Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão
de Pequenas Empresas - 2012
Pensar-Fazer o Mundo: uma análise sobre a
atuação da Associação Comunitária da Fazenda
Barreira do Tubarão - COMFUTURO e Cooperativa
de Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia COOAFAN, Heliópolis, Bahia
Aline Oliveira Silva Rosário
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
[email protected]
Florianópolis - Março/2012
Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo
e Gestão de Pequenas Empresas - 2012
Pensar-Fazer o Mundo: uma análise sobre a atuação da Associação
Comunitária da Fazenda Barreira do Tubarão – COMFUTURO e
Cooperativa de Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia COOAFAN, Heliópolis, Bahia
Resumo
Trata-se de uma análise sobre a atuação da Associação Comunitária da Fazenda Barreira do
Tubarão - COMFUTURO e da Cooperativa de Agricultores do Nordeste da Bahia COOAFAN, tendo como área de estudo o município de Heliópolis, Bahia, com o objetivo de
descrever e compreender iniciativas que possibilitam o uso de práticas produtivas para o
desenvolvimento local sustentável. Apresenta histórico, caracterização, projetos, parcerias e
problemas específicos da experiência dos empreendimentos solidários. Tal experiência reflete,
por um lado, a necessidade de fundar uma concepção de uso integrado dos recursos com
novas práticas sobre as relações sociedade-natureza, viabilizando geração de renda e melhoria
na condição de vida das famílias envolvidas sem exploração do trabalho e agressão ao meio
ambiente. Por outro lado, constata-se o descaso do Poder Público Municipal, quanto à
realidade social de famílias rurais e redistribuição solidária de renda.
Palavras-chave: Desenvolvimento Local Sustentável. Cooperativa. Associação. Racionalidade
Produtiva. Geração de Renda.
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Introdução
À medida que o país se democratiza e os grupos sociais se organizam para pressionar pela
solução dos problemas que mais afetam suas vidas, as questões da distribuição de renda e
da pobreza absoluta começam a ganhar uma perspectiva cada vez mais política e menos
ligada exclusivamente à questão do crescimento econômico, como foram tratadas no
passado. (Camargo e Giambiagi, 1991, p.18).
Na década de 90 observa-se uma crescente discussão sobre um modelo de
desenvolvimento que se preocupe com a conservação do meio ambiente. A irracionalidade do
sistema vigente capitalista permite que o desenvolvimento promova também uma série de
problemas e contradições que provocam profundas transformações na natureza, o
agravamento de aparições de desigualdade e segregação, racismo etc.
Grupos sociais iniciam uma trajetória de manifestações individuais e coletivas no
sentido de conscientizar pessoas para a construção de uma racionalidade produtiva que
possibilite a reorientação das práticas produtivas para um desenvolvimento sustentável, por
uma sociedade mais justa, solidária e sustentável. Estas considerações defendem a
necessidade de fundar uma concepção de uso integrado dos recursos com novas práticas sobre
as relações sociedade-natureza.
Segundo Leff (2007, pg. 63), a construção dessa nova realidade produtiva requer, além
de um conjunto de condições econômicas e políticas, um trabalho teórico e uma elaboração de
estratégias conceituais que apóiem práticas sociais orientadas a construir esta racionalidade
produtiva para alcançar os propósitos do desenvolvimento sustentável e igualitário.
O objetivo deste trabalho consiste na descrição e análise da realidade observada na
Associação Comunitária da Fazenda Barreira do Tubarão – Comfuturo e na Cooperativa de
Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia - COOAFAN, localizadas a 16 quilômetros da
sede do município de Heliópolis, Bahia, no intuito de apresentar iniciativas que vêm
impactando de forma positiva para o desenvolvimento local sustentável daquela região.
Percebe-se na atuação desses empreendimentos solidários, práticas que apóiam o uso
integrado dos recursos. Utiliza-se como base referencial teórica pesquisadores como Sachs,
Leff, Santos, Singer, Capra, Colombo, Freire, que discutem uma nova perspectiva de
desenvolvimento, através da cooperação, solidariedade e em respeito à natureza.
As transformações sócio-espaciais decorrentes dessas entidades geram novas
dinâmicas que materializam no espaço o jogo de interesses e de intervenções econômicas. O
reflexo dessas disputas de poder no espaço é produto do fenômeno humano que segundo
Santos (1985, p.01) é dinâmico e uma das formas de revelação desse dinamismo está
exatamente, na transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado.
Para o desenvolvimento desse trabalho foi realizado levantamento de trabalhos
científicos sobre a temática do desenvolvimento sustentável (teses, livros e artigos em revistas
especializadas), procurando entender as razões históricas e sociais do surgimento dessas
experiências. Utilizou-se também pesquisa documental sobre os empreendimentos solidários,
procurando apresentar quem são essas organizações e quais as principais estratégias de
desenvolvimento sustentável adotadas.
Como trabalho de campo foram realizadas entrevistas com o presidente da
COOAFAN, Evandro Peixinho Cruz, e com moradores da região abrangida pelas instituições
analisadas com a finalidade de compreender como foram formadas as experiências, apontando
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as dificuldades iniciais, processo de crescimento, os problemas atuais e as expectativas para o
futuro. Pode-se dizer que a pesquisa de campo é de grande relevância nesses estudos, pois
permite apreender de maneira sistêmica, as partes que compõem o todo que segundo Capra
(1996, p.48) “...é muito mais que a soma das partes...”.
O foco desse trabalho são empreendimentos solidários localizados no município de
Heliópolis, Bahia, que nos últimos anos, vem apresentando ações capazes de transformar a
realidade socioeconômica da microrregião, passando por um processo de (re)organização
espacial. Dentro desse contexto, nota-se que existe uma nova inserção de atividades
econômicas no espaço municipal, materializadas através das formas de intervenções públicas
e privadas que se iniciam no município.
O município de Heliópolis foi criado por força da Lei Estadual de 11 de abril de 1985,
situa-se a aproximadamente 300 quilômetros da capital baiana e possui uma população
aproximada de 14.713 habitantes (Fonte: IBGE, 2009). O município de Heliópolis integra o
território de identidade semi-árido Nordeste II. A agricultura familiar é dedicada em maior
proporção à agricultura de subsistência, centrada na plantação de milho e feijão e na criação
de bovino, permitindo perceber uma baixa qualidade de vida nas populações rurais.
O diagnóstico inicial, por si só, já demonstra a carência do município de políticas
públicas em diversas áreas, tais como agricultura, educação, meio ambiente, saúde, habitação,
saneamento básico, segurança, enfim nas questões de necessidades básicas da população. Para
atingir uma economia em nível nacional ou até mesmo mundial mais eficiente e equitativa,
precisa-se dar atenção aos territórios nessas condições, onde os índices como IDS (índice de
desenvolvimento social) e IDH-M (índice de desenvolvimento humano - municipal) estão
entre os piores do Estado. A existência de um clima de cooperação e solidariedade entre as
pessoas e organizações, seja em nível local, regional ou mundial poderá fortalecer as políticas
econômicas para o desenvolvimento sustentável.
Daí a relevância dos atores sociais na criação de associações e/ou cooperativas para a
comercialização de produtos das unidades familiares, fortalecendo a renda das famílias
envolvidas na produção da localidade, de maneira a promover a democracia e o
desenvolvimento local sustentável.
O trabalho está dividido em tópicos. O primeiro aborda questões sobre o
desenvolvimento local sustentável. O segundo apresenta dimensões do desenvolvimento local
sustentável. O terceiro descreve a caracterização e histórico da Associação Comunitária da
Fazenda Barreira do Tubarão – COMFUTURO e da Cooperativa de Agricultores Familiares
do Nordeste da Bahia - COOAFAN. O quarto descreve os projetos e as parcerias. O quinto
discorre sobre os problemas específicos da experiência. As conclusões realizadas abordam as
contribuições dessas instituições para a promoção do desenvolvimento local sustentável.
1 Desenvolvimento Local Sustentável
O modelo de desenvolvimento do mundo contemporâneo baseado no consumo e na
competição, denominado economia de mercado, propicia crescente desigualdade social e
escassez dos recursos naturais. Essa desordem contemporânea vem gerando a necessidade de
criação de outros modelos de desenvolvimento que viabilizem um crescimento econômico
menos “selvagem” e mais sustentável, pregando a igualdade, as relações de parcerias,
respeitando a diversidade e implementando o aproveitamento integrado dos recursos, o qual
poderá induzir ao “consumo responsável” tratado por Gadotti (2007), quando fez referência a
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Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Conscientização
Pública para a Sustentabilidade, realizada pela Unesco em 1997.
Percebe-se a importância da educação para uma coletiva conscientização da
transformação dessa realidade econômica capitalista numa economia baseada na cooperação,
solidariedade e na relação homem-natureza. A educação para uma vida sustentável baseia-se
na reorientação do modo de viver das pessoas e na alfabetização ecológica das crianças,
garantindo o alcance da educação em todos os níveis. Capra (2002) discorre sobre o
desenvolvimento de um sistema de educação para a vida sustentável, baseado na alfabetização
ecológica, realizado no Centro de Eco-Alfabetização (Center for Ecoliteracy), em Berkeley.
Esse sistema envolve uma pedagogia cujo centro mesmo é a compreensão de o que é a
vida; uma experiência de aprendizado no mundo real (plantar uma orta, explorar um divisor
de águas, restaurar um mangue), que supera a nossa separação em relação à natureza e cria
de novo em nós uma noção de qual é o lugar a que pertencemos ; e um currículo no qual as
crianças aprendem os fatos fundamentais da vida. (CAPRA, 2002, p.240)
Gadotti (2007, pg.70) comenta que chegou à educação para o desenvolvimento
sustentável através da Carta da Terra, citando que para Mikhail Gorbachev, presidente da
Cruz Verde, a Carta de Terra é o “terceiro pilar” do desenvolvimento sustentável, quando o
primeiro pilar é a própria Carta de fundação das Nações Unidas e o segundo é a Declaração
dos Direitos Humanos. Gadotti também afirma que os princípios e valores da Carta da Terra
podem servir de base para a criação de um sistema global de educação, uno e diverso, sob a
coordenação da UNESCO, que poderá colocar uma base humanista comum para os sistemas
nacionais de educação.
O termo “desenvolvimento sustentável” começa a ser desenvolvido em 1987, no
Relatório de Brundtland, e manifestado pela opinião pública na Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rio-92. Na contemporaneidade esse termo
vem sendo articulado na iminência de um novo paradigma ou paradigma alternativo, onde o
crescimento econômico dar-se-á simultâneo ao crescimento do bem-estar social, com a
expectativa de melhoria na condição de vida das futuras gerações.
...temos que reconhecer as disparidades e desequilíbrios crescentes, e a distribuição de
renda distorcida em quase todos os “países em desenvolvimento”. Opostamente às
estratégias de crescimento insustentáveis – por razões morais e ambientais – o paradigma
alternativo deverá satisfazer às necessidades básicas de todas as pessoas e não apenas de
minorias privilegiadas; em todos os lugares e não apenas em pólos de crescimento
selecionados; e como um processo contínuo ao invés da expansão e da contração cíclicas
das economias de mercado contemporâneas. Além do mais, deverá satisfazer as
necessidades atuais das pessoas sem deteriorar as perspectivas das gerações futuras (...) ou
produzir riscos e conseqüências intoleráveis. (RATTNER,1992,p.59)
Colombo (2004, pg.66) aborda esse novo paradigma impondo ser necessária a procura
de desenvolvimento em que o ser humano não seja o outro em relação à natureza e sim que
sejam todos um só.
2 Dimensões do Desenvolvimento Local Sustentável
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, citado por
Brose (2000, p. 84), define quatro dimensões do desenvolvimento local sustentável que
devem nortear a escolha das estratégias a serem utilizadas nos municípios na busca do bem3
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estar da população, através do melhor aproveitamento dos recursos locais na estruturação de
condições sustentáveis para o crescimento econômico, a seguir:
Pessoas – Inclusão das mulheres; Acompanhamento do crescimento
populacional; Participação popular. Instituições – Democratização do acesso
a terra; Fomento à administração rural; Apoio ao cooperativismo.
Conhecimento – Fomento à pesquisa e a tecnologia; Ampliação da extensão
rural; Democratização no acesso à educação; Qualificação dos meios de
comunicação. Meio Ambiente – Melhoria no acesso à informação;
Qualificação dos processos de formulação, planejamento e gestão das
políticas; Geração de energia.
Para o presente trabalho foi realizada uma pesquisa de campo na Associação
Comunitária da Fazenda Barreia do Tubarão - COMFUTURO e na Cooperativa de
Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia - COOAFAN, no intuito de analisar as
contribuições dessas instituições para a melhoria da qualidade de vida da população local,
explicitando algumas dimensões da FAO.
3 Caracterização e Histórico das Instituições
Na microrregião de Heliópolis, numa conjuntura de desolação e abandono dos poderes
públicos aos moradores das comunidades rurais, que viviam isolados sem troca de
experiência, observando a migração de mais de cinquenta por cento da população jovem para
o Estado de São Paulo, em busca de emprego e praticando uma agropecuária de subsistência,
centrada na plantação de milho e feijão e na criação de bovino, surge através de uma família,
cuja mãe era professora, catequista e promovia alguns momentos culturais e festivos na
comunidade, a ideia de fundar uma associação.
Em 06 de julho de 1996 foi fundada a Associação Comunitária da Fazenda Barreira do
Tubarão – COMFUTURO, uma sociedade civil sem fins lucrativos, de utilidade pública
Municipal e Estadual, na época com dezesseis sócios. Foi estabelecida com os seguintes
objetivos: Identificar as necessidades e problemas dos pequenos agricultores e buscar
soluções; Promover a produção, o transporte, o armazenamento, o beneficiamento, a
industrialização, a comercialização, a assistência técnica e outros serviços necessários à
geração de renda dos associados; Viabilizar o desenvolvimento econômico, social, cultural,
educacional, ambiental e político-organizacional das famílias da área de abrangência da
mesma; Integrar-se em ações semelhantes a outras entidades, órgãos, empresas ou pessoas,
para ampliar suas ações e promover a inclusão e atualização total dos envolvidos e dos que
venham a se envolver.
Após fundar a associação, a diretoria junto com as famílias envolvidas, elaboraram
um planejamento comunitário, diagnosticando problemas, apontando soluções e planejando
ações. Entre as ações planejadas, cabe ressaltar, o surgimento de um projeto, idealizado para
promover o desenvolvimento local sustentável, o Projeto Nordeste Vida. Nordeste Vida
tornou-se também à marca dos produtos produzidos pelos associados.
Entre os anos de 1996 e 2004, a Associação conseguiu alcançar muitos dos seus
objetivos, tais como, sede própria, estrutura de beneficiamento de mel, estrutura para
desenvolvimento de várias ações educativas, econômicas e sociais, banco de sementes,
implantação do projeto de investimento, salão de eventos, equipamentos de apicultura,
caminhão com forrageira, aquisição de 45 colmeias coletivas, liberação do SIF etc.
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Em 2006, diante do crescimento das ações socioambientais e de uma estrutura física
favorável, fundou-se, por intermédio da COMFUTURO, a COOAFAN - Cooperativa de
Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia, a fim de centralizar as atividades comerciais
dos produtos produzidos pelas famílias associadas à COMFUTURO, gerando uma relação de
parceria entre ambas, em relação ao desenvolvimento das suas atividades.
Hoje, cada vez mais famílias vão se associando para se beneficiarem dos resultados e
para ajudar a alcançarem juntos os objetivos traçados. A sede da COMFUTURO e seus
espaços tem sido referência na região, pois são nestes espaços que acontecem as realizações e
manifestações sociais, educacionais, culturais, religiosas e comemorativas das comunidades
abrangentes.
4 Projetos e Parcerias
Após conseguir o patrocínio da Petrobras através de uma seleção pública de projetos
do programa, na época Petrobras Fome Zero e atualmente Desenvolvimento & Cidadania
Petrobras, surge o Projeto Aprender e Fazer para Ser. Para alcançar maiores resultados, o
projeto conquistou outras parcerias e apoios, o que fez aumentar seu impacto como um
projeto revolucionário, atuando em áreas que permitem a promoção do desenvolvimento local
sustentável, a seguir:
• Educação e Capacitação – Capacitação de pessoas em informática
contextualizada; Realização de cursos e oficinas na área de qualificação e
cultura; Confecção e distribuição de apostilas; Biblioteca comunitária; Inclusão
do jovem rural no mundo digital; Confecção e distribuição de cartilhas com
receitas e dicas sobre remédios naturais e alimentação alternativa; Acolhimento
de estagiários de escolas agrotécnicas; Apoio nas atividades escolares de
estudantes, com pesquisas, elaboração de atividades e impressões.
• Segurança Alimentar e Saúde – Oferta de cursos sobre alimentação alternativa,
sobre remédios naturais caseiros e sobre beneficiamento de frutas; Criação do
horto comunitário com mais de 50 espécies de plantas medicinais; Distribuição
de mel em sachê para famílias, crianças e adolescentes; Distribuição de lanches
e refeições; Elaboração e distribuição de multi-misturas e remédios naturais
caseiros; Acompanhamento nutricional de crianças e gestantes da região, pela
parceria com a Pastoral da Criança e ACS, quando houve também a aquisição
de balanças, medidores de pressão e outros equipamentos necessários.
• Esporte e Cultura – Em parceria com o Programa 2° Tempo desenvolveu
atividades esportivas com crianças, adolescentes e jovens; Aquisição de
chuteiras, materiais e uniformes completos para as práticas esportivas;
Promoveu vários eventos esportivos, tais como feiras de jogos, campeonatos,
torneios etc.; Realização de Oficinas de arte cênica e apoio ao grupo de jovem
local; Promoção de eventos culturais e apoio as atividades da cultura junina.
• Geração de Renda – Beneficiamento de frutas; Viveiro de mudas frutíferas e
nativas silvestres; Artesanato; Reciclagem de papel e arte gráfica;
Beneficiamento de mel e castanha.
• Meio Ambiente – Reciclagem de todo papel utilizado na entidade; Artesanato
orgânico e de materiais reciclados; Promoção do reflorestamento com
distribuição gratuita de mudas; Oferta de cursos sobre aproveitamento e
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tratamento de água; Palestras sobre meio ambiente com temas diversos;
Reforço das ações com parceria do grupo JAC e Escolas; Reservatórios
coletores de água da chuva com capacidade de 90.000 litros; Reciclagem de
embalagens de alimentos coletadas nas casas das famílias e reaproveitadas no
plantio de mudas no viveiro.
Em relação à estrutura foi possível conquistar: cozinha comunitária equipada para
várias atividades, laboratório de informática com internet, dormitórios para 20 pessoas, minibeneficiadora de frutas, sala e equipamentos para artesanato e arte gráfica, viveiro para 15.000
mudas, auditório, ponto de comercialização dos produtos e equipamentos de Áudio e Vídeo
com projetor.
Além das atividades proporcionadas pelo Projeto Aprender e Fazer para Ser, outras
atividades foram desenvolvidas e aperfeiçoadas através do desenvolvimento de outros
programas, como o Nordeste Vida (voltado para a apicultura), o Segundo Tempo (voltado
para a prática e esportes e lazer) e Ser mais Cidadão (voltado para firmar parcerias, que
apóiem as atividades socioculturais e ajudem na manutenção da COMFUTURO).
A partir da COOAFAN foi possível contar com a estruturação da casa do mel, da
unidade de fabricação de sachê, da unidade de beneficiamento de cera e aquisição de um
caminhão.
A COMFUTURO e a COOAFAN também participam da Bodega de Produtos
Sustentáveis do Bioma Caatinga, da Articulação Nacional de Organizações de Produtores (as)
Familiares no Comércio Justo e Solidário e da ECOJUS Brasil – Associação Brasileira de
Empreendimentos do Comércio Justo e Solidário, onde o principal objetivo nessa parceria é
produzir, vender e consumir com responsabilidade e sustentabilidade, preservando o meio
ambiente e ao mesmo tempo gerando desenvolvimento e cidadania.
Atualmente, a COOAFAN obtém convênio com o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),
desenvolvido pela CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, onde o MDS adquire
os produtos da cooperativa mediante compra com doação simultânea.
5 Problemas Específicos da Experiência
O interesse individual, quando se sobrepõe, acaba interferindo na finalidade do
coletivo. Pessoas que não estejam convictas dos valores precípuos do associativismo,
baseados em princípios como liberdade, democracia e solidariedade, tendem a desvirtuar a
lógica essencial do comércio justo e solidário de reinvestir socialmente as receitas e proveitos
realizados em prol de todos os associados e da população, gerando renda e melhorando a
condição de vida das famílias envolvidas sem exploração do trabalho e agressão ao meio
ambiente.
O descaso do poder público local é outro problema constatado. Muitos gestores não
têm ainda a visão do desenvolvimento local promovido por instituições como cooperativas e
associações. Percebe-se, também, que a desvinculação com a política, como um dos
princípios da concepção das associações e cooperativas, prejudica as relações de parceria com
o município. Em outras palavras, é triste constatar que os gestores nos rincões mantêm o
interesse da dependência plena das Prefeituras e Câmaras Municipais. O interesse é perpetuar
a entrega de parcas benesses em troca do voto, no momento da eleição. Outra questão é a
valorização da imagem de pessoas que estão à frente desses trabalhos no âmbito político. Em
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microrregiões, como Heliópolis, a rivalidade política é muito intensa e pessoas que possam
representar alguma vantagem de imagem são retaliadas.
A baixa instrução das pessoas que não vislumbram a geração de renda, confundindo os
objetivos de associação e cooperativa com emprego. Buscam, na verdade, carteira de trabalho
assinada. As pessoas dessas localidades não se permitem entender que não há, e
provavelmente nunca haverá emprego para todos os ativamente produtivos. Por isso, deveria
o Poder Público contribuir para o fortalecimento da cultura da geração de renda através dos
inúmeros e sérios organismos não governamentais, a exemplo de associações, cooperativas
etc.
As dificuldades financeiras e de deslocamento enfrentadas pela distância dos centros
urbanos, locais em que estão instaladas, na sua grande maioria, instituições capazes de
qualificar os cidadãos associados, impõe severas limitações no gerir, criar, estimular, enfim,
difundir ações que tenham o poder de cooptar associados verdadeiramente comprometidos
com a GERAÇÃO DE RENDA. A não obtenção de novas técnicas e conhecimentos acaba
por desestimular pessoas que poderiam, através de sua próprias ações, mudar o rumo da
história.
Considerações Finais
Diante dos parâmetros aferidos é lícito dizer que o êxito dos projetos desenvolvidos
depende muito da habilidade e flexibilidade das pessoas que executam as ações cotidianas e
do respaldo político de que desfrutam. Assim, no âmbito do desenvolvimento local, a
continuidade de projetos e programas como os propiciados pela COMFUTURO e COOAFAN
dependem de pessoas verdadeiramente comprometidas e do incentivo do governo.
As quatro dimensões do desenvolvimento sustentável, segundo estabelecido pela
FAO, podem ser percebidas no contexto das atividades desenvolvidas. A organização da
população das comunidades envolvidas em torno de atividades que proporcionam o
suprimento de necessidades sociais locais, o desenvolvimento de material informacional
distribuído gratuitamente, o surgimento da cooperativa para fins comerciais, a preocupação
com o meio ambiente demonstrada no âmbito educacional e na prática ambientalista, a
inclusão da mulher em atividades socioambientais e nas tomadas de decisões, a
democratização no acesso à educação, a geração de renda fortalecida por meio da apicultura,
entre outros, são exemplos de ações que promovem o desenvolvimento local sustentável.
Por meio da comercialização de seus produtos de forma justa e solidária fica evidente
o fortalecimento de princípios da economia solidária. Contudo, para concorrer com igualdade
no mercado para a comercialização dos produtos, faz-se necessário o apoio do poder público.
A economia solidária é outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade
coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual. A aplicação desses
princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são
possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica. O resultado
natural é a solidariedade e a igualdade, cuja reprodução, no entanto, exige mecanismos
estatais de redistribuição solidária da renda. (SINGER, 2002)
Na atual conjuntura, a COMFUTURO tem passado por dificuldades, principalmente
em relação às parcerias necessárias para a manutenção da entidade. O poder público local não
tem contribuído e recentemente foi recusado um financiamento pré-aprovado, devido ao não
cumprimento da contrapartida que deveria ter sido honrada pelo Poder Público Municipal.
Essas dificuldades desestimulam as pessoas que estão à frente dos trabalhos, provocando
incertezas em relação à continuidade das ações sociais que vêm beneficiando as comunidades
rurais envolvidas.
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A análise desenvolvida nas instituições permite verificar a história de pessoas que
vem se mobilizando para a transformação da realidade social de famílias rurais, promovendo
geração de renda e melhoria da condição de vida.
Colombo (2004, p.57) comenta sobre a necessidade de mudar os paradigmas
existentes relacionados ao desenvolvimento para modelos que possibilitem outras formas de
pensar-fazer o mundo. Nesse sentido, relacionando a articulação de grupos informais,
cooperativas, associações, entre outros, para a produção e comercialização de diversos
produtos frescos do campo, estimulando a participação popular, qualificando e gerando renda
para as pessoas envolvidas, sem agressão ao meio ambiente, percebe-se que essa forma de
pensar-fazer o mundo é possível e depende principalmente de princípios como a
solidariedade, igualdade, cooperação e respeito mútuo, incluindo o respeito à natureza.
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Think-Make the World: an analysis of the role of the Community Association of Finance
Barrier Shark - COMFUTURO and Family Farmers Cooperative Northeast of Bahia COOAFAN, Heliopolis, Bahia
Abstract
This is an analysis on the performance of the Community Association of Finance Barrier
Shark - COMFUTURO Farmers Cooperative and Northeast of Bahia - COOAFAN, with the
study area the city of Heliopolis, Bahia, in order to describe and understand initiatives that
allow the use of production practices for sustainable local development. Presents history,
characterization, projects, partnerships and specific problems of practice in collaborative
enterprises. This experience reflects, firstly, the need to establish a concept of integrated
resource use with the new practices on the relationship between society and nature, allowing
for income generation and improvement in living conditions of the families involved and
work without exploitation of aggression to the environment. Moreover, there is the neglect of
the municipal government, the social reality of rural families in solidarity and redistribution of
income.
KeyWords: Sustainable Local Development. Cooperative. Association. Productive rationality.
Income Generation.
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