ADRIANA SOUZA CAMPOS
DE FÁBRICA DE EMPREGOS A FÁBRICA DE ILUSÕES:
O GLOBO REPÓRTER E A COMUNICAÇÃO
GOVERNAMENTAL EM RIO VERDE (GO)
Marília
2007
ADRIANA SOUZA CAMPOS
DE FÁBRICA DE EMPREGOS A FÁBRICA DE ILUSÕES:
O GLOBO REPÓRTER E A COMUNICAÇÃO
GOVERNAMENTAL EM RIO VERDE (GO)
Dissertação apresentada à Universidade de
Marília
(UNIMAR),
Faculdade
de
Comunicação,
Educação
e
Turismo,
Programa
de
Pós-Graduação
em
Comunicação, para obtenção do título de
Mestre
em
Comunicação,
Área
de
Concentração em Mídia e Cultura na Linha
de Pesquisa Produção e Recepção de Mídia.
Orientadora
Profa. Dra. Carly Batista de Aguiar
Marília
2007
UNIVERSIDADE DE MARÍLIA
Reitor Dr. Márcio Mesquita Serva
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Pró-reitora Profa. Dra. Suely Fadul Vilibor Flory
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TURISMO
Diretora Profa. Dra. Suely Fadul Vilibor Flory
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Coordenadora Profa. Dra. Rosângela Marçolla
ORIENTADORA
Profa. Dra. Carly Batista de Aguiar
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares
Mãe, obrigada por me ensinar a importância de
estudar e não desistir nunca;
Ana Clara, o nosso caminho se encarregará de
reparar as minhas ausências;
Fábio, não há palavras para a sua compreensão.
Aos professores
Dra. Carly Aguiar, obrigada por me ensinar e me
ajudar a enxergar o que não se encontra nos livros: que
devemos ter confiança em nossa capacidade;
Dra. Linda Bulik, pelas cobranças em sala, que
resultaram em maior dedicação e determinação;
Dra. Lúcia Miranda, as minhas narrativas já não são
as mesmas depois de nossas aulas inesquecíveis;
Dra. Anamaria Fadul, responsável por me levar pelos
caminhos da comunicação regional;
E ao Ms. Roberto Reis, por me estimular a continuar
nesse caminho.
Em memória
Ao primeiro grande mestre da minha vida, Dr. Sales
Jesuíno de Sousa, meu avô.
RESUMO
Este trabalho busca compreender o processo de comunicação por meio de
análises de dois casos exemplares: uma edição do programa Globo Repórter,
exibido em 6 de fevereiro de 2004 pela Rede Globo e uma experiência em
comunicação governamental em Rio Verde (GO). O trecho do Programa
analisado abordou os três municípios brasileiros que mais geravam emprego e
renda àquela época, no Brasil. A produção do Programa se baseou nos dados
do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE), para onde são remetidas informações
coletadas pelas unidades do Sistema Nacional de Empregos (SINE),
espalhadas por todo País. A exibição do Programa provocou efeitos imediatos
no Município, que sofreu uma invasão de migrantes desempregados em busca
das oportunidades e dos altos salários mostrados na televisão. A realidade
encontrada por esses migrantes era diferente da apresentada no Programa,
que transformou Rio Verde de “fábrica de empregos” em “fábrica de ilusões”. O
episódio chama a atenção para aspectos como a vulnerabilidade do poder
público diante da mídia, uma vez que não tem o poder de influir sobre a
informação dos meios de comunicação e da população receptora de
informações que não tem como avaliá-las. A comunicação governamental foi
vítima do pré-julgamento da equipe da Emissora, que recusou qualquer apoio
da assessoria de imprensa na produção do material veiculado, por não querer
a versão “oficial” dos fatos. Para as análises e a reconstrução do episódio foi
adotada a teoria da hermenêutica de profundidade descrita por Thompson e
extraída de Ricoeur e foram realizadas também pesquisa bibliográfica,
pesquisa documental (recortes de jornais impressos e legislações), entrevistas
e observação participante. O estudo conclui que o desencontro dessas duas
fontes informativas, a pública e a privada, ocorrido no episódio não contribui
para a melhoria dos processos comunicacionais relacionados com questões
sociais importantes como o desemprego.
ABSTRACT
This study intends to understand the communication process through the
analysis of two exemplary cases: an edition of the program Globo Reporter
shown in 6 of February of 2004 for Rede Globo and an experience in
governmental communication in Rio Verde (GO). The stretch of the analysed
program approached the three Brazilian towns that more generated job and
income at that time in Brazil. The program production based on Employed and
Unemployed General Register (Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados - CAGED) of Work and Employment Ministry (Ministério do
Trabalho e Emprego - MTE), where collected information are sent by units of
National System of Employment (Sistema Nacional de Empregos – SINE)
spread all around the country. The program exhibition caused immediate effects
in town that suffered an invasion of unemployed migrants looking for the
opportunity and high salary presented on television. The reality found by these
migrants was different from that presented on the program, which turned Rio
Verde from “Employment Factory” to “Illusion Factory”. The episode calls
attention for aspects as vulnerability of public power in the face of media, since
it does not have the power to influence on the information of the medias and the
population that receives the information and can’t value it. The Government
Communication was victim of previous judgment from the Broadcasting team
that refused any support from the press assessorship in the production of
propagated material, it happened because they did not accept the “official”
version of the facts. For the analysis and reconstruction of the episode was
adopted the theory of Hermeneutics of Profundity (Hermenêutica de
Profundidade) described by Thompson and extracted from Ricoeur, were also
carried out literary research, documentary research (newspaper cutting and
legislation), interviews and participant observation. The study concludes that the
absence of understanding between these two information sources, the public
and the private, occurred in the episode doesn’t contributes to the improvement
of communication processes related to important social matters as
unemployment.
ÍNDICE
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO ....................................................................................................1
PARTE I – TELEVISÃO, PRODUÇÃO, RECEPÇÃO E EFEITOS
2. O PROGRAMA GLOBO REPÓRTER .....................................................9
3. O PROCESSO DE HERMENÊUTICA ...................................................13
3.1
A
hermenêutica
..........................................................14
de
profundidade
3.2 Receptor ativo ou passivo? ...................................................................19
3.3 A notícia como produto .........................................................................21
3.4 O desejo do receptor: ver e ser visto pela televisão .............................24
3.5 Enunciação do cotidiano e da família ...................................................27
4. A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADO ...................................................31
4.1 Os efeitos de recepção .........................................................................33
5. AS NOTÍCIAS COMO SHOW ............................................................... 37
PARTE II – A INVASÃO DOS MIGRANTES DESEMPREGADOS
6. OS DADOS DO CAGED ........................................................................44
6.1 A superexposição de Rio Verde no Globo Repórter..............................47
6.2 A trajetória do Programa .......................................................................48
7.
CRONOLOGIA
DAS
REPERCUSSÕES
EM
JORNAIS
IMPRESSOS ..........................................................................................55
7.1 Algumas repercussões no cenário nacional .........................................61
7.2 Opinião especializada sobre o episódio ................................................64
8. AÇÕES DA PREFEITURA PARA CONTER A CRISE
8.1 Ações da Emissora para minimizar os efeitos provocados....................69
9. LEMBRANÇAS DO EPISÓDIO DOIS ANOS DEPOIS .........................71
9.1 Solicitações de entrevistas com a equipe do Globo Repórter...............72
9.2 Impressões do ex-coordenador do SINE...............................................74
9.3 Impressões dos integrantes da assessoria de imprensa.......................77
9.4 O caos no Terminal Rodoviário .............................................................81
PARTE III – COMUNICAÇÃO PÚBLICA, MIDIÁTICA E POLÍTICA
10. ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO.....................................................85
10.1 A manipulação informativa ..................................................................87
11. COMUNICAÇÃO E POLÍTICA .............................................................92
11. 1 A verdade, a mentira e o segredo na política......................................95
12. A COMUNICAÇÃO NA LEGISLAÇÃO DE RIO VERDE ......................99
12.1 Um pouco mais sobre Rio Verde........................................................102
13. O ORGANOGRAMA – ONDE ESTÁ A ASSESSORIA?.....................103
13.1 Estrutura da Assessoria.....................................................................104
13.2 As teorias do jornalismo e a assessoria de imprensa........................107
14. VERBAS ORÇAMENTÁRIAS PARA A COMUNICAÇÃO .................112
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................115
REFERÊNCIAS .........................................................................................119
ANEXOS....................................................................................................124
APÊNDICE
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Fotografia da equipe do Globo Repórter durante gravação no SINE
de Rio Verde .....................................................................................................
49
Figura 02 – Repórter Flávio Fachel em conversa com empresários no SINE
antes da gravação.............................................................................................50
Figura 03 – Repórter Flávio Fachel durante gravação da passagem em que
mostra a fila de empresários no SINE de Rio Verde.........................................51
Figura 04 – Grande fluxo na agência do SINE de Rio Verde após a exibição do
Globo Repórter..................................................................................................53
Figura 05 – Funcionário da Prefeitura distribuindo refeições a desempregados
que se aglomeravam na rodoviária de Rio Verde..............................................66
Figura 06 – Migrantes lotam entrada da Prefeitura de Rio Verde e fazem
reivindicações....................................................................................................67
Figura 07 – Página na Internet da Prefeitura de Rio Verde............................106
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Comparativo das verbas orçamentárias entre 2002 e 2006......114
INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda dois tipos de fontes informativas, a pública,
representada pela Prefeitura, do município de Rio Verde, no Estado de Goiás,
principalmente, mas não apenas, através de sua assessoria de imprensa, e a
privada, representada pelo Programa em questão, intitulado “Desemprego – Os
caminhos alternativos do trabalho no Brasil”, produzido e veiculado pela Rede
Globo de Televisão.
Para este estudo, optamos por um exemplo, um caso específico de
efeitos de recepção provocados por uma parte do Globo Repórter, de 6 de
fevereiro de 2004. O Programa apresentou os três municípios que, à época,
mais geravam emprego e renda no País, tendo Rio Verde entre eles, cujo perfil
apresentado literalmente foi o de uma “fábrica de empregos”. Essa realidade foi
rapidamente “desconstruída” por uma grande quantidade de migrantes que
chegaram à cidade e perceberam que o título mais adequado seria o de uma
“fábrica de ilusões”.
Cabe esclarecer que não pretendo aqui, realizar um estudo profundo
sobre televisão e sobre o processo de recepção. As estratégias utilizadas são
abordadas pelo que revelam do processo de produção de significados que
desencadearam os efeitos mencionados. Apenas são adotados conceitos e
teorias para clarificar o ambiente estudado, municiando as análises realizadas
com referenciais pré-existentes sobre o assunto.
A escolha desse tema se deve à importância da informação jornalísticotelevisiva no que se refere à questão do desemprego no Brasil, não só naquele
no ano de 2003, mas até os dias atuais.
A falta de emprego e de boas
oportunidades no mercado de trabalho remete a pontos sensíveis numa
sociedade como a nossa. O trecho do Programa, recortado para análise nesta
dissertação, nos coloca frente à discussão sobre a ação da comunicação
governamental.
Em meio ao desencontro governamental e da mídia, poderia o poder
público, por meio de sua assessoria de imprensa, contribuir para reduzir ou
para minimizar os efeitos provocados pelo Programa em questão? O poder
público é vulnerável às ações da mídia massiva?
Para responder tais questões, optamos por trabalhar partes voltadas às
práticas televisivas, com foco no Globo Repórter; e a aspectos da comunicação
governamental, exemplificada neste trabalho pela assessoria de imprensa da
Prefeitura de Rio Verde (GO). Acredito que o estudo desses dois exemplos,
para além do vínculo imediato entre o produto cultural específico e a dinâmica
geral da instituição municipal, pode contribuir para uma maior reflexão, com
base nessas experiências, sobre a tênue relação entre o poder público e sua
forma de comunicação e a comunicação mediada, neste trabalho, pela
televisão.
Sabemos que essa relação entre o público1 e o privado é, por vezes,
conturbada. O privado compreende as organizações econômicas que atuam no
mercado visando, de alguma maneira, o lucro. A televisão, no caso a Rede
Globo, um grande grupo empresarial de comunicação, inclui-se nesse âmbito.
Já o domínio público abrange as instituições estatais e organizações de
propriedade do Estado que são de utilidade pública. A administração municipal
que estudamos integra essa esfera.
Do Programa apresentado pela Emissora, abordaremos apenas o trecho
que trata de Rio Verde, com 11 minutos e 20 segundos de duração. Os efeitos
do Globo Repórter no Município foram imediatos e mudaram a rotina de uma
cidade pacata, situada na região Sudoeste de Goiás, com pouco mais de 130
mil habitantes (IBGE).
Cabe ressaltar que na categoria de município com
economia baseada no agronegócio, Rio Verde (GO) gera muitos postos de
emprego que são chamados de flutuantes, uma vez que a ocorrência deles só
acontece na época da safra e do plantio. É a chamada mão-de-obra
temporária, com data certa para começo e fim.
O dia 6 de fevereiro de 2004 era uma sexta-feira como outra qualquer
para os habitantes de Rio Verde, até a exibição de um programa televisivo que,
a partir daquela noite, levaria o Município a vivenciar um verdadeiro caos
1
A distinção entre público e privado que adotaremos parte dos debates filosóficos da Grécia
Clássica, quando os cidadãos se reuniam para discutir e criar uma ordem para o bem comum,
derivando do desenvolvimento do direito romano (que separava lei pública e lei privada). De
acordo com Thompson (2002, p.110), a partir do século XVI, público começou a “significar
atividade ou autoridade relativa ao estado e dele derivada”. Privado se refere às atividades ou
esferas da vida que são excluídas ou separadas da pública.
urbano. A tranqüilidade do Município e a sua rotina seriam abruptamente
quebradas por uma invasão de migrantes desempregados, vindos de várias
partes do País, em busca das oportunidades profissionais anunciadas pelo
Globo Repórter.
Na manhã do dia seguinte, um sábado, já eram vistos na rodoviária local
e nas estradas que dão acesso à cidade, os primeiros desempregados,
oriundos de várias regiões do Brasil.
Essa invasão de migrantes continuou nas horas e dias que se seguiram
após a exibição do Programa Globo Repórter, que apontou Rio Verde como
uma terra farta de empregos com boa remuneração. Mais do que isso uma
verdadeira “Fábrica de Empregos”.
A primeira impressão dos efeitos provocados pelo Programa estudado
partiu da observação in loco, por esta autora, que o assistiu, constatando
como na ilusão, criada sem grandes efeitos especiais, mas com uma cuidadosa
seleção de depoimentos e imagens feita pela equipe condutora da reportagem,
surgia uma cidade onde sobravam bons empregos e boas oportunidades, o
que contrastava com a triste realidade local, marcada pelo alto custo de vida.
A realidade mostrada pela televisão não foi a mesma encontrada pelas
pessoas que desembarcaram na cidade, com sonhos e expectativas, em busca
de um emprego que combinasse várias qualidades desejadas: uma
remuneração acima do patamar de sua cidade de origem; retorno ao trabalho
com carteira assinada e demais benefícios; a moradia em uma cidade típica de
interior e a grande oferta de postos de trabalho capazes de transformar a vida
de cada um daqueles desempregados. Rio Verde deixava, para eles, de ser
uma “Fábrica de Empregos” e se revelava uma “Fábrica de Ilusões”.
Dos efeitos imediatos provocados pelo Programa, destacamos o
deslocamento imediato e sem planejamento adequado nem posse dos
recursos
materiais necessários para uma mudança
de suas cidades para
uma cidade que, inclusive, não conheciam. O sentimento que acompanhava
aquela multidão de desempregados em Rio Verde era um misto de última e
única esperança, uma aposta de que, depois do que viram na tela da Globo, a
vida de cada um mudaria para melhor.
Ao optar por esse tema, fizemos um esforço na tentativa de conhecer as
circunstâncias que ocasionaram a produção do Programa com aquele enfoque
e as razões pelas quais a realidade mostrada por um programa, classificado
pela Rede Globo como de notícias, mais se aproximou de ficção que de uma
tentativa de retratar o real.
Dentre os efeitos imediatos, que podemos chamar de “efeitos bomba”,
ficam as indagações: Que impactos o Programa provocou no Município? O que
as pessoas que participaram diretamente e indiretamente da produção daquele
Programa presenciaram naquele momento? Quais as recordações o episódio
remete dois anos depois? Poderia a comunicação governamental ter evitado os
transtornos ao Município e aos próprios migrantes? Estas são algumas
questões que pretendemos responder.
Uma referência importante para a realização deste trabalho foram os
jornais impressos que narraram o episódio do Globo Repórter e seus efeitos
em Rio Verde naquele período. Para o processo de reconstrução desse
episódio, foram pesquisadas e analisadas as matérias impressas da época.
Essa reconstrução também está baseada em entrevistas realizadas em 2006,
com pessoas capazes de recuperar, em seus depoimentos, o que não foi
mostrado pelo Programa e o cenário em que ele foi construído. Essas
entrevistas foram consideradas peças-chave. Desta maneira, esta dissertação
se apóia em uma base documental – o trecho do Programa televisivo e as
matérias impressas sobre o assunto -, em depoimentos e entrevistas e nos
referenciais teóricos que embasam o estudo realizado.
A classificação dos três municípios que mais geravam emprego e renda
pelo Globo Repórter foi feita com base nas informações disponibilizadas pelo
CAGED2 - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados -, do Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE). Para esse cadastro são remetidas informações
coletadas pelo Sistema Nacional de Empregos (SINE), localizados em
praticamente todos os municípios brasileiros, envolvendo as informações sobre
as ofertas de vagas e os índices de ocupação dessas vagas. Foram as
2
A página do Ministério do Trabalho (www.mte.gov.br) onde está divulgada a sua base de
dados – que inclui o CAGED -, é indicado ao usuário que busca dados um termo de
responsabilidade de uso das bases de dados do MTE, com destaque para o seguinte: “O
usuário deve tomar certos cuidados na utilização e interpretação dos dados, em virtude do
acervo ser constituído de dados oriundos dos registros administrativos”. O Ministério do
Trabalho e Emprego recomenda ainda, para minimizar problemas na interpretação e utilização
dos dados disponíveis, uma leitura sobre o CAGED e o Programa de Disseminação de
Estatísticas do Trabalho.
informações desse cadastro que indicaram Rio Verde no topo da geração de
postos de emprego no Brasil.
A metodologia adotada foi a hermenêutica de profundidade, para
a qual dedicaremos um capítulo no referencial teórico. A dissertação se vale de
um eixo de técnicas de observação combinadas com entrevistas informativas.
As observações participativas também foram elemento fundamental para a
pesquisa empírica sobre a estrutura e o campo de atuação da assessoria de
imprensa e sobre a comunicação governamental de Rio Verde. O que se
buscou foi através de um processo de exploração e experimentação,
constituindo-se em estudo que coloca em prova a construção social dos
acontecimentos pela mídia e a vulnerabilidade do poder público diante dela.
Dividimos este trabalho em partes. A primeira se refere às teorias sobre
televisão, produção, recepção e efeitos das notícias, voltadas especificamente
ao caso exemplar do Programa selecionado. A segunda aborda o episódio que
envolve Rio Verde (GO) e o Globo Repórter e a última é composta pelo
referencial teórico sobre a comunicação pública, política e mídia, explicitando
as relações entre o público e o privado, além de apresentar a realidade da
assessoria de imprensa da Prefeitura e dados sobre a comunicação no
Município. Esperamos que a interligação dessas partes possa contribuir para
um melhor conhecimento desses processos comunicacionais.
Cabe salientar que a pesquisa empírica aqui apresentada pretendeu que
a história do episódio fosse recontada com certo número de detalhes, na
tentativa de proporcionar ao leitor uma viagem no tempo e no espaço. Essa
proximidade do leitor ao fato se dá graças aos recortes de jornais, à gravação
do Programa - anexados ao trabalho -, às fotografias dos acontecimentos e aos
depoimentos de pessoas que vivenciaram o fato. Os estudos sobre os efeitos3
de recepção provocados pela mídia geraram, ao longo do tempo, inúmeras
teorias. Wolf (1987) destaca que, desde que os estudos sobre os meios de
comunicação começaram a se desenvolver, há o interesse do investigador
3
Os efeitos podem ser compreendidos como a reação de uma massa, de um público, que ao
ser atingida pelo estímulo gerado pelos meios de comunicação, reage a esse estímulo. “Um
dos mais notáveis efeitos produzidos na comunicação é a resposta que normalmente se
provoca no receptor e que pode chegar até o emissor”, chamada de feedback ou retroalimentação, entendido mais como um processo de retorno da mensagem que pode se originar
nas reações do receptor ao decodificar a mensagem direcionada pelo emissor. (Xifra-Heras,
1975, p.20).
pelas influências dos meios sobre o público. A teoria hipodérmica surge com
um modelo próprio, em que os efeitos não são estudados, mas são dados
como certos. O modelo hipodérmico, Estímulo –Resposta, foi superado pelo
modelo de Lasswell que surgiu inicialmente nos anos 30, mas que foi proposto
efetivamente em 1948.
Lasswell estabeleceu um modelo que podia descrever um ato de
comunicação por meio de respostas a essas perguntas. “Who says what in
which channel, to whom; with what effects?” (Xifra-Heras, 1975, p. 42, grifos do
autor), que significam: quem diz o que, em qual canal, para quem, com quais
efeitos? No Brasil, essas questões ficaram mais conhecidas como: Quem; O
que; Quando; Como; Onde e Por que? Nos Estados Unidos passaram a ser
conhecidas por 5 W (Who? What? Where? When? Why?).
Com o modelo de Lasswell, os efeitos dos meios de comunicação
passaram a integrar a pesquisa em comunicação: “O esquema de Lasswell
organizou a communication research, que começava a aparecer, em torno de
seus temas centrais e de maior duração – a análise dos efeitos e a análise dos
conteúdos [...]” (Wolf, 1987, p.25). Esse modelo constitui-se, portanto, no
marco dos estudos dos efeitos dos meios de comunicação. Após o modelo de
Lasswell, outras teorias4 foram surgindo, tentando explicar os fatores de
mediação existentes entre o indivíduo e o meio de comunicação.
As reações aos impactos das mensagens da mídia dão início a um
processo de retroação, de suma importância para o emissor. A retomada do
início da constituição dessas teorias serve, neste momento, apenas para
fundamentar a importância dos estudos sobre os efeitos dos meios de
comunicação. Os efeitos a serem estudados neste trabalho se diferem das
teorias do passado, dos paradigmas clássicos apontados.
Este trabalho é um esforço na busca de respostas sobre as relações da
mídia de massa e o seu papel no repasse de informações precisas aos
cidadãos e a comunicação governamental enquanto responsável por orientar a
4
Podemos citar ainda como teorias: a abordagem empírico-experimental ou teoria da
persuasão; a abordagem empírica do campo ou dos efeitos limitados; a teoria funcionalista das
comunicações de massa; a teoria crítica; a teoria culturológica; os cultural estudies; as teorias
comunicativas; e as teorias mais atuais (a hipótese do agenda-setting, gatekeeper,
newsmaking, dentre outras), com base em Wolf (1987).
sociedade, prestando-lhe informações confiáveis e transparentes sobre a
esfera pública, sua organização administrativa e seus serviços.
Nesse estudo vamos enfocar prioritariamente a televisão enquanto
modificadora da maneira de agir e interagir dos telespectadores em relação a
um objeto de estudo específico.
PARTE I
TELEVISÃO, PRODUÇÃO, RECEPÇÃO E EFEITOS
2. PROGRAMA GLOBO REPÓRTER
Em 1973, a Rede Globo planejou um novo programa jornalístico. Foi
quando José Bonifácio de Oliveira – o Boni – pediu ao cineasta Paulo Gil que
trabalhasse em um novo formato. Assim, segundo Muniz (2001), “a partir da
experiência do Globo Shell, Paulo Gil insistiu que se poderia fazer um
programa jornalístico aprofundado, com formato de documentário”. A princípio,
a proposta de Gil de mostrar um documentário com um único tema em 43
minutos úteis de programa, com quatro intervalos comerciais, não obteve
sucesso. Boni determinou que fossem mostrados a cada programa, quatro
temas.
Dessa maneira nascia o Globo Repórter, com exibição nas sextas-feiras,
às 23 horas. O primeiro programa foi exibido, em caráter experimental, em 3 de
abril de 1973. Na época, o jogo de cintura da equipe tinha que ser grande,
conciliando os interesses da empresa e os olhares da ditadura militar – a
censura.
Muniz (2001) explica que o programa era como um documentário de
cinema, com linguagem e fotografia de cinema: “Era um programa autoral,
onde os diretores tinham liberdade de criação e autonomia de edição”.
Já em julho de 1973, enquanto a emissora preparava o lançamento do
Fantástico – o Show da vida – para às 21 horas dos domingos, o Globo
Repórter passou a ser apresentado às terças-feiras, às 21 horas. Graças a
equipe do Programa e de maneira gradativa, os quatro temas exigidos a cada
edição foram diminuindo, até que se chegasse ao desejo inicial de Paulo Gil:
um único tema, com tratamento de documentário cinematográfico.
Aos poucos, o sucesso do Programa foi crescendo, até porque naquela
época era novidade. Não havia nenhum outro programa no estilo. O sucesso
fez com que o programa funcionasse até 1983, quando a exigência de Boni de
querer um novo formato, mais jornalístico do que cinematográfico, culminou na
demissão de uma equipe. Muniz (2001) recorda que nesse período, com a
crise, o Globo Repórter ficou fora do ar por uns três meses, quando Paulo Gil –
até então diretor do programa – foi substituído por Robert Feith, que veio de
Londres para dirigi-lo.
A mudança na direção do programa marcou a mudança do estilo, de
documentário cinematográfico para telejornalismo de reportagem especial:
O Globo Repórter mudou seu formato, passou a fazer reportagens,
deixou de ter equipes exclusivas, seus equipamentos passaram a
compor o pool de equipamentos gerais, começou a usar repórteres
dos telejornais e claro, começou a usar a linguagem dos telejornais
e cada repórter começou a usar o formato do Stand-up5 e cada um
fazia a sua versão pessoal da matéria e não mais a reportagem,
ela mesma, ela própria. (MUNIZ, 2001)
Desde que o Globo Repórter surgiu, na década de 70, ele já passou por
muitas transformações, que alteraram desde a técnica de produção à sua
estrutura.
Essas
transformações
também
são
descritas
por
um
jornalista/cineasta, ex-integrante do Programa, Eduardo Coutinho (in Novaes,
2001), que afirma que a passagem do artesanato cinematográfico com o qual o
Programa era primeiramente feito, para o teipe6, foi usada para controle de
rentabilidade em todos os níveis.
O autor explica que esse controle de rentabilidade faz parte da lógica do
processo industrial tal como ele se desenvolveu na Globo e na televisão
brasileira em geral. Até o final da década de 70, o Globo Repórter era um
programa que se constituia em nicho dentro do próprio jornalismo da emissora,
com uma maior autonomia, independência, mais lento em seu processo de
produção e também menos obcecado pelas questões da audiência e da
acirrada concorrência de mercado.
À época, Coutinho (2001) relembra que, por essa razão, diversos
cineastas produziram trabalhos freelances ou foram funcionários da emissora,
dos quais citamos: Valter Lima, João Batista de Andrade, Hermano Pena, Sílvio
Back e tantos outros.
Com a chegada da “era eletrônica” e com a sensível evolução dos meios
tecnológicos que são amparo ao processo de produção da televisão, em 1982
5
Termo também conhecido no meio televisivo como “cabeça” ou passagem em que o repórter
aparece na tela narrando ou mostrando algum detalhe da reportagem.
6
Até 1981 o Globo Repórter era feito em filme reversível e o local de trabalho, segundo
Coutinho (in Novaes, 2001, p.280), era uma casa que ficava cerca de 100 metros da sede da
Rede Globo no Rio. A distância física e a técnica adotada (filme reversível) dificultavam o
controle de sua produção pela Central Globo de Jornalismo.
o Globo Repórter acompanhou outras mudanças que já haviam sido efetivadas
com todo o jornalismo da emissora, mudando-se para o prédio da Rede Globo.
O filme reversível cedeu, definitivamente, espaço para o teipe pela agilidade
que ele proporcionava ao processo de produção e finalização do Programa.
“Assim, era só passar no corredor onde se editava todos os programas, pegar
a fita com o produto em processo ou acabado e levar para ser julgado pela
direção de jornalismo”, recorda-se Coutinho (in Novaes, 2001, p.281).
Percebe-se com essa narrativa do autor, que a interferência da direção
no processo de edição do Globo Repórter, antes mais difícil pela técnica
empregada, tornou-se rotina. Sacramento (2006) aponta que nesse período de
transição do programa para uma era de grandes reportagens “percebe-se o
predomínio de entrevistas em detrimento de depoimentos e de uma atuação
cada vez mais presente do diretor como repórter”.
Com a alteração do diretor do Programa e com as mudanças no formato
iniciadas em 1983, poucos anos depois, em 1986, o Globo Repórter passou a
ser mais um complemento na linha de jornalismo da emissora, perdendo o
diferencial antes firmado com o caráter de documentário do Programa.
Coutinho (2001) destaca que, nesta época, o Programa se torna
integrado em definitivo ao jornalismo, “neutralizado e asséptico”, perdendo
qualquer sentido de documentário e ficando reduzido ao nível da reportagem.
Ao processo que se estabeleceu na concepção do Globo Repórter, Coutinho
dá o nome de “lógica da homogeneização e da rentabilidade”.
Nessa lógica, o autor ressalta que “A TV é apreendida como um
mosaico, em que o importante para o espectador é o fluxo da programação,
que se sucede tão naturalmente quanto os ciclos da natureza” (Coutinho in
Novaes, 2001, p.282). Assim, o público tende a confundir a realidade do
jornalismo; a ficção das novelas e a ficção dos comerciais, formando uma
relação de entrelaçamento de conteúdos e de realidade não ficcionais e
ficcionais. Essa opinião é compartilhada por Bezerra e Morais (2007): “em
relação às reportagens especiais, a aparente neutralidade das informações
proporciona uma ilusão de imparcialidade e, em conseqüência, conquista a
credibilidade da opinião pública”.
O caráter de reportagem especial, adquirido pelo Globo Repórter depois
da “era dos cineastas” no programa, é explicado pelas autoras. Para elas uma
reportagem especial pode ou não ser produzida por jornalistas e compreende
materiais de cunho jornalístico (audiovisuais) que apresentam normalmente um
tempo de duração maior que o das notícias televisivas.
As autoras colocam que uma das diferenças básicas entre as
reportagens especiais e os documentários7 é que estes últimos não estão
ligados exclusivamente ao universo jornalístico. Já o ponto de aproximação
entre o documentário e as reportagens especiais está no temário, normalmente
marcado por assuntos que permitem uma abordagem informativa atemporal,
que mesmo em se tratando de temas atuais “não correspondem explicitamente
a um acontecimento (ou fato jornalístico) em particular, mas à sua conjetura”.
O Globo Repórter é um dos programas de destaque da grade da Rede
Globo que atualmente é a responsável pela mais abrangente cobertura de
televisão do País e que, de acordo com Bahiense (in Novaes, 2001, p.257),
essa cobertura representa “99,93% dos domicílios com TV, 99,92% dos
telespectadores potenciais e 99,93% do índice potencial de consumo
brasileiro8”. Apesar dos dados citados serem de 2001, os mesmos foram
utilizados por estarem próximos ao tempo desta dissertação e por não terem
sido encontrados dados precisos daquele momento – 2003/2004 - do
Programa.
7
As conclusões do Grupo de Pesquisa em Comunicação e Discurso da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) dentro do qual Bezerra e Morais desenvolveram a pesquisa que
resultou no artigo As rotinas de produção e suas interferências nos documentários e
reportagens especiais televisivos, publicado no site do Fórum Nacional de Professores de
Jornalismo (FNPJ), apontam que os documentários são produtos essencialmente híbridos, que
tanto apresentam elementos do cinema quanto do jornalismo.
8
Dados de uma pesquisa feita pela McCann Erickson na década de 80, citada por Bahiense (in
Novaes, 2001) que mesmo sendo feita há duas décadas nos dá uma idéia de um quadro que
ainda permanece hoje, com a consolidação da Rede Globo em primeiro lugar no País (em
cobertura e absorção dos investimentos publicitários).
3. O PROCESSO DE HERMENÊUTICA
Várias teorias já foram formuladas para a compreensão dos estudos de
recepção. Cada uma delas apresenta uma tônica e um enfoque que são
seguidos pelos estudos e pesquisas que nelas estão embasados. Para a
melhor compreensão da abordagem utilizada neste estudo, é pertinente que se
destaquem algumas. A primeira delas retomada por Thompson (1998) com
base em Gadamer considera a recepção dos “produtos da mídia como um
processo hermenêutico”, constituindo-se em um processo “ativo e criativo”
voltado à interpretação e em que o intérprete inclui uma série de conjecturas e
expectativas na compreensão da mensagem selecionada para o entendimento.
Nessa inclusão de conjecturas feitas pelo intérprete estão expectativas
pessoais e/ou de caráter social ou histórico mais amplo, compartilhadas por um
grupo com características e trajetórias sociais similares.
Por isso há variação da interpretação de um produto da mídia de um
indivíduo para o outro, resultando em processos de recepção distintos entre
indivíduos e grupos de indivíduos que realizam a interpretação em meio a
contextos social, econômico, cultural e histórico aos quais fazem parte. Sendo
assim, Thompson (1998) classifica os produtos da mídia como atividade
rotineira e prática, daí a razão para que a recepção seja considerada uma
atividade, distante de algo passivo, e voltada a um processo em que os
indivíduos percebem e trabalham a mensagem que recebem. Ou seja, as
formas simbólicas são usadas pelos indivíduos para suas próprias finalidades,
de maneiras variadas.
Por essa visão, a assimilação e o uso que os receptores fazem das
matérias simbólicas podem divergir do desejado pelos produtores da mídia.
Apesar do controle mínimo dos conteúdos das matérias da mídia que lhe são
oferecidos, os receptores possuem a faculdade de reelaborar, interpretar,
trabalhar e usar o que é recebido de formas alheias às intenções ou aos
objetivos dos produtores. Michel de Certeau, em “Leitores são viajantes” (apud
Thompson, 1998, p. 43) diz que: “Ao receber matérias que envolvem
substancial grau de distanciamento (e talvez também temporal), os indivíduos
podem elevar-se acima de seus contextos de vida e, por um momento, perderse em outro mundo”.
Nessa perspectiva, tomando o meio televisivo como o enfoque principal,
Thompson (2002) delineou algumas dimensões para melhor compreensão do
processo de recepção, ao qual chamou de impacto interacional dos meios
técnicos.
As quatro dimensões as quais o autor se refere são: os meios facilitam a
interação através do tempo e espaço; eles modificam a maneira como as
pessoas agem para outros (tomando-se os outros como uma audiência remota
e dispersa no tempo e no espaço); eles modificam a maneira como as pessoas
agem em respostas aos outros; e os meios também modificam a maneira como
as pessoas agem e interagem no processo de recepção, atingindo a
organização social daquelas esferas da vida cotidiana em que a recepção das
mensagens e conteúdos mediados é uma atividade de rotina em nossa atual
sociedade.
3.1
A hermenêutica de profundidade
Ao analisar os efeitos de recepção do Programa Globo Repórter daquele
6 de fevereiro de 2004, percebemos que os telespectadores/receptores
perderam-se em um outro mundo, distante espacialmente do deles, e saindo
de uma elevação momentânea de seus contextos, partiram viajando,
literalmente, ao encontro do mostrado na matéria. A abstração mental, em
forma de viagem imaginária a outras localidades e contextos, deu espaço para
ações concretas que moveram pessoas a migrarem a Rio Verde (GO).
Isso pode ser descrito com a ajuda de Thompson (1998) como
“apropriação das formas simbólicas9” em que o processo de recepção das
mensagens transmitidas pela mídia pode ir bem além do contexto inicial da
atividade. Por formas simbólicas, com base na abordagem interpretativa de
Geertz sobre o estudo da cultura (apud Thompson, 2002), entendem-se ações,
manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos “em virtude dos
quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências,
concepções e crenças”.
Com relação à consideração de Thompson quanto aos “produtos da
mídia como um processo hermenêutico10” cabem alguns esclarecimentos,
facilitadores da compreensão da mídia nos dias atuais. Thompson (2002)
descreve as “condições hermenêuticas da pesquisa sócio-histórica” como
condições que se originam na construção do campo-objeto dessa modalidade
de pesquisa que não se restringem às observações e explicações sobre
objetos e acontecimentos, mas que se constituem em um campo subjetivo,
construído, em parte, pelos sujeitos “interessados em compreender a si
próprios e aos outros, em produzir ações e expressões significativas e em
interpretar ações e expressões significativas produzidas pelos outros”.
Assim, para a compreensão e análise do nosso objeto de estudo,
optamos
por
adotar
a metodologia da
interpretação,
traduzida
pela
hermenêutica de profundidade trabalhada por Thompson, como referencial
metodológico desta dissertação de mestrado. O autor coloca que (2001, p.358):
O mundo sócio-histórico não é apenas um campo-objeto que está
ali para ser observado; ele é também um campo-sujeito que é
construído, em parte, por sujeitos que, no curso rotineiro de suas
vidas quotidianas, estão constantemente preocupados em
9
“Formas simbólicas são construções significativas que exigem uma interpretação; elas são
ações, falas, textos que, por serem construções significativas, podem ser compreendidas”
(Thompson, 2002, p.357).
10
Thompson (2002) desenvolveu o referencial metodológico da hermenêutica de profundidade,
em que a idéia de hermenêutica é extraída do trabalho de Paul Ricoeur (e outros – Dilthey,
Heidegger e Gadamer), que possibilita o desenvolvimento de um referencial metodológico
orientado para a interpretação/reinterpretação dos fenômenos significativos, em que os
diferentes tipos de análises podem desempenhar papéis legítimos e que se apóiam na
compreensão dos fenômenos. No modelo de Thompson, a hermenêutica em profundidade
compreende três fases: análise sócio-histórica (interessada nas condições sociais e históricas
da produção, circulação e recepção das formas simbólicas); análise formal ou discursiva
(estudar as formas simbólicas como construções simbólicas que apresentam estruturas) e
interpretação/reinterpretação (interessa-se pela explicação criativa do que é dito ou
representado pela forma simbólica).
compreender a si mesmos e aos outros, e em interpretar as ações,
falas e acontecimentos que se dão ao seu redor.
A hermenêutica de profundidade pode utilizar-se de entrevistas,
observação participante e outros tipos de pesquisa para a reconstrução da
maneira como as formas simbólicas são interpretadas e compreendidas nos
vários contextos da vida em sociedade. E, para Thompson, essa reconstrução
é um processo interpretativo, uma interpretação do entendimento do
cotidiano11, baseada em três fases que incluem a análise sócio-histórica,
análise formal ou discursiva e interpretação/re-interpretação, das quais nos
ocuparemos a seguir, no sentido de clarear os detalhes desse referencial
metodológico. Thompson (2001, p.366) explica que “O objetivo da análise
sócio-histórica é reconstruir as condições sociais e históricas da produção,
circulação e recepção das formas simbólicas”.
Já que os objetos e expressões que circulam nos campos sociais são
“construções simbólicas complexas que apresentam uma estrutura articulada”,
é preciso empreender uma segunda fase de análise, chamada de análise
formal ou discursiva, em que adotaremos a análise não somente voltada a
imagens ou palavras, mas às características estruturais e das relações do
discurso de um programa específico do Globo Repórter. Esclarece Thompson
(2001, p.371) que “o objeto da análise discursiva não é um exemplo
especialmente preparado com o objetivo de testar nossas intuições lingüísticas,
mas antes casos concretos da comunicação do dia-a-dia, [...], um programa de
televisão”.
Ou seja, as instâncias do discurso apresentam algumas características e
relações estruturais que podem ser analisadas formalmente. Das formas de
análise discursiva, fixadas por Thompson, destacaremos duas, que mais
afinidade apresentam com a forma de análise do nosso objeto de estudo: a
análise de sua estrutura narrativa e a análise argumentativa.
A análise da estrutura narrativa é útil quando nos permite conhecer
melhor os elementos de uma narrativa, tomando-se o programa Globo Repórter
como uma narrativa televisiva, num formato de reportagem especial, em que
11
Esse entendimento do cotidiano também é chamado por Thompson (2001) como
interpretação da doxa – das opiniões, crenças e compreensões que são partilhadas e
sustentadas pelas pessoas. Vários autores já enfatizaram a importância de se fazer a
interpretação da doxa, tais como Wittgenstein, Husserl e Schutz, Garfinkel, Cicourel.
esta narrativa é conduzida pelo repórter e entremeada por inúmeros elementos,
tais como: um discurso que narra uma seqüência de acontecimentos – a
história contada -, personagens diversos que no caso estudado são reais,
dentre outros.
Já a análise argumentativa tem por objetivo “reconstruir e tornar
explícitos os padrões de inferência que caracterizam o discurso” (Thompson,
2001, p.374). O discurso é muitas vezes apresentado na forma de argumento,
com uma série de proposições ou asserções, temas ou tópicos, que se
encadeados coerentemente e com ajuda de adornos retóricos, procuram
persuadir uma audiência. Se observarmos atentamente o programa Globo
Repórter que ora estudamos, veremos o quanto o texto é recheado por
metáforas e hipérboles, dando um sentido de exagero à realidade apresentada.
Cabe ressaltar o que Thompson destaca, tirando a visão da rigidez
dessa metodologia:
Por mais rigorosos e sistemáticos que os métodos da análise
formal e discursiva possam ser, eles não podem abolir a
necessidade de uma construção criativa de significado, isto é, de
uma explicação interpretativa do que está representado ou do que
é dito. (THOMPSON, 2001, p.375, grifos do autor)
Dessa maneira, as formas simbólicas e discursivas analisadas nesta
dissertação possuem o seu aspecto referencial, sendo resultado de
construções que representam algo e que procuramos compreender no
processo de interpretação.
O autor chama ainda a atenção para o fato de que métodos particulares
de análise formal ou discursiva podem lançar luz sobre os padrões ou efeitos
que estruturam as formas simbólicas, caso não se deixem cair no internalismo que ocorreria ao se tomar esses elementos de maneira isolada, sem referência
às condições sócio-históricas e aos processos do cotidiano onde as formas
simbólicas são construídas e recebidas.
A última fase da hermenêutica de profundidade é a interpretação/reinterpretação, que é facilitada pelas fases anteriores, em especial a fase da
análise discursiva. A interpretação/re-interpretação tem por objetivo formas
simbólicas como parte de um campo pré-interpretado em que já são
interpretadas pelos sujeitos que constituem a realidade sócio-histórica. Esse
processo pode ser conturbado e cheio de conflitos e discussões.
É a parte em que a reflexão individual em meio ao mundo sócio-histórico
toma corpo. Os meios de comunicação nos expõem a mensagens que
interpretamos e que re-interpretamos de acordo com as nossas análises junto à
vida cotidiana. Esse processo é caracterizado por um fluxo ininterrupto em que
projetamos um significado possível que, de acordo com Thompson (2001) pode
divergir do significado construído por outras pessoas ou pelos meios.
Muitos autores já trabalharam nessa perspectiva, defendendo que a
análise das formas simbólicas não sejam feitas separadamente do contexto em
que são produzidas e recebidas pelas pessoas, que rotineiramente dão sentido
a essas formas simbólicas e as integram a outros aspectos da vida. A
interpretação da doxa seria, então, um ponto de partida para as análises
hermenêuticas.
Demo (2004) também fez referência ao que chamou de Hermenêutica de
Profundidade, à la Thompson em um livro sobre pesquisa qualitativa, útil
quando se trata de ampliar a visão sobre essa metodologia. Para a
interpretação da doxa, além da contextualização proposta por Thompson que
trata das formas simbólicas em termos de opiniões, crenças, Demo (2004,
p.38) propõe uma ampliação desse sentido:
[...] podemos alargar tal idéia, sem desmerecer seu centro que
continua de pé: compreende-se melhor a fala de alguém se, além
de sabermos do mundo de opiniões e crenças que a cerca,
também buscarmos entender sua história de vida, seus projetos
sociais coletivos e individuais, o entorno das tradições culturais
que demarcam os sentidos comuns e os duplos sentidos, modos
de relacionamentos com os outros [...]
Acreditamos que essa ampliação permite que a metodologia não se
torne engessada, rígida, ampliando para o pesquisador o leque de elementos
úteis que possibilite uma melhor análise de cada fase da hermenêutica de
profundidade e, conseqüentemente, uma melhor apuração da pesquisa e da
informação qualitativa. Com essa mesma visão, Demo (2004) reforça que a
“teoria - que é apenas um instrumento - deve servir à análise e sobretudo ao
encontro tanto mais meticuloso com a realidade”12.
3.2
Receptor ativo ou passivo?
Para estudar esse caso exemplar que envolve os efeitos de recepção de
um programa televisivo é necessário entender o papel do receptor em meio às
práticas da mídia comercial.
Vizeu (2005) se propõe a superar o clássico paradigma da recepção,
demonstrando que como produto, o telejornal é impensável sem a audiência.
Em seu estudo, Vizeu indica que há uma “audiência presumida”, e que o
telejornalista produz e edita o telejornal com base na audiência presumida que
forma o público que o telejornal, enquanto produto, espera ter.
Segundo o autor, é no trabalho de enunciação que os jornalistas
produzem discursos e é no interior desse processo discursivo que, por meio de
múltiplas operações, a audiência é construída antecipadamente, num conjunto
de regras e instruções originadas no campo da produção para serem “seguidas
pelo campo da recepção (audiência)”. Mas essa produção só é seguida pelo
campo da recepção, pelos telespectadores, por ser de interesse desse público.
Isso não pode ser creditado à passividade do receptor.
Por ser o Globo Repórter um programa jornalístico, podemos acreditar
que o descrito por Vizeu para os telejornais também se aplique ao Programa
em questão.
O receptor só acompanha um determinado programa porque se
estabelece uma relação de troca, entre ele e o produto oferecido, onde ambas
12
Em termos hermenêuticos, nenhum problema pode ser considerado como “resolvido”, uma
vez que nenhuma discussão acaba em definitivo. O que se tem é a sensação que o tratamento
do tema atingiu um patamar suficiente, por enquanto. Demo (2004, p.48) acredita que “o
referencial teórico deva fazer parte da metodologia qualitativa como questão implícita inevitável
e necessária”. Para o autor, o que se faz é apostar na capacidade argumentativa, cultivando a
abertura da discussão – que faz ganhar em qualidade, intensidade e profundidade - sem
“comprovar estritamente como fantasia o empirismo ou o positivismo”.
as partes possuem algo de valor para trocar com a outra. O receptor entra com
a esperada audiência que o veículo de comunicação espera. Este, por sua vez,
entra com um programa que atenda os desejos, necessidades ou anseios do
telespectador.
Assim, como coloca Marcondes Filho (1987), em seu estudo sobre
televisão, o receptor não se porta de forma a acompanhar passivamente
aquela programação. Para o autor, o receptor da TV participa como o outro
membro nesta relação de troca. Se observarmos o cotidiano das pessoas e o
interesse delas ao assistirem televisão podemos constatar que algumas fazem
questão de assistir a determinado programa. Outras cancelam seus
compromissos para não perderem o telejornal ou mesmo a telenovela. Mas o
que move os telespectadores a uma recepção ativa? O interesse pelo conteúdo
apresentado, com vemos em:
A grande massa dos receptores das mensagens de televisão vai
ao encontro desses conteúdos, sente falta e necessidade deles,
vicia-se na sua audiência, muda de canal quando a qualidade do
programa não lhe satisfaz, tem uma postura realmente crítica
(muito embora essa “crítica” nada tenha a ver com a crítica que a
intelectualidade normalmente espera) (MARCONDES FILHO,
1987, p.27).
Sendo assim, a relação que se estabelece entre o telespectador e o
programa televisivo ou mesmo com uma determinada emissora é forte, com
interesse específico de ambas as partes. O ponto forte dessa relação é a troca
que não se constitui em uma relação unilateral, de passividade ou submissão.
Essa relação é bilateral porque é aceita pelo receptor ao dedicar a sua
audiência a determinado programa.
No estudo de caso que é objeto dessa dissertação, temos o Globo
Repórter que ofereceu um programa (produto) sobre os municípios que mais
geravam emprego e renda no País. O programa foi ao ar em um momento em
que a população clama por mais postos de trabalho e que os níveis de
desemprego são uma preocupação social. Imaginem, então, quantos
desempregados ou trabalhadores em busca de melhores oportunidades no
mercado de trabalho não se constituíram na audiência presumida daquele
Programa? Para aquele tema, naquele momento, era de se esperar que muitos
desempregados fossem se interessar.
Podemos pensar em milhões de telespectadores de todas as regiões em
suas casas, esperançosos para assistir a um Globo Repórter que satisfizesse
as suas necessidades. Ou seja, aquele Programa, por certo, tinha um público
garantido e, para satisfazê-lo, pretendeu mostrar os caminhos para o emprego
no Brasil. Marcondes Filho (1987) ao estudar o receptor como agente ativo em
uma relação de troca com a televisão, procurou comprovar que se a televisão
apresentou um programa tendencioso, parcial em alguns aspectos e, se esse
programa teve a receptividade do telespectador e audiência, “não foi nada
imposto, mas perfeitamente absorvido (e, por que não, desejado) por esse
público”. Apesar do autor não ter estudado especificamente o Globo Repórter,
suas inferências podem ser trazidas à realidade do Programa.
A diferença da recepção sobre um programa específico do Globo
Repórter e os estudos daquele autor é que o conteúdo apresentado, além de
ser completamente absorvido, por ter sido tão desejado pelos telespectadores,
provocou nesses receptores ativos efeitos imediatos, o que não vemos aquele
autor indicar em seu trabalho.
O conteúdo apresentado não só serviu de consenso entre o mostrado e
o compreendido pelas pessoas, mas de impulso para a constituição de um
receptor ativo, de fato, que deixou sua cidade de origem para ir a Rio Verde, se
aventurando nos caminhos traçados pelo Programa. O receptor ativo, nesse
estudo, não se conteve em apenas assistir ao conteúdo que ia ao encontro de
todos os seus desejos e necessidades, agindo imediatamente, numa resposta
ao programa, formando junto com centenas de telespectadores uma marcha de
desempregados a um paraíso construído com imagens e sons: Rio Verde.
3.3
A notícia como produto
O exemplo do Globo Repórter nos mostra claramente a transformação
de fatos em notícias e estas em mercadoria, com uma aparência construída,
além de força de impacto suficiente para movimentar a massa de receptores. A
notícia como mercadoria é assim conceituada:
Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os
seus apelos estéticos, emocionais, sensacionais; para isso a
informação sofre um tratamento que a adapta às normas
mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e
negação do subjetivismo. (MARCONDES FILHO, 1986, p. 13)
A notícia, como apresentada ao receptor, é uma parte da realidade, uma
realidade fragmentada, um recorte, que atua no telespectador como parte de
um jogo psíquico, carregado de processos que suscitam sensações diversas:
alívio, descontração, satisfação, dentre outras razões.
Para Thompson (2002), as indústrias da mídia, que incluem a difusão da
televisão,
passam
por
transformações
significativas.
Parte
dessas
transformações tem a ver com o próprio modelo sócio-econômico atual: “As
indústrias da mídia nas sociedades ocidentais são, em muitos casos,
organizações comerciais ou quase-comerciais, operando num mercado
competitivo e sujeito a pressões financeiras e incentivos de vários tipos [...]”
(Thompson, 2002, p.253/254). Isso significa que essas indústrias, enquanto
interesses comerciais, agem em resposta a imperativos econômicos. Podemos
inferir, então, que a sua produção passa a ser tratada como produto, com
interesses comerciais que objetiva o estabelecimento da emissora ou veículo
em um mercado altamente competitivo. Quem não fatura, não se estabelece.
Thompson ainda atribui a essas produções a categoria de mercantilizadas,
tratadas como objetos para serem vendidos. Assim, podemos comparar o
Globo Repórter enquanto produção com interesses comerciais, de caráter
mercantil, como uma propaganda promocional, que apresenta um produto ao
consumidor e como efeito, caso o convença sobre o produto, espera a ida
desse consumidor até a loja para efetivar a compra.
O Programa, se analisado sob a ótica de um produto, esperava que o
seu
conteúdo
e
as
idéias
apresentadas
fossem
“comprados”
pelo
telespectador. O que talvez a emissora não esperava é que os efeitos fossem
imediatos e ocorresse uma migração instantânea ao Município, fruto da
efetivação da “compra” da mensagem mostrada.
Para Marcondes Filho (1986), a lógica da imprensa no capitalismo é a de
misturar as coisas, desorganizando qualquer estruturação racional da
realidade. O fato de mostrar a notícia fragmentada, como um recorte da
realidade, corrobora para que isso ocorra. Ressaltamos que não há
envolvimento do telespectador se o conteúdo mostrado não for associado à
sua realidade específica. Sem essa identificação não há envolvimento.
É por essa razão que dizemos que a televisão é um “pólo ativo” no
processo de seleção e divulgação das notícias e não se constitui em mera
“observadora” ou “repórter”. Para Arbex Jr. (2005) a televisão tem o poder de
interferir nos acontecimentos. E foi justamente isso o que ocorreu em Rio
Verde.
Quando testemunhamos diretamente um acontecimento, presenciamos a
verdade dos fatos, uma verdade que se manifesta diante dos nossos olhos. A
realidade que presenciamos é diferente da realidade mostrada pela tela da TV.
De acordo com Arbex Jr. (2005), quando presenciamos um evento, sabemos
como ele aconteceu. O mesmo não se dá quando assistimos esse mesmo
evento pela televisão. Nesse caso, “[...] a televisão reivindica para si a
capacidade de substituir com vantagem o olhar do observador individual”. Essa
vantagem é adquirida pelo aparato tecnológico cada vez mais aperfeiçoado,
que exerce sobre o telespectador total fascínio.
Essa é a capacidade da televisão de criar “mundos reais”, “Ou melhor,
mundos os quais o olhar empresta uma realidade vivida no íntimo dos
telespectadores, com o seu consentimento”(Arbex Jr., 2005, p.47), como se
fosse uma espécie de enquadramento da vida, num enredo permitido e aceito.
Nesse processo de criação, as imagens desempenham um papel
importante. O que antes o homem contemplava no mundo, criando as imagens
mentais desejadas, hoje já chega pronto pela televisão, o que tira a
possibilidade de contemplação. Peixoto (in Novaes, p.74) acredita que esse
“hiper-realismo implica, na verdade, uma perda do real”, quando o
telespectador, na ânsia de apreender imediatamente tudo o que está
acontecendo, permite que a TV substitua a realidade. A televisão exerce outras
formas de fascínio nos telespectadores, que veremos a seguir.
3.4
O desejo do receptor: ver e ser visto pela televisão
No processo de troca que estabelece a relação entre o telespectador e o
receptor da mensagem televisiva, “O algo que a televisão constrói pelo olhar é
um campo de força do desejo de ver e do desejo de ser visto13” como reforça
Novaes (2001, p.85). Esse campo de força exercido pela televisão é percebido
quando tomamos o exemplo de alguns depoimentos dados ao Globo Repórter,
inflados pelo desejo de se ver na “telinha da Globo”. O jornalista Augusto
Rocha, entrevistado em nosso trabalho de campo, suspeita que isso possa ter
ocorrido: “No entanto, a vaidade de diversos entrevistados, na ânsia de obter
seus 15 segundos de fama, com certeza, contribuiu de certa maneira, para
aquela abordagem”.
Esse desejo, apesar de não declarado e de não ser assumido pelas
pessoas entrevistadas pelo repórter Flávio Fachel, surge velado, o que poderia
explicar o teor de alguns dos depoimentos exibidos no Programa.
Mais do que dizer a verdade dos fatos sobre os postos de trabalho em
Rio Verde estava a vontade, daqueles entrevistados, de se sentir parte de uma
realidade que a Rede Globo contaria para milhões de telespectadores. As
forças que movem o desejo de ser visto tecem uma rede de fenômenos, como
explica Novaes (2001, p.85):
Desloca tensões e leva o homem ao esquecimento e à perda de si
mesmo nas imagens que vê: absorvido pelas imagens que
contempla, na realidade é o objeto que se mostra nele, armadura
de um mundo invisível, “infra-estrutura corporal que sustenta o
14
edifício das nossas representações” .
Nessa perspectiva, Novaes (2001) analisa que o mundo passa a ser um
espetáculo permanente, reduzindo o campo de percepção do receptor
enquanto se cria um ambiente de familiaridade tão intenso com a TV, com as
imagens apresentadas, que todo o resto do mundo é esquecido. Essa
13
Com base nas notas de trabalho de O visível e o Invisível, de Merleau-Ponty.
A frase entre aspas é de Maurice Merleau-Ponty expressa no livro de Claude Lefort, Histoire
de la philosophie e citada em nota no artigo intitulado O olhar melancólico, de Adauto Novaes,
no livro Rede Imaginária – Televisão e Democracia, organizado por ele.
14
intimidade entre o receptor e a televisão o torna universal e “este é um dos
elementos de sedução, que modela os desejos de quem vê [...] o fascínio
dessa presença absoluta dissimula até mesmo o trabalho dos sentidos”.
(Novaes, 2001. p.86).
A redução do campo de percepção pela qual passam os receptores tem
a ver com o próprio processo de produção do que é mostrado, onde todas as
coisas são obscuras e jamais conhecemos o processo de produção televisivo.
A televisão, para Montoro (in Motta, 2002), integra um universo cognitivo
e cultural do cotidiano das sociedades contemporâneas, introduzindo-se na
vida diária por exercer um papel fundamental na apresentação da realidade:
Os processos de construção das notícias nos telejornais podem
ser analisados observando as operações de mediação que se
estabelecem entre um acontecimento (fato de referência) e sua
representação (a forma elegida para narrar e relatar o fato e os
acontecimentos que dele derivam), que constituem discursos
informativos de televisão. (MONTORO in MOTTA, 2002, p.303).
Nesse processo de construção das notícias descrito pela autora é
importante destacar que as características dos discursos informativos
dependem essencialmente de uma contextualização prévia dada a notícia, o
que pode ser feito pelo “enquadre noticioso”, capaz de organizar, selecionar e
editar os acontecimentos de forma que se configurem em um processo com um
resultado final acessível ao público.
É importante mencionar que esse processo de recepção, que alia o
desejo de ser visto e de ver, age de maneira diferente nas pessoas. Arbex Jr.
(2005) trata da forma como as mensagens transmitidas são captadas e
experimentadas pelo indivíduo exposto ao fluxo de comunicação das mídias. O
autor refere-se a existência de um “leitor especializado” (o historiador, o
analista econômico, o intelectual, etc), capaz de elaborar a sua própria versão
da história. Deve-se destacar que Miceli (in Novaes, 2001, p.198) afirma que “A
adesão à TV Globo, por exemplo, é praticamente o dobro nos setores menos
instruídos do que nos segmentos mais instruídos”.
Talvez o grau de escolaridade de boa parte dessas pessoas não
permitisse maiores questionamentos quanto a realidade mostrada sobre Rio
Verde a qual exerceu tamanho fascínio por traduzir as necessidades delas. O
que essas pessoas queriam ver era uma realidade que as tirasse do sofrimento
ocasionado pela falta de trabalho, de oportunidades e de perspectivas para o
futuro. Essa é a fascinação que a televisão exerce em seus telespectadores, a
de alimentar sonhos e fantasias que tiram a dureza da vida real.
Esse fascínio que a televisão desperta nos telespectadores é encarado
por Eco (apud Arbex, 2001) como uma “relação hipnótica”, em que os
telespectadores projetam na televisão os seus desejos inconscientes. O que
favorece essa projeção, para Eco, é o estado de ânimo de relaxamento e a
imersão que a televisão e suas imagens proporcionam ao receptor: “Nesse
estado de ânimo de relaxamento, estabelece-se um tipo muito particular de
transação, pelo qual se tende a atribuir à mensagem o significado que
inconscientemente se deseja” (apud Arbex, 2001, p.50).
Mais do que hipnose, Eco chama essa transação de auto-hipnose ou
projeção. Projeta-se, então, na televisão, aquilo que se deseja. No caso dos
telespectadores que assistiram ao Globo Repórter sobre Rio Verde, o que os
moveu, fisicamente, à cidade foi justamente esse desejo – de um lugar onde
existisse
emprego
de
“sobra”
e com
oportunidades
para
todos
os
desempregados – que tomou forma e se incorporou como real no Programa.
A esse processo, Marcondes Filho (1988) dá o nome de “domesticação
da fantasia”, no qual o receptor, ao invés de atuar junto à televisão, é
surpreendido, fascinado, pela TV que fornece a ele cenários completos,
prontos, terminados. O resultado disto, para o autor (1988, p.27) é a subversão
ou consolidação do imaginário do receptor: “Na tela aparecem exemplos de
vida e exemplos de acontecimentos terminados que se apresentam como
verdadeiros e reais”. Veículos de comunicação, como a televisão, captam as
fantasias do receptor, estimulando-as e permitindo que elas se desenvolvam.
Para Marcondes Filho (1988) o fascinante na TV é estabelecido pela
tensão
entre
os
restabelecimento
momentos
do
esquema
de
de
fantasia
ordem,
que
que
ela
proporciona
devolvem
o
e
o
receptor
“neutralizado, ao seu mundo”.
O Globo Repórter que analisamos traduziu o desejo dos entrevistados,
de serem vistos na televisão, e de ver, dos milhares de telespectadores
desempregados brasileiros. O desejo de ver está diretamente ligado com o
cotidiano, com a família e o de ser visto com o ego de cada um.
3.5
Enunciação do cotidiano e da família
Em todos os tipos de programas exibidos pela televisão, dos noticiários
às telenovelas com atuação dramática, “o discurso televisivo caracteriza-se por
marcas de enunciação do cotidiano e da família [...] o imaginário da casa
penetra no fluxo de simulação televisiva da realidade” (Sodré in Novaes, 2001,
p.224). Como mencionamos, o componente da imagem é um forte aliado nessa
sedimentação da realidade mostrada.
Sodré (in Novaes, 2001), adotando a perspectiva de Bachelard, não tem
dúvidas quanto à importância das imagens: “A casa é um corpo de imagens
que dão ao homem razões ou ilusões de estabilidade”. No livro A Poética do
Espaço, Bachelard (1998) toma a casa como um “instrumento de análise” para
a alma humana. Num estudo que abordou a dialética do interior e do exterior
em que a identidade entre o sujeito e a casa se dá pela repetição dos hábitos e
costumes, faz-se em Sodré (in Novaes, 2001) a analogia com a identidade
entre a televisão e o sujeito, que está na incorporação, pelo imaginário
televisivo, das famílias, das casas e das particularidades nacionais.
O espaço tratado por Bachelard, representado pela casa, abrange o
espaço familiar e suas formas de constituição, além de expressar a inserção da
família no campo15 social (Bourdieu) e as possibilidades de acesso aos bens
materiais que caracterizam a sociedade capitalista.
Essa enunciação do cotidiano e da família em que se constitui a
televisão brasileira, que em Bachelard pode ser vista como a espacialidade
familiar – que longe de ser apenas um espaço físico expressa uma infinidade
de elementos envolvidos - nos remete também à perspectiva bourdiana, onde a
casa e seus objetos revelam o estilo de vida das pessoas, conforme o habitus
delas. “[...]O habitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e
também um haver, um capital [...]” (Bourdieu, 2004, p.61). Elementos como
15
A noção de campo estabelecida por Pierre Bourdieu é a de “espaço social de relações
objetivas”. O conceito de campo intelectual é “universo relativamente autônomo de relações
específicas: com efeito, as relações imediatamente visíveis entre os agentes envolvidos na vida
intelectual – sobretudo as interacções entre os autores ou entre os autores e os editores –
tinham disfarçado as relações objectivas entre as posições ocupadas por esses agentes, que
determinam a forma de tais interacções” (BOURDIEU, 2004, p.65/66).
esses, que compõem o habitus, exprimem a postura e a disposição do habitus
da classe onde a televisão atua para conformar este espaço, como objeto e
como meio, interagindo com o estilo de vida de uma determinada família.
As características do habitus da classe, da casa, do espaço familiar
permitem que se estabeleça uma relação de identidade própria que, com a
televisão, dependendo do conteúdo mostrado, permite uma identificação que
modifica o cenário de ação e interação. Nessa relação temos a participação do
imaginário e da memória coletiva.
Ao se tratar de imaginário, devemos retomar alguns conceitos. Silva
(2003, p.8) estabelece que “Todo imaginário é uma narrativa. Uma trama. Um
ponto de vista. Vista de um ponto.” Ou ainda: “Imaginário é a narrativa mítica
da era da mídia, da “sociedade do espetáculo” (Debord), da época dos
fenômenos extremos (Baudrillard), da complexidade (Morin), do vínculo social
(Maffesoli)” (p.8). O autor coloca ainda que o imaginário surge da relação entre
memória, história pessoal, aprendizado e inserção no mundo dos outros e
compara o imaginário a uma biografia, uma história de vida.
O processo de construção do imaginário funciona de formas diferentes
para o imaginário individual e para o imaginário social, conforme vemos
explicadas a seguir:
A construção do imaginário individual se dá, essencialmente, por
identificação (reconhecimento de si no outro), apropriação (desejo
de ter o outro em si) e distorção (reelaboração do outro para si). O
imaginário social estrutura-se principalmente por contágio: a
aceitação do modelo do outro (lógica tribal), disseminação
(igualdade na diferença) e imitação (distinção do todo por difusão
de uma parte). (SILVA, 2003, p.13)
Constituindo-se o imaginário uma fonte racional e não-racional de
impulsos para a ação, podemos dizer que o imaginário televisivo do Globo
Repórter instalou-se por contágio, estimulando os telespectadores a agir, a ir
ao encontro da realidade sonhada exibida no Programa. Neste caso, a
construção
do
imaginário
individual
dos
telespectadores
ocorreu
por
identificação ao tema exposto e aos sonhos que nasceram com a “realidade”
mostrada. O imaginário como fonte racional e não-racional abriga inúmeros
sentidos (imagens, sentimentos, afeto, emoções, símbolos, valores, etc), que
Silva (2003) compara ao termo gerado por Durand: “bacia semântica”.16
Durand (2001, p.6), que estudou os processos de produção, transmissão
e recepção, assim classificou: “o “museu” – que denominamos o imaginário de todas as imagens passadas, possíveis, produzidas e a serem produzidas”.
O autor faz uma abordagem da “revolução do vídeo” em que trata da explosão
da “civilização da imagem”, nascida com a imagem fotográfica em 1823 e
depois com a animação da imagem reproduzida quimicamente – com os
irmãos Lumière, em 1885.
Durand acredita que a “explosão do vídeo” provoca efeitos perversos e
perigosos. Um desses efeitos é a forma com que a imagem “enlatada” paralisa
o julgamento de valor do espectador e anestesia a criatividade individual da
imaginação. Como exemplo desse efeito, Durand (2001, p.118) expõe: “Este
nivelamento é perceptível no espectador da televisão, que engole com a
mesma voracidade, ou melhor, com a mesma falta de apetite, espetáculos de
“variedades”, discursos presidenciais [...]”.
Outro ponto importante que o autor destaca nessa “civilização da
imagem” é o anonimato “da fabricação dessas imagens”, o que permite as
manipulações e as “desinformações por produtores não-identificados”. O autor
coloca como perigos para as gerações do “zapping”: o nivelamento de valores
do grupo e quando a imagem sufoca o imaginário.
Nessa troca, entre o imaginário individual (do telespectador) e do
imaginário coletivo (transmitido pela televisão), estão os impulsos para as
ações que modificam a forma de interagir do receptor exposto a um
determinado conteúdo televisivo.
De acordo com Arbex (2002), temos a TV revelando-se com todo o seu
poder de mobilização de fantasias e de referência para nosso mundo cotidiano,
submetendo o telespectador a respostas imediatas, ao passo que mantém
16
Durand definiu a noção de imaginário como sendo uma “bacia semântica” que orienta o
trajeto antropológico de cada um. Trajeto antropológico “representa a afirmação na qual o
símbolo deve participar de forma indissolúvel para emergir numa espécie de vaivém contínuo
nas raízes inatas da representação do sapiens e, na outra “ponta”, nas várias interpelações do
meio cósmico e social” (DURAND, 2001. p.90). Entenda-se por “bacia semântica”, segundo
Silva (2001), representação e sentido, enquanto “trajeto antropológico” pode ser tomado como
direção e conhecimento do homem.
ocultas as estruturas do texto ou a concepção que está na base da
apresentação das imagens mostradas.
Isso explica os motivos pelos quais uma notícia, segundo Park (apud
Medina, 1978, p.26), só é mesmo notícia quando chega às pessoas para as
quais tem um “interesse noticioso”: “Todo público tem seu próprio universo de
discurso e um fato só é fato em algum universo de discurso”. Mais uma vez
vemos a importância da identificação do telespectador com o que é
apresentado na televisão. É desta forma que se dá a construção de significado
pela mídia.
4.
A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADO
Os elementos que envolvem o processo de recepção da comunicação de
massa e os efeitos que a recepção gera em indivíduos ou grupos são
estudados há décadas. Intelectuais de várias áreas (psicologia, sociologia,
antropologia, comunicação, dentre outras) criaram diversas formulações, na
tentativa de explicar o processo e os efeitos da comunicação de massa17.
Muitos desses pesquisadores se basearam no princípio que os significados e
as interpretações da realidade são construídos socialmente.
O modelo de mídia atual atua na expansão de tudo o que chega aos
nossos olhos e ouvidos, por meio de representações da realidade que visam
causar um impacto em nós. Dos estudos que trataram do tema de como a
mídia modela significados, destacaremos Walter Lipmann.18 Com Public
Opinion, Lipmann discutiu como a mídia e as interpretações que ela faz dos
acontecimentos podem alterar as interpretações da realidade pelo público.
DeFleur e Ball-Rokeach (1993) explicam com mais detalhes estas
colocações:
Lipmann concluiu que as pessoas agem não baseadas no que
realmente está se passando ou que tenha ocorrido, mas naquilo
que imaginam seja a situação real conseguida de descrições
fornecidas pela imprensa – significados e interpretações que
amiúde têm apenas limitada correspondência com o que se
passou.
Como resposta às descrições da imprensa, as pessoas poderiam ser
levadas a ações e comportamentos, como resultante de uma construção de
significado influenciada pela realidade veiculada. Mesmo sendo criada em
17
Comunicação de Massa pode ser entendida como sendo “um conjunto de fenômenos e
processos que emergiram historicamente através do desenvolvimento das instituições que
procuram explorar novas oportunidades de fixação e reprodução dessas formas”. (Thompson,
2002, p.289)
18
Walter Lipmann esboçou na década de 20 estudos sobre a função de construção de
significado da imprensa. De acordo com DeFleur e Ball-Rokeach (1993), outros pesquisadores
também trataram a mídia como agente de construção de significados: George Gerbner, com a
teoria do refinamento; Donald L. Shaw e Maxwell McCombs, com a função da imprensa de
estabelecimento da agenda e Melvin DeFleur e Timothy Plax, que estabeleceram a função da
mídia como modeladora da linguagem.
1922, a teoria de Lipmann se aplicou igualmente aos novos veículos que
surgiram na história da comunicação de massa, em especial o rádio e a
televisão.
Atualmente, depois de várias teorias, busca-se fazer o estudo da
comunicação de massas na procura das maneiras pelas quais a realidade
mostrada pelos veículos proporciona uma base para a construção de
significados. As pessoas, por diversos fatores, atentam seletivamente para o
conteúdo da mídia, percebendo o seu significado e adquirindo conhecimento, e
se utilizam desse conhecimento para reagir a seu ambiente físico social.
Não podemos afirmar que a mídia sempre utiliza-se do emprego
deliberado do conteúdo para controlar essas respostas. Muitas vezes, a mídia
não o faz deliberadamente, mas as respostas dadas pelo público constituem os
efeitos da comunicação.
A construção de significados faz com que a mídia seja tomada como
agente de socialização19. Um dos aspectos da socialização tem por base os
sistemas pessoais de resposta do indivíduo, como as pessoas adquirem novas
formas de ação que modifiquem seus modos habituais e de resposta ao
ambiente físico social.
Nos dias de hoje, vemos a mídia como elemento que proporciona o
contato de indivíduos com outras culturas, outras sociedades, estilos de vida,
que
acabam
contribuindo
para
o
estabelecimento
de
determinados
comportamentos. A Teoria da Modelagem, formulada pelo psicólogo Albert
Bandura, trata justamente disto, da fixação de modelos para a conduta social.
Uma análise apurada da mídia nos mostra que não são poucos os
exemplos de emprego do conteúdo com a intenção de manipular e de
persuadir. DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 308) deixam clara esta intenção:
“Agora, em uma Era de Comunicação de Massa, a mídia proporciona canais ao
alcance de populações imensas com o fim de estruturar deliberadamente os
significados”. Essa construção de significados pela mídia explica, em parte, os
efeitos gerados por ela nos receptores, assunto que veremos a seguir.
19
DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p.224) definiram socialização como “processo pelo qual as
crenças, atitudes e comportamento dos membros das sociedades são modeladas pelos
sistemas socioculturais dos quais participam”.
4.1
Os efeitos de recepção
Se partirmos do pressuposto que a imprensa “modela” as imagens em
nossa mente, mostrando uma representação da realidade social, o que é
mostrado, por certo, influencia nossa atuação no cotidiano e nossa conduta.
Essas influências também aparecem em nossas respostas às questões
apresentadas pela mídia, alterando nosso comportamento. Wolf (1987), ao
estudar o surgimento de pesquisas sobre os efeitos, destaca o interesse do
investigador pelas influências dos meios sobre o público.
Ao analisarmos o trecho do Globo Repórter que focaliza Rio Verde, não
podemos afirmar que se trata de uma intenção deliberada da emissora em
utilizar
o
conteúdo
para
a
construção
de
novos
significados
nos
telespectadores e para uma mudança de comportamento rumo àquele alvo de
persuasão apresentado: a fábrica de empregos.
Apesar da estratégia de construção de significados aparecer mais
claramente na propaganda, que tem a intenção deliberada de persuadir, o
telejornal analisado encaminhou uma mensagem específica à população, com
características que iam ao encontro das necessidades do público, que com o
conteúdo e a forma com que foram estruturados foram capazes de fornecer e
modificar significados e até atitudes de uma parcela de telespectadores, que foi
levada à ação.
Esses novos significados apontaram Rio Verde como “terra promissora
para o emprego” e deram sentido às ações de uma quantidade de
desempregados. No caso destas ações, ou efeitos de recepção daquele
programa televisivo, a ocorrência se deu de maneira imediata, interligando a
situação representada pela televisão à realidade verdadeira do Município, pelo
contato direto dos telespectadores com o que foi abordado no Programa.
O contato direto se deu com a chegada de centenas de pessoas à Rio
Verde, horas, dias e semanas depois que o programa foi exibido. Todas as
pessoas que se deslocaram à cidade agiram motivadas pelo significado
construído que o Globo Repórter levou a todos os telespectadores. A realidade
apresentada foi tão convincente que permitiu a ação, de fato, de quem se
identificou com ela.
Seguiu-se a essa ação imediata, de deslocamento físico a Rio Verde, o
choque diante da realidade vista de perto.
Thompson (2002) fez a classificação do que chamou de “enfoque
tríplice” para analisar a comunicação de massa, composto pela produção e
transmissão ou difusão das formas simbólicas; pela construção da mensagem
e pela recepção e apropriação das mensagens do meio. Ao abordarmos os
efeitos de recepção, nos concentraremos no último ponto do “enfoque tríplice”
de Thompson, a recepção e a apropriação, que na terminologia hermenêutica,
é o processo de “tornar próprio” algo que é novo, alheio e estranho.
Para o autor, é necessário avaliar circunstâncias específicas (em que
contextos, em que companhia, em que grau de atenção) as pessoas têm
contato com o produto apresentado pela mídia. Isso contribuiria para a
elucidação de como as pessoas chegam a entender as mensagens e como as
incorporam em suas vidas cotidianas.
Em seu estudo, Thompson (2002, p.403) destaca seis características
gerais da apropriação cotidiana dos produtos massivos:
1) os modos típicos de apropriação dos produtos de comunicação
de massa; 2) as características sócio-históricas dos contextos de
recepção; 3) a natureza e a significância das atividades de
recepção; 4) o significado das mensagens, como interpretado
pelos ouvintes; 5) a elaboração discursiva das mensagens
comunicativas; 6) as formas de interação e quase-interação
estabelecidas através da apropriação.
Das características elencadas, trataremos especificamente das formas
de interação e quase-interação, na tentativa de melhor compreender os efeitos
da recepção daquele Programa.
Quatro foram as formas estabelecidas por Thompson (2002) para
caracterizar as formas de interação ou quase-interação: interação num
processo de recepção primária – como por exemplo conversas entre pessoas
que estão juntas assistindo um programa de TV – entre receptores ou entre
receptores e não-receptores; interação que ocorre após a elaboração
discursiva das mensagens, que pode envolver pessoas que vivenciaram
diretamente a recepção das mensagens ou que não estavam no momento
desta recepção; a quase-interação pode ocorrer no envolvimento de receptores
com as pessoas envolvidas na produção das mensagens e a estruturação de
uma virtual comunidade de ouvintes que podem não interagir mutuamente
(direta ou indiretamente), mas que tem em comum o partilhar das mesmas
mensagens, constituindo um coletividade que pode se estender pelo
tempo/espaço.
Ao analisarmos o trecho do Globo Repórter sobre Rio Verde, podemos
inferir que essas quatro formas de interação ou quase-interação foram
vivenciados no processo de recepção, com destaque para a virtual comunidade
de ouvintes, pessoas que se identificaram com o conteúdo do Programa, que
estavam a procura de um emprego e que, junto com outras centenas de
desempregados de diversas regiões do País, estiveram interligados numa
quase-interação que se estendeu pelo tempo e pelo espaço. Além de
partilharem a mesma mensagem apresentada pelo Programa, esses
receptores partilhavam necessidades, desejos e sonhos semelhantes, o que
caracterizava-os como uma coletividade.
Ao abordar a questão da ideologia, Thompson formulou algumas
premissas que podem nos guiar no sentido de melhor compreender como são
os efeitos do processo de recepção das mídias e por quais razões esses
efeitos acontecem. Um dos pontos de destaque é a legitimação20. No caso do
conteúdo mostrado pela televisão, se ele apresentar características que o
indiquem como digno de apoio, ele será legitimado pelos receptores, o que
facilita a compreensão do mesmo como uma verdade: “Discursos e
documentários, histórias, novelas e filmes são estruturados como narrativas
que retratam relações sociais e manifestam as conseqüências de ações de
modo tal que podem estabelecer e sustentar relações de poder” (Thompson,
2002, p.83)
Os efeitos produzidos nos telespectadores do Globo Repórter sobre a
geração de emprego e renda começaram a ser estabelecidos com o
reconhecimento do conteúdo mostrado como uma verdade, desse modo
ocorreu a identificação do tema como de interesse pelo receptor por meio das
20
No sentido literal da palavra e com base em Max Weber, a legitimação são as relações de
dominação que podem ser estabelecidas ou sustentadas pelo fato de serem apresentadas
como dignas, ou seja, como justas e dignas de apoio.
estratégias adotadas, o que Thompson (2002) chama de narrativização
(histórias que contam o passado e tratam o presente como parte de algo
aceitável e que podem ser inventadas a fim de criar um sentido que pertença a
uma comunidade).
A narrativização empregada pelo Programa, com uma história com
muitos elementos que a reforçavam (sons, imagens, textos, conteúdo da
mensagem, estruturação do Programa), impulsionou os receptores, os quais
sentiram que pertenciam ao tema abordado e desejaram satisfazer uma
necessidade latente, a buscar um emprego e novas oportunidades profissionais
seguindo “os caminhos do emprego no Brasil” apresentados pelo Programa.
5. AS NOTÍCIAS COMO SHOW
Em nossa sociedade, cada vez mais as notícias são transformadas em
show pela indústria da informação, sempre como resultado do processo de
conquista da audiência e de “vender” os seus programas como produtos aos
telespectadores. Para Arbex Jr. (2005, p.69) esse é o fim da fronteira entre
informação e entretenimento e a constituição do espetáculo – “é a aparência
que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a
forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o
“fetichismo da mercadoria”, onde para muitos a felicidade se confunde com o
consumo.
Isso fez com que as notícias fossem apresentadas por “belas mulheres,
ou por âncoras que funcionam como showmen”, não importando se eles sabem
ou não do que se trata a notícia lida. Em Livolsi (apud Filho, 1986, p.19) temos
uma clara definição do que isso constitui:
Encontramos aqui talvez naquela que foi definida como “sociedade
21
do espetáculo ”, uma sociedade alinhada por estímulos
emocionais, por interesses superficiais, por fatos indiferentemente
grandes e pequenos, importantes ou banais, todos destinados a
exaurir a atenção do grande público sem deixar marcas. Todo o
fluxo comunicativo é espetáculo: as notícias chegam aos
receptores praticamente sem poderes de informação/formação.
O Globo Repórter analisado por esse estudo, nada mais é que a notícia
transformada em show, com recursos técnicos e tecnológicos que ampliam a
construção do espetáculo. O texto, as imagens e os depoimentos exibidos são
peças fundamentais para a criação do espetáculo levado ao ar. Mais do que
isso, o programa abusa de um recurso do momento: as metáforas que
explicam o mundo e a realidade. Para Marcondes Filho (1986, p.52) a televisão
21
Em 1967, Guy Debord afirmava que a sociedade de consumo, apoiando-se nos meios de
comunicação de massa, tornara-se a “sociedade do espetáculo”, fazendo referência a maneira
de ser da sociedade de consumo da época. O espetáculo, segundo Debord (apud Arbex Jr.,
2005, p.69), “consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios
de comunicação de massa”. Rubim (2000) faz uma retomada da origem da palavra espetáculo,
derivada do latim spetaculum, que representaria um significado mais neutro, algo como “tudo o
que chama a atenção”, “aquilo que atrai e prende o olhar”. Cabe ressaltar que o uso mais
freqüente da palavra está ligado ao conceito de Debord.
transmite a ilusão da verdade – “ao ver as cenas do acontecimento, o receptor
rejeita a tese de manipulação pelo fato de “ter testemunhado com os seus
próprios olhos” o ocorrido”.
“Até que ponto a mídia tem o poder de sedimentar como “a” realidade
(isto é, como “fatos que realmente aconteceram”), na memória coletiva, as
imagens que fabrica dos eventos (isto é, as imagens por ela selecionadas e
editadas)?”, questiona Arbex Jr. (2005, p.37). Não sabemos responder até
onde a mídia tem esse poder, mas ele existe e é inegável.
A força da imagem é tratada por Martín Barbero (apud Marcondes Filho,
1988) como a responsável pelo espetáculo que a TV proporciona aos
telespectadores. Segundo o autor, o espetáculo é definido pela eficácia visual e
não pelos conteúdos que apresenta. A fascinação vem, então, mais da forma
espetacular com que é transmitida do que do conteúdo que se transmite
oralmente. Por isso a televisão trabalha com ações e cenas que possam ser
facilmente interpretadas e decodificadas pelo telespectador. São cenas e um
conjunto todo que trabalham na “incitação forçada de emoções, prazer,
envolvimento” (Marcondes Filho, 1988, p.61).
O jogo de metáforas e o reforço que as mesmas proporcionam para a
sedimentação da realidade mostrada pelo Globo Repórter sobre a geração de
emprego e renda em Rio Verde está presente em todo o texto e nas imagens
selecionadas, como vemos nos trechos destacados: “Rio Verde é uma máquina
de oportunidades”; “a produção no campo faz nascer empregos no município”;
“O ambulatório da empresa é tão grande que mais parece um pequeno
hospital”; “Onde há fumaça, há vagas”; “O inferno da caldeira pode ser o
paraíso sonhado para quem não tem emprego”; “A cidade, fincada no coração
do cerrado brasileiro, abre 3,3 novas vagas a cada mês; “Trabalho à vontade,
que brota das fazendas da região”; “Mas no Sine de Rio Verde existe, ainda,
um outro tipo de fila, formada não por desempregados, mas por patrões em
busca de funcionários”; “Difícil de acreditar: de dez em dez minutos tem vaga
sendo oferecida”; dentre outras. No texto é clara a intenção de ver a realidade
que se mostra sedimentada junto ao telespectador.
A linguagem televisiva demonstrou a força das imagens pela sua
capacidade de fascinação. As metáforas se unem às imagens gerando uma
capacidade de fascinar que permite a apresentação de cenas e sons de
maneira integrada. Isso fez com que a televisão, nas últimas décadas se
tornasse o meio de comunicação de maior ascensão e com maior poder de
penetração em diferentes esferas de interação social, redefinindo relações,
modos de vida e culturas. O espetáculo, o fascínio, o impacto e a emoção
exprimem a força da televisão, mas colocam à prova suas fragilidades, como
por exemplo, a relação entre a emotividade e a racionalidade de seu conteúdo.
A competência do suporte som e imagem ocasionou críticas quanto à
qualidade do telejornalismo.
Ramonet (2004, p.22) critica a influência que a televisão exerce: “O
telejornal em seu fascínio pelo “espetáculo do evento”, desconceitualizou a
informação, emergindo-a novamente, pouco a pouco no lodaçal do patético”. O
autor vai além em suas críticas. Ao tratar da dianteira da televisão sobre os
outros meios de comunicação, o autor afirma:
[...] a televisão impõe aos outros meios de informação suas
próprias perversões, em primeiro lugar com o seu fascínio pela
imagem. E com esta idéia básica: só o visível merece informação;
o que não é visível e não tem imagem não é televisável, portanto
não existe midiaticamente. (RAMONET, 2004, p.27)
Parte dessa imposição da televisão aos outros meios de comunicação é
atribuída pelo autor ao poder da imagem, a “rainha absoluta” que vale por mais
de mil palavras. O autor cita especialistas que sugerem que a imagem, quando
é forte, oblitera o som e suplanta o ouvido. Talvez seja por isso que temos um
telespectador que continua confundido, desorientado, acreditando que todo o
conteúdo da televisão seja verdade. Mas fica a pergunta: Por que o
telespectador acredita na mensagem audiovisual da televisão? A resposta a
esta pergunta é atribuída à questão da credibilidade por Ramonet (2004).
Se a “verdade” televisiva tem suas bases na credibilidade, o que seria
então a credibilidade? Como teria capacidade de agir sobre o receptor da
mensagem televisiva? O autor expõe dois modos de “credibilização”: A
credibilidade do discurso baseada no comentário em “of” e na identificação do
telespectador com o apresentador que lê a informação do teleprompter.
No caso do Globo Repórter, podemos inferir que os dois modos de
credibilização contribuem para a aceitação do exposto pelo Programa como
verdade. A presença de um apresentador (Sérgio Chapelin), que há anos é
responsável por conduzir a narração do Programa, permite com maior
facilidade a identificação do telespectador com o conteúdo mostrado. Essa
relação é assim descrita:
Estabelecia-se uma relação de confiança, de conhecimento – pelo
menor virtual – entre o apresentador e o telespectador, que
credibilizava a informação segundo a idéia de que uma pessoa
familiar que olha nos seus olhos não pode mentir para você.
(RAMONET, 2004, p.35)
Aliado a esses dois modos de “credibilização” expostos por Ramonet,
acrescentamos o fato da Rede Globo ser no País, há décadas, a emissora de
maior audiência, que inova, que explora os recursos tecnológicos ao máximo.
Soma-se a isso o fato do Programa Globo Repórter existir desde 1973 e que,
por certo, com mais de 30 anos no ar já conseguiu a fidelização de milhares de
telespectadores que aguardam pela chegada das noites de sexta-feira quando
a emissora veicula um documentário sobre um tema específico.
Como a credibilidade da televisão o que é mostrado acaba se impondo
como verdade, mesmo que seja falso. Muitas vezes, o receptor – que só pode
orientar-se confrontando os meios de comunicação uns com os outros – não
estabelece critérios de avaliação para julgar o que é falso e o que é verdadeiro.
Quando as notícias são transformadas em show, fruto da espetacularização, a
busca do sensacional pode levar a “aberrações e blefagens22”, como vemos em
Ramonet, que reforça que as “blefagens” e as mentiras sempre existiram nas
comunicações de massa, mas se intensificaram nos últimos anos:
Blefar – escreve a jornalista Annick Cojean, prêmio Albert Londres
– em linguagem jornalística, é trapacear; trucar uma entrevista
para dar-lhe uma força, um aspecto espetacular ou uma conclusão
que talvez não teria; falsear uma reportagem mascarando alguns
elementos; apresentar como realidade uma situação que é fruto da
imaginação do jornalista, de suas suposições ou de observações
não verificadas. (RAMONET, 2004, p.63)
Marcondes Filho (1988) também chama a atenção para a facilidade que
a televisão tem de manipular, aproveitando das deficiências informativas do
público, de modo a confundi-los, com “ciladas lógicas e argumentativas”.
22
Termos abordados pela jornalista Annick Cojean em um artigo publicado em 25 de julho de
1990, no Le Monde, com o título: “Choc des imagens, poids des trucages” e que foi citado por
Ramonet (2004).
Segundo Marcondes Filho (1988, p. 89), se “consideramos que manipular é
forjar cifras, falsear resultados, enganar, argumentar sofisticamente, confundir,
sonegar dados, ampliar ou reduzir desmesuradamente os fatos, informações e
números”, a televisão pode ser considerada com estrutura que adota esses
recursos com o objetivo de manipular conteúdos.
O autor afirma ainda que existem três formas de falseamento da notícia:
“a visão fragmentada e personalizada dos processos sociais, o uso da técnica
e da lingüística e a sonegação das informações “indesejáveis”” (Marcondes
Filho, 1986, p.40). Marcondes Filho acredita também que a produção
fragmentada das notícias é uma técnica mercadológica, onde as notícias são
produzidas pela lógica do consumo para serem “deglutidas” pelo público.
O jornalista é agente ativo na espetacularização e na transformação das
notícias em show nas condições atuais de produção. Langlois (apud Ramonet,
2004, p.102) afirma: “[...] os jornalistas não têm mais tempo de investigar, de
refletir, de aprofundar, de colocar os fatos num contexto”. Hoje em dia, a
tecnologia fez com que a rapidez e agilidade fossem palavras de ordem no
progresso das técnicas de comunicação, das transmissões, dos satélites. Além
da tecnologia, a concorrência cada vez mais acirrada gera a necessidade de,
segundo Ramonet (2004, p.102), “ser o primeiro, o mais espetacular, o que se
traduz em fatias do mercado, e por conseguinte em receita publicitária”. E,
assim, a informação televisiva se perpetua como mercadoria.
Para Arbex Jr. (2005) “uma mercadoria perecível” quando a velocidade
da atividade jornalística é cada vez mais importante. Medina (1978, p.137)
também confere à notícia um caráter de mercadoria: “A mensagem jornalística
como um produto de consumo da indústria cultural desenvolveu uma
componente verbal específica, que serve para chamar a atenção e conquistar o
leitor para o produto/matéria”, com destaque para a articulação entre o apelo
verbal e o apelo visual.
Os telejornais como “shows da vida”, coloca Marcondes Filho (1986),
conseguem extrair dos fatos toda a sua explosividade e os transformam em
variedades e diversão, caracterizando a programação informativa da televisão
como uma teia de materiais que satisfaz a lógica capitalista. Quem não
consegue vender o seu produto/programa – e para isso o espetáculo e a
notícia como show são mecanismos bastante úteis – não conquista a audiência
do público.
Para Rubim (2000, p.65), a espetacularização tem raízes na notícia
como produto e no momento em que a mercadoria passou a fazer parte da vida
social, onde a divisão entre a realidade e a representação “constitui o núcleo
definidor do espetáculo”.
Champagne (2000) também acredita em uma realidade fabricada, com
acontecimentos fabricados, em que chama a atenção a força televisiva nesse
processo. Para o autor, a televisão exerce uma forma de dominação muito forte
pela sua ampla difusão. As imagens são outro ponto que Champagne (2000,
p. 64) ressalta: “a informação “posta em imagens “ produz um efeito de drama
que é próprio para suscitar muito diretamente emoções coletivas”. As imagens
exercem um efeito de evidência mais poderoso que o discurso, designando
uma realidade indiscutível, mas que para o autor não passam de “produto de
um trabalho mais ou menos explícito de seleção e de construção”. O autor
acredita na fabricação de acontecimentos, resultados de uma mobilização
espontânea ou provocada pelos meios de comunicação.
Para exemplificar as nuances teóricas aqui expostas, nada melhor que
observar um acontecimento real, em que a espetacularização fez com que a
representação ocupasse a vez da realidade.
PARTE II
A INVASÃO DOS MIGRANTES DESEMPREGADOS
6. OS DADOS DO CAGED
No dia 6 de fevereiro de 2004, o programa Globo Repórter, da Rede
Globo de Televisão, veiculou um material especial sobre os municípios
brasileiros que mais geravam emprego e renda: Rio Verde (GO); Garopaba
(SC) e Rio das Ostras (RJ). Os dados para a realização desse programa foram
obtidos junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED),
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para esse local são remetidas
informações coletadas pelas agências do Sistema Nacional de Empregos
(SINE), existentes em praticamente todos os municípios brasileiros.
Pelos dados levantados pela produção, Rio Verde aparecia entre os
municípios brasileiros que mais geravam emprego e renda. Com as
informações levantadas foi construída a pauta para a realização do programa
com o título “Desemprego – Os caminhos alternativos do trabalho no Brasil”.
De acordo com uma pesquisa feita por esta autora ao site do Ministério
do Trabalho e do Emprego, as estatísticas sobre a evolução do emprego em
Rio Verde em dezembro de 2003 apontavam um total de 13.386 admissões
(contratações) e 10.830 desligamentos (demissões) no período dos últimos 12
meses (um ano), o que representava um saldo positivo de 2556 admissões em
relação aos desligamentos naquele período. Ao se adotar o período de 12
meses contados de janeiro de 2003 a janeiro de 2004 – que antecedeu a
realização do Programa - as admissões em Rio Verde foram 14.749 – o que
representa 4,51% do total de admissões em Goiás -, enquanto os
desligamentos ficaram em 11.800 – representando 3,89% dos desligamentos
registrados no Estado naquele período. O saldo positivo de admissões nesse
período foi de 2.949, se comparado aos desligamentos.
Sendo assim, esses dados não nos mostram uma realidade de geração
de emprego e renda de grande destaque e que merecesse um programa sobre
os municípios que mais geravam emprego e renda no País, uma vez que o
número de desligamentos foi alto. Ou seja, os postos de emprego existiam,
mas a realidade das estatísticas já indicava que a grande maioria das pessoas
que tinha trabalho formal acabava terminando o ano desligada da empresa.
Os índices de 2003, que motivaram o Globo Repórter em 2004, não
foram muito diferentes dos registrados nos anos seguintes. Em 2004, o saldo
positivo de admissões foi de 2.434, para um total anual de 15.219 admissões e
12.785 desligamentos. Em 2005, o saldo positivo foi ainda menor: 1.163.
Naquele
ano
foram
computados
15.105
admissões
contra
13.942
desligamentos.
Esses números reforçam que se análises corretas fossem feitas seria
facilmente percebido que o que ocorre em Rio Verde é a chamada rotatividade
de mão-de-obra. As vagas existem, mas poucas são, de fato, as novas vagas.
As existentes não aumentam muito de um ano para o outro e as demissões
quase se aproximam da quantidade de contratações, apesar do saldo destas
últimas ainda ser positivo.
Os dados pesquisados no CAGED por esta autora não conferem com o
apresentado pelo Programa, de que Rio Verde “abre 3,3 mil novas vagas a
cada mês”. Se isso fosse verdade, Rio Verde abriria, anualmente, 39 mil e 600
vagas. Se tomarmos o número de admissões de janeiro de 2003 a janeiro de
2004, o que equivale a 14.749 e a afirmação do Programa sobre as novas
vagas, estaríamos diante de um total de 24.851 vagas ociosas e não
preenchidas durante o ano. Isso em uma cidade que tem pouco mais de 130
mil habitantes.
Outros dados pesquisados foram sobre os valores salariais pagos no
Município. Os dados do Ministério do trabalho disponibilizados na internet não
confirmam os altos salários destacados no Programa. A maior média salarial
registrada naquela época em Rio Verde era de R$ 588,94, para operador de
máquinas fixas em geral; seguida por R$ 537,92 para a função de desossador
e R$ 537,50 para a Administração Pública. Isto é, bem menos que os altos
salários mostrados pelo Globo Repórter – os do casal de funcionários da granja
de porcos, por exemplo.
A situação do emprego no País, à época do Programa, era de grande
desemprego nos grandes centros urbanos, que sofrem com o inchaço
populacional. No ano de 2003, o País registrou 9.809.343 admissões, contra
9.163.910 desligamentos, o que significa um saldo positivo de 645.433
admissões em 12 meses. No ano seguinte, 2004, as admissões registradas
ficaram em 11.296.496 e os desligamentos em 9773.220, resultando em um
saldo positivo de 1.523.276 admissões, segundo dados do CAGED. As
estatísticas de 2003 também apontam que existia uma diferença substancial no
salário médio pago aos admitidos entre as regiões brasileiras, sendo que São
Paulo e Rio de Janeiro apresentavam níveis salariais para os admitidos
superiores ao restante do País. Para São Paulo, a média salarial dos admitidos
naquele ano foi de R$ 560,93 e no Rio de Janeiro, de R$ 509,71. Esses valores
médios não diferiam muito de algumas médias salariais de Rio Verde.
Informações mais detalhadas sobre o perfil e algumas características de
Rio Verde são importantes para a contextualização do leitor sobre a realidade
local. O Município tem como base da economia o agronegócio, impulsionado
pela alta produtividade de grãos e pelas agroindústrias instaladas no município:
COMIGO – Cooperativa Mista dos Produtores do Sudoeste Goiano -; Kowalsky
Alimentos; Perdigão; Brasilata; Grupo Orsa; Frigorífico Margen; Grupo Cereal;
Cargill; unidade fabril da Brejeiro; dentre outras.
Rio Verde fica a 220 quilômetros de Goiânia, capital do Estado. A
arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
da cidade, em 2005, foi de mais de R$ 68 milhões, de acordo com dados da
Secretaria Municipal da Fazenda. Isso coloca o Município em 6o lugar no
ranking dos maiores arrecadadores de ICMS de Goiás.
Nesse ambiente, está inserida a Prefeitura de Rio Verde, 2o maior
empregador do Município, com mais de 3 mil funcionários, dentre os nomeados
por decreto do Prefeito e efetivos, que são os concursados, segundo a
Secretaria de Administração e Planejamento. A maior empregadora de Rio
Verde e do Centro-Oeste brasileiro é a Perdigão, que atualmente possui mais
de sete mil funcionários com carteira assinada.
6.1 A superexposição de Rio Verde no Globo Repórter
O Globo Repórter já exibiu mais de mil programas, desde a sua estréia,
na década de 70, sendo apresentado há décadas por Sérgio Chapelin. “Desde
então, tornou-se um dos programas jornalísticos mais assistidos na televisão
brasileira, com cerca de 30 milhões de telespectadores toda semana” (Rede
Globo).
Deste trecho, destacamos a classificação, pela própria emissora, do
Globo Repórter como um programa jornalístico. A transcrição, na íntegra,
daquela parte do Programa, que se encontra nos anexos, apenas sobre a
superexposição de Rio Verde, nos dá detalhes da condução do material
produzido, apontando elementos significativos para uma análise do que foi
exibido a milhões de telespectadores em todo o País.
Percebe-se que a tônica do Programa já é dada logo no início, quando o
repórter Flávio Fachel narra a fila do desemprego no Brasil e expõe, para que o
telespectador viaje com ele para um “paraíso” de empregos: “Mas qual seria
então o caminho para o emprego? [...] Em Rio Verde, no sudoeste de Goiás,
um fenômeno está acontecendo. Na cidade, não falta emprego. Falta
trabalhador”. A ênfase da mensagem é dada pela palavra fenômeno.
Ao apontar esse fenômeno, da suposta falta de trabalhador, o repórter
indica que o caminho para o emprego estaria em Rio Verde. Isso, agregado a
outros elementos contidos no Programa e a elementos de um cotidiano de
pessoas que sofrem com a falta de empregos no País, moveu milhares de
desempregados numa verdadeira invasão a Rio Verde. Mais adiante, o jogo de
palavras dá nova ênfase: “Na cidade, não falta emprego. Falta trabalhador”.
O texto do Programa nos indica ainda outras articulações de sentido que
tomaram corpo com o tom, as ênfases, as metáforas e as estruturações
adotadas pelo Programa. A repetição de palavras para fixar o conteúdo é outro
recurso adotado, com destaque para a palavra oportunidade.
A tom poético que se percebe no Programa é usado para dar doses de
força ao discurso, como vemos neste trecho: “Na estrada de terra, uma coruja
parece avisar: para onde se olha, também tem chance de emprego”. As dicas
do repórter vão colocando Rio Verde no caminho do emprego ao longo da
narrativa e são confirmadas nas falas de vários dos empresários entrevistados
no Sine. O contador Nildo Melo, quando entrevistado, fez uma espécie de
convocação: “Se um contador de uma cidade de São Paulo, de uma capital,
que está desempregado vier pra cá, vai ser colocado em Rio Verde”.
Os salários, outro chamariz para os desempregados que se aventuraram
em Rio Verde, aparecem no final da reportagem do Globo Repórter, quando é
entrevistado um casal de funcionários de uma granja de porcos do Município. O
casal declara que o salário do mês era equivalente a R$ 1.200,00 e que como
não pagavam nem aluguel, nem energia elétrica e água, os gastos mensais se
resumiam aos R$ 200,00 do supermercado. O restante, cerca de R$ 1 mil, era
depositado, mês a mês, em uma poupança.
Podemos inferir que as colocações que apareceram no fechamento do
Programa contribuíram para a fixação, junto aos telespectadores, de
mensagens referentes aos bons salários.
6.2
A trajetória do Programa
A construção do Programa partiu da redação e depois foi sendo
delineada quando uma equipe completa da Rede Globo chegou ao município,
no final de janeiro de 2004, para a produção do Globo Repórter que mostraria a
situação da geração de emprego em Rio Verde (GO). A equipe era formada
pela produtora Luci Vasconcelos, a editora Isabela Dutra, o cinegrafista Willian
Torgano, o técnico Adriano Moraes e o repórter Flávio Fachel - Figura 0123.
23
Todas as fotografias utilizadas neste trabalho são do acervo da Prefeitura de Rio Verde,
cedidas à autora.
Figura 01
Fotografia da equipe do Globo Repórter durante gravação no SINE de Rio Verde
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Rio Verde entrou em contato
com a produção, por telefone, que informou que a Globo já tinha todas as
informações necessárias sobre a geração de emprego em Rio Verde e que
para eles não interessava “a versão oficial do assunto”. O contato foi feito por
telefone, com uma ligação para o celular da produtora, cujo número foi
informado por uma funcionária da TV Riviera, afiliada da Globo em Rio Verde.
Mesmo com a negativa da produtora do Programa sobre a ajuda da
Assessoria, o jornalista Augusto Rocha foi escalado para acompanhar a
gravação no SINE, realizada em 21 de janeiro de 2004. O órgão funcionava em
um prédio cedido pela administração municipal e o acompanhamento se fez
para que o poder público tivesse ciência do teor do material produzido.
Naquela ocasião, o jornalista Augusto Rocha relatou que a produção
induziu os entrevistados a gravarem falas que iam de acordo com o que eles
queriam. Para isso, ocorreu uma conversa - Figura 02 - entre os empresários e
o jornalista Flávio Fachel, com clara indução de respostas.
Figura 02
Repórter Flávio Fachel em conversa com empresários no SINE
Uma “fila” de empresários em busca de funcionários foi simulada pela
equipe para a filmagem de algumas cenas. Essa fila já havia sido previamente
anunciada pelo repórter, dando parte do enfoque do Programa que a Globo
apresentaria aos telespectadores, conforme trecho de entrevista concedida em
22 de janeiro de 2004, ao Programa Patrulha 97, da Rádio Morada do Sol FM,
em Rio Verde, transcrito a seguir:
Rio Verde está entrando no Programa como um retrato do que está
acontecendo no Brasil hoje, que é o crescimento do agronegócio [...]
Você sabe que um dos motivos pelos quais a gente (sic) está aqui, a
gente (sic) vai tentar mostrar uma coisa engraçada aqui no SINE. A
gente (sic) normalmente vê na TV ou no jornal aquela manchete
dizendo “Fila de gente atrás de emprego”. Pois aqui nós vamos
mostrar: “Fila de gente oferecendo emprego”. (Flávio Fachel,
PROGRAMA PATRULHA 97, 22/01/2004)
A Figura 03 mostra o momento da gravação das cenas, em que o
repórter passa e há uma fila de empresários ao fundo. Ressaltamos que esses
empresários, cadastrados no SINE da cidade, foram convidados pela produção
do Programa para participar da gravação naquele dia, na sede da agência de
empregos.
Os mesmos empresários que participaram das gravações de cenas e
entrevistas, posicionados em uma grande mesa, foram dispostos em pé,
próximo à mesa de uma atendente do SINE, permitindo que aquela fila
aparecesse como pano de fundo na passagem do repórter Flávio Fachel.
Sendo assim, pode-se inferir que todo o cenário estruturado para as
gravações daquele Programa corroboraria para o enfoque que o Globo
Repórter queria dar aos fatos, o de que Rio Verde era uma cidade com
empregos de sobra.
Essas questões, aliadas à seleção das sonoras e cenas no processo
de edição de texto e imagens da reportagem, construíram a perspectiva do
sonho dos desempregados brasileiros: a “Fábrica de Empregos”. A fila,
simulada para a gravação, aparece parcialmente ao fundo na Figura 03.
Figura 03
Repórter Flávio Fachel durante gravação da passagem em que mostra a fila de empresários no
SINE de Rio Verde
Ressalta-se que a intenção de mostrar essa fila, que só existiu por
solicitação do repórter para a filmagem, já era clara e confirmada pela
entrevista do repórter a uma rádio local em que o mesmo mencionou que a fila
de Rio Verde, formada por empresários, difere-se das de outras partes do País,
compostas por desempregados.
Nesse mesmo Programa de rádio, a entrevista que antecedeu a do
repórter da Globo foi com o diretor do SINE, à época, Sérgio Macedo, que
disse:
Bem Costa Filho, podemos dizer, sem sombra de dúvidas, com toda
sinceridade, que o ano de 2003, em termos de empregabilidade em
Rio Verde foi um ano muito positivo. Nós tivemos muitas
oportunidades de emprego e também conseguimos através dessas
oportunidades de emprego, colocar uma gama muito grande de
trabalhadores no mercado de trabalho. Ou seja, fazendo uma
avaliação a nível (sic) de Estado, o SINE de Rio Verde foi um dos
que mais empregou. A título de números, nós inscrevemos de junho
do ano passado até dezembro, já que a nossa unidade ela foi
informatizada em junho, um número de nove mil seiscentos e quinze
trabalhadores, captamos 5888 vagas, encaminhamos 12472
pessoas, ressalvando que para cada vaga encaminhamos três
candidatos. Por isso é que o número não bate, às vezes, com o
número de colocados. Cada oportunidade de emprego
encaminhamos três candidatos e conseguimos empregar no ano de
2003, 3821 trabalhadores, ou seja, um número bem superável (sic),
bem aquém (sic) de todo o Estado de Goiás.
Ainda nessa entrevista, Sérgio Macedo disse que para o ano de 2004 a
meta era empregar entre 5 a 6 mil trabalhadores em Rio Verde. A falta de
qualificação mínima necessária para o preenchimento das vagas também foi
assunto abordado pelo diretor do SINE, destacando que a unidade de Rio
Verde ofereceu cursos em sete áreas, em 2003, qualificando e capacitando
144 trabalhadores. Número muito baixo diante da quantidade que não possui a
qualificação desejada pelas empresas.
No ano de 2004, segundo informações do diretor da unidade, o fluxo
diário de pessoas no SINE ficava entre 500 a 600 trabalhadores, com uma
média de 300 a 500 contratados por mês. O número de funcionários do local,
prestando atendimento ao público, era de 22 duas pessoas naquele ano.
Mesmo com as referências isoladas à importância da qualificação para
pleitear um novo emprego, o Programa trouxe a Rio Verde milhares de
pessoas. Dezenas de ônibus chegaram à cidade. Muitas pessoas chegaram de
carona e outras de carro próprio.
A característica principal desses migrantes era a busca por uma nova
oportunidade na vida, oportunidade esta sugerida pelo Programa. Muitos que
se deslocaram para o Município sequer trouxeram dinheiro para alimentação.
A sede do SINE registrou um grande aumento no fluxo de visitantes, o
que gerou um certo tumulto, conforme mostra a Figura 04. Sequer existiam
lugares para acomodação de todas aquelas pessoas sentadas, como
comumente acontecia na agência do SINE da Cidade.
Figura 04
Grande fluxo na agência do SINE de Rio Verde após a exibição do Globo Repórter
O grande número de pessoas em pé dentro da Agência e até do lado de
fora do órgão só contribuiu para a exaltação dos ânimos dos que esperavam
encontrar uma fábrica de empregos. A Polícia Militar foi chamada pela direção
do SINE para monitorar o movimento dentro e na fila fora do local, inibindo uma
confusão maior.
7. CRONOLOGIA DAS REPERCUSSÕES EM JORNAIS IMPRESSOS
A discussão sobre o assunto abordado pelo Globo Repórter
antecedeu a exibição do Programa, com notas e matérias sobre a vinda da
equipe e a geração de emprego e renda no Município. O Jornal O Popular, que
circula em todo o estado de Goiás, se antecipou ao Programa, apresentando
uma reportagem completa sobre a questão de emprego em Rio Verde, no
caderno de Economia, com três páginas (13 a 15), com a seguinte manchete:
“Fábrica de empregos – Município está entre os cinco maiores geradores de
vagas de trabalho do País, mas avalanche de migrantes preocupa” (O
POPULAR, 1o/02/2004, p.13).
O título anuncia um enfoque diferente do mesmo assunto que foi levado
ao ar na produção da Rede Globo. Na manchete da matéria impressa, a
preocupação com a “avalanche” de migrantes, registrada pela cidade nos
últimos anos, está presente e aparece, também, em outros trechos do texto,
assinado pela jornalista Sônia Ferreira, com destaque para a falta de
qualificação: “A cidade do pleno progresso é também hoje a cidade do pleno
emprego. Mas as vagas estão abertas para aqueles que têm qualificação
profissional.”
A fila de empresários citada na reportagem do Globo Repórter também
aparece no texto do Jornal:
Numa estreita rua do Centro de Rio Verde, centenas de pessoas se
amontoavam na frente do prédio da unidade do Sine na última
quarta-feira. São duas filas. Uma de desempregados e a outra de
empresários ofertando vagas. A fila daqueles que buscam empregos
é maior: tem média de 500 pessoas por dia. No outro lado, a fila é
menor, com média de 10 pessoas que, atendidas em outro balcão
oferecem. (O POPULAR, 1o/02/04, p.13).
No trecho percebemos que a fila dos que procuram emprego é
considerável, enquanto a dos que oferecem emprego é composta de apenas
uma dezena de empresários.
Na página 14, a continuação do tema é feita com uma matéria correlata:
“Migração preocupa autoridades”.
Um ponto que está preocupando as autoridades municipais de Rio
Verde: a chegada diária de dezenas de pessoas em busca de
emprego. A maioria sem a qualificação profissional necessária, sem
lugar para morar e sem dinheiro no bolso. Na rodoviária da cidade,
pelo menos 30 pessoas desembarcam por dia, vindas de várias
partes do País, atraídas pelas notícias de pujança da economia da
região e buscam oportunidades de emprego.
O prefeito de Rio Verde, Paulo Roberto Cunha, afirma que é
impossível lidar com o contingente de pessoas que chega
mensalmente na cidade em busca de emprego. Admite que seria
mais fácil administrar a situação se a migração fosse de pessoas
com experiência profissional e qualificação, o que não vem
o
ocorrendo. (O POPULAR, 1 /02/04, p.14)
Nessa parte da reportagem, o prefeito pondera ainda sobre o custo de
vida da cidade, “hoje um dos custos de vida mais elevados do Brasil” e que
esse crescimento acelerado do Município traz problemas de infra-estrutura, em
que o poder público não consegue acompanhar a demanda da população. Isso
gera bairros novos sem asfalto, sem rede de esgoto, sem galerias pluviais, sem
saúde de qualidade e uma série de outros problemas.
O custo de vida na cidade é o assunto de outra matéria correlata: “Custo
de vida assusta quem chega – Preço de aluguel de imóvel na cidade chega a
ser mais caro que em Goiânia. O mesmo acontece com o custo de
alimentação, o que assombra os novos moradores” (O POPULAR, 1o/02/04,
p.15). A reportagem relata a surpresa de alguns migrantes que se mudaram
para Rio Verde, com os valores de aluguel e alimentação. “Em Indiara deixou
alugada por R$ 80,00 sua casa de cinco cômodos. Para morar com o marido
em Rio Verde alugou um barracão de cinco cômodos por R$ 160,00”, fazendo
referência à situação da entrevistada Rubiana Benvinda da Silva. O preço do
quilo de comida self-service também foi alvo de pesquisa da repórter, na
condução da matéria: “O quilo de comida está na faixa de R$ 15,00. Em
Goiânia, a média é de R$ 12,00”, compara.
Se o Programa desse ênfase ao custo de vida local e à exigência de
qualificação compatível aos postos de emprego disponíveis, talvez o pior
pudesse ter sido evitado.
Essa preocupação, com o que o Globo Repórter poderia provocar,
também já movimentava a imprensa local, sendo tema de uma matéria
publicada no jornal local Folha da Cidade, o periódico quinzenal que circulou de
1o a 14 de fevereiro com a chamada: “Divulgação do “eldorado” preocupa
população e exige mais do Executivo – Ao mesmo tempo em que a notícia
orgulha o rio-verdense também preocupa a questão da segurança e
oportunidades, além de comprometer ainda mais o orçamento do município”.
(JORNAL FOLHA DA CIDADE, 1o a 14/02/2004, p.3)
Posterior à veiculação do Globo Repórter o assunto continuou
repercutindo na mídia, em vários jornais impressos locais de Rio Verde e da
região. Várias matérias foram publicadas, narrando os problemas ocasionados
pela multidão de migrantes em Rio Verde. Essa onde de migrantes mudou a
rotina da cidade, com grandes filas se formando do lado externo do SINE,
pessoas dormindo na rodoviária e em outros locais públicos, muitos pedindo
dinheiro e comida pelas ruas da cidade, fatos praticamente inexistentes em Rio
Verde até aquela ocasião. Até o aumento de pequenos furtos foi registrado.
No dia 10 de fevereiro, as primeiras demonstrações de indignação com o
Programa começavam a aparecer nos jornais regionais. Naquela data, o Jornal
O Popular, o de maior circulação no Estado, veiculava duas cartas com teor
diferente das publicadas no Diário da Manhã, mostrando a indignação de
pessoas que conhecem a realidade de Rio Verde, que não é a mesma
mostrada pelo Programa:
Que Eldorado é esse? O último Globo Repórter divulgou apenas
pequena verdade sobre Rio Verde, qual seja a oferta de empregos.
Omitiu informações das pessoas desesperadas por um emprego. Em
1975, a população era de 75 mil habitantes. Tínhamos cinco
promotores, cinco juízes e três delegados de polícia. Passados mais
de nove anos, a estrutura da Justiça ainda é a mesma, o número de
habitantes dobrou, o número de processos chega a 30 mil. A
criminalidade reina. Assalto à mão armada em plena luz do dia,
meninos de rua, tráfico de drogas, porte ilegal de armas, furtos em
residências, estupros e em média oito homicídios por mês. Há um
crescimento desordenado de bairros sem infra-estrutura, o custo de
vida é elevadíssimo, falta água em toda a cidade e policiais civis e
militares. Toda essa deficiência vinha sendo minimizada pelas
autoridades locais. Após a veiculação da falsa idéia de Eldorado, a
cidade está em pânico. Correm boatos de que mais de 30 ônibus
oriundos do Maranhão, de Rondônia e do Ceará estarão
desembarcando pessoas aqui, nas próximas horas. O prefeito está
em apuros. Todos nós também. João Porto Silvério Júnior Promotor
de justiça em Rio Verde – GO
Paraíso perdido, reportagem que foi ao ar sexta-feira no Globo
Repórter, colocou Rio Verde como um paraíso. É minha terra, uma
cidade que cresceu muito nos últimos oito anos. Com o
desenvolvimento, veio o aumento assustador de crimes, roubos,
estupros. Dizer que tem empresário na fila à procura de empregados
é uma grande mentira. Tem, sim, empresário à procura de escravos
para trabalhar muito e receber ninharia. Na minha ingenuidade, não
consegui entender qual o espírito da reportagem. Foi, no mínimo,
ridícula. Luzmarina Arantes Moraes, Rio Verde – GO (O POPULAR,
10/02/04)
Devemos destacar que o autor da primeira carta de indignação
publicada no Jornal O Popular não é de um leitor qualquer, mas de uma
autoridade, um promotor de justiça. No depoimento dele a tradução do
sentimento que se instalou na cidade: “Após a veiculação da falsa idéia de
Eldorado, a cidade está em pânico”. A essa opinião foram se somando outras.
Na mesma data, o Jornal Diário da Manhã publicou quatro matérias
sobre o assunto. A matéria principal, “Retrato do desemprego”, estampou a
realidade da falta de emprego no País e a chegada de migrantes a Rio Verde,
com malas, sem local para hospedar e sem dinheiro: “A Prefeitura teve de
oferecer lanche para 15 pessoas que se instalaram na porta do prédio, em
busca de informação sobre onde estariam as vagas relatadas” (JORNAL
DIÁRIO DA MANHÃ, 10/02/04, A)
“Virou uma epidemia” (DIÁRIO DA MANHÃ, 10/02/04, B), disse o
prefeito ao Jornal em outra matéria publicada nesta mesma data, comentando
que julgava que o Programa mostraria o potencial da cidade de uma forma
diferente, sem criar as dificuldades que acabou gerando ao Município.
Na mesma data, o Jornal revela, em forma de comentários, algumas das
especulações que tomaram conta da cidade, movimentando boatos acerca do
episódio: “Um morador de Aracaju, Sergipe, após assistir ao programa na
sexta-feira, foi de carona até Rio Verde, onde chegou no domingo”; “Um grupo
de mais de 60 pessoas saíram (sic) de Maceió, Alagoas, com destino à cidade
goiana”; Um comboio de 15 ônibus teria saído de Porto Velho (RO), para
buscar emprego na cidade”; “Passagens de ônibus para Rio Verde estariam
sendo vendidas pela metade do preço em São Paulo, para que houvesse
lotação nos veículos para que desempregados tentassem a sorte na cidade
goiana”.
“Do sonho à realidade” é o título de outra matéria, publicada em 11 de
fevereiro de 2004 no Jornal Diário da Manhã:
O sonho: uma cidade onde não falta emprego, com remuneração
entre R$ 1 mil e R$ 2 mil, e as pessoas são contratadas já na
rodoviária. A realidade: filas, muita gente procurando emprego e
poucas vagas, principalmente para pessoas sem qualificação.
(DIÁRIO DA MANHÃ, 11/02/04, C)
A falta de dinheiro dos que chegavam é confirmada por outra
informação do Jornal: “O mecânico está dormindo na rodoviária da cidade e
ontem tinha apenas R$ 5,00, sem saber como voltará para São José dos
Campos, em São Paulo. Como Gilmar, 40 pessoas passaram a noite na
rodoviária” (DIÁRIO DA MANHÃ, 11/02/04, C).
De acordo com esta matéria, no primeiro dia útil após a exibição da
reportagem na televisão, cerca de 400 pessoas já haviam chegado a Rio
Verde, sendo que em dias normais essa quantidade não ultrapassava 200
visitantes.
Os fatos que envolveram o episódio são pitorescos. Dois amigos,
provenientes da cidade de Pires do Rio (GO), seguiram de carro, um fusca,
para Rio Verde. A falta de dinheiro obrigou os dois a dormir no carro, por duas
noites. “Fusca vira casa” (DIÁRIO DA MANHÃ, 11/02/2004, D) relata a história
dos dois amigos que aguardavam por ajuda financeira para a colocação de
combustível no veículo e retorno à cidade de origem.
Na mesma matéria, outro migrante, Joaquim Francisco dos Santos,
desabafa: “Foi uma reportagem irresponsável, que causou um tumulto que a
cidade não comportava. Ela (a reportagem) mostrou que os salários eram mais
altos que os de São Paulo e não R$ 270,00 como encontrei”.
O acompanhamento dos efeitos provocados pelo Globo Repórter em Rio
Verde continua nos jornais regionais. No dia seguinte, outras notícias. Em 12
de fevereiro, a preocupação com a falta de recursos dos migrantes é destaque
na matéria Prefeitura e Estado oferecem auxílio (JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ,
12/02/04, E), em que mostra a solicitação do Prefeito para “que os seus
secretários providenciassem alojamento e refeição aos visitantes”.
Naqueles dias, o tumulto parecia não ter fim: “Funcionários que
trabalham com a venda de passagens informaram à Fumdec que está prevista
para hoje a chegada de 40 ônibus vindos da região Norte com destino a Rio
Verde” (JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ, 12/02/04, F)
A Fumdec (Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário) é o
órgão da Prefeitura de Goiânia responsável pela assistência a migrantes e que
possui um posto de atendimento na rodoviária da cidade visando não permitir a
permanência de migrantes desempregados na Capital. Para isso realiza ações
de encaminhamento dessas pessoas às suas cidades de origem.
Nessa mesma matéria, um depoimento chama a atenção: “Se demorar
muito eu vou roubar. Pelo menos, se eu for preso, terei comida e lugar
garantidos para ficar”. Essa foi a declaração de Ricardo Silvestre à repórter do
Diário da Manhã, Ludmila Viana. Ricardo, de 30 anos, veio de Araguaína (TO)
para Rio Verde, percorrendo todas as empresas possíveis, sem sucesso.
Ricardo dormiu por três dias na rodoviária de Rio Verde, local onde foi
assaltado, ficando com a roupa do corpo e sem nenhum dinheiro.
A recepção da reportagem pelos telespectadores provocou uma espécie
de retomada de esperança pelos desempregados, ansiosos em conseguir um
bom emprego. Alguns jornais repercutiram a chegada de milhares de
correspondências eletrônicas à Prefeitura, encaminhadas não só por pessoas
sem qualificação, mas por engenheiros, agências de publicidade, jornalistas,
dentre outros, também vítimas do desemprego.
As repercussões prosseguiram por mais de um mês depois do episódio.
No mês de março, o Diário da Manhã ainda recebia solicitações de
informações de oportunidades de emprego, por carta e e-mails, conforme
vemos publicado na edição do dia 10 de março, na seção Carta do Leitor:
“Gostaria de obter informações sobre os empregos existentes na cidade de Rio
Verde. Todos, desde ajudante geral, àqueles que exigem curso superior. Rosa
Maria de Almeida
Bueno Camargo,
São
Paulo (SP)
– via e-mail
([email protected])” e “Gostaria de saber mais sobre a situação de
Goiás e ver a possibilidade de conseguir um emprego. Na verdade, muito
interessaria a criação de uma seção de classificados só de Rio Verde, com os
empregos que a cidade oferece. Diego Garcia Fonseca – via e-mail
([email protected])” (JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ, 10/03/04)
No saldo parcial do episódio, a Prefeitura de Rio Verde (envolvendo aqui
todas as suas secretarias) recebeu mais de 70 mil e-mails, com pedidos de
informações sobre a cidade, as vagas e até informações para o envio de
currículos. Só à assessoria de imprensa, chegaram mais de 15 mil mensagens.
A quantidade de e-mails foi mencionada, por meio de nota, no Jornal Diário da
Manhã do dia 5 de março de 2004:
Paulo Roberto Cunha (foto) recebeu 70 mil e-mails desde que Rio
Verde foi saudado como novo eldorado do País, noves fora o
desembarque de 5 mil desempregados. “Que isso sirva de alerta ao
governo federal para a geração de empregos”, acrescenta.
O volume de e-mails acabou por provocar transtornos nas caixas
eletrônicas das secretarias. A quantidade de e-mails que chegavam todos os
dias era tanta que o sistema travava, tornando-se lento no processo de
recepção e envio de mensagens.
7.1 Algumas repercussões no cenário nacional
Após o Globo Repórter, num período de um mês, Rio Verde foi o
assunto de 34 matérias publicadas (notas, chamadas de capa, editoriais, cartas
dos leitores, artigos, reportagens e outros) em jornais locais, regionais e
nacionais. Na maior parte do material publicado, as ações da Prefeitura de Rio
Verde e do prefeito para gerar emprego e renda e, também, devolver os
desempregados às cidades de origem, foram consideradas extremamente
positivas.
Mesmo assim, muitos culpavam a Prefeitura e queriam ser ressarcidos
pelas despesas utilizadas no deslocamento à cidade. O ressarcimento em
dinheiro não ocorreu, mas a Prefeitura acabou tendo de arcar com despesas
de alojamento, alimentação e transporte.
A superexposição rendeu a Rio Verde, também, uma reportagem de
destaque no jornal O Estado de S. Paulo. Sob o título “Emprego provoca
invasão em cidade goiana”, a jornalista Márcia de Chiara abordou o assunto.
Ela esteve em Rio Verde no final de semana após a veiculação do programa na
televisão e se deparou com a fila de desempregados na porta do Sine quando
estava indo embora de Rio Verde, na segunda-feira, dia 09 de fevereiro.
Acompanhada por um fotógrafo, a jornalista fez o registro da imagem dos
desempregados e colheu alguns depoimentos, que resultaram em uma
reportagem que descreve a situação analisada neste trabalho:
A fila de candidatos, que dobrava a esquina de uma das principais
avenidas da cidade, a Presidente Vargas, era o verdadeiro mapa do
Brasil e o reflexo da dura realidade do País. De Porto Franco, no
Maranhão, a Ubatuba, no litoral de São Paulo, não faltavam
representantes de boa parte dos Estados da federação. Na sextafeira, esses brasileiros assistiram a uma reportagem sobre emprego
no programa da Rede Globo de Televisão Globo Repórter, exibido
em cadeia nacional. (O ESTADO DE S. PAULO, 13/02/1004, p. B3)
Também foi mencionado o rápido efeito de recepção gerado pelo
Programa nos telespectadores que, sem maior reflexão, deixaram suas
localidades para participar de uma verdadeira corrida por emprego em Rio
Verde, como analisado anteriormente: “O resultado foi imediato. A partir do fim
de
semana
não
paravam
de
chegar
à
cidade
ônibus
lotados
de
desempregados, somando cerca de 500 pessoas. Na segunda-feira a
Prefeitura recebeu mais de 10 mil e-mails e quase mil telefonemas” (O Estado
de S. Paulo, 13/02/1004, p. B3).
No mesmo jornal, dois dias depois, a mesma jornalista escreveu uma
matéria que foi chamada de capa com foto, sobre a questão da exportação de
frango, com destaque para a produção de Rio Verde, com o título: “Exportação
de frango deve crescer 15%” (O ESTADO DE SÃO PAULO, 15/02/2004,
Capa). Essa reportagem era o real motivo da visita da jornalista daquele Jornal
a Rio Verde, quando flagrou a invasão de migrantes.
A jornalista Márcia de Chiara24 recorda o que presenciou em Rio Verde
naquele 09 de fevereiro de 2004: “Eu presenciei uma invasão de pessoas de
outros Estados a procura de empregos. Eram filas que dobravam quarteirões a
procura de uma vaga”.
De Chiara disse mais:
Eram pessoas que tinham pegado dinheiro emprestado para
comprar a passagem só de ida para Rio Verde. Havia uma mulher
que tinha deixado a filha recém-nascida com a mãe para se
24
A jornalista foi entrevistada pela autora deste trabalho por e-mail em 11 de setembro de
2006. A entrevista, na íntegra, faz parte do Apêndice da dissertação.
candidatar a uma vaga. Realmente era o mapa do Brasil, e do
desemprego, estampado naquela imensa fila que circundava
quarteirões.
Os relatos das pessoas à jornalista, sobre a vinda a Rio Verde,
resumiam-se à questão da falta de oportunidade de emprego em suas
respectivas cidades.
De Chiara considera que ao Programa “Faltou esclarecer que as
pessoas precisavam ter qualificação para ocupar as vagas”. Perguntada sobre
o que esses migrantes trouxeram na bagagem, a jornalista responde: “Eles
trouxeram muita esperança e a certeza de um futuro melhor. Mas a frustração
foi muito grande”.
Quanto a abordagem do Programa, a jornalista opina dizendo que “O
programa mostrou parcialmente a realidade. No ímpeto de turbinar a notícia,
esqueceu de pontuar que tipo de emprego era oferecido e qual os quesitos
necessários para ocupar a vaga.” (DE CHIARA).
A geração de emprego e renda de Rio Verde e a realidade sobre o
assunto também renderam uma entrevista ao vivo do prefeito Paulo Roberto
Cunha no programa apresentado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, na rede
nacional da rádio CBN – que no horário do programa conjuga a CBN AM E FM
e inúmeras afiliadas e parceiras em todo o Brasil. Foram mais de 30 emissoras
de rádio retransmitindo a entrevista, feita por telefone para todo o País, no dia
11 de fevereiro de 2004.
Com o agendamento de entrevista em diversos veículos de
comunicação locais, regionais e nacionais, foi possível minimizar a culpa que
estava sendo imputada pelos migrantes e pelos rio-verdenses ao Prefeito pela
exibição daquele material no Globo Repórter. Na cidade, muitas pessoas
pensaram que o Prefeito havia encomendado e pago pela reportagem.
A Prefeitura entendeu, à época, que se ações não fossem feitas no
sentido de minimizar a suposta culpa imputada ao poder público no episódio,
seria o mesmo que confirmar que o Prefeito era o grande responsável pela
vinda daqueles desempregados para Rio Verde, trazendo junto uma série de
transtornos à população: pessoas sem dinheiro pedindo nas ruas e com
atitudes suspeitas e a necessidade dos gastos da administração municipal com
alimentação e transporte aos migrantes.
A Assessoria de Imprensa teve que atuar para mostrar à população
que o Prefeito não “manda” na Rede Globo e que ele, assim como a
população, era vítima desse jornalismo praticado pela emissora e dessa
superexposição. Esse discurso foi compreendido por jornalistas que atuaram
na cobertura do episódio, conseguindo imprimir ao material publicado, a
realidade sobre a questão da geração de emprego e renda no município. Isto é,
que os empregos existiam, mas não na proporção divulgada pela Globo, nem
com a remuneração mencionada e que o custo de vida local era extremamente
alto.
7.2 Opinião especializada sobre o episódio
Os efeitos da exibição da reportagem na televisão foram o assunto de
várias matérias jornalísticas, sendo que uma delas era uma opinião
especializada. Luís Estevam, colaborador do Jornal Opção (semanário
regional) que é doutor em Economia (Unicamp), aborda em um artigo assinado
perigos de se considerar Rio Verde como a “terra prometida”, sob risco de
imprimir ao Município um movimento migratório desordenado, expondo ao
limite a capacidade estrutural da cidade.
A matéria (Jornal Opção, de 15 a 21/02/2004, p. A-26) traz: “Rio Verde
não pode ser tratada como “terra prometida” e muito menos ser considerada
como uma nova Serra Pelada. A divulgação feita no Globo Repórter pode ter
agradado a empresários locais, mas foi um duro golpe na capacidade social do
município”. O autor diz ainda que o Globo Repórter, ao abordar o mercado de
trabalho acabou por contribuir para o seu estrangulamento.
Outras explicações confirmam a colocação do Estevam, de que Rio
Verde não pode ser considerada a “terra prometida”, basicamente em virtude
de que os empregos existentes na localidade têm como alvo trabalhadores
altamente técnicos e qualificados:
O desenvolvimento econômico do município está baseado na
utilização de mão-de-obra intensiva, e o grau de aprofundamento
tecnológico das atividades econômicas exige trabalhadores cada vez
mais especializados, tanto na zona rural quanto na área urbana.
(Jornal Opção, 2004, p. A-26).
As tentativas de entrevista com o articulista pela autora não tiveram
sucesso25, não permitindo que as análises especializadas sobre a questão
econômica fossem mais abrangentes.
25
A autora mandou um e-mail no dia 17 de outubro de 2006 para Luís Estevam
([email protected]) conforme endereço eletrônico indicado na página do Jornal Opção. A
mensagem não foi respondida, apesar de ter sido reencaminhada em outra data. O Jornal não
informou o telefone do articulista.
8. AÇÕES DA PREFEITURA PARA CONTER A CRISE
Nessa parte detalharemos as ações adotadas pela Prefeitura na
tentativa de solucionar os efeitos do Programa. Ressaltamos que parte desses
efeitos, os negativos, poderiam ter sido evitados se o descompasso e o
desencontro entre a comunicação pública e a mídia não fossem tão grandes.
Os problemas gerados com a chegada dos migrantes exigiram do poder
público municipal ações rápidas na tentativa de minimizar os efeitos da crise
local que teve início com o Programa. No dia 11 de fevereiro, o tumulto na sede
da Prefeitura, SINE e rodoviária foi tamanho que o Prefeito teve que estruturar
apoio às pessoas. Muitos receberam alimentação e alojamento para que
saíssem das ruas, conforme Figura 05.
Figura 05
Funcionário da Prefeitura distribuindo refeições a desempregados que se aglomeravam na
rodoviária de Rio Verde
A Figura 06 mostra a multidão de migrantes que ocupou o hall da
entrada principal da Prefeitura de Rio Verde, no dia 09 de fevereiro de 2004,
exigindo que a administração municipal resolvesse o problema de cada um
deles e, em especial, providenciasse uma colocação para os que tinham
chegado ao Município em busca de emprego. Nessa ocasião, a conversa dos
representantes da Prefeitura com os desempregados foi tensa, com ameaças
de quebradeira por parte dos migrantes que queriam culpar o Executivo pelo
ocorrido.
Figura 06
Migrantes lotam entrada da Prefeitura de Rio Verde e fazem reivindicações
Além da distribuição de alimentação, outra medida tomada pela
Prefeitura foi a efetivação de parcerias com empresas de ônibus que fazem o
transporte intermunicipal e interestadual para deslocamento dos migrantes às
suas cidades de origem ou para outras localidades que possibilitassem um
maior apoio no retorno ao domicílio de origem, de acordo com informações da
assessoria de imprensa. A realização do convênio e o esforço da Prefeitura
para solucionar a crise são relatados nesse trecho de uma matéria:
Ontem, uma pequena multidão de migrantes à procura de empregos
se reuniu na prefeitura, na rodoviária e na porta do Sine. Paulo
Roberto, que estava em Goiânia em audiência com o governador,
solicitou que seus secretários providenciassem alojamento e refeição
para os visitantes. Outra atitude tomada pela prefeitura foi a de fazer
um convênio com empresas de ônibus. Ontem, a expectativa da
prefeitura era conseguir transporte para 30 pessoas. (JORNAL
DIÁRIO DA MANHÃ, 10/02/04, E)
No dia 09 de fevereiro de 2004, foi necessária a distribuição de
senhas aos desempregados que se aglomeravam em fila do lado de fora da
unidade do SINE. Apenas 170 trabalhadores, dos 300 que já estavam no local
mesmo antes de sua abertura ao público, receberam as senhas para
atendimento. Foram distribuídas também 100 marmitas com refeições para o
almoço de alguns desempregados que se concentravam na rodoviária.
A tentativa da Prefeitura de Rio Verde em devolver os migrantes aos
seus locais de origem acabou provocando transtorno para outras cidades da
região, em especial para a capital do Estado, Goiânia. Como os recursos para
o transporte dos migrantes às cidades de domicílio eram onerosos – muitos
migrantes do Sul, Sudeste e Nordeste do País – era inviável que a
administração municipal arcasse com as passagens de ônibus a todos os
desempregados que não possuíam dinheiro para a volta. A solução encontrada
foi providenciar a passagem até Goiânia para que, de lá, os migrantes
tentassem voltar aos seus estados. Com isso, um grande transtorno foi
evidenciado na Capital, exigindo uma ação conjunta entre as administrações de
Rio Verde, Goiânia e do Estado.
O presidente da Fumdec afirma que a Prefeitura de Rio Verde, por
meio de sua área de assistência social, se comprometeu a
providenciar passagens para os locais de origem de quem se
encontra na cidade – e não apenas para Goiânia, Itumbiara e
Uberlândia, como estava sendo feito até ontem. [...] A Fumdec
providenciou almoço, albergues, e abrigos municipais e conveniados
para todos que chegaram de Rio Verde. O presidente do órgão
acredita que, com o apoio do governo, através da Organização das
Voluntárias de Goiás (OVG), conseguirá solucionar o problema o
mais breve possível. (DIÁRIO DA MANHÃ, 12/02/04, F)
Os episódios que envolveram Rio Verde após a exibição do Programa
tiveram também alguns desdobramentos, visando as questões eleitorais
sucessórias de 2004.
De acordo com notícia veiculada na mídia, um adversário do prefeito
Paulo Roberto Cunha teria contratado uma produtora de Anápolis para gravar
cenas e sonoras em Rio Verde com a finalidade de arquivar o material para a
época das eleições. A equipe se fez passar por integrantes do Programa do
Ratinho do SBT, mas a farsa durou pouco e acabou em prisão, como vemos no
relato:
Dupla dá o golpe
Eles chegaram a ir até o Sine da cidade coletar dados para uma
matéria. Como estavam sem identificação, o Sine entrou em contato
com a redação do programa, que esclareceu que não havia enviado
equipe à cidade. A dupla foi presa próximo a Santo Antônio da Barra,
o
em um veículo com placa de Anápolis. Quando chegaram ao 2
o
Batalhão de Polícia Militar (2 BPM), um advogado, que segundo
fontes, era de um político pré-candidato à Prefeitura de Rio Verde, os
aguardava. (DIÁRIO DA MANHÃ, 12/02/04, G)
8.1 Ações da Emissora para minimizar os efeitos provocados
Após solicitação feita à diretoria do Globo Repórter pela Assessoria da
Prefeitura a pedido do Prefeito, o jornalista William Bonner, apresentador e
editor chefe do Jornal Nacional, leu uma nota, no dia 09 de fevereiro, segundafeira, três dias após a exibição do programa sobre Rio Verde, explicando aos
telespectadores como enviar o currículo para o Município.
A nota lida pelo apresentador dizia às pessoas que ligassem para a
agência do SINE antes de se deslocarem para Rio Verde. Na mesma nota
foram repassados os telefones, e-mail e endereço da agência da cidade para
contato dos que estavam em busca de empregos. O prefeito cobrou do
Programa sua responsabilidade sobre o que estava acontecendo em Rio
Verde, mas a resposta da emissora se resumiu em uma nota.
O Jornal O Mercador de 17 a 23 de fevereiro de 2004 mencionou o
pedido de retratação e a nota lida em resposta à solicitação do Prefeito Paulo
Roberto Cunha. A retratação solicitada pelo Prefeito não aconteceu e apenas
uma nota foi lida para reparar o caos que já havia se instalado no Município.
Mas os efeitos gerados fizeram com que Emissora tomasse precauções
quando da exibição de novas reportagens sobre ofertas e oportunidades de
emprego.
Isso pode ser constatado cerca de um mês depois da exibição do Globo
Repórter sobre Rio Verde, quando a emissora implantou um quadro temporário
no Jornal da Globo com o retrato das cidades onde o índice de desemprego é
baixo. A temática da geração de emprego foi mantida, mas dessa vez
acompanhada por uma certa precaução, conforme mostra o relato:
EFEITO RIO VERDE
Toda terça-feira o Jornal da Globo exibe quadro que retrata as
cidades brasileiras onde o índice de desemprego é baixíssimo. E
isso significa vagas de trabalho...
A estréia, anteontem; mostrou Franca, no interior de São Paulo, e
sua forte indústria de calçados.
Escaldada com a matéria sobre Rio Verde, mostrada como um novo
Eldorado, a emissora se apressou em avisar que é necessário
qualificação profissional e aconselhou os telespectadores a não
pegar o primeiro ônibus rumo a Franca. (DIÁRIO DA MANHÃ,
11/03/2004, grifos do autor)
A inserção desta nota no Jornal Nacional não evitou o mal que já
estava feito. A emissora não se retratou e encontrou-se um “bode expiatório”
para a invasão de migrantes a Rio Verde, a falta de qualificação. No fim, a
culpa é dos próprios telespectadores. O Globo Repórter provocou efeitos
imediatos no Município e em seus telespectadores. Passados dois anos, como
algumas pessoas que vivenciaram o episódio o vêem? Com essa distância é
possível ter uma idéia mais clara e uma avaliação crítica do acontecimento?
9. AS LEMBRANÇAS DO EPISÓDIO DOIS ANOS DEPOIS
As recordações sobre os efeitos provocados pelo Programa Globo
Repórter do dia 6 de fevereiro de 2004 são muitas. Essas lembranças são
ainda mais reavivadas quando se percebe hoje, o agravamento da crise do
agronegócio, base da economia do Município. Com essa crise, a oferta de
empregos diminuiu bastante na cidade. Até mesmo os moradores da localidade
sentem a retração no setor, gerada pela crise generalizada.
Para um melhor aprofundamento das questões analisadas nesta
dissertação,
inerentes
ao
episódio
narrado,
consideramos
importante
reconstruir essa história não somente com os registros dos jornais impressos
da época, mas por meio de depoimentos colhidos em entrevistas com
personagens vinculados direta e indiretamente aos fatos.
Julgamos, pela relevância do episódio para o Município, que a
exploração de novos depoimentos e detalhes poderia fornecer outros
elementos para análises mais precisas. A seleção de entrevistados foi feita
com base em nosso recorte, em que optamos por conhecer o processo de
construção do Programa em Rio Verde. Destacamos que o recorte feito
engloba apenas parte dessa história e que optamos por uma vertente que traz
a opinião de jornalistas e de alguns funcionários da Prefeitura que viram o
episódio de perto.
Assim, nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2006,
várias entrevistas foram realizadas, no sentido de conhecermos detalhes do
cenário pesquisado. Foram entrevistados por e-mail, por não residirem em Rio
Verde, o jornalista Augusto Rocha, e a jornalista Márcia de Chiara, que mora
em São Paulo onde ainda trabalha para a Agência Estado (pertencente ao
mesmo grupo que é proprietário do Jornal O Estado de S. Paulo).
Pessoalmente foram entrevistados o ex-coordenador do SINE de Rio
Verde, Sérgio Macedo; o responsável pelo terminal rodoviário do Município,
João Roberto Neves; o fotógrafo da Prefeitura de Rio Verde, Washington
Oliveira e o ex-cinegrafista da Prefeitura, Adasnivon Divino.
A pesquisadora tentou entrevistar um representante do Globo Repórter
ou da equipe que esteve em Rio Verde, com várias tentativas por telefone e por
e-mail.
9.1 Solicitações de entrevistas com a equipe do Globo Repórter
O primeiro contato se deu por telefone, pelo número (21) 2461. 1500, no
dia 20 de setembro de 2006. O número foi obtido junto à central telefônica da
TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo em Goiás, uma vez que a página da
Empresa (www.globo.com) não traz os telefones de contato dos programas que
veicula e nem de uma central de atendimento da emissora.
Antes da primeira tentativa, a pesquisadora encaminhou, ainda, duas
mensagens pelo site, na parte intitulada “Fale Conosco”, que apresenta
campos a serem preenchidos para uma mensagem de encaminhamento
automático pela própria página da Internet. As duas mensagens nunca foram
respondidas, o que mostra falhas na comunicação a que a Empresa se propõe.
Na
ligação
ao
Programa,
esta
pesquisadora
foi
atendida
eletronicamente, por um equipamento que pede a quem ligou que digite
números para funções correspondentes sobre vários programas da Rede
Globo. A maior parte dessas funções é para participação ao vivo em uma das
atrações de auditório da emissora.
Depois de alguns instantes e após selecionarmos a “tecla 9” para “falar
com um de nossos atendentes”, a ligação foi direcionada a uma telefonista,
Márcia, que nos informou, categoricamente: “Não é possível fazer um contato
direto por telefone.” Depois de solicitar que o assunto fosse adiantado, pediu
que mandássemos uma mensagem, solicitando a entrevista, para o e-mail
[email protected].
Essa mensagem foi encaminhada no mesmo dia, 20 de setembro, sendo
reencaminhada no dia 4 de outubro por falta de resposta ao primeiro
encaminhamento. No dia 09 de outubro, veio a resposta, indicando que, a
princípio, a Emissora poderia atender ao pedido, mas que deveria ser
encaminhado um ofício ao “Projeto Globo Universidade”, informando da “forma
mais clara e detalhada possível”, os dados solicitados, as entrevistas e outras
informações necessárias ao trabalho.
A resposta da Emissora já ressalvava também que a “empresa se
reserva o direito de não disponibilizar informações por ela consideradas
estratégicas para qualquer trabalho de pesquisa”. A mensagem nos aponta a
burocracia e os muitos procedimentos para uma tentativa de entrevista com a
equipe do Programa. Dando prosseguimento aos procedimentos indicados
nessa mensagem, foi encaminhado um e-mail para o Projeto Globo
Universidade ([email protected]), com um ofício em papel
timbrado do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde, assinado pelo diretor da
Instituição, Fábio Buzzi Ferraz, Instituição apoiadora da pesquisa, ao invés de
um ofício assinado pela orientadora do mestrado, o que demandaria um maior
tempo.
No ofício, enviado no dia 19 de outubro de 2006, são descritas todas as
informações pertinentes à pesquisa e de relevância à Emissora, conforme
orientações da equipe de internet do Globo Repórter.
Um outro e-mail, cobrando uma confirmação de recebimento e uma
posição sobre a solicitação da entrevista, cujas perguntas já haviam sido
encaminhadas no corpo da mensagem, foi retransmitido no dia 24 de outubro
de 2006 e, posteriormente, em 06 de novembro. Nenhuma das mensagens foi
respondida.
Cabe o questionamento: Como o telespectador pode dialogar com a
Rede Globo? A trajetória apresentada nesta dissertação, da busca pela versão
da emissora sobre o episódio, nos mostra o quão difícil é para o telespectador
ter esse diálogo, essa resposta da emissora. Isso pode ser constatado pela
experiência desta autora.
A estratégia de produção televisiva não tem interesse em dialogar,
dando a impressão de que são os “donos da verdade”. A falta de uma resposta
da Emissora é reveladora de uma postura e de um comportamento que não
condizem com um processo de comunicação mediada que deve ser
transparente e que tem no telespectador a base da audiência.
9.2 Impressões do ex-coordenador do SINE
O coordenador do SINE à época, Sérgio Macedo, exercia um cargo por
nomeação do Prefeito, configurando uma parceria que existe em inúmeros
municípios brasileiros, em que o Sistema Nacional de Empregos, órgão do
Governo Federal, funciona graças ao apoio das administrações municipais. Em
Rio Verde, as despesas com o aluguel do prédio onde funciona a agência de
empregos local e o salário do coordenador são custeadas pela Prefeitura.
Hoje, Sérgio Macedo atua na Presidência do Sindicato dos Empregados
e Trabalhadores de Hotéis, Restaurantes e Serviços Gerais (SETHORESG) de
Rio Verde. Em entrevista26 concedida por ele no dia 21 de setembro de 2006,
foram esclarecidos alguns pontos sobre as filmagens do Programa no SINE e
outros detalhes do episódio, além das opiniões dele sobre o ocorrido. Antes de
apontarmos os principais trechos dessa entrevista, destacamos algumas
impressões que tivemos quando conversamos com o ex-coordenador do SINE.
Desde que o episódio aconteceu, o então coordenador foi alvo de
críticas na cidade, indicando que ele teria tentado se promover com a situação,
tirando proveito pessoal para uma suposta candidatura ao cargo de vereador
do Município. Sérgio Macedo de fato foi candidato a uma vaga na Câmara
Municipal de Rio Verde, nas eleições de outubro de 2004, mas não se elegeu.
As críticas sobre a suposta tentativa de se promover com a inserção do SINE
do Município em uma reportagem de alcance nacional sempre foram rebatidas
por ele, que sempre saiu em defesa do Programa.
Contudo, mesmo reticente como se percebe na íntegra da entrevista,
hoje Sérgio Macedo aponta algumas falhas do Programa. O “bode expiatório” –
a falta de qualificação – é citado por ele como a maior falha do Globo Repórter:
Eu acredito que a maior falha que a Rede Globo deu naquela
oportunidade é de não ter colocado a matéria como ela foi produzida.
É, foi feita uma produção realmente mostrando o lado bom, o lado
ruim, as dificuldades da cidade, as vantagens da cidade. Só que na
hora de veicular a matéria divulgaram só a parte boa [...]. A que o
26
A íntegra da entrevista gravada com Sérgio Macedo faz parte do Apêndice dessa
dissertação.
aluguel era caro, a de que a cidade também tinha um monte de
desempregados e que, às vezes, a cidade não estava conseguindo
empregar aquela quantidade de pessoas e, também, foi deixada de
informar sobre a qualificação que, apesar de nós termos muito
emprego na época, não foi informado que a maioria dessas vagas
necessitava de qualificação profissional, de pessoas mais
preparadas para ocupar essas vagas. (MACEDO)
O ex-coordenador, além de apontar as falhas em sua opinião, critica a
Emissora que, segundo ele, está somente preocupada em ter audiência.
Macedo disse que o Programa faltou com a verdade e relata que nenhum
integrante da Prefeitura foi procurado pela equipe do Globo Repórter e que ele
sequer foi entrevistado.
Eu entendo que o Globo Repórter mesmo ou a Rede Globo, ela
gosta de “Ibope”, né. Não houve entrevista com a minha pessoa [...]
Então, de alguma forma a gente entende que a matéria foi capciosa,
que eles queriam ter “Ibope” [...] A Rede Globo naquela oportunidade
eu acho que faltou um pouco com a verdade, porque se quisesse
realmente informar corretamente teria ouvido a assessoria de
imprensa da Prefeitura, [...] o próprio Prefeito e também a
coordenação naquela época que era a minha pessoa. (MACEDO)
Sobre os efeitos provocados pela exibição do Programa em rede
nacional, Macedo recorda os transtornos às linhas telefônicas, com “quase toda
a cidade com seus telefones congestionados”, incluindo empresas e
residências, que recebiam ligações de pessoas querendo informações sobre o
Município.
Em alguns trechos da entrevista, Sérgio Macedo apresenta-se
contraditório. Se por um lado critica a Emissora acusando-a de “ter faltado com
a verdade”, em resposta a outra pergunta disse: “Nós não discordamos que a
matéria era verdadeira. Realmente tinha muito emprego. O que foi deixado de
ser feito foi veicular as dificuldades que a cidade tinha”. (MACEDO).
De fato, a reportagem trouxe uma verdade, que Rio Verde gerava
emprego e renda, mas com exageros que mudaram significativamente a
mensagem e a recepção dela pelos telespectadores. Os exageros conferiram
ao município o posto de “Fábrica de Emprego”, cuja ilusão criada foi duramente
confrontada pela realidade encontrada pelos migrantes. Assim como em outras
localidades do País, o emprego existe, mas não há fórmula mágica nem
milagres para que a vida de uma pessoa, seja ela desempregada ou não, se
transforme da noite para o dia.
Macedo afirma que foi evitado “um mal maior” graças ao desempenho do
prefeito Paulo Roberto Cunha, numa clara intenção de protegê-lo e até porque,
naquela época (em 2004), era funcionário da Prefeitura. Em outra resposta
repete a defesa: “(...) mas também que Rio Verde, não aqui querendo puxar
farinha, mas tinha um Prefeito ou tem um Prefeito importante que conseguiu,
aí, resolver, aí, essas dificuldades sem gerar um problema maior, um problema
social, aí.” (MACEDO)
Quando o assunto abordado é sobre a fila de empresários em busca de
trabalhadores, mostrada pelo repórter Flávio Fachel, Sérgio Macedo não
confirma o relato do fotógrafo Washington Oliveira, que também acompanhou
as gravações no SINE e que garante que a fila foi “simulada” para que o
repórter gravasse uma passagem. Ele não se refere à fila, apenas afirma que
“Realmente, público existia”.
Os dados do fluxo de pessoas que passavam semanalmente pelo SINE
foram repassados por Sérgio Macedo. De acordo com o ex-coordenador da
Agência, o fluxo era entre 500 a 600 pessoas por semana. Sobre o aumento
após a exibição da reportagem, Macedo é impreciso e diz que “esse número
quase que dobrou ou quadruplicou em número de pessoas”. A quantidade de
currículos recebidos por e-mail também mudou nos dias que seguiram ao
Programa. Antes do Globo Repórter a média mensal era de 100 currículos por
mês e nos dias depois da exibição da reportagem, mais de 50 mil e-mails
chegaram ao endereço eletrônico do SINE ([email protected]).
Sobre os boatos da época, Macedo se recorda dos que envolveram a
administração municipal e, nesse trecho, mais uma vez, é contraditório ao
voltar a afirmar que, para ele, o fato mostrado na reportagem era verdadeiro.
Disseram ali que a Prefeitura comprou o Globo Repórter, que pagou
para rodar aquela matéria, para divulgar aquela matéria e que na
verdade nós sabemos que não teve nada disso. Rio Verde a gente
não pode esconder. Naquela oportunidade era uma das cinco
cidades do País que mais gerava emprego e não era fato inventado,
era fato verdadeiro e tanto que não fomos nem à Prefeitura [...]
Porque quando você paga para participar de alguma coisa você tem
que aparecer e na verdade nem o Prefeito Paulo Roberto Cunha,
nem o Sérgio Macedo, nem a própria assessoria de imprensa,
ninguém participou da matéria. (MACEDO)
9.3 Impressões de integrantes da assessoria de imprensa
Para o resgate de parte da história, da ação jornalística e dos fatos que
envolveram a gravação do Programa e os efeitos por ele gerados, foram
entrevistados, ainda, um ex-integrante da assessoria de imprensa da Prefeitura
de Rio Verde, jornalista Augusto Rocha; o fotógrafo da Prefeitura de Rio Verde,
Washington Oliveira - que juntos acompanharam as gravações do Programa no
SINE -; e o ex-cinegrafista da Prefeitura, Adasnivon Divino.
A entrevista com o jornalista Augusto Rocha foi concedida no dia 28 de
agosto de 2006, por e-mail, quando comentou a resposta dada pela produtora
do Globo Repórter durante um contato feito pela assessoria de imprensa, de
que para o Programa “não interessava a versão oficial dos fatos”. Em seu
depoimento, Rocha parece concordar, em parte, com a “independência” da
emissora, o que justificaria ter deixado a versão da Prefeitura de fora da
reportagem.
Augusto elogia o padrão da Emissora e a excelência dos profissionais da
Rede Globo enquanto tenta explicar as razões pelas quais ele considera que
para a emissora não interessava a versão oficial dos fatos:
Creio que esta deva ser a linha editorial da TV Globo. O próprio
formato do programa talvez ajude a explicar isso. Os profissionais
que trabalham na emissora têm competência reconhecida
nacionalmente. Os repórteres e produtores são e devem ser
excelentes. No acompanhamento que fiz da equipe do Globo
Repórter isso ficou bem evidenciado. Outra hipótese que poderia
explicar essa atitude é a desconfiança em relação ao trabalho do
assessor de impressa, que é direcionado ao cliente/assessorado.
Com certeza, a Produção não quis utilizar-se da colaboração da
Assessoria de Imprensa da prefeitura porque desejou evitar uma
conotação política à reportagem. Não é de hoje, que existem
conflitos entre as redações e as assessorias de imprensa. Ambas as
funções possuem peculiaridades e nem todos os profissionais, que
estão em campos distintos, têm uma convivência salutar. (ROCHA)
O elogio feito pelo jornalista nos mostra que a estratégia discursiva da
Rede Globo não impressiona apenas o público. No entanto, o jornalista relata
atitudes que não combinam com a excelência profissional que menciona,
fazendo uma crítica superficial quando diz que ele e o fotógrafo foram
recebidos com “frieza”, ficando a impressão que para a equipe do Programa, os
dois estavam “atrapalhando”.
A idéia da “fila”, pelo que indica o ex-integrante da assessoria, teria sido
do repórter Flávio Fachel. Para Rocha, o repórter conseguiu vender esse
gancho e a editora concordou “meio a contragosto”.
Quando perguntado sobre a abordagem do Programa, o jornalista afirma
ter tido a impressão de que mesmo se a assessoria tivesse sido considerada
na produção do material, o resultado permaneceria inalterado. Isso porque, de
acordo com ele, “parece que a pauta já veio de ‘cima para baixo’“, com
direcionamento para aquele enfoque. Nesse momento, Rocha faz um
comparativo com as pautas da Revista Veja, em que, segundo ele,
“Depoimentos de jornalistas, que já trabalharam nessa publicação da Editora
Abril, revelam que assim que a pauta é decidida, os repórteres têm apenas que
‘confirmá-la’, embora a realidade não seja aquela que é descrita”.
A postura dos empresários que participaram das gravações no SINE
reforçou, segundo o entrevistado, a importância da qualificação, uma vez que
alguns já temiam que as entrevistas pudessem ser usadas com outra
conotação, mas que, “No entanto, a vaidade de diversos entrevistados, na
ânsia de obter seus 15 segundos de fama, com certeza, contribuiu de certa
maneira, para aquela abordagem.” (ROCHA). Ou seja, os empresários foram
seduzidos, fascinados pela chance de aparecer na Rede Globo e de serem
vistos, como já dissemos anteriormente.
Para Rocha, a falha do Programa consistiu em não destacar que as
vagas eram para pessoas com qualificação. Perguntado sobre se o que o
Programa mostrou era a realidade local ou uma realidade “fabricada”, o
jornalista respondeu:
Dificilmente poderia afirmar que aquele era o retrato fiel da realidade
local. Houve exageros e distorções por parte de diversas fontes
ouvidas pela reportagem. Seria muita pretensão dizermos que a
mídia mostra a realidade social tal como ela é. Um dos princípios
básicos do jornalismo é a busca da verdade, mas isto nem sempre
acontece, haja vista os interesses e as limitações dos veículos de
comunicação. (ROCHA)
A realidade local era diferente da realidade fabricada pelo Programa. As
estatísticas da geração de emprego em 2003, no Município, motivadora
daquele Globo Repórter, não eram muito diferentes do Estado de Goiás como
um todo e, nem tampouco, apresentavam um saldo muito positivo de
admissões em relação a um número de desligamentos tão representativo.
Aliás, as estatísticas permitem outras interpretações, que não se assemelham
com as feitas pela produção do Programa, que elevou Rio Verde à categoria
dos maiores geradores de emprego e renda no Brasil.
Uma dessas interpretações é a de que havia em Rio Verde naquela
época uma grande rotatividade nos empregos. Ao passo que milhares de
pessoas eram contratadas no Município, outras milhares eram demitidas para
acolher a essas contratações.
O fotógrafo que acompanhou o jornalista Augusto Rocha ao SINE,
Washington Oliveira27, é enfático ao afirmar que o Programa falhou e que
presenciou, durantes as gravações, uma verdadeira indução ao enfoque
desejado. Os “15 segundos de fama”, descritos pelo jornalista Augusto Rocha
são destacados pelo fotógrafo (OLIVEIRA): “Na verdade, o fato de aparecerem
no Globo Repórter pesou muito. [...] Um deslumbramento, um certo
deslumbramento. Eu acho que isso aí pesou, de certa forma, bastante”.
A entrevista foi gravada no dia 28 de agosto de 2006, na assessoria de
imprensa da Prefeitura. O fotógrafo disse que quando assistiu ao Programa
ficou assustado e que “Aquilo causou à cidade uma verdadeira invasão de
pessoas achando que iam chegar aqui e achar um Eldorado, o emprego fácil, o
que não era verdade”.
Oliveira descreve o sentimento de “revolta” dos que chegaram a Rio
Verde acreditando que iam conseguir bons salários de imediato. Enquanto os
migrantes ficavam “revoltados”, a população rio-verdense ficava cada vez mais
assustada.
Alguns detalhes da gravação no SINE foram revelados na entrevista,
com contundência:
[...]houve por parte da produção do Globo Repórter, pelo próprio
repórter, um direcionamento nas respostas, o que eles queriam que
as pessoas respondessem para que a reportagem ficasse mais
interessante, para que a reportagem tivesse um maior alcance, eu
diria, para as pessoas, para o Brasil inteiro achar que aqui é
27
A íntegra da entrevista faz parte do Apêndice.
realmente uma cidade que oferece emprego a qualquer um. O que
não é verdade. (OLIVEIRA)
O fotógrafo também afirma que a fila mostrada em uma passagem do
repórter foi montada:
Na verdade aquela fila foi montada. Na hora não existia fila alguma
ali. A fila foi montada pela produção para que fosse filmado. Na
verdade não havia fila. Há a procura dos empresários, pelo
funcionário, pela mão-de-obra. Mas, sem fila. Não existe fila.
(OLIVEIRA)
Sobre a condução do Programa, Washington Oliveira se refere à
importância da checagem da informação que “tem que ser sempre bem feita”.
O ex-cinegrafista da Prefeitura, Adasnivon Divino28, foi entrevistado em
11 de setembro de 2006. Para ele, a Emissora foi “irresponsável” e cometeu
um “ato impensado” ao colocar aquele conteúdo, daquela forma, no ar: “Acho
até que eles foram irresponsáveis com a colocação da matéria no ar, eles
deveriam ter observado melhor, tipo a pauta, tudo, porque a realidade da
cidade não condizia com o que o Globo Repórter colocou na matéria...”.
(DIVINO).
Em sua entrevista, o ex-cinegrafista da Prefeitura destaca o papel da
Prefeitura e as ações empreendidas na tentativa de minimizar os transtornos
com a chegada de um grande número de migrantes na cidade. Além dos
gastos com as passagens e das locações de ônibus, a Prefeitura arcou com
inúmeras outras despesas, descritas por ele:
[...] a Prefeitura teve que se desdobrar para poder fornecer refeições
para todas aquelas pessoas, que tinham muitas crianças e gente que
veio mulher, mãe, filho, pai, irmão. Veio toda a família buscar uma
oportunidade que não era a real. E, teve todo aquele trabalho para
acomodar as pessoas, teve que comprar colchões, cobertores, tudo,
porque era uma época que o clima não estava tão calor, então foi
meio que uma correria... (DIVINO)
28
A entrevista na íntegra faz parte do Apêndice dessa dissertação.
9.4. O caos no Terminal Rodoviário
Com a chegada dos migrantes a Rio Verde, um dos locais que mais
registrou o desembarque dessas pessoas, que viajaram de ônibus, foi o
Terminal Rodoviário do Município. Para melhor esclarecer o caos em que a
rodoviária ficou por dias seguidos após a exibição do Globo Repórter, foi
realizada uma entrevista com o responsável pelo local, João Roberto Neves29,
no dia 17 de outubro de 2006.
O administrador do Terminal recorda-se da chegada de pessoas vindas
de várias localidades do País, sendo que muitos vendiam o que tinham para
tentar a sorte em Rio Verde. Se tinha emprego aqui, à época, João Roberto
tem a resposta:
Tinha emprego aqui? Tinha, mas a qualificação da mão-de-obra era
grande. E isso gerou um tumulto porque, ônibus que sai daqui,
conexão de passagens, pessoas que vinham e pegavam até quatro
a cinco ônibus para chegar até Rio Verde e que chegaram aqui
querendo que nós os devolvêssemos (sic) ao local de origem sendo
que nós não tínhamos como embarcar uma pessoa daqui para Bahia
e lá pegar outro carro para outro lugar. Então o deslocamento foi
muito transtorno, muito trabalho pra gente. (NEVES)
De acordo com Neves, a média de pessoas que embarcam e
desembarcam em Rio Verde fica entre 200 e 300 pessoas por dia, sendo que
nos feriados essa média sobe para 400 pessoas. Depois da veiculação do
Globo Repórter, o administrador da rodoviária informa que entre quatro a cinco
mil pessoas desembarcaram no terminal, sem somar a esse total os que
vieram de carona e de carro, que representariam cerca de 40 mil pessoas,
segundo Neves.
A movimentação já era grande no domingo, dia 08 de fevereiro de 2004.
Nesse dia, conforme declarou Neves, já foi feito o fretamento de alguns ônibus
para já, no momento do desembarque dos migrantes, ser feito o embarque
deles para o local de origem.
29
Entrevista que está na íntegra no Apêndice.
Rio Verde não estava preparado para isso. Então eu tinha
informação e eu ficava em comunicação nas empresas, São Paulo,
Uberlândia, Goiânia, Brasília, para saber como estava o movimento
vindo e então eles me informavam, “Roberto, está saindo gente sem
parar, tudo atrás de emprego”. São Paulo mesmo, a Nacional me
ligou que estavam descendo três ônibus lotados de gente. Eu falei
não embarca e eles disseram que não tinha jeito porque as pessoas
já tinham comprado passagens. Então o que é que nós fizemos:
contratamos um ônibus, fretamos um ônibus e já deixamos à
disposição e já chegava e já fazia a lotação e mandava de volta.
(NEVES, Apêndice)
O fretamento dos ônibus, fato assegurado por Neves, foi feito a pedido
do Prefeito de Rio Verde. Ele não poupa críticas à Emissora e em seu
depoimento ele atribui a vinda dos migrantes à informação passada ao público
de forma errada pela Rede Globo, que teria mencionado sobre os empregos,
esquecendo-se de tratar das dificuldades, do acesso ao trabalho, da
necessidade de uma mão-de-obra qualificada.
Os salários praticados à época, em Rio Verde, são relembrados por
Neves, que atesta que o Município tinha muita oferta de emprego com
vencimentos de um salário mínimo até três salários. Acima disso, os salários
altos eram para poucos postos de trabalho que exigiam uma mão-de-obra
bastante qualificada. Ou seja, o sonho dos altos salários, que moveu muitos a
abandonarem o que tinham em suas cidades, era para poucos.
A
culpa
imputada
à
Prefeitura
também
foi
mencionada
pelo
administrador do terminal: “As pessoas chegavam, ficavam bravas, diziam que
a Prefeitura era a culpada, que a gente colocou aquilo para poder chamar a
atenção e não foi nada disso.” (NEVES)
Mesmo criticando a Emissora, Neves faz uma indagação que merece
uma reflexão profunda e que não será alvo de nosso estudo pelo recorte que
selecionamos: “Como uma pessoa vai se deslocar só com o dinheiro da
passagem para Rio Verde para procurar emprego?”, pergunta ele. Esse
deslocamento pode ser explicado pelas condições da geração de emprego e
renda no Brasil, naquele momento, marcada pelo desemprego nos grandes
centros urbanos e em determinadas regiões do País.
De acordo com ele, a estrutura da rodoviária não era adequada para
acolher tantas pessoas de uma só vez.
Aquele tumulto de gente e a rodoviária não tinha estrutura para
suportar aquelas pessoas, aquelas bagagens que chegavam, o
guarda-volumes era pequeno, então nós passamos aqui, eu chegava
quatro horas da manhã e tinha dia que saía daqui à meia-noite,
atendendo o pessoal na medida do possível. (NEVES, Apêndice)
A história do Terminal Rodoviário de Rio Verde jamais viveu um caos
semelhante ao gerado pela invasão de migrantes naquele período. Mesmo com
o caos, o administrador da rodoviária disse conhecer pessoas que vieram
naquela época e que se mantém trabalhando na cidade até hoje. Quando
perguntamos, informalmente, se poderia nos indicar alguma dessas pessoas
para entrevistarmos, Neves não soube fornecer os contatos, limitando-se a
responder que apenas encontra com essas pessoas “pelas ruas”.
PARTE III
COMUNICAÇÃO PÚBLICA, MIDIÁTICA E POLÍTICA
10. ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO
Para entender um pouco a linha tênue que separa a questão da
comunicação entre as esferas pública e privada e clarificar parte dos exemplos,
precisamos antes voltar a acepção do termo democracia. Ferrari (2000, p. 164),
com base na concepção da democracia liberal, sem confundi-la com o
liberalismo econômico, e tendo como inspiração autores como Norberto
Bobbio, Renato Treves, Carlo Rosselli e Guido Calogero, defende a
democracia como um regime político que se fundamenta:
a) na liberdade dos cidadãos em contraste com às interferências
do poder [...]; b) na igualdade dos cidadãos perante a lei; c) na
possibilidade concreta de que os próprios cidadãos se realizem
tanto na vida privada quanto na vida social, em condições de
igualdade, ao menos nos pontos de partida; d) na possibilidade
concreta de os cidadãos participarem direta ou indiretamente do
governo da coisa pública.
Isso se faz necessário em razão de ser a democracia o ponto de
referência para a divisão dessas esferas e das relações que se estabelecem
entre elas. A democracia é diferente dos regimes totalitários justamente porque
se espera que ela permita a liberdade de informação, excluindo o controle e a
limitação da informação aos cidadãos.
Nesta dissertação, a Prefeitura de Rio Verde representa a esfera pública
e o Programa Globo Repórter a privada, ambas caracterizadas pelo perfil de
fonte de informação que representam.
Em uma perspectiva democrática, Ferrari (2000) defende que a televisão
é, dentre as fontes informativas, a mais influente. Daí a necessidade de mantêla longe da monopolização, uma vez que a mesma pode induzir a uma
recepção puramente passiva da mensagem graças a força da imagem.
O autor chama a atenção ainda para os perigos tanto do monopólio das
fontes informativas públicas quanto das privadas. Para ele, assim se
estabelece a relação entre os interesses públicos e privados:
A gestão dos interesses “privados”, sobretudo no campo
econômico, tem contínuos e imediatos reflexos “públicos”, ainda
que os atores econômicos privados não ocupem – como em geral
não ocupam, porque não há necessidade – funções públicas. O
exercício dos poderes “públicos”, ao invés, incide diariamente nas
posições os interesses “privados”, não somente aqueles direitos
dos titulares de tais poderes, como também, e sobretudo, aqueles
de multidão de cidadãos, sejam eles favoráveis ou contrários aos
governantes.
Cabe ressaltar que o equilíbrio no acesso às informações pelos cidadãos
se dá justamente porque existem essas duas esferas em meio às fontes
informativas. Seria ainda mais prejudicial à nossa sociedade se apenas uma
dessas fontes prevalecesse sobre a outra, sendo que a multiplicação das
fontes de informação é fator inerente à própria democracia que vivemos.
Acredito que as esferas pública e privada possam conviver no setor da
informação, sendo uma o contrapeso e o controle crítico da outra. Só assim
veremos o crescimento das formas e práticas de comunicação pública e
privada em prol da sociedade democrática. Muito ainda há de se avançar para
que esse equilíbrio seja encontrado.
Na prática, a confusão maior se estabelece porque a comunicação
pública, de certa maneira, não tem cumprido o seu papel, de “dar espaço
àquelas vozes que, destituídas de força econômica, não têm esperança de
aceder às fontes privadas”. (Ferrari, 2000, p.172).
Na história da comunicação pública brasileira, ainda vemos essa fonte
informativa se confundir com a comunicação política, que visa a promoção
pessoal de um político ou líder partidário. Nessa fusão, a prestação de serviços
públicos ao cidadão fica prejudicada e uma instituição que por ser pública
deveria ser democrática acaba, por vezes, igualando-se à fonte de informação
privada que, por natureza, não tem nada de democrática, uma vez que tem
interesses econômicos particulares. Instala-se aí, a semente do desencontro
entre essas duas esferas e suas formas de comunicação, que nasce nos
interesses particulares de cada uma.
10.1 A manipulação informativa
Tendo por base a visão expressa anteriormente e algumas distorções
que acontecem nessas duas esferas informativas (pública e privada), podemos
recorrer a Abramo (2003) quando trata da manipulação30 da realidade pela
imprensa e estabelece certos padrões para que esse processo ocorra.
São quatro padrões de manipulação estabelecidos pelo autor (padrão de
ocultação; padrão de fragmentação; padrão de inversão e padrão global), os
quais merecem ser destacados por julgarmos pontuar diretamente o programa
Globo Repórter sobre a geração de emprego e renda em Rio Verde e a
comunicação pública do Município.
Enquanto
Bobbio
(2000)
relaciona
a
manipulação
informativa
basicamente à supressão de informação como um dos critérios para que a
mesma se concretize, Abramo faz referência a esse termo como padrão de
ocultação. Devemos ressaltar que os padrões de manipulação podem e são
utilizados pelos meios de comunicação e pelo poder público. No caso em
questão, pela televisão e também pela assessoria de imprensa da Prefeitura de
Rio Verde.
Vamos nos ater, em nossas análises, ao padrão de inversão e o de
ocultação porque acreditamos que eles possam nos auxiliar na compreensão
da postura da produção do Programa que, ao ser procurada pela Assessoria
para o repasse de alguns dados relevantes sobre a questão do emprego e
renda em Rio Verde, respondeu aos jornalistas da Prefeitura que a “versão
oficial” dos fatos não interessava.
Pelo padrão de inversão temos que:
30
O conceito de manipulação, conforme Bobbio (at al, 2004, p.727-729) estabelece, refere-se
ao manipulador tratando o manipulado como se fosse uma coisa (manejando, dirigindo,
moldando crenças e comportamentos), sem contar com o consentimento ou com a vontade
consciente do último. O manipulado, por sua vez, ignora ser objeto de manipulação,
acreditando adotar um comportamento que ele mesmo escolheu, quando, na realidade, essa
escolha foi guiada (de modo oculto) pelo manipulador. O autor trata da manipulação da
informação (manipulação informativa), dando como exemplo mais simples a mentira. Outra
técnica, segundo Bobbio, é a supressão da informação: “De per si, a supressão da informação
não envolve a mentira: simplesmente não se publicam determinadas notícias, interpretações ou
apreciações”.
Fragmentado o fato em aspectos particulares, todos eles
31
descontextualizados , intervém o padrão da inversão, que opera o
reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância
dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue,
assim, com a destruição da realidade original e a criação artificial
de outra realidade. (ABRAMO, 2003, p.27)
Diante do Globo Repórter, acreditamos que o material que foi levado ao
ar passou pelo processo de inversão, com destaque para duas das formas de
inversão: da relevância dos aspectos e da forma pelo conteúdo. Ou seja, no
Programa que foi exibido em rede nacional para milhares de telespectadores, o
reordenamento das partes e a troca de lugares e de importância aconteceu.
Mais valia a versão que o fato.
A primeira forma ocorre quando o secundário é apresentado como
principal e o caráter adjetivo se sobrepõe sobre o substantivo. Nesse formato,
recebe destaque o detalhe, o pitoresco (podemos relembrar aqui da fila de
empresários em busca de emprego no Sine de Rio Verde), enquanto o
essencial (entendemos que deveria ter sido enfatizado em todo o Programa os
tópicos sobre a qualificação do trabalhador e os verdadeiros níveis salariais da
época) fica em segundo plano. Como o essencial não foi enfatizado, criou-se
uma falsa expectativa nos telespectadores, a de que em Rio Verde além do
emprego ser farto e para todos, sem distinção, a remuneração era acima da
média.
A segunda forma de inversão que merece destaque é a da forma pelo
conteúdo. Por ser a televisão um meio de comunicação que já é
automaticamente beneficiada pela força das imagens, o Programa se utilizou
de artifícios retóricos, com o texto cheio de metáforas e exageros obtendo
maior importância que o fato que ele reproduz. Tem-se a palavra, a frase de
efeito, no lugar da informação. De acordo com Abramo (2003, p. 29): “[...]o
tempo e o espaço da matéria predominando sobre a clareza da explicação; o
visual harmônico sobre a veracidade ou fidelidade; o ficcional espetaculoso
sobre a realidade”. Observamos que, mais uma vez a notícia como espetáculo
aparece.
31
Segundo Abramo (2003) é uma decorrência da seleção de aspectos.
Ainda sobre o padrão da inversão, podemos fazer uma alusão às
práticas comuns às assessorias de imprensa de instituições públicas. Uma das
formas de inversão é chamada de inversão da versão pelo fato, onde um dos
exemplos extremos é o oficialismo – expressão de Abramo para indicar fonte
oficial. É notório que muitos órgãos responsáveis pela comunicação pública
utilizam-se de versões oficiais em substituição dos fatos. A versão que vale é a
da autoridade, que pode ser a do Presidente da República ou a de um Prefeito,
propagada pela assessoria de imprensa. Essa versão, como coloca Abramo
(2003, p.31), sempre vale mais do que as versões das autoridades subalternas
[...], sempre infinitamente mais do que a realidade. Assim, o oficialismo se
transforma em autoritarismo”.
Ao observarmos o padrão de manipulação de inversão do fato pela
versão, podemos inferir que a prática atual de algumas assessorias de
imprensa de administrações públicas, que produzem versões ditadas pela
autoridade, é a grande responsável pelo descrédito que esses órgãos
passaram a ter junto aos meios de comunicação e até mesmo perante a
sociedade. Os órgãos de imprensa do poder público acabaram adquirindo certa
fama de órgãos do oficialismo, perdendo a credibilidade na sugestão de temas
relevantes ao debate social e mesmo como fonte de dados e de informação.
Essa constatação pode ser confirmada com a recusa da produção do
Globo Repórter em não querer “ouvir” a assessoria de imprensa sobre a
questão da empregabilidade em Rio Verde, temendo ter como retorno apenas
a versão oficial.
É certo que, mesmo com a “fama” que as assessorias ficaram, o papel
do produtor televisivo seria o de receber os dados que a mesma se dispôs a
passar, checando, assim como em qualquer outro trabalho jornalístico, as
informações. Outro fator que pode ter contribuído para a recusa em observar o
lado que a assessoria tentava mostrar é o medo de que aquele órgão de
imprensa pudesse estar tentando fazer uso do espaço do Programa para ações
e prática da promoção pessoal do Prefeito, como não é incomum vermos
acontecer.
De qualquer maneira, fica claro que o pré-julgamento feito pela produção
do Globo Repórter acabou influenciando no resultado final do material, que
levou ao ar a milhares de telespectadores em todo o País, uma versão não
“oficial” como era o desejo da emissora, mas uma versão “global” (termo
referente a Rede Globo) sobre o assunto abordado.
Temos então, no padrão de manipulação de inversão, um ponto comum
nas práticas da comunicação pública e da mídia. Outro padrão de manipulação
que queremos destacar, por ser comum a esses dois tipos de comunicação, é
o de ocultação.
Abramo (2003) o descreve como sendo um padrão que começa nos
antecedentes, na parte preliminar da busca pela informação, quando se decide
pela pauta. Nesse processo, o autor coloca que muitas vezes manipula-se a
realidade quando, na tomada de decisão, selecionam-se quais fatos são ou
não jornalísticos ou excluem-se fatos reais: “E o fato presente na produção
jornalística, real ou ficcional, passa a tomar o lugar do fato real e compor,
assim, uma realidade diferente da real, artificial, criada pela imprensa.”
(ABRAMO, 2003, p.26). Para o autor, “o padrão de ocultação se refere à
ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa”.
Em sua classificação dos padrões de manipulação, Abramo faz
referência à Imprensa. Mesmo o contexto sendo outro, podemos transpor a
adoção desses padrões por uma assessoria de imprensa. A ocultação de
informações faz parte da rotina de muitas assessorias de imprensa,
transformando-se em uma das formas de manipulação da realidade, sempre
com o objetivo de divulgar apenas as informações de interesse do
assessorado. É claro que nem tudo é manipulado e nem todas as assessorias
agem assim, mas que ocorre, sem dúvida, no caso exemplar da comunicação
pública de Rio Verde, às vezes, essa forma de manipulação.
Para Abramo (2003), esse padrão é decisivo e definitivo na manipulação
da realidade, sendo que a inclusão, exclusão ou omissão de um fato ou
informações em uma produção jornalística passa por uma tomada de decisão
que ocorre nesse processo de produção. Dependendo da escolha que se faz,
entre um fato real ou uma versão, por exemplo, pode acontecer da versão ou
do fato ficcional ocupar o lugar do fato real, compondo e criando assim uma
realidade diferente da real, sendo ela artificial, fabricada.
O padrão de ocultação adota instrumentos para ocultar e instruir,
comumente, para manipular a realidade que se pretende mostrar, fabricando
então, uma nova realidade. A ocultação do real serve a interesses que são
traçados e definidos ainda no momento preliminar da busca da informação e
que prossegue nas etapas de produção, planejamento e finalização do produto
jornalístico.
É importante apontar que esses dois padrões de manipulação são
comuns não só à comunicação midiática, conforme vimos neste capítulo, mas à
comunicação governamental. Assim, ao tomarmos a assessoria de imprensa
como uma das temáticas desse trabalho, é preciso, também, conhecê-la
melhor, assim como o campo da comunicação e da política. Temos, então, no
padrão de manipulação de inversão e de ocultação, pontos em comum nas
práticas da comunicação pública e midiática.
11. COMUNICAÇÃO E POLÍTICA
A visão negativa que as pessoas possuem sobre as assessorias de
administrações públicas tem sua origem, também, nas práticas políticas. Em
nossa sociedade, sabemos que essas práticas, muitas vezes misturadas à
corrupção e ao jogo de interesses e de poder, conferem desconfiança ao
campo32 político. Por essas razões e com a ajuda da mídia, o cidadão colocou
a política brasileira na berlinda.
A definição desse campo político, no sentido em que Bourdieu (apud
Miguel, 2002, p.166) recorre a esta expressão, é:
o lugar em que se geram , na concorrência entre os agentes que
nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas,
programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos,
entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de
‘consumidores’, devem escolher.
Cabe a ressalva que para Bourdieu, a mídia está inclusa dentro do
campo político, sendo que nesta dissertação, o pensamento vai ao encontro do
disposto por Miguel (2003), em que mídia e política formam “dois campos
diferentes, guardam certo grau de autonomia e a influência de um sobre o outro
não é absoluta nem livre de resistências”, assim como ocorre em um processo
de mão dupla.
Da forma como isto está colocado em nossa sociedade, a mídia, cada
vez mais, é a detentora de um poder de constituição de uma visibilidade que se
tornou condição essencial para a geração de capital político. Em Miguel “o
capital político é uma forma de capital simbólico, isto é, dependente do
reconhecimento fornecido pelos próprios pares”. É claro, também, que mesmo
tendo o poder de conferir visibilidade, a mídia se torna refém da esfera
econômica que age sobre os meios de comunicação, apresentando, então,
uma autonomia consentida, em muitos casos, pelo anunciante – onde
aparecem fortemente os poderes públicos (municipais, estaduais e federal),
notadamente grandes clientes nos âmbitos nacional, regional e local.
32
Com base em Bordieu, campo seria “um universo obedecendo a suas próprias leis”. (apud
Miguel, 2002, p.166).
Muitas vezes, a batalha que se trava entre as esferas pública e privada,
tomadas aqui como fontes informativas, começa com o conflito de interesses
entre o campo da política e da comunicação, em que os meios de comunicação
se colocam como porta-vozes “imparciais” do debate político e os políticos
lutam pela conquista de capital político.
Esse desejo de conquista de capital político, que resulta em
reconhecimento social do político e prestígio, tem na mídia, possivelmente, seu
maior aliado. Os representantes políticos, eleitos pelo voto do povo em nossa
organização democrática, sabiamente tentam utilizar a estrutura administrativa
para o fortalecimento e a construção da imagem que desejam. Algumas
práticas são comuns a essa esfera, sempre na tentativa de obter êxito nesse
tipo de ação.
E em meio a esses interesses particulares, como fica o papel das
assessorias de imprensa governamentais? A função dessas assessorias é
contribuir para que a sociedade tenha acesso às informações e aos serviços
públicos de seu interesse.
Para Eid (2003, p. 1) as duas principais tarefas são: “apurar e distribuir
informações de interesse público, normalmente não cobertas pelos veículos de
comunicação” e “ disponibilizar notícias à parcela da mídia que não tem amplo
acesso às fontes”. O autor destaca o que já foi reforçado neste trabalho, ou
seja:
Assessoria de imprensa não é mera ferramenta de promoção do
prefeito, do governador, do presidente da República, ministros,
secretários de Estado ou de dirigentes e executivos de empresas
estatais. É um serviço do Estado e da sociedade, que também
atende aos gabinetes. (EID, 2003, p.1)
Nesse âmbito é preciso deixar de lado as práticas que priorizam e
privilegiam a promoção pessoal e é necessário voltar-se a um trabalho de
assessoria que possa fornecer à imprensa informações com conteúdo útil, real
e desejado pela sociedade ou por segmentos organizados. Está justamente
nesse ponto chave o desafio das assessorias, que precisam passar,
obrigatoriamente, a transmissão clara desse papel ao político ou dirigente
estatal.
O assessor deve deixar claro que a imagem da autoridade pode ser
fortalecida ou construída positivamente no conjunto do trabalho jornalístico
voltado à prestação de serviços públicos ao cidadão. Ou seja, essa imagem
pode estar relacionada aos resultados obtidos com ações eficazes, com
transparência na administração pública, no atendimento rápido à imprensa, na
implementação de programas e projetos sociais, na boa gestão dos recursos
públicos e demais ações que desejavelmente devem ser executadas por uma
administração municipal, por exemplo.
Só assim a assessoria de imprensa governamental será vista com outros
olhos, adquirindo o posto de fonte confiável e fidedigna para a mídia. O
personalismo, a figura do “prefeito forte” e da promoção pessoal apenas
contribui para dificultar o trabalho de uma assessoria, que acaba sendo o órgão
distribuidor de versões oficiais, releases insólitos e vazios, reduto para a
produção de versões, criando assim a desconfiança e o desinteresse da
Imprensa sobre o trabalho que muitas assessorias de imprensa desenvolvem.
Matos (in Oliveira, 2004, p. 118) trata a comunicação pública como uma
modalidade de comunicação política, uma vez que a “natureza dessa
comunicação busca, no limite, a legitimidade e a representação do poder
estatal no sistema político, podemos considerá-la política, como a comunicação
entre partidos, candidatos, eleitores e mídia”. O termo comunicação pública é
genérico e usado não apenas para referir-se à ação de tornar público um fato
ou notícia, princípio de toda forma de comunicação. Para alguns autores, a
exemplo de Matos, a comunicação pública é termo sinônimo da comunicação
governamental.
Percebe-se aqui neste ponto, com a definição estabelecida por
Matos, mais uma brecha para a confusão, fusão e mistura entre a comunicação
pública e a política, onde fica difícil perceber os limites de cada uma. Zemor
(apud Matos in Oliveira, 2004) estabelece cinco categorias para a comunicação
pública, tendo todas a informação como objetivo: a obrigação que as
instituições públicas têm de informar o público; o estabelecimento de uma
relação de diálogo na prestação de serviços públicos; promover a atuação
administrativa; desenvolver o trabalho de comunicação interna e externa
visando promover a instituição pública e divulgar ações de interesse geral.
Matos (2004), com base nessas categorias, acredita que a comunicação
pública seja construída como uma estratégia, ditada pelo cenário do mercado
político e estatal, levada em conta no planejamento e na tomada de decisão do
governo. Isso porque, para ela a comunicação pública não é e não pode ser
dissociada do mercado (econômico), pois seria uma utopia acreditar nesta
separação. Nessa perspectiva, temos dois mercados que se interagem e que
se influenciam mutuamente: o político e o econômico.
É válido destacar aqui que esta separação é praticamente impossível de
acontecer, mas cabe ao Estado enquanto agente no processo de comunicação
pública saber equilibrar na balança os anseios e a prestação de serviços ao
cidadão e de outro lado a lógica do mercado, para não correr o risco de
atender, com sua forma de comunicação, mais os grandes grupos econômicos
que a sociedade.
Para os assessores de imprensa, o desafio de realizar uma comunicação
pública voltada à sociedade passa pela franqueza do assessor com o
assessorado, pela ética e pela busca, incansável, de uma prestação de
serviços públicos de qualidade, destinada aos cidadãos e fortalecedora da
sociedade democrática. Mas, sabemos que o alcance desses objetivos é
permeado por obstáculos, característicos do serviço público, da política e da
própria comunicação.
11.1 A verdade, a mentira e o segredo na política
Na política, a mentira, o segredo, a ocultação e a informação se
misturam com a realidade. O poder público, por vezes, fabrica segredos e
mentiras com a intenção de impor a “versão oficial” aos fatos. O ocultamento
também é prática comum nessa esfera, como apontou Bobbio (2000, p. 115):
“[...] o ocultamento é fenômeno comum a todas as formas de comunicação
pública”.
O autor afirma que mesmo o Estado mais democrático tutela uma esfera
privada ou secreta dos cidadãos, onde o segredo aflora. E não estamos
falando aqui do clássico segredo de Estado, que possui informações
estratégicas que não podem ser compartilhadas com os cidadãos para a
própria segurança deles, mas dos segredos inerentes às articulações políticas.
O segredo coloca na berlinda as práticas democráticas, uma vez que a
premissa da democracia de governo público em público não combina com
qualquer forma de ocultação. Mas Bobbio (2000) esclarece que são justamente
os escândalos33 envolvendo pessoas da administração pública que fazem com
que ações de corrupção e quaisquer outros atos ilícitos sejam desenvolvidos
em segredo. Ou seja, onde existe a verdade não há necessidade do segredo e
da mentira.
Para Hannah Arendt (2005) a “verdade fatual”34 (verdade de fato) é
aquela que se ocupa dos fatos e acontecimentos e que se constitui na
verdadeira textura do domínio político, sendo o resultado da convivência e ação
de homens. A autora considera escassas as chances de sobrevivência da
verdade de fato em meio ao assédio do poder, pois fatos e eventos são frágeis
diante do mesmo e não há apenas uma pequena probabilidade de que um fato
de importância, esquecido ou dissimulado pela mentira seja um dia descoberto.
Arendt trata as relações entre a verdade e a política como conflituosas,
em que as características do ser humano colocam a verdade frente à verdade
racional de cada um, que expõe o fato à mentira ou ao que a autora chama de
falsidade deliberada. A verdade racional é inflada pela opinião, a qual todos os
humanos são suscetíveis, e não pela verdade de fato. Isso seria o
deslocamento da verdade de fato para a opinião.
O segredo também é uma das ameaças à verdade de fato: “os segredos
de Estado sempre existiram; todo governo precisa classificar determinadas
33
Bobbio (2000, p.105) conceitua o que vem a ser escândalo público ou o que o suscita: “O
momento que nasce o escândalo é o momento em que se torna público um ato ou uma série
de atos até então mantidos em segredo ou ocultos, na medida em que não poderiam ser
tornados públicos pois, caso o fossem, aquele ato ou aquela série de atos não poderiam ser
concretizados”.
34
“[...] concerne aos acontecimentos e às circunstâncias nos quais muitos estão engajados; ela
é estabelecida por testemunhos e repousa sobre testemunhos; ela existe somente na medida
em que se fale dela, mesmo se isso se passa em privado. Ela é política por
natureza”.(ARENDT apud ALMINO, 1986, p.32).
informações, subtraí-las da percepção pública”. (ARENDT, 2005, p. 293).
Quem ousa revelar segredos autênticos é tido como traidor. Assim, a mentira
nunca ocupou tanto espaço quanto na política:
A mentira às vezes é encarada com tal naturalidade na política
quando se imaginam propósitos mais elevados que a justificariam
(quando se age por motivos que se consideram de interesse
nacional, social, de segurança, etc), que se é tentado a ver a
política como a arte de mentir”. (ALMINO, 1986, p. 14)
Almino (1986) refere-se à mentira como uma falsificação consciente e
uma distorção da verdade de fato. A mentira “é uma forma de segredo e viceversa, pois ela, como o segredo, implica ocultação de uma verdade de fato”,
num sentido empregado por Arendt e que é o ponto de partida do trabalho de
Almino, O Segredo e a Informação.
O autor aponta que entre os segredos e as mentiras conscientemente
elaborados na política, existem os que se constituem pela força que o Estado
emprega contra a publicidade do privado, com versões oficiais dos
acontecimentos, e os que são fabricados pela elaboração como atos livres de
cada um. Mas Almino não acredita em nenhuma causa nobre definida de
maneira técnica pelo Estado que possa legitimar o segredo. Ou seja, que não
existiria espaço para segredos legítimos na perspectiva democrática.
Em meio à mentira e ao segredo, como ficaria a informação na
comunicação pública e na política? Sabe-se que os governos possuem
estruturas e mecanismos próprios para informar os cidadãos e que, muitas
vezes, essa informação, para que seja consolidada como verdade e contribua
para o fortalecimento da imagem do poder público, deve passar pelos meios de
comunicação:
Os meios de comunicação desempenham um papel fundamental
não só na transmissão do saber informacional ou na imagem do
poder, mas também podem ser instrumento tanto de consolidação
das relações de poder quanto da desmistificação do poder.
(ALMINO, 1986, p.26)
O autor observa ainda, que a informação e o poder nutrem uma relação
íntima, que “se refere não mais à informação como poder, mas ao caráter
informacional do poder”, em que o poder é a própria informação, em suas
diferentes versões, sobre ele mesmo.
Deve-se ter em mente que a informação não pode ser pensada fora de
um contexto social ou de uma organização, uma vez que ela depende da
relação, como já mencionamos antes neste trabalho, entre o emissor e o
receptor. Assim, o uso que se faz da informação, tanto na esfera pública
quanto na privada, depende das relações estabelecidas entre o emissor e o
receptor e dos objetivos que o emissor pretende com a informação em meio a
uma mensagem que transmite. Essa informação está sujeita às interpretações
e às versões. É justamente nesse flanco que entram a mentira e o segredo. Os
fins estabelecem o modo como a informação será usada. É na relação entre
que o emissor e o receptor que pode se dar a atribuição de significado,
qualidade, valor ou mesmo alcance à informação.
A prática política atual tem no domínio da informação, seja pela
ocultação ou pela inversão, condição indispensável para a sobrevivência e
manutenção do poder. Por isso, nota-se que o poder público e os membros da
política perpetuam essa prática, afastando-se da verdade de fato, preferindo as
versões e opiniões para dirigir a informação.
O antagonismo entre verdade e política aparece desde Platão, passando
por Hobbes e se instala nos estudos mais contemporâneos e da atualidade,
justamente por ser essencial à percepção das relações entre comunicação e
política e do uso que a comunicação pública faz da informação. A questão da
visibilidade está diretamente ligada à imagem do poder público e a
comunicação pública tem servido a esse interesse, o de formar a imagem que
os detentores do poder querem passar aos cidadãos.
Em Rio Verde, no final da década de 80, ainda podemos perceber na
legislação a importância que a visibilidade representava para o Prefeito na
conquista do capital político e como se configurava o uso da máquina
administrativa com fins políticos.
12. A COMUNICAÇÃO NA LEGISLAÇÃO DE RIO VERDE
Tomando por base o primeiro mandato de Paulo Roberto Cunha, atual
prefeito de Rio Verde, temos a Lei no 2459, de 17 de março de 1989, que traz
um artigo espantoso sobre as atribuições da Secretaria de Comunicação, à
época denominada de Secretarias das Comunicações:
IV – desenvolver hábil sistema de comunicação social da ação
administrativa, visando criar na comunidade espírito de
participação solidária ao desempenho do Prefeito (LEI No 2459,
o
1989, art. 7 , grifos nossos).
Pela redação, observa-se a visão que se tinha, naquela época, das
competências de um departamento de comunicação pública/institucional, com
distorções das funções da Secretaria. Na administração que se seguiu, do
prefeito Osório Leão Santa Cruz, é sancionada a Lei no 2868, em 11 de janeiro
de 1993, mantendo a Secretaria das Comunicações com as mesmas
atribuições. Nesse período não se tem registro de nenhum jornalista que tenha
exercido a função de assessor de imprensa ou que tenha atuado na Secretaria
de Comunicação do Município.
Outras funções do departamento, estipuladas nesta Lei, eram:
planejamento, coordenação e execução de serviços de comunicação, relações
públicas e imprensa da Prefeitura; divulgação (publicidade) de projetos, obras e
da administração e instituição de programas regulares nos meios locais para as
ações de divulgação a que trata o item anterior.
No mandato da prefeita Nelci Spadoni (1996/2000), mais uma lei (no
3.460/97) foi editada modificando toda a composição da organização interna da
Prefeitura. Por esta Lei, deixou de existir a Secretaria das Comunicações,
ficando a administração das atribuições pertencentes a esta Secretaria à cargo
de Fernando Lobo, genro da prefeita. Mesmo não sendo secretário de
comunicação, todos os trabalhos e verbas eram gerenciados por ele, que
ocupou três secretarias, em diferentes momentos, naquele mandato. A prefeita
Nelci Spadoni, ainda naquele período, sancionou outras duas leis, a no
3.806/99 em 22 de abril e a no 3.823/99 em 30 de junho, reformulando a
organização administrativa da Prefeitura de Rio Verde.
Vemos claramente que o artigo apresentado distorce as funções e
responsabilidades
de
uma
secretaria
de
comunicação,
vinculando-a
expressamente à promoção pessoal.
Em 2001, quando assume novamente a Prefeitura, Paulo Roberto
Cunha cria uma nova estrutura organizacional para a administração. É
recriada, então, a Secretaria Municipal de Comunicação pela Lei no 4016, que
não trata das atribuições da pasta.
Com a recriação da Secretaria de Comunicação foi estruturada, pela
primeira vez, inclusive com sala própria, separada da Secretaria, a assessoria
de imprensa. Foi após essa recriação que a assessoria passou a contar com
uma autonomia maior, passando a responder diretamente ao Prefeito.
Em 2002, o prefeito em exercício Evânio Silva sanciona o Regimento
Interno Programático em 11 de abril, que trata dos sistemas e da estrutura
organizacional da Prefeitura, estabelecendo em cada um dos capítulos as
funções e atribuições das secretarias e órgãos da administração direta. Por
esse Regimento, em seu capítulo VII, as atribuições da Secretaria de
Comunicação foram redefinidas como sendo: responsável pelas relações
públicas da Prefeitura; pela promoção de pesquisa de opinião pública sobre o
desenvolvimento
e
“desempenho”
da
administração
municipal;
pela
administração dos meios de comunicação da Prefeitura; pela recepção das
autoridades que se dirijam ao Prefeito; pelo assessoramento nas questões de
comunicação; pela divulgação das potencialidades turísticas do Município; pelo
relacionamento com a mídia e pela organização e divulgação de eventos.
Se essas competências fossem desenvolvidas com sucesso, certamente
os canais de comunicação entre o poder público e os veículos de comunicação
se estabeleceriam de forma mais eficaz. No caso do programa Globo Repórter
que estudamos, a administração municipal não teve chance de contribuir no
processo de produção e filmagem do mesmo, o que, talvez, se tivesse ocorrido,
poderia ter traçado uma abordagem diferente ao Programa.
Há que se acreditar, também, que em virtude de práticas de
comunicação distorcidas pelo poder público em todos os âmbitos e pela
existência de leis absurdas, a comunicação pública ainda é vista com
desconfiança e como forma de promoção pessoal de políticos. Essa prática
distorcida e o uso da máquina administrativa com fins eleitoreiros, colocou a
comunicação pública na berlinda, que se tornou uma estrutura sem
credibilidade e apenas um produto de versões “oficiais” dos fatos.
Sabe-se que essa prática tem melhorado e que muitas administrações
tem procurado estruturar equipes técnicas para o gerenciamento da
comunicação pública, relegando ao passado as estruturas de trabalho
formadas apenas pelo critério do apadrinhamento político.
Nos dias atuais será difícil encontrar legislações sobre comunicação
pública que ainda tragam artigos com clara referência à promoção pessoal e
política dos administradores. Isso porque a legislação eleitoral e da
administração pública evoluiu bastante no País e, hoje, o uso da máquina
administrativa configura-se em crime.
Com relação a Rio Verde, a tentativa de mudar esse quadro é clara, pelo
menos no que tange à legislação da área que, depois de 1989, já evoluiu
bastante, apresentando avanços significativos com a aprovação de novas leis e
a revogação das arcaicas e distorcidas.
Um exemplo desta evolução pode ser constatado pelo Regimento
Interno Programático, que estabelece algumas ações e programas para cada
uma das secretarias que compõem a administração municipal. Para a
Secretaria de Comunicação, o Regimento estabelece em seu capítulo VII,
seção I, o Programa de Comunicação Social, que prevê: divulgação e
veiculação de ações governamentais; promoção de pesquisa de opinião
pública; comunicação de eventos e datas comemorativas; relações públicas;
divulgação de informações governamentais; coordenação de obras, instalações
e sistemas de TV; manutenção da torre de reprodução de imagens de TV;
elaboração e execução da agenda comunicativa; implementação da agenda
social municipal; desenvolvimento de programas e projetos; dentre outros.
Não pretendemos aqui, analisar a fundo como tem funcionado a
aplicação desse Regimento Interno, mas apenas indicar o que já se avançou
na área de Comunicação, com a evolução da própria legislação do Município. É
claro que, mesmo sem análises mais profundas, a nossa observação
participativa nos permite afirmar que o disposto nesse regimento é bastante
audacioso e que, talvez, pelo perfil de uma administração municipal, que, de
certa maneira, tem sua prática administrativa emperrada pela burocracia, seja
difícil implementá-lo na íntegra. A falta de pessoal estritamente técnico também
é fator que dificulta colocar em prática de todas as ações.
12. 1 Um pouco mais sobre Rio Verde
O Município possui quatro instituições de ensino superior – Universidade
de Rio Verde, Instituto de Ensino Superior de Rio Verde, Faculdade Almeida
Rodrigues e Centro Federal Tecnológico – que abrigam mais de 9 mil
estudantes universitários de toda a região.
O município de Rio Verde possui apenas uma emissora de TV com sede
local. É a TV Riviera, retransmissora da Rede Anhanguera de Televisão, de
Goiânia, afiliada da Rede Globo. Os jornais que circulam na região são, na
maioria, semanários, excetuando-se os únicos dois jornais diários do Estado,
Jornal O Popular e Diário da Manhã. Uma particularidade entre os semanários
é a falta de rigor na periodicidade de alguns que, às vezes deixam de circular
por um tempo e depois retornam às atividades. Como jornais semanais e
quinzenais que estão circulando neste ano de 2007, podemos citar: Jornal
Tribuna do Sudoeste, Jornal News, Jornal Folha de Rio Verde, Jornal O
Espaço e Gazeta do Sudoeste. Os semanários O Mercador e Jornal Folha da
Cidade, deixaram de circular no final do ano 2006.
Com relação às rádios, são quatro ao todo, sendo uma AM. São elas:
Rádio AM, Rádio 96 FM Caiapó, Rádio Morada do Sol FM e Rádio Interativa
FM. Há também uma rádio comunitária, que ilegalmente atua como rádio
concessionária FM, a Rádio Terra.
O próximo capítulo tratará da estrutura de Comunicação da Prefeitura de
Rio Verde, voltada especificamente à assessoria de imprensa, responsável
pelo relacionamento com a mídia local, listada anteriormente.
13 O ORGANOGRAMA – ONDE ESTÁ A ASSESSORIA?
A Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Rio Verde passou a
funcionar em 1989. A sua implantação veio com a reformulação da organização
administrativa da Prefeitura, quando foram reestruturadas as atribuições das
secretarias municipais, por meio da Lei 2459. Até hoje, a assessoria funciona
sem sua devida criação por lei ou decreto. Ou seja, existe de fato, mas não há
qualquer menção ao departamento na legislação municipal e, sequer, no
organograma da Prefeitura que é disponibilizado no site institucional da
Prefeitura de Rio Verde35.
Na prática, a assessoria de imprensa funciona vinculada à Secretaria da
Comunicação, sendo que se reporta também, diretamente ao Prefeito, só que o
departamento não aparece no organograma.
Percebe-se,
pelo
organograma,
o
peso
que
a
Secretaria
de
Comunicação possui na atual gestão municipal. A Secretaria integra o bloco
das que estão ligadas diretamente ao Prefeito Municipal, composto ainda pela
Secretaria de Governo e Relações Exteriores, Secretaria de Articulação Política
e Procuradoria Geral do Município.
No bloco em paralelo, também ligado ao Prefeito Municipal, aparecem
as Coordenadorias de Convênios e de Controle Interno e a Assessoria Especial
de Habitação. Logo abaixo, em um bloco integrado estão as secretarias da
Fazenda, de Planejamento e Administração e de Abastecimento e Compras. As
demais secretarias e outras estruturas municipais seguem em níveis abaixo
deste. Pelo próprio posicionamento de cada uma das secretarias municipais
nesse organograma, pode-se inferir o grau de importância de cada uma delas
na atual administração. Ou seja, a área de Comunicação situa-se no topo, com
atenção especial nas políticas de distribuição dos recursos do orçamento e do
próprio Prefeito.
A administração municipal é exercida, desde 2001, por Paulo Roberto
Cunha (PP). Reeleito em 2004, o prefeito está em seu terceiro mandato à
35
O site da Prefeitura é: www.rioverdegoias.com.br. O organograma da Prefeitura se encontra
em anexo.
frente da administração de Rio Verde. O primeiro mandato ocorreu de
1988/1991. Por esta razão, acreditamos que o Prefeito já deveria saber um
pouco mais sobre o poder da mídia e como tratá-la, o que poderia ter evitado
tantos transtornos ao Município com o episódio Globo Repórter.
13.1 Estrutura da Assessoria
A assessoria de imprensa ocupa uma sala dividida em quatro ambientes,
com cerca de 70 metros quadrados, localizada fora do prédio da Prefeitura. Até
o 1o semestre de 2006, a assessoria funcionava no mesmo prédio da
administração central da Prefeitura, onde fica o gabinete do Prefeito. Por
problemas com espaço para outras secretarias, foi necessária a mudança para
outro local, situado na área central da cidade, mas distante da sede do poder
público. O espaço antes ocupado pela Assessoria passou a ser ocupado por
departamentos da Secretaria de Obras.
A mudança da assessoria do prédio em que fica o Prefeito fez com que
a equipe passasse a se desdobrar, ainda mais, para ter acesso às informações
pertinentes às secretarias municipais e outras de relevância. Com esse
distanciamento físico entre a assessoria e a Prefeitura, sede do poder
executivo, algumas secretarias começaram a esquecer de encaminhar as
informações sobre seus eventos, dados atualizados de programas ou projetos,
prejudicando o devido acompanhamento pelo órgão de comunicação pública e,
às vezes, a cobertura de fatos importantes da administração municipal.
Atualmente a assessoria dispõe de seis computadores pentium, com
acesso à internet pelo sistema de banda larga, um scanner e uma impressora
jato de tinta, além de um aparelho de fax. Dois computadores estão equipados
com gravadora de CD e com programas específicos para gravação de rádio e
TV. É por meio desses programas que a assessoria executa o serviço de
clipping eletrônico, gravando os telejornais locais e os programas jornalísticos
das rádios, que depois são transcritos (apenas os trechos que tratam da
Prefeitura ou que sejam de interesse do poder público).
Ao todo são cinco jornalistas redatores; além de um jornalista,
exercendo o cargo de assessor comissionado e que ocupa a Direção de
Jornalismo; uma secretária; um fotógrafo e dois funcionários responsáveis
pelas transcrições e gravações de programas. Dos redatores, apenas uma não
possui formação superior e exerce a profissão com registro precário.
Todos os funcionários que compõem a Assessoria são nomeados por
Decreto do Prefeito e atuam em cargos comissionados. Apenas a secretária é
concursada e, portanto, é servidora efetiva da administração municipal. Para o
deslocamento dos jornalistas para a cobertura de matérias da cidade, há um
carro à disposição.
A estrutura de equipamentos que a Assessoria possui é suficiente para o
exercício de suas funções, permitindo que os redatores tenham boas condições
de trabalho. Atualmente, não é a estrutura que dificulta a atuação do
departamento, mas a distância física entre a Assessoria e a sede, onde fica o
Prefeito e seus principais secretários e assessores.
As notícias redigidas também são encaminhadas para os veículos de
comunicação cadastrados e para o mailling de contatos importantes na região,
em forma de release, além de serem inseridas na página da Prefeitura na
Internet.
No site foi criado um espaço para uma notícia destaque, sempre
acompanhada de uma foto. As outras notícias são postadas logo abaixo do
destaque, com referência de data e horário de sua inserção na página, como
vemos na Figura 07.
Figura 07 – Página da internet pertencente à Prefeitura de Rio Verde
Fonte: SITE DA PREFEITURA DE RIO VERDE. Disponível em: www.rioverdegoias.com.br.
Acesso em: 03/08/2006.
A Figura 07 nos mostra que o visual do site institucional tem nas
fotografias destaque o chamariz para o usuário e que há uma priorização das
notícias no lado direito da tela. A parte de cima permite o acesso às
informações e perfis das secretarias, além de dados como emprego, arquivos,
serviços on-line, Câmara Municipal, cidade, dentre outros.
O acesso ao site é grande, de pessoas não só de pessoas de Rio Verde,
mas de várias localidade do País. As informações são sempre atualizadas pela
equipe da assessoria de imprensa, o que confere a página uma rica fonte para
pesquisa de informações por parte de profissionais de diversos segmentos e
alunos de todos os níveis. O número de acessos à pagina da Prefeitura de Rio
Verde fica em torno de 320 mil por mês, sendo são originários de cerca de 100
mil acessantes. Essa página é, certamente, um dos grandes instrumentos de
divulgação das ações da administração municipal e de fundamental apoio para
a comunicação pública.
13. 2 Influências de teorias do jornalismo na assessoria de imprensa
Pelo que se observa nos artigos destacados anteriormente (art. 7o da Lei
no 2459 e arts. 35 e 36 do Regimento Interno Programático), as funções da
Secretaria de Comunicação e, conseqüentemente da assessoria de imprensa
da Prefeitura de Rio Verde, possuem estreita relação com o disposto na teoria
organizacional.
Apesar do objeto de estudo que resultou nesta teoria não ter sido
baseado na prática de uma assessoria de imprensa, podemos fazer uma
analogia, entre uma empresa privada de comunicação, na qual a estrutura
funcional atua em consonância com as diretrizes do comando empresarial, e a
comunicação pública que também obedece a uma hierarquia organizacional
que parte, sem dúvida, do chefe do executivo.
O jornalista sabe que seu trabalho vai passar por uma cadeia
organizacional em que seus superiores hierárquicos e os seus
assistentes têm certos poderes e meios de controle. O jornalista tem
que antecipar-se às expectativas dos seus superiores para evitar os
retoques dos seus textos (trabalho suplementar para a organização)
e as reprimendas – dois meios que fazem parte do sistema de
controle e que podem ter efeitos sobre a manutenção ou não do seu
lugar, a escolha das suas tarefas e a sua promoção – quer dizer,
nada menos do que a sua carreira profissional. (TRAQUINA, 2001,
p. 77/78)
Esses sentimentos e situações expressos por Traquina (2001) são
compartilhados com jornalistas que trabalham na assessoria de imprensa da
Prefeitura de Rio Verde. Existem as normas internas – que não estão em
nenhum manual, mas que são explicadas a todos quando contratados - sobre o
formato a ser dado na redação dos textos que saem do departamento.
Quando essas normas não são cumpridas, o resultado é a alteração do
texto produzido para deixá-lo com o perfil desejado, sempre vinculando as
realizações positivas da administração pública à figura do prefeito. Vemos aqui,
ainda, o ranço de uma forma de promoção pessoal da figura política. O dever
da administração municipal em prestar serviços públicos de qualidade aos
cidadãos, confunde-se com a personificação das realizações na figura do
“idealizador”, do “patrono”, do “tocador de obras”. Isso fica ainda mais evidente
nos municípios do interior.
O funcionamento da cadeia organizacional da Prefeitura estabelece que
a assessoria de imprensa responde diretamente ao Prefeito e, portanto, às
suas expectativas e, comumente, às interferências do Secretário de
Comunicação. O titular desta pasta é Alessandro Cabral que possui formação
educacional restrita ao ensino médio e não apresenta qualquer formação
técnica e profissional na área. Nos deparamos, aqui, com um exemplo real do
apadrinhamento político, onde a ocupação de alguns cargos e funções públicas
são feitos pelo critério político e não pela competência profissional.
Os jornalistas da assessoria são subordinados a um Diretor de
Jornalismo, cargo ocupado por um jornalista graduado pela Universidade
Federal de Goiás, com mais de 20 anos de profissão. É dele o crivo final sobre
os textos produzidos.
Assim como em empresas de comunicação privadas, as reprimendas ou
sanções influenciam os jornalistas de maneira silenciosa. Muitas vezes não são
feitas ameaças diretas aos funcionários, mas fica subentendido nas relações
da organização que o jornalista deve se adequar à sistemática administrativa e
política da Prefeitura, sob pena de ser exonerado do cargo, uma vez que não
há nenhum jornalista concursado. Os existentes exercem a função por
nomeação do Prefeito, que a faz por decreto.
Uma outra questão que merece reflexão é a existência da auto-censura.
Os jornalistas da assessoria se inibem de escrever o que gostariam, da forma e
com o enfoque desejados, representando a chamada “autonomia consentida”,
conforme opinião de James Curran (apud TRAQUINA, 2001, p.77). De acordo
com Curran, essa autonomia apenas é permitida quando o seu exercício
profissional estiver de acordo com as normas da organização. O jornalistaassessor tem que filtrar as informações, omitir questões negativas sobre a
Prefeitura e dar um enfoque ao gosto do que o prefeito gostaria de ver nos
meios de comunicação e que chegasse até a comunidade local.
Breed (apud TRAQUINA, 2001) estabelece alguns fatores que
contribuem para o conformismo do profissional e que podem explicar esse
comportamento dos jornalistas da assessoria de imprensa da Prefeitura de Rio
Verde: a autoridade institucional e as sanções, as aspirações de mobilidade, a
ausência de grupos de lealdade em conflito, o prazer da atividade, as notícias
como valor. Transpondo esses fatores à rotina estudada, pode-se detectar a
existência deles, algumas vezes de formas diferentes às que ocorrem nas
redações jornalísticas.
Os jornalistas que atuam em assessorias de imprensa de administrações
públicas sabem que, se trabalharem em conformidade com as regras da
organização, podem ter emprego garantido pelo período em que durar o
mandato eletivo do administrador, que de acordo com a legislação é de quatro
anos, com chances de elevação de nível salarial.
As variações salariais são estipuladas por lei municipal, que rege os
valores e o quantitativo dos cargos em comissão. Em Rio Verde, como não há
função específica de jornalista pela legislação municipal, a gratificação de cada
jornalista é definida pelo próprio Prefeito, sendo que os valores atuais estão
acima de R$ 1.250,00, com níveis diferenciados entre os integrantes da equipe.
Por essa razão, pode ser identificado assim, mais um fator descrito por
Breed, o dos sentimentos e obrigações para com os superiores. Tendo o
salário como recompensa, o mesmo se transforma em moeda de troca nas
relações entre os assessores e o Prefeito, contribuindo para o que o autor
chama de “aliciamento para o conformismo”. A possibilidade de ascensão
salarial e profissional na administração pública depende da simpatia do
Prefeito.
O funcionário público que exerce cargo em comissão passa por uma
peculiaridade típica do serviço público. Seus préstimos profissionais estão
vinculados ao mandato eletivo do administrador. É difícil a permanência de um
jornalista sem concurso de uma administração para a outra. Os cargos de
assessoria funcionam como cargos de confiança. Na prática, é como se um
jornalista que tivesse assessorado um determinado prefeito não pudesse
desempenhar a mesma função para outro, especialmente se ambos forem de
partidos opostos.
A assessoria de imprensa, além de ter estreita ligação com os preceitos
da teoria organizacional também sofre influências das teorias de ação política,
que possui duas versões, uma de direita e a outra de esquerda:
[...] na versão de esquerda, os mídia noticiosos são vistos como
instrumentos que ajudam a manter o sistema capitalista; na versão
de direita, servem como instrumentos que põem em causa o
capitalismo. Seja de esquerda ou de direita, estas teorias defendem
a posição de que as notícias são distorções sistemáticas que servem
aos interesses políticos de certos agentes sociais bem específicos,
que utilizam as notícias na projeção da sua visão de mundo, da
sociedade, etc. (TRAQUINA, 2001, p.81)
Nessa visão, a assessoria de imprensa pode ser pensada como
instrumento de manutenção do sistema administrativo vigente, que produz
notícias pertinentes ao poder público e ao município. Se retomarmos o artigo
da Lei no 2459/89, que diz que uma das atribuições da Secretaria de
Comunicação está em criar um “espírito de participação solidária ao
desempenho do Prefeito”, pode-se pensar as notícias produzidas pela
assessoria como distorções da realidade e que atendem aos interesses
específicos de determinados agentes políticos.
Os veículos de comunicação, enquanto reprodutores da versão
noticiada, funcionariam como instrumentos para colocação em voga dos
assuntos de interesse desses agentes. Esse papel exercido pelos veículos de
comunicação concentrados em Rio Verde, justifica-se pelas verbas comerciais
do poder público. Para Herman e Chomsky (apud TRAQUINA, 2001), alguns
fatores explicam a submissão do jornalismo ao capitalismo, dos quais
destacamos: a natureza capitalista das empresas (procura pelo lucro e a
importância
da
Publicidade);
dependência
dos
jornalistas
de
fontes
governamentais; ações punitivas dos que estão na esfera do poder público e a
estrutura de propriedade dos mídia.
A Prefeitura de Rio Verde é um grande anunciante local, em todos os
tipos de mídia, o que estabelece uma relação que envolve interesses mercantis
e interesses políticos, conforme observado por Rubim (2000, p.71) no processo
de produção midiatizada:
A lógica dos interesses mercantis e publicitários, do sistema
capitalista em geral e dos anunciantes; a lógica dos interesses de
Estado e de governos, mais presentes na mídia estatal; a lógica que
congrega os parâmetros de funcionamento e legitimidade do campo
midiático; a lógica dos interesses político-econômicos do veículo; a
lógica derivada das rotinas produtivas relativas às linguagens
gramaticais midiáticas; (...) e outras lógicas de produção, que se
introduzem de modo manifesto ou latente no processo produtivo da
mídia, sempre na dependência do campo de forças presente e
configurado em uma sociedade determinada.(RUBIM, 2000, p.71)
Essas diferenciações lógicas, acima explicitadas, conseguem nos
apontar o que ocorre nos bastidores e as variadas forças que regem, cada uma
a sua maneira, o funcionamento da produção midiatizada. Todos os segmentos
envolvidos possuem lógicas e sistemáticas de trabalho, que correm de acordo
com os seus próprios interesses. As verbas a serem gastas pela Prefeitura de
Rio Verde em publicidade institucional estão inclusas no orçamento anual,
fixado para a Secretaria de Comunicação. Os valores, em separado, do que foi
gasto nos anos anteriores não foram fornecidos pela Secretaria de
Comunicação.
14. VERBAS ORÇAMENTÁRIAS PARA A COMUNICAÇÃO
Para melhor compreender a influência da Prefeitura de Rio Verde nos
veículos de comunicação locais, vamos expor as informações constantes das
leis orçamentárias vigentes no período de 2002 a 2006, excetuando-se os
valores para exercício de 2003, cujos montantes não constam da lei.
A Lei no 4.208/2001, que estima a Receita e fixa a despesa para o
exercício de 2002, indica o orçamento da Secretaria de Comunicação em R$
484.000,00.
Podemos
observar
que
o
orçamento
da
Secretaria
de
Comunicação ficou entre os menores, com valores próximos à Guarda
Municipal (que faz a segurança de prédios públicos), com R$ 420.000,00; à
Superintendência Municipal de Trânsito, com R$ 536.000,00 e à Secretaria de
Governo, com R$ 447.000,00.
Os valores destinados às despesas das secretarias para o exercício de
2004 apontam que a Secretaria de Comunicação teve verba naquele ano de
R$ 2.700.000,00 (dois milhões e setecentos mil reais), refletindo em um
aumento significativo entre 2002/2004.
Com relação ao ano de 2004, o mesmo foi um ano eleitoral, em que o
atual Prefeito de Rio Verde estava candidatando-se à reeleição. Nesse período,
foram feitos muitos investimentos em propaganda institucional, divulgando as
ações da Prefeitura durante o mandato do Prefeito, priorizando as áreas de
saúde, educação, infra-estrutura e habitação. Nesse ano, Paulo Roberto Cunha
foi reeleito.
A Lei no 4.882/2004 fixou as despesas para o ano de 2005, designando
R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) para os gastos da
Secretaria de Comunicação. Esse montante representa uma redução de cerca
de R$ 200 mil com relação ao ano anterior.
A Lei no 5.080/2005 estabelece as despesas para o ano de 2006 às
unidades administrativas de Rio Verde, incluindo o Legislativo, as autarquias,
as fundações e os fundos municipais.
Por esta Lei, a Secretaria de Comunicação tem à sua disposição,
recursos da ordem de R$ 3.205.000,00, mostrando um aumento de R$ 705 mil
do ano de 2005 para 2006. A Lei no 4.099/2005 faz algumas alterações na Lei
no 5.080/2005, mas nenhuma delas referentes à Secretaria de Comunicação.
Um detalhe importante é que todas as leis orçamentárias trazem um
artigo que permite a
abertura
de
créditos
suplementares, conforme
entendimento e necessidades da administração municipal, que pode ser de até
60% do total das despesas fixadas nas leis.
Art. 5º - O Poder Executivo, no interesse da Administração, poderá
abrir, na vigência deste Orçamento, os créditos suplementares que
se fizerem necessários, mediante utilização dos recursos definidos
nos itens I, II, III e IV dos Parágrafos 1º, 2º e 4º do art. 43 da Lei
Federal n. 4.320, de 17 de março de 1964, até o limite de 60%
(sessenta por cento) do total das despesas fixadas nesta Lei, para
atender a insuficiência das dotações orçamentárias dos órgãos da
Administração. (LEI No 5.080, 2005, p.1)
Com isso, os valores que temos indicados nas leis orçamentárias sobre
os recursos disponibilizados a cada unidade podem não refletir a realidade dos
gastos que, em muitos casos, é bastante superior ao exposto nas legislações.
A linha tênue que separa a esfera pública da privada e que estabelece a
influência de um campo sobre o outro tem, muitas vezes, relação com as
verbas publicitárias.
Esta autora procurou obter os valores suplementares com os gastos em
comunicação nos anos pesquisados, mas recebeu como resposta uma suposta
inviabilidade no repasse dessas informações. Segundo uma funcionária da
Secretaria de Planejamento e Administração, esses dados teriam que ser
levantados ano a ano, verificando-se contrato por contrato firmado entre a
Secretaria de Comunicação e os veículos de comunicação para depois se
apurar os gastos suplementares. Ainda de acordo com esta funcionária, a
Secretaria de Planejamento não dispõe de pessoal suficiente para realização
deste tipo de levantamento.
Com relação às verbas orçamentárias de 2003, que não constam neste
trabalho, a autora não conseguiu cópia do orçamento digitalizado e, sempre
que tentou obter uma cópia impressa não teve êxito, por várias razões. Com
base nos orçamentos pesquisados, pudemos formular um quadro comparativo
que mostra a evolução das verbas para o setor de comunicação, conforme o
Quadro 01.
Quadro 01 – Comparativo das verbas orçamentárias entre 2002 e 2004
2002
2004
2005
2006
R$ 484.000,00
R$ 2.700.000,00
R$ 2.500.000,00
R$ 3.205.000,00
Podemos inferir que a importância da comunicação para a administração
pública de Rio Verde foi percebida nos últimos anos, mas ao mesmo tempo fica
o questionamento se essa importância não está se voltando apenas aos gastos
com a realização de eventos e propagandas em rádio e TV, o que colocaria as
ações e o trabalho da assessoria de imprensa em menor grau de importância e
em um segundo plano na visão do chefe do poder executivo ou do Secretário
de Comunicação, que é a pessoa responsável pela aplicação e pelo
direcionamento dessas verbas orçamentárias.
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao optar por esse tema, fizemos um esforço na tentativa de conhecer as
circunstâncias que ocasionaram a produção do Programa Globo Repórter que
abordou a geração de emprego e renda em Rio Verde (GO) e que gerou
inúmeros impactos no Município e em centenas de telespectadores.
Além disso, nesta dissertação nos deparamos com a vulnerabilidade do
poder público local frente aos meios de comunicação e a incapacidade ou
impossibilidade do sistema de comunicação governamental de influir sobre a
informação da mídia. Nesse desencontro entre os interesses da mídia e da
comunicação governamental o cidadão é a maior vítima.
O trecho do Programa que analisamos gerou inúmeros impactos no
Município naquele momento, como a migração de centenas de pessoas; gastos
de recursos não previstos pela administração municipal; crise administrativa
com imagem arranhada do Executivo; superlotação na cidade, com destaque
para a Agência do SINE e para a rodoviária; dentre outros.
Vimos uma televisão modificadora da maneira de agir e interagir do
telespectador, que saiu de casa nas horas e dias após a exibição daquele
Globo Repórter rumo a Rio Verde. Os efeitos foram imediatos, com um
receptor ativo que não só absorveu a mensagem, mas partiu para a ação.
O
conteúdo
mostrado
pelo
Programa
foi
abrsorvido
pelos
telespectadores. Esse episódio nos mostra o poder da TV, que com imagens e
sua linguagem exerce grande fascínio nas pessoas.
Na construção de sentidos do Programa, o desejo de ser visto motivou
entrevistados a embarcarem na fantasia apresentada a eles pelo repórter da
Rede Globo. O desejo de ver novas oportunidades de trabalho ajudou na
conquista da audiência do Programa em todo o País. Essa “civilização das
imagens” permitiu a manipulação em meio ao anonimato da fabricação do
Programa. A estrutura do texto e a concepção daquele Globo Repórter
permanecem ocultas ao telespectador. A linguagem metafórica induziu os
telespectadores a acreditarem que Rio Verde era uma fábrica de empregos,
plena de oportunidades.
Por outro lado a Emissora aparece inquestionável, numa relação em que
o receptor supõe de uma verdade absoluta na produção. O tema do
desemprego, que era esperado por parte dos telespectadores, ajudou no
reconhecimento do que foi mostrado como verdade. As estratégias discursivas
da Emissora impressionam o público. Entra aqui a questão da credibilidade da
Rede Globo, que estabelece com o seu público uma relação de confiança.
As notícias, assim como aquele Programa, são produzidas pela lógica
do consumo. A temática, “Desemprego – Os caminhos alternativos do trabalho
no País”, estava em voga. Para levá-la ao público foi feita a opção pela
espetacularização, pelo show. O núcleo definidor do espetáculo deixou de estar
na realidade e passou a situar-se na representação, em que entrevistados
ocuparam a posição de atores. A partir daí os acontecimentos foram
fabricados, a exemplo da cena da fila de empresários em busca de funcionários
no SINE da Cidade.
Fica demonstrado o padrão de inversão, onde o fato presente na
produção toma o lugar do real, compondo assim uma realidade artificial. A
análise dos dados, se tivesse sido feita de forma mais profunda pela produção,
poderia ter evitado que a classificação dos municípios que mais geravam
emprego e renda no País trouxesse tantos impactos, pelo menos conforme o
que foi vivenciado por Rio Verde.
Os casos exemplares analisados nos remetem a dois padrões de
manipulação informativa: o de inversão e o de ocultação, conforme
estabelecidos por Abramo (2003). No primeiro, há uma relevância de aspectos,
onde o fato é fragmentado em aspectos particulares, descontextualizados, as
partes são reordenadas com troca de lugares de importância das mesmas. O
essencial, naquele Globo Repórter, não foi enfatizado – a importância da
qualificação -, criando uma falsa expectativa no telespectador. Há a inversão
também da forma pelo conteúdo, fato evidenciado no Programa, onde a
palavra, a frase de efeito e as imagens assumiram mais importância que a
própria informação.
Outro padrão que se estabelece como ponto em comum entre a mídia e
a comunicação governamental é o de ocultação, em que não se publicam
determinadas interpretações e apreciações. Quando esse padrão é colocado
em prática há a manipulação da realidade, com a omissão de dados e
informações que são definidores de uma outra realidade, fabricada.
Acreditamos que aquele Globo Repórter fez isso, quando exibiu apenas a
interpretação que sua equipe de produção fez dos dados do CAGED e não
pesquisou por outras informações especializadas sobre o assunto. Isso
também fica claro quando a visão da assessoria de imprensa foi deixada de
fora do Programa, mesmo com o contato que foi feito. A produção, talvez
temendo que a sua interpretação fosse alterada, optou por não ouvir o lado
“oficial”.
É perceptível também que essa recusa em ouvir a Prefeitura, conforme
confrontamos em nosso trabalho, tem suas bases na desconfiança gerada
pelas práticas de algumas assessorias espalhadas pelo País que são usadas
como ferramentas de promoção pessoal de políticos.
Não é incomum a prática de manipulação pelo padrão de ocultação em
algumas assessorias de imprensa que, ao invés da realidade, divulgam
versões que interessam apenas a seus assessorados. Na esfera pública, essa
prática é ainda mais freqüente.
Pelo que estudamos nesse trabalho, acreditamos que uma comunicação
pública trabalhada com profissionalismo pode contribuir significativamente para
a melhoria da atuação dos meios de comunicação e para a construção de uma
comunicação de massa verdadeiramente compromissada com a sociedade.
Em nossa visão, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Rio Verde poderia
ter contribuído para minimizar os efeitos de recepção gerados nos
telespectadores e na própria cidade.
Esperamos que essa dissertação possa contribuir para que ocorra uma
mudança efetiva de postura das assessorias em todo o País, capaz de
transformar a imagem das mesmas, principalmente das que trabalham com o
poder público. O ranço do oficialismo e da promoção pessoal pode
desaparecer paulatinamente à medida que as mudanças de conduta venham a
ocorrer. A comunicação governamental precisa desenvolver um trabalho
técnico e sério, que começa na contratação de profissionais qualificados e com
formação superior para o exercício das funções correlatas à comunicação.
Para isso, o apadrinhamento deve ser apagado de vez da história das
assessorias públicas.
Com relação à mídia, o pré-julgamento não deve ser obstáculo na
apuração de uma pauta e na produção de matérias jornalísticas. Esse processo
deve ser desenvolvido com postura ética e profissional, sem preconceitos de
nenhuma espécie. Jornalistas e emissoras não podem se julgar acima de tudo
e de todos. Não existem donos da verdade e os que se consideram assim são
facilmente induzidos ao erro e a falhas que geram efeitos negativos em nossa
sociedade.
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de Rio Verde para o exercício de 2004. Arquivo da Secretaria de Planejamento
e Administração.
___________. Lei no 4.882/04. Estima a Receita e fixa a Despesa do Município
de Rio Verde para o exercício de 2005. Arquivo da Secretaria de Planejamento
e Administração.
___________. Lei no 5.080/05. Estima a Receita e fixa a Despesa do Município
de Rio Verde para o Exercício de 2006. Arquivo da Secretaria de Planejamento
e Administração.
OUTRAS FONTES
PROGRAMA GLOBO REPÓRTER. Rede Globo de Televisão. Desemprego:
Os caminhos alternativos de trabalho no Brasil. Duração: 11m 20s. Data de
exibição: 2 de fevereiro de 2004.
ANEXOS
PUBLICAÇÕES JORNALÍSTICAS IMPRESSAS
1. Transcrição de trecho do Programa Globo Repórter sobre Rio
Verde (GO), exibido em 06/02/2004
2. Jornal O Popular – 25/01/2004
Coluna Giro
3. Tribuna Municipalista – 1 a 15/01/2004
Globo Repórter em Rio Verde
4. Jornal News – 15 a 30/01/2004
Rio Verde é destaque em programa nacional de televisão
5. Jornal O Mercador – 27/01 a 02/02/2004
Globo evidencia os contrastes entre Rio Verde e o resto do Brasil
6. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 13)
Fábrica de empregos
7. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 14)
Migração preocupa autoridades
8. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 15)
Custo de vida assusta quem chega
9. Folha da Cidade – 1º a 14/02/2004
Divulgação do “eldorado” preocupa população e exige mais do
executivo
10. Diário da Manhã – 10/02/2004
Retrato do desemprego
11. Diário da Manhã – 10/02/2004
“Virou uma epidemia”, diz o prefeito
12. Diário da Manhã – 10/02/2004
Comentários do dia
13. Diário da Manhã – 10/02/2004
Município com 47 indústrias
14. Diário da Manhã – 11/02/2004
Rio Verde – Do sonho à realidade
15. Diário da Manhã – 11/02/2004
Fusca vira casa
16. Diário da Manhã – 11/02/2004
Prefeitura e Estado oferecem auxílio
17. Diário da Manhã – 12/02/2004
Rio Verde - Sobrou para Goiânia
18. Diário da Manhã – 12/02/2004
Empresas entram na fila
19. Diário da Manhã – 12/02/2004
Trote – Dupla dá o golpe
20. O Estado de S. Paulo – 13/02/2004
Emprego provoca invasão em cidade goiana
21. O Mercador – 10 a 16/02/2004
O que falaram de nós: A matéria da Globo
22. O Mercador – 17 a 23/02/2004
O efeito Globo Repórter
23. O Estado de S. Paulo – 15/02/2004
Exportação de frango deve crescer 15%
24. O Estado de S. Paulo – 15/02/2004
Frango brasileiro, pronto para voar alto
25. O Popular – 15/02/2004
Frango brasileiro está pronto para vôos mais altos
26. Tribuna do Planalto – 15 a 21/02/2004
Sine recebe milhares de solicitações de emprego
27. Jornal Opção – 15 a 21/02/2004 (Economia, página A-26 e A-27)
A marcha para o Sudoeste
28. Jornal Opção – 15 a 21/02/2004 (continuação, página A-28)
Migrações para Goiás
29. Jornal local - 15 a 29/02/2004
Prefeitura ampara desempregados que chegam a Rio Verde
30. O Mercador – 17 a 23/02/2004
Trapalhadas de uma equipe de filmagem
31. Folha do Sudoeste – 26/02 a 03/03/2004
Detenção de cinegrafistas esquenta política
32. Diário da Manhã – 05/03/2004 (nota)
33. Diário da Manhã – 19/05/2004
Rota do emprego
34. Revista Perdigão Hoje – nº 45 (Maio/Junho 2004)
Fábrica de empregos
LEGISLAÇÃO
35. Lei nº 2459 da Prefeitura de Rio Verde, que dispõe sobre as
competências das secretarias, com destaque para o art. 7º que
trata da Secretaria de Comunicação
36. Organograma da Prefeitura de Rio Verde
37. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2002
38. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2004
39. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2005
40. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2006
1. Transcrição de trecho do Programa Globo Repórter sobre Rio Verde
Nos maiores centros urbanos do país, a esperança está na fila: 1,9 milhão
de pessoas procuram por um emprego na região metropolitana de São Paulo.
A oferta de vagas aumenta, mas o número de desempregados cresce muito
mais rápido. Mas qual seria então o caminho para o emprego?
A resposta pode estar em estradas como as que cortam o interior do Brasil.
A BR-060 leva até um lugar onde a lei da oferta e da procura está do lado de
quem quer trabalhar. Em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, um fenômeno está
acontecendo. Na cidade, não falta emprego. Falta trabalhador.
A cidade, fincada no coração do cerrado brasileiro, abre 3,3 mil novas vagas
a cada mês. Rio Verde é uma máquina de oportunidades.
Os rio-verdenses acordam todos os dias com boas notícias. A lista é longa.
No programa de rádio mais ouvido na região, há três anos tinha só música e
notícia. Agora, o roteiro nas mãos do radialista está mudando. Só em um dia,
são 180 ofertas de emprego.
“O programa tem uma hora, de segunda a sábado. Só para anunciar
empregos, são 15 minutos, um quarto do programa. Dobra a audiência”, conta
o radialista Costa Filho.
Trabalho à vontade que brota das fazendas da região. Em Rio Verde, se
planta arroz, algodão, feijão, milho, soja e tomate. Tem também criação de
gado, aves e suínos. Em um impressionante efeito multiplicador, a produção no
campo faz nascer empregos no município. São cinco mil só em uma indústria
de alimentos.
O ambulatório da empresa é tão grande que mais parece um pequeno
hospital. Foi lá que a médica do trabalho Solange Cortez encontrou seu lugar.
Ela chegou de Ribeirão Preto no mês passado para ocupar uma vaga aberta
há mais de um ano.
“Nunca tinha me ocorrido sair do estado de São Paulo. Eu recebi propostas
de Minas, Mato Grosso do Sul e Goiás. Fiz entrevistas nas três empresas e a
que mais compensou foi a de Goiás”, diz a médica.
Solange descobriu que em Rio Verde ela dava as cartas. Foi recebida com
um salário que era o triplo do oferecido em São Paulo. E encontrou, quem diria,
a sensação que procurava desde o dia em que se formou na faculdade de
medicina.
“A sensação de valorização, de que valeu a pena o que você estudou, o que
você fez. Você cresceu e tem alguém precisando do que você tem a oferecer.
Isso é muito legal. Isso eu não senti em São Paulo e senti aqui, no interior de
Goiás”, revela Solange.
Onde há fumaça, há vagas. O inferno da caldeira pode ser o paraíso
sonhado por quem não tem emprego. Funcionários dividindo espaço com
cadeiras vazias, salários prontinhos para entrar na carteira de quem for para lá.
As vagas existem porque falta trabalhador qualificado na cidade.
O dono da boate mais badalada do pedaço, Lucival do Valle, bem que tenta
achar, mas não encontra um gerente à altura para fazer o negócio crescer
ainda mais.
“Estou na contra-mão do Brasil. Tenho vagas à vontade, mas preciso de
pessoas que tenham qualificação”, diz o empresário.
É dia de casa lotada. Lucival precisa de garçons.
“Tenho três garçons e preciso de mais sete”, ele anuncia.
O trio de auxiliares disponível, na verdade, é formado por um garçom e dois
novatos, que vão carregar uma bandeja na mão pela primeira vez. Lucélio
Martins é auxiliar de contabilidade e ouve, meio desconfiado, as ordens para o
primeiro dia de trabalho.
“Estamos abrindo a casa. Hoje, estamos aguardando uma média de 600 a
700 pessoas. Quer dizer que vocês vão ter que se desdobrar. São 200 pessoas
pra cada um de vocês. Divirtam-se”, diz Lucival.
“Fiquei meio assustado de encarar 200 pessoas logo no primeiro dia. É
meio complicado. Mas nós vamos fazer uma forcinha”, conta Lucélio.
Qual o efeito da falta de garçons na estréia de Lucélio? Em menos de 15
minutos, o rosto do rapaz se transforma. E no fim da noite, o aprendiz é mais
um a perceber: falta gente para trabalhar em Rio Verde.
Quem trabalha na agência do Sistema Nacional do Emprego (Sine) na
cidade sabe disso. A imagem que se tem das unidades do Sine são filas
intermináveis de gente em busca de uma colocação. Mas no Sine de Rio Verde
existe, ainda, um outro tipo de fila, formada não por desempregados, mas por
patrões em busca de funcionários. Difícil de acreditar: de dez em dez minutos,
tem vaga nova sendo oferecida.
“Nunca tinha pensado em ficar em uma fila do Sine”, diz um deles.
“Se um contador de uma cidade de São Paulo, de uma capital, que está
desempregado vier pra cá, vai ser colocado em Rio Verde. Com certeza, a vida
dele vai mudar, porque o campo cresce a cada dia no município”, garante o
contador Nildo Melo.
“Isso vale para outras situações, desde que a pessoa esteja qualificada”,
observa a gerente de supermercado Adriana Moraes.
“O fato de Rio Verde estar cheio de vagas de trabalho atrapalha às vezes,
porque as ofertas são qualificadas. A pessoa vê que tem muitas vagas e passa
a oferecer um salário melhor. O empregado sai dessa e vai para aquela e você
vai ter que abrir novamente aquela vaga de antes. O problema inverso das
outras cidades”, explica o orientador educacional Marcelo Souza.
“No fim das contas, quem está mandando é o funcionário”, constata o
empresário de farmácia Agmar Vieira.
“Você tem que despertar nesse candidato tudo que você oferece de bom,
senão, ele vai embora”, diz Adriana Moraes.
Atrás da porteira, a situação não é diferente. Na estrada de terra, uma
coruja parece avisar: para onde se olha, também tem chance de emprego.
Porco e soja. Trezentas famílias tiram o sustento do trabalho oferecido pelo
produtor rural Evaristo Baraúna em suas fazendas. E ele ainda está
contratando gente de vários lugares do país.
“Nós
fornecemos
moradia,
alimentação,
energia elétrica,
água.
O
funcionário não gasta praticamente nada. Eu acho que no passado o êxodo
rural aconteceu porque faltava conforto no campo, faltavam escolas. Hoje, a
pessoa que sai da favela, da cidade, e volta para o campo encontra todo esse
conforto que não tinha antigamente. É hora de fazer um outro tipo de êxodo. Eu
acho que tem que inverter: hoje nós deveríamos ter o êxodo urbano para o
campo”, diz Evaristo.
Valdeci e Nivaílde Silva são pioneiros no tal êxodo urbano sonhado pelo
fazendeiro. Chegaram da Bahia. Ele, desempregado; ela, professora, deixou a
escola para trás, para acompanhar o marido no campo. Hoje, os dois têm
carteira assinada como “auxiliares de maternidade”. Cuidam de filhotes de
suínos.
Os dois moram de graça em uma casa que fica a poucos passos da granja.
Não pagam luz, nem água. Será que as contas fecham no fim do mês?
“Esse mês entraram R$ 1,2 mil. Com R$ 200 a gente vai fazer
supermercado e os R$ 1 mil a gente vai colocar na poupança”, conta Nivaílde.
São R$ 1 mil todos os meses depositados na poupança. Economizam para
comprar um carro e uma casa em uma praia da Bahia. Felicidade? Teve que
ser conquistada, depois de uma dura adaptação. O primeiro dia, limpando a
sujeira dos animais, a professorinha não esquece.
“Deu vontade de voltar para minha vida lá, como era antes”, lembra
Nivaílde. “Tive que deixar para trás a minha família, que é o principal. Sinto
muita saudade”.
A saudade que Nivaílde sente já mandou de volta centenas de pessoas que
saíram das cidades sem vagas, seduzidas pelo campo que emprega. Só de
olhar, o produtor rural Evaristo Baraúna já sabe quem vai e quem não vai
agüentar a mudança do urbano para o rural.
“É visível. O funcionário começa a ficar triste, a produtividade cai, fica
separado em um canto, não se socializa com o pessoal. A gente busca fazer
um trabalho para reconquistar essa pessoa, mas muitas vezes isso não
acontece. De cada dez pessoas que vêem da cidade, eu diria que umas oito
voltam porque não se acostumam a ficar no campo”, revela o fazendeiro.
O casal da Bahia está no grupo dos que decidiram ficar e construir no
interior do país uma vida cheia de oportunidades.
“Eu acredito que essa mudança toda vale a pena, porque eu estou com a
pessoa que eu amo, a gente está junto, e a partir daqui a gente vai construir
uma nova família”, diz Nivaílde.”
2. Jornal O Popular – 25/01/04 – Coluna Giro
3. Tribuna Municipalista – 1 a 15/01/2004
4. Jornal News – 15 a 30/01/2004
5. Jornal O Mercador – 27/01/2004 02/02/2004
6. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 13)
7. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 14)
8. Jornal O Popular – 1/02/2004 (Economia, página 15)
9. Folha da Cidade – 1º a 14/02/2004
10. Diário da Manhã – 10/02/2004
11. Diário da Manhã – 10/02/2004
12. Diário da Manhã – 10/02/2004
13. Diário da Manhã – 10/02/2004
14. Diário da Manhã – 11/02/2004
15. Diário da Manhã – 11/02/2004
12. Diário da Manhã – 11/02/2004
17. Diário da Manhã – 12/02/2004
19. Diário da Manhã – 12/02/2004
20. O Estado de S. Paulo – 13/02/2004
21. O Mercador – 10 a 16/02/2004
22. O Mercador – 17 a 23/02/2004
23. O Estado de S. Paulo – 15/02/2004
24. O Estado de S. Paulo – 15/02/2004
25. O Popular – 15/02/2004
26. Tribuna do Planalto – 15 a 21/02/04
27. Jornal Opção – 15 a 21/02/2004
29. Jornal local – 15 a 29/02/2004
30. O Mercador – 17 a 23/02/2004
31. Folha do Sudoeste - 26/02 a 03/03/2004
32. Diário da Manhã – 05/03/2004
33. Diário da Manhã – 19/05/2004
34. Revista Perdigão Hoje – nº 45 (Maio/Junho 2004)
35. Lei nº 2459 da Prefeitura de Rio Verde
36. Organograma da Prefeitura de Rio Verde
Fonte: PREFEITURA DE RIO VERDE. Estrutura Organizacional. Disponível em:
http://www.rioverdegoias.com.br/arquivos/organograma2006.pdf.
37. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2002
UNIDADE ADMINISTRATIVA
Câmara Municipal
Gabinete do Prefeito
Secretaria de Planejamento e Administração
Assessoria Especial de Habitação
Secretaria de Governo
Secretaria de Articulação Política
Procuradoria Geral do Município
Secretaria Municipal de Comunicação
Secretaria Municipal da Fazenda
Secretaria Municipal de Ação Urbana
Secretaria Municipal de Obras
Secretaria Municipal de Transportes
Secretaria de Abastecimento e Compras
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Esportes
Secretaria Industrial, do Comércio e Turismo
Secretaria de Cultura, Ciências e Tecnologia
Secretaria Municipal de Saúde
Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Promoção Social
Guarda Municipal
Superintendência Municipal de Trânsito
Órgãos Externos
TOTAL GERAL
Fonte: LEI No 4.208/2001
RECURSOS
R$
2.705.000,00
R$
617.000,00
R$
3.039.500,00
R$
1.656.300,00
R$
447.000,00
R$
220.300,00
R$
1.401.000,00
R$
484.000,00
R$
2.403.000,00
R$
1.952.000,00
R$
4.220.000,00
R$
2.289.350,00
R$
1.097.000,00
R$
2.612.000,00
R$
2.191.500,00
R$
1.921.000,00
R$
1.289.700,00
R$
9.600.000,00
R$ 15.900.000,00
R$
5.452.700,00
R$ 420.000,00
R$
536.000,00
R$
1.036.000,00
R$ 63.490.850,00
38. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2004
UNIDADE ADMINISTRATIVA
Câmara Municipal
Gabinete do Prefeito
Sec. Planejamento e Administração
Assessoria Especial de Habitação
Secretaria de Governo
Secretaria de Articulação Política
Procuradoria Geral do Município
Secretaria Municipal de Comunicação
Secretaria Municipal da Fazenda
Secretaria Municipal de Ação Urbana
Secretaria Municipal de Obras
Secretaria Municipal de Transportes
Secretaria de Compras e Abastecimento
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Esporte
Secretaria Municipal de Indústria, Comércio. e Turismo
Secretaria Municipal de Cultura, Ciências e Tecnologia
Secretaria Municipal de Saúde
Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Promoção Social
Entidades Desconcentradas
Controle Interno
IPARV
FEMBOM
FESURV
FMACL
FUMDAE
FUNDEF
PROCON
Superintendência Municipal de Trânsito
Superintendência de Parques e Jardins
Fundo Municipal de Saúde
TOTAL
Fonte: LEI No 4.739/2003.
RECURSOS
R$
4.706.759,74
R$
850.000,00
R$ 12.699.915,26
R$
800.000,00
R$
280.000,00
R$
280.000,00
R$
4.000.000,00
R$
2.700.000,00
R$
1.600.000,00
R$ 10.600.000,00
R$ 11.592.025,00
R$
2.300.000,00
R$
450.000,00
R$
1.000.000,00
R$
1.000.000,00
R$
1.000.000,00
R$
1.000.000,00
R$ 12.351.300,00
R$ 20.585.500,00
R$
5.500.000,00
R$
900.000,00
R$
100.000,00
R$
4.000.000,00
R$
450.000,00
R$ 28.000.000,00
R$
850.000,00
R$
150.000,00
R$ 10.137.703,67
R$
100.000,00
R$
3.756.680,00
R$
949.000,00
R$ 12.964.160,00
R$ 157.653.043,67
39. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2005
UNIDADE ADMINISTRATIVA
Câmara Municipal
PODER EXECUTIVO
Gabinete do Prefeito
Secretaria de Planejamento e Administração
Assessoria Especial de Habitação
Secretaria de Governo
Secretaria de Articulação Política
Procuradoria Geral do Município
Secretaria de Comunicação
Secretaria da Fazenda
Secretaria de Ação Urbana
Secretaria de Obras
Secretaria de Transportes
Secretaria de Compras e Abastecimento
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente
Secretaria de Esportes
Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Cultura
Secretaria de Saúde
Secretaria de Educação
Secretaria de Promoção Social
Coordenadoria de Controle Interno
Entidades Desconcentradas
FEMBOM – Fundo Municipal para o Corpo de Bombeiros
FUMDAE – Fundo Municipal de Des. da Agricultura
FUNDEF – Fundo Nacional de Dês. do Ens. Funda.
FMPDC – Fundo de Proteção e Defesa do Consumidor
FMS – Fundo Municipal de Saúde
FMAS – Fundo Municipal de Assistência Social
FMDCA – Fundo Mun. dos Dir. da Criança e Adolescente
FMAM – Fundo de Meio Ambiente de Rio Verde
FUNDAÇÕES
FESURV – Universidade de Rio Verde
FAS – Fundação Altair Coelho de Lima
FMC – Fundação Municipal de Cultura
AUTARQUIAS/SUPERINTENDÊNCIAS
IPARV - Previdência
IPARV - Assistência
SMT – Superintendência Municipal de Trânsito
SUPARQUE – Superintendência de Parques e Jardins
TOTAL DESPESAS ÓRGÃOS/UNIDADES
RESERVA DE CONTINGÊNCIA
TOTAL GERAL
Fonte: LEI No 4.882/2004
RECURSOS
5.505.165,21
1.800.000,00
8.060.000,00
1.500.000,00
450.000,00
400.000,00
4.326.810,33
2.500.000,00
2.400.000,00
8.314.834,79
8.329.336,12
4.980.000,00
475.000,00
1.060.000,00
1.170.000,00
1.100.000,00
1.100.000,00
11.489.709,13
12.767.760,36
4.000.000,00
200.000,00
900.000,00
267.500,00
60.000,00
13.692.091,74
235.500,00
13.155.810,60
1.438.300,00
38.500,00
67.304,23
36.000.000,00
1.562.876,00
153.240,00
3.915.000,00
3.379.000,00
2.162.401,44
1.122.160,00
160.078.299,95
300.000,00
160.378.299,95
40. Valores do Orçamento da Prefeitura de Rio Verde para 2006
UNIDADE ADMINISTRATIVA
RECURSOS
Câmara Municipal
6.385.607,13
PODER EXECUTIVO
Gabinete do Prefeito
3.030.000,00
Secretaria de Planejamento e Administração
6.234.829,60
Assessoria Especial de Habitação
2.664.000,00
Secretaria de Governo e Relações Exteriores
3.612.591,00
Secretaria de Articulação Política
1.400.000,00
Procuradoria Geral do Município
1.272.000,00
Secretaria de Comunicação
3.205.000,00
Secretaria da Fazenda
4.885.000,000
Secretaria de Ação Urbana
12.475.370,56
Secretaria de Obras
27.167.868,72
Secretaria de Transportes
12.077.272,00
Secretaria de Compras e Abastecimento
582.000
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente
4.072.745,58
Secretaria de Desporto e Lazer
3.064.000,00
Secretaria de Indústria e Comércio
970.000,00
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Cultura
2.723.000,00
Secretaria de Educação
19.454.547,37
Secretaria de Promoção Social
5.156.488,40
Coordenadoria de Controle Interno
260.000,00
Subprefeitura de Riverlândia
400.000,00
Subprefeitura de Ouroana
400.000,00
Subprefeitura de Lagoa do Bauzinho
500.000,00
FEMBOM – Fundo Municipal para o Corpo de Bombeiros
350.000,00
FUNDEF – Fundo Nacional de Des. Do Ensino. Funda.
16.688.222,00
FMPDC – Fundo de Proteção e Defesa do Consumidor
250.000,00
FMS – Fundo Municipal de Saúde
33.270.180,67
FMAS – Fundo Municipal de Assistência Social
1.692.208,52
FMDCA – Fundo Mun.dos Direitos da Criança e Adolescente
140.000,00
FMAM – Fundo de Meio Ambiente de Rio Verde
290.000,00
FESURV – Universidade de Rio Verde
43.176.614,00
FAZ – Fundação Altair Coelho de Lima
1.795.000,00
FMC – Fundação Municipal de Cultura
300.000,00
AUTARQUIAS/SUPERINTENDÊNCIAS
IPARV - Previdência
4.307.000,00
IPARV - Assistência
3.685.000,00
SMT – Superintendência Municipal de Trânsito
7.357.885,00
SUPARQUE – Superintendência de Parques e Jardins
1.510.000,00
SUPERTURISMO – Superintendência Municipal de Turismo
678.600,00
TOTAL DESPESAS ÓRGÃOS/UNIDADES
237.483.030,55
RESERVA DE CONTINGÊNCIA
2.398.818,49
TOTAL GERAL
239.881.849,04
Fonte: LEI No 5.080/2005.
APÊNDICE
ENTREVISTAS TRANSCRITAS
1. AUGUSTO ROCHA
2. MÁRCIA DE CHIARA
3. WASHINGTON OLIVEIRA
4. ADASNIVON DIVINO
5. SÉRGIO MACEDO
6. JOÃO ROBERTO NEVES
DOCUMENTOS
7.
CÓPIA
DO
OFÍCIO
ENCAMINHADO
AO
PROJETO
GLOBO
UNIVERSIDADE
8. CÓPIA DA MENSAGEM RESPONDIDA PELA EQUIPE DE INTERNET DO
GLOBO REPÓRTER
1. AUGUSTO ROCHA
Entrevista com o jornalista Augusto Rocha, ex-integrante da assessoria de
imprensa da Prefeitura de Rio Verde e que, à época, acompanhou a equipe do
Globo Repórter nas gravações no Sine, concedida no dia 28 de agosto de
2006, por e-mail.
(Com quem foi feito e como foi o contato telefônico entre a assessoria de
imprensa da Prefeitura, por seu intermédio, com a Produção do Globo
Repórter, em janeiro de 2004, para apoio durante as gravações? )
- O contato não foi feito por mim. Eu estava em minha mesa, quando de
repente, uma colega pede para eu e o fotógrafo Washington Oliveira irmos ao
Sine para acompanharmos a visita da Produção do Globo Repórter. A única
informação que me foi passada pela colega foi que eles não queriam saber da
versão oficial da prefeitura sobre a geração de empregos no município.
(A que você atribui a recusa da produção do Programa em aceitar a
colaboração da assessoria de imprensa da Prefeitura com o repasse de
informações sobre a geração de emprego e renda no Município? Porque
não quiseram “ouvir” a assessoria?)
- Creio que esta deva ser a linha editorial da TV Globo. O próprio formato do
programa talvez ajude a explicar isso. Os profissionais que trabalham na
emissora têm competência reconhecida nacionalmente. Os repórteres e
produtores são e devem ser excelentes. No acompanhamento que fiz da
equipe do Globo Repórter isso ficou bem evidenciado. Outra hipótese que
poderia explicar essa atitude é a desconfiança em relação ao trabalho do
assessor de impressa, que é direcionado ao cliente/assessorado. Com certeza,
a Produção não quis utilizar-se da colaboração da Assessoria de Imprensa da
prefeitura porque desejou evitar uma conotação política à reportagem. Não é
de hoje, que existem conflitos entre as redações e as assessorias de imprensa.
Ambas as funções possuem peculiaridades e nem todos os profissionais, que
estão em campos distintos, têm uma convivência salutar.
(A decisão da assessoria foi a de que você acompanhasse a equipe
durante algumas gravações do Programa na cidade. Em quais locais você
acompanhou a equipe e que relato você faz do que presenciou durante as
gravações?)
- Só acompanhei a equipe do Globo Repórter no Sine. Fomos apresentados
aos profissionais. No começo, a impressão que tive foi de certa ‘frieza’ por
parte deles. Parecia que eu e o fotógrafo estávamos ‘atrapalhando’. Tive essa
sensação inicial, mas depois tivemos conversas informais interessantes com os
integrantes da equipe. Presenciei as entrevistas com os empresários. Eles
relataram que diversas vagas tinham que ser preenchidas por trabalhadores
fora de Rio Verde, às vezes, fora do Estado, e até fora do Centro-Oeste. Os
empregadores destacaram bem essa questão em suas respostas. Segundo
eles, em diversas áreas estava faltando qualificação. Desse modo, tinham que
buscar profissionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Distrito
Federal. Um dado que chamou a atenção do repórter Flávio Fachel, do Globo
Repórter, foi o fato de saber que diversas vagas não eram preenchidas há
meses. Assim que soube disso, ele sugeriu, à editora Isabela Dutra, que havia
duas filas no Sine. Uma fila de pessoas que procuravam emprego e outra de
empresários procurando trabalhadores. Tive impressão que a editora
concordou meio a contragosto. O repórter conseguiu ‘vender’ esse ‘gancho’
para a pauta.
(Se a assessoria tivesse sido levada em consideração você acha que a
abordagem do Programa poderia ter sido diferente?)
- É difícil dizer isso porque parece que a pauta já veio de ‘cima para baixo’. A
intenção do programa, ao que tudo indica, estava centrada e totalmente
direcionada para aquele enfoque. O episódio até me lembrou as pautas da
revista Veja. Depoimentos de jornalistas, que já trabalharam nessa publicação
da Editora Abril, revelam que assim que a pauta é decidida, os repórteres têm
apenas que ‘confirmá-la’, embora a realidade não seja aquela que é descrita.
Os empresários que estavam no Sine destacaram bem a questão da
qualificação. Eles temiam que as entrevistas pudessem ser usadas de um
modo que desse a impressão de que na cidade ‘chovia’ emprego. No entanto,
a vaidade de diversos entrevistados, na ânsia de obter seus 15 segundos de
fama, com certeza, contribuiu de certa maneira, para aquela abordagem.
Então, dificilmente, a edição do Globo Repórter seria diferente mesmo tendo o
suporte da Assessoria de Imprensa.
(A exibição do Programa provocou efeitos imediatos em Rio Verde. Quais
efeitos você se recorda?)
- O efeito imediato foi a chegada de trabalhadores de diversas regiões do País.
Havia pessoas que ganhavam entre R$ 800 a R$ 1.200 reais na sua cidade e
queriam saber como era a ‘cidade dos empregos’. Na Assessoria de Imprensa
da Prefeitura de Rio Verde, recebemos inúmeros e-mails e ligações. Isso
ocorreu em diversas repartições públicas e empresas da cidade. O prédio,
onde se localiza a prefeitura, contou com o reforço da Polícia Militar. A
rodoviária nunca esteve tão cheia.
(O que faltou ao Programa Globo Repórter de 6 de fevereiro contar aos
telespectadores sobre Rio Verde?)
- Faltou destacar que as vagas eram para pessoas com qualificação
profissional. Essa informação era essencial e não poderia ter ficado de fora.
(Diante do que você presenciou nas gravações, você considera o
Programa um retrato de uma realidade local ou uma realidade fabricada?
Por quê?)
- Dificilmente poderia afirmar que aquele era o retrato fiel da realidade local.
Houve exageros e distorções por parte de diversas fontes ouvidas pela
reportagem. Seria muita pretensão dizermos que a mídia mostra a realidade
social tal como ela é. Um dos princípios básicos do jornalismo é a busca da
verdade, mas isto nem sempre acontece, haja vista os interesses e as
limitações dos veículos de comunicação.
(Como foi a conduta do poder público na tentativa de conter a crise
desencadeada com a exibição do Programa?)
-A prefeitura forneceu alimentação, abrigo e passagens aos migrantes. O
governo do Estado também fez uma contrapartida nas passagens. O Município
procurou mostrar aos veículos de comunicação do Estado, e de repercussão
nacional, o que estava acontecendo. A Assessoria de Imprensa da prefeitura
informou à produção do Jornal Nacional, da TV Globo, o que aconteceu na
cidade com a exibição do programa. Isso gerou notas no Jornal Nacional e
também no Jornal da Globo, e mostrou que as vagas eram para profissionais
com qualificação.
2. MÁRCIA DE CHIARA
Entrevista com a jornalista Márcia de Chiara, repórter do jornal O Estado de
São Paulo que esteve em Rio Verde para realizar uma reportagem sobre as
exportações de frango no País e a produtividade nesse setor no Município. A
repórter, que presenciou a fila na porta do Sine, efeito da reportagem do Globo
Repórter, redigiu uma matéria extra ao Jornal, publicada no dia 09 de fevereiro
de 2004. A entrevista foi feita por e-mail, respondido no dia 11 de setembro de
2006.
(O que você presenciou em Rio Verde em fevereiro de 2004 no SINE?)
- Eu presenciei uma invasão de pessoas de outros Estados a procura de
empregos. Eram filas que dobravam quarteirões a procura de uma vaga.
(Qual era a alegação daquelas pessoas para terem deixado suas cidades
de origem e se aventurado em Rio Verde?)
- Falta de oportunidade de emprego em suas respectivas cidades.
(O que você considera que faltou ao Programa Globo Repórter
“Desemprego - Os caminhos alternativos do trabalho no Brasil”, exibido
em 6 de fevereiro de 2004, que colocava Rio Verde entre os cinco
municípios que mais geravam emprego e renda no País?)
- Faltou esclarecer que as pessoas precisavam ter qualificação para ocupar as
vagas.
(Que sentimentos aqueles desempregados trouxeram junto com a mala
para Rio Verde?)
- Eles trouxeram muita esperança e a certeza de um futuro melhor. Mas a
frustração foi muito grande.
(A realidade mostrada pelo Programa era a realidade do Município, à
época?)
- O programa mostrou parcialmente a realidade. No ímpeto de turbinar a
notícia, esqueceu de pontuar que tipo de emprego era oferecido e qual os
quesitos necessários para ocupar a vaga.
(Que relatos inerentes ao fato você se recorda?)
- Vários foram os relatos comoventes. Eram pessoas que tinham pegado
dinheiro emprestado para comprar a passagem só de ida para Rio Verde.
Havia uma mulher que tinha deixado a filha recém-nascida com a mãe para se
candidatar a uma vaga. Realmente era o mapa do Brasil, e do desemprego,
estampado naquela imensa fila que circundava quarteirões.
3. WASHINGTON OLIVEIRA
Entrevista com o fotógrafo da Prefeitura de Rio Verde, Washington
Oliveira, que acompanhou o jornalista Augusto Rocha durante as gravações do
Programa no SINE e que percorreu vários pontos da cidade após a exibição do
Globo Repórter fazendo o registro fotográfico das situações encontradas,
pautado pela assessoria de imprensa. A entrevista foi gravada no dia 28 de
agosto de 2006.
(No dia 6 de fevereiro de 2004 o Globo Repórter exibiu um programa
especial mostrando os cinco municípios que mais geravam emprego e
renda no País. Você assistiu o Programa?)
- Eu assisti o Programa e fiquei de certa forma assustado. Não esperava que
fosse daquela forma. Aquilo causou à cidade uma verdadeira invasão de
pessoas achando que iam chegar aqui e achar um Eldorado, o emprego fácil, o
que não era verdade.
(Nas horas que se seguiram à exibição desse programa, o que aconteceu
com Rio Verde e com o movimento da cidade? O que você se recorda?)
- A cidade se transformou, a população teve um aumento significativo em dois
dias. Eu não sei dizer. Na rodoviária havia mil pessoas ou mais. As pessoas
sem nada, com a cara e a coragem, esperando chegar aqui e já conseguir
emprego e sair trabalhando. O que na verdade não ia acontecer.
(Quais as medidas você percebeu sendo tomadas quando essas pessoas
foram chegando a Rio Verde?)
- O poder público já de imediato providenciando o local para essas pessoas se
alojarem, dormirem, se alimentarem e providenciando também a volta dessas
pessoas às suas cidades, às suas terras porque aqui não tinha como elas
ficarem.
(Alguns lugares também registraram um maior movimento, como na
Rodoviária. Que relatos você se recorda dos migrantes que vieram?)
- O pessoal tinha, de certa forma, uma certa revolta, achando que de acordo
com a reportagem eles iam chegar aqui e achar, iam conseguir bons salários.
Então, havia uma certa revolta com o pessoal, muita gente e a medida que iam
chegando gente iam sendo encaminhadas a outro ônibus para voltarem. Isso
causou uma certa revolta. O pessoal ficou bem chateado.
(Como foi com os rio-verdenses, com os moradores dessa cidade. Como
é que as pessoas receberam esse Programa e como é que elas se
colocaram com esses migrantes chegando?)
- Eu acho que o pessoal de Rio Verde ficou muito assustado. Não esperava
essa invasão, essa grande migração de gente, de um dia para noite. Acho que
ninguém esperava isso. É lógico que ao ver a cidade na TV o povo se sentiu
orgulhoso, como é normal, mas eles não esperavam que o efeito colateral
dessa reportagem fosse essa quantidade de pessoas na cidade.
(Você esteve no Sine acompanhando o jornalista que à época era
integrante da assessoria de imprensa nas filmagens que o Globo Repórter
fez na agência de Rio Verde, que funcionava em um prédio da Prefeitura.
O que você presenciou durante essas filmagens ou gravações do Sine?)
- Bem, houve um grupo de empresários que foram convidados a participar da
reportagem e houve por parte da produção do Globo Repórter, pelo próprio
repórter, um direcionamento nas respostas, o que eles queriam que as pessoas
respondessem para que a reportagem ficasse mais interessante, para que a
reportagem tivesse um maior alcance, eu diria, para as pessoas, para o Brasil
inteiro achar que aqui é realmente uma cidade que oferece emprego a qualquer
um. O que não é verdade.
(O que você acha que pode ter levado aquelas pessoas que estavam lá
concordarem com o que se passou no Sine naquele dia?)
- Na verdade, o fato de aparecerem no Globo Repórter pesou muito. Eu acho
que pesou muito. Um deslumbramento, um certo deslumbramento. Eu acho
que isso aí pesou, de certa forma, bastante. Mas, a pessoa queria mostrar a
cidade, queria mostrar que na cidade tem emprego, queria mostrar que é uma
cidade próspera, mas não esperava que fosse daquela forma.
(Naquele mesmo local, no Sine, o repórter faz uma passagem mostrando
uma fila. Aquela fila estava ali? O que você presenciou na gravação
daquele momento específico?)
- Na verdade aquela fila foi montada. Na hora não existia fila alguma ali. A fila
foi montada pela produção para que fosse filmado. Na verdade não havia fila.
Há a procura dos empresários, pelo funcionário, pela mão-de-obra. Mas, sem
fila. Não existe fila.
(Você também esteve presente em um outro episódio provocado pelo
Programa, uma invasão de mais de 50 pessoas no hall da Prefeitura. O
que aquelas pessoas queriam lá aquele dia e como elas agiram?)
- Na verdade houve até um engano por parte das pessoas. Eles quiseram jogar
a responsabilidade da reportagem em cima do poder público que não tinha
nada a ver. O poder público sequer participou da reportagem. E eles realmente
chegaram dispostos a invadir a Prefeitura e foram contidos e chegaram bem
revoltados, achando que a Prefeitura era a responsável pelo fato da
reportagem ter sido veiculada.
(Que lições ficaram do Globo Repórter em Rio Verde?)
- Eu acho que a checagem da informação tem que ser sempre bem feita.
Faltou um pouco, acho que o Globo Repórter teve uma certa, não sei se má-fé.
Mas acho que a lição é que a gente precisa ter muito cuidado na informação,
muito cuidado no que diz, porque realmente o efeito pode ser devastador.
(O episódio também provocou na cidade uma onda de boatos. Você se
recorda de algum desses boatos?)
- Teve alguns boatos. A chegada de ônibus, de muitos ônibus do Norte. Que na
rodoviária teve duas mil pessoas de uma vez só, o que não foi verdade. Teve
uma porção de coisas. Eu não me lembro mais.
4. ADASNIVON DIVINO
Entrevista com o cinegrafista Adasnivon Divino, que à época era
cinegrafista da Prefeitura de Rio Verde e que fez o registro de várias cenas de
sonoras sobre o episódio da invasão de migrantes a Rio Verde. O cinegrafista
informou que, não se sabe como, as fitas que continham esse material foram
perdidas. A entrevista foi gravada no dia 11 de setembro de 2006.
(Você percorreu alguns pontos da cidade após a exibição do Globo
Repórter e um deles foi a rodoviária onde você produziu um material
coletando alguns depoimentos. O que você se recorda daqueles
depoimentos gravados?)
- Adriana, é um..., a gente chegou lá, eu e o fotógrafo da Prefeitura, e como era
uma situação muito assim, de migrantes vindo, a rodoviária estava cheia,
crianças, famílias todas descendo dos ônibus, um atrás do outro e o pessoal,
sabe, tudo sem alimentação, tudo preocupado, sabe. A administração já estava
“caçando” um jeito de encaminhar essas pessoas para suas regiões, porque
não tinha como atender aquele montante que chegou de uma hora para a
outra, que viu a exibição do Globo Repórter de uma coisa que não estava, a
cidade não estava preparada para receber aquela quantidade de migrantes que
chegou na cidade de Rio Verde naqueles três dias, três, quatro dias, com
ônibus chegando um atrás do outro.
(Você acha que o que o Globo Repórter mostrou ao Brasil naquele 6 de
fevereiro de 2004 era a realidade de Rio Verde naquela época?)
- Adriana, Rio Verde, tá, tem se desenvolvido, tá, as indústrias estão vindo,
mas não. Naquela época estava tendo a divulgação do Globo Repórter. Acho
até que eles foram irresponsáveis com a colocação da matéria no ar, eles
deveriam ter observado melhor, tipo a pauta, tudo, porque a realidade da
cidade não condizia com o que o Globo Repórter colocou na matéria dele,
porque foi o pessoal, todo o pessoal que estava desempregado, o pessoal que
estava desempregado em outros estados, que estavam desesperados. E a
conotação do Globo Repórter foi a seguinte, vai para Rio Verde porque Rio
Verde está desenvolvendo e tudo, e está precisando de trabalhadores e daí o
pessoal todo veio. Tá certo que estava precisando de trabalhadores, mas com
uma certa qualificação para entrar nas empresas, quer dizer, passar por uma
triagem e tudo, isso a cidade naquela época tinha condições mas não pra, igual
chegou, vamos por 15, 20 ônibus, que chegou nesses três dias e um pessoal
tipo praticamente desqualificado para as exigências das empresas que
estavam precisando em Rio Verde. Então eu acho que foi um ato impensado
da produção do Programa Globo Repórter.
(Você acha que aquele Programa trouxe mais prejuízos ou mais pontos
positivos para a cidade?)
- No meu ponto de vista, muitas vezes eu andando pelas ruas, eu ainda
encontro famílias que arrumaram alguma coisa, mas eu acho que naquele
momento, o Programa foi negativo.
(E com relação ao que sobrou para o poder público cuidar?)
- Inclusive eu acompanhei todo o processo que a Prefeitura teve que intervir e
até se prejudicar nos projetos dela porque teve que locar ônibus, dar dinheiro
para comprar passagens, comprar passagens para mandar o pessoal de volta
da cidade para suas origens e, sem falar, em alimentação que foi assim uma
coisa de momento que a Prefeitura teve que se desdobrar para poder fornecer
refeições para todas aquelas pessoas, que tinham muitas crianças e gente que
veio mulher, mãe, filho, pai, irmão. Veio toda a família buscar uma
oportunidade que não era a real. E, teve todo aquele trabalho para acomodar
as pessoas, teve que comprar colchões, cobertores, tudo, porque era uma
época que o clima não estava tão calor, então foi meio que uma correria, com
alimentação, foi meio complicado para a administração ter que resolver aquele
problema muito grande em torno de duas horas, porque o pessoal tinha que
arrumar um local para dormir, tinha que arrumar um local para comer, tinha
café-da-manhã, tinha lanche, tudo, tinha que resolver tudo para poder
acomodar esse pessoal até que eles tivessem condições para voltar para suas
origens.
5. SÉRGIO MACEDO
Entrevista com Sérgio Macedo, coordenador da Agência do SINE de
Rio Verde à época das gravações e exibições do Globo Repórter. A entrevista
foi gravada no dia 21 de setembro de 2006.
(No dia 6 de fevereiro de 2004, o Globo Repórter exibiu um programa
especial e apontou Rio Verde como uma das cidades que mais gerava
emprego e renda no Município. Como foi feito à época aquele contato do
Programa com o Sine? Foi antes da equipe chegar a Rio Verde ou quando
da gravação?)
- Na verdade eles procuraram a agência de emprego na época, dizendo que
através de noticiários, que Rio Verde tinha bastante emprego e que era uma
das cidades que mais geravam oportunidade de emprego naquela época. A
gente manteve contato, informou a Prefeitura também. E daí foi. A equipe veio,
fez uma produção que a gente entende muito boa, mas deixando naquela
oportunidade algumas informações sem serem divulgadas né e deu no que
deu. As pessoas, muitas foram empregadas, outras não. Graças ao trabalho do
nosso atual Prefeito, Paulo Roberto Cunha, houve possibilidade de resolver e
muitas das pessoas que não vieram, que não conseguiram trabalho retornaram
aos seus estados e assim foi né. Rio Verde continua, a gente entende, gerando
muito emprego e muitas pessoas buscando trabalho no seu dia-a-dia.
(O que você acha que ocorreu ou o que você acha que faltou ao Programa
que fez com que aquele “boom” de pessoas chegasse a Rio Verde poucas
horas depois da exibição do Programa?)
- Eu acredito que a maior falha que a Rede Globo deu naquela oportunidade é
de não ter colocado a matéria como ela foi produzida. É, foi feita uma produção
realmente mostrando o lado bom, o lado ruim, as dificuldades da cidade, as
vantagens da cidade. Só que na hora de veicular a matéria divulgaram só a
parte boa, né. A que o aluguel era caro, a de que a cidade também tinha um
monte de desempregados e que, às vezes, a cidade não estava conseguindo
empregar aquela quantidade de pessoas e, também, foi deixada de informar
sobre a qualificação que, apesar de nós termos muito emprego na época, não
foi informado que a maioria dessas vagas necessitava de qualificação
profissional, de pessoas mais preparadas para ocupar essas vagas. Então, o
Globo Repórter deixou de veicular isso. Tanto que eles admitiram o erro, que
na terça-feira seguinte, o Jornal Nacional, através da Fátima Bernardes36,
apresentou uma matéria, até com cenas de Rio Verde, informando que as
pessoas não deveriam vir antes de manter contato com a cidade, para mandar
os seus currículos, saber como que, de fato, era a cidade e o que era a cidade
e, através dessa reportagem da terça-feira a gente conseguiu evitar que
inúmeras e mais inúmeras pessoas viessem a Rio Verde. Sabe-se que naquela
oportunidade nós tivemos quase toda a cidade com seus telefones
congestionados. Todas as empresas, todos os lugares, inclusive residências,
recebiam ligações de trabalhadores querendo informações sobre o que era Rio
Verde, se aquilo que foi veiculado era verdadeiro. Nós não discordamos que a
matéria era verdadeira. Realmente tinha muito emprego. O que foi deixado de
ser feito foi veicular as dificuldades que a cidade tinha. O Prefeito estava aí,
trabalhando incansavelmente para melhorar a infra-estrutura da cidade que ele
recebeu, bem dizer, falida e estava em fase de recuperação da cidade. E o
jornalista não soltou essa parte. Mas é o que a gente sempre fala, que eles
admitiram o erro, tanto que na terça-feira eles corrigiram a matéria, tanto que
evitou-se um maior número de pessoas vindo para Rio Verde.
(O setor de comunicação da Prefeitura à época quando soube da vinda da
equipe entrou em contato com a produtora para auxiliar a equipe do
Globo Repórter. Mesmo assim, a equipe não procurou a prefeitura e nem
sequer gravou com um de seus representantes, o que inclui você, que na
ocasião era coordenador do Sine. Por que você acha que a reportagem foi
conduzida dessa forma e nem você foi entrevistado?)
- Eu entendo que o Globo Repórter mesmo ou a Rede Globo, ela gosta de
“Ibope”, né. Não houve entrevista com a minha pessoa e como coordenador
imaginávamos que deveríamos ter sido entrevistados para explicar melhor para
36
Na verdade isso foi feito na segunda-feira seguinte, por William Bonner.
as pessoas. Foram entrevistadas pessoas que não tinham nada a ver,
trabalhadores ou contadores, e em momento nenhum pessoas da Prefeitura ou
o Prefeito. Então, de alguma forma a gente entende que a matéria foi capciosa,
que eles queriam ter “Ibope” como já fizeram em outras cidades né, que a
gente viu, outras cidades que eles veicularam matérias e tiveram problemas
devido à matéria, à má informação. A Rede Globo naquela oportunidade eu
acho que faltou um pouco com a verdade, porque se quisesse realmente
informar corretamente teria ouvido a assessoria de imprensa da Prefeitura, que
não foi, o próprio Prefeito e também a coordenação naquela época que era a
minha pessoa. Então eu acho que faltou um pouco com a verdade. É aquilo
que eu disse. Na terça-feira eles entenderam um pouco e corrigiram um pouco
das falhas que cometeram que, graças ao bom desempenho do Paulo Roberto
Cunha nós evitamos um mal maior. Porque o número de pessoas que chegou
e os que viriam poderíamos ter tido aí uma invasão, um problema sério na
cidade, porque não estava preparada para receber tanta gente.
(Você também esteve acompanhando as filmagens naquele dia no Sine.
Como foi feita a condução das gravações das cenas e com aquelas
pessoas que estavam lá? Aquela fila mostrada existia?)
- Realmente, público existia. O Sine da época que nós administrávamos era
uma constância de gente em busca de emprego. Sobre a condução das
entrevistas é o procedimento que a gente vê. Saber que emprego a pessoa
está buscando, há quanto tempo ele estava desempregado, como ele
funcionava naquela ocasião, como que eram os encaminhamentos. Então
assim, muito, a matéria em si foi feita de forma correta, só que na hora de
veicular eles não veicularam como foi dito e colocou só a parte que interessava
a eles. A parte que interessava à cidade eles não colocaram.
(Então você acha que na verdade aquele programa mostrou uma pauta
pronta ou que a pauta foi construída com os dados levantados na redação
somados à realidade encontrada na cidade?)
- Eu acredito que foi isso mesmo porque se fosse feita uma matéria mais
voltada à realidade da cidade poderíamos ter evitado a vinda de muitas
pessoas que devido estarem desempregadas veêm uma matéria daquela e não
querem nem saber, pegam o ônibus e vem. Então se tivesse feito uma matéria
mais programada, mais organizada, da forma que foi feito na terça-feira, nós
teríamos, às vezes, vindo pessoas, empregado essas pessoas, mas não ter
havido a invasão de quantas pessoas vieram e que tiveram problema de
conseguir trabalho e até mesmo de conseguir voltar. Porque muitas pessoas
tinham, o pouco que tinham investiram vindo para a cidade, mas também, Rio
Verde, não aqui querendo puxar farinha, mas tinha um Prefeito ou tem um
Prefeito importante que conseguiu resolver essas dificuldades sem gerar um
problema maior, um problema social.
(Com a exibição do Programa o que aconteceu com a rotina da agência
do Sine que até convocou um reforço policial?)
- Nós recebíamos em média, na agência do Sine, umas 500, 600 pessoas por
semana. É lógico que no dia da matéria esse número quase que dobrou ou
quadruplicou em número de pessoas aí. Vieram as pessoas que aqui já
estavam mais aquelas que vieram de outra forma, mas conseguimos atender a
todos, resolver o problema. É lógico que a segurança foi chamada porque o ser
humano, às vezes altera de função, e a gente pediu um reforço para dar
segurança até mesmo à equipe de funcionários que tinha e evitar que fosse
feita uma baderna. Porque nessa época veio muito baderneiro também. Mas
não precisou a polícia tomar nenhuma atitude mais séria, mais drástica, as
pessoas se controlaram, se organizaram e graças a Deus a gente atendeu
todos os que vieram naquela oportunidade.
(Muitos boatos surgiram na época. Boatos envolvendo a Prefeitura,
boatos de quantitativo de pessoas. O que você se recorda que tenha
circulada pela cidade naquela ocasião?)
- Boatos você vê que no meio político eles surgem todos os dias e você vê
pessoas que não tem o compromisso com a cidade que aproveitam do
momento para falar mal. Disseram ali que a Prefeitura comprou o Globo
Repórter, que pagou para rodar aquela matéria, para divulgar aquela matéria e
que na verdade nós sabemos que não teve nada disso. Rio Verde a gente não
pode esconder. Naquela oportunidade era uma das cinco cidades do País que
mais gerava emprego e não era fato inventado, era fato verdadeiro e tanto que
não fomos nem à Prefeitura, porque se a Prefeitura tivesse tido algum
problema com a vinda desse pessoal ela teria participado da matéria, tanto que
não participou, né. Porque quando você paga para participar de alguma coisa
você tem que aparecer e na verdade nem o Prefeito Paulo Roberto Cunha,
nem o Sérgio Macedo, nem a própria assessoria de imprensa, ninguém
participou da matéria. Apesar de nós termos acompanhado a matéria, eu acho
que nós, no momento em que você é visitado, por um repórter, não vejo porque
você omitir uma informação desde que isso seja programado para ser
informado. Foram os boatos que surgiram na época, mas não era da forma que
as pessoas diziam e que realmente a gente conseguiu sanar e que realmente a
Prefeitura tinha um compromisso sério e tem esse compromisso sério até hoje,
tanto que o Prefeito Paulo não mede esforços para ajudar a empregar as
pessoas, tanto que o Sine hoje continua ainda empregando muita gente,
mesmo a gente sabendo que não emprega da forma como empregava, porque
a gente sabe, tem a crise no campo, vê os problemas do dia-a-dia, então por
isso que, às vezes, o número de emprego diminui, mas é por isso que o
Prefeito está aí, brigando para poder aumentar esse número de emprego e ter
mais gente trabalhando.
(Hoje, ao observar aquele episódio, que lições Rio Verde absorveu
daquele momento?)
- Eu acho que tudo o que se vai fazer, antes de ser feito você tem que
realmente exigir para que seja da forma com que está sendo feito. Eu acredito
que no âmbito geral todas as partes aprenderam, mas eu acredito que Rio
Verde também ganhou muito com isso, apesar de todas as dificuldades que
foram passadas queira sim, queira não, Rio Verde hoje é reconhecida
nacionalmente. Então, eu não vejo que a matéria foi cem por cento prejudicial.
Teve as suas dificuldades, mas teve também os seus ganhos. Então eu acho
que as lições foram aprendidas e eu acredito que agora, tanto o atual
coordenador como a própria Prefeitura, no momento em que for feito uma
matéria novamente, vão exigir a forma que será feita. Que, ou a matéria é feita
dessa forma ou então não é feita.
(O Sine também trabalhava com recebimento de currículos por e-mail. O
que aconteceu depois da exibição do Programa?)
- É, nós tivemos após a veiculação do Programa, a média de currículos que
nós recebíamos girava em torno de, vamos supor, 100 currículos por mês. Na
veiculação da matéria eu acredito que nós devemos ter recebido em torno de
mais, entre e-mails e currículos em torno de 50 mil. Então, muito currículo,
muito e-mail, tanto que nós ficamos aí um tempão “baixando” os e-mails para
poder retirar os currículos, para ver o que a gente fazia para poder ajudar as
pessoas. Mas de uma forma foi importante também. Deu-se a oportunidade de
ver muito currículo para suprir às vezes aquela necessidade das vagas. Então,
às vezes, muito emprego com bons salários e currículos bons é fácil, às vezes
de você estar conseguindo esse trabalho.
6. JOÃO ROBERTO NEVES
Entrevista feita com o responsável pelo terminal rodoviário de Rio Verde,
João Roberto Neves, no dia 17 de outubro de 2006.
(No dia 6 de fevereiro de 2004 a Rede Globo colocou um Programa Globo
Repórter no ar dizendo que Rio Verde estava entre os cinco municípios
que mais geravam emprego e renda no Brasil. Você, como administrador
da estação rodoviária, do que se recorda a partir do momento que esse
programa foi mostrado a todo Brasil?)
- O que eu tenho a recordar é todo o transtorno, o movimento de gente que deu
aqui no terminal rodoviário. Pessoas que vinham de toda parte do Brasil,
principalmente do Nordeste, São Paulo, atrás de emprego. Muitos vendiam o
que tinham para tentar a sorte. Só que chegavam aqui e a realidade era outra.
Tinha emprego aqui? Tinha, mas a qualificação da mão-de-obra era grande. E
isso gerou um tumulto porque, ônibus que sai daqui, conexão de passagens,
pessoas que vinham e pegavam até quatro a cinco ônibus para chegar até Rio
Verde e que chegaram aqui querendo que nós os devolvêssemos (sic) ao local
de origem sendo que nós não tínhamos como embarcar uma pessoa daqui
para Bahia e lá pegar outro carro para outro lugar. Então o deslocamento foi
muito transtorno, muito trabalho pra gente.
(Hoje você tem em média um fluxo de pessoas na rodoviária e como esse
fluxo de pessoas ficou e se modificou naqueles dias de programa?)
- O fluxo hoje é normal, é rotineiro. Vamos falar assim, é em média duzentos e
cinqüenta, trezentas pessoas dia que embarcam e desembarcam no terminal,
com destino a Goiânia, Brasília, São Paulo, Uberlândia e outras cidades da
região, seja Jataí, São Simão, Iporá, então nós temos esse movimento aqui,
entre 300 até quatrocentos quando chegam feriados. Uma média de um dia
para o outro dá umas trezentas e cinqüenta pessoas. São pessoas rotineiras.
Agora quando chega final do ano, as pessoas que migraram para Rio Verde,
que trabalham em Rio Verde, que moram em outras cidades, em outros
estados e que retornam para suas famílias, então para Dezembro o movimento
é muito grande para o terminal.
(E depois da veiculação daquele Programa, como é que ficou esse fluxo,
o movimento? Quantas pessoas desembarcaram em Rio Verde naqueles
dias posteriores ao Programa?)
- Uma média de quatro a cinco mil pessoas. Se não me engano, foi no
domingo, eu fretei ônibus para ficar parado já na plataforma de embarque. O
pessoal desembarcava e já embarcava de volta porque não tinha passagem e
não tinha como nós alojarmos esse tanto de gente. Rio Verde não estava
preparado para isso. Então eu tinha informação e eu ficava em comunicação
nas empresas, São Paulo, Uberlândia, Goiânia, Brasília, para saber como
estava o movimento vindo e então eles me informavam, “Roberto, está saindo
gente sem parar, tudo atrás de emprego”. São Paulo mesmo a Nacional me
ligou que estavam descendo três ônibus lotados de gente. Eu falei não
embarca e eles disseram que não tinha jeito porque as pessoas já tinham
comprado passagens. Então o que é que nós fizemos: contratamos um ônibus,
fretamos um ônibus e já deixamos à disposição e já chegava e já fazia a
lotação e mandava de volta. Se não me engano, para São Paulo mesmo foram
três ônibus fretados que mandaram gente embora. E isso deixando gente em
Uberlândia, Ribeirão Preto, para se deslocarem para outro local.
(E hoje você vendo aquele episódio do Globo Repórter e dos efeitos que
ele gerou em Rio Verde, por que ele provocou aquilo na população? Você
acha que ocorreu alguma falha ou não do Programa e por que houve
aquela invasão em Rio Verde?)
- Eu creio que houve uma má informação. A Rede Globo é uma empresa
conceituada, mas ela falhou quando ela falou só de emprego. Ela teria que ter
falado em dificuldade, o acesso ao trabalho, a mão-de-obra qualificada que
exigia. Então ela falou que Rio Verde era um “Eldorado”, tem emprego. Então
começaram a chegar desempregados. Tinha pessoas que não tinham como
colocar para fazer um serviço. Tinha uma que falou aqui: “Eu quero serviço!”.
Mas que serviço? Com salário alto, não queria ganhar dois salários, não queria
ganhar um salário. E Rio Verde aquela época tinha muito emprego de um
salário e meio até três salários tinha, nessa faixa, até para quem não tinha
mão-de-obra qualificada. Mas a partir disso a mão-de-obra cobrada era a
altamente qualificada. E isso gerou aquele tumulto. As pessoas chegavam,
ficavam bravas, diziam que a Prefeitura era a culpada, que a gente colocou
aquilo para poder chamar a atenção e não foi nada disso. A gente, eu mesmo,
não tinha noção daquela matéria. Eu assustei à noite quando eu vi aquela
matéria na televisão. Aí, quando foi no outro dia, começou telefonema. O da
rodoviária congestionou, não parava de tocar. O pessoal chegava aqui e falava:
“Eu vendi o que eu tinha para vir para cá”. Outros falavam: “Eu vendi bicicleta,
vendi carro, vendi geladeira”. Então essa era a história que eles contavam.
Então eu procuro: Como uma pessoa vai se deslocar só com o dinheiro da
passagem para Rio Verde para procurar emprego. É difícil de acreditar
também. Teve muita exploração até do pessoal que veio para cá explorar para
depois retornar ao seu local.
(E com relação à cidade, como ficou com a chegada dessas quatro a
cinco mil pessoas? O que você se recorda de ter presenciado e que te
chamou a atenção?)
- Quando eu disse quatro a cinco mil pessoas, eu disse aqui pelo terminal, que
chegaram de ônibus, mas o movimento na cidade nesses cinco dias após, a
cidade, nós tivemos um fluxo de quarenta mil pessoas dentro de Rio Verde.
Muitas pessoas vinham de carro, muitas de ônibus também. Uma coisa que me
chamou muita atenção foi uma mulher aqui. Ela chegou e eu tentando, porque
eu não tinha carro naquela hora para Belo Horizonte, eu não tinha carro para
São Paulo. Nós estávamos tentando contratar empresa, contratar carro, todo
mundo desprevenido, não tinha como pegar dinheiro aquela hora e comprar
passagens. Tinha empresa aqui que só vendia passagem à vista. Teve uma
empresa que disse: “Olha Roberto, até Uberlândia eu te atendo no que for
preciso. Se tiver que locar um, dois, três ônibus eu te atendo”. Daí eu cheguei
no pessoal e disse que tinha uma empresa que me atenderia até Uberlândia e
perguntei quem gostaria de ir até Uberlândia e de lá se deslocar até suas
cidades de origem que eu tinha como mandá-los. E chegou uma senhora, eu
não sei por que, todo mundo já tinham concordado, mais de cinqüenta pessoas
já tinha concordado em ir até Uberlândia para de lá deslocarem até seus locais
de origem, e daí ela chegou e tumultuou todo mundo. Disse que não, que a
Prefeitura era responsável, que a Prefeitura tinha que bancar tudo, que nós
éramos culpados daquilo, que o Prefeito foi muito irresponsável na época, que
a comunicação falhou, que colocamos aquilo para chamar a atenção, mostrar
Rio Verde. Daí eu falei, não minha senhora, não é nada disso. Eu tenho como
atender agora esse pessoal que está aqui ou eles vão ter que ir para um
alojamento no Centro de Treinamento João XXIII para ficarem lá, que não é
uma estrutura boa, mas é a que nós temos para disponibilizar, ou eles entram
nesse carro agora, que eu estou fretando, e que vai levá-los até Uberlândia. De
lá tem gente que vai para Belo Horizonte, outros para o Sul de Minas. De todo
jeito eu não tenho carro que vá para essas outras localidades saindo aqui de
Rio Verde. E ela me tumultuou muito, gerando aquela polêmica, o pessoal
revoltou na ocasião, eu tive que chamar até a polícia para poder dar um reforço
para a gente porque ficou muito cansativo, o pessoal muito agressivo, pessoas
muito agressivas, que estavam passando fome, e isso foi, marcou o nosso diaa-dia. Aquele tumulto de gente e a rodoviária não tinha estrutura para suportar
aquelas pessoas, aquelas bagagens que chegavam, o guarda-volumes era
pequeno, então nós passamos aqui, eu chegava quatro horas da manhã e
tinha dia que saía daqui à meia-noite, atendendo o pessoal na medida do
possível.
(Você se recorda da história de Rio Verde, em seus mais de 150 anos, que
tenha ocorrido outra situação como essa, onde a rodoviária esteve com
essa superlotação e a cidade também?)
- Não. Que eu me recorde não. Eu nunca presenciei isso aqui. A única vez que
a gente vê um tumulto no terminal rodoviário é final de ano, como eu falei para
você. Geralmente no dia 22 e 23 de dezembro. O movimento maior desse
terminal ele gera nessa época. Que tem anos aqui em Rio Verde, de embarcar
800 pessoas aqui do terminal nessa época. Já teve um ano aqui de embarcar
mil e duzentas pessoas aqui no dia 23 de dezembro. Mas nada igual ao que
tivemos aqui com aquele Globo Repórter, em que nós vivemos aquele tumulto
cerca de dez dias. A gente disponibilizou alimentação, a gente teve doação.
Muitas pessoas nos ajudaram com alimentação porque a gente não dava
conta, a Prefeitura não tinha estrutura para fornecer aquele tanto de marmitas
para o pessoal. Muitos empregaram, muitos estão aqui trabalhando em Rio
Verde. Conheço gente que veio e que se manteve na cidade, mas muitos
retornaram.
7. CÓPIA DO
UNIVERSIDADE
OFÍCIO
ENCAMINHADO
AO
PROJETO
GLOBO
Administração Habilitação em Marketing
Habilitação em Comércio Exterior
Habilitação em Administração de Empresas
Habilitação em Sistemas de Informações Gerenciais
Reconhecimento Portaria nº 2.243– DOU de 27/06/2005.
Turismo – Reconhecimento Portaria nº 2.244 – DOU de 27/06/2005.
Direito – Autorização Portaria Nº 3674 – DOU de 09/12/2003
Enfermagem – Autorização Portaria N º 202 – DOU de 14/01/2004
Comunicação Social Hab. Publicidade e Propaganda –
Autorização Portaria Nº 2.417 – DOU de 11/08/2004
______________________________________________________________________
Rio Verde, 19 de Outubro de 2006. OFÍCIO 0042/2006 – Diretoria Geral
Projeto Globo Universidade,
Encaminho este ofício conforme indicação feita em
resposta a um e-mail de minha autoria encaminhado ao Programa Globo
Repórter no dia 4 de outubro e respondido pela equipe de internet do Programa
em 9 de Outubro. Este documento tem o referendo da Instituição de Ensino
Superior onde leciono, apoiadora desta pesquisa.
Caso haja necessidade, a confirmação de dados pode ser feita na
Universidade de Marília (UNIMAR), com a Secretária de Pós-Graduação,
Rosângela, ou com a Coordenadora do Curso de Mestrado em Comunicação,
Professora Doutora Suely Flory, por meio de e-mail [email protected], ou
por telefone (14) 2105.4075.
Sou jornalista, com especialização em Assessoria em Comunicação
(UFG) e mestranda em Comunicação pela Universidade de Marília (UNIMAR),
na linha de pesquisa Produção e Recepção de Mídia. Estou em fase final de
redação de minha dissertação de mestrado, que versa sobre o tema: A
Superexposição de Rio Verde (GO) na Mídia, tendo como orientadora a
professora Doutora Carly Batista de Aguiar (Universidade Estadual de
Londrina/UNIMAR).
Nesse trabalho, em uma de suas partes, o tema abordado e analisado é
o programa do Globo Repórter exibido em 6 de fevereiro de 2004, onde foram
mostradas as cinco cidades que mais geravam emprego e renda, à época, de
acordo com dados do CAGED/MTE. Rio Verde foi uma das cidades mostradas
e, após a exibição do Programa, o Município foi “invadido” por milhares de
migrantes à procura de emprego, vindos de todas as partes do País.
__________________________________________________________________________________________________________
____
AESGO – ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS - Faculdade Objetivo
Rua 12 de Outubro, Quadra 64 – Lote 02 – Jardim Adriana – Rio Verde – GO – CEP.: 75906-577
Telefone (0XX) 64 3621 3539 - Fax (0XX) 64 3621 4543
Em minha dissertação faço a análise daquele Programa, recontando a
história por meio de arquivos de jornais impressos (locais, regionais e nacional)
que trouxeram matérias sobre o episódio e por meio de entrevistas de pessoas
que participaram ativamente das filmagens em Rio Verde, acompanhando a
equipe da Rede Globo, e que atuaram no controle à crise gerada pela invasão
dos migrantes.
Para completar e mesmo permitir que as análises feitas na dissertação
contemplem todos os lados envolvidos no episódio, não resultando apenas em
uma análise parcial, é essencial que possa entrevistar algum representante do
Programa. Isso é imprescindível até para que sejam atendidos os preceitos do
exercício da profissão de jornalista.
Sendo assim, a posição do Globo Repórter e de sua equipe me permitirá
analisar com mais propriedade os fatos, coletando a opinião/versão dos que
atuaram na produção do Programa em questão.
Venho, então, solicitar apoio no sentido de responder uma entrevista por
e-mail ser encaminhada a um representante do Globo Repórter ou aas
profissionais abaixo indicados, componentes da equipe que esteve em Rio
Verde em Janeiro de 2004:
- Flávio Fachel (repórter);
- Isabela Dutra (editora) e
- Luci Vasconcelos (produtora).
As entrevistas têm a finalidade de reconstrução dessa história e serão
utilizadas no corpo do trabalho na íntegra ou apenas trechos. Ressalta-se que
esta pesquisadora se compromete a publicar, em anexo, a íntegra de todas as
entrevistas respondidas pelo Globo Repórter/Equipe.
A previsão para a defesa desta dissertação é para março de 2007,
sendo que a qualificação está marcada para dezembro próximo.
Seguem as perguntas:
1) O que a pauta apresentava sobre Rio Verde e o que, de fato, motivou a
realização daquele Programa, exibido no dia 6 de fevereiro de 2004?
2) Após a exibição do Programa, os efeitos de recepção foram imediatos.
Centenas de pessoas chegaram à cidade em busca das vagas apresentadas
pelo Programa, o que ocasionou um certo caos no Município que tem pouco
mais de 130 mil habitantes. A produção do Globo Repórter tomou
conhecimento dessa situação e o que foi feito para minimizar os efeitos, em Rio
Verde, gerados pela exibição do material à milhares de telespectadores?
3) O Globo Repórter acredita que houve ou não falha na condução da
reportagem, provocando uma migração instantânea de desempregados a Rio
Verde?
4) Quais as medidas tomadas pelo Programa na tentativa de conter a chegada
de migrantes à Rio Verde (GO)?
5) O Programa mostra uma fila de empresários em busca de funcionários no
Sine de Rio Verde. O que motivou aquela cena e o que o Programa pretendia
passar aos telespectadores ao mostrar aquela fila? Ela foi produzida?
6) A Prefeitura de Rio Verde não foi procurada e nem foi “ouvida” pela
reportagem. Por quê?
7) Aquele Programa do dia 6 de fevereiro de 2004 foi concebido na redação do
Globo Repórter, apenas com dados do CAGED e fazendo com que a equipe
fosse a campo para seguir a pauta pronta ou foi feita a verificação in loco das
informações, norteando assim a condução da pauta caso baseada na realidade
local?
8) O que faltou ao Programa dizer aos milhares de telespectadores que
assistiram a um cenário de geração de emprego e renda mostrado, para que
não houvesse a migração imediata a Rio Verde de pessoas em busca de
emprego e sem qualificação?
9) O Globo Repórter teve alguma informação de que as outras quatro cidades
passaram pelas situações semelhantes a Rio Verde (GO), registrando um
movimento imediato de chegada de migrantes?
Aguardo um retorno.
Atenciosamente,
Adriana Souza Campos
Professora Universitária
IESRIVER
Fábio Buzzi Ferraz
OBSERVAÇÃO:
Contato - (64)8411.4077/(64)3621.3539 (manhã/noite)
e-mail para resposta: [email protected]
Diretor Geral
IESRIVER
8. CÓPIA DA MENSAGEM RESPONDIDA PELA EQUIPE DE INTERNET DO
GLOBO REPÓRTER
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Olá!
Há uns 15 dias encaminhei esse mesmo e-mail solicitando uma entrevista cujas
perguntas estão encaminhadas abaixo. Até o momento não consegui nenhum retorno,
seja para o encaminhamento das respostas às perguntas feitas, seja para uma negativa
para tal solicitação.
Peço, novamente, uma resposta urgente a esta solicitação.
Rio Verde, 4 de outubro de 2006.
Adriana Souza Campos
Boa tarde!
Sou jornalista e estou fazendo mestrado em Comunicação na Universidade de
Marília, na linha de pesquisa Produção e Recepção de Mídia. O tema do meu
trabalho versa sobre um programa do Globo Repórter que foi exibido no dia 6 de
fevereiro de 2004 sobre as cinco cidades que mais geravam emprego e renda no País.
Para a minha dissertação, em que abordo a superexposição de Rio Verde no
referido programa, é essencial que entreviste algumas pessoas da equipe que esteve no
Município ou, pelo menos, com um responsável do Globo Repórter, para ver o lado de
quem produziu o programa e como se deu a condução da reportagem.
A equipe que esteve em Rio Verde e que gostaria de entrevistar é composta por
Flávio Fachel (repórter), Isabela Dutra (editora) e Luci Vasconcelos (produtora). Essa
entrevista seria feita por e-mail.
Encaminho, então, as perguntas, para que possam ser repassadas e respondidas
por esses três profissionais, ou por um representante do Globo Repórter.
Aguardo um retorno, com urgência.
Adriana Souza Campos
(64)8411.4077
Seguem as perguntas:
1) O que a pauta apresentava sobre Rio Verde e o que, de fato, motivou a realização
daquele Programa, exibido no dia 6 de fevereiro de 2004?
2) Após a exibição do Programa, os efeitos de recepção foram imediatos. Centenas de
pessoas chegaram à cidade em busca das vagas apresentadas pelo Programa, o que
ocasionou um certo caos no Município que tem pouco mais de 130 mil habitantes. A
produção do Globo Repórter tomou conhecimento dessa situação e o que foi feito para
minimizar os efeitos, em Rio Verde, gerados pela exibição do material à milhares de
telespectadores?
3) O Globo Repórter acredita que houve ou não falha na condução da reportagem,
provocando uma migração instantânea de desempregados a Rio Verde?
4) O Programa mostra uma fila de empresários em busca de funcionários no Sine de Rio
Verde. Segundo pessoas que estiveram no local no dia da gravação, a fila foi produzida
pela equipe do Globo Repórter. O que motivou aquela cena e o que o Programa
pretendia passar aos telespectadores ao mostrar aquela fila?
5) A Prefeitura de Rio Verde não foi procurada e nem foi “ouvida” pela reportagem. Por
que?
6) Aquele Globo Repórter foi concebido na redação do Globo Repórter, fazendo com que
a equipe fosse a campo para seguir a pauta pronta ou a intenção era verificar a
realidade in loco, alterando a condução da pauta caso a realidade encontrada não fosse
a mesma?
7) O que faltou ao Programa dizer aos milhares de telespectadores que assistiram a um
cenário de geração de emprego e renda mostrado, para que não houvesse a migração
imediata a Rio Verde de pessoas em busca de emprego e sem qualificação?
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