N
ordeste
é o concelho mais afastado da grande
bacia leiteira dos Arrifes. Com carácter montanhoso é
aqui que fica situado o ponto mais alto de S. Miguel, o
Pico da Vara com 1103 metros de altura.
Tem menor vocação para a produção de leite comparativamente com zona central da ilha, mas beneficia de uma grande
quantidade de vegetação endémica, assim como todo um conjunto de
flora rara e de grande valor. O Priolo, ave endémica da ilha, encontra
aqui e no vizinho concelho da Povoação o seu habitat. Trata-se da
espécie de ave mais ameaçada e da segunda espécie de ave mais rara
em toda a Europa.
Actualmente o concelho é composto por 9 freguesias, São Pedro de
Nordestinho até 2002 fazia parte de uma única freguesia chamada de
Nordestinho, conjuntamente com Algarvia e Santo António de Nordestinho hoje também independentes.
Embora com alguma tendência
de abandono da actividade, a
lavoura ainda continua a ser um
motor de desenvolvimento do
concelho.
Evolução da População no
concelho do nordeste
Concelho: Nordeste Freguesia: S. Pedro Nord. Idade: 37 Formação: 4.º Classe (tirou vários cursos de formação profissional) Área explorada: 200 Alq. / 27.85 Hectares Localização das parcelas: Cerca de 45 parcelas distribuídas na zona da freguesia de S. Pedro Recursos Humanos: O próprio Parcelas de renda: 140 alq. / 19.5 Hectares Próprias: 60 Alq./8.36hectares História da exploração: Toda a sua vida foi dedicada às vacas, mas aos 25 anos, em 1996 instalou‐se com um projecto de primeira instalação para 22 vacas, em 2002 comprou mais 19 animais e 70.000 litros de quota, depois disso foi com‐
prando pequenas parcelas de terra e alguns animais. Efectivo Animal Total de animais: 78 Fêmeas reprodutoras: 46 Vitelas: 8 Vitelos: 3 Novilhas Cheias: 14 Novilhas vazias: 6 Machos reprodutores: 1 Maneio reprodutivo Beneficiação de novilhas: Utili‐
za o touro Beneficiação das vacas: Utiliza só inseminação Produção de alimentos Silagens: 26 a 30 Alqueires (cerca de 4 hectares) Recolha de Leite Entrega no posto de leite N.º de tractores: 1 João Luís Resendes Borges Entrevista
Porque é que veio para esta actividade? Fui criado neste meio e é disto que eu gosto, apesar de já ter vivido melhores tempos, pois estamos a passar por algumas dificuldades na actividade. Todos nós estamos cientes dessas dificul‐
dades, os preços dos factores de produção estão a subir constan‐
temente, estamos a passar por uma crise na agricultura? Julgo que sim, está tudo a subir! Uma saca de adubo subiu 5€ num ano, em 1997 enchia um depósito do tractor com combustível rodo‐
viário por 25€, agora para encher o mesmo
depósito são 100€ e o tractor é o mesmo. A subida do leite é que ainda permitiu equili‐
brar alguma coisa se não… Mudou alguma rotina na exploração devido a esta situação? De uma forma geral não, apenas deixei de fazer silos trincheira e passei a fazer apenas rolos de feno‐silagem. Embora fiquem mais caros, há menos des‐
perdícios e são mais fáceis de trabalhar. Onde é que entrega o leite? Na Bel. Eles estão a pagar menos 2.5 cêntimos do que a Unileite, tem esperanças que subam o preço de leite? Sim, pelo menos fala‐se que irão dar mais um cên‐
timo do que a Unileite no Inverno, vamos ver. Como é que se sente em relação aos colegas que estão a receber nas mesmas condições mais 2.5 cêntimos? Não é bom para nós, mas a Unileite não consegue receber toda a gente. Já pensou em mudar de fábrica? Já houve alturas em que pensei faze‐lo, agora é mais difícil. Como disse, não têm capacidade para aceitar toda a gente, mas por mais 2.5 cêntimos por litro quem é que não mudava? A Unileite vai conseguir manter esta diferença de preços? Penso que sim, como cooperativa tem mais vanta‐
gens uma vez que pertence aos associados, já a Bel é uma empresa que pertence aos accionistas, e estes querem é ganhar mais. Isso vê‐se, a Unileite quando tem lucros distribui pelos associados, a Bel não o faz. E especificamente no Nordeste quais é que são as principais dificuldades? Uma delas é o facto de os produtos chegarem cá mais caros do que aos produtores de Ponta Delga‐
da, Lagoa e Ribeira Grande. Poderá ser que essa auto‐estrada que estão a construir nos venham beneficiar. Para além da auto‐estrada, o que é que era preciso para desenvolver mais esta zona da Ilha? O emparcelamento é fundamental, diminuía o tem‐
po e custos com deslocações e transportes de águas, animais, etc. Que outros investimentos pensa fazer nos próxi‐
mos tempos? Talvez fixar‐me nesta parcela com uma sala de ordenha. Mas para já, adquirir um tanque de frio, fazer um parque de alimentação e possivelmente um cabanão para arrumos. O que é que o leva a tomar essa decisão de instalar um tranque de frio? O leite é mais bem pago, o leite terá melhor quali‐
dade e depois não terei as preocupações com os horários do posto do leite. Como tenho electricida‐
de e água aqui não tenho problemas, fixando‐me aqui também será mais fácil um dia mais tarde para as minhas filhas, um dia que fiquem com isto. Não se importava de ver as suas filhas a trabalhar nesta área? Não, desde que gostassem do que faziam. Este é um concelho com tendência para desertifi‐
car? Fala‐se que aqui na freguesia já habitaram cerca de 1000 pessoas, agora terá pouco mais que 200. As pessoas mudam‐se, querem bons empregos sem se chatearem muito, eu mesmo vejo muitos filhos de lavradores que não querem saber disto e vão morar para a cidade com empregos que não dão para as despesas. O que é que é preciso para cativar os jovens? É bom que os jovens vão estudar, vale mais saber trabalhar que só trabalhar muito. Dessa forma vão ganhar mais dinheiro no futuro e com menos traba‐
lho que nós. O saber não ocupa lugar. A via rápida vai atravessar‐lhe os terrenos a meio até que ponto isso o irá prejudicar? Vai‐me dividir a parcela, será uma faixa com cerca de 60 metros, quero‐me fixar aqui e vou ficar com menos área. Para além do mais, vai‐me ficar isolada uma pequena parcela que não irá ter proveito nenhum. Também não sei se o que me vão pagar dará para cobrir as despesas da compra. Qual é a área que vai beneficiar mais? A agricultu‐
ra, a construção ou mais o turismo? Os turistas não querem andar na auto‐estrada, pre‐
ferem ir pelas freguesias vendo paisagem, vai trazer vantagens por exemplo para o centro de saúde e para os dentes que chegam mais rapidamente ao hospital. Como os preços das casas e terrenos são muito altos na cidade, talvez haja mais pessoas a comprar terrenos aqui e a trabalhar na cidade. No Concelhos de Ponta Delgada, Lagoa e Ribeira Grande o preço elevado das terras é um factor limitante à entrada de novos jovens no sector, aqui sente o mesmo? Não é tanto, os próprios jovens é que não querem mesmo saber disto. Não têm dias livres, não têm fins‐de‐semana, têm de se levantar cedo, querem mudar de vida. Com 50 animais já tem bastante para fazer, não tem mais trabalhadores porque isso é mais um encargo ou é difícil arranjá‐los? Sim, é um encargo elevado, mas é verdade, tam‐
bém não é fácil arranjar trabalhadores. Aqui na fre‐
guesia ninguém tem empregados, são os próprios donos a fazer tudo. Vale a pena investir na agricultura? Isto é que é o nosso ganha‐pão, por isso não resta outra solução se não investir na área. O problema é que está tudo muito incerto e não sabemos se os investimentos compensam. Carlos Oliveira 
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Entrevista com João Luís Resendes Borges – Nordeste