1
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEx - DESMil - DEPA
ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE
SALVADOR
1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES
EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA
Salvador
2011
2
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEx - DESMil - DEPA
ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE
SALVADOR
1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES
EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Comissão de Avaliação
de Trabalhos Científicos da Divisão de
Ensino da Escola de Formação
Complementar do Exército, como
exigência parcial para a obtenção do
título de Especialista em Aplicações
Complementares às Ciências Militares.
Orientador: Maj Selma Iara
Co Orientador: Cap Tupolevck
Salvador
2011
MINISTÉRIO DA DEFESA
3
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEx - DESMil - DEPA
ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE
SALVADOR
1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES
EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Comissão de Avaliação
de Trabalhos Científicos da Divisão de
Ensino da Escola de Formação
Complementar do Exército, como
exigência parcial para a obtenção do
título de Especialista em Aplicações
Complementares às Ciências Militares.
Aprovado em: ______ / ________________ /2011.
SELMA IARA GOMES LOPES TAVARES-Major
NOME– Posto – Presidente
Escola de Formação Complementar do Exército
TUPOLEVCK FLORÊNCIO-Cap
NOME– Posto – 1º Membro
Escola de Formação Complementar do Exército
LUIZ FERNANDO SOUZA DA FONTE-Cap
NOME– Posto – 2º Membro
Escola de Formação Complementar do Exército
EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA
4
1º Tem Al Roberto Carlos de Queiroz Torres1
Resumo: Inegavelmente, a mídia exerce uma forte influência na vida cotidiana das pessoas, as
quais tomam grande parte do que é veiculado por ela como “verdade absoluta”. Isto ocorre, dentre
outros motivos, pela própria forma como é propagada a informação, ou seja, a forte exploração de
recursos imagéticos e o uso da linguagem persuasiva. Neste sentido, este projeto visa analisar o uso
de propagandas e de comerciais presentes nos meios midiáticos, que utilizam inadequadamente
alguns conceitos científicos da Química, objetivando validar produtos que promoveriam o bem estar
do cliente. Neste enfoque, procurou-se buscar com este trabalho alternativas que possibilitassem
averiguar o quão a propaganda, enquanto gênero textual persuasivo, influência na formação ou na
desinformação de um conceito já pré-concebido pelos alunos. Para tanto, realizou-se uma atividade
no Colégio Militar de Salvador (CMS), com alunos do 1º e do 3º ano do Ensino Médio, para os quais
foram apresentados um texto e um vídeo publicitário sobre desodorante. Em seguida, aplicou-se um
questionário no qual se verificou, a partir da análise dos seus resultados, o entendimento que os
alunos possuem sobre conceitos básicos da química. Além disso, o referido questionário permitiu
observar o grau de ascendência que tais propagandas exercem nos alunos; constatando-se a
indução ao erro. Por fim, procurou-se despertar nesses jovens olhares mais atentos e críticos para o
problema aqui analisado.
Palavras-Chave: Conceitos da Química; Mídia; Propaganda; Distorção de conceitos; Colégio Militar
de Salvador (CMS)
Abstract: Undeniably, media has strong influence over people’s everyday lives, so that many
consider as absolutely true what they learn through media. Among other reasons, this happens due to
the way information is broadcast, which means great use of resources of imagery and persuasive
language. In this sense, this project analyzes some commercials, which use some scientific concepts
of Chemistry inadequately in order to validate products that would provide welfare to clients.
Therefore, this research tries to find alternatives that make it possible to check how far publicity (as a
persuasive sort of text) influences in the education or disinformation on the part of students. For this
purpose, an activity was carried out at Colégio Militar de Salvador (CMS) with students from the first
and third grades of High School. An advertising text and video about a brand of deodorizer were
presented after which a questionnaire was applied in order to verify what students understand of basic
concepts of Chemistry. Additionally, it was possible to observe the degree of influence these
commercials have over students, and induction to mistakes was detected. Finally, the activity tried to
stimulate more critical sense in these teenagers regarding the problem analyzed here.
Key-words: Concepts of Chemistry, Media, Commercial, Distortion of concepts, Colégio Militar de
Salvador (CMS).
1.Licenciado em Química pela Universidade Federal do Rio G. do Norte. [email protected]
1 INTRODUÇÃO
5
Tendo-se constatado que algumas
propagandas veiculadas pela mídia sobre
produtos constituídos por substâncias
químicas contribuem para a desconstrução
dos conceitos ensinados nas escolas; o
presente trabalho busca, antes de mais nada,
despertar o senso crítico do aluno frente à
veiculação de propagandas e notícias.
Trata-se de concordar com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
documentos que sinalizam para a
abordagem dos conteúdos e para a prática
metodológica da educação no Brasil, e que
têm como exigência uma nova postura
analítica e reflexiva do ensino, orientando as
escolas para o desenvolvimento de
propostas educacionais que enfoquem
reflexivamente as programações midiáticas,
incentivando a formação de telespectadoresalunos
ativos,
participantes
e
questionadores.
É nessa esteira que cabe saber como a
mídia vem atuando na (de)formação do
aluno, e na sua (in)compreensão dos
conceitos relacionados à química, bem
como o quão difícil é desfazer ideias
consolidadas
erroneamente
sobre
a
disciplina ou, ainda, quais as dificuldades
encontradas por eles para reconhecerem as
informações pretensamente “científicas” da
mídia, diferenciando-as daquelas lecionadas
em sala de aula.
Ao se falar sobre a relação existente
entre educação e mídia, deve-se enfatizar
que o processo necessita ir além do discurso
da análise crítica proposta tradicionalmente,
ou seja, só na teoria e distanciado do aluno.
Urge tratar o conteúdo por ela veiculado
como parte integrante da vida do aluno,
como formadora de opinião, de juízos de
valor. É necessário conhecê-la para instituir
situações de comunicação que possibilite
levar à construção de um conhecimento
verdadeiramente científico partindo de um
universo familiar daquele.
Dessa forma, o professor de química
precisa atuar sempre na busca de condições
que
possibilite
aos
seus
alunos
desenvolverem uma visão crítica da
sociedade. Uma destas formas é assumir
uma posição questionadora frente aos meios
de comunicação através, por exemplo, do
uso da programação televisiva para
perguntar e contestar o que está certo e o
que não está.
Discutir temas éticos introduzidos
explícita ou implicitamente na programação,
bem como propor ao aluno enxergar com
outros olhos (olhos mais atentos) o que lhes
é imposto pelos meios de comunicação,
pode, também, fazer parte de um ensino de
química que vise uma compreensão crítica
mais ampla.
Dada a importância da educação para
interpretação do mundo, em todos os níveis
educativos e em todas as idades, o
desenvolvimento da compreensão do
discente passa por uma mudança de
mentalidade, o que só é possível com uma
nova perspectiva educacional.
Tais certezas
desembocam na
realização de um estudo acerca da má
influência da mídia na compreensão de
conceitos da química no ensino médio e, a
respectiva, apresentação de seus resultados.
A reboque, relaciona-se as visões de ciência
veiculadas na mídia como um dos fatores de
influência na construção do ideário
científico dos alunos.
Tal empreitada guia-se por estudo
diagnóstico, de caráter investigativo e
qualitativo, somado a elaboração e,
posterior, aplicação de questionários
(Apêndice A) propostos. Numa das
situações, o questionário foi aplicado, sem
que os discentes tenham tido contato com o
texto e a propaganda (Anexo A). Desta
forma é pretendido obter informações a
respeito de quais são as visões que o aluno
tem sobre determinados assuntos acerca da
disciplina; o que visa caracterizar
minimamente os conceitos de química
apresentados por determinados recortes de
propaganda. Já na outra linha, o
questionário
foi
aplicado
após
o
conhecimento do recorte e da propaganda
ter sido passado ao aluno, o que visa
investigar o caráter crítico do aluno no que
se refere à consolidação do conhecimento
apresentado.
Na primeira parte do artigo tomou-se
por base os estudos realizados por
6
(CAMPANARIO, 2001) em seu texto
“Invocaciones y usos inadecuados de la
ciencia en la publicidad”; o qual discute o
uso inadequado da ciência na publicidade.
Posteriormente, na seção dois, foram
enfocados alguns aspectos relativos ao
trabalho desenvolvido por (JORDÃO, 2006)
intitulado: “A estranha química dos filmes e
comerciais de televisão”; no qual são
exploradas possíveis fontes socioculturais
que influenciam na formação das ideias de
parte dos alunos de química. Sendo que para
tal, o autor realiza a análise de alguns filmes
e comerciais de televisão que veiculam
mensagens de cunho científico ligados a
determinados assuntos da química. Por
último, foram apresentados os resultados
obtidos a partir da pesquisa realizada com
alunos das séries do ensino médio do
Colégio Militar de Salvador (CMS), acerca
do aprendizado errôneo de química
possibilitado pela veiculação distorcida de
conceitos por parte da mídia.
2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO E
PUBLICIDADE: EXEMPLIFICANDO
ATRITOS
E
ESTIMULANDO
REFLEXÕES
2.1 Mídia e Conhecimento Científico
Nos últimos anos tem sido frequente
o uso da ciência, principalmente da química
como suporte de apoio e credibilidade para
assegurar a eficácia dos produtos
apresentados nos comerciais de TV e na
mídia como um todo. E devido à sobrecarga
de anúncios que utilizam a ciência como
suporte, esta por esse motivo vem perdendo
um pouco a credibilidade.
Além disso, em uma situação de
saturação informativa por parte da mídia,
torna-se cada vez mais difícil que os
consumidores fiquem atentos e consigam
diferenciar dentre os produtos quais
apresentam realmente mais qualidade e
eficácia. Diante de tudo isso o que marca a
visão do bom produto é o uso da imagem e
conhecimento científico posto em evidência
na publicidade. Em outras palavras, uma das
formas de se afirmar algo sobre a qualidade
do produto é fazendo a associação deste
com o uso do conhecimento científico e
tecnológico associado a sua fabricação.
O uso da ciência como autoridade,
associada ao conhecimento verdadeiro é
provável que não se limite a aproveitar os
esquemas mentais preexistentes na mente
dos consumidores, mas também poderá
contribuir para reforçar no consumidor, e
nesse momento inclui os jovens alunos de
química, uma imagem errônea de conceitos
da ciência. E neste momento a publicidade
ensina conceitos inconsistentes com aqueles
pertencentes à ciência verdadeiramente
escolar.
Para Campanario é fato que o
conhecimento abordado no meio publicitário
é muito deficiente do ponto de vista
científico. Por exemplo, em alguns recortes
de propaganda selecionados pelo autor nos
meios midiáticos são apresentadas falsas
informações,
conceitos
supostamente
científicos,
comparações
quantitativas
incompletas e diversas informações
deliberadamente incompreensíveis. Em
todos estes recortes emerge o uso da ciência
com a simples finalidade de causar
impressões superficiais.
O uso inadequado que se faz desse
recurso é eficaz para que os anunciantes
consigam atingir o seu principal objetivo, ou
seja, o lucro; o que implica num certo
conhecimento dos consumidores. Público
este, e nesse momento o autor faz outra
crítica, que demonstra aceitar a publicidade
e suas práticas via o exercício do seu poder
de compra.
Também é importante salientar que a
publicidade de certa forma se aproveita da
má formação científica das pessoas, o que
permite que esta use de forma inadequada os
conhecimentos científicos. Todavia, deve-se
reconhecer que não é fácil explicar todas as
noções de ciência que atuam em um
produto, tendo em vista a diversidade do
público que assiste. Não à toa, é mais fácil
invocar a ciência de maneira genérica ou
criar impressões.
O problema é que todo esse processo
transmite saberes contraditórios com os
7
objetivos que o sistema educativo propõe
para o ensino da ciência. Assim, enquanto
boa parte dos professores de química
estimulam os alunos a compreender, analisar
e aplicar reflexivamente os conhecimentos
científicos adquiridos na prática pedagógica;
a publicidade transmite a lição oposta.
2.2 O uso inadequado da ciência na
publicidade
CAMPANARIO delimitou o objeto do
seu trabalho no estudo das invocações e do
mau uso da ciência na publicidade. Para
tanto, em primeiro lugar realizou uma
análise sobre o uso da ciência na
publicidade como fonte de autoridade que
respalda a virtude dos produtos e serviços
anunciados. Em segundo lugar, constatou a
frequente associação deste uso da ciência
com formas errôneas dos conteúdos
científicos, bem como com o raciocínio
incorreto; os quais levam a conclusões de
interesse do anunciante.
A Publicidade é um dos fenômenos
característicos de nosso tempo e é um dos
elementos utilizados para influenciar as
opiniões dos cidadãos e criar hábitos
comportamentais.
Investimentos
em
publicidade são muitas vezes uma parte
considerável das despesas de empresas e
firmas comerciais.
A Ciência aparece sistematicamente
na publicidade.
A associação mais
frequente é aquela na qual a ciência é uma
fonte de autoridade que garante a qualidade
dos produtos anunciados. Tal uso da ciência
não é recente. Por exemplo, as propagandas
de cosméticos apresentadas na imprensa
desde os anos vinte, refletem claramente a
crença generalizada de que a ciência seria
capaz de curar quase tudo, inclusive o
envelhecimento. Atualmente se transmite
algo muito similar, visto o estereótipo da
ciência como uma garantia de que
certamente a mesma resolve todos os
problemas. Em suma, a verdade vem dos
cientistas, fonte do conhecimento pleno.
O conhecimento científico tornou-se o
paradigma do saber rigoroso, confiável e
preciso; tornando-se um verdadeiro modelo
para todas as áreas, as quais lutam para
adicionar o adjetivo "científico" aos seus
métodos e resultados.
Essa “superioridade” deriva do
método
utilizado na produção do
conhecimento científico e está associada às
vezes com uma concepção de ciência como
uma atividade misteriosa ao público leigo,
ou seja, que se encontra distante da
capacidade de “compreensão humana
normal” e que por isso fica fora do alcance
da crítica.
Obviamente, o uso da ciência na
publicidade não é estranho ao papel que ela
desempenha em nossa sociedade.
Se
fôssemos comparar a cultura atual com
outras anteriores, uma das características
distintas, provavelmente, seria o papel
protagonista desempenhado pela ciência
hoje em relação a outrora.
Além disso, a maioria dos bens e
produtos que consumimos são produzidos
seguindo complexos processos baseados em
investigação científica ou desenvolvimentos
tecnológicos. A ciência está de certa forma
estreitamente identificada com produtos
inovadores que as empresas tentam mostrar
em seus anúncios. Não é estranho, então,
que as empresas recorram à ciência nos
discursos da propaganda de bens e produtos.
Dado que a ciência acompanha esses
produtos desde a fase em que são apenas
projetos.
No seu trabalho (CAMPANARIO, 2001)
analisa anúncios de publicidade escritos,
provenientes de periódicos de circulação
nacional e revistas em geral. Todos os
anúncios escolhidos referenciavam produtos
ampla aceitação, contendo nos mesmos
invocação da ciência como fonte de
autoridade e uso inadequado da linguagem
ou do conhecimento científico.
2.3 Considerações sobre ligações químicas
Compreender o comportamento das
moléculas significa ter um domínio amplo
sobre ligação química.
Estudar as
8
moléculas é uma tarefa que os estudantes
têm de executar para se tornarem capazes
de realizar a passagem nada simples que é a
da observação para a formulação de
modelos. Trabalhar com modelos é
essencial para que o ensino da química não
fique reduzido a uma mera descrição de
propriedades
macroscópicas
e
suas
mudanças. Modelos atômicos, fórmulas
químicas, equações químicas, todos recaem
em modelos para sua explicação.
É fato notório que mesmo após uma
educação formal em Química, os estudantes
demonstram diversas deficiências na
compreensão dos conceitos químicos e
apresentam dificuldades para realizar
relações importantes. Acrescenta-se também
o fato há muito conhecido de que os alunos
apresentam explicações para os fenômenos
muitas vezes diferentes daquelas que seriam
aceitáveis. Quando essas idéias dos alunos
interagem com as demonstrações do
professor, com a linguagem científica, com
leis e teorias e com as próprias experiências
dos alunos, os estudantes tentam reconciliar
seus modelos mentais com os conceitos
aceitos cientificamente. O resultado dessa
reconciliação pode ser um conceito
científico distorcido a uma concepção
alternativa.
O tema ligação química, por ser abstrato,
longe das experiências dos alunos, tem,
consequentemente, grande potencial para
gerar concepções equivocadas por parte dos
estudantes. Considerando a relevância do
exposto e feito uma análise da literatura
sobre a compreensão dos modelos de
ligações químicas. É importante ressaltar a
necessidade de se fazer uma proposta de
trabalho que objetive realizar um estudo
constante por parte do docente, acerca deste
e de outros assuntos, quando os mesmos
forem alocados na mídia de forma a
apresentar distorções que contribua para a
formação de um saber científico incorreto.
2.4 Os procedimentos adotados
A fim de obter informações a respeito
da influência da mídia na formação ou
reconstrução de conceitos científicos da área
da química, foi desenvolvido o presente
trabalho no Colégio Militar de Salvador
(CMS). Optou-se pelas 1ª e 3ª séries do
ensino médio, adotando-se duas linhas
metodológicas, aplicadas a ambas as séries.
Na primeira linha, o desencadeamento
do trabalho seguiu quatro momentos:
1º) leitura de um recorte de
propaganda de revista com a
finalidade de atentar nos alunos os
conhecimentos
científicos
e/ou
químicos presentes no texto;
2º) Apresentação de um pequeno
vídeo de propaganda, complementar
ao conteúdo do recorte pelo meio
audiovisual;
3º) Preenchimento pelos discentes de
um questionário, elaborado com o
intuito de explorar conceitos básicos
sobre ligações químicas; assunto esse
tratado nas entrelinhas do texto; e
4º) Após responderem ao questionário,
deu-se o recolhimento do mesmo,
partindo-se, em seguida, para as
considerações finais, nas quais se
explanou e se discutiu com os alunos
o texto e as imagens apresentadas no
vídeo. Procurou-se instigar a reflexão
discente, apontando as limitações e
“problemas”
encontrados
nas
informações vinculadas, bem como se
estimulou a postura crítica dos
mesmos no cotidiano a fim de sanar
qualquer dúvida sobre o assunto.
Já a outra linha de desenvolvimento
do trabalho buscou se diferenciar da
anterior. Limitou-se a aplicação direta do
questionário, ou seja, os alunos não tiveram
acesso nem ao recorte, nem ao vídeo.
Partiram direto para a terceira fase, seguindo
num
segundo
momento
para
as
considerações e discussões finais.
2.3.1 A escolha das séries
9
A fim de obter maior grau de
confiabilidade nos resultados deste trabalho,
optou-se trabalhar com as séries escolares
mencionadas. O porquê dessa certeza
decorre de dois aspectos: primeiramente, o
aspecto temporal, que se apoiou no fato de
os alunos já terem estudado o conteúdo
proposto no corrente ano. O segundo
aspecto levou em consideração a maturidade
dos discentes, notadamente do 3º ano,
quanto aos conhecimentos científicos
explicitados. Considerou-se, que esses
detinham um maior grau de abstração para a
reflexão da problemática, tanto pelo maior
conhecimento adquirido ao longo das séries
que cursaram quanto pela absorção do
conhecimento via senso comum.
2.3.2 A postura frente ao texto
Neste momento, cabe deixar claro que
este trabalho não tem como objetivo criticar
especificamente qualquer produto e/ou
marca vendido no mercado. Longe disso, a
escolha
da
propaganda
justifica-se
simplesmente pela relevância do assunto na
área de química, tratado na mesma.
Tendo em vista a diversidade de
propagandas que fazem uso da ciência, é de
certa forma muito comum encontrar uma ou
outra, que evoca o uso de conceitos
científicos de forma errônea. Reforçando o
argumento, percebe-se pela leitura do
questionário que este, em nenhum momento
tratou, em questão alguma, de direcionar
perguntas para a crítica ao produto; mas,
tão-somente, para o uso inadequado do
conhecimento científico utilizado nas
propagandas.
No caso em tela, o uso inadequado do
conhecimento científico no anúncio
trabalhado caracterizou-se pela utilização
incorreta que este fez ao tratar um composto
de prata (na ocasião um sal) como sendo um
composto molecular. Além disso, o erro foi
referendado no vídeo pelo uso do modelo
molecular semelhante ao utilizado para
representação de cadeias carbônicas.
3 INDUZINDO AO ERRO: ANÁLISE E
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DOS
RESULTADOS OBSERVADOS EM
SALA DE AULA
3.1 O foco
A principal finalidade do questionário
foi obter resultados que apontassem
qualquer influência da propaganda sobre as
concepções que os alunos apresentavam
sobre os conceitos relativos ao assunto das
ligações químicas.
Para tanto, ele foi aplicado em quatro
turmas sendo duas do 1º ano e outras duas
do 3º ano do ensino médio. As turmas foram
divididas em grupos classificados como: os
que haviam lido o texto e assistido ao vídeo;
e os que não tiveram contato algum com a
propaganda. Desta forma, foi possível
obtermos
dados
para
análise
por
comparação. Nessa seara cabe também
destacar o empenho por parte de todos os
alunos na execução de todas as tarefas,
incluindo a resolução do questionário.
3.2 Resultado e discursões
Para sistematizar a apresentação dos
resultados e tornar mais claro o
entendimento dos mesmos, manter-se-á a
divisão das turmas, apresentando os dados
relativos a cada uma delas separadamente,
seguindo,
posteriormente,
para
a
interpretação dos mesmos.
A divisão realizada nas turmas foi: a)
1º ano (sem uso da propaganda); b) 1º ano
(com utilização da propaganda); c) 3º ano
(sem uso da propaganda); d) 3º ano com uso
da propaganda).
a) 1º ano (sem uso da propaganda)
10
Participaram da pesquisa 26 alunos,
dos quais 23 tinham o conhecimento prévio
de que a prata pertence ao grupo dos metais.
Destes 23 alunos, 74% erraram ao afirma
ser a prata uma substância formada por
moléculas constituída de átomos de prata. Já
78% acertaram ao afirmar que os átomos de
prata realiza ligações metálicas, quando
estabelece ligação entre si, enquanto 87%
dos alunos acertaram ao afirmar que uma
substância metálica tem origem na interação
entre metal-metal. Enquanto 65% dos
alunos acertaram ao afirmar que a ligação
que caracteriza a formação das moléculas é
a covalente, nenhum dos alunos afirmou ser
a molécula formada por meio de ligação do
tipo metálica.
b)1º ano (com uso da propaganda)
Participaram da pesquisa 28 alunos,
dos quais 26 tinham o conhecimento prévio
de que a prata pertence ao grupo dos metais.
Destes 26 alunos, 73% erraram ao afirmar
ser a prata uma substância formada por
moléculas constituída de átomos de prata,
enquanto 81% acertaram ao afirmar que a
prata realiza ligações metálicas, quando
estabelece ligação entre si. Já 100% dos
alunos acertaram ao afirmar que uma
substância metálica tem origem na interação
entre metal-metal e 34% dos alunos
acertaram ao afirmar que a ligação que
caracteriza a formação das moléculas é a
covalente. No entanto, 34% dos alunos
afirmaram ser a molécula formada por meio
de ligação do tipo metálica.
c) 3º ano (sem uso da propaganda)
Participaram da pesquisa 26 alunos,
dos quais 22 tinham o conhecimento prévio
de que a prata pertence ao grupo dos metais.
Destes 22 alunos, 68% erraram ao
afirmarem ser a prata uma substância
formada por moléculas constituída de
átomos de prata. Enquanto 41% acertaram
ao afirmar que a prata realiza ligações
metálicas, quando estabelece ligação entre
si, 63% dos alunos acertaram ao afirmar que
uma substância metálica tem origem na
interação entre metal-metal. Por fim, 69%
dos alunos acertaram ao afirmar que a
ligação que caracteriza a formação das
moléculas é a covalente e nenhum afirmou
ser a molécula formada por meio de ligação
do tipo metálica.
d) 3º ano (com uso da propaganda)
Participaram da pesquisa 24 alunos,
dos quais 21 tinham o conhecimento prévio
de que a prata pertence ao grupo dos metais.
Destes 21 alunos, 76% erraram ao afirmar
ser a prata uma substância formada por
moléculas constituída de átomos de prata,
enquanto 52% acertaram ao sentenciar que a
prata realiza ligações metálicas, quando
estabelece ligação entre si. Para 86% dos
alunos, uma substância metálica tem origem
na interação entre metal-metal, bem como
42% dos alunos acertaram ao afirmar que a
ligação que caracteriza a formação das
moléculas é a covalente. Ao revés, 62% dos
alunos afirmaram ser a molécula formada
por meio de ligação do tipo metálica ou
iônica.
Pela
análise
dos
resultados
apresentados pode-se perceber que o
percentual de acertos nas questões não
evidenciou nenhuma discrepância entre os
que leram o texto e assistiram ao vídeo
propaganda, daqueles que não leram, nem
assistiram. No entanto, nenhum dos alunos
das 1º e 3º séries, que não leram o recorte,
nem assistiram ao vídeo, afirmou ser a
molécula formada por meio de ligação do
tipo metálica ou iônica. Por outro lado 34%
dos alunos da 1ª série e 62% dos alunos da
3ª série, que leram o recorte e assistiram ao
11
vídeo afirmaram que a formação de
moléculas ocorre por meio de ligação iônica
ou metálica.
O ponto em questão é que a
propaganda trata o composto de prata, um
sal de nome citrato de prata, como
molécula,
agravando
o
erro
pela
representação da mesma na forma de íon
com carga positiva. Tudo isso proporcionou
uma confusão, pois induziu o aluno a
encarar a prata como uma substância
formada por moléculas. Além disso,
possibilitou outro entendimento errôneo,
como evidenciado pelo resultado obtido
quando os alunos marcaram no questionário
que o tipo de ligação que origina moléculas
é a ligação iônica ou a ligação metálica.
Isso significa dizer que os resultados
apresentados pelo questionário aplicado aos
alunos apontaram para uma distorção dos
conceitos da química relativos aos assuntos
“ligações químicas, moléculas e íons”. O
resultado
reforça-se
pela
análise
comparativa das respostas das turmas que
haviam lido o texto e assistido ao vídeo,
daquelas que não tiveram contato algum
com as propagandas. Desta forma,
constatou-se que as mídias em questão
atuaram como um mecanismo de influência
sobre os alunos, desorientando-os e
levando-os ao erro.
A análise dos resultados apontou,
ainda, para outro dado relevante,
relacionado ao grau de dificuldade
apresentado pelos alunos no que se refere ao
conhecimento e consolidação de conceitos
da química. Os referidos conceitos, da
forma como foram utilizados pela mídia,
direcionaram para uma distorção daqueles já
concebidos pelos alunos. Esta afirmação
trouxe a evidência de certa deficiência no
que se refere ao entendimento e à
consolidação de conceitos científicos da
área da química.
Diante desta constatação fica um
alerta para nós docentes da área, qual seja:
para que trabalhemos com muito cuidado os
conceitos chaves da química, tais como os
abordados neste trabalho. Ainda mais,
considerando-se, como apontado no artigo, a
desconstrução forjada por elementos
diversos estranhos ao ambiente escolar, no
caso a mídia. A reboque, impõe-se
atentarmos para consolidação dos referidos
conceitos por parte dos discentes.
CONCLUSÃO
O aluno está sujeito a diversas
influências originárias de fontes sócioculturais distintas. Quando ele recebe a
instrução formal escolar, pelo menos no
caso aqui identificado de conceitos de
ligação química, molécula e íons, há uma
grande dificuldade em consolidar o
conhecimento passado pelo professor. Isso
se mostrou a partir da atividade com as
propagandas, que colocaram em xeque tudo
aquilo que tinha sido anteriormente
lecionado na sala de aula.
Devido ao fato de que muitos
jovens (e não tão jovens) adquirem
muito de seu conhecimento, e
verdadeiramente, muitas de suas
atitudes sobre ciência da mídia
popular [livros, revistas, periódicos,
rádio e televisão], os pesquisadores
têm feito análises de conteúdo das
mídias escrita, falada e visual para
ver como a ciência é retratada.
Algumas tentativas têm sido feitas
para verificar quanto impreciso,
enviesado ou seletivo os detalhes
são. (...) Não existem muitos
estudos
nessa
tradição
(...)
(FURNHAM, 1992, p. 47 apud
JORDÃO)
A citação referenda os resultados
colhidos, pois estes apontaram para certeza
de que há semelhança entre as ideias
expressas nas mídias utilizadas e aquelas
12
apresentadas pelos alunos, sobre temas de
estudo da química (ligações químicas);
evidência o mecanismo de influência sóciocultural da mídia em geral.
Por fim, fica a certeza de que uma
atividade de recortes de revistas e
comerciais de televisão, feita na sala de
aula, pode funcionar como um importante
recurso de estímulo aos alunos para o estudo
dos conceitos de química, assim como os
alunos poderão apresentar uma postura mais
crítica em relação a essas duas mídias,
analisando-se a forma com que elas se
referem a alguns conceitos de química. Para
tanto o professor deverá desenvolver uma
proposta de trabalho que utilize esse recurso
como uma ferramenta de aprendizagem, de
forma que os alunos aprendam pela análise
do erro e adquiram uma postura mais crítica
identificando a informação certa e a errada.
REFERÊNCIAS
BECKER, J. P. L. A popularização da
ciência na revista veja: da situação de
comunicação
ao
texto
Seminário
Internacional de Texto, Enunciação e
Discurso. Núcleo de Estudos do Discurso
PUC do Rio Grande do Sul, 2010.
CALDAS, G. Política de C&T, mídia e
sociedade. Comunicação & Sociedade,
n.30, p. 185-208, 1998.
CAMPANARIO, Juan Miguel; MOYA,
Ainda y OTERO, José C. Invocaciones y
Usos Inadecuados de La Ciencia em La
Publicidad. Grupo de Investigación sobre el
Aprendizaje de las Ciencias. Departamento
de Física. Universidad de Alcalá. 28871
Alcalá de Henares. Madrid, 2001.
JORDÃO, M. P. A estranha química dos
filmes e Comerciais de televisão, 2006.
89f. Dissertação (Mestrado em Ensino de
Ciências) - Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2006.
13
LEAL FILHO, L. L. A TV sob Controle: a
Resposta da Sociedade ao Poder da
Televisão. São Paulo: Summus Editorial,
2006
MESQUITA, Nyuara Araújo da Silva;
SOARES, Márlon Herbert Flora Barbosa.
Visões de ciências de professores de
química: a mídia e as reflexões no
ambiente escolar no nível médio de
ensino. Química Nova, v. 31, n. 7, p. 18751880, 2008
“Nivea
lança
primeiro
desodorante
masculino que reduz a ação das bactérias
causadoras do mau odor.” Disponível em:
<http://www.guiadaembalagem.com.br/noti
cia_1816> Acesso em: 23 jun 2011.
Nivea For Men Silver Protect TV ad 2009
30sec
advert.
Disponível
em:
<http://www.youtube.com/watch?
v=UWlrge4g_kA>. Acesso em: 23 jun
2011.
ANEXO
Nivea lança primeiro desodorante
masculino que reduz a ação das bactérias
causadoras do mau odor
14
Formulado a partir de moléculas de
prata, produto garante proteção e
refrescância por muito mais tempo.
A NIVEA incrementa a linha de
desodorantes masculinos com o lançamento
de NIVEA Deodorant Silver Protect,
primeiro item do mercado brasileiro de
higiene pessoal formulado a partir de
moléculas de prata (Ag+). Esse tipo de
componente reduz a ação e a proliferação
das bactérias responsáveis pelo mau odor
nas axilas, oferecendo cuidado e conforto
ainda mais eficaz por até 24 horas.
Durante o processo de transpiração,
bactérias presentes na região das axilas se
alimentam do suor produzido, liberando
toxinas que caracterizam o mau odor. Na
fórmula de NIVEA Deodorant Silver Protect
as moléculas de prata (Ag+) atingem as
células
bacterianas,
inibindo
sua
proliferação e consequente liberação do mau
cheiro.
O
produto
possui
ação
antiperspirante, reduzindo o volume de
sudorese, fonte de alimento das bactérias.
Além disso, o desodorante promove
sensação de refrescância por muito mais
tempo.
Outros segmentos de mercado já
fizeram uso das moléculas de prata para
inibir a ação das bactérias. A tecnologia foi
adotada no desenvolvimento de roupas
esportivas, eletrodomésticos - máquina de
lavar e geladeiras - e materiais de primeiros
socorros. ''Durante o desenvolvimento do
produto pesquisamos componentes com
ação comprovada no combate às bactérias.
Hoje, somos a primeira empresa do setor a
fazer uso da molécula de prata na fórmula
de um produto de higiene pessoal'', destaca
Maria Laura Santos, diretora de Marketing
da NIVEA.
A fragrância do novo desodorante
possui notas cítricas e energizantes,
essencialmente masculinas. Recomendado
para todos os tipos de pele, NIVEA
Deodorant Silver Protect está disponível nas
versões aerosol e roll on. Sua fórmula é livre
de álcool, corantes ou conservantes,
ingredientes que podem provocar eventuais
irritações. Dermatologicamente testado.
''Proteção e fragrância são dois atributos
muito valorizados pelo homem na escolha
do desodorante. Para tanto, fórmulas
inovadoras e alinhadas com suas
necessidades fazem a diferença na decisão
de compra'', comenta Maria Laura.
SAC da NIVEA: 080077 NIVEA ou
08007764832
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO
1) Quanto ao caráter metálico o elemento
químico prata (Ag) é classificado como:
a) ametal
b) metal
15
c) semimetal
d) nenhuma das respostas anteriores
2) Uma substância iônica tem origem na
interação entre:
a) metal e metal
b) metal e ametal
c) ametal-ametal
d) nenhuma das respostas anteriores
3) Uma substância metálica tem origem na
interação entre:
a) metal-metal
b) metal-ametal
c) ametal-ametal
d) nenhuma das respostas anteriores
4) O tipo de ligação química menos comum
ao elemento químico prata (Ag) é:
a) iônica
b) metálica
c) covalente
d) nenhuma das respostas anteriores
5) Átomos do elemento químico prata (Ag)
realizam entre si ligação química do tipo:
a) iônica
b) metálica
c) covalente
d) nenhuma das respostas anteriores
6) A prata é uma substância constituída por:
a) moléculas formadas por átomos do
elemento químico prata
b) moléculas formadas por íons do elemento
químico prata
c) átomos do elemento químico prata.
d) nenhuma das respostas anteriores
7)A ligação química que caracteriza a
formação das moléculas é:
a) iônica
b) metálica
c) covalente
d) nenhuma das respostas anteriores
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1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES