Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta Coordenação A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Coordenação Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro 2014 FCT (PTDC/EAT-HAT/112229/2009) ISBN: 978-989-99192-0-4 Coordenação (Universidade Nova de Lisboa) Isabel M. G. Mendonça ISBN: 978-85-87145-60-4 Hélder Carita (Universidade Federal Marize Malta do Rio de Janeiro) A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Design gráfico: Atelier Hélder Carita Secretariado: Lina Oliveira Tiago Antunes Edição conjunta Instituto de História da Arte (IHA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ISBN: 978-989-99192-0-4 Escola de Belas Artes (EBA) – Universidade Federal do Rio de Janeiro ISBN: © Autores e IHA Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são da inteira responsabilidade dos seus autores. Depósito legal: 383142 / 14 Tipografia: Norprint Tiragem: 300 exemplares LISBOA – RIO DE JANEIRO 2014 Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projecto com a referência EAT-HAT.112229.2009. ÍNDICE MECENAS E ARTISTAS. VIVÊNCIAS E RITUAIS 18 Cátia Teles e Marques Os paços episcopais nos modelos de representação protagonizados por bispos da nobreza no período pós-tridentino em Portugal 44 Daniela Viggiani “L’ Abecedario Pittorico” de Pellegrino Antonio Orlandi 64 Celina Borges Lemos André Guilherme Dornelles Dangelo Solar “Casa Padre Toledo”: o bem cultural como uma conjunção ritualística de espaços e tempos limiares 86 Miguel Metelo de Seixas O uso da heráldica no interior da casa senhorial portuguesa do Antigo Regime: propostas de sistematização e entendimento ARQUITECTURA, ESTRUTURAS E PROGRAMAS DISTRIBUTIVOS 112 Isabel Soares de Albergaria O Palácio dos Câmara “aos Mártires” – um caso excecional da opulência seiscentista 134 João Vieira Caldas Maria João Pereira Coutinho O Nome e a Função: Terminologia e Uso dos Compartimentos na Casa Nobre Urbana da Primeira Metade do Século XVIII 190 Hélder Carita O Palácio Ramalhete, nas Janelas Verdes: uma tipologia de palacete pombalino 208 Ana Lúcia Vieira dos Santos Formas de morar no Rio de Janeiro do século XIX: espaço interior e representação social ÍNDICE 7 224 Mariana Pinto da Rocha Jorge Ferreira Tiago Molarinho Antunes O Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira: análise do conjunto edificado 248 José Pessôa Padrões distributivos das casas senhoriais no Rio de Janeiro do primeiro quartel do século XIX 272 José Marques Morgado Neto As Casas Senhoriais da Belém colonial entre os séculos XVIII e XIX: sob a perspectiva dos relatos de viajantes, da iconografia da época e da remanescência no centro histórico da cidade 292 Gustavo Reinaldo Alves do Carmo O Palácio das Laranjeiras e a Belle Époque no Rio de Janeiro (1909-1914) 318 Patrícia Thomé Junqueira Schettino Celina Borges Lemos “O Palacete Carioca”. Estudo sobre a relação entre as transformações da arquitetura residencial da elite e a evolução do papel social feminino no final do século XIX e início do século XX no Rio de Janeiro 338 Felipe Azevedo Bosi Palácio Isabel: o Palácio do Conde e Condessa d’Eu no Segundo Reinado brasileiro 346 Paulo Manta Pereira A arquitetura doméstica de Raul Lino (1900-1918). Expressão meridional do Arts and Crafts, ou síntese local de um movimento artístico universal do último terço de oitocentos A ORNAMENTAÇÃO FIXA 8 366 Ana Paula Correia Memórias de casas senhoriais – patrimónios esquecidos 382 Sofia Braga Sobre a Sala Pompeia do Antigo Palácio da Ega A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO 404 Cristina Costa Gomes Isabel Murta Pina Papéis de parede da China em Casas Senhoriais Portuguesas 424 Ana Pessoa As Artes Decorativas no Rio de Janeiro do século XIX: um panorama 444 Isabel Mendonça Estuques de Paris e “parquets” de Bruxelas num palácio oitocentista de Lisboa 472 Isabel Sanson Portella Análise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete 482 Alexandre Mascarenhas Cristina Rozisky Fábio Galli A “Casa Senhorial” em Pelotas no século XIX: família Antunes Maciel 502 Miguel Leal A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso 516 Rosa Arraes A função social das decorações e seus ornatos dos palacetes na Belle-époque da Amazônia EQUIPAMENTO MÓVEL 536 Maria João Ferreira Ecos de hábitos e usos nos inventários: os adereços têxteis nos interiores das residências senhoriais lisboetas seiscentistas e setecentistas 562 Marize Malta Sumptuoso leilão de ricos móveis... Um estudo sobre o mobiliário das casas senhoriais oitocentistas no Rio de Janeiro por meio de leilões ÍNDICE 9 A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Coordenação Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro 2014 FCT (PTDC/EAT-HAT/112229/2009) ISBN: 978-989-99192-0-4 Coordenação (Universidade Nova de Lisboa) Isabel M. G. Mendonça ISBN: 978-85-87145-60-4 Hélder Carita (Universidade Federal Marize Malta do Rio de Janeiro) A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Design gráfico: Atelier Hélder Carita Secretariado: Lina Oliveira Tiago Antunes Edição conjunta Instituto de História da Arte (IHA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ISBN: 978-989-99192-0-4 Escola de Belas Artes (EBA) – Universidade Federal do Rio de Janeiro ISBN: © Autores e IHA Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são da inteira responsabilidade dos seus autores. Depósito legal: 383142 / 14 Tipografia: Norprint Tiragem: 300 exemplares LISBOA – RIO DE JANEIRO 2014 Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projecto com a referência EAT-HAT.112229.2009. ÍNDICE MECENAS E ARTISTAS. VIVÊNCIAS E RITUAIS 18 Cátia Teles e Marques Os paços episcopais nos modelos de representação protagonizados por bispos da nobreza no período pós-tridentino em Portugal 44 Daniela Viggiani “L’ Abecedario Pittorico” de Pellegrino Antonio Orlandi 64 Celina Borges Lemos André Guilherme Dornelles Dangelo Solar “Casa Padre Toledo”: o bem cultural como uma conjunção ritualística de espaços e tempos limiares 86 Miguel Metelo de Seixas O uso da heráldica no interior da casa senhorial portuguesa do Antigo Regime: propostas de sistematização e entendimento ARQUITECTURA, ESTRUTURAS E PROGRAMAS DISTRIBUTIVOS 112 Isabel Soares de Albergaria O Palácio dos Câmara “aos Mártires” – um caso excecional da opulência seiscentista 134 João Vieira Caldas Maria João Pereira Coutinho O Nome e a Função: Terminologia e Uso dos Compartimentos na Casa Nobre Urbana da Primeira Metade do Século XVIII 190 Hélder Carita O Palácio Ramalhete, nas Janelas Verdes: uma tipologia de palacete pombalino 208 Ana Lúcia Vieira dos Santos Formas de morar no Rio de Janeiro do século XIX: espaço interior e representação social ÍNDICE 7 224 Mariana Pinto da Rocha Jorge Ferreira Tiago Molarinho Antunes O Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira: análise do conjunto edificado 248 José Pessôa Padrões distributivos das casas senhoriais no Rio de Janeiro do primeiro quartel do século XIX 272 José Marques Morgado Neto As Casas Senhoriais da Belém colonial entre os séculos XVIII e XIX: sob a perspectiva dos relatos de viajantes, da iconografia da época e da remanescência no centro histórico da cidade 292 Gustavo Reinaldo Alves do Carmo O Palácio das Laranjeiras e a Belle Époque no Rio de Janeiro (1909-1914) 318 Patrícia Thomé Junqueira Schettino Celina Borges Lemos “O Palacete Carioca”. Estudo sobre a relação entre as transformações da arquitetura residencial da elite e a evolução do papel social feminino no final do século XIX e início do século XX no Rio de Janeiro 338 Felipe Azevedo Bosi Palácio Isabel: o Palácio do Conde e Condessa d’Eu no Segundo Reinado brasileiro 346 Paulo Manta Pereira A arquitetura doméstica de Raul Lino (1900-1918). Expressão meridional do Arts and Crafts, ou síntese local de um movimento artístico universal do último terço de oitocentos A ORNAMENTAÇÃO FIXA 8 366 Ana Paula Correia Memórias de casas senhoriais – patrimónios esquecidos 382 Sofia Braga Sobre a Sala Pompeia do Antigo Palácio da Ega A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO 404 Cristina Costa Gomes Isabel Murta Pina Papéis de parede da China em Casas Senhoriais Portuguesas 424 Ana Pessoa As Artes Decorativas no Rio de Janeiro do século XIX: um panorama 444 Isabel Mendonça Estuques de Paris e “parquets” de Bruxelas num palácio oitocentista de Lisboa 472 Isabel Sanson Portella Análise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete 482 Alexandre Mascarenhas Cristina Rozisky Fábio Galli A “Casa Senhorial” em Pelotas no século XIX: família Antunes Maciel 502 Miguel Leal A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso 516 Rosa Arraes A função social das decorações e seus ornatos dos palacetes na Belle-époque da Amazônia EQUIPAMENTO MÓVEL 536 Maria João Ferreira Ecos de hábitos e usos nos inventários: os adereços têxteis nos interiores das residências senhoriais lisboetas seiscentistas e setecentistas 562 Marize Malta Sumptuoso leilão de ricos móveis... Um estudo sobre o mobiliário das casas senhoriais oitocentistas no Rio de Janeiro por meio de leilões ÍNDICE 9 Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta Coordenação A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo/Abstract A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso Palavras-chave palacete, Pereira Cão, eclectismo, romantismo, sociologia A pintura decorativa do palacete Alves Machado, sito na Rua do Salitre, artéria que sobe até ao antigo Monte Olivete, corresponde a um dos palacetes Oitocentistas que tem sobrevivido à política de demolições de interiores e de “fachadismo” que tem vigorado na cidade de Lisboa. Próximo da artéria nobre lisboeta – Avenida da Liberdade – é um dos raros exemplares, da zona, da decoração de interiores de finais do século XIX que nos chegou intacta aos nossos dias e que mantém o programa decorativo original. Neste estudo pretendo apresentar, estudar e analisar o programa decorativo dos seus interiores, em particular, a sua pintura mural, da autoria do pintor setubalense Pereira Cão (1841-1921), um dos principais pintores decoradores de finais do século XIX, para além de cenógrafo, pintor de cavalete e pintor ceramista, artista que nos deixou uma obra vastíssima, do Minho ao Algarve, e que continua muito esquecido nos estudos de História de Arte. The decorative painting at the Alves Machado Palace/Mansion: a case study Keywords palace, Pereira Cão, eclecticism, romanticism, sociology The decorative painting of the Alves Machado palace, situ Rua do Salitre , the street that goes to the old “Monte Olivete”, corresponds to one of the nineteenth-century palaces that have survived to the demolition of interior policy that has prevailed in Lisbon . Near of Avenida da Liberdade, noble street of Lisbon, is one of the rare examples of the zone, that the interior decoration of the late nineteenth century reached us intact to the present day and that keeps the original decorative program. In this case study I intend to present, to study and to analyze the decorative program of its interior, in particular, its murals, designed and conceived by the painter borned in Setúbal, Pereira Cão (1841-1921), one of the leading decorators and artists of the late nineteenth century, such as set designer, painter and ceramist, a painter who left us a vast work, to the Minho until the Algarve , and still very much overlooked in the studies of Art History . Miguel Montez Leal. Investigador no IHA-EAC (Instituto de História de Arte-Estudos de Arte Contemporânea) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História da Arte Contemporânea, aguardando a defesa da tese. Mestre em História da Arte Contemporânea (FCSH-UNL), com a tese Pereira Cão (1841-1921) e a Pintura Decorativa em Portugal. Pós-graduado em Formação Educacional - Ramo de História- FCSH-UNL e em Estudos Europeus – Dominante Jurídica pela U. C. P. Licenciado em História (FCSH-UNL). Foi bolseiro de mestrado e de doutoramento apoiado pela F. C. T. É genealogista cronista e poeta. [email protected]. A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso Miguel Montez Leal O Palácio Alves Machado situa-se na Rua do Salitre1, artéria perpendicular à Avenida da Liberdade, que sobe até ao antigo Monte Olivete ou Alto da Cotovia. O edifício de três pisos, possui dois andares nobres, encontra-se pintado no tom de rosa-velho e apresenta a sua fachada principal recuada em relação à rua e com um terraço sobre um muro alto. Foi construído em 1875, num terreno que José Alves Machado comprou ao médico Adriano Salgueiro. Estes Alves Machado, filhos de Bernardo José Alves Machado e de Cipriana Rosa, lavradores, nasceram no lugar de Cabriz, Ribeira de Pena, pequena povoação de Trás-os‑Montes, uma zona de paisagem agreste na transição para o Minho, e fizeram o percurso clássico dos brasileiros do Norte de Portugal, ambos, José e Manuel Joaquim (1822-1915), emigraram para o Brasil à procura de melhorar a sua vida. Manuel Joaquim, nascido em 1822, no mesmo ano em que o Brasil declararia a sua independência, partiu com o seu irmão, em 1834, para aquele novo País da América com o intuito de melhorar a sua situação financeira e progredir na vida. Empregou-se em diversas casas comerciais e foi subindo a pulso à custa de muito trabalho e dedicação, chegando a adquirir uma posição de destaque entre a numerosa colónia portuguesa emigrada no Brasil e que muito veio a proteger, mais tarde, quando enriqueceu, sobretudo a partir de um rentável negócio de café2. No ano de 1873, depois de ter realizado uma grande viagem pela Europa, temporada em que pode gozar da sua desafogada situação económica, decidiu ir viver para o Porto3, onde chegou a fazer parte da Junta Distrital. Em breve abandonaria a cidade do Douro e estabelecer-se-ia na cidade de Lisboa. Era muito amigo e próximo de Fontes Pereira de Melo (1819-1887) e filiou-se no Partido Regenerador. O Rei D. Luís (1838-1889) agraciou-o em 1879 com o título de Visconde 4 e foi elevado, mais tarde, em 1896, pelo Rei D. Carlos (1863-1908), à grandeza de Conde5. Foi também comendador das Ordens de Cristo e da Rosa (no Brasil). Escreveria o romance jocoso O Senador Zacarias de Góis e Vasconcelos, Julgado pela Imprensa do seu País por ocasião A ORNAMENTAÇÃO FIXA 503 Ilustração 1 Palacete Alves Machado na Rua do Salitre, nº 66. 504 do seu Falecimento, editado no Porto em 1879. Quando José Alves Machado morre, a sua propriedade passou para o seu irmão Bernardo Joaquim que estava ainda emigrado no Brasil. Filantropo, altruísta, fazia parte de várias associações de beneficência, teve uma relação próxima com os monarcas D. Luís I e D. Carlos, e chegou a custear algumas despesas da família real6. Em 1899 7 este palácio, poucos anos após a sua construção, foi vendido com todo o seu recheio, pela quantia de trinta e cinco contos, ao Conselheiro Joaquim José Cerqueira. Natural de Viana do Castelo emigrou, também, para o Brasil e foi um dos fundadores do extraordinário Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro conviveu e associou-se aos familiares do escritor Ramalho Ortigão (1836-1915). O Conselheiro Cerqueira vivia em Lisboa, neste seu palacete, de Outubro a Junho e chegou a ser, por duas vezes, deputado. No Verão residia na sua casa de Viana do Castelo, donde era natural, e onde veio a falecer em 1916. No seu palacete do Salitre recebia e dava festas, frequentava a alta sociedade e possuía frisa no São Carlos. A casa da rua do Salitre adequava-se perfeitamente a esta função social, como adiante veremos. As pinturas decorativas do seu interior vêm do tempo dos seus anteriores proprietários, os Alves Machado. Acreditamos que o Conselheiro Cerqueira as manteve e terá feito muito poucas alterações nesta residência. As pinturas devem-se ao trabalho do experimentado pintor Pereira Cão, que ali concebeu quase um “catálogo” e decálogo de salas de diferentes estilos e em que se destacam, pela sua originalidade, as pinturas que adornam as paredes da escadaria nobre. Vejamos, em traços largos, o percurso deste pintor. José Maria Pereira Júnior8, que ficou conhecido por Pereira Cão (o seu pseudónimo artístico9), foi considerado por Esteves Pereira “o mais operoso dos pintores decoradores que nos ficaram do século XIX “10. Nasceu na então vila de Setúbal, em 1841, filho de José Maria Pereira, militar (que fez parte do regimento de infantaria 19, apoiante do exército de D. Miguel, até à sua derrota em 1834), e construtor civil e de Rosalina de Jesus Costa, filha de António Luís da Costa, major e Governador Militar da Fortaleza de S. Filipe, em Setúbal e de Francisca Rosa das Chagas. Viveu em Setúbal até aos 12 anos e influenciado pelo seu primo Mariano António Brandão11, pintor, que, vendo a sua habilidade para desenhar e pintar, aconselhou o seu pai a enviá-lo para Lisboa, para estudar. Pereira Cão matriculou-se no Instituto Industrial, recém-criado e na Academia Nacional de Belas-Artes, que frequentará, no regime nocturno, durante três anos. Durante o dia empregou-se a trabalhar ao lado de Cinatti e Rambois no restauro das salas do Palácio A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO Nacional da Ajuda, que teriam que estar prontas a tempo do casamento do Rei D. Luís com D. Maria Pia de Sabóia; depois passou para o Teatro Nacional de São Carlos, onde trabalhou como cenógrafo ao lado daqueles mestres. Em seguida, passou para a decoração de palácios e palacetes, o que fazia na Primavera e Verão, trabalhando no Inverno como cenógrafo. Trabalhou ao lado de Cinatti e Rambois durante cerca de vinte anos e foi-se tornando, a pouco e pouco, independente. Activo, como artista durante mais de sessenta anos, são conhecidas as suas facetas artísticas de cenógrafo, pintor-decorador, pintor de cavalete (que fazia sobretudo em períodos mortos entre as grandes encomendas públicas e privadas) e pintor de azulejos, área na qual desempenhará também um papel principal, ao lado de Ferreira das Tabuletas e de outros, como sendo um dos pais do “renascimento” do azulejo português, na década de 80 do século XIX, um período de revivalismos e de historicismos. Pereira Cão viajou por países como Espanha, França, Bélgica, Itália, Grécia e Inglater12 ra , onde se procurou documentar e inspirar nas mais recentes técnicas da pintura a fresco. Foi premiado com a Medalha de Ouro na grandiosa Exposição Universal de Paris de 1889, ano em que seria agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo. O monarca D. Carlos quis torná-lo, também, Barão de Pancas, o que Pereira Cão recusou. Foi também Presidente da Sociedade dos Artistas Lisbonenses e de várias agremiações civis e religiosas da capital13. Teve um papel de destaque nas Comemorações do Tricentenário de Camões, em 188014, de que foi o principal animador artístico e para o qual construiu dois carros alegóricos, e nas do Centenário do Marquês de Pombal, em 188215. Para além da sua obra vastíssima enquanto pintor-decorador e azulejista, foi discípulo, na azulejaria, de Ferreira das Tabuletas, como acabámos de afirmar e, mais tarde, ele próprio director da Fábrica Viúva Lamego. Passou grande parte dos seus ensinamentos como pintor de azulejos e, podemos mesmo dizer que foi mestre de Victoria Pereira (1877-1952)16, seu genro, um militar de carreira que se tornaria num conhecido pintor ceramista. Podemos dividir o seu percurso artístico em diversas fases: enquanto discípulo de Cinatti e Rambois (nas décadas de 50 e 60), foi sobretudo cenógrafo, e pintor-decorador; enquanto artista autónomo (da década de 70 até 1921) e pintor de frescos, com variada obra pública e privada; enquanto azulejista (no final da década de 80 até 1921) e director da Fábrica Viúva Lamego, ao mesmo tempo que pintava a fresco, interiores palacianos; e enquanto tutor artístico de Victoria Pereira (de 1904 a 1921). Nas encomendas públicas17, edifícios do Estado ou Igrejas podemos destacar os seguintes trabalhos: no Palácio da Ajuda (os restauros e novos trabalhos de decoração); na Biblioteca da Ajuda (em 1880), a decoração das três salas; no Palácio das Necessidades (os restauros das paredes da sala de jantar); nas antigas A ORNAMENTAÇÃO FIXA Ilustração 2 Conde Alves Machado: Manuel Joaquim Alves Machado (1822-1915). 505 Ilustração 3 Pormenor do retrato de José Maria Pereira Cão, de Félix da Costa, 1888 Colecção particular. 506 Cortes (o actual Palácio de S. Bento), pintou a Câmara dos Deputados, o Gabinete da Presidência e a Sala do Bufete; no Palácio do Alfeite (o tecto da sala de jantar); nos Paços do Concelho de Lisboa (a cúpula e os tectos do salão nobre); no Supremo Tribunal de Justiça; no Tribunal da Relação; no Hospital de S. José (o vestíbulo); na Igreja da Graça; na Igreja do Campo Grande (dos Santos Reis); na Igreja da Ajuda (dos Santos Fiéis de Deus); na Igreja de São Roque (restauros); na Igreja dos Mártires; na Capela do Amparo (em Benfica); na Capela do Santíssimo de Santa Isabel; na Capela de São Pedro (em Caneças); na Igreja do Seixal; na Capela de São Pedro (em Palmela); na capela de São Saturnino (em Fanhões); no Santuário da Carregosa18, e em muitos outros trabalhos. No campo das encomendas particulares19, destacamos: os palácios do Duque de Palmela, ao Calhariz, no Lumiar e em Azeitão; no palácio de Bessone e Iglésias, no Largo da Biblioteca, em Lisboa; no palácio do Conde de Fontalva (António Ferreira dos Anjos); no palácio do Marquês de Viana, ou Marquês da Praia e Monforte (no Largo do Rato, Lisboa); no palácio dos Condes da Penha Longa e Olivais (ao Pau da Bandeira, em Lisboa); no Palácio Alves Machado, depois Cerqueira (na Rua do Salitre, em Lisboa), como analisaremos adiante; no palácio do Dr. Rebelo da Silva (a S. Sebastião da Pedreira, em Lisboa); no palacete de José Ribeiro da Cunha, depois de José da Costa Pedreira (na Praça do Príncipe Real, em Lisboa); no palacete de Cipriano Calleya (na Avenida da Liberdade, em Lisboa); no palacete do Comendador José Nunes Teixeira (antigo palácio Pinto Basto, no Largo do Chiado, em Lisboa); no palacete da Baronesa Samora Correia (na Avenida da Liberdade); nos palacetes Sampaio e Ribeiro Ferreira (na rua do Salitre); no Palacete Alto Mearim (contíguo ao palacete Alves Machado); no palacete de José Félix da Costa (na Avenida da Liberdade); no palácio da Condessa de Junqueira (em Almeirim), no palacete do Dr. Oliveira Feijão20 (na Quinta da Mafarra, Azóia, Santarém); no palacete do negociante Alexandre da Silva Telhada (em Santarém); no palacete do Dr. Costa Lobo (na Rua dos Coutinhos, em Coimbra); no Paço do Bispo-Conde, em Coimbra; no palacete do estadista Lopes Branco (na Maiorca, Figueira da Foz); no palacete do Largo do Carmo, em Braga; no chalet Barbosa Collen (no Luso); na capela do Palácio Calheiros (em Ois do Bairro); na casa La-Roque (no Porto); no Palácio da Bolsa (a sanca do vestíbulo); no Clube de Beja; na Casa Pia (em Beja); no palacete do Visconde da Corte (em S. Brissos, arredores de Cuba); no palacete do Visconde da Esperança (em Cuba); no edifício o Grande Salão de Recreio do Povo (em Setúbal), em 1907, com a decoração intitulada “Um Sonho Verde”; no palácio do Visconde de Estói (arredores de Faro e actual Pousada de Portugal); no palacete de Marçal Pacheco, na Quinta da Fonte da Pipa (em Loulé); no Palacete Magalhães Barros (actual Hotel da Bela Vista, Praia da Rocha, Portimão, com tectos da sua autoria e azulejos da autoria do seu genro e discípulo, A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO Victoria Pereira); numa pastelaria da Rua D. Pedro V; na pastelaria Ferrari (no Chiado, em Lisboa, e perdida no incêndio de 1988); no Teatro Apolo (em Lisboa, demolido em 1956); no Teatro Rosa Damasceno (em Santarém, demolido, para dar lugar a um novo teatro de traços modernistas, mas que manteve o mesmo nome). Como pintor de azulejos, foi, como anteriormente afirmámos, director da Fábrica Viúva Lamego; a partir do final da década de 80, aquando do restauro por si levado a cabo no Convento da Madre de Deus, compôs para este edifício conventual dois painéis – A Partida e a Chegada dos Painéis de Santa Auta (a partir de uma pintura a óleo existente no Museu Nacional de Arte Antiga), ali colocados, e que são considerados a sua primeira experiência no campo da azulejaria21. A partir de então, procurou sempre fazer renascer a azulejaria em Portugal e dedicou-se cada vez mais à arte do azulejo e menos à pintura decorativa de interiores. Entre os diversos discípulos de Pereira Cão, na pintura decorativa, ou na azulejaria, podemos destacar: Eloy Ferreira do Amaral22, José Basalisa, Caetano Alberto Nunes, Jorge Maltieira e Victoria Pereira. Regressemos ao palacete Alves Machado. A fonte segura que nos conduz à autoria indubitável destes frescos é Esteves Pereira23. João Manuel Esteves Pereira (Lisboa, Santos-o-Velho, 1872; Lisboa, 1944), historiador, cronista, escritor e Secretário de Estado do Comércio, era um dos filhos do primeiro casamento de Pereira Cão, com Maria do Carmo de São José Esteves (Palmela; Lisboa). Durante a sua juventude, enquanto, estudava nas Belas -Artes, chegou a acompanhar o seu pai em várias obras de decoração, tendo decidido, posteriormente, abandonar a área artística para se dedicar às Letras. No artigo enciclopédico sobre Pereira Cão apresentado no Dicionário Portugal, Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Bibliográfico, Numismático e Artístico Ilustrado, diznos este autor rigoroso: “Na rua do Salitre, no predio que foi de Alves Machado, hoje Cerqueira, a escada é decorada com aves e flores, e a sala, no estylo (Luís) XVI, tem as paredes imitando seda amarella de uma grande illusão”. Naturalmente que, num artigo de carácter enciclopédico de quatro páginas, que apresenta uma curta biografia de Pereira Cão e nos faz uma listagem das suas obras, nem todas estão contempladas, muito menos a descrição das salas, uma a uma, o que se tornaria fastidioso para o leitor comum, numa enciclopédia que foi saindo em folhetins e só posteriormente encadernada e vendida em volumes por subscrição. Ao entrarmos no palacete Alves Machado, passando o hall monumental, encontramos uma escada em caracol de grandes dimensões, com uma guarda em ferro forjado e que, serpenteando e volteando pelos diferentes pisos, vai terminar num último andar iluminado por A ORNAMENTAÇÃO FIXA Ilustração 4 Comissão executiva da imprensa e dos artistas que delinearam os carros do cortejo do Tricentenário de Camões: Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Eduardo Coelho, Luciano Cordeiro, Rodrigues da Costa, Pinheiro Chagas, Batalha Reis, Magalhães Lima, Rodrigo Pequito, Silva Porto, José Luís Monteiro, Simões d’ Almeida, Pereira Cão, Thomazini e Columbano Bordalo Pinheiro in O Occidente, 1880. 507 Ilustração 5 Detalhe de um tecto. Repare-se no pormenor decorativo que apresenta uma paleta de pintor. Pereira Cão, 1889. Ilustração 6 Pormenor do tecto da Sala Etrusca. Pereira Cão, 1889. 508 uma clarabóia decorativa. O edifício tem aproximadamente cinquenta divisões, entre salas, quartos, salas de arrumos, cozinhas, copa, e diversas dependências. Alves Machado era, à época, um dos homens mais abastados de Portugal. Uma cúpula interior recebe a luz e permite inundar e repartir a luminosidade pelas diferentes divisões. Esta cobertura está decorada com uma pintura a claro-escuro em trompe l’oeil e que nos dá a ilusão de relevo. Um friso percorre a clarabóia e representa diversos personagens desconhecidos24. As salas apresentam diversos estilos e são de dimensões relativamente reduzidas. A primeira apresenta um tecto que simula ser coberto por um tecido adasmacado e avermelhado, apresentando um friso, a claro-escuro, e é decorada por rosas e outras flores estilizadas. Nos cantos da sala faz-se uma alegoria à pintura: dois pincéis repousam sobre uma paleta e surge-nos um bastão de pintor, que funciona como uma assinatura do pintor. Numa sala contígua, sobre fundo verde, aparece-nos um profuso e emaranhado de plantas. Numa pequena saleta duas andorinhas sobre um céu nublado parecem fazer jogos de sedução. Noutra sala apresenta-se um elaborado mundo romano (com alusões a Pompeia). Noutra sala contígua é o mundo etrusco, pintado em tons de cinzento e dourado, que vemos surgir. A sala seguinte apresenta o mais convencional estilo Luís XVI, num requinte considerável. Por fim temos uma sala neo-árabe, com estuques trabalhados e certamente inspirados no imaginário e na cultura visual do palácio granadino de Alhambra e em toda a tradição romântica do exotismo e do movimento dos revivalismos e das arts and crafts Oitocentistas. Estas sete salas perfazem um circuito, um desfilar de épocas, de estilos, cada uma delas teria uma função específica25, e estariam todas abertas aos convidados nos dias de grandes festas que se realizaram neste palacete, o que facilitaria a circulação, a fluidez, o convívio e os encontros sociais, numa teia de relações, em que se combinavam alianças, casamentos, conspirações e negócios. As salas fazem citações e alusões ao mundo greco-romano da Antiguidade Clássica, ao estilo francês Luís XVI (tão em voga nos palácios portugueses desta época), e existe, também, como não poderia deixar de ser e como vimos anteriormente, uma sala neo-árabe, que seria, provavelmente, o fumoir ou o escritório do dono da casa. O edifício é bem o exemplo dum palacete ecléctico dos finais do Romantismo. Mas, talvez os trabalhos mais interessantes deste palácio e claramente românticos se encontrem nas paredes que acompanham os patamares e da escadaria em caracol. Nestas pinturas ultra-naturalistas, que parecem separar-se das paredes e ganhar vida, vemos vistas A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO idealizadas de Portugal, algumas talvez feitas a partir de pequenos apontamentos do natural, outras talvez de memória. Num destes painéis localizávamos a data de Setembro de 1889, executada sobre a pintura decorativa, que nos permite datar com precisão, a conclusão de todo este conjunto mural. De um lado vemos uma vista de Sintra com o palácio da Pena e a sua serra ainda pedregosa e sem vegetação, um documento histórico, pintado a fresco, de primeira importância, e que destaca na serra nua, a mole majestosa do palácio do príncipe-consorte alemão26. Nesta pintura vemos os dotes artísticos de Pereira Cão, que aqui parece ter pintado um cenário para uma ópera verdiana. Não nos podemos esquecer que Pereira Cão foi um dos cenógrafos do São Carlos e que colaborou com os mestres Cinatti e Rambois nos seus inícios de carreira. Daí lhe viria a paixão pela Ópera, pelo canto, mas também de família27, pois o seu pai, em Setúbal, cantava em festas e saraus privados da elite aristocrática, burguesa e comercial, da cidade do Sado. Noutra parede vemos uma vista de Braga, com o escadório do Bom Jesus, cidade que Pereira Cão, aliás, conhecia muito bem e onde já estivera por diversas vezes para satisfazer outras encomendas e onde voltaria repetidamente28. Acompanhando estes cenários quase operáticos, vemos aves e flores de que Pereira Cão era um exímio especialista, como pequenos pássaros, cisnes, cegonhas, avestruzes e faisões, papagaios e catatuas, aludindo ao período da estada no Brasil da família Alves Machado. Este é, sem dúvida, um dos melhores e inspirados trabalhos decorativos de Pereira Cão, que pode, nesta encomenda, fazer desfilar os estilos que dominava e que seriam certamente do agrado do seu opulento encomendante. A encomenda teria sido bastante livre e Pereira Cão ter-se-á divertido, como fazia habitualmente, a satisfazer este riquíssimo novo aristocrata. Nas imediações viria a pintar, na Avenida da Liberdade, o palacete da Baronesa de Samora Correia (demolido para se construir o edifício modernista do cinema São Jorge); o palacete de José Félix da Costa 29; o palacete de Cipriano Calleya30; na Rua do Salitre, os palacetes Sampaio e Ribeiro Ferreira (demolidos mais tarde); ou o palacete do Conde de Fontalva (António Ferreira dos Anjos), na zona do Príncipe Real, assim como também o palacete Ribeiro da Cunha. Amigo de Cinatti (1808-1879)31, Rambois (c. 1810-1882), Columbano (1857-1929), Malhoa (1855-1933), Alfredo Keil (1850-1907), Júlio de Castilho (1840-1919), Eduardo Coelho (1835-1889), Robles Monteiro (1888-1958) e tantos outros. O circuito artístico português era reduzido, num país onde toda a elite se conhecia e que não tinha ainda nos finais do século XIX, alcançado o número de 4 milhões de habitantes. De boca em boca, recomendado primeiro pelos seus pares, depois pelos seus clientes, A ORNAMENTAÇÃO FIXA Ilustração 7 Pormenor do tecto da Sala Luís XVI. Pereira Cão, 1889. Ilustração 8 Vista do Palácio da Pena. Pintura mural da escadaria do Palacete Alves Machado. Pereira Cão, 1889. 509 Ilustração 9 Pormenor decorativo do mural da escadaria do Palacete Alves Machado, fazendo claras alusões à estada brasileira da família Alves Machado. Pereira Cão, 1889. Ilustração 10 Pormenor (flores ultranaturalistas) de um mural da escadaria do Palacete Alves Machado. Pereira Cão, 1889. 510 a sua fama foi num crescendo, num agrado fácil e num País com um reduzido número de pintores-decoradores. Moda e prática recuperada na segunda metade de Oitocentos, possibilitava também aos artistas viverem com um razoável conforto, pois a pintura de cavalete nem sempre se vendia, e o circuito de galerias, exposições e colecções era parco. Nem sempre Pereira Cão ficou a salvo de dificuldades, tinha alma e excentricidades de verdadeiro artista, era pai de trinta e dois filhos de dois matrimónios (catorze do primeiro casamento, dezoito do segundo), que muitas alegrias, desgostos, atribulações e preocupações lhe deram32. Entre a pintura decorativa (a fresco e têmpera), a cenografia, as tabuletas pintadas, os carros alegóricos33e a azulejaria, Pereira Cão deixou-nos uma obra vastíssima, que ultrapassa facilmente os mais de cem edifícios, e que infelizmente não tem recebido a devida atenção de académicos e historiadores. Agora que uma nova geração de historiadores está a chegar, na senda do trabalho valoroso de outras anteriores, as artes decorativas começam a ocupar o seu merecido lugar. O século XIX português não pode ser plenamente entendido apenas através da pintura de cavalete, escultura, urbanismo, arquitectura, ou coleccionismos. É tempo dos historiadores contemporâneos deixarem de ser tão ou mais preconceituosos do que aqueles que criticaram por serem académicos, no sentido menos feliz da expressão. Se todos nos fecharmos nos nossos campos e só considerarmos o Modernismo, os Modernismos e o Pós–Modernismo interessantes e passíveis de serem estudados, estaremos a perder uma parte considerável do pano mental, social e cultural do Pais onde nascemos, crescemos, vivemos e queremos continuar a viver. E sem o século XIX não se pode entender com propriedade o século XX! A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO ÁRVORE GENEALÓGICA ABREVIADA DA FAMÍLIA DE PEREIRA CÃO Último quartel do século XVIII Manoel de Oliveira D. Joana de Oliveira António Luís da Costa Sines Setúbal Major e Governador da Fortaleza de S. Filipe, Setúbal. Participou na Legião Portuguesa à Rússia. D. Francisca Rosa das Chagas D. Rosalina de Jesus Costa José Maria Pereira Lisboa, Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda, 1809; Setúbal Setúbal, Freguesia de Santa Maria da Graça 1804; Lisboa, Freguesia de Santos-o-Velho, 1888. Militar (Apoiante de D. Miguel) e posteriormente construtor civil em Setúbal. José Maria Pereira Júnior (Pereira Cão)* Setúbal, Freguesia de São Julião, 1841; Lisboa, 1921. Cenógrafo, pintor-decorador e pintor azulejista. Primeiro casamento: 14 filhos, entre eles o historiador João Manuel Esteves Pereira. D.Maria de São José do Carmo Esteves Palmela D.Adelaide Maria da Conceição Coelho Sousa Lisboa Segundo casamento: 18 filhos José Estevão Cacella de Victoria Pereira Maria Adelaide de Sousa Pereira Leiria, 1877; Lisboa; Freguesia de Alcântara, Rua da Junqueira nº 200, 1952. Coronel, cartógrafo e pintor ceramista. Lisboa, Freguesia de Santos-o-Velho, 1887; Lisboa; Freguesia de Alcântara, 1959 Maria Adelaide de Victoria Pereira Francisco Ribeiro Freire de Oliveira Santos Lisboa Cartaxo Pintora e directora fundadora da Biblioteca Municipal de Marcelino Mesquita, Cartaxo. Com descendência... Cartaxo Lisboa *Por saber ser descendente da família de Diogo Cão, José Maria Pereira Júnior, adoptou o nome Pereira Cão, como nome artístico. Uma das suas filhas, D. Maria Adelaide de Sousa Pereira de Victoria Pereira, foi convidada durante as festas da Exposição do Mundo Português, em 1940, a desfilar num cortejo histórico como representante e descendente da família do navegador Diogo Cão. A ORNAMENTAÇÃO FIXA 511 NOTAS Corresponde ao número 66 da Rua do Salitre e é, desde 1989, a sede da Fundação Oriente (ocupa os números 62 a 66 desta mesma artéria lisboeta). Actualmente este edifício encontra-se à venda, e pode ser consultado no site da Sotheby’s Portugal. Desejamos que o edifício, que se encontra bastante bem conservado, se mantenha nas mãos de quem o saiba manter e lhe saiba dar valor. 2 Alves Machado tinha a sua firma na Rua do Hospício, nº 26, no Rio de Janeiro. Casou com D. Antónia Bernarda Dolores Rodríguez. 3 No Porto construiu também uma residência sobre a qual podemos cf. Paula Torres Peixoto - Palacetes de Brasileiros no Porto (1850-1930), Do Estereótipo à Realidade. Porto: Edições Afrontamento, Março 2013, pp. 156-183. Viveu também no Hotel Francfort, na cidade do Douro, durante cerca de quarenta anos. 4 Afonso Zúquete - Nobreza de Portugal e do Brasil, 1984, Vol. segundo, pp. 266-67. O título de Visconde foi-lhe dado por Decreto de 15-5-1879. 5 Idem. Por Decreto de 18-6-1896. 6 Nas Memórias do Marquês de Lavradio, afirma-se que ofereceu ao Rei D. Carlos, para que o monarca não tivesse qualquer tipo de privação, 10 000 libras; ao Imperador D. Pedro II, já no exílio, ofereceu 500 libras e ao monarca D. Manuel II, também já expatriado, 500 libras para a ajuda e manutenção da sua Casa e lifestyle. 7 A sua filha, Maria Celestina Alves Machado, casou com o escritor e artista José Júlio Gonçalves Coelho (Porto,1866; Gaia, 1927). 8 Vide Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues - Portugal, Dicionário …, Vol. V, pp. 635-638. 9 O seu sobrenome artístico foi criado com base na genealogia do pintor, que sabia descender do navegador Diogo Cão. Ao pintor foi apenas colocado o apelido paterno – Pereira – e como era homónimo do seu pai, foi-lhe acrescentado o “Júnior”, tal como era habitual no século XIX. Também não lhe colocaram o apelido de sua mãe – Costa. E assim, tal como o próprio refere numa carta manuscrita, “para me distinguir dos muitos Juniores que por aí há, a partir de agora sou Pereira Cão”. Uma das suas filhas mais novas, Maria Adelaide de Sousa Pereira (Lisboa, 1887-1959), foi convidada durante a Exposição do Mundo Português, em 1940, para desfilar num cortejo histórico como descendente da família de Diogo Cão. Sobre o mesmo tema, cf. Miguel Leal - A Pintura a Fresco entre Dois Séculos: Pereira Cão (1841-1921) e a Pintura Decorativa em Portugal, Tese de Mestrado em História da Arte Contemporânea apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, 2007, Vol. 1, p. 9. 10 Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Idem, p. 635. 11 Sobre o mesmo pintor vide Vítor Serrão e José Meco - Palmela Histórico-Artística, Um Inventário do Património Artístico Concelhio. Câmara Municipal de Palmela: Edições Colibri, 2007, p. 165. 12 Ibidem, p. 635. 13 Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Ob. Cit., p. 638. 14 Vide Pedro Bebiano Braga - Os Carros dos Centenários ou as Rodas do Desejo. In Arte Efémera em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, pp. 382 e 385. 15 Vide Centenário do Marquez de Pombal. Programma, Lisboa, Typographia Universal, s.d., p. 2. 16 Vide Capítulo 2.4. “Victoria Pereira, Discípulo e Continuador”, pp. 85-98. In Miguel Leal, A Pintura a Fresco entre Dois Séculos: Pereira Cão e a Pintura Decorativa em Portugal, Tese de Mestrado em História da Arte Contemporânea apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2006. 17 Vide Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues - Portugal. Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Bibliográfico, Numismático e Artístico Ilustrado. Lisboa: Edição João Romano Torres, 1904-1915, Sete Vols., 1 512 A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO Vol. V, pp. 635-638. 18 Vide Bernardo J. Ferrão- A Quinta da Costeira em Oliveira de Azeméis: um Santuário Mariano e Residência Episcopal Oitocentista com Relevante Valor Arquitectónico e Histórico-cultural, s/d e também A. Nogueira Gonçalves - Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Aveiro, Zona Norte, Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1981, p. 130. 19 Vide Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Ob. Cit., Vol. V, pp. 635-638. 20 Francisco Augusto de Oliveira Feijão (1850-1918), foi um dos médicos particulares do Rei D. Carlos. Comprou em finais do século XIX a vasta propriedade da Quinta da Mafarra (na Azóia, arredores de Santarém) à família Ribeiro de Oliveira Freire, e contratou o pintor Pereira Cão para pintar as salas deste palacete. Vide Oliveira Feijão, Augusto - Portugal Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Bibliográfico, Numismatico e Artístico Ilustrado. Lisboa: Edição João Romano Torres, 1904-1915, Sete Vols., Vol. 2, 1907. 21 Sobre a azulejaria praticada por Pereira Cão, vide António Caldeira Pires - História do Palácio Nacional de Queluz. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925, p. 296; Francisco Xavier de Ataíde Oliveira - Monografia de Estoi (A Vetusta Ossonoba). Porto: Companhia Portuguesa Editora, Cap. XI, “O Jardim de Estói”, pp. 105-106; José Meco - Azulejaria Portuguesa, Col. Património Português. Lisboa: Bertrand Editora, 1985, pp. 79 e 84; Marcus Binney (texto) e Manuel Pedro Rio Carvalho (int.) - Casas Nobres de Portugal. Lisboa: Difel, 1987, pp. 112-114; Norberto de Araújo - Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Ed. Vega, 1992, Liv. III, p. 62; Hélder Carita e Nuno Calvet,- Os Mais Belos Palácios de Portugal. Lisboa: Verbo, 1992, pp. 252-255; Luísa Arruda - Caminho do Oriente. Guia do Azulejo. Lisboa: Livros Horizonte, 1998, p. 64; 22 Nasceu em Setúbal em 1839. Trabalhou sob a direcção de Cinatti e colaborou mais tarde com Pereira Cão, de quem era conterrâneo. Foi professor na Escola Industrial Afonso Domingues, onde teve como aluno Francisco Augusto Flamengo. As suas principais obras são: o tecto da Igreja dos Mártires, em Alcácer do Sal, pintando a tela a óleo; a pintura a fresco da capela privada, do Colégio de S. Francisco, em Setúbal, a fresco; foi também pintor de cavalete, especializado em naturezas-mortas e especialista em restauro de obras antigas. Participou na preparação do pavilhão português da Exposição Universal de Paris de 1900. Faleceu em 1927. 23 Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues - Dicionário Portugal, Vol. V, p. 636. Afirma José Amado Mendes na História da História em Portugal séculos XIX e XX, Lisboa: Círculo de Leitores, 1996, pp. 216 e 217: “(…) João Manuel Esteves Pereira (1872-1944) adquiriu uma sólida formação escolar, tendo frequentado a Academia de Belas-Artes de Lisboa, o Instituto Industrial e Comercial da mesma cidade e o Curso Superior de Letras, que concluiu em 1896. (…) Esteves Pereira não era somente um erudito, coleccionador de dados, mas também um historiador infatigável. Por isso, o seu célebre Portugal. Dicionário histórico …, em muitos aspectos ainda não envelheceu, continuando a ser, para certos temas e autores, de consulta imprescindível. Nem sequer outras obras de referência, publicadas posteriormente –Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Verbo, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura e Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, o tornaram dispensável. De certo modo, o Dicionário… de Esteves Pereira pode considerar-se precursor do dirigido por Joel Serrão – tendo presente que os separa cerca de meio século, embora, de modo algo surpreendente, o autor do Portugal, Dicionário histórico … não conste do Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão”. 24 A sensação é que esta pintura foi posteriormente restaurada e adulterada, não evidenciando a mesma qualidade de todas as restantes pinturas deste palácio. 25 Hoje em dia, sem mobiliário de época, constituem os gabinetes de trabalho da Fundação Oriente. 26 Esta pintura parece um cenário de Opera e faz lembrar outras pinturas do palácio das Necessidades, onde colaboraram Cinatti, Rambois e Pereira Cão em conjunto. 27 Pereira Cão procurará, mais tarde, dar uma educação musical aos seus filhos, e pelo menos duas das suas A ORNAMENTAÇÃO FIXA 513 filhas se destacaram como cantoras amadoras, e frequentadoras na sociedade Academia de Amadores de Música, ao Chiado: Maria Adelaide de Sousa Pereira de Victoria Pereira (Lisboa, Santos-o-Velho, 1887; Alcântara, 1959) e Hermengarda de Sousa Pereira, ambas chegaram a dar récitas, actuar em festas de caridade e gravar discos. 28 Em Braga pintaria o palacete do Largo do Carmo, e várias igrejas. 29 Os dois irmãos Félix da Costa eram seus amigos pessoais. 30 Este edifício foi até há pouco tempo o Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas. 31 Vide Joana Cunha Leal, Giuseppe Cinatti (1808-1879): Percurso e Obra, Tese de Mestrado em História de Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1997, II Vols., policopiada. Este trabalho é fundamental para conhecer o trabalho de Cinatti enquanto arquitecto. Não contempla, contudo, o estudo da pintura decorativa da sua autoria, ou a produção enquanto decoradores da conhecida dupla Cinatti & Rambois. 32 No final da sua vida vivia num vasto apartamento, na Travessa de S. Domingos, na Baixa pombalina, pegado à Igreja de São Domingos, e mais tarde sede da conhecida casa comercial e armazém Braz e Braz. Pereira Cão, encontra-se sepultado em jazigo de família, no Cemitério dos Prazeres, ao lado da sua segunda mulher, filha (1887-1959), genro, o coronel e pintor Victoria Pereira (1877 -1952) e netos. 33 Os carros alegóricos foram realizados para o Tricentenário de Camões e para o Centenário de Pombal. BIBLIOGRAFIA AAVV - Guia de Portugal. Estremadura, Alentejo, Algarve. Vol. II. Lisboa: Edição da Biblioteca Nacional de Lisboa, 1927. AAVV - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Vols. V, VI e XXI. 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