ISBN 978-85-8015-053-7
Cadernos PDE
VOLUME I I
Versão Online
2009
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
1
“Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música”
Pablo Neruda
Dificilmente sua resposta será negativa. Quem é que não gosta de
música?
Você já ouviu aquela canção que diz “quem não gosta de samba um
bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça, ou é doente do pé”?
Pode ser até que o samba não faça a sua cabeça, mas certamente você
curte algum tipo de som.
2
UM PAPO SOBRE MÚSICA !!
Ainda não é o momento de falarmos de preferências pessoais, até
porque o gosto é um elemento fundamental na avaliação do que ouvimos, mas
você sabia que ele pode ser desenvolvido desde cedo?
Pesquisas mostram que a forma de apreciar música já começa a se
estruturar durante a gestação e que, entre os 4 e 10 anos, a criança prefere
ritmos alegres e dançantes.
Mas e depois? Que tipo de música faz a cabeça dos
adolescentes?
3
É fácil perceber que os adolescentes gostam
de ouvir música, basta reparar na quantidade
de jovens com fones de ouvido.
Vale a pena lembrar que o volume exagerado
prejudica a audição, principalmente quando
utilizamos fones de ouvido.
Você sabe o que seu colega gosta de ouvir?
Os gostos variam, mas uma característica une os jovens: o volume
alto.
Isso tem uma explicação científica. Para a neurocientista brasileira
Suzana Herculano-Houzel “a preferência de discotecas, raves e shows de rock
por sons graves e quase ensurdecedores, parece ter sido feita de encomenda
para fornecer estimulação vestibular, o órgão vestibular é uma estrutura vizinha
à cóclea que é a parte auditiva do ouvido” (nada a ver com o temido exame de
admissão à universidade). Suzana relaciona o hábito adolescente de ouvir
música alta à necessidade de confortar o sistema de recompensa do cérebro,
que nessa fase passa por uma baixa sensibilidade.
4
A preferência por sons graves explica o sucesso do famoso “batidão” de
músicas techno, reggae e funk. Contudo, essa peculiaridade do adolescente
não passa somente por um gênero de música. Se o jovem gosta da obra de
Beethoven, por exemplo, talvez sinta uma vontade irresistível de ouvir alguma
de suas sinfonias no volume máximo.
Agora você tem um bom argumento para justificar a altura de seu
som. Só não sabemos se vai colar com os vizinhos!
Vamos à ação!
Partindo das questões levantadas anteriormente:
1.
Dá para apontar quais músicas têm mais qualidade? Qual o
critério para definir isso?
2.
Avalie a obra de um(a) cantor(a) ou grupo que aprecie. Seu
texto deve incluir observações sobre letra e música e refletir
sobre a questão da “qualidade”.
5
3.
Que tal montarmos um
blog para postarmos nossos
trabalhos? Neste diário do século XXI, você poderá divulgar
suas descobertas, postar músicas, vídeos, fotos, expressar
suas opiniões sobre tudo que veremos e ouviremos. Então,
vamos ao laboratório de informática??!!
MÚSICA = PRAZER
Desde sempre vivemos em um mundo essencialmente sonoro. Já na
vida pré-natal, a audição supera largamente todos os outros sentidos, ela está
estreitamente ligada às emoções e ao mundo pré-verbal, o que faz dela uma
linguagem privilegiada. Veja o que o músico José Miguel Wisnik escreveu em
sua obra O som e o sentido. Uma outra história das músicas. São Paulo,
Companhia das Letras, 1999, p.285.
.
O feto cresce no útero ao som do coração da mãe...o ritmo está na
base de todas as percepções. Dessas imbricações se entende o
grande poder de atuação [da música] sobre o corpo e a mente, sobre
a consciência e o inconsciente.
6
Quem é que não tem uma música especial em seu repertório
especial? Depois de algum tempo podemos até esquecer o fato,
mas a sensação... esta sempre volta ao ouvirmos “aquela música”!
Qual seria a trilha sonora de sua vida?
Faça uma lista das “top five”!
Às vezes, gostamos de uma música mais pela melodia do que pela letra.
Outras vezes, a letra diz tanto que a melodia passa a ser menos importante.
Agora, quando letra e música formam uma dupla indissociável, tão bela que
atinge em cheio o gosto de muitas pessoas, torna-se um clássico.
A canção Codinome Beija-flor é uma dessas duplas perfeitas, um
casamento harmonioso entre letra e melodia que vêm acompanhando corações
enamorados desde que foi composta por Cazuza em 1988.
Que tal descobrirmos alguns dos recursos utilizados pelo autor para
torná-la especial?
7
Codinome Beija-flor
Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigo sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou
[...]
CAZUZA; ARIAS, Reinaldo; NEVES, Ezequiel. Codinome Beija-flor.
In O tempo não para. (LP) Polygram, 1988.
Por causa da questão dos direitos autorais, não é possível colocar a letra da
canção aqui. Mas isso não será problema, bastam alguns cliques e a
conheceremos na íntegra. Ok?!
Veja você mesmo www.letras.terra.com.br
Antes de conversarmos sobre a canção de Cazuza, é importante
lembrarmos de que, para a compreensão de um texto, a depreensão do
significado contextual é um dado muito importante, sobretudo quando se trata
de um texto de caráter poético. É bastante comum que letras de canções,
assim como poemas, explorem as múltiplas possibilidades de significação de
uma palavra. Assim o autor pode sempre apresentar as coisas do mundo, os
fatos e as pessoas de forma nova e mais viva.
Como você pôde observar, o texto de Cazuza não usou as palavras
apenas em seu sentido próprio, habitual, mas lançou mão de recursos que
“brincam” com os seus significados. Esses recursos são normalmente
chamados de Figuras de Linguagem.
8
Ao lermos pela primeira vez a letra de uma canção, podemos ter
dificuldade para encontrarmos um fio condutor que nos mostre a unidade e a
organização do texto.
Porém, por trás desse aparente caos, há, em bons
textos, é claro, coerência e harmonia, que poderemos vislumbrar a partir da
observação de dados concretos da superfície até a compreensão de
significados mais abstratos.
VAMOS À AÇÃO!
1. Em uma leitura, mesmo que superficial do texto, podemos perceber o
assunto da canção?
2. Que partes da canção falam das pessoas envolvidas nesse caso de amor?
3. Os valores desses sujeitos estão em acordo ou desacordo?
4. O texto nos fornece pistas do motivo do rompimento? Saber o motivo seria
uma informação relevante?
5. O eu-lírico está motivado a falar sobre o quê?
CONCEITUANDO
O recurso em que se afirma alguma coisa que na verdade se quer negar denomina-se
IRONIA.
9
6. Você é capaz de identificar a ironia presente na primeira estrofe?
7. No verso “pra destilar terceiras intenções” a palavra destilar não foi usada
em seu sentido costumeiro (denotativo) e sim em um sentido figurado
(conotativo). Substitua o termo sem alterar seu sentido.
Denotação: É o uso do signo linguístico em seu
sentido real, próprio.
Conotação: É o uso do signo linguístico em
sentido figurado, simbólico.
8. Observe, na segunda estrofe, as palavras mel, flor e beija-flor. Qual foi a
imagem criada pelo eu-lírico nesses versos?
9. As palavras foram usadas denotativa ou conotativamente? Você saberia
identificar a figura de linguagem utilizada para criar a imagem lírica da 2ª
estrofe?
Complete o conceito:
___________ é a figura de linguagem que consiste na alteração do sentido de
uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que ele
adquire existe uma intersecção.
PLATÃO & FIORIN, Para entender o texto, p. 122
10. Por que a palavra beija-flor foi usada hora com letra maiúscula, hora com
letra minúscula?
10
11. Sem fugir da coerência do texto e respeitando os limites das palavras
utilizadas em seu contexto, interprete a metáfora do verso “dizer segredos
de liquidificador”.
12. A expressão “ter segundas intenções” é usada para dizer que intenções
desonestas estão sendo ocultadas, não é? O que seria, então, “destilar
terceiras intenções” ?
13. O fato do nome da amada ser protegido por um codinome “eu protegi teu
nome por amor/ em um codinome, Beija-flor”, sugere o quê?
14. Substitua a palavra que do verso “Que só eu que podia” por outra que não
altere o seu sentido.
15. O ser humano, em momentos de fragilidade, procura formas de amenizar
seu sofrimento. Em que passagem da canção há uma referência à fuga
provocada pela dor?
16. Embora Codinome Beija-flor não utilize nenhum sinal de pontuação, o que,
aliás é muito comum em letras de canções, o contexto mostra-nos os sinais
que caberiam nela. Vamos tentar? Pontue expressivamente o texto, sem,
no entanto, modificar seu contexto.
11
MUITO ALÉM DO PRAZER
A música é, certamente, uma inegável fonte de prazer, no entanto, uma
boa música pode proporcionar, além da fruição, o desenvolvimento das nossas
capacidades cognitivas.
Desde as semi-eruditas modinhas imperiais até o surgimento de um
“rock nacional”, passando pelo Tropicalismo e pela Bossa Nova, a canção foi
eleita lugar privilegiado para a manifestação das ideias e ideais da cultura
brasileira.
A canção é a um só tempo o objeto e o veículo de discussões sobre
questões raciais, sociais, culturais e econômicas. diz o compositor Luiz Tatit.em
sua obra Análise Semiótica através das letras. Ateliê Editorial, São Paulo 2002.
O canto sempre foi uma dimensão potencializada da fala. No caso
brasileiro, tanto os índios como os negros invocavam os deuses pelo
canto. Do mesmo modo, as declarações lírico amorosas extraíam sua
melhor força persuasiva das vozes dos seresteiros e modinheiros do
século XIX.
Você sabia que o Brasil possui uma das maiores
diversidades musicais do mundo e é o terceiro maior produtor
de música do planeta, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido?
12
VAMOS À AÇÃO!
1. Você se recorda de alguma música que tenha sido composta com o
intuito de fazer uma crítica social? Que tal apresentá-la a seus
colegas?
2. Qual o tema abordado pela música?
3. Você acha que ela alcançou seu objetivo no processo de
transformação social?
Conseguiu fazê-lo refletir sobre o assunto?
4. Você saberia dizer em que contexto social a música foi composta?
13
BREVE HISTÓRIA DA MÚSICA DO BRASIL
A música popular brasileira existe há bastante tempo. Uma de suas
características foi a de ser produzida no meio popular e para ele especialmente
dirigida.
Entretanto, com o advento de meios de comunicação, ela foi
abandonando aquele seu espontaneísmo de arte popular para entrar
definitivamente nos esquemas comerciais que o rádio e o “disco” vieram
impulsionar. Tomando esse rumo, a canção deixou de ser apenas expressão
cultural de uma comunidade para atingir públicos cada vez maiores.
>
>
Faremos um corte na história da música popular brasileira e pousaremos
na efervescente década de 60.
Na década de 60 a televisão brasileira se consolida, empurrando o rádio
para o segundo plano.
Surge o gosto pelas telenovelas e pelos seriados americanos, mas
parecia faltar algo mais para que a TV empolgasse um certo tipo de público
ainda resistente à programação televisiva.
14
É então que aparecem os musicais gravados nos teatros da TV Record.
Graças a eles a emissora passou a viver uma fase de liderança absoluta de
audiência. Foi nesses programas que puderam se lançar aqueles que seriam
os principais herdeiros da geração Bossa Nova: Chico Buarque e Caetano
Veloso. Ambos jovens cantores de voz curta, mas de enorme talento e amor
pela nossa música popular brasileira, Caetano e Chico saltaram, da noite para
o dia das cadeiras universitárias para os palcos da televisão. Em pouquíssimo
tempo eram transformados em celebridades. Logo receberam o nome de
poetas, devido não somente a qualidade lírica das suas canções, mas também
ao fato de terem sido porta-vozes de um tempo e dos dilemas de uma geração.
Em 1967, com apenas dois anos de carreira, Chico Buarque já era uma
unanimidade nacional, graças à televisão. No ano anterior, Chico tinha ganho o
primeiro lugar no Festival da MPB da TV Record, com a canção “A banda”.
Veja você mesmo!
letras.terra.com.br/chico-buarque/
A BANDA
Estava a toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Tocando coisas de amor
A minha gente sofrida, despediu-se da dor
Pra ver a banda passa, cantando coisas de amor
[...]
HOLLANDA, Francisco Buarque de. In Chico Buarque de Holanda, (LP) RGE, 1966.
15
Como o país inteiro cantarolou a sua marchinha ingênua e nostálgica “A
banda” acabou contribuindo para rapidamente se cristalizar em Chico uma
imagem de moço bom, bonito e bem criado, que atraia não apenas as moças,
mas também as senhoras, que o desejavam para genro.
Francisco Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1944), mais
conhecido como Chico Buarque ou ainda Chico Buarque de Hollanda, é um
músico, dramaturgo e escritor brasileiro. Filho do historiador Sérgio Buarque de
Holanda, iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando
venceu, com a canção A Banda, o Festival de Música Popular Brasileira. Em 1969,
com a crescente repressão da Ditadura Militar no Brasil, se auto-exilou na Itália,
tornando-se, ao retornar, um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta
pela democratização do Brasil. Na carreira literária, foi ganhador do Prêmio
Jabuti, pelo livro Budapeste, lançado em 2004. Casou-se com e separou-se da atriz
Marieta Severo, com quem teve três filhas: Sílvia, que é atriz e casada com Chico
Diaz, Helena, casada com o percussionista Carlinhos Brown e Luísa. É irmão das
cantoras Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina. Ao contrário do que tem sido
propagado na internet, Aurélio Buarque era apenas um primo distante do pai de
Chico.
Fonte: www.wikipédia.com.br
Foto: letras.mus.br /terra
16
VAMOS À AÇÃO!
1. A vida da cidade foi modificada pela passagem da banda. Certo? Aponte
passagens no texto que comprovem esta afirmação?
2. Procure no texto o verso em que o narrador se identifica com o povo da
cidade e transcreva-o.
3. Escute e cante a canção “A Banda”. Fique atento à letra e à melodia.
Que mensagem ela transmite a você?
4. Procure na última estrofe uma palavra que pode ter dois significados.
Qual é a palavra e quais são os seus significados no texto?
Conceituando
Numa língua qualquer, é muito comum ocorrer que um plano de expressão (um
significante) seja suporte para mais de um plano de conteúdo (significado), ou seja,
que um mesmo termo tenha vários significados. Quando um único significante remete
a vários significados, dizemos que ocorre a POLISSEMIA.
PLATÃO e FIORIN, Para entender o texto.p. 112
6. A composição nos fala da alegria que a banda provocou ao passar e
da tristeza quando foi embora. De que forma essa alegria, provocada pela
banda, poderia continuar na cidade e aproximar seus habitantes para um
melhor convívio?
17
De volta a história...
Esse mesmo ano, 1966, marcaria uma reviravolta na imagem de Chico
Buarque, que romperia com o enquadramento forjado pela televisão. O artista
iria deixar de ser o bom mocinho. A oportunidade seria dada pelo III Festival da
MPB, onde Chico Buarque apresentou “Roda Viva”.
“Tem dias que a gente se sente /Como quem partiu ou morreu/A gente
estancou de repente/ Ou foi o mundo então cresceu”
A letra revela o cuidado e o talento de um compositor experiente, que se
propunha a competir num festival exigente, mas essa voz poética nos chegava
mesmo era para apontar a crueldade do presente. Um presente contraposto a
um passado que, por sua vez, era visto com um sentimento de nostalgia. O que
se foi parecia belo e o que vinha era terrível na medida em que nada mais
escapava às garras de um tempo esmagador.
Naquela época, os valores acumulados até então começaram a entrar
em crise ao mesmo tempo em que a repressão política brasileira afinava seus
instrumentos para promover o desastre da ditadura.
PESQUISA
DITADURA MILITAR NO BRASIL
Faça uma pesquisa sobre os fatos políticos da repressão
militar no Brasil:
quando ocorreram e por que ocorreram.
Veja você mesmo!
( Música e imagens)
www.youtube.com.br/chicobuarque/vaipasssar
18
Desde 1964, vivíamos sob uma ditadura militar que não tinha mostrado
ainda todo o seu poder de fogo. Dois anos depois daquele festival, em 1968, o
governo baixou o Ato Institucional nº 5 que pretendia calar de vez as vozes
contrárias aos arbítrios do regime.
Alguns meses depois, a canção voltou à cena para ser apresentada numa
peça também intitulada “Roda Viva”, do mesmo Chico Buarque. O tema do
espetáculo era a condição do artista vitimado pela idolatria forjada pelos meios
de comunicação, mas como a peça também podia ser interpretada como
imagem da vida civil oprimida pelo regime militar, a certa altura da temporada,
o “Comando de Caça aos Comunistas” invadiu o teatro agredindo brutalmente
os atores e o público, deixando o cenário totalmente destruído.
Esse terrível episódio mostra não apenas a truculência do Governo
brasileiro, mas também os efeitos de uma notável mudança na obra e na
postura de Chico Buarque.
Da poesia nostálgica aos versos amargos, o compositor passava a
desgostar parte de seu público. Questionando a unanimidade que fora criada
em torno de si, Chico rejeitava sua condição de ídolo. No lugar do bom
mocinho, aparecia o artista inquieto e combativo que não mais se enquadrava
na imagem cultivada pela televisão.
Em 1970, vivia-se no Brasil o ufanismo que antecedeu a conquista do
tricampeonato mundial de futebol, no México. Rádios executavam à exaustão
“Pra frente, Brasil”, de Miguel Gustavo, e “Eu te amo, meu Brasil”, da dupla
Dom e Ravel. Carros exibiam adesivos como “Brasil! Ame-o ou deixe-o” ou até
o ameaçador “Brasil! Ame-o ou morra”.
A resposta de Chico ao que viu e não gostou foi a canção “Apesar de
você”, que ele considera uma de suas canções realmente de protesto.
Prevendo atritos com a censura, Chico resolveu consultar um amigo que
ponderou que só haveria problemas se os censores percebessem segundas
intenções na letra. E, de fato, num primeiro momento, não houve.
Para surpresa geral, a letra foi liberada. Gravada, chegou a vender mais
de 100 mil compactos em uma semana. Tudo ia bem, até que uma notinha
num jornal do Rio de Janeiro insinuou que o “você” era na verdade o presidente
Médice.
19
Chico, que já estava preparado, disse cinicamente que se tratava de
uma mulher muito mandona. Não colou. A polícia recolheu as cópias das lojas,
invadiu a fábrica para destruir o estoque, proibiu sua execução nas rádios e, de
quebra, puniu o censor que deixara escapar tamanho desrespeito.
Apesar de você
(Chico Buarque de Holanda, 1978)
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
[...]
Veja você mesmo! (letra/ música/vídeo)
www.letras.terra.com.br /chicobuarque
A canção acima parte da situcionalidade para o texto pois reflete o
sentimento de luta dos jovens artistas da época. O texto assimilou as
ideias da sociedade e da época em que foi produzido.
“Apesar de você” é uma metáfora da ditadura militar.
O autor conta com a memória discursiva do leitor, pois não deixa tudo
explícito e recorre ainda a uma intertextualidade quando utiliza a expressão
popular “Inda pago pra ver” .
20
Outro recurso utilizado pelo autor para dar mais sonoridade ao texto foi o
trocadilho “vou cobrar com juros, juro”.
VAMOS À AÇÃO!
1. Sem conhecer o contexto social em que a música foi escrita, você faria a
mesma leitura deste texto?
2. Ao reconhecer as relações do texto com a história você passa a fazer
uma leitura mais profunda e tem condições de postular dois significados
abstratos que se opõem entre si e garantem a unidade do texto inteiro?
Quais seriam?
3. Em que versos Chico ressalta o autoritarismo militar?
4. A situação de humilhação pela qual as pessoas passavam aparece em
que versos?
CONCEITUANDO
ANTÍTESE é o expediente de construção textual
que consiste em estabelecer, ao longo do texto,
oposições entre temas e figuras.
(PLATÃO e FIORIN, Para entender o texto.p. 129)
Conversaremos mais sobre tema e figura no 4º
passo.
21
5. Na primeira estrofe da canção ocorre uma antítese: pecado/perdão.
Que sentido o poeta quis produzir com o uso dessa antítese?
6. Levando
em
conta o contexto histórico,
o
que quer
dizer
a
expressão “Apesar de você”?
7. Na expressão, “Nesse meu penar” um verbo foi substantivado. Construa
uma frase transformando este substantivo novamente num verbo.
8. As palavras: “escuro” “tristeza” “lágrima” “fineza” possuem, no texto,
sentido positivo ou negativo? Justifique.
Chico
torna-se
também
um
com a preservação da música nacional,
mercado, que àquela altura já ia
música estrangeira ao gosto
Antes da década de
se pode chamar de uma
compositor
preocupado
sacrificada pela roda viva do
impondo com toda a força a
brasileiro.
50, não havia propriamente o que
“cultura da juventude”. O fenômeno
foi trazido dos Estados Unidos. Foi neste momento que os adolescentes
ganharam um mercado de produtos variados, capazes de atender aos seus
gostos e hábitos próprios: sanduíches, refrigerantes, chicletes, roupas, cinema,
música.
O rock faz parte desse pacote, é a música de afirmação juvenil, que por
sinal aportou no Brasil na mesma época em que virou moda entre os
adolescentes de classe média americana. O estilo surgiu nos EUA numa época
de grande prosperidade econômica, talvez por isso a ele tenha sido logo
associada a ideia de rebeldia. Contra a acomodação da família pequeno-
22
burguesa, o rock impunha seu ritmo acelerado, procurando liberar os costumes
da classe média.
Ainda não havia um mercado de música juvenil no Brasil, e nem o rock
recém-chegado tinha força para tanto. Parte da juventude gostava de Bossa
Nova, mas a maioria ainda gostava dos cantores de rádio.
Foi então que Roberto Carlos, tal como a banda inglesa Beatles, criou,
nos anos 60, um repertório destinado especialmente à juventude.
Photograph of The Beatles as they
arrive in 1964. (www.wikipedia.com)
Além disso, o moço chegava com um estilo que prometia: gírias para se
expressar, gosto por carrões, cabelos compridos, terninhos sem gola, botinhas,
atitude irreverente, etc. Em pouco tempo tudo viraria moda.
(www. wikipedia.com)
Veja você mesmo! www.youtube.com.br
Ronnie Von/Roberto Carlos "Jovem Guarda" DVD
23
Apesar da rivalidade entre os rapazes da MPB, que abominavam a
guitarra elétrica (símbolo do estrangeirismo), e os rapazes do rock, que não
tinham compromisso com o nacionalismo musical, a Jovem Guarda, liderada
por Roberto Carlos, manteve-se firme por um bom tempo. Nas tardes de
domingo, era impensável ver outra coisa na televisão, os “cantores da Jovem
Guarda” tornaram a TV Record a grande campeã de audiência.
Mas como as fórmulas da TV tendem a se esgotar, o “movimento” acabou
entrando em declínio. Além desse aspecto, contribuiu para a decadência da
Jovem Guarda a sua incapacidade de competir com o rock internacional, que
penetrava firmemente no mercado brasileiro de discos nos anos 70.
Foi preciso aguardar os anos 80 para que pudéssemos ver no rock uma
tendência dominante em nossa música popular. A essa altura já tínhamos um
público jovem bastante habituado ao rock, uma tecnologia musical mais
compatível com a música pop e, por fim, um esquema de shows capacitado
para promover espetáculos às grandes platéias.
Foi assim que vimos aparecer um número considerável de bandas
gravando discos de sucesso. Por ser um estilo de música especialmente
praticada nos grandes centros, foi em São Paulo (Titãs, Ira!), no Rio (Barão
Vermelho, Blitz) e em Brasília (Paralamas do Sucesso, Legião Urbana) que
surgiram os principais conjuntos do rock nacional.
No Brasil dos anos 80, a presença da AIDS comprometeu o discurso de
liberação dos costumes, em especial aqueles ligados ao comportamento
sexual. Além disso, a década de oitenta está marcada como época de
derrocada econômica e, com ela, o sentimento de decepção com os rumos do
país. Nessa medida, o rock brasileiro expressa bem os dilemas de uma
geração vivendo num tempo abafado, sem muitas esperanças.
24
Canções saltaram da esfera restrita do depoimento pessoal e dirigiram-se
a uma geração ameaçada pelo imobilismo que é fruto, talvez, do esfriamento
das lutas políticas, do consumismo desmedido e da crise do sonho de uma
sociedade mais justa.
A nova geração do rock queria inovar substancialmente a música
brasileira. Com os pés fincados firmemente no concreto das grandes cidades
propunham-se a “invadir sua praia”, “sentindo cheiro de gasolina e óleo diesel”,
atrasando o “trem das onze”, pintando de negro a “asa branca”, transformando
a “Amélia” em uma mulher comum e pisando sobre as flores de Geraldo
Vandré.
Com um discurso pós-moderno as letras invertiam conceitos como
aqueles defendidos pela TFP “Tradição, Família e Propriedade”. As canções
passaram a questionar rotulações e preconceitos . A música “ A gente somos
inútil” (Ultraje a Rigor) recheada de deboche e ironia, seguida dos clássicos
“Que País é Esse?” (Legião Urbana), “Polícia”, “Estado Violência”, “Comida”
(Titãs), “Armas”, “Alagados” (Paralamas do Sucesso), e “O Tempo Não Para”,
“Brasil”, “Blues da Piedade”, “Burguesia” (Barão Vermelho/ Cazuza), colocaram
expressões como “País do Futuro”, “Ame o Brasil ou deixe-o” e “Deus é
brasileiro” na lixeira da história.
“Comida” do grupo Titãs, talvez seja o rock mais expressivo dessa fase
eletrizada da MPB. A canção foi um dos mais fortes e marcantes protestos da
sua geração, ela apresenta críticas ao sistema de governo, na tentativa de
gerar a conscientização das pessoas para o problema da distribuição de renda
no Brasil.
Ao analisar a letra você perceberá que ela possui um discurso bastante
direto, sem metáforas complicadas ou imagens difíceis de desvendar.
A canção é dividida em duas estrofes com oito versos cada,
acompanhadas do refrão. Os versos são paralelísticos, ou seja, repetem a
mesma estrutura sintática, de modo que facilitam a memorização e reforçam a
musicalidade da composição.
Chega de papo, vamos à música!
25
Comida
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte
(...)
ANTUNES Arnaldo, BRITO Sérgio, FROMER Marcelo
Veja você mesmo !www.letras.terra.com.br
Percebeu a simplicidade da estrutura da canção? Em relação à letra
tudo se organiza a partir do verbo querer. Em relação ao ritmo, a base do rock,
ouvimos a batida forte e repetitiva do funk.
Vale a pena observar que a leitura das estrofes pode ser feita de duas
maneiras: tanto na linha horizontal, quanto na vertical. Como as palavras “não”
e “quer” aparecem sempre na mesma posição, forma-se na vertical o memo
jogo “quer/não quer”.
A letra traz uma crítica à campanha contra a fome liderada pelo
sociólogo Betinho, afirmando que comida corresponde a apenas uma parte
das necessidades do homem e que o ser humano precisa muito mais do que
comida. Todos precisamos de lazer, diversão, arte, liberdade para que nos
sintamos saciados.
O uso de recorrências lexicais, como no caso de “a gente” enfatiza
a ideia de que gente é diferente de animal, que precisa de mais coisas além da
comida. O advérbio “só” aparece em várias partes do texto, para reforçar a
ideia de parcialidade.
26
Já no teor do refrão percebemos a redução rítmica e formal da canção,
onde comida e bebida se apresentam em seu sentido mais elementar: a bebida
é apenas o líquido e a comida o mero alimento.
A polifonia constitui-se no diálogo com a Campanha da Solidariedade e
com a política do pão e circo.
Para entendermos melhor o termo “política do pão e circo”,
precisamos dar um pulo na história da Roma Antiga no período do crescimento da
zona urbana. Os camponeses deixaram a zona rural, que passava a ser lavrada por
mãos escrava. Esse fato acarretou diversos problemas sociais, entre eles o
desemprego e a fome. O Imperador, receoso de que pudesse acontecer alguma
revolta de desempregados, criou a política do Pão e Circo, que consistia em
oferecer aos romanos, alimentação e diversão. Quase que diariamente ocorriam
lutas de gladiadores nos estádios e eram distribuídos alimentos. Dessa forma, a
população carente acabava esquecendo dos problemas da vida, diminuindo as
chances de revolta.
VAMOS À AÇÃO!
1. Observe que todos os verbos estão no presente do indicativo. Qual
a importância disso para a construção do sentido do texto?
2. Na primeira parte do texto a presença das palavras “água e pasto”
aparecem com que sentido?
27
3. Explique o efeito de sentido que o advérbio “só” no verso “A gente não
quer só comida” produz.
4. Você acha que uma pessoa ganhando salário mínimo tem
condições de ter uma alimentação digna e lazer? Comente.
5. Procure saber mais sobre a campanha de solidariedade do Betinho e
faça a relação com a política das “bolsas” do atual governo.
Voltemos ao início dos anos 80. Este pode ser definido como o
momento da história recente do país em que o último dos governos militares
enfrentava uma profunda crise nos seus três frontes decisivos: economia,
coesão e hegemonia. Os militares estavam divididos sobre a dosagem correta
de repressão e liberdade a ser aplicada. Amplos setores das classes
dominantes, muitos dos quais haviam apoiado o golpe de 64, estavam
descontentes com o governo, visto que seus ganhos encolhiam e uma
mudança de ares poderia trazer novo alento. O povo e principalmente a classe
média que fazia para com eles a ligação e formação da opinião, sinalizava o
desejo de mudança.
As mudanças são inevitáveis quando os de cima não conseguem
mais governar como antes e os de baixo não querem mais ser governados
como antes. O povo foi às ruas em grandes manifestações e o fez como
cidadão, não como classe. O resultado foi que democraticamente, cumprindo
os preceitos de cidadãos eleitos, deputados e senadores derrotaram a emenda
Dante de Oliveira, que tinha por objetivo reinstaurar as eleições diretas para
presidente da República no Brasil, tomando para si a tarefa de escolher o novo
mandatário da nação.
Você já ouviu a expressão “Diretas já!” ?
Seus pais certamente presenciaram esse momento histórico
brasileiro. Que tal conversar com eles sobre o assunto, anotar os
comentários e trazê-los para sala de aula?
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DICA DE LEITURA
Livro:Carapintada
Autor: Renato Tapajós
Série: Sinal Aberto
O livro de Renato Tapajós, pelo enredo, amarra dois períodos históricos muito
agitados no Brasil: 1969/ 1992. Com uma linguagem ágil, coloquial e forte, o autor constrói
com competência o encontro de duas gerações que, cada qual a seu modo, tentaram
mudar o destino do país. Antes de mergulhar nessa aventura seria interessante que você
se informasse
sobre alguns tópicos: o que levou à ditadura militar de 64? Quem
governava, como governava? Por que ocorreu o “impeachment” de Collor? Você poderá
contar com a ajuda da internet, revistas, jornais, além dos livros “Brasil Nunca Mais” da
Comissão Justiça e Paz; “O Governo Goulart” de Muniz Bandeira e “O Golpe de 64” de
Júlio José Chiavenato, entre tantos outros.
Se o tema lhe interessou, leia também o livro Rômulo e Júlia - Os caras-pintadas
de Rogério Andrade Barbosa (Ed. FTD). Este livro aborda os quatro meses que
antecederam à renúncia do presidente Collor, coincidindo com a descoberta da adoção
ilegal de uma criança, filha de presos políticos, na época da repressão militar no Brasil.
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DICAS DE FILMES
Você poderá encontrar a mesma temática em filmes e
seriados:
Eles não usam black-tie é um filme brasileiro de 1981 dirigido
por Leon Hirszman, com fotografia de Lauro Escorel e baseado na
peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri.
Pra frente, Brasil é um filme brasileiro de 1982, dos gêneros
drama e ficção histórica, dirigido e escrito por Roberto Farias,
baseado em argumento de Reginaldo Faria e Paulo Mendonça.[1]
Estrelado por Reginaldo Faria, Antônio Fagundes, Natália do Valle
e Elizabeth Savalla, Pra frente, Brasil foi um dos primeiros filmes
a retratar a repressão da ditadura militar brasileira (1964 - 1985) de
forma aberta.
La historia oficial (br / pt: A história oficial) é um filme
argentino de 1985, do gênero drama, dirigido e escrito por Luis
Puenzo.La historia oficial foi um dos dois filmes produzidos na
América Latina a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro,
junto com El secreto de sus ojos, em 2010. O filme a história de
uma professora da classe média argentina que descobre que a
criança que adotou pode ser filha de presos políticos da ditadura
militar (1976-1983).
Anos Rebeldes é uma minissérie brasileira produzida e transmitida
pela Rede Globo, entre 14 de julho e 14 de agosto de 1992, às
22h30, tendo totalizado 20 capítulos. A minissérie foi inspirada
nos livros: 1968 – O Ano que Não Terminou, de Zuenir Ventura, e
Os Carbonários, de Alfredo Sirkis.Foi escrita por Gilberto Braga e
Sérgio Marques, com a colaboração de Ricardo Linhares e Ângela
Carneiro, e dirigida por Dennis Carvalho, Ivan Zettel e Sílvio
Tendler, com direção geral de Dennis Carvalho.
A música que atravessou esses anos conturbados, especialmente o
rock, parecia brotar das entranhas e das garagens. Ela foi uma ruptura com a
tradição, não uma evolução do rock dos anos 70, embora guarde em alguns
30
casos, influências do Tropicalismo, dos Mutantes, de Rita Lee, dos Novos
Baianos da primeira fase, de Secos & Molhados e da eclética vanguarda
paulista.
A relação com o social é uma forte marca do rock dos anos 80. Sua
visão não é a história como fio condutor do progresso, e embora não seja uma
questão doutrinária, nos parece que o rock via a história como uma espécie de
aposta, possibilidade ou desastre.
Veja os versos de Cazuza na canção “O tempo não para”:
“... Mas se você achar / Que eu tô derrotado / Saiba que ainda estão
rolando os dados / Porque o tempo, o tempo não para ... / A tua piscina tá
cheia de ratos / Tuas idéias não correspondem aos fatos / O tempo não para...
/ Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes novidades /
O tempo não pára / Não pára, não, não para... /”
Cazuza foi um dos mais conhecidos e talentosos interpretes do rock
nacional.
O “centro da sociedade”, materializado pela cultura do homem
branco ocidental, heterossexual e de classe média passa a ser contestado pelo
discurso do excluído presente em suas canções.
As letras de Cazuza, recheadas de fortes metáforas, são afiadas,
sarcásticas, refletem muito bem o Brasil da década de 80 e como veremos,
continuam extremamente atuais.
31
Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza (Rio de Janeiro, 4
de abril de 1958 — Rio de Janeiro, 7 de julho de 1990) foi um cantor e compositor
brasileiro que ganhou fama como símbolo da sua geração como vocalista e principal
letrista da banda Barão Vermelho. Sua parceria com Roberto Frejat foi criticamente
aclamada. Dentre as composições famosas junto ao Barão Vermelho estão "Todo
Amor Que Houver Nessa Vida", "Pro Dia Nascer Feliz", "Maior Abandonado", Bete
Balanço" e "Bilhetinho Azul".
Cazuza tornou-se um
dos ícones da música brasileira do final do século XX. Dentre seus sucessos musicais
em carreira solo, destacam-se "Exagerado", "Codinome Beija-Flor", "Ideologia",
"Brasil", "Faz Parte Do Meu Show", "O Tempo Não Pára" e "O Nosso Amor A
Gente Inventa". Cazuza também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico,
tendo declarado em entrevistas que era bissexual. Em 1989 declarou ser soropositivo
e sucumbiu à doença em 1990, no Rio de Janeiro.
Fonte: www.wikipedia.com .br
O TEMPO NÃO PARA
(Cazuza)
Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou
beijo de namorada
Eu sou mais um cara
[...]
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A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não para
[...]
Veja você! www.letras.terra.com.br/cazuza.com.br
VAMOS À AÇÃO!
Ao denunciar a situação de opressão e manipulação social, o eu-lírico
visa a conscientizar os ouvintes da necessidade de transformação.
1.
Transcreva alguns versos que comprovem que o eu-lírico do
texto concretiza-se na primeira pessoa do discurso.
2.
Observe que o percurso narrativo da canção está centrado em
um sujeito que busca a todo custo, denunciar sua situação de
marginalização. Que trecho do texto comprova esta afirmação?
3.
O inconformismo, as marcas linguísticas “tô, eu sou o cara” e
expressões como “beijo de namorada” evidenciam a faixa etária
do eu-lírico? Comente.
33
4.
Ainda na primeira estrofe podemos observar a mudança do artigo
definido o em “o cara” para o indefinido um em “mais um cara”.
Que ideia essa alteração nos passa?
CONCEITUANDO
TEMAS E FIGURAS
Figuras são palavras ou expressões que correspondem a algo existente no mundo
natural: substantivos concretos, verbos que indicam atividades físicas, adjetivos que
expressam qualidades físicas. Por exemplo: sol, metralhadora, beijar, tempo.
Quando falamos em mundo natural, não estamos querendo dizer apenas o mundo
realmente existente, mas também os mundos fictícios criados pela imaginação
humana.
Temas são palavras ou expressões que não correspondem a algo existente no
mundo natural, mas a elementos que organizam, ordenam, categorizam a realidade
percebida pelos sentidos. Por exemplo: poder, destruição, privação, prazer.
PLATÃO e FIORIN, Para entender o texto,7 ed, p.72
Para abordar um assunto qualquer o autor pode escolher entre construí-lo com
termos abstratos, remetendo-se a elementos que abordem ou expliquem aspectos
das condutas humanas, ou pode concretizar o texto com elementos que
representem coisas, ações e qualidades encontradas no mundo natural e
perceptíveis pelos sentidos. Podemos encontrar textos temáticos, sem nenhum
elemento figurativo expressivo, mas todo texto figurativo pressupõe temas sob as
figuras.
Conseguir extrapolar o nível figurativo de uma leitura, sempre procurando um
significado amplo para o texto, é ser um leitor competente.
34
5.
Complete o quadro abaixo encontrando temas para as figuras
retiradas da canção de Cazuza. Não se esqueça de que os
valores das palavras dependem do texto como um todo. Cuidado
para não alterar o contexto da canção!
FIGURA
TEMA
SOL
MUDANÇA / PODER
METRALHADORA
DESTRUIÇÃO
CANSADO DE CORRER
DESÂNIMO / DESILUSÃO
PÓDIO/ BJ DE NAMORADA
ROLANDO OS DADOS
ARRANHÃO
PISCINA
RATOS
TEMPO FUTURO
TEMPO PASSADO
MUSEU
DIAS DE PAR EM PAR
AGULHA NO PALHEIRO
LADRÃO/BICHA/MACONHEIRO
PUTEIRO
DINHEIRO
Conseguiu perceber como o autor concretizou um texto abstrato recorrendo a
elementos concretos?
35
6.
Há uma passagem da canção que faz referência ao fato de que
enquanto as pessoas se preocupam em analisar e categorizar
pessoas, assuntos mais importantes nos fogem à mente,
gerando alienação e possibilitando a continuação da exploração
do país pelas elites. Indique os versos em que as figuras levam a
deduzir esse tema.
7.
As “figuras” o ladrão, o bicha, o maconheiro, representam “latões
de lixos conceituais” onde são depositados os fenômenos e as
condutas “diferentes” das consideradas “normais”. Ao aceitarmos
esse tipo de categorização estamos pactuando com um dos
maiores males da sociedade. Qual a sua opinião?
8.
Comente a frase de Renato Russo “o preconceito nasce do
desconhecimento, do medo”.
DICA DE FILME
Cazuza – O Tempo não Para é um filme brasileiro de 2004, do gênero drama
biográfico, dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho, e com roteiro
baseado na vida do cantor e compositor Cazuza. O roteiro foi escrito por
Fernando Bonassi e Victor Navas, é baseado no livro Cazuza, Só As Mães São
Felizes, escrito pela mãe do cantor, Lucinha Araújo, e pela jornalista Regina
Echeverria
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O preconceito surge quando a tentativa de entender um fenômeno
comportamental “diferente”, “novo” é frustrada. As pessoas não conseguem
explicações e isso causa desconforto, perturba, incomoda, irrita, ameaça.
Na década de 80, o visual agressivo dos punks, com os cabelos
arrepiados ou moicanos, virou
“pavão/periquito/urubu”, numa
tentativa
desesperada e preconceituosa de se classificar o que se via, mas não se
compreendia.
A aparência, as expressões, a conduta, os acessórios, os gestos, a
idade e o modo de se vestir emitem sinais de identidade e classe social.
É necessário atentarmos para o fato de que o rock 80 tinha certa ligação
com o sindicalismo e com os partidos de esquerda, mas, não eram, de forma
alguma, partidários da música engajada, característica de setores da MPB
60/70: “Meu partido / É um coração partido / E as ilusões estão todas perdidas /
Os meus sonhos foram todos vendidos / Tão barato que eu nem acredito / Ah,
eu nem acredito... / Meus heróis morreram de overdose / Meus inimigos estão
no poder / Ideologia / Eu quero uma pra viver...”
Ideologia (Cazuza)
O rock 80 tem uma relação de distanciamento com a ideia de nação, um
rock anti-exaltação, certa concepção de que “nação” é uma instituição tão
especial que é mesmo feita só para poucos. Uma abstração. O mais conhecido
exemplo é a música Brasil, também de Cazuza.
Brasil
(Cazuza)
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
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[...]
Brasil,
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
[...]
Veja você mesmo! www.letras.terra/cazuza
As figuras utilizadas pelo autor associam imagens narrativas de uma voz
excluída remetendo o nosso olhar em direção ao país desigual em que
vivemos. A voz do sujeito faz-se ouvir pelas posições desvalorizadas e
ignoradas. Ela ecoa das margens da cultura e, com destemor, contesta as
imagens do Brasil, propostas por músicas anteriores que só enalteciam o país.
Uma política protagonizada por vários grupos que se reconhecem passa
a acontecer. O que passa a ser questionado, nas músicas de Cazuza é toda
uma noção de arte, educação, ética e cultura.
A anáfora e a repetição do vocábulo “não” na letra da canção reforçam a
revolta e a ironia em relação aos dirigentes do país, anunciando uma visão
crítica do contexto social.
“não me convidaram/ não me elegeram/ não me ofereceram/ não me
sortearam/ não me subornaram”
Por essas repetições, a canção reverbera um Brasil que exclui, que
enfatiza um discurso vazio “fala-se muito e faz-se pouco”.
38
Conceituando
ANÁFORA é a repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no
princípio de frases ou versos consecutivos. É uma figura de linguagem muito
comum
nos
quadrinhos
populares,
música
e
literatura
em
geral,
especialmente na poesia.
VAMOS À AÇÃO!
1. Para conseguir o que quer o sujeito do texto usa a violência. Em que
verso isso é sugerido?
2. A quem você atribui a voz do texto. Quais trechos do texto permitem
essa afirmação?
3. Segundo o texto que elemento colabora para que as pessoas não se
rebelem contra o que esta acontecendo, transformando-as em robôs.
4. A canção estabelece diálogo com situações da época, exigindo
conhecimento de mundo do ouvinte. Na década de 80, o programa
Fantástico da Rede Globo exibia um quadro chamado Garota do
Fantástico, que consistia num desfile e na eleição de uma garota, o qual
projetava as eleitas para a fama. Saiba mais detalhes sobre a época em
que essa letra foi escrita. Destaque os fatos históricos e veja se eles
influenciaram na produção do texto.
39
Observe que, apesar de fazer uma série crítica de ao país, na última
estrofe o eu-lírico reafirma o seu compromisso de não traição, talvez a
uma alusão aos responsáveis pelas condições sócio-econômicas do país.
A progressão do texto ocorre por meio de paralelismo: “Não me
sortearam/não me convidaram” e na última estrofe ocorre a reativação de Brasil
por meio de “grande pátria” .
A expressão fônica do texto é construída com o uso da segunda
pessoa do singular. Isso gera uma aliteração com o fonema “T” que ajuda na
expressão sonora explosiva do texto, dando uma idéia de indignação.
É
forte
também
a
presença
da
oralidade,
principalmente
por
expressões como “malhada” e “tv a cores”.
5. Como vimos anteriormente,
a
linguagem
figurada
é
típica
das
canções. Pesquise em uma gramática e procure identificar, no verso:
“Brasil, mostra a tua cara” que figura de linguagem ocorre. Além de
explicar o sentido que ela expressa.
6. Manipular é convencer alguém a fazer algo. Na terceira estrofe, fica
claro um processo de manipulação. Em qual verso isso fica evidente?
7. O país é personificado. Quais são as características que denotam isso?
8. Observe o verso “Brasil mostra a tua cara” Reescreva-o substituindo tua
por sua, faça a devida adaptação. O modo verbal usado foi o
Imperativo.
a. Faça
uma pesquisa, registrando em que outras situações da
língua escrita também se usa esse modo verbal. Além disso,
destaque se em todas essas situações de uso há uma
correspondência correta entre o pronome e a forma verbal.
40
No início dos anos 90, deu-se a chamada “nova MPB”, e vem
acontecendo em meio a muitas críticas. Alguns afirmam que o novo ritmo é
apenas mais um estilo inserido na indústria cultural, e que suas letras de musica
não possuem preocupação ideológica.
Por outro lado, há a questão da inovação tecnológica da música
brasileira, marcada pela individualidade de cada artista.
Artistas como Chico César, Lenine e Zélia Duncan, cantores que já
pertenciam a MPB, optaram por renovar suas músicas a partir dos anos 90,
inserindo elementos eletrônicos, como bateria eletrônica, piano elétrico e baixo
eletrônico e misturando a música pop. Cássia Eller, Bebel Giberto, Marisa Monte,
Maria Rita, Ana Carolina, Adriana Calcanhoto, Luciana Melo, Vanessa da Mata,
Zeca Baleiro, Fernanda Porto, dentre outros, fazem parte dessa nova geração.
Os denominados novos músicos da MPB são uma verdadeira junção do
que há de melhor na música popular brasileira com os experimentalismos do
século 21. A nova MPB surge como um pensamento diferenciado. É a mistura do
novo, da tecnologia, com o que passou e ao mesmo tempo, é muito presente na
nossa música, considerando e ampliando referências, mas enfrenta dificuldade
para a difusão de suas músicas
Outra forte tendência contemporânea são as manifestações musicais de
gêneros fáceis, como axé, sertanejo, forró e funk, que são veiculados a grande
mídia. São composições fáceis de serem memorizadas, de ritmo comum e com a
finalidade da venda. Essas músicas tornam-se “onda” e não possuem muito tempo
de vida no mercado músical.
Apesar dessa “tendência consumista” há muita coisa boa por aí, basta
que fiquemos de olhos e ouvidos bem abertos!
41
Gran Finale !
A essa altura nosso blog está recheado de novidades, mas isso
pode ser pouco para divulgarmos nosso trabalho.
Que tal uma exposição? Ou melhor, uma festa musical!
Vamos organizar na escola um evento onde sejam apresentadas
músicas, trajes, vídeos, fotos, e poesias que marcaram os anos 60, 70,
80 e 90!
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Você gostou de conhecer canções de protesto e crítica social ?
A lista abaixo faz um passeio pelo mundo musical dos últimos 40 anos e
trás dicas preciosas! Vale a pena conferir!
Pedro pedreiro – Chico Buarque (1965)
Disparada – Geraldo Vandré/Théo de Barros (1966)
Roda viva – Chico Buarque (1967)
Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré (1968)
O pequeno burguês – Martinho da Vila (1969)
Apesar de você – Chico Buarque (1970)
Deus lhe pague – Chico Buarque (1971)
Quando o carnaval chegar – Chico Buarque (1972)
Vence na vida quem diz sim – Chico Buarque/Ruy Guerra (1972)
Cálice – Gilberto Gil/Chico Buarque (1973)
Viola, meu bem – Caetano Veloso (1973)
Acorda, amor – Leonel Paiva/Julinho da Adelaide (1974)
Milagre brasileiro – Julinho da Adelaide (1975)
Vai levando – Chico Buarque (1975)
Meu caro amigo – Chico Buarque (1976)
O mundo é um moinho – Cartola (1976)
Pivete – Chico Buarque (1978)
O bêbado e a equilibrista – João Bosco/Aldir Blanc (1979)
Hino de Duran – Chico Buarque (1979)
Admirável gado novo – Zé Ramalho (1979)
Casinha branca – Gilson/Joran (1979)
Torresmo à milanesa – Adoniran Barbosa (1979)
Cidadão – Lucio Barbosa (1979)
Alô, alô, marciano – Rita Lee/Roberto de Carvalho (1980)
Notícias do Brasil – Milton Nascimento/Fernando Brant (1981)
Reunião de bacana – Ary do Cavaco/Bebeto di São João (1981)
Inútil – Roger Moreira (1983)
Um homem também chora – Gonzaguinha (1983)
Podres poderes – Caetano Veloso (1984)
Geração coca-cola – Renato Russo/Dado Villa-Lobos (1985)
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Homem primata – Marcelo Fromer/Ciro Pessoa/Nando Reis/Sergio Brito (1986)
Até quando esperar – Philippe Seabra/André X/Gutje (1986)
Comida – Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sergio Britto (1987)
Que país é esse – Renato Russo (1987)
Mais do mesmo – Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Renato Rocha/Marcelo
Bonfá (1987)
Angra dos Reis - Renato Russo/Marcelo Rocha/Marcelo Bonfá (1987)
Alagados – Herbert Viana/Bi Ribeiro/João Barone (1987)
Brasil – Cazuza (1988)
O beco – Herbert Viana/Bi Ribeiro (1988)
Ouça o que eu digo, não ouça ninguém – Humberto Gesinger (1988)
Miséria – Arnaldo Antunes/Paulo Miklos/Sergio Britto (1989)
Burguesia – Cazuza/George Israel/Ezequiel Neves (1989)
Exército de um homem só – Gessinger/Licks (1990)
Teatro dos vampiros – Renato Russo (1991)
Haiti – Caetano Veloso (1993)
O meu país – Livardo Alves/Orlando Tejo/Gilvan Chaves (1994)
Luís Inácio (300 picaretas) – Herbert Viana (1995)
Minha alma – Marcelo Yuca, O rappa (1999)
Pose – Humberto Gessinger (2004)
Unimultiplicidade – Ana Carolina/Tom Zé (2005)
Sem medo da escuridão – Chorão (2007)
DICA
Lixo-bicho e Tijolo, Cimento e Caos – Dani C! (2007)
(Veja você mesmo! www.youtube.co.br/danic!)
44
Considerações finais
A canção é considerada como área de significativo valor para a
compreensão da vida brasileira. Ela assume uma importância ainda maior se
levarmos em conta a sua grande aceitação e circulação na sociedade.
Nossas leituras, audições, debates, reflexões e análises tiveram a
finalidade de mostrar o quanto a canção pode estar impregnada
de
idealismos, denúncias, críticas sociais e sentimentos. Historicamente, ela tem
se constituído como terreno frutífero para a elaboração de discursos variados,
em enunciados que dialogicamente constroem significados abertos ao olhar
interpretativo que busca a compreensão da cultura brasileira.
Para desvendarmos mecanismos de estruturação de significados das
canções, exploramos o sentido que as atravessa, procurando descrever,
analisar e explicar sua estrutura interna, elucidando os percursos que o sentido
desenvolve.
O principal objetivo desta Unidade Didática é o de ajudá-lo a tornar-se
um “proprietário” competente da língua, um autônomo leitor de mundo, capaz
de apreender os significados inscritos no interior de um texto e de correlacionar
tais significados com os conhecimentos que circulam na sociedade em que o
texto foi produzido.
Espero que tenhamos alcançado nosso intuito!
Um grande abraço
45
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Joaquim. A poesia da canção. Col. Margens do texto. Ed. Scipione, São
Paulo, 1993.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4.ed. São Paulo: Ática,
2005.
BRAGA-TORRES, Ângela. Mestres da Música no Brasil. Chico Buarque. 1ª ed. SP:
Ed. Moderna, 2002.
FARACO & MOURA - Prá Gostar de Escrever – Editora Ática, São Paulo, 2000.
FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2008.
______, José Luiz. A noção de texto na semiótica. IN: Organon, v.9, p.163-73, 1995.
MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho Mágico - Poesia e Política em Chico Buarque.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.
PLATÃO, Francisco Savioli & FIORIN, José Luiz . Para Entender o texto – Leitura e
Redação. São Paulo, Ed. Ática, 2000
FONTANILLE, Jacques. Semiótica do Discurso. São Paulo: Contexto, 2007.
KOCH, Ingedore Vilaça e Vanda Maria Elias, Ler e compreender os sentidos do texto,
2.ed, São Paulo: Contexto, 2007.
SANT’ANNA, Afonso.Romano. Música Popular e Moderna Poesia Brasileira.
Petrópolis,Vozes, 1986.
SOLÉ, Isabel; trad. Cláudia Schilling. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Art Med,
1998.
TINHORÃO, José Ramos: Música popular: um tema em debate..São Paulo. Ed. 34,
1997.
TATIT, Luiz Carlos. Análise Semiótica através das letras. Ateliê Editorial, São Paulo,
2002.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. Uma outra história das músicas. São Paulo,
Companhia das Letras, 1999, p.285.
.
INTERNET, site http://www.suapesquisa.com/rock
(acessado em maio/2010)
INTERNET, site http:/www/vagalume.uol.com.br
(acessado em maio/2010)
INTERNET, site http://www.chicobuarque.uol.com.br (acessado em junho/2010)
INTERNET, site http://www.wikipedia.org/ wiki
(acessado em junho/2010)
INTERNET, site http://www.letras.terra.com.br
(acessado em julho/2010)
Download

VOLUME I I - Secretaria de Estado da Educação do Paraná