséptico, como é o caso da clorhexidina, ou aplicação de solução alcoólica e
iodada. A área cirúrgica deve ser então devidamente isolada, por meio de panos de campo,
presos com pinças de campo (ver Figura 10 em Anexo) 39,43,144,145,146.
10.2.2 – Tratamento cirúrgico fechado
10.2.2.1 - Abomasopexia percutânea por sutura cega
Esta técnica fechada, descrita por Hull em 1972, permite a fixação indirecta do abomaso
à parede ventral do abdómen e é utilizada em casos de DAE 21,146.
10.2.2.1.1 – Procedimento Cirúrgico
Durante a intervenção, o animal encontra-se em decúbito dorsal 34. Para isso, é fulcral a
administração de um sedativo, como é o caso de Cloridrato de Xilazina (0,05–0,1 mg/kg IV), de
forma a que o derrube do animal seja facilitado. O animal é forçado primeiro ao decúbito direito,
38
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
seguido de decúbito dorsal e os membros posteriores são colocados em extensão e puxados
caudalmente. O campo cirúrgico à direita da linha média é então preparado, entre o apêndice
xifóide e o umbigo. O abomaso é então auscultado com auxílio de percussão. Quando este for
localizado, é efectuado um ponto cego, com uma agulha curva, englobando a parede abdominal e
o abomaso. Esta agulha deverá ter entre 10 e 15cm e usar-se fio não absorvível e forte de
poliamida ou nylon monofilamentar, como o Supramid Extra. Podem ser efectuados tantos
pontos quanto considerados necessários, de acordo com a área de auscultação de Ping de DA.
Após este procedimento, o animal é então colocado em decúbito esquerdo e, posteriormente, em
decúbito esternal, sendo estimulado a levantar-se 34,89,95,114,115,146.
10.2.2.1.2 – Vantagens e Desvantagens
Apresenta as vantagens de ser uma técnica rápida e económica 103,146.
As desvantagens desta técnica fechada são: peritonite, celulite, recidiva ou evisceração
abomasal, obstrução completa dos pré-estômagos, fixação de outro órgão que não o abomaso,
formação de fístula na zona da sutura e tromboflebite da veia abdominal subcutânea 103,146.
Entre as diversas complicações devem destacar-se aquelas que muitas vezes chegam a ser
fatais e que estão principalmente relacionadas com a fixação de outros órgãos que não o
abomaso, fistulação do local dos pontos, peritonite. É por isso que esta técnica está contraindicada em vacas leiteiras com elevado valor genético, assim como o próximo método cirúrgico
34
.
10.2.2.2 - Abomasopexia percutânea com sutura de barras
Esta é uma técnica cirúrgica fechada, que foi descrita em 1982 por Grymer e Sterner, e é
utilizada para corrigir o DAE 21,29. É uma extensão à técnica do rolamento e permite a fixação do
abomaso, de forma indirecta, sem que seja necessária laparotomia 65,95.
10.2.2.2.1 – Procedimento cirúrgico
A intervenção é realizada com o paciente em decúbito dorsal
65,95
. Assim, tal como no
procedimento anterior, deve ser administrado um sedativo para auxiliar no derrube do animal e
preparar o campo na mesma posição. É de seguida efectuada auscultação e percussão abdominal
para localizar o abomaso e em seguida realizar a sua trocarterização, utilizando para isso um
trocarter de 12cm de comprimento e 4mm de diâmetro. A trocarterização é executada a
aproximadamente uma mão de distância caudalmente ao apêndice xifóide e uma mão para a
direita da linha média. O trocarter é então removido, o que leva à saída de gás através da cânula
39
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
com um odor adocicado, semelhante a amêndoas torradas, característico do abomaso,
confirmando assim a correcta posição. É então introduzido um tubo de polietileno com 20 cm de
comprimento através da cânula, para aspirar o ar e algum fluido, sendo que, alternativamente,
pode ser recolhida uma amostra de fluido abomasal, cujo pH é medido. No caso de estar mesmo
no abomaso o pH será ácido situado entre os 2 e os 3. É introduzida depois através da cânula,
para o interior do abomaso, uma barra de polipropileno com 3 cm de comprimento e 3,3 mm de
diâmetro, ligada centralmente a um fio de poliamida, com 30 cm de comprimento. Remove-se
então a cânula, mantendo-se a barra no interior do abomaso e o fio no exterior, fixo com uma
pinça hemostática. É então inserida uma segunda barra com 5 cm de distância da primeira cranial
ou caudalmente. Antes da remoção da cânula, deve permitir-se a saída do gás, para evitar a
tensão do abomaso sobre as barras no momento em que o animal se levanta. É importante realçar
que até ser introduzida a segunda barra, não deve ser permitida a saída de gás do abomaso, para
facilitar a sua introdução. Após as duas barras introduzidas, atam-se os dois fios livremente,
deixando o espaço de dois dedos entre o nó e a parede abdominal. Devem ser dados mais 4 ou 5
nós, de forma a evitar que se soltem. O animal é depois colocado em decúbito esquerdo e depois
em decúbito esternal, sendo estimulado para que se levante 29,59,65,95,114,115,158.
10.2.2.2.2 – Vantagens e Desvantagens
Como vantagens deste procedimento podemos referir o ser fácil, rápida (a técnica em si
demora 10 a 15 minutos), mais económica, ter um sucesso comparável a técnicas de cirurgia de
abdómen aberto e ainda permitir a confirmação da localização do órgão pelo odor, pH e sua
auscultação e percussão com som típico
34,59,77,103
.
As desvantagens incluem todas as associadas ao decúbito dorsal, necessitar de um ou dois
assistentes, a possível infecção local, a peritonite, a eventual inclusão de outros órgãos que não o
abomaso na fixação e a formação de uma fístula na sutura. É também de referir a recidivância da
situação, devido à ruptura das suturas e reposicionamento anormal do abomaso, tal como a
conspurcação dos pontos após a cirurgia, devido a camas pouco higiénicas. Está ainda descrita a
diminuição da produção de leite em vacas tratadas com esta técnica, nos primeiros 4 meses de
lactação, e o aumento do período entre o parto e a primeira inseminação artificial pós-parto
34,103,106,142,146,158
.
10.2.2.3 - Abomasopexia percutânea com sutura de barras por Laparoscopia
Esta técnica cirúrgica fechada e minimamente invasiva foi descrita por Janowitz em 1998
e é usada na correcção do DAE 3,136,146.
40
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
10.2.2.3.1 - Procedimento cirúrgico
Neste método, o animal deverá estar devidamente contido. A sua cauda deverá ser presa,
de modo a que não vá conspurcar a área cirúrgica. Deve-se fazer então a preparação cirúrgica do
terço dorsal da fossa paralombar esquerda e do 11º espaço intercostal (vão ser necessários dois
pontos de acesso ao abdómen no seu terço dorsal), como indicado na omentopexia paralombar
direita. Procede-se então à anestesia local no ponto de entrada do laparoscópio, na fossa
paralombar e na porta de entrada instrumental no 11º espaço intercostal 114,115,146.
Faz-se então uma incisão com 8 a 10 mm de comprimento na zona anestesiada da fossa
paralombar esquerda, seguida da introdução de uma agulha romba de insuflação no abdómen e
realizando a sua insuflação. O trocarter rombo do laparoscópio é introduzido no abdómen e um
laparoscópio com diâmetro de 8 a 10 mm é aí colocado. Procede-se então à identificação do
abomaso. Este é distinguido do rúmen pelo seu contorno liso e posição mais lateral. O trocarter e
estilete (introduzidos no abdómen ao nível do 11º espaço intercostal) são introduzidos o mais
dorsal possível no abomaso (curvatura maior), guiados pelo laparoscópio. Devem ficar o mais
profundo possível, para que, após a remoção do estilete, o trocarter se mantenha no lúmen
abomasal. Após a remoção do estilete, e sem permitir que muito gás saia do abomaso, é inserida
nesse mesmo órgão a barra modificada. Depois disto, permite-se a saída de todo o gás abomasal.
O laparoscópio é removido, assim como o trocarter, sem que o abdómen seja desinsuflado. É
feita a sutura de ambos os acessos abdominais. Depois deste processo, a vaca é sedada com
Cloridrato de xilazina e colocada em decúbito dorsal. Procede-se à preparação cirúrgica de uma
área de 30 cm por 25 cm do abdómen ventral paramediano e à anestesia local das áreas
correspondentes às duas portas de cirurgia. Introduz-se o laparoscópio na zona cranial do
abdómen, aproximadamente a 7 cm do apêndice xifóide e 7 cm lateral à linha branca. Sob
observação laparoscópica é feita uma incisão 10 cm caudalmente à anterior, que será a porta
instrumental. Os fios são exteriorizados através do uso de pinça laparoscópica. Só depois, todos
os instrumentos laparoscópicos são retirados e as portas de acesso abdominal suturadas. O
animal é então colocado em decúbito lateral direito. Importa referir que cada fio passa por um
rolhão de algodão e é atado um ao outro, deixando algum espaço. Alternativamente, o nó pode
ser dado com o animal em decúbito dorsal. O animal é então incentivado a levantar-se. A sutura
é retirada 3 a 4 semanas após a cirurgia 114,115,146.
A técnica anteriormente descrita é também denominada “Abomasopexia laparoscópica a
dois passos”, sendo eles a inserção das barras, seguido da exteriorização dos fios e da fixação do
abomaso. Estão descritas outras duas técnicas de um só passo: “Abomasopexia laparoscópica
41
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
com o animal em estação” e “Abomasopexia laparoscópica com o animal em decúbito dorsal”. A
primeira foi descrita por Christiansen em 2004 e por Barisani no mesmo ano. A parte inicial é
semelhante ao primeiro passo da técnica descrita por Janowitz. Em seguida, a barra é guiada até
ao local de perfuração ventral do abdómen, recorrendo a um instrumento próprio e é realizada a
perfuração e fixação
136
. Apresenta as vantagens de toda a técnica ser executada com o animal
em estação e ainda o ser mais fácil de realizar sem assistente, no entanto, tem como desvantagem
requerer mais vezes o uso de antimicrobianos 56,136.
A abomasopexia laparoscópica a um passo, com o animal em decúbito dorsal, foi descrita
por Newman et al. em 2005. Recorrendo a apenas dois acessos abdominais é realizada a fixação
abomasal à parede ventral paramedial direita abdominal. A punção do abomaso é feita entre a
prega retículo-abomasal e o piloro, ao longo da grande curvatura do abomaso, lateralmente à
zona de ligação do omento maior 91.
Uma técnica semelhante à anterior foi descrita em 2004, tratando-se de uma
abomasopexia laparoscópica ventral, sem penetração do lúmen abomasal, para resolução de
DAE ou prevenção de deslocamento. Requer 3 portas para acesso abdominal, uma para o
laparoscópio, outra para a pinça que segura o abomaso e a terceira para a agulha, necessitando
assim de dois cirurgiões. A abomasopexia é feita com 4 pontos simples interrompidos, cujo nó é
dado por baixo da pele 7,90.
10.2.2.3.2 – Vantagens e Desvantagens
Esta técnica minimamente invasiva foi desenvolvida para diminuir as complicações
associadas à tradicional laparotomia e abomasopexia percutânea com sutura de barras. Possibilita
a confirmação do deslocamento abomasal e a visualização de aderências
91
. A sua principal
vantagem é garantir que a fixação realizada é efectivamente abomasal. Permite ainda verificar a
146
posição das barras e realizar as correcções necessárias
. Na maioria dos casos não há
necessidade de administrar antimicrobianos após a cirurgia
147
. Esta técnica apresenta a
vantagem de ter uma área de fixação grande, o que faz diminuir a ocorrência de recidivas 7. A
intervenção apresenta também um dispêndio curto de tempo (cerca de 30 minutos) 71.
Apresenta como desvantagens o custo do material, a experiência do veterinário na
manipulação do material e ainda a impossibilidade de tratar úlceras ou aderências concomitantes
ao deslocamento, usando unicamente o laparoscópio
129,146
. Existe um outro detalhe importante,
que é o facto de esta técnica só poder ser realizada quando existe deslocamento, não podendo,
assim, ser usada como preventiva desta patologia, quando o abomaso ainda não se encontra
deslocado, mas o animal apresenta já sinais de possível DA 5,7.
42
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Quanto à abomasopexia laparoscópica a um passo, apresenta a vantagem de ser uma
técnica que demora menos tempo a executar, eficiente, simples, com menor número de incisões
necessárias, requer menor número de material especializado e permite a visualização do abomaso
e da colocação das suturas. É ainda importante referir, que tem a seu favor, ser uma boa opção
em casos de animais que sofrem de doenças concomitantes e que são pobres candidatos a
cirurgia, por não aguentarem o tempo suficiente necessário à laparotomia 91.
A desvantagem é a já descrita para as diversas técnicas que exigem o decúbito dorsal,
como a eventual doença cardiopulmonar, bem como a eventual desorientação visual por o
laparoscópio atingir a bolsa omental 91.
Como complicações de todas estas técnicas laparoscópicas, pode enunciar-se a
inflamação nos locais de incisão e de fixação. Nalguns casos a técnica não pode ser levada a
cabo, como, por exemplo, quando existem aderências extensas e ainda, menos frequentemente,
quando se encontram vestígios embrionários da estrutura umbilical 122,129. Esta técnica não deve
ser realizada em animais gestantes, com endotoxémia, alterações respiratórias ou choque. Esta
técnica apresenta a vantagem de ter uma área de fixação grande, o que faz diminuir a ocorrência
de recidivas 5.
10.2.3 – Tratamento cirúrgico aberto
10.2.3.1 – Omentopexia (Método de Hannover) ou Abomasopexia paralombar direita
Esta técnica foi descrita por Dirksen em 1961 e 1967 e permite a fixação indirecta do
abomaso ao flanco direito, podendo ser utilizada no tratamento do DAE e DAD 21,34,61.
10.2.3.1.1 – Procedimento Cirúrgico
A intervenção cirúrgica é realizada com o animal em estação (ver Figuras 13 e 14 em
Anexos) 61,95,136,146.
Começa por se prender a cauda da vaca, de modo a que não vá conspurcar a área
cirúrgica. Faz-se depois a preparação do campo cirúrgico para uma laparotomia paralombar
direita (área no flanco em forma de rectângulo, que vai desde a décima segunda costela até à
tuberosidade coxal e desde os processos espinhosos até à virilha), remoção do pêlo e lavagem
com água morna, seguida de solução iodada a 7,5%, depois é limpo com gaze, lavado com álcool
isopropilo e depois novamente limpo com gaze. A anestesia é local, com Cloridrato de lidocaína
a 2% (bloqueio anestésico linear, bloqueio anestésico em L invertido (ver Figura 9), ou
anestesia paravertebral distal – T13 a L2, ou anestesia paravertebral proximal – T13 a L2). (ver
43
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
figura 12 em Anexo) Volta-se então a lavar com iodóforo. Coloca-se finalmente o pano de
campo fenestrado, repelente da humidade, estéril e segura-se com 4 a 6 pinças Backhaus
61,91,95,113,114,115,143,144,145,146
.
Figura 9: Anestesia local em L invertido, incluindo os ramos ventrais dos nervos vertebrais entre a 13º vértebra
torácica e a 4º vértebra lombar 113.
A incisão abdominal deve ser feita à distância de 6 a 8 cm, ventralmente aos processos
transversos das vértebras lombares e a 4 a 6 cm da última costela. A incisão faz-se dorsoventral e
com o comprimento de 20 a 25 cm. Começando pela pele e depois pelos músculos oblíquo
externo, oblíquo interno e transverso do abdómen e então, com especial cuidado para não a
atingir os órgãos abdominais, fazer a incisão do peritoneu. Deve ser efectuada então uma
exploração dos órgãos da cavidade abdominal em busca de outras alterações ou patologias
associadas (o cirurgião usa luvas devidamente desinfectadas, o mais estéreis possível). Palpa-se
então com a mão esquerda o abomaso localizado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda
(o que confirma o diagnóstico de DAE). Procura-se depois a existência de aderências ou a
persistência do ligamento redondo, que corre entre o umbigo e o fígado. O ligamento redondo
persistente deverá ser dissecado. Deve-se então perfurar o abomaso na sua parte mais elevada
(dorsal), com uma agulha hipodérmica de 14 ou 16 G ligada a um tubo de borracha, comprido o
suficiente para neste procedimento ficar por fora do abdómen do animal, para remover o excesso
de gás, facilitando o posterior reposicionamento do abomaso. Para esse efeito, a mão do
cirurgião passa por cima do rúmen, encontrando o abomaso entre este e a parede abdominal
esquerda. Após remoção da agulha, o cirurgião coloca a mão sob o rúmen na parte dorsal do
abomaso, empurrando-o em direcção ventral e por de baixo do rúmen, reposicionando assim o
órgão. Como alternativa, pode fazer-se ventralmente ao rúmen a tracção do omento, na sua zona
mais forte, ou ao nível do piloro, que está localizado o mais longe possível em direcção ao
ombro esquerdo do animal. Deve-se identificar o omento maior e retraí-lo dorso-caudalmente
44
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
através da incisão abdominal, até à porção mais espessa ligada ao piloro (confirmado pela
observação de uma estrutura flácida saliente, comunmente designada de “orelha de porco”).
Deve ser mantido exteriorizado através do uso de pinças uterinas. Fazem-se depois dois pontos
em “U”, um caudal e outro cranial, à zona ventral da incisão abdominal, usando catgut crómico
nº 3. Estes pontos devem incluir o músculo transverso, o peritoneu e ambas as camadas do
omento maior e de novo o peritoneu e o músculo transverso (omentopexia)/abomaso
(abomasopexia). Finalmente, sutura-se o peritoneu e o músculo transverso de forma contínua
simples, usando catgut crómico nº 2 ou 3. A inclusão de parte do omento maior nesta sutura, na
zona ventral da incisão abdominal, vai estimular futuras aderências entre o omento e o peritoneu.
Alternativamente, pode suturar-se a parede pilórica abomasal lateral e o omento adjacente. Após
esta, faz-se nova sutura contínua simples com catgut crómico nº 3 no músculo oblíquo interno e
outra sutura igual para o músculo oblíquo externo e tecido subcutâneo. Alguns dos pontos devem
englobar parte do músculo transverso do abdómen, para evitar deixar espaço morto entre estas
duas suturas. Por fim, sutura-se a pele com sutura contínua ancorada ou sutura com pontos
simples, usando fio não absorvível sintético (e.g. Supramid). Os 2 a 3 pontos mais ventrais da
sutura de pele devem ser simples e interrompidos, de forma a permitir uma drenagem mais fácil,
caso se venha a desenvolver uma infecção na zona de incisão 21,61,95,144,145,146,158.
10.2.3.1.2 – Vantagens e Desvantagens
Esta técnica apresenta como vantagens ser realizada com o animal em estação (o que
minimiza os riscos de regurgitação, especialmente importante em animais com pneumonia ou
alterações músculo-esqueléticas), o animal também é sujeito a menos stress, o cirurgião não
precisa de assistente e trabalha numa posição mais confortável, permite a reposição manual e a
incisão apresenta poucos riscos 61.
Contudo, apresenta algumas desvantagens, tais como o facto de não ser possível fazer a
inspecção do abomaso na sua totalidade, a reposição ser relativa e não absoluta, a possível
recidiva, o desenvolvimento de peritonite, a integridade da omentopexia pode ser afectada por
fístulas ou por grandes quantidades de gordura em certos animais, há a possibilidade de um
futuro DAD, apesar da omentopexia intacta e ainda existem estudos que indicam uma maior taxa
de recidiva comparativamente às abomasopexias. Está, por isso, recomendada a sutura abomasoperitoneal
34,95,146
. Pode ocorrer ainda estenose funcional nos casos em que o piloro é
incorporado na sutura
158
. Para evitar esta situação, que causaria problemas na passagem da
ingesta, Niehaus (2008) defende que a fixação deve ser realizada, não na parte muscular do
piloro, mas no antro pilórico do abomaso, a aproximadamente 3-5 cm proximal ao piloro
45
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
(piloricantropexia). Neste último caso, tratar-se-ia então de uma piloropexia e não de uma
abomasopexia 93.
10.2.3.2 - Abomasopexia paramedial direita
Esta técnica, descrita em 1959 por Staiton e McIntee, permite a fixação directa do
abomaso à parede ventral do abdómen na sua posição anatómica correcta e pode ser realizada no
DAE e no DAD 21,34.
10.2.3.2.1 – Procedimento Cirúrgico
A intervenção é feita com o animal em decúbito dorsal, com os membros posteriores
estendidos 61,95,136.
O animal deve ser privado de água, pelo menos 12 horas antes da cirurgia. Isto ajuda a
diminuir a possibilidade de regurgitação durante o decúbito dorsal. Dever-se-á também efectuar
uma boa sedação (Cloridrato de xilazina) intravenosa, de forma a poder mais facilmente colocar
o animal em decúbito dorsal, mantendo os membros posteriores em extensão. É então preparado
o campo cirúrgico, da mesma forma que para a laparotomia no flanco. Neste caso, a área vai
desde o apêndice xifóide até ao umbigo e com largura de 20 a 25 cm para cada lado da linha
média, com maior cuidado na região paramediana direita. O bloqueio anestésico é realizado
linearmente por infiltração (situado entre a linha média e a veia subcutânea do abdómen direita),
ou em L (a 2 cm caudal ao apêndice xifóide, desloca-se para a direita 5 a 8 cm, entre a linha
média e a veia subcutânea do abdómen, continuando caudalmente e paralelamente à linha média
ventral), usando Cloridrato de lidocaína a 2%. Volta-se depois a lavar com iodóforo, colocando
pano de campo fenestrado, repelente à humidade, estéril e segurá-lo com 4 a 6 pinças Backhaus.
É então efectuada uma incisão abdominal paramedial direita, que começa a 6-8 cm do apêndice
xifóide e 4-6 cm lateralmente à linha média ventral. A incisão tem 15 a 20 cm de comprimento.
Esta deve ser efectuada numa sequência de quatro passos, abrangendo inicialmente a pele e
tecido subcutâneo (incluindo o músculo peitoral profundo caudal, no terço cranial da incisão),
seguido da túnica fibrosa externa do recto do abdómen, depois o músculo recto do abdómen e a
túnica interna do recto do abdómen juntamente com o peritoneu. Deve proceder-se ao controlo
de hemorragias, recorrendo a pinças hemostáticas, ou fazendo laqueação de vasos, caso seja
necessário (é comum a metade caudal da incisão, na camada subcutânea, ser atravessada por um
ramo da veia epigástrica). Caso o abomaso não tenha regressado à sua posição normal pelo
decúbito dorsal, essa correcção deve ser feita pelo cirurgião manualmente, colocando o braço
entre o rúmen e o peritoneu. Este deve também inspeccionar todo o abdómen, dando ênfase ao
46
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
abomaso, procurando úlceras (que, caso existam, devem ser reparadas), examinando o piloro e
verificando a existência de neoplasias. Deverá ainda proceder à descompressão do abomaso com
uma agulha estéril de 14 G, ligada a um tubo de borracha, e identificar as porções ventral, cranial
e fúndica do abomaso (zonas em que a serosa está livre de omento). Faz-se então sutura a 2 ou 4
cm de distância do limite lateral direito da incisão, com 4 a 6 pontos em “U”, utilizando catgut
crómico nº 3 e envolvendo 1 a 2 cm da parede abomasal, músculo oblíquo interno e peritoneu.
Está indicada a medicação intraperitoneal, sendo aconselhada a administração de uma
Tetraciclina solúvel em dose terapêutica (5-10mg/L), diluida em 1L de soro salino estéril. A
incisão abdominal é fechada usando catgut crómico nº 2 ou 3, incluindo inicialmente o peritoneu
e a túnica fibrosa interna do músculo recto do abdómen, numa sutura contínua simples, na qual
se incorpora o abomaso. O músculo recto do abdómen é suturado de forma simples, contínua ou
interrompida, usando catgut crómico nº 2. Para a baínha tendinosa externa do recto do abdómen
está sugerida uma sutura interrompida horizontal, utilizando cagut crómico nº 2 ou 3. A sutura de
pele é contínua ancorada e é feita com fio não absorvível (e.g. Supramid). Para prevenir a
formação de seroma e abcessos deve evitar-se deixar um “espaço morto”, assim, a sutura deve
incluir a túnica externa do músculo recto do abdómen. O animal é depois rolado, ficando em
decúbito lateral esquerdo, previamente ao decúbito esternal, sendo depois encorajado a levantarse 61,95,145,146,158.
10.2.3.2.2 – Vantagens e Desvantagens
Esta técnica apresenta a grande vantagem de permitir a exploração abdominal e
principalmente abomasal em toda a sua extensão. Possibilita ainda a reposição fisiológica do
abomaso, uma estabilização teoricamente mais segura do que uma omentopexia e a recidiva do
deslocamento é rara. Esta é a técnica de eleição em casos de DA com aderências e também nos
casos em que a estética da vaca seja relevante.
Como desvantagens, há a referir a necessidade de rolar e manter o animal em decúbito
dorsal, o que implica a presença de pelo menos um assistente e pode, embora seja raro, levar à
formação de vólvulo intestinal ou uterino, quando o animal passa do decúbito para ficar em
estação; o stress causado ao animal pelo decúbito, bem como ser uma posição menos confortável
para o cirurgião trabalhar; as exigências pré-cirúrgicas; o risco de formação de hérnia ou fístulas
na zona de incisão abdominal; a infecção da incisão abdominal por contaminação; a
possibilidade de regurgitação durante o decúbito e ainda o edema parturiente ventral e os grandes
vasos abdominais superficiais em vacas com úbere grande. A abomasopexia paramedial direita
está contra-indicada em animais com broncopneumonia crónica ou aguda, hipotensão, certas
47
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
doenças músculo-esqueléticas, vacas no final de gestação, ou com distensão ruminal, edema
ventral extenso e ainda em casos graves de VA, porque é difícil remover o fluido abomasal,
sendo preferível realizar a cirurgia com o animal em estação, devido à sua condição sistémica
comprometida 61,95,146,158.
10.2.3.3 - Abomasopexia paralombar esquerda
Esta técnica está indicada para a correcção exclusiva do DAE, permitindo a fixação
directa do abomaso à parede ventral do abdómen 61,158.
Esta é a técnica indicada na resolução do DAE em vacas no final da gestação, uma vez
que se o acesso fosse pelo flanco direito, o grande volume ocupado pelo útero grávido impediria
a correcção
124
. Alguns clínicos recomendam a adaptação desta técnica ao flanco direito, para a
correcção do DAD 158.
10.2.3.3.1 - Procedimento cirúrgico
A intervenção é realizada com o animal em estação, com sedação/analgesia endovenosa.
A cauda da vaca deverá ser presa, de modo a que não vá conspurcar a área cirúrgica. É realizada
uma preparação cirúrgica para laparotomia lateral, como descrito anteriormente (zona de incisão
ao nível da fossa paralombar esquerda), e ainda à direita da linha média, local onde o abomaso
vai ser fixado. A anestesia na região paralombar é preparada, preferencialmente com anestesia
paravertebral proximal (T13, L1, L2) (ver figura 12 em Anexo), havendo como alternativas a
anestesia epidural a nível lombar, a anestesia paravertebral distal, o bloqueio anestésico em L
invertido, ou ainda o bloqueio anestésico linear (ver figura 11 em Anexo). Coloca-se então o
pano de campo fenestrado, repelente à humidade, estéril e segura-se com 4 a 6 pinças Backhaus.
A incisão abdominal deve ser feita à distância de 6 a 8 cm, ventralmente aos processos
tranversos das vértebras lombares e a 4 a 6 cm da última costela. A incisão é dorsoventral e com
o comprimento de 20 a 25 cm. Tal como na abomasopexia à direita, incide-se primeiro a pele e
depois os músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdómen e depois, com
especial cuidado para não a atingir os órgãos abdominais, fazer a incisão do peritoneu. Procedese à inspecção de toda a cavidade peritoneal acessível. É aplicada uma sutura contínua simples,
com um comprimento de 8 a 12 cm na curvatura maior do abomaso com fio não absorvível
sintético (e.g. Supramid extra), deixando uma distância de 5 a 7 cm da sua ligação ao omento. A
sutura não deverá atingir o lúmen abomasal. Deixa-se as duas extremidades do fio de sutura com
aproximadamente 1 metro de comprimento. Deve-se então proceder à descompressão do
abomaso com uma agulha hipodérmica de 14 G conectada a um tubo de borracha. A agulha deve
48
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
ser introduzida na zona mais dorsal do abomaso e obliquamente, para evitar que os fluidos
removidos entrem na cavidade abdominal. Segundo Trent (2004), este procedimento pode ser
realizado após a passagem dos fios de sutura pelo abdómen ventral, ou seja, depois do
reposicionamento. Para reposicionar o abomaso, começa-se com a extremidade do fio mais
cranial, o qual se prende a uma agulha em “S” ou uma agulha de necropsia. Protegendo a agulha
com a palma da mão, introduz-se a mão direita ao longo da parede lateral do abdómen, entre o
peritoneu e o abomaso deslocado, até palpar o apêndice xifóide. Insere-se a agulha na zona
previamente preparada à direita da linha média, medialmente à veia abdominal subcutânea,
forçando a agulha a atravessar a parede abdominal. Nesta fase é importante a ajuda de um
assistente, que indica externamente o local a perfurar com a agulha, podendo realizar alguma
tracção para facilitar a perfuração e depois poder segurar o fio. Deve repetir-se o procedimento
anterior com a extremidade caudal do fio, com uma distância relativa ao primeiro de 3 a 10 cm.
O assistente segura os dois fios e faz uma suave tensão, ao mesmo tempo que o cirurgião
direcciona o abomaso à sua posição normal e depois se certifica de que não existam estruturas,
como intestino delgado, por exemplo, presas entre o abomaso e a parede ventral do abdómen. O
abomaso fica assim em contacto directo com o peritoneu, o que facilita a formação de
aderências. As extremidades dos fios são atadas pelo assistente com um nó de cirurgião e mais
três nós. São cortadas as extremidades, deixando-se cerca de 5 cm de comprimento em cada. Na
sutura pode ser incorporado um botão grande ou um tubo de borracha para prevenir o stress
tissular. Está indicada a medicação intraperitoneal com Tetraciclina em dose terapêutica, diluida
em 1 L de soro salino estéril. A sutura da incisão paralombar é feita em quatro camadas, como
anteriormente descrito para o flanco direito 61,95,113,114,115,134,136,143,145,146,158.
10.2.3.3.2 – Vantagens e Desvantagens
As vantagens desta técnica são todas as já descritas para a abomasopexia paralombar
direita, pelo facto de ser feita com o animal em estação, bem como permitir uma fixação directa
e definitiva, uma vez que são usados fios não absorvíveis, e ainda possibilitar a visualização e
tratamento de úlceras e aderências 34,61,95,146.
A considerar contra esta técnica, há a dificuldade na sua execução, principalmente em
vacas grandes ou com abdómen fundo, a possibilidade de infecção após a sutura na cavidade
peritoneal, a eventual não fixação pelo rompimento da sutura, ou por não haver sobreposição
directa do abomaso e peritoneu parietal, o que significa que outras estruturas ficaram aí
interpostas, a punção de outras vísceras quando o cirurgião vai perfurar o abdómen ventral e
ainda a lesão da veia subcutânea do abdómen 34,61,95,146.
49
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
10.2.3.4 - Omentopexia paralombar esquerda (Método de Utrecht)
A omentopexia paralombar esquerda foi descrita por Lagerweij e Numan em 1962 e 1968
e é usada para o tratamento cirúrgico de determinados casos de DAE 21.
Esta técnica é muito semelhante à anteriormente descrita, sendo realizada com o animal
em estação, e a incisão é feita ao nível da fossa paralombar esquerda. Procede-se à
descompressão do abomaso através do uso de uma agulha hipodérmica de 14G, que tem
acoplado um tubo de borracha. O abomaso é forçado a dirigir-se à sua posição anatómica natural,
passando ventral e medialmente por baixo do rúmen. Aqui jaz a diferença relativamente à
abomasopexia paralombar esquerda, que, como o nome indica, o abomaso é fixado; neste caso a
estrutura fixada será o omento (junto a sua inserção na curvatura maior, próximo ao piloro), na
zona ventral do abdómen, ao redor da linha branca 95.
As vantagens e desvantagens são também em tudo semelhantes às da técnica anterior,
tendo, no entanto, duas vantagens perante ela, que se prendem com a sua grande simplicidade e o
facto de permitir uma maior motilidade, ou seja, maior liberdade de contracções do abomaso 95.
10.2.4 - Terapêutica cirúrgica para DAD
Nos casos avançados de DAD e nos casos em que existe vólvulo abomasal é imperativa a
intervenção cirúrgica
103,110,148
. O vólvulo ou torção abomasal provoca obstrução à passagem da
ingesta para o duodeno, o que faz com que esta patologia seja considerada uma emergência
cirúrgica 41.
As técnicas cirúrgicas descritas para a correcção de DAD e VA são
34,41,61,95,146
:
Omento/Abomasopexia paralombar direita e Abomasopexia paramedial direita. A omentopexia
paralombar direita é mais apropriada em casos mais severos de VA, quando comparada com a
abomasopexia paramedial direita 61.
A omentopexia paralombar direita é a técnica mais universal. Ambas as técnicas foram já
descritas no tratamento do DAE e são muito semelhantes para a correcção do DAD e VA. Na
omentopexia poderá ser necessário um instrumento extra, quando comparado com a correcção do
DAE, sendo ele um tubo gástrico com um diâmetro entre os 3 e os 6 cm, para a remoção de
líquidos, que antecede a remoção de gás, nos casos em que há uma grande acumulação de fluidos
abomasais. O principal aspecto a ter em conta é que ao fazer o acesso à cavidade abdominal pelo
lado direito, deve ter-se o cuidado de não incidir o abomaso que aí estará localizado. As suas
vantagens e desvantagens também são idênticas à omentopexia, tal como foi referido no
deslocamento à esquerda. Pode ser associada a esta técnica uma abomasopexia, que vai ajudar a
diminuir a probabilidade de recidiva 61,95,103,146.
50
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
10.2.5 - Acções pós-cirúrgicas comuns
Regra geral, para todos os tipos de cirurgias descritos deve ser considerada a
administração sistémica adicional de electrólitos e fluidos, cálcio, selénio e vitamina E, para
estimular o músculo liso, e antibióticos à base de Penicilina e Estreptomicina, caso necessário,
durante 1 a 3 dias, bem como ajustar o maneio e nutrição, de acordo com as necessidades do
paciente. Os pontos da sutura são, para todos os casos, removidos ao fim de 14 dias
21,61,95,145,146,158
.
Após a cirurgia correctiva do DAE pode ser feita a transfaunação de 10L de líquido
ruminal, devendo ser repetida no dia a seguir à cirurgia. Existem estudos que compararam
animais em que este procedimento foi realizado, com animais que, através de um tubo
orogástrico, receberam apenas água (grupo controlo). Os primeiros ingeriram maior quantidade
de alimento, apresentaram um menor grau de cetonúria e produziram maior quantidade de leite
105
.
O campo cirúrgico deverá ser desinfectado através de um spray antibiótico local, o que
fornece, além de vantagem terapêutica, repelência contra moscas e sujidade 154.
A administração pré-cirúrgica de eritromicina por via intramuscular (IM) e de flunixina
meglumina (IV) é também benéfica. Resultados de um estudo de 2008, revelam que uma única
dose de eritromicina aumenta o rácio de esvaziamento abomasal, a contracção ruminal e a
produção de leite. Já os animais tratados com flunixina apresentaram unicamente um maior rácio
de contracção ruminal 162.
Um outro estudo avaliou o rácio de esvaziamento abomasal e concluiu que, após a
cirurgia correctiva do DAE essa diminuição acentua-se. Os autores consideram que poderá, por
isso, ser benéfica a administração de pró-cinéticos após a cirurgia 160.
Regra geral, após a cirurgia é necessária uma fluidoterapia intensa, para corrigir a
desidratação, a alcalose metabólica e restaurar a motilidade abomasal
34,41,103,146
. Existem
diversos graus de desidratação, alcalose metabólica, hipoclorémia e hipocalémia, sendo que a
fluidoterapia deveria preferencialmente estar adaptada a eles. Para isso é necessário realizar
análises bioquímicas ao longo da fluidoterapia, para que esta possa ser ajustada. Contudo, na
maior parte dos casos não há acesso a esta informação, logo, a escolha da solução irá recair na
opção mais segura. São geralmente suficientes soluções electrolíticas contendo sódio, cloreto de
potássio, cálcio e uma fonte de glucose. Um exemplo do referido anteriormente e que é
recomendado e considerado seguro, é uma mistura de 2L de solução salina isotónica (0,9%), com
1L de cloreto de potássio isotónico (1,1%) e 1L de dextrose isotónica (5%), administradas por
51
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
via IV, numa taxa de de 4-6L/h
103
. Para a correcção da alcalose metabólica estão indicadas
soluções isotónicas acidificantes, como por exemplo, uma solução de cloreto de sódio, ou cloreto
de potássio. Está recomendada a administração desta solução por via intravenosa, com a
frequência de 20L em 4 horas para vacas de 450kg. Uma solução salina normal pode também ser
eficaz. As soluções de potássio só são indispensáveis quando a hipocalemia é grave
103
. A
terapêutica electrolítica oral está principalmente aconselhada no pós-operatório que se segue à
drenagem cirúrgica do abomaso. Está indicada a associação à fluidoterapia parenteral da mistura
de cloreto de sódio (50-100g), cloreto de potássio (50g) e cloreto de amónio (50-100g),
veiculada diariamente por via oral. A administração de cloreto de potássio (50g/dia) deve ser
mantida até que o animal recupere o apetite
103
. É adequada a administração de antibióticos de
largo espectro, nos casos em que é questionada a integridade da mucosa abomasal. A
administração de anti-inflamatórios não esteróides (AINES) ou corticosteróides está aconselhada
quando perante uma situação de choque, ou podem ser usados antes da cirurgia, como
protectores de toxémia aguda pela manipulação do abomaso 41.
11 – Recidivância e Complicações
As recidivas pós-cirúrgicas são mais comuns em casos de DAD do que DAE e,
normalmente, o re-deslocamento dá-se para o mesmo lado do anterior
146
. Nas duas técnicas
pode fazer-se a manipulação do omaso que ajuda à correcção do vólvulo. O omaso é levantado
ou puxado dorso-lateralmente, na tentativa de reposicionar tanto o omaso como o abomaso
34
.
As complicações pós-cirúrgicas são idênticas à síndrome de indigestão vagal e ocorrem
em 14 a 21% dos casos. Os possíveis mecanismos que podem levar à semelhança com esta
síndrome incluem: lesão do nervo vago, alterações da junção neuromuscular e da motilidade
autónoma abomasal induzidas pela grande distensão da parede abomasal, trombose, necrose da
parede abomasal e peritonite 103,125.
12 – Prognóstico
Uma vez que não foram ainda apresentadas discussões sobre o prognóstico de Dilatação
Abomasal e DAA, apresentam-se apenas as discussões dos casos de DAE e DAD.
12.1 – DAE
O prognóstico pós-cirúrgico do DAE é bom
41
. O DAE raramente é fatal, no entanto,
quando lhe está associada uma perfuração de úlcera abomasal, o prognóstico é desfavorável 103.
52
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Num estudo realizado por Rohn et al. com 466 casos de DAE, 82% deles foram
considerados curados após a cirurgia e regressaram à exploração. Posteriormente, a percentagem
de sobrevivência foi um pouco inferior. Nos animais com DAE, os factores associados a um
prognóstico favorável são a curta duração da doença, uma boa condição geral, bom apetite, fezes
normais, um maior peso corporal, um hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos
baixos, níveis baixos de ureia, AST e bilirrubina e níveis aumentados de sódio, potássio e cloro
80
. Pode, por isso, dizer-se que a determinação do prognóstico após a cirurgia pode ser
conseguida com exames clínicos e laboratoriais, dando principal atenção ao exame físico, à
função hepática e ao estado de desidratação
103,117
.
A pressão luminal abomasal em animais com DAE está aumentada, tendo uma média de
8,7 mmHg, podendo variar entre 3,5 e 20,7 mmHg
32
. Este aumento pode contribuir para a
patogénese da úlcera abomasal e é acompanhado de menor perfusão abomasal 159.
Um estudo realizado em 2006 por Kalaitzakis et al. procurou encontrar dados úteis na
previsão do prognóstico pós-cirúrgico de animais operados para DAE, que sofriam também de
lipidose hepática. Concluiram que a resposta após a cirurgia está dependente da severidade da
lipidose hepática (classificada de 0 a 5) e que todas as vacas da amostra padeciam de algum grau
da doença, sendo que as que morreram apresentavam grau severo (5). Neste estudo, recomendam
como diagnóstico de lipidose hepática em vacas com DAE a avaliação combinada de mais de um
resultados da actividade de ornitina transcarbamilase no soro, aspartato aminotransferase,
glutamato desidrogenase e da concentração de bilirrubina total plasmática (por ordem
decrescente de sensibilidade). Todos estes níveis crescem com a gravidade da doença 75.
Foi apresentado um trabalho que comparou a produção de leite e sobrevivência de vacas
leiteiras após a correcção laparoscópica do DAE. Quanto à produção de leite, não houve
diferenças significativas entre o grupo com DA e o grupo controlo. Já no que refere à
sobrevivência pós-cirúrgica, o risco de abate na mesma lactação em que foi diagnosticado o
deslocamento foi 8 vezes superior nos animais afectados pela doença, quando comparados ao
grupo de controlo. Na lactação seguinte, após a correcção do DAE, o risco já foi semelhante
entre os dois grupos. O risco de abate, imediatamente após a cirurgia, foi maior para os animais
que, antes do tratamento, apresentavam pior condição corporal 73.
Para além dos dados acima descritos, é importante referir que a maioria das perdas de
efectivo após o tratamento, são devidas a doenças concomitantes e não directamente ao DA, nem
ao método de tratamento utilizado. O prognóstico para o retorno à normal funcionalidade varia,
53
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
nos casos de cirurgia de abdómen fechado, entre os 71 e os 91%. Já nos casos de cirurgia de
abdómen aberto/convencional, está entre os 80 e os 100% 146.
12.2 – DAD
O prognóstico do DAD e do VA precoce é comparável ao de um DAE corrigido
cirurgicamente. Contudo, o prognóstico de um DAD é sempre melhor do que o do VA, porque
no primeiro o sistema vascular do abomaso é menos afectado, o que faz com que as alterações
metabólicas sejam também menores
46
. A produtividade a longo termo de animais com DAD é
igual ou melhor à de animais com DAE, uma vez que no deslocamento à direita são menos
comuns as complicações que induzem a maioria de perdas nos casos de DAE 146.
São vários os dados clínicos e laboratoriais que podem ser utilizados para prever o
prognóstico em casos de DAD e VA
103
. Um estudo realizado com 458 vacas com DAD ou VA
demonstrou que a observação de taquicardia e temperatura reduzida no primeiro exame indiciam
um mau prognóstico
46
. Um outro estudo de 80 vacas com VA determinou que os melhores
dados para prever o prognóstico pré-cirúrgico são: frequência cardíaca, estado de hidratação,
período de inapetência e fosfatase alcalina plasmática
considerado um indicativo de mau prognóstico
41,48
31
. Um anion gap de 30mEq/L foi
. Os achados cirúrgicos e pós-cirúrgicos em
animais com VA são bons indícios de prognósticos de recuperação
30,103
. Animais com vólvulo
omaso-abomasal têm pior prognóstico, comparativamente aos que não envolvem o omaso
30
.
Uma grande quantidade de fluido abomasal, trombose venosa e coloração abomasal azulada ou
negra, observados antes da descompressão, são sinais de mau prognóstico, bem como uma
diminuição da motilidade gastro-intestinal pós-cirúrgica 79,103,148. Os animais em que é necessário
remover entre 1 a mais de 30 litros de líquido abomasal antes da reposição cirúrgica e aqueles
que têm níveis de cloro plasmático inferiores a 79mEq/L antes da cirurgia, apresentam mau
prognóstico
103
. A pressão luminal abomasal está aumentada quando ocorre vólvulo (variando
entre 4.1 a 32.4mmHg, tendo como valor médio 11.7mmHg), sendo este aumento mais
significativo do que nos casos de DAE
32,159
. Este acréscimo de pressão pode provocar lesão da
mucosa, por oclusão vascular local, o que vai afectar o prognóstico de forma negativa. Entre os
animais com VA, a pressão luminal abomasal foi significativamente maior nos animais que
morreram ou foram refugados após a cirurgia, com uma média de 20.6mmHg, comparativamente
aos animas que recuperaram e foram mantidos no efectivo, estes com uma média de 11.0mmHg
103
.
A maioria dos animais com VA que são tratados cirurgicamente e ainda com
fluidoterapia, apresentam melhorias ao fim de 24 a 72 horas após este tratamento, identificáveis
54
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
pela atitude e aumento do apetite. Contudo, um bom prognóstico só pode ser considerado 96h
após a cirurgia. Animais em decúbito, que não consigam levantar-se, nem mesmo depois de
corrigida a hipocalcémia, estão geralmente em acidose e o seu prognóstico é mau 34.
As principais complicações do vólvulo abomasal incluem lesão directa de um ramo do
nervo vago e a trombose vascular e são os principais motivos de um mau prognóstico
póscirúrgico. Se um paciente com VA for diagnosticado e tratado nas primeiras 4 horas após o
início dos sinais clínicos, estas complicações, anteriormente referidas, têm muito menor
probabilidade de ocorrer, quando comparadas com os pacientes em que a cirurgia tarda 24 horas.
Qualquer uma destas complicações resulta em distensão abdominal progressiva, desidratação,
bradicardia, anorexia, diminuição da produção de fezes, hipomotilidade ruminal e perda de peso.
Estes sinais mimetizam a indigestão vagal e não têm boa resposta ao tratamento sintomático, o
que significa que podem sobreviver durante semanas até que sucumbam
34
. A fatalidade é
elevada nos animais que desenvolvem complicações após correcção cirúrgica do VA, sendo que
apenas 12 a 20% desses animais recuperam até à sua normal produção
103
. Uma outra
complicação, mas menos comum, é a perfuração abomasal com peritonite difusa, que pode surgir
72horas após a cirurgia e que provoca a morte muito mais rapidamente 34,41,103.
Daqui se conclui que quanto mais atempadamente são feitos o diagnóstico e a terapêutica,
melhor será o prognóstico, o que está dependente da atenção dos produtores e do médico
veterinário 34.
13 – Prevenção
Uma vez que não está disponível qualquer informação relevante quanto ao controlo do
DAD e VA, e já que a patogénese é similar ao DAE, parece racional recomendar a aplicação das
mesmas medidas de controlo e prevenção enunciadas no DAE, tendo em especial atenção os
planos alimentares 37,41,103,121.
Propõem-se de seguida as principais medidas de Prevenção de DA:
Medidas para o animal:

Assegurar que as vacas são secas com uma condição corporal óptima e que se mantêm
nessa mesma condição até ao parto 9,24,66,103;

Favorecer a prevenção de doenças no peri-parto (mastite, metrite, retenção placentária,
hipocalcémia, cetose) 41,103,130;
55
Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”

Programas reprodutivos que seleccionem para uma curva de lactação persistente, longo
período de vida produtiva e elevada capacidade de ingestão de matéria seca, têm um
efeito depressor na frequência de DA a longo termo 9,53;

Melhorar o ambiente em volta do animal, tendo boas práticas de higiene, boa ventilação,
pouco ruído e camas confortáveis 126;

Monitorizar a repleção ruminal perto do parto 12,103,132,

Monitorizar para sinais de acidose 12,74,132;

Monitorizar para cetose, incluindo a subclínica 12,74;

Monitorizar para hipocalcémia, incluindo a subclínica 12,100;

Prevenir e/ou tratar hipocalcémia 12,100;

Tratar rapidamente a cetose subclínica 12,74;

Prevenir e/ou tratar retenção placentária, metrite e mastite, junto ao parto

Considerar o uso de AINES no tratamento de vacas no periparto 12;

Considerar não cruzar novilhas de substituição de linhas que parecem ter problemas
12,41
;
particulares com DA 12,49,103;
Medidas para o Efectivo:

Atenção pormenorizada às rações de vacas secas e vacas no período de transição:
o Maneio cuidado da transição da ração de vacas secas para lactantes, introduzindo
gradualmente fontes de energia rapidamente fermentescíveis (incluindo silagem
de milho e concentrados) 9,130,132;
o Oferecer algum concentrado antes do parto, para que o rúmen se adapte 37,53,103,137;
o Assegurar fibra adequada e de tamanho suficiente 103,132,137;
o Separar vacas em lactação de vacas secas 133;
o Maximizar a ingestão de MS no pós-parto imediato 12,52,53,66,103;
o Assegurar alimentos palatáveis e água disponíveis ad libitum para vacas no
periparto 8,12;
o Aumentar o número de bebedouros nos parques 133;
o Considerar o suplemento com antioxidantes em efectivos que se sabe terem
problemas com deficiência de vitamina E e selénio
10,12,133
;
o Assegurar uma maternidade, onde as vacas que estão numa situação stressante
tenham acesso a uma zona mais tranquila, mais higiénica, com boas camas,
56
Investigação – Materiais e Métodos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
o Evitando o desequilíbrio na relação entre agentes bacterianos ambientais e
imunidade do animal 133;

Considerar o uso de perfis metabólicos em vacas nos 7-10 dias antes e depois do parto
para monitorizar o seu estado nutricional 12;

Usar outros métodos para recolha de dados acerca da ração, como a avaliação fecal
(“Teste da bota”) 12;

Seleccionar touros para reduzir problemas de distócia 12.
II- Investigação
II.1 - Material e Métodos
Durante o período de estágio curricular e de recolha de dados para a formulação da Tese
de Mestrado, foram acompanhados três grupos de Médicos Veterinários de renome, sendo estes
o Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo, com actividade na maioria do Concelho de Barcelos, Dr.
Jorge Manuel Evangelista, com actividade na zona circundante de Aveiro, e ainda toda a equipa
dos Serviços Veterinários Associados, com actividade no Concelho de Barcelos, Vila Nova de
Famalicão, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Trofa, e Santo Tirso. Houve ainda a oportunidade
de acompanhar toda a prática clínica por eles efectuada. Porém, a prática clínica e de recolha de
dados apenas se verificou durante o período de estágio clínico com o Dr. Paulo Capelo, sendo
este de 2 meses, e mais duas semanas com os Serviços Veterinários Associados.
Desse mesmo acompanhamento clínico, foram recolhidos dados acerca de cada
Exploração e Animal com Deslocamento de Abomaso. Os dados consistem em:

Nome do Proprietário e Local da Exploração: para permitir saber se houve mais do que um
caso durante o período de recolha dos dados;

Qual o caso concreto: isto é, se estava na presença de um DAE/DAD/DAA/Dilatação
Abomasal;

Qual o número de animais por exploração: para saber se havia alguma relação do número
de animais com o aparecimento de casos de DA;

Tipo de Alimentação fornecida aos animais. Neste caso, apenas foi possível a distinção de
alimentação com Unifeed simples (US), Unifeed com suplementação de ração na ordenha
(USRO) e sem Unifeed (SU), uma vez que nem todos os proprietários se mostravam
receptivos em revelar qual a marca de ração utilizada;

Nível Produtivo do animal afectado com DA antes e no momento do DA;

Patologias
Intercorrentes:
patologias
manifestadas
57
antes
de
aparecer
o
DA;
Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”

Patologia no Pós-parto (PP) ou Ante-parto (AP)

Maneio, classificado em 3 categorias:
o Mau: explorações com maus tratos aos animais, sem separação de vacas lactantes de
não lactantes, com más condições de higiene;
o Razoável: explorações apenas com más condições de higiene, ou sem separação de
vacas lactantes e não lactantes;
o Bom: explorações cujo maneio dos animais é mais cuidado, com boas condições
sanitárias, estrutura física razoável. Também se incluem as explorações com todos os
registos de todos os animais, com um maneio criterioso dos animais, com boas
condições sanitárias, estrutura física com boa separação, bons acessos à lactação e com
todas as condições de higiene para os animais;
Note-se que outras informações de notável importância para um estudo epidemiológico,
tais como a idade do animal, as informações do contraste leiteiro, tempo desde o parto até ao
diagnóstico de DA, número de casos de DA em cada exploração, foram informações que se
tentaram recolher durante o levantamento de dados, mas os quais o produtor, por insuficiência de
registos, ou por não querer revelar, não facultou. Outra informação importante seria a da
melhoria ou não da vaca, o que envolveria um estudo por vários meses, ou mesmo anos, para
avaliar a incidência. Pode, porém, ser dito que todos os animais apresentaram melhoria nas
semanas seguintes.
Para uma análise pormenorizada dos resultados, foi utilizado o programa estatístico SPSS
v.11 e seguido o método aconselhado por Maroco 83.
III – Resultados
Após a análise estatística dos dados colhidos no estudo de campo (tabela 3 em anexo),
apenas foi possível encontrar alguma relação estatisticamente significativa nos campos relativos
à diferenciação do tipo de DA e à perda de produção consequente ao DA. É de seguida
apresentada uma análise pormenorizada.
Relativamente à patologia associada ao DA, foram englobados todos os tipos de DA e
apenas se pode concluir, com base nas percentagens relativas a cada um dos tipos de patologias,
que vacas com Cetose (33,3%) apresentam maior risco de vir a desenvolver DA, seguidas das
que têm patologias reprodutivas (23,3%), esteatose (21,7%), patologia podal (13,3%), distócia
(5%) e patologia digestiva (3,3%). Todos os outros casos são considerados como não
significativos para a análise. Os resultados são apresentados no gráfico 1.
58
Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Gráfico 1 – Percentagem relativa das patologias associadas ao DA.
Para avaliar a significância estatística percentual do tipo de deslocamento de abomaso,
(recorreu-se ao Teste Binominal, implementado no software de análise de dados SPSS (v.11;
SPSS Inc, Chicago, IL) como descrito em Maroco (2007) 83. Considerou-se α = 0,05.
A percentagem de animais que apresentavam DAE foi de 84% (n s = 53) e a percentagem
de animais que apresentavam DAD ou DAA foi de 16% (nn = 10). A análise estatística
inferencial indica que a percentagem de Animais com DAE é significativamente diferente de
50% (p< 0.001 ; N= 63). De seguida, apresentam-se os outputs do SPSS para o teste binominal.
Tabela 3 – Resultados SPSS v.11 relativos ao número de animais por tipo de DA.
Binomial Test- Proporção DAE versus DAD /DAA
53
Observed
Prop.
,84
10
,16
63
1,00
N
tipo de deslocamento
DAE
DAD e
DAA
Total
a. Based on Z Approximation.
Gráfico 2 – Tipo de Deslocamento e número de casos associados
59
Test Prop.
,50
Asymp. Sig.
(2-tailed)
,000 a
Exact Sig.
(2-tailed)
,000
Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Relativamente à perda percentual de produção leiteira devida a DA, esta análise foi
também efectuada com o SPSS v.11, segundo as indicações de Maroco
83
, e recorreu-se ao
estudo “one-way ANOVA”, com um α = 0,05.
Deve ser tido em conta o facto de não terem sido contabilizados os animais que não se
encontravam em lactação no momento da doença nem as novilhas, nem vacas com DAA, daí n
ser de 50 e não 63. A perda percentual média para as vacas com DAE foi de 68,33% (n = 42) e a
perda percentual média para as vacas com DAD foi de 92,62% (n = 8). A análise estatística
indica que a perda percentual média dos animais com DAE é significativamente menor (p= 0.001
; n= 50). De seguida, apresentam-se os outputs do SPSS para o teste “Oneway ANOVA”.
Tabela 4, 5 e 6: Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda percentual de produção
quando associada ao tipo de DA.
ANOVA
Perda Percentual
Between Groups
Within Groups
Total
Sum of
Squares
3964,769
16550,519
20515,288
df
Mean Square
3964,769
344,802
1
48
49
F
11,499
Sig.
,001
Case Processing Summary
Cases
Missing
N
Percent
0
,0%
0
,0%
Valid
Perda Percentual
tipo de deslocament o
DAE
DAD
N
42
8
Percent
100,0%
100,0%
Gráfico 3: Associação da perda percentual de produção ao tipo de DA.
60
Total
N
42
8
Percent
100,0%
100,0%
Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Por fim, foi também efectuada a análise da relação entre o tipo de DA e o tipo de
alimentação. Para isso recorreu-se ao Crosstabs CHi-Square test implementado no software de
análise de dados SPSS v.11, como descrito em Maroco (2007) 83. Considerou-se α = 0,05. Para
esta análise, excluiu-se o deslocamento de abomaso anterior. A análise estatística pelo Fisher's
Exact Test indica que não existe diferença estatisticamente relevante entre o tipo de alimentação
e o tipo de deslocamento (p= 0.283 ; n= 62), tal como se pode comprovar pelas tabelas
apresentadas de seguida. Porém, e em análise do gráfico 4, essa relação poderia ser considerada
relevante, se se considerasse apenas este gráfico.
Tabelas 7, 8 e 9: Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo de alimentação ao
tipo de DA:
Case Processing Summary
Valid
N
tipo de deslocamento *
Tipo de aliment ação
Percent
62
Cases
Missing
N
Percent
100,0%
0
Total
N
,0%
Percent
62
100,0%
tipo de deslocamento * Tipo de ali mentação Crosstabulation
tipo de deslocament o
DAE
DAD
Total
Count
% wit hin t ipo de
deslocament o
% wit hin Tipo
de alimentação
% of Total
Count
% wit hin t ipo de
deslocament o
% wit hin Tipo
de alimentação
% of Total
Count
% wit hin t ipo de
deslocament o
% wit hin Tipo
de alimentação
% of Total
Tipo de alimentação
SU
US
USR
8
35
10
Total
15,1%
66,0%
18,9%
100,0%
88,9%
89,7%
71,4%
85,5%
12,9%
1
56,5%
4
16,1%
4
85,5%
9
11,1%
44,4%
44,4%
100,0%
11,1%
10,3%
28,6%
14,5%
1,6%
9
6,5%
39
6,5%
14
14,5%
62
14,5%
62,9%
22,6%
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
100,0%
14,5%
62,9%
22,6%
100,0%
61
53
Discussão – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
Gráfico 4: Relação entre o tipo de DA e o tipo de alimentação.
Há que notar que SU se refere ao tipo de alimentação sem Unifeed, US com Unifeed
Simples e USR Unifeed com suplementação de ração às melhores produtoras.
IV – Discussão
Da análise dos Resultados, conclui-se facilmente a veracidade dos argumentos de
Mesaric, Smith, Radostits e Aubry, quando dizem que a prevalência de DAE é substancialmente
mais raro 4,41,88,103.
O facto de não ter aparecido qualquer caso de Dilatação Abomasal, deve-se,
provavelmente, ao facto de uma Dilatação preceder geralmente os outros tipos de DA, o que
torna difícil a sua identificação, uma vez que os sintomas ocorrem numa fase inicial e algo
vestigiais 84,103,149.
Do estudo conclui-se também que a Cetose é a patologia mais comum em DAE, DAD, e
DAA, o que é concordante com os estudos e bibliografia já verificados
41,50,51,103
. Dos restantes
casos, denota-se a maior prevalência de Esteatose Hepática, o que vem a ser concordante com a
Cetose 23,41,50,51,103.
Após a ocorrência de DA, o nível produtivo tende, como se sabe, a baixar, e este desce
mais com a gravidade da situação. Assim, nota-se claramente que a produção após o diagnóstico
do caso de DA, foi menor para DAD do que para DAE 39,41,145,37. Já no caso de DAA, a produção
notada no estudo efectuado foi nula, mas há que referir que se tratam de vacas secas, ou mesmo
de novilhas, ou seja, cuja produção esperada seria de zero.
Da análise da relação do número de casos de DA com o Tipo de Alimentação, com base
simplesmente no gráfico 4, nota-se que esta ocorreu em maior número em vacas alimentadas
62
Conclusão – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
com Unifeed Simples. Estes resultados são de estranhar, uma vez que seriam esperados maior
número de DA em vacas cuja alimentação se baseasse em Unifeed com suplementação de
concentrado às melhores produtoras, tal como afirma Van Winden e Cammark
25,151
. Porém, e
talvez devido ao regime alimentar apenas com Unifeed ser o mais implementado na região onde
o estudo foi efectuado, se verifique uma maior incidência em vacas alimentadas com Unifeed.
Seria útil a medição do comprimento e teor de fibra da dieta para uma melhor análise. Porém,
devido à falta de informação por parte do produtor e mesmo de material apropriado, (sort box),
tal não foi possível
24,25,152,153
. Há que considerar porém a falta de relevância estatística destes
51
dados .
Mais nenhuma análise estatística de relevância foi, no entanto, possível, uma vez que a
percentagem de erro estatístico era bastante elevada, daí que qualquer conclusão fosse errónea
com base nessa análise.
V- Conclusão
Conclui-se, assim, que o DA é ainda hoje uma patologia bastante frequente e que muitas
falhas a nível de maneio, quer físico, quer alimentar, se têm verificado ainda.
O que todos os produtores perguntam aos clínicos de Bovinos, quando têm uma
incidência moderada a elevada de DA na sua exploração, é o que podem fazer para evitar essa
situação. Não existe uma solução, existem sim várias medidas que podem ser tomadas, que vão
ajudar a diminuir o número de casos desta patologia e, na sua grande maioria, das restantes
patologias do periparto. Essas medidas foram descritas acima e exigem um grande esforço e
empenho na mudança dos hábitos de trabalho, tendo algumas delas resultados imediatos, mas
outras não, requerendo uma maior persistência.
O produtor deverá seguir todos os critérios contrários aos factores predisponentes de DA,
prevenindo, assim, a incidência da patologia. Para isso, e para uma melhor análise, um bom
sistema de registos de dados relativos à exploração é indispensável. Ele deve incluir a
alimentação, seus componentes e análises; produção de leite; índices reprodutivos; prevalência
das mais diversas patologias entre elas DA, RP, metrite, mastite, aborto; condição corporal. Ou
seja, tantos dados quanto possível.
Todas estas alterações devem ser sugeridas pelo médico-veterinário que dá apoio à
exploração em causa. Todas as alterações propostas visam facilitar o maneio alimentar adequado
a cada fase do ciclo produtivo e reprodutivo e proporcionar melhores condições de higiene e
maior conforto aos animais.
63
Bibliografia – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
VI – Bibliografia
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Lactating Holstein- Friesian Cows and in Cows with Left Displaced Abomasum or Abomasal Volvulus. Journal of Veterinary Internal
Medicine. 2005; 19:905-913pp.
161. Wittek T, Sen I, Constable P. Changes in abdominal dimensions during late gestation and early lactation in Holstein-Friesian heifers
and cows and their relationship to left displaced abomasum. The Veterinary Record. 2007; 161(5):155-161pp.
162. Wittek T, Tischer K, Gieseler T, Fürll M, Constable PD. Effect of preoperative administration of erythromicin or flunixin meg lumine
on postoperative abomasal emptying rate in dairy cows undergoing surgical correction of left displacement of the abomasum. Journal
of the American Veterinary Medical Association. 2008; 232(3):418-422pp.
163. Wolf V, Hamann H, Scholz H, Distl O. Einflüsse auf das Auftreten von Labmagenverlagerungen bei Deutschen Holstein Kühen.
Deutsche Tierärztliche Wochenschrift, 2001; 108:403-408pp.
164. Wolf V, Hamann H, Scholz H, Distl O. Systematische Einflüsse auf das Auftreten von Labmagenverlagerungen bei Deutschen
Holstein Kühen. Züchtungskunde. 2001; 73:257-265pp.
165. Zadnik T, Mesaric M, Klinkon M. Right Percutaneous Omentopexy of Displaced Abomasum – Ljubljana method. XXII World
Buiatrics Congress Guidelines. 2002;102-114pp.
166. Zadnik T, Mesaric M, Reichel PA. Review of abomasal displacement - clinical and laboratory experiences at the clinic for Ruminants
in Ljubljana. Slovenian Veterinary Research. 2001; 38:201-217pp.
167. Zadnik T, Mesaric M. Fecal blood levels and serum proenzyme pepsinogen activity of dairy cows with abomasal displacement. Israel
Journal of Veterinary Medicine. 1999; 54(3):61-65pp.
168. Zadnik T. Review of Anterior Displacement of Abomasum in Cattle in Slovenia. The Veterinary Record. 2003; 153:24-25pp.
70
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
VII – Anexos
1. – Anexo 1 – Dados obtidos no inquérito de campo
Tabela 10 – Registos obtidos no estudo de campo (Legenda: US – Unifeed Simples, USRO – Unifeed com Suplementação de Ração na Ordenha, SU – Sem Unifeed, AP –
Ante-parto, PP – pós-parto)
Caso
Nº
Nome Proprietário e Localidade
Caso
Animal por
Exploração
(Nº Animais)
Tipo alimentação
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Pedro - Barqueiros
M. Campos – Remelhe
M. Campos – Remelhe
Fonseca – Macieira Rates
Barroso -Paradela
Américo - Paradela
Quim - Góios
M. Fonte – Remelhe
M. Carvalho – Macieira Rates
Jorge - Cristelo
Zé - Paradela
Vitor – Macieira Rates
Zé - Paradela
Tone Pedrosa – Macieira de Rates
Joaquim – Vilar de Figos
Moizés - Cristelo
Zé Augusto - Carvalhal
Deolinda - Negreiros
Laida - Barqueiros
Fernanda - Rio Tinto
Dimas - Paradela
Luís Geraz - Negreiros
Dimas - Paradela
Zé – Negreiros
Nuno – Gueral
Pedro - Barqueiros
Pedro - Barqueiros
Mário - Carvalhal
Zé Nuno - Paradela
Fonseca - Remelhe
João - Negreiros
DAE
DAD
DAE
DAE
DAE
DAE
DAA
DAE
DAE
DAE
DAE
DAD
DAE
DAE
DAD
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAD
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAD
DAE
DAE
DAE
160
170
170
120
40
52
85
65
70
60
70
100
70
100
15
70
120
50
90
25
30
70
30
200
50
160
160
85
98
67
85
US
USRO
USRO
US
US
US
USRO
SU
SU
USRO
USRO
USRO
USRO
US
US
US
USRO
US
US
SU
SU
US
SU
USRO
US
US
US
USRO
USRO
US
US
Nível
Produtivo
(Total
(L)/dia)
48
Seca
50
5
40
10
40
8
30
Seca
26
12
30
Seca
35
8
30
7
30
6
30
3
40
Seca
40
7
35
4
23
3
27
6
45
15
20
5
0
0
30
15
40
15
30
0
0
0
40
8
25
1
37
12
50
7
42
1
33
5
36
10
47
9
xviii
Perda
Percentual
0%
90%
75%
80%
0%
53,85%
0%
77,14%
76,67%
80%
90%
0%
82,50%
88,57%
86,96%
77,78%
66,67%
75%
0%
50%
62,50%
100%
0%
80%
96%
67,57%
86%
97,62%
84,85%
72,22%
80,85%
Doenças intercorrentes
Maneio
Patologia
Ante ou
Pós-parto
Cetose
Metrite
Cetose
Bom
Bom
Bom
Razoável
Mau
Mau
Razoável
Mau
Bom
Razoável
Mau
Bom
Mau
Mau
Mau
Mau
Razoável
Bom
Razoável
Mau
Mau
Mau
Mau
Bom
Mau
Bom
Bom
Mau
Mau
Mau
Mau
AP
PP
PP
PP
AP
PP
AP
PP
PP
PP
PP
AP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
Cetose
Patologia Podal
Cetose + Patologia Podal
Esteatose hepática + Cetose
Fertilidade + Esteatose hepática
Úlcera abomaso
Cetose
Cetose + Esteatose Hepática
Patologia Podal
Cetose
Esteatose Hepática
Distócia
Esteatose Hepática
Esteatose Hepática
Cascos + Tumefacção Artículação Sacroilíaca
Cetose
Cetose
Metrite
Cetose
Cetose
Cetose + Patologia Podal
Cetose
Esteatose Hepática
Metrite
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
Fonseca – Macieira Rates
Manuela - Macieira Rates
Dimas - Paradela
Joaquim - Paradela
Quim - Góios
Carvalho - Barqueiros
M. Campos – Remelhe
Tone Pedrosa – Macieira de Rates
Moizés - Cristelo
Faria - Remelhe
Olivério - Negreiros
Américo - Paradela
Pedro - Barqueiros
Quim - Góios
Tone Pedrosa – Macieira de Rates
Fonseca – Macieira Rates
Dimas - Paradela
Miguel - Cristelo
Evaristo - Cristelo
Joaquim Silva - Junqueira
Joaquim Silva - Junqueira
Goreti - Fradelos
Silvina - Fradelos
Ricardo – Touguinha
Ricardo – Touguinha
Soc. Agr. Telha – (Sto. Tirso)
Manuel - Minhotães
Rui – Louro (V.N.Famalic.)
Jorge - Fradelos
Henrique - Fradelos
Joaq. Ferreira – Lagoa (V.N.Fam)
Carvalho - Nine
DAE
DAD
DAE
DAE
DAD
DAD
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAD
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
DAE
120
90
30
70
85
65
170
100
70
65
78
52
160
85
100
120
30
86
79
130
130
112
70
108
108
200
130
75
60
75
130
102
USRO
US
SU
US
USRO
SU
USRO
US
US
US
US
US
US
USRO
US
US
SU
US
SU
US
US
US
US
US
US
US
US
US
US
US
US
US
38
35
39
0
35
27
43
32
23
32
27
35
49
36
30
33
32
34
42
0
0
0
20
30
30
30
35
35
35
20
26
36
24
0
15
8
4
6
10
12
7
8
16
6
Seca
Seca
7
Seca
9
0
3
8
6
10
0
22
27
16
16
8
16
9
20
10
xix
36,84%
100%
61,54%
0%
88,57%
77,78%
76,74%
62,50%
69,56%
75%
40,74%
82,86%
0%
0%
76,67%
0%
71,87%
100%
92,86%
0%
0%
0%
100%
26,67%
10%
46,67%
54,29%
77,14%
54,29%
55%
23,08%
72,22%
Cetose
Metrite + Mamite
Esteatose Hepática
Metrite
Esteatose Hepática
Esteatose Hepática
Metrite
Metrite
Esteatose Hepática
Cetose
Cetose
Distócia
Cetose
Esteatose Hepática + Patologia Podal
Patologia Podal + Metrite
Esteatose Hepática
Metrite
Cetose + Mamite
Metrite
Metrite
Patologia Podal
Metrite
Metrite
Recidiva DAE
Cetose Nervosa
Rompimento vaginal no parto
Mamite
Cetose
Razoável
Mau
Mau
Mau
Razoável
Mau
Bom
Mau
Mau
Mau
Mau
Mau
Bom
Razoável
Mau
Razoável
Mau
Mau
Mau
Razoável
Razoável
Mau
Mau
Bom
Bom
Bom
Bom
Bom
Mau
Bom
Mau
Mau
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
AP
AP
PP
AP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
PP
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 10: Preparação pré-cirúrgica de cirurgias presenciadas durante o estudo de campo: A – mesa com material a
ser utilizado durante a cirurgia; B – material cirúrgico esterilizado, após fervedura e aplicação de solução iodada; C
– lavagem da área cirúrgica com água e sabão; D – tosquia da área cirúrgica; E – secagem da área cirúrgica; F –
aplicação de álcool; G – aplicação de solução iodada; H – desinfecção do cirurgião;
xx
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
A
B
C
Figura 11: Anestesia Local: A – Aplicação ventro-dorsal de lidocaína; B – aplicação perpendicular à linha do corpo
de lidocaína; C – imagem após percorrida a zona a ser alvo de corte cirúrgico;
A
B
C
Figura 12: Anestesia paravertebral: A – tosquia da zona a ser injectado o anestésico; B – injecção caudalmente e
perpendicularmente à apófise transversa; C – injecção com ângulo de 45º caudal à apófise transversa;
xxi
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P
Figura 13: Abomasopexia paralombar direita observada durante o estudo de campo: A – incisão da pele; B –
cirurgião explorando a área abdominal; C – Abomaso (zona do piloro) exposta; D – Fixação do Piloro com pinça
não traumática; E, F e G – sutura das paredes do abomaso ao músculo transverso do abdómen e peritoneu; H –
xxii
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
sutura do oblíquo interno; I – Frasco de Glicose 30%; J – instilação de glicose 30% para a cavidade abdominal pelas
camadas ainda não suturadas; K – Penicilina e Estreptomicina retiradas do frasco estéril; L – aplicação local de
penicilina e estreptomicina sobre as camadas musculares; M e N – sutura da pele; O – aplicação de spray de
terramicina sobre a sutura de pele; P – aplicação intramuscular de penicilina e estreptomicina;
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
Figura 14: Omentopexia paralombar direita (Método de Hannover) observada em campo, com sobreenchimento por
gás e com outro método de Antibioterapia: (Há que denonar que apenas se apresentam algumas fotos, uma vez que
as restantes são comuns à cirurgia anterior) A – abertura da parede peritoneal, permitindo a entrada de gás para a
cavidade; B – perfuração com canulação do abomaso repleto de gás; C – visualização de que sai gás pela cânula,
uma vez que incendeia face a fonte de fogo; D – retirada de porção do omento denominada “orelha de porca”, após
reposicionamento do abomaso; E – fixação do omento por meio de pinça traumática, à parede abdominal; F e G –
sutura do omento ao peritoneu e músculo transverso do abdómen; H – sutura do músculo transverso do abdómen; I –
xxiii
Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”
sutura do músculo oblíquo interno do abdómen; J – sutura do músculo oblíquo externo do abdómen e instilação de
antibiótico à base de Penicilina e Estreptomicina nas paredes musculares; K e L – injecção de antibiótico em todas
as camadas musculares e no interior da cavidade abdominal;
xxiv
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Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros.