Ana Luisa Alves Cordeiro
Onde estão as Deusas?
Asherah, a Deusa proibida, nas linhas e
entrelinhas da Bíblia
São Leopoldo/RS
2011
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Autoria: Ana Luisa Alves Cordeiro
Arte da Capa: Samuca Mendonça
Diagramação e Arte-Finalização: Rogério Sávio Link
ISBN 978-85-7733-129-1
C794o
Cordeiro, Ana Luisa Alves
Onde estão as Deusas? Asherah, a
Deusa proibida, nas linhas e entrelinhas
da Bíblia / por Ana Luisa Alves Cordeiro.
— São Leopoldo : CEBI, 2011.
82 p. : il. ; color.
ISBN 978-85-7733-129-1
1. Divindade - Sagrado. 2. Deusa Asherah. 3. Bíblia. I. Título.
CDU 291.21
Catalogação na Publicação: Bibliotecária Eliete Mari
Doncato Brasil - CRB 10/1184
Entrelinhas
Debruço-me sobre textos que não são meus
Atenta às entrelinhas que deixam escapar o que não deviam
E diante da proibição e negação desvendo véus
Extasio-me ao encontrar o que alguém escondia
Mulher, em tudo simplesmente mulher
Mesmo quando tentam me fazer cativa
Escancaro as janelas e me mostro mulher
E grito, não, eu canto libertina
Cativa ou liberta, silenciada ou silenciosa
Reinvento e transgrido o que não devia
Pois por essência preciso ser eu mesma
Visto que isso me é uma questão de vida!
(Ana Luisa Alves Cordeiro)
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Sumário
Apresentação ........................................................................ 9
Introdução ........................................................................... 13
Por que pesquisar e falar sobre as Deusas? ..................... 17
As Deusas nas linhas e entrelinhas da Bíblia ................... 23
Em memória delas .............................................................. 65
Conclusão ............................................................................ 71
Anexo - Os períodos arqueológicos da Palestina
(Do Neolítico até a Idade do Ferro) .............................. 73
Referências ......................................................................... 75
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Índice de ilustrações
Figura 1 – Jarro do Templo do Fosso de Laquis ............... 38
Figura 2 – Inscrição protocananeia sobre o jarro do
Templo do Fosso em Laquis .......................................... 38
Figura 3 – Pingente ugarítico ............................................. 39
Figura 4 – Estatuetas judaítas de pilar feitas de
cerâmica representando Deusas da fertilidade ............ 39
Figura 5 – Pedestal de culto de Tanac ............................... 40
Figura 6 – Pinturas e inscrições sobre um pithos em
Kuntillet ‘Ajrud .............................................................. 42
Figura 7 – Pintura egípcia do túmulo do faraó
Tutmósis III .................................................................... 43
Figura 8 – Pintura de árvore sagrada flanqueada
por leões ......................................................................... 43
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Apresentação
É
com muita alegria que lhes apresentamos este
trabalho de Ana Luisa. Embora seja do Estado
do Mato Grosso do Sul, tive a graça de conhecê-la num
encontro de estudos bíblicos quando ela morava em Porto
Alegre. Ainda em 2003, em Sapucaia do Sul, estivemos
juntos novamente para olhar mais de perto, na Bíblia, a
situação da mulher em meio aos pobres. Ali, entre outras
questões, analisamos a presença de Asherah, a Deusa-Mãe
na Sagrada Escritura. Vimos como ela foi cultuada ao
lado de Javé desde as origens de Israel até o exílio
babilônico, em meados do séc. VI a.C. Depois, com a
imposição do monoteísmo patriarcal no pós-exílio, o
culto à Deusa foi banido, censurado e demonizado na
Bíblia Hebraica, canonizada pelo clero exclusivamente
masculino do templo reconstruído.
Por ocasião daqueles nossos encontros bíblicos,
havia ainda poucos escritos em português a respeito da
Deusa-Mãe. E recordo que, já naquele momento, Ana
Luisa estava decidida a fazer sua pesquisa sobre a
presença de Asherah no antigo Israel e no Primeiro
Testamento. Ela havia percebido que a memória da
Deusa-Mãe seria uma força imensa na reconstrução de
uma linguagem mais inclusiva e de novas relações, ainda
tão desiguais em nosso meio, seja no campo social,
eclesial ou ambiental.
E assim fez. Foi a Goiânia estudar Teologia e fazer
Mestrado em Ciências da Religião. Em ambos os cursos,
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seu foco foi o estudo a respeito de Asherah. Além da
monografia e da dissertação, já escreveu outros artigos
sobre a Deusa-Mãe. E agora está em suas mãos mais esta
contribuição, que é seu trabalho de conclusão do
Mestrado com um novo rosto.
Por um lado, estamos convictos de que as
descobertas de Ana Luisa nos ajudam a avançar no
equilíbrio entre o feminino e o masculino na nossa
experiência com o Sagrado, na nossa espiritualidade e,
consequentemente, em nossas atitudes, pois nossos atos
são reflexos de nossa mística, de nossa experiência mais
profunda. Assim, contribuiremos na superação de todas
as formas de discriminação e violência, não só contra as
mulheres, mas também contra as pessoas que vivem
outras formas de masculinidade e feminilidade.
De outro lado, a leitura feminista libertadora a
respeito da presença da Deusa-Mãe no antigo Israel
proposta aqui por Ana Luisa não é somente tarefa para
as mulheres. É também missão para os homens que, aos
poucos, estamos nos libertando da cultura patriarcal da
qual também somos vítimas. Embora as mulheres sejam
as mais violentadas pelo patriarcado, também os homens
somos vitimados por ele na medida em que esse sistema
nos desumaniza. Não é verdade, por exemplo, que
homem não pode chorar. Desde criança, mata-se nele esse
dom da sensibilidade. O mesmo vale para a emoção, a
ternura, a compaixão, o senso de justiça, de não violência,
etc.
Ana Luisa convida-nos a não fazer meramente uma
descoberta intelectual da presença de Asherah na Bíblia.
Sua preocupação básica é vital. Está persuadida de que
a memória da Deusa-Mãe em Israel permite ir à Bíblia
como ferramenta para tomarmos consciência das
estruturas de exclusão presentes no próprio texto, bem
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