UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Silvia Resende Carvalho de Oliveira Radiojornalismo popular em emissoras FM de Salvador Monografia apresentada para a conclusão do Curso de Graduação em Comunicação- Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia Orientador: Prof. Fernando Conceição 1 SALVADOR- BAHIA 2002 1.0 - Introdução: Apesar do desenvolvimento tecnológico a serviço de meios de comunicação como a televisão e a internet, o rádio continua sendo o veículo de massa de maior penetração no Brasil. Segundo Dados do Censo 2000 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dos 44.721.434 domicílios particulares permanentes do Brasil, 39.109.478 possuem um aparelho de rádio. Ou seja, no Brasil 87,4% dos domicílios possuem um aparelho de rádio. Na Bahia, esse número é de 80,7% dos domicílios. No caso da TV, ainda segundo dados do IBGE 86,9% das residências do Brasil e 73% das residências da Bahia possuem pelo menos um aparelho de TV (ver quadro). Brasil Bahia 2 Número total de domicílios particulares permanentes 44.721.434 3.166.760 Número de domicílios particulares permanentes que possuem aparelho de rádio 39.109.478 (87%) 2.558.166 (80,7%) Número de domicílios particulares permanentes que possuem aparelho de TV 38.906.707 (86,9%) 2.311.818 (73%) “Em 2001, 88% da população brasileira ouve rádio AM (amplitude modulada) ou FM (freqüência modulada) pelo menos uma vez por semana”1. Tratase de um meio que atinge todas as classes sociais e leva comunicação aos cantos mais remotos do país. Mais do que isso, leva comunicação de uma maneira diferenciada, quase individual. Como citou McLuhan, o rádio é um meio quente, uma espécie de sistema nervoso da informação. “O rádio afeta as pessoas, digamos, como que pessoalmente, oferecendo um mundo e comunicação não expressa entre o escritor-locutor e o ouvinte. Este é o aspecto mais imediato do rádio. Uma experiência particular.”2 Quando foi introduzido no Brasil, no final da década de 20, por Roquete Pinto, o rádio era visto como um revolucionário aparelho que poderia ser usado com cunho educativo. Inicialmente voltado para classes sociais altas e oferecendo programação cultural de qualidade, o rádio passou por várias mudanças ao longo de seus 80 anos de surgimento no Brasil. A partir da década de 60, com o surgimento da televisão, muitos anunciantes passaram a investir na TV3, causando uma escassez de verba nas emissoras de rádio, que tiveram que buscar uma linguagem mais econômica, com a introdução de música em suas programações. É justamente nessa 1 Almanaque Abril 2002. Os dados apresentados são baseados em pesquisa do Intituto Ipsos-Marplan e são referentes ao primeiro semestre de 2001. 2 McLuhan, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. Cultrix, São Paulo, 1964, p. 336. 3 De acordo com o Sercin – Serviço de Pesquisa de Concorrência Publicitária, em 1962 a TV recebia 24,7% dos investimentos publicitários contra 18,1% do rádio. Mais tarde em 1967, essa situação se agrava ainda mais: 43% dos investimentos vão para o meio televisivo, sobrando para o rádio apenas 14,5% da verba publicitária. 3 época que surgem as primeiras emissoras de freqüência modulada do país, que passam a oferecer uma programação musical. O jornalismo vai sendo reduzido, e nas FMs, não passa de meros boletins. A partir do final da década de 80, início da década de 90, o radiojornalismo ganha fôlego no sul do país. As emissoras -principalmente as de amplitude modulada- percebem a importância do rádio como veículo de informação e, principalmente, como formador de opinião. Surgem nessa região grandes programas noticiários e emissoras voltadas para a informação, como a Jovem Pan, Bandeirantes, Panorâmica e mais recentemente a CBN, emissora que transmite 24 horas uma programação jornalística. Em Salvador essa efervescência não ocorre. Ou pelo menos não ocorreu até o momento da realização dessa pesquisa. O jornalismo nas emissoras AM locais se reduz a noticiários esportivos e policiais. Nas FMs a situação não é diferente. Falta ainda uma programação jornalística forte que aborde temas variados de maneira responsável, tenha participação de repórteres e ouvintes, e principalmente ofereçam informações atualizadas. Até agosto de 2002, apenas 3 jornais 4 eram produzidos na capital baiana. O “Programa Ligação Direta”, da Rede Tropical Sat, comandado pelo apresentador Marco Aurélio; o “Bom Dia com Mário Kertész” e “Jornal da Bahia no Ar”, ambos da Rádio Metrópole FM e comandados pelo radialista e exprefeito Mário Kertész. Embora formatados para públicos diferentes – o “Ligação Direta” é mais popular5 que os jornais de Mario Kertész – os programas possuem algumas características comuns. Os dois são produzidos em Salvador e transmitidos ao vivo 4 Para a palavra jornal de rádio, vamos utilizar o conceito usado por Gisela Swetlana Ortriwano no livro A Informação no Rádio (ver bibliografia) onde ela define o termo da seguinte maneira: “Jornal: é o tradicional “jornal falado” das emissoras, que tem por função cobrir o último período informativo entre uma emissão da espécie e outra. Apresenta assuntos de todos os campos de atividade, estruturados em “editorias”. Contém informações mais detalhadas dos fatos e, nos casos das emissoras que levam o “palco da ação” ao ouvinte, reportagens, tanto gravadas como ao vivo. Os comentários – interpretativos ou opinativos também podem estar presentes, assim como os editoriais. Sua duração varia de 15 minutos a uma hora, havendo, hoje em dia, jornais com até duas horas e meia de duração. Precisa ser rigorosamente elaborado, com o script bem estruturado, para que possa ir ao ar sem sobressaltos”(p.92). 5 O termo popular nesse trabalho se refere ao que é oriundo do povo, ou feito ao gosto do povo, ou ainda, que agrada e atinge as classes sociais mais baixas. 4 em rede para emissoras afiliadas, no interior do Estado. Possuem repórteres, entrevistas e participação de ouvintes. Ambos os apresentadores utilizam uma linguagem popular para atrair o público. Outra semelhança é que esses programas são transmitidos por emissoras comandadas por políticos ou ex-políticos. A Tropical Sat pertence à Rede Bahia, grupo de comunicação controlado pelo exsenador Antônio Carlos Magalhães, e que abrange a TV Bahia, TV Salvador, Jornal Correio da Bahia, Globo FM, entre outras empresas. A Metrópole FM, pertence à Mario Kertész, ex-prefeito de Salvador, e empresário. Essas características serão detalhadas adiante. A presente monografia pretende analisar as estratégias discursivas dos apresentadores dos programas mencionados, destacando as estratégias utilizadas por eles para atrair e manter os ouvintes de um mesmo horário. O jornal “Escreveu não leu, o pau comeu”, da Itaparica Fm, não foi analisado pois, embora fosse anunciado como um programa jornalístico, não possui repórteres, as notícias apresentadas durante o programas são retiradas exclusivamente dos jornais locais do dia e comentadas pelos apresentadores. Além disso, passou por algumas modificações de horário ao longo do semestre em que esta pesquisa foi realizada. O “Programa das Sete”, da Globo FM, também não foi analisado, pois tratase basicamente de um programa musical que apresenta notas informativas entre as canções. Não possui repórteres, nem abre espaço para os ouvintes falarem no ar. A escolha deste tema como objeto de pesquisa de conclusão de curso, se deu devido a minha ligação com o meio rádio e meu interesse em aprender mais sobre radiojornalismo. No período de outubro de 1999 a agosto de 2000 fui produtora da Globo FM, e de fevereiro de 2002 até o momento em que a pesquisa foi realizada trabalhava como apresentadora e redatora da Rede Tropical Sat. 5 Além disso, a maneira como são produzidos os programas jornalísticos de rádio FM de Salvador levantava em mim a suspeita de que o jornalismo de rádio em Salvador era deficiente. Em vez de jornais de rádio, as emissoras optam por ter boletins informativos, com duração média de 1 minuto, normalmente patrocinados. Mais do que acatar a lei da Agência Nacional de Telecomunicações, que obriga as emissoras a destinarem cerca de 10% de suas transmissões à programas noticiosos, os boletins suprem a necessidade das empresas arrecadarem dinheiro, já que eles normalmente eram “oferecidos”6 por alguma empresa. Outro problema comum no rádio baiano são as equipes reduzidas.7 Na Itapuã FM, uma das líderes de audiência em Salvador, os 15 boletins de um minuto veiculados na programação são redigidos por uma só pessoa. Eles são escritos e gravados ainda pela manhã, perdendo dessa forma o seu imediatismo. No caso dos jornais de Mario Kertész e de Marco Aurélio, um outro aspecto pode ainda ser ressaltado. Eles são apresentados por dois radialistas, e não por jornalistas. São duas pessoas que, apesar da experiência profissional que possuem, podem não estar preocupados em respeitar o código de ética do jornalista. Sensacionalismo e falta de isenção – entre outros problemas que iremos destacar adiante – são constantes nos discursos desses apresentadores. Dessa forma, o objetivo desse trabalho de conclusão de curso é observar os discursos dos dois apresentadores no período determinado e fazer uma análise que pudesse contribuir para a crítica do jornalismo radiofônico. A partir da observação do tema, surgiram algumas hipóteses de trabalho que foram testadas no decorrer da pesquisa. A hipótese principal é a de que o radiojornalismo praticado em Salvador é deficiente e apresenta problemas éticos. 6 Os boletins são patrocinados por empresas. O problema das equipes reduzidas, sem repórteres, é destacado por Mauro de Felici: “hoje a reportagem se encontra decadente, porque os responsáveis pelos departamentos de radiojornalismo são obrigados a aceitar a informação em massa, que é transmitida para milhares de clientes no Brasil, pelas agências de notícia.” (Felici, p.45) 7 6 Uma hipótese secundária é a de que essa deficiência seria reflexo de equipes reduzidas, e mal preparadas. Muitos desses profissionais, a começar pelos apresentadores Mário Kertész e Marco Aurélio seriam radialistas pouco ou nada comprometidos com a ética jornalística. Em busca da audiência, os apresentadores apelam para utilização de métodos censuráveis, como uso de palavras de baixo calão, divulgação de denúncias que não foram checadas, uso indiscriminado de elementos religiosos - orações, mensagens e músicas religiosas-, e distribuição de brindes. Outra hipótese secundária seria a de que a qualidade desses programas também estaria comprometida por eles estarem atrelados a grupos políticos, o que por sua vez tornaria os programas parciais. Sabe-se que “A relação entre o rádio e a política nas últimas décadas contribui significativamente para a perda da credibilidade do veículo. Há casos de comunicadores que se elegeram com o voto dos ouvintes, e de políticos que se tornaram donos de emissoras para obter vantagens eleitorais e favores aos grupos que representam”.8 E esse poderia ser o caso dos programas pesquisados. O corpus deste trabalho foi constituído pelos seguintes programas: • Jornal Ligação Direta com Marco Aurélio – diariamente das 7h às 9h. • Jornal Bom Dia com Mario Kertész – diariamente das 7h às 8h. • Jornal da Bahia no Ar com Mario Kertész – diariamente das 8h às 10h. Foram gravados 15 programas, 5 programas LD, 5 BD e 5 JBA, perfazendo 25 horas de gravação. O período foi o de 5 de agosto de 2002 a 9 de agosto de 2002. A semana foi escolhida aleatoriamente. O trabalho foi desenvolvido a partir de: 8 BARBEIRO, H. e Rodolfo, P. Manual de radiojornalismo, Rio de Janeiro, Campus, 2001, p.110. 7 • Consulta bibliográfica • Coleta de dados: a) consultas a pesquisas de opinião pública (dados do IBOPE) b) entrevistas com profissionais da área de rádio Antes de partir para a análise dos programas de Mário Kertész e Marco Aurélio fez-se um levantamento do histórico do radiojornalismo do Brasil e da Bahia, como será mostrado a seguir. 8 2.0 – Histórico: O rádio chega oficialmente ao Brasil no início da década de 20, introduzido pelo professor Roquete Pinto. Antes, em 1919, em Recife, foi fundada a Rádio Clube de Pernambuco, por Oscar Moreira Pinto. Esse teria sido o primeiro registro do rádio no país. Mas, oficialmente, o rádio é inaugurado mesmo no dia 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência no Brasil. Na época, o então presidente Epitácio Pessoa lançou as transmissões provisórias da Rádio Corcovado, montada pela Westinhouse como demonstração. Finalmente, em 20 de abril de 1923 entra no ar, a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, do professor Roquete Pinto. “Levar a cada canto um pouco de educação, ensino e alegria” era o lema dessa rádio. No início, era um veículo de elite, feito para a elite. Como os aparelhos não eram produzidos no Brasil, precisavam ser encomendados no exterior. Tinham preços altos e apenas as pessoas com maior poder econômico tinham acesso ao equipamento. A programação era voltada para fins educativos, com leitura durante a manhã dos jornais impressos e de poesias, transmissão de óperas, concertos e músicas clássicas. Apesar disso, Roquete Pinto via nas emissoras o meio eficaz de interiorizar a cultura. Ele estava convencido de que o rádio se transformaria em um veículo de comunicação de massa. Ainda na década de 20, o rádio começa a se espalhar pelo país. Surgem as primeiras emissoras, sempre com nomes de “clubes” ou associações, formadas por idealistas que acreditavam no novo meio. Eram esses idealistas que “sustentavam” as emissoras, através de doações, pois os anúncios ainda eram proibidos. 9 A primeira emissora baiana é inaugurada em 24 de março de 1924. Trata-se da Rádio Sociedade da Bahia, quarta emissora do Brasil fundada por Oscar Carrascoza e mais 4 amigos. Ela surge nos moldes da Sociedade do Rio, também em caráter de clube ou associação, mantendo-se através de mensalidades pagas por seus sócios. A partir dos anos 30, o rádio sofre uma grande mudança, com a introdução da publicidade. O governo passa a mostrar séria preocupação com o novo meio, cria regras e busca maneiras de proporciona-lhe bases econômicas. Inicialmente a publicidade ocupa apenas 10 por cento da programação. Mais tarde essa porcentagem sobe para 20 por cento e logo depois, fica fixada em 25 por cento. O rádio, então, muda. A programação, antes erudita, educativa e cultural passa a ser popular, voltada ao lazer e à diversão. “O comércio e a indústria forçam os programadores a mudar de linha: para atingir o público ‘os reclames’ não podiam interromper concertos, mas passaram a pontilhar entre execuções de música popular, horários humorísticos e outras atrações que foram surgindo e passaram a dominar a programação. Com o advento da publicidade, as emissoras trataram de se organizar como empresas para disputar o mercado.”9 Para ganhar a audiência, e conseqüentemente os anunciantes, as emissoras foram, aos poucos, substituindo a ‘programação cultural’ por outra mais popular e comercial. Buscaram grandes apresentadores, astros famosos. Tudo para garantir a audiência. Do outro lado, as empresas e indústrias passavam a investir cada vez mais em rádio, por ser um meio mais eficiente, e que atingia, inclusive, os analfabetos. Na década de 40, ‘época de ouro do rádio brasileiro’, essa briga pela audiência cresceu mais, e alguns programas ultrapassaram o popular, descendo ao popularesco, chegando algumas vezes ao baixo nível e grotesco. Em 1942 surgiu o 9 ORTRIWANO, Gisela. A informação no rádio. São Paulo: Summus, 1985, p. 15. 10 IBOPE, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística que passou a medir a audiência das emissoras. Nessa mesma década surgiram os primeiros programas jornalísticos, com destaque para o ‘Repórter Esso’ um noticiário voltado principalmente para a cobertura de fatos da Segunda Guerra Mundial, elaborada com base nas notícias distribuídas pela agência norte-americana UPI (United Press). O Repórter Esso entrava no ar quatro vezes por dia e tinha duração de 5 minutos, com notícias locais, nacionais e internacionais. Era apresentado por Heron Domingues, locutor, que desenvolveu uma técnica e estilo de locução jornalístico imitados, em seguida, por seus companheiros de profissão. O programa era informativo e não comentava as notícias, sempre fornecendo as fontes. Outros jornais que marcaram o gênero foram o “Grande Jornal Falado Tupi” e o “Matutino Tupi”. A ‘época de ouro’ do rádio se encerrou com a chegada da televisão. Muitos astros do rádio acabaram se transferindo para a TV, assim como o público ouvinte de rádio e os anunciantes que investiam no meio. Sem dinheiro, o rádio buscou uma nova linguagem, mais econômica. Aos poucos a programação musical foi tomando conta das transmissões, as estrelas da rádio foram substituídas por discos. Com a crise, passou-se a investir menos em produção de programas. Foi nessa hora que o rádio começou a buscar uma forma de driblar a concorrência da TV. Aos poucos, começam a surgir as emissoras especializadas e também as emissoras em FM, que ofereciam melhor qualidade de som. A FM no Brasil começou como link – uma ligação entre o estúdio e o transmissor. Antes, essa ligação era feita por linha telefônica. Depois da Segunda Guerra, os empresários descobriram a FM como link, em substituição à linha telefônica. Na década de 50, a Telefunken fez um aparelho para ser acoplado ao rádio para receber o som do FM e que se chamava fremo – freqüência modulada. Mas logo a Telefunken desistiu. Então os empresários disseram que não abririam 11 estações porque não havia os aparelhos, e as fábricas não faziam aparelhos pois não haviam estações. Finalmente na década de 60, o governo resolveu reestruturar a FM. Cassou as antigas concessões para uma posterior redistribuição, proibindo, em 1968, o uso do FM como link. Propôs então aos empresários uma outra forma de fazer link: através de VHF, obrigando-os com a nova concessão a manter uma programação exclusiva para o FM. Foi na década de 80 que essa modalidade de emissora se consolidou, já que nos anos 70 teve início a proliferação das rádios FM por todo país, principalmente nos grandes centros. Inicialmente ofereciam música ambiente, para quem estivesse interessado em ter uma “música de fundo” apropriada para animar o ambiente. Era bastante utilizada em hospitais, indústrias e escritórios. A primeira emissora brasileira a explorar o sistema foi a Rádio Imprensa, do Rio de Janeiro, em 1955. Mais tarde, na década de 70, surgiram várias emissoras Fm, operando já em canal aberto e oferecendo programação exclusivamente musical. A Rádio Difusora de São Paulo foi a primeira a operar exclusivamente nas ondas de freqüência modulada. Em junho de 1973, a Rádio Globo entrava com seu FM já em estéreo. A chegada da FM em Salvador remonta ao dia 11 de novembro de 1977, quando foi inaugurada a Rádio 97.5 FM, pertencente à Rede Diários Associados, hoje conhecida como Itapuã. Em seguida, a capital baiana ganhou a Rádio Jornal do Brasil FM. Em poucos anos, as rádios FMs se proliferaram. Ainda no final da secada de 70 foram inauguradas a Educadora, a 104 FM, e a Piatã. Hoje das 985 emissoras de rádio que existem na Bahia, 101 são de freqüência modulada (ver quadro10). Catorze delas irradiam a partir de Salvador: Globo FM (90,1), Itaparica FM (91,3), Tropical Sat (92,3), Piatã FM (94.3), Aratu FM (95.9), Itapoan FM (97,5), Bandeirantes FM (99,1), Transamérica FM (100,1), Metrópole FM (101,3), Antena 1 (102,5), FM 104 (103,9), Nova Brasil (104,7), 10 Dados fornecidos pelo Ministério das Comunicações, relativos a junho de 2002. 12 Gospel FM (105,9) e Rádio Educadora (107,5). O perfil dos donos hoje se reveza entre o Estado, grupos políticos, grupos religiosos, artistas da axé music e empresários de variados setores. Brasil Bahia Salvador Comunitárias FM 6.847 104 2 1.802 101 14 Ondas Tropicais 76 1 não tem AM 1665 96 8 Ondas Curtas 63 2 não tem 2.1 - Radiojornalismo na Bahia: A primeira emissora Fm de Salvador a oferecer programação jornalística foi a Rádio Jornal do Brasil FM, fundada em 1977. Em seu departamento de jornalismo, 10 funcionários, entre eles nomes como os de Bob Fernandes, Letícia Muhana e José Fernandes. Em sua programação contava com 4 noticiários de 15 minutos, além de boletins de hora em hora. Entre os jornais mais antigos em FM de Salvador está o “Mistura Fina”, que era comandado pelo radialista Baby Santiago. Era uma espécie de tribuna popular, ainda de postura pouco séria, onde os ouvintes tinham a oportunidade de reclamar problemas do seu bairro, criticar o governo e pedir ajuda de autoridades. Outro programa popular foi o “Olho Vivo”, apresentado em 86 por Guilherme Santos, na Band FM. Tinha um formato semelhante ao Mistura Fina, com o apresentador conversando com ouvintes e comentando as principais notícias do dia. Em 1994 surge o “Jornal da Cidade”, da Rádio Cidade, comandado por Mario Kertész e muito semelhante aos programas que ele apresenta hoje. Em 2001, é criado o “Jornal Tropical”, da Tropical Sat, apresentado por Genildo Lawinsky e muito 13 semelhante ao Balanço Geral. Em menos de um ano o programa é substituído pelo Ligação Direta, sobre o qual falaremos adiante. Não podemos falar sobre os jornais de FM, sem relembrar alguns programas que marcaram a história do radiojornalismo em emissoras AM de Salvador, e que serviram de molde para os jornais das emissoras de freqüência modulada, a exemplo do próprio Balanço Geral. A história do jornalismo de rádio da Bahia foi pouco documentada. Muito do que se sabe a respeito desses programas faz parte apenas da lembrança de profissionais que acompanharam o desenvolvimento do rádio baiano. As informações aqui reunidas foram obtidas através de conversas e entrevistas com profissionais como Antônio Carlos Santos (coordenador da Globo FM, 40 anos de rádio), Perfilino Neto (Coordenador da Rádio Educadora, 50 anos de rádio), Marco Aurélio (ex-coordenador da Rádio Excélsior, 35 anos de rádio), Manoel Canário (50 anos de rádio) e Armando Mariani (coordenador de jornalismo da rádio Sociedade, 32 anos de rádio), entre outros profissionais. Entre alguns dos programas jornalísticos feitos em AM, podemos citar o “Rádio Repórter Petrobrás”, criado em 62 na Rádio Sociedade da Bahia, para fazer frente ao famoso “Repórter Esso”. Era um programa informativo, sem emissão de opinião e sem a participação popular. Era apresentado pelo radialista Manoel Canário. No fim da década de 60 vai ao ar “O Grande Jornal Falado”, também da Rádio Sociedade, por onde passaram apresentadores como o próprio Manoel Canário, Nivaldo Rolemberg e Antônio Luna. O programa, que começava às 7 da manhã, era todo redigido, ‘um verdadeiro jornal falado’, não contava com repórteres, nem unidades volantes e ou participação de ouvintes. Divulgava as notícias locais, policiais e nacionais, também sem emitir opinião. As fontes de informação eram os telegramas da UPI e as assessorias de imprensa do governo estadual e municipal. Os produtores 14 do programa costumavam fazer escuta11 de emissoras do Rio (em ondas curtas), ligar para delegacias e hospitais e reunir todo material no dia anterior, já que o programa começava cedo. Nesse mesmo formato surge, pouco depois, o “Jornal da Excelsior”, apresentado por Rui Brandão, na Rádio Excelsior. Ainda na década de 60 é criado também o “Boca de Forno”, apresentado por Luis Sampaio (mais tarde eleito vereador), que levava aos ouvintes informação numa linguagem mais popular, porém séria. O apresentador costumava abrir espaço para denúncias que, na época, eram feitas ainda através de cartas. Na década de 70 é a vez do “Levante a Cabeça”, com Nilton Moura Costa, da Rádio Sociedade. Esse programa já tinha um formato popular e opinativo, com repórter, entrevistas e participação de ouvintes. Pode-se dizer que este foi o precursor do “Balanço Geral”. Este último começa a ser veiculado no início da década de 80, passando por várias fases e sendo apresentado por comunicadores como Fernando José, Djalma Costalino, Raimundo Varela e Genildo Lawinsky. Ao longo dos anos, os programas foram se tornando mais opinativos e ganhando contornos mais populares, sempre com espaço para ouvintes, estimulando uma interação e criando no espectador uma sensação de que ele é um dos responsáveis pela criação daquele programa, como citaremos adiante. 2.2 - Radiojornalismo em FM: Pode-se dizer que existem poucos programas jornalísticos produzidos para as rádios FM de Salvador. Na Globo FM, existe o “Programa das Sete”, no ar das 7h às 9h, durante a semana, comandado pelo jornalista e radialista Jefferson Beltrão. O programa mistura a programação musical com notas que são lidas pelo 11 Fazer escuta significa acompanhar noticiário de emissoras de outros estados para acompanhar fatos e ‘aproveitar’ informações podem ser repetidas em programas locais. 15 locutor, reunindo as principais notícias do dia, oferta de emprego, dicas culturais e, ocasionalmente, entrevistas. Não possui repórteres de rua. A produção fica a cargo de dois jornalistas, mas a rádio tem acesso ao material da TV Bahia, o que significa que indiretamente, esses dois produtores contam com ajuda de vários outros que trabalham na redação da emissora de TV. A produção tem acesso à rádio escuta da emissora. Na Itaparica FM, existe o programa “Escreveu não leu, o pau comeu”, no ar das 6h às 7h e das 20h às 21h, uma espécie de tribuna popular, apresentada pelos radialistas Wellington Tichau e Marcelo Carvalho. Os apresentadores comentam as principais notícias do dia, lêem as manchetes dos principais jornais do Brasil e algumas matérias de impressos locais. O programa conta também com a participação popular, geralmente com o ouvinte fazendo reclamações. Possui ainda um espaço para entrevistas. A emissora não possui repórteres de rua, nem mesmo acesso à internet. A produção do programa é feita por 1 produtor e um estagiário. A maior parte do que é “divulgado” está nos jornais do dia. Além disso, os apresentadores costumam fazer piadas sobre todos os assuntos e não apresentam uma postura séria. A Itaparica conta ainda com o programa esportivo “Toque de Bola”, das 7h às 8h, comandado por Djalma Costa Lino. O programa é veiculado num horário arrendado e fala basicamente de futebol, dando destaque para os times locais. A equipe de jornalismo deste programa, formada por Marlon Oliveira, Carlos Magno, Abrão Nunes, Chico Queirós, Silva Rocha, Paulo Cerqueira, muitos deles, profissionais antigos do rádio. A equipe esportiva do programa também faz transmissões dos principais jogos de times locais. 16 A Rádio Educadora possui uma equipe de jornalismo com 4 jornalistas e um estagiário. Não possui jornais, apenas boletins12 e informativos especiais13. Os boletins são de hora em hora com 3 notícias curtas, e duração total de um minuto. Os informes especiais da emissora são o Informe Econômico, às 17h30 e Agenda Cultural às 11h30 e 16h30. A Educadora possui ainda informes culturais, sobre turismo e até pouco tempo apresentava um programa sobre ecologia. O coordenador da emissora, Perfilino Neto, diz que sente falta de um jornalismo mais atuante na emissora e relembra a época em que a Educadora possuía repórteres de rua, unidades móveis e gerava notícias para os jornais impressos. “Hoje é o contrário”, lamenta o comunicador14. A Rádio Itapuã possui 15 boletins diários, com edições a cada hora, a partir das 7h30 da manhã. Os boletins são redigidos por uma única jornalista. Na Rádio Piatã o sistema é praticamente o mesmo com 13 boletins diários, de segunda à sexta a partir das 7 da manhã. A Rede Transamérica retransmite para Salvador o programa “Transnotícias”, no ar das 7h às 8h da manhã, um jornal de rádio com uma ampla equipe de jornalismo. O Programa é coordenado e apresentado pela jornalista Cléo Brandão e conta com comentários de Nei Gonçalves Dias. Reúne destaques da economia, política, esportes, reportagens do cotidiano e do mundo. Além disso, possui repórteres especializados e colunistas nas áreas de política, previsão do tempo, economia, cinema, televisão, futebol, fórmula 1 e tênis. No total, mais de 15 pessoas estão envolvidas na produção do jornal. 12 Mais uma vez, usaremos a definição de Gisela Ortriwano para os termos boletim e informativo especial. “Boletim: noticiário apresentado com horário e duração determinados, com característica musical de abertura e encerramento, texto elaborado – script – e montagem dos assuntos a serem tratados, que podem abranger tanto o noticiário local como o naciona e internacional. Tem por função manter o ouvinte informado sobre os acontecimentos mais importantes entre uma emissão e outra. Normalmente é apresentado a cada trinta minutos ou de hora em hora” (p. 93). 13 Informativos especiais: informações sobre fatos de um mesmo campo de atividade, em que apenas interessam as notícias referentes àquele setor. O caso mais comim é o dos noticiários esportivos. Em função do conteúdo e da duração, pode ter características de boletim ou jornal. 14 Entrevista gravada no dia 22/07/02. 17 A Rádio Metrópole é a única rádio em FM com a maior parte de sua programação ocupada por programas falados. Além do “Jornal da Cidade”, que também será analisado no decorrer desse trabalho, a emissora conta ainda com os programas “Só para mulheres”, apresentado durante a semana, pela manhã, por Sheila Anunciação, com entrevistas, culinária, previsão do tempo, dicas de estética e decoração. Há ainda o programa “Metrópole Total”, com Norma Rangel, que vai ao ar durante a semana, à tarde, também com entrevistas, dicas de saúde e estética, agenda cultural, bate papo com ouvintes. Além disso, a emissora conta com programas sobre mundo automotivo, e programa de fofocas. Na Tropical Sat, existe o Tropical Notícias, 6 boletins com 3 notícias a cada hora, além do jornal “Ligação Direta”, que será abordado mais profundamente, adiante. 18 3.0 - Análise dos programas 3.1.0 - Ligação Direta com Marco Aurélio “Eu estou com o povo e o povo está comigo!” “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz. E ‘vamo’ nessa. Alô gente da Bahia, gente do Brasil, tá começando agora aqui na Tropical Sat Ligação Direta. Um show de notícia, um show de brindes, a partir de agora. Sorria, você está vivo, hoje é um novo dia. Tá começando um novo dia para você, na corrente de fé, na corrente de paz e felicidade. Um dia que vai ser de muita alegria!! O padre Marcelo Rossi, a sua mensagem...” [Toca uma música do padre cantor.] Com essas frases o apresentador Marco Aurélio inicia seu programa “Ligação Direta”, da Rede Tropical Sat, no ar de segunda à sexta, das 7h às 9h. O programa foi criado em 20 de março de 2002, substituindo o “Jornal Tropical” (citado no capítulo anterior). Para a emissora, o objetivo do programa era ser o jornal mais completo e de maior audiência na FM baiana, um programa jornalístico popular transmitido para a capital e interior do estado, com sorteio de brindes, leitura de orações e mensagens positivas, e principalmente, que alavancasse a audiência da rádio, que antes de sua estréia ainda amargava a última posição no ranking de FMs de Salvador15. Para o apresentador Marco Aurélio, o verdadeiro objetivo deste programa era ser um espaço diário para “fazer uma prestação de serviço com muitas informações.”16 Devemos, no entanto, deixar dois aspectos bem claros. Primeiro, que o programa foi criado meses antes das eleições. Segundo, que a Rádio Tropical Sat é arrendada em nome do então candidato à deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto, que por sua vez é filho de Antônio Magalhães Júnior, diretor da Rede Bahia de Comunicações. E há nos programas analisados, evidências de que o programa foi utilizado com finalidade de arrecadar votos para os candidatos do grupo do então exsenador Antônio Carlos Magalhães. 15 16 Segundo dados do IBOPE de dezembro de 2001. Entrevista gravada no dia 17/09. 19 3.1.1 - Equipe Ligação Direta Para âncora do Programa o escolhido foi o apresentador Marco Aurélio, radialista, 24 anos de rádio, amigo e vizinho do então senador (suplente) Antônio Carlos Magalhães Júnior. Marco Aurélio já foi locutor apresentador, repórter esportivo, narrador esportivo e comentarista esportivo (em rádio e TV), já tendo passado por funções como a de coordenador de departamento esportivo e de departamento jornalístico (na Rádio Excelsior). Começou sua carreira em 1968, como locutor e ganhou registro de radialista na década de 70 quando a profissão foi regulamentada. O apresentador não é jornalista e não tem nível superior. O programa que tem duas horas de duração é produzido basicamente por uma pessoa, uma jornalista com mais de 20 anos de profissão e que trabalha em tempo integral na rádio. Além dela, a apresentadora Silvia Resende, estudante de jornalismo, também redige notas e colabora, ocasionalmente, com a produção. Cinco repórteres participam diariamente do programa: 3 correspondentes (um em São Paulo com as principais notícias do Estado, um no Rio de Janeiro com informações da Confederação Brasileira de Futebol e um em Brasília, destacando as principais votações do Senado), além de dois repórteres locais que cobrem o Hospital Geral do Estado (pronto socorro) e a Secretaria de Segurança Pública (polícia). O mesmo repórter que divulga as ocorrências do HGE, também circula pela cidade em uma unidade móvel, durante a segunda hora do programa, ouvindo moradores de bairros populares, que normalmente fazem reclamações de problemas como falta de transporte, falta de água e energia, má pavimentação e esgotamento das ruas, entre outros. Além desses, o jornal também tem a participação dos repórteres das rádios afiliadas do interior do estado, e ocasionalmente de repórteres da Tv Bahia, Tv Santa Cruz, Tv Oeste, TV São Francisco, TV Subaé e Tv Sudoeste, todas emissoras ligadas à Rede Bahia. Vale destacar ainda que a Tropical Sat utiliza um software de jornalismo (Avstar) que disponibiliza em rede informações das emissoras de TV do grupo, tais como: rádio escuta, espelho de programas, texto de matérias dos telejornais, pautas, entre outros, 20 permitindo que a produtora da rádio tenha acesso à todo material de jornalismo da Rede. 3.1.2 - Isenção X Partidarismo O uso do programa como um instrumento eleitoreiro pode ser percebido facilmente. O apresentador constantemente anuncia a “hora certa” associando-a ao nome de alguma personalidade baiana, geralmente de políticos do grupo. “Olha a hora... na Bahia de ACM neto: 8 horas e 1 minuto”17 Diariamente, na primeira hora do programas, notícias sobre política são lidas do Jornal Correio da Bahia e comentadas pelo apresentador. A notícia abaixo apresenta o resultado de uma pesquisa de intenção de votos para a presidência, dando destaque para o candidato Ciro Gomes, que é apoiado pelo grupo que administra a emissora. (Marco) A pesquisa de intenção de voto, a última feita pelo Instituto Vox Populi para a presidência da república mostra que o candidato da frente trabalhista, o Ciro Gomes, cresceu 3 pontos em relação ao levantamento anterior. O Ciro já chegou a 30%, na pesquisa do Vox populi e se aproxima do candidato Lula que esta com 34%, um a menos que na última pesquisa. Uma margem de erro de 2,2%. Então continua aí na frente o Lula, só numa disputa muito grande com Ciro Gomes que é candidato da república. (...) Um detalhe importante é que o Ciro Gomes teve a menor taxa de rejeição. (...) O Lula tem o índice de rejeição de 25%, enquanto isso o Ciro Gomes tem apenas 9. (...) Quer dizer, isso aqui para o Ciro Gomes, a tendência dele é crescimento, porque o índice de rejeição é de apenas 9%.18 Neste outro exemplo, o apresentador foi mais longe. Dessa vez ele modificou a notícia, divulgando Ciro como o vencedor em uma pesquisa, quando na verdade, o vencedor tinha sido o Lula. A pesquisa foi amplamente divulgada em jornais de todo o Brasil (ver a matéria em anexo). 17 18 Programa do dia 5/07 Programa do dia 5/07 21 (Marco) Minha gente, o candidato da frente trabalhista, Ciro Gomes, foi vencedor do debate de anteontem à noite na TV Bandeirante para a maior parte de 400 eleitores do Rio de Janeiro e São Paulo entrevistados pelo Instituto Retrato. Com apenas um ponto percentual a menos, o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, ficou na segunda posição na pesquisa sobre os bem sucedidos no confronto entre os adversários. O Ciro, com 33% e o Lula, com 32 por cento. Como margem de erro é de 4,9 por cento foi configurado empate técnico entre os vitoriosos. Em terceiro lugar ficou o tucano José Serra com 16%. Na quarta posição e na última, o Antony Garotinho do PSB 8,3%.19 A falta de isenção também é clara quando o apresentador entrevista algum político. O prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, e o Governador do Estado, Otto Alencar, são convidados freqüentes do programa. Quase toda semana eles participam. Veja as perguntas feitas ao prefeito e ao governador nas entrevistas veiculadas nos dias 6 e 8 de julho. (Marco) São 8 horas e 9 minutos é com prazer que a gente cumprimenta o prefeito Imbassahy, segundo a população, taí, os números estão aí, o melhor prefeito do Brasil. Bom dia, prefeito. (Imbassahy) Bom dia, Marco. (Marco) Ontem , inclusive, aqui no ar, uma entrevista com o candidato Ciro Gomes que fez vários elogios à cidade de Salvador. Viu prefeito? (Imbassahy) Ah, isso é muito bom. Ele foi prefeito de Fortaleza... Aliás, quando foi prefeito foi sempre considerado o melhor prefeito das capitais, em pesquisas. De maneira que ele tem uma boa condição de avaliar o que é administrar uma grande cidade, que não é fácil. Uma cidade que tem uma população muito pobre, e que existe ainda uma carência enorme nas áreas infra-estrutura. De maneira que uma avaliação de Ciro Gomes é motivo de muita alegria, e para a cidade também, porque é uma pessoa que tem capacidade de fazer um julgamento sincero. (Marco) Pra você ter uma idéia, pro senhor ter uma idéia, prefeito, aqui nós fizemos uma pesquisa, e sobre lixo, mesmo, praticamente não existiu reclamação aqui. Praticamente não existiu. Quase que zero. Realmente você limpou a cidade de Salvador. Salvador é uma cidade limpa. A gente viaja e tem visto isso aí. Agora com relação às escadarias. A gente sabe, muitas pessoas reclamam de escadarias. O senhor tem atendido na medida do possível. Eu tô sabendo que no Engenho Velho de Brotas, mesmo, escadarias estão sendo recuperadas. Outros bairros também estão tendo recuperação em escadarias, prefeito? 19 Programa do dia 6/07 22 (Imbassahy) É isso. Com relação à limpeza urbana, Salvador é considerada no Brasil uma das cidades mais limpas entre as capitais... As perguntas parecem ser adequadas aos assuntos que o entrevistado deseja abordar. O mesmo acontece durante a entrevista com o Governador Otto Alencar: (Marco) Um bom dia, como é que vai a campanha de... Inicialmente como você vê a campanha do Ciro, pergunto ao governador Otto Alencar, logo na abertura da nossa pergunta pra ele, nesse papo com o governador Otto Alencar, descontraído. Tivemos o debate na Bandeirantes... Como é que está vendo a campanha de Ciro, heim governador? Bom dia! (Otto) Bom dia, Marco, bom dia, ouvintes. Eu vejo que o Ciro Gomes caiu no gosto do povo pelas suas propostas, que ele tem apresentado com muita clareza quando tem oportunidade de se expressar através mídia, dos jornais, televisão, rádio, sobretudo. Eu vejo que ele tem um programa de governo que vem de encontro a tudo que o povo brasileiro deseja agora: é crescimento econômico, para geração de emprego e de renda. Combate permanente à corrupção, às irregularidades que acontecem hoje no Governo Federal, que é uma constante, tem sido uma constante de um governo que se aliou a Jader Barbalho, no Congresso Nacional no Senado da República. Jader Barbalho foi candidato de Serra, José Serra. Não podemos esquecer isso!! O Ciro Gomes tem percorrido o Brasil inteiro, é um candidato que tem uma visão de Brasil, que sabe que precisa aplicar os recursos de forma homogênea em todo o país, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, de uma ponta a outra do Brasil, portanto sem vincular recursos em Estados que já estão bem desenvolvidos, como é o caso de São Paulo, que merece o respeito, o apoio de qualquer presidente da República. Mas é importante centralizar renda e trazer recursos para investimentos no nordeste brasileiro, na Bahia, e outros Estados nordestinos. .... 3.1.3 - Populismo e sensacionalismo Como é comum em rádios populares, o fato policial costuma ter destaque na programação. No “Ligação Direta”, fatos como roubos, assassinatos, estupros e mortes são narrados numa forma popular, com uso de fundos musicais sensacionalista e muita 23 dramatização, criando um clima de suspense e envolvimento emocional, quase como em uma radionovela. Acompanhe o trecho: (Marco) Caseira. Dona Dulcinéia Alves Sales foi presa em flagrante ontem à tarde. Ela está sendo acusada de jogar álcool e atear fogo sobre o corpo do marido. O marido dela, um porteiro de edifício Itamar César Santos, 39. Ele teve as costas, a cabeça os braços, o rosto, queimados. Está internado em estado grave no Hospital Geral do Estado. A mulher foi conduzida para a décima delegacia, onde foi autuada pela delegada de plantão Nívea Argolo. O crime aconteceu por volta das 3 horas da manhã, quando ele dormia sobre um sofá no Sítio São Bernado, no qual a Dulcinéa trabalhava, no bairro de Canabrava. Ao ser incendiado, Itamar acordou desesperado e se agarrou a mulher, que também sofreu queimaduras de segundo grau. Ela nega que tenha sido ela quem tocou fogo no marido. A Dulcinéia nega!! Ela diz: ‘Não, não fui eu, eu não toquei fogo no meu marido’!! [fala gritando] Ela nega, diz que não foi ela, que foi ele que, quando chegou em casa embriagado, jogou álcool derramando sobre o piso cerâmico, e aí ele mesmo, de maneira... que não pode se justificar, tocou fogo. Isso é o que ela diz! Mas a versão contada pela caseira não convenceu a delegada que autuou em flagrante por tentativa de homicídio. Porque o filho de Itamar, um adolescente de 15 anos, que dormia em um dos quartos acordou com os gritos do pai. Porque o pai gritava: socorro! Ela ta me tocando fogo! Aí ele, o garoto, ainda viu a madrasta segurando a garrafa, com o combustível, tocando fogo no pai dele.20 Constantemente o apresentador dá ênfase à notícias esdrúxulas e inusitadas, como essa abaixo. (Marco) Isso é um absurdo. O preso Luis Antônio de Jesus, de 39 anos, foi surpreendido ontem com objetos dentro do próprio corpo na Penitenciária de Pacaembu, região de Presidente Prudente, interior de São Paulo. Ele foi flagrado durante um vistoria de rotina com o detector de metais. Os exames de raio x detectaram que, dentro do corpo do preso, havia 7 serras, olha bem, um alicate e duas brocas para furadeira. Os objetos estavam envolvidos em preservativos. As ferramenta foram introduzidas pelo reto, onde ficaram instaladas, sendo retiradas pelas mãos pelo próprio preso que recusou a ajuda dos médicos. Isso é incrível!! Isso é incrível!! Há duas semanas, agentes da Penitenciária de Juqueirópoles, no interior de São Paulo, descobriram que dois presos escondiam 2 aparelhos celulares e duas serras no corpo. O 20 Programa veiculado no dia 5 de julho. 24 serem denunciados pelo detector de metais, em uma vistoria de rotina da instituição, Cláudio César Portela de 49 anos e Juliano de Paula Malaquias, de 19, tentaram despistar os agentes alegando que tinham platinas na perna, mas foram desmascarados. Vê... In...Veja,... Vejam bem. As ferramentas foram introduzidas pelo reto. De... Dentro do corpo um alicate, duas brocas para furadeira e 7 serras!! É inacreditável!!!21 Também no exemplo mencionado acima, o apresentador utiliza inflexões dramáticas como ferramenta para atrair a atenção dos ouvintes. A maneira como Marco Aurélio gagueja, titubeia e grita é uma estratégia para tornar a notícia ainda mais polêmica. Outra estratégia constantemente usada por Marco Aurélio é a divulgação de notícias de forte apelo emocional. Um exemplo é o caso do nascimento de irmãs xifópagas, que unidas pelo tórax não podiam ser submetidas à cirurgia, devido ao alto risco que a operação oferecia às duas crianças. O caso foi acompanhado desde o nascimento das garotas. Quando elas morreram, a notícia foi divulgada duas vezes, em dois programas. (Marco) Xifópagas. Xifópagas. Vocês lembram do caso... Vocês lembram da preocupação da Tropical Sat... a minha preocupação, inclusive. Conversei com o pai delas. Conversamos com médicos, pessoas ligadas à área social, profissionais ligados à área profissional, área social. Conversamos com várias pessoas sobre o assunto. Infelizmente, as xifópagas faleceram no último sábado, dia 3 de agosto. Infelizmente. Num contato ontem que a nossa produção fez com o pai da xifópagas tentando saber como... o que nós poderíamos fazer por elas, e como andava o estado de saúde de cada uma delas, o pai informou que elas faleceram. Infelizmente. Estou relatando também este caso porque ontem nós assistimos pela tv uma cirurgia que foi feita em duas crianças que nasceram juntas, unidas pela cabeça. E pelo menos até agora eu tenho a informação de que as crianças passam relativamente bem, uma vez que uma delas foi internada, voltou para UTI. Então nós lamentamos. Eu lamento profundamente. Não sei... Deus sabe o que faz. Existe uma força maior. Só Deus. Só ele. Só ele. Acima de nós, acima de cada um de nós, só Deus. Resolveu levar as xifópagas, uma notícia triste, mas ele sabe o que faz.22 21 22 Programa veiculado no dia 7 de julho. Programa do dia 7/07 25 No dia seguinte, é veiculada a entrevista com o pai das crianças. Embora o apresentador anuncie a entrevista como se fosse ‘ao vivo’, nota-se pelo som que ela é gravada. Durante a conversa, perguntas que tentar fazer com que o entrevistado se emocione. Isso fica claro quando ele pergunta se o pai acompanhou a morte das garotas e quantos filhos vivos ainda lhe restam. Para encerrar, o apresentador atribui à Deus o destino dos bebês. Acompanhe: (Marco) ...Ele está na linha aqui com a gente. Bom dia, Robson” (Robson) Bom dia. (Marco) Você que é o pai das xifópagas, as meninas faleceram, não foi Robson? (Robson) Foi. (Marco) Que dia foi o falecimento das meninas? (Robson) Dia 3. (Marco) No dia 3, no sábado? (Marco) Foi. Às 3 e 10 da manhã. (Marco) Você chegou, as meninas já tinham falecido?? (Robson) Oi?? (Marco) Quando você chegou no hospital, elas já tinham falecido, as meninas? (Robson) Não, eu acompanhei elas. (Marco) Ah, você acompanhou tudo, é? (Robson) Foi. (Marco) E foram sepultadas que dia, heim, Robson? (Robson) Foi sepultada no mesmo dia. (Marco) Do mesmo dia... (Robson) Foi. (Marco) Você agora tem quantos filhos, você mesmo, Robson?? (Robson) Agora eu tenho 2. (Marco) São 2 filhos, né? Deus sabe o que faz , né? Você aceitou essa... o que deus determinou, né Robson?? (Robson) Com certeza, a gente tem que esperar tudo de Deus. (Marco) Já conseguiu emprego, Robson? (Robson) Infelizmente ainda não... 26 (Marco) A gente vai, aqui do Ligação Direta, vai te dar mais uma cesta de alimentos. (...) 23 Durante todo o programa, Marco Aurélio tenta se posicionar ‘ao lado do povo’. “Eu estou com o povo e o povo está comigo”, repete a todo tempo. Embora seja um empresário bem-sucedido, passa para o público a imagem de que pertence à mesma classe de seu ouvintes. “Eu gosto disso; é do povo, é desse contato. É disso que eu gosto. Esse eu respeito, trabalhador esse eu respeito. Estou com o povo e o povo está comigo.”24 Tenta passar a imagem de líder, de alguém que defende o povo. Em seu discurso: nacionalismo, reivindicações sociais, luta por melhores salários e condições de vida para a população. (Marco) Taí seu Ricardo Teixeira vai para o exterior, ficou por isso mesmo, uma série de acusações!! Mas a empregada doméstica, cadeia!! Pobre e preto: cadeia!! É a realidade brasilera. Eu me bato por isso. Nós temos os mesmos direitos que as pessoas que são ricas e são brancas. O Ricardo Teixeira é branco e rico ta lá. Roubou. Eles dizem. Eu não sei. Mas é fácil, é só pegar a declaração do imposto de renda e ver. Se o cara tem um patrimônio que aumenta de um ano para o outro assustadoramente, pau nele!25 As notícias de aumentos de impostos ou no preço de produtos, são sempre acompanhadas de um discurso. O apresentador até criou um bordão, que é repetido várias vezes durante o programa: “assim o povo não aguenta”. O ex-comentarista esportivo também se sente à vontade para comentar notícias econômicas. Veja o exemplo: (Marco) Na esteira de aumentos do mês passado pelo Dieese foram apontadas as elevações dos preços do PÂO FRANCÊS, o Pão francês, o pão!!!!! Reflexo do cambio? Esse negócio de cambio, sobe, mas quando o câmbio baixa o produto não baixa! Aí esquecem de 23 Programa do dia 8/07 Programa do dia 8/07 25 Programa do dia 5/07 24 27 abaixar o produto. Oitenta por cento do trigo consumido no país é importado. Tudo bem... 80%... e a gasolina? E o petróleo, que apenas 15%, 20% é importação? Os outros 80 nós produzimos aqui, tiramos daqui. Do nosso solo, 80, 85%. Quando sobe o dólar: ‘Ah, a gasolina subiu porque o dólar subiu’. O que é que o bumbum tem a ver com as calças, se no intervalo tem cueca??? Me responda?? Não tem nada que ver!!! O que é que o bumbum tem a ver com a saia, se no intervalo tem a calcinha?26 Outro exemplo: (Marco) O governo não tem a menor cerimônia, mas nenhuma cerimônia, sai aumentando aí, ó, não respeita. A gente que sabe que a inflação, pelo menos a divulgada pelo IBGE, é de 4%, 5, 6%, sem nenhuma, assim... s... sem... mas nem um pouco preocupado, o governo só aumentando, né? O gás 32%, 37%, 35%. Os correios, agora, 10,3% em média a partir de amanhã, anunciou pelo menos o Ministério das Comunicações. O preço da carta nãocomercial passa de 40 centavos para 45. A carta comercial passa de 55 centavos para 60 centavos já incluídos confins e PASEP. E aí sai aumentando tudo, imposto... e vai, vai aumentando, mas sem cerimônia nenhuma, e o povo que se exploda!! 27 O discurso de Marco Aurélio passa pelo âmbito do religioso, moral, educativo. O uso de músicas religiosas e de mensagens de otimismo, que incentivam o ouvinte a procurar uma religião, também marcas registradas do programa. (Marco) Hoje é um novo dia de felicidade. Agradecer sempre a Deus pelos braços perfeitos quando há tantos mutilados, pelos olhos perfeitos, quando há tantos sem luz, e pela voz que fala quando tantas emudeceram e pelas mão que trabalham quando tantas mendigam. A cada encerramento de programa é repetida a seguinte mensagem: “Que a paz do Senhor fique com você. Gloria à Deus nas alturas e paz na terra para todos os homens de boa vontade.” Nesse outro trecho ele ressalta a importância da religião. 26 27 Programa do dia 5/07 Programa do dia 8/07 28 (Marco) A religião é muito importante, viu? A religião é importantíssima, se apegue, acredite em Deus. A religião é importantíssima na vida do ser humano. Não importa qual seja a religião, não importa. Você pode ser budista. Você pode ser católico. Você pode ser protestante. Adventista. Qualquer religião. Você pode freqüentar terreiro de umbanda. Não interessa. Você pode ser espírita. O importante é você ter uma religião e você tem que ter uma religião.28 3.1.4 - Público ouvinte O público alvo do programa é a população de baixa renda de Salvador. Pesquisas do IBOPE e pesquisas feitas pela emissora mostram que o programa Ligação Direta é mais ouvido por mulheres da chamada classe DE29 (classe economicamente mais baixa). Os ouvintes que ligam para a emissora para participar do programa costumam fazê-lo para ganhar brindes, ou reclamar de problemas no bairro, pedir ajuda, procurar parentes desaparecidos ou solicitar emprego. Muitos se mostram verdadeiros fãs do apresentador, que é visto quase como uma figura divina, um pai, amigo e conselheiro. Os diálogos costumam ser muito parecidos. Através da audição dos programas gravados, fica evidente que a maioria desses ouvintes é de pessoas de nível econômico e cultural baixo. Acompanhe abaixo trechos de dois diálogos. (Marco) Alô, bom dia. (Rita) Bom dia. (Marco) Quem tá falando? (Rita) É Rita de Cássia. (Marco) Rita de Cássia de quê? 28 Programa do dia 7/07 Ver em anexo como é feita a classificação da população segundo o Critério Brasil, usado pelos institutos de pesquisa. 29 29 (Rita) ...de Souza santos. (Marco) Fala de onde? (Rita) Ai, meu Deus, eu sou filha de Salvador, mas eu tô trabalhando aqui na Ilha como empregada doméstica. Ai, ‘pôxa’ Marcos, ai meu Deus do céu, eu não tenho nem palavras... (Marco) Por que? (Rita) Ai, Jesus!! Falar com você é uma benção na minha vida!! (Marco) Benção na sua vida? (Rita) Mais uma. Eu venho tentando todos os dias e não perco seu programa por nada! Desculpa mesmo, eu estou extremamente nervosa... (Marco) Você é muito religiosa, né? Qual sua religião?? (Rita) Católica (...) (Rita) Na semana passada uma moça de 20 anos se identificou dizendo que é virgem e o que você diz deu com 33, vou fazer 34, e ainda sou virgem também? (Marco) Você é virgem aos 34? (Rita) Trinta e quarto! (Marco) Não...! [espantado] (Rita) É verdade, por Jesus Cristo! (Marco) Você Jura por Deus?? (Rita) Eu lhe juro pela felicidade de minha mãe que é a coisa que eu mais amo abaixo de Deus é minha mãe! (Marco) Me conta aí, por que? Você ainda não achou um homem que merecesse você se dar para ele...?30 Esse outro diálogo é bem semelhante. O apresentador sempre pergunta o nome, sobrenome, estado civil, número de filhos... Acompanhe: (Marco)Alô? (Raquel) Alo (Marco) quem tá falando? (Raquel) É Raquel. (Marco) Raquel de quê? 30 Programa do dia 5/07 30 (Raquel) Nunes de Souza (Marco) Tá bom. Mora onde, Raquel? (Raquel) Moro ‘ni’ brotas. (Marco) Tá legal. Na pesquisa do dia hoje, você já tem candidato para Presidência da República? (Raquel) Ainda não. (Marco) Ainda não. Não definiu ainda o seu candidato, né? (Raquel) Não. (Marco) Tá bom. Ô Raquel, você já vota né? (Raquel) Voto. Tenho 47 anos (Marco) Ah tem 47 anos é? há tá legal... Casada, Raquel? (Raquel) Separada. (Marco) Foi casada uma vez. (Raquel) Foi (Marco) E separou. Tem filho Raquel? (Raquel) Um 16 e de 23. (Marco) Tá bom E a camisa oficial do Bahia se você ganhasse da Podium Sport31 você ia dar para seu filho ou... tem pai ainda você, Raquel? (Raquel) Eu Tenho pai de criação. Meu irmão que me criou (Marco) Ah, foi seu irmão que lhe criou (Raquel) é, meu pai de criação (Marco) Quantos anos ele tem (Raquel) Ele Tem 60 (Marco) Ele já tem camisa do Bahia oficial? (Raquel) Não ele adora, ele adora o Bahia (Marco) Então vamos dar uma camisa do Bahia para ele, né? Oficial! (Raquel) Só que ele mora no interior Marco. (Marco) Ah, é? (Raquel) É. Mas eu posso mandar pra ele (Marco)Você prefere dar um rádio pra ele. (Raquel) É (Marco)Você prefere mandar um rádio ou a camisa do Bahia? (Raquel) Eu prefiro a camisa do Bahia (Marco) Camisa do Bahia... Então Raquel você ganhou a camisa do Bahia.32 31 32 Podium Sport é uma loja de artigos esportivos que pertence ao apresentador. Programa do dia 7/07 31 3.1.5 - Prestação de serviço O programa reserva espaço para a prestação de serviço. Alguns quadros são fixos. A cada meia hora o apresentador informa as condições de trânsito em pontos da cidade. As informações são passadas por telefone por atendentes da Getran (Gerência de Trânsito) e SET (Superintendência de Engenharia de Tráfego), órgãos da prefeitura que são responsáveis pelo tráfego na cidade. Outro quadro diário é de oferta de empregos. As vagas são oferecidas pelo Sistema Nacional de Emprego, pelo Centro de Integração Empresa- Escola e por agências de recrutamento de pessoal, que entram em contato com a emissora solicitando a divulgação de vagas de trabalho. O apresentador também abre espaço para ouvintes que buscam parentes desaparecidos. Sempre que possível, um encontro é transmitido ao vivo pelo programa. Instituições de caridade também encontram espaço no ‘jornal’, onde divulgam suas atividades e solicitam ajuda de ouvintes. (Marco) O Asilo São Lazaro, que fica na Estrada Velha do Aeroporto, abriga 76 idosos e atravessa momentos muito difíceis. A instituição sobrevive à custa de doações e necessita de melhores acomodações para que os idosos tenham mais conforto. Para agravar essas dificuldades, marginais têm saqueado constantemente o asilo. Leve a sua colaboração, também para o asilo São Lázaro.33 O “Ligação Direta” também tem sua função educacional quando busca especialistas para esclarecer determinados assuntos como as guerras no Oriente Médio, e mais recentemente, o caso do Risco Brasil. Nesse caso, as entrevistas são positivas, no sentido de que tentam manter o ouvinte informado, traduzindo para uma linguagem popular, assuntos que algumas vezes são de difícil compreensão para o povo. Veja esse trecho. 33 O apelo foi feito pelo próprio Marco Aurélio no programa do dia 7/07 32 (Marco) “Se fala muito em risco Brasil. Tudo hoje é risco Brasil. A gente não sabe por que risco Brasil. Liga o rádio: risco Brasil. Liga a TV: risco Brasil. O Doutor Ronald Lobato está na linha com a gente34, então preste atenção. Vê se você entende o que é risco Brasil.” (Ronald) “O risco Brasil é uma avaliação feita para as pessoas e empresas e instituição que querem investir no Brasil, lá de fora, no exterior. Eles ficam sempre preocupados em saber se esse dinheiro que eles estão investindo aqui vai ser pago. E a análise de risco é exatamente essa: a possibilidade de que ele vai ser bem pago ou se vai haver dificuldade pro Brasil pagar.” (Marco) “De que maneira atinge o povo Brasileiro?” (Ronald) “Bom, na medida em que o risco aumenta, os investidores param de mandar dinheiro pra cá. Como nós temos uma situação de desequilíbrio com o resto do mundo, em termos de exportação, importação, para mandar mercadoria pra fora e receber mercadoria do exterior, essa posição de diminuição de remessa de dinheiro de fora pra cá, acaba desvalorizando real. E desvalorizando o real a gente fica com dificuldade de fazer pagamentos para importar e também para fazer os próprios pagamentos da dívida. E isso afeta como? Afeta via desvalorização, porque os produtos importados aumentam o preço, gasolina, combustíveis de uma maneira geral, gás de cozinha, é... produtos petroquímicos... na indústria de alimentos o trigo, o pão conseqüentemente, as massas, macarrão... Isso afeta dessa forma. Além de causar uma certa dificuldade pro governo que fica sem muitas condições de tocar as suas atividades.” Vale destacar ainda, que durante todo o programa, o âncora e a apresentadora Silvia Resende divulgam notícias locais, nacionais e internacionais, algumas lidas de jornal, outras apuradas pela central da TV Bahia, e ainda algumas extraídas da Internet. 34 Percebe-se claramente que a entrevista não é ao vivo. 33 3.2.0 - Bom Dia com Mário Kertész e Jornal da Bahia no Ar “Bom Dia com Mário Kertész. As primeiras notícias do dia, com os comentários mais respeitados do rádio baiano.” Esse é o texto de abertura do programa “Bom Dia com Mário Kertész”, o primeiro de uma série de programas comandados pelo apresentador na Rádio Metrópole FM ao longo do dia. O jornal vai ao ar de segunda à sexta, das 7h às 8h da manhã, com transmissão para Salvador e área Metropolitana. Foi criado em julho de 2002, substituindo o Toque de Bola, que na época passou a ser transmitido pela Itaparica Fm. O “Jornal da Bahia no Ar”, também sob comando do mesmo apresentador, é veiculado logo em seguida, das 8h às 10h da manhã, na mesma emissora. O programa, ao contrário do anterior, é retransmitido para 20 rádios associadas, atingindo 350 municípios da Bahia35. O conteúdo dos dois programas é semelhante e por isso será analisado nesse capítulo como um programa só. O formato do jornal foi criado há oito anos, na antiga Rádio Cidade, uma FM de Salvador36. O Jornal da Cidade, como era chamado, iniciou sua trajetória no período noturno, como explica Mário Kertész: Essa coisa, na realidade, surgiu há 8 anos atrás, quando eu vim trabalhar aqui na rádio, que na época era Rádio Cidade. Depois, se transformou na Rádio Metrópole, que era uma rádio FM que apenas tocava música, ‘vitrolões’. E eu resolvi mudar isso, e resolvi transformar a FM quase em AM transmitida em freqüência modulada, e transformar ela, progressivamente, em uma emissora jornalística. Então, eu comecei há 8 anos com uma edição do jornal somente à 35 A informação foi fornecida por Mário Kertész em entrevista gravada no dia 18/09/2002 A antiga Rádio Cidade foi fundada em 10 de dezembro de 1977 pela Rede Jornal do Brasil. Em março de 1990, deixou de ser da rede (sediada no Rio de Janeiro) e passou a ser dirigida por Mário Kertész. Em 2000, a rádio passa a ser chamar Metrópole FM. 36 34 noite. Depois, comecei a fazer uma de manhã e depois comecei a fazer uma meio-dia. E aí foi crescendo isso.37 Em 3 de abril de 2000 a rádio Cidade vira Metrópole, e aos poucos vai ganhando uma programação jornalística mais ampla. Na data de realização dessa pesquisa, a emissora apresentava programas falados das 7h da manhã às 8h da noite. O próprio Mário apresentava 4 ‘jornais’: o “Bom Dia com Mário Kertész”; O “Jornal da Bahia no Ar”; “Jornal do Meio Dia com Mário Kertész”, no ar do meio dia às 13h; e o “Jornal da Cidade”, das 18h às 20h da noite38. Segundo o apresentador Mário Kertész39, a proposta inicial desses programas era criar espaço para interatividade, onde os ouvintes pusessem falar o que quisessem. Além disso, os jornais buscam transmitir informação e prestar serviços à comunidade, capaz de fazer com que os ouvintes tenham retorno de suas reivindicações. A cada programa, na abertura do jornal, o comunicador anuncia: “Estamos esperando sua participação, ligue converse, diga o que você pensa, diga o que você acha, proteste, elogie, participe. Isso é que é muito importante. Pode ter certeza disso.” 3.2.1 - A equipe do Bom Dia com Mário Kertész e do Jornal da Bahia no Ar A primeira coisa que podemos falar a respeito de Mário Kertész é que ele já foi prefeito de Salvador por dois períodos, entre 1979 e 1981 e de 1985 a 1988. Na primeira gestão como prefeito, Kertész foi prefeito biônico, ou seja, nomeado pela ditadura militar40. Foi nessa época que o comunicador começou a falar no rádio. Ele 37 Entrevista gravada no dia 18/09/2002. O programa de Mário Kertész é transmitido no horário da chamada “Voz do Brasil” por ser um programa informativo. O apresentador entrou com uma liminar no Ministério das Comunicações e conseguiu a liberação para veicular o seu programa no horário das 19h às 20h. 39 Entrevista gravada no dia 18/09/2002. 40 Mário Kertész foi afilhado político de Antônio Carlos Magalhães, atualmente senador da república, tendo sido um de seus secretários na época em que ACM era governador da Bahia. Como prefeito, foi diversas vezes manchete do jornal A Tarde em 1990, não por suas qualidades como governante, mas por 38 35 criou um programa chamado “Bom Dia Prefeito”, uma espécie de “Hora do Brasil” numa versão local, através do qual apresentava projetos que vinham sendo desenvolvidos pela prefeitura e respondia cartas da população. O programa era apresentado em todas as emissoras da capital, numa verdadeira cadeia de rádios, com duração de 10 minutos, sempre no horário das 6h50 da manhã. Ao deixar a prefeitura, se tornou proprietário da Rádio Itaparica, da Rádio Clube AM e, em 1990, da Rádio Cidade, que mais tarde passou a ser chamada de Rádio Metrópole. Mário Kertész já foi apresentador de televisão na Tv Aratu e Band. O comunicador afirma ter nível superior, com formação em administração e economia. Em entrevista gravada no dia 19 de julho, ele também garante à pesquisadora ter registro de radialista e pósgraduação em radialismo. (Mário) “Eu fiz o curso de pós-graduação de dois anos em radialismo.” (Silvia) “De radialismo? Onde?” (Mário)“Aqui mesmo em Salvador” (Silvia) “Onde? No Cefet?” (Mário)“e eu tenho formação de economia também, eu fiz pós graduação de economia na França...” Embora o apresentador não admita que sua DRT foi conseguida em troca de favores políticos, o assunto é bastante comentado no meio radiofônico. O radialista Manoel Canário conta como foi o processo: (Manoel Canário) Mário conseguiu uma ocasião aí, nessa faixa, na década de 80, ele conseguiu de maneira irregular com o então delegado regional do trabalho Waldir Regis um registro de jornalista, que terminou sendo denunciado e a coisa foi tornada sem efeito. Eu soube há poucos dias, poucos dias é força de expressão, mas tem poucos meses, 2 ou 3 meses, eu soube que ele teria um registro de radialista obtido com o sindicato de Itabuna, segundo a informação que me foi passada, está distribuindo lá aleatoriamente registro para quem pagar uma taxa que eles cobram.”41 seu envolvimentos em escândalos e fraudes. 41 Manoel canário tem 50 anos de rádio e foi um dos primeiros apresentadores de programas jornalísticos de Rádio da Bahia. Entrevista concedida em 27/09/02 36 O radialista Perfelino Neto, que também foi entrevistado durante a realização dessa pesquisa, também fez comentário semelhante, disse que o DRT da Mário foi conseguido através de meios ilícitos e que depois tentaram cassar o registro.42 Já o diretor do Sintep - Sindicato dos Trabalhadores em empresas de radiodifusão do Estado, afirmou que o comunicador chegou a se matricular no curso de radialistas de Salvador, em meados da década de 90, porém não chegou a concluir o curso. No banco de dados do sindicato não consta registro com o nome do exprefeito43. A rádio Metrópole conta com uma equipe de 11 produtores, sendo que apenas 3 deles tem nível superior, e nenhum é jornalista. Os programas da manhã são produzidos por 4 pessoas, dois produtores, responsáveis por marcação de entrevistas e 2 redatores. A ex-apresentadora Luana Montargil, que é formada em publicidade, hoje trabalha como produtora e ocasionalmente participa desses programas divulgando as condições do tráfego na cidade, ou as principais ocorrências registradas no Hospital Geral do Estado44. Ao lado de Mário Kertész, está a apresentadora Luciana Acioly, que também não tem nível superior. Os programas não possuem repórteres fixos45, mas contam com a participação de locutores de emissoras associadas, que costumam divulgar notas locais. Com relação à equipamentos, a emissora possui computadores conectados à internet, TV à cabo, assinatura de jornais de outros estados como Folha de S. Paulo, 2 unidades móveis e telefones celulares. A central de atendimento telefônico conta com 4 telefonistas que atendem os ouvintes e enviam suas solicitações para os comunicadores através de um programa que transmite os dados via internet. Existe também uma linha telefônica que é atendida diretamente no estúdio. Os ouvintes 42 (Pesquisadora) “Ele (Mário) conseguiu o DRT por meios ilícitos, não foi?” (Perfilino) “Exato. Até tentaram cassar.” 43 A consulta ao banco de dados foi feita por funcionários do sindicato no dia 17/10/2002. 44 Vale destacar que as informações são apuradas por telefone, diretamente da redação. 45 Exceção para o quadro ‘previsão do tempo’ que costuma ser apresentado por uma assessora de imprensa do Instituto Climatempo. 37 podem ainda mandar suas mensagens via fax ou e-mail. Outro aspecto importante é que o público pode telefonar para a emissora sem pagar nada através de um ‘serviço 0800’, de ligação gratuita. O programa é aberto diariamente com a divulgação de telefone de contato da emissora e leitura das principais manchetes de jornais locais e nacionais. Começa, então, a participação dos ouvintes. 3.2.2 – Isenção x Partidarismo A rádio Metrópole não trabalha com o Ibope e o próprio Mário diz que não acredita nem se guia pelas pesquisas da instituição.46 O programa não é feito para um público específico, mas tenta atingir a todas as classes sociais e culturais, não só de Salvador, mas de todo o Estado. Ouvindo os programas percebe-se que os ouvintes são de várias classes sociais, mas em sua maior parte, de nível cultural relativamente alto. Eles costumam participar fazendo denúncias, tirando dúvidas, debatendo temas variados, fazendo solicitações (emprego, sangue, cadeira de rodas) e fazendo perguntas à entrevistados. Como os programas analisados nesse trabalho foram ao ar poucos meses antes das eleições presidenciais de 2002 o tema mais discutido é política. Em alguns programas, Mário Kertész torna-se quase um mediador dos discursos promovidos por seus ouvintes, que defendem seus candidatos e criticam os demais. A maior parte dos ouvintes costuma se manifestar a favor da oposição com declarações a favor do PT e contra o grupo dominante do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. Mário Kertez, na maior parte das vezes, não emite sua opinião política, deixando isso a cargo dos ouvintes, mas em certos momentos deixa bem claro que é oposição. Acompanhe os trechos: 46 Durante o programa do dia 5 de julho, Mário Kertész comentou:“ Engraçado. O Ibope bota a Metrópole lá no chão. Pois é. O programa da Metrópole é que nem Viagra, se você perguntar a qualquer pessoa ninguém nunca tomou Viagra... mas é o remédio mais vendido do mundo!” 38 (Mário) Tá certo, viva o Brasil, temos que mudar isso... A gente só muda na eleição! Não adianta, a gente ficar pensando, ficar com medo de mudar, ficar: ‘não, as coisas podem piorar, podem piorar’. Podem piorar? Será que podem? Podem piorar se ficar do jeito que tá!47 Nesse trecho ele é ainda mais explícito: (Mário) Quem está comprando a pule48 de que Lula não é preparado, que não conhece o Brasil, e que não sabe como governar está comprando a pule errada. Agora, se você me disser, você que está ouvindo, disser assim: “eu tenho medo de votar em Lula”, “eu até tenho vontade de votar, tenho vontade de mudar, mas tenho medo de votar em Lula”, aí eu acredito. Medo é uma coisa assim... incontrolável, às vezes. Mas se a pessoa parar e pensar aí vai decidir.49 Mais um exemplo: (ouvinte) ...Eu vou deixar uma pergunta no ar. Lula foi metalúrgico, todos nós sabemos, e aposentado, foi acidentado, e parece ser desempregado mais bem pago do país. Porque ele conseguiu juntar 423 mil na poupança, declarado por ele, 3 apartamentos e uma aplicação que não foi revelada. Então, gostaria de saber como ele conseguiu juntar todo esse dinheiro. (Mario responde, após um suspiro) Trabalhando, né? Só pode ter sido trabalhando. Roubando é que não foi. Porque uma coisa que você pode falar de Lula, você pode falar muitas coisas agora... de um sujeito que passa por 4 campanhas, ele está na quarta campanha eleitoral braba e ninguém consegue levantar uma só denuncia contra a honestidade dele. Então, meu amigo, roubando é que não foi.” É verdade que “a imparcialidade não existe, é utópica”50, como iremos tratar no próximo capítulo, mas um comunicador como Mário Kertész deve buscar a isenção, e o combate constante contra a instrumentação da imprensa a favor de quem quer que 47 Programa do dia 7/07. “Pule” é uma expressão popular que se refere ao comprovante do jogo do bicho. 49 Programa do dia 7/07 50 Barbeiro e Rodolfo. Op Cit., p.11. 48 39 seja. O partidarismo de Mário é tão claro que no programa do dia 9 de julho uma ouvinte ligou para reclamar: (Ouvinte) Mario, é o seguinte: eu queria me manter anônima, mas exercer a cidadania como você vem defendendo. É a respeito do... dos candidatos à presidência da república... certo? Às vezes eu tenho isso aí um pouquinho como um comitê de Lula, e acho que a gente tem que... não sei... ver um outro lado também. Por outro lado, é preciso deixar claro que na maior parte dos programas, o apresentador tenta respeitar as pessoas que pensam diferente. Uma prova disso é que Mário costuma dar espaço para ouvintes criticarem e elogiarem os políticos que quiserem. Veja dois casos de participações populares: (Ouvinte)...Eu gostaria de fazer uma literatura de cordel para com o PFL, posso? ‘Esse tal PFL como gosta de bater Nesse povo sofrido que não tem o que comer Passa ano, entra ano e eu aqui no meu penar Dou um voto outro voto e não paro de apanhar A mulher não guenta mais e me pede para mudar Homem deixe de ser besta! Você vai se acabar Eu agora decidi para onde vou mandar Esse tal PFL vai pro inferno se lascar’51 Nesse outro caso, a ouvinte defende o candidato Ciro Gomes, do PPS. Em nenhum dos casos, Mário faz comentários. 51 Programa do dia 6/07/2002. 40 (Ouvinte) Bom dia, sou Virgínia de Pirajá, gostaria de dizer que estávamos precisando de entrevista com Ciro Gomes para tentarmos abrir a cabeça de alguns eleitores. Não é fazendo propaganda. Se você não sabe em quem votar e não conhece os políticos não devia ficar metendo o pau nos candidatos para tentar atrapalhar suas campanhas como muitos já fizeram. E Ciro, a meu ver, é o melhor candidato.52 3.2.3 - Denúncias A característica mais marcante do programa de Mário Kertész é a intensa participação popular. A interatividade é tamanha, em certos momentos o programa se assemelha a uma sala de chat virtual, só que no rádio. Há dias em que os ouvintes passam todo o programa debatendo um único tema, ou até mesmo uma declaração polêmica de outro ouvinte, como foi o caso do programa do dia 8 de julho, quando um homem ligou para o estúdio para elogiar os políticos Antônio Carlos Magalhães, Roseana Sarney e Fernando Collor. Após essa participação, surgiram milhares de telefonemas com manifestos de repúdio ou apoio ao ouvinte. Entretanto, muitas dessas participações ao vivo são denúncias que não são apuradas pela produção do programa,e que ainda por cima recebem o apoio do apresentador. Algumas merecem destaque: (Luciana lê fax) “Vocês ouvintes que estão se preparando para comprar os presentes dos pais, cuidados que as lojas Michel não gostam de fazer trocas.” Outro caso: (Mário lê o fax) Caro Mário, aconteceu agorinha no Bompreço Itaigara. O gerente do supermercado se recusou a trocar um liquidificador com defeito. O aparelho foi comprado ontem, dia 6. Ao ligá-lo, em casa, exalou cheiro de fumaça. Pois bem, fui trocá-lo por um melhor e até mais caro. Mas o gerente David se recusou a fazer a troca, dizendo na minha cara 52 Programa do dia 6/07/2002. 41 - tenho 70 anos – que eu estava mentindo. Isso é demais Sou cliente desse mercado há mais de 10 anos e nunca vi isso. Estou denunciando e ao mesmo tempo acionando o Bompreço no PROCON. (Mário responde) Jogue duro mesmo, dona Elizabeth! Não engula, não!! Isso é safadeza... desse pessoal. Safadeza!! Ainda chega com cara de pau, rapaz, ainda vem pra cá dizer (voz irônica) ‘olha, ah você tá mentindo’. Como é que pode?? Mais um caso: (Mario lê a mensagem da ouvinte) Anita diz que ela comprou um computador no Makro e disseram que só podiam entregar depois da compensação do cheque. Ela esperou o cheque ser compensado, foi lá receber e aí disseram agora você tem que mostrar aqui o extrato bancário mostrando que foi compensado o cheque. Ela deu o maior escândalo aí afinal o gerente foi lá e entregou o computador. ‘Que dizer, um absurdo, ainda com cara amarrada, cacete no Makro, cacete neles. É isso mesmo.’ 3.2.4 - Linguagem do apresentador Um dos aspectos que os profissionais do rádio mais costumam criticar em Mário Kertész é o tipo de linguagem de que ele se utiliza para apresentar seus programas. “Ele desce o nível, usa uma linguagem chula”53, comenta o radialista Perfílino Neto. “Muita gente sabe que ele (Mario) é uma pessoa de um excelente nível cultural e eu não posso admitir que um rapaz preparado como ele o é, use expressões chulas no microfone da rádio durante quase todo tempo”, comenta Manoel Canário54. O apresentador, de fato, costuma usar termos de baixo calão (já vimos algumas acima), permitir piadas chulas e usar expressões populares ou irreverentes. Logo na abertura do programa, faz brincadeirinhas do tipo: 53 Perfelino Neto, atual coordenador da rádio Educadora, 50 anos de rádio. Entrevista gravada no dia 22/07/02. 54 Canário foi o primeiro apresentador de Radiojornalimo de Salvador, como já foi citado no início do texto. Entrevista gravada no dia 27/09/02. 42 (Mário) Muito bom dia, pessoal. Bom Dia mesmo. Hoje é sexta-feira dia de bangalelê, sapeca iaiá.55 Ele também tenta passar uma imagem de amigo e companheiro, com jovialidade. Com palavrões, ele tenta intensificar a demonstração de revolta com os problemas dos ouvintes e atingir seu público masculino, responsável por cerca de dois terços de sua audiência. Outro detalhe é que esses ouvintes se mostram fiéis e muitos deles costumam ligar diariamente para o âncora, criando assim uma relação mais estreita entre ambas as partes e fazendo com que esses ouvintes acreditem que haja – de fato – uma relação de amizade com o apresentador. (Mário) Vamos falar com Gerson, do Apipema. (Gerson) Bom Dia Mário (Mário) Bom dia!! Você ficou famoso, rapaz, saiu até no Estadão! (Gerson) Rapaz... eu procurei participar de seu programa com uma certa sagacidade, de brincadeira. Fui agredido por Ciro Gomes. Ele mentiu ao dizer que na Suíça não existe presidente. Porque lá é presidencialismo com parlamentarismo, quero lhe agradecer pela gentileza com que você sempre me tratou. Outro exemplo: (A ouvinte fala com muito sotaque): Mário, você tá gripado, né? Quer que eu vá cuidar de você? (Mário, rindo) Obrigado... (Ouvinte) Eu vou mandar para você ovo de quintal pra você fazer uma gemada para você que é bom. Se cuide! 55 Programa do dia 9/07/02 43 E nessa “relação de amizade”, Mário geralmente defende seus ouvintes em denúncias como essa: (Luciana lê fax de ouvinte) Ontem de 13h50 às 14h40, uma viatura da SET [Secretaria de Engenharia de Tráfego] número de ordem 015, placa JPH 9808, estacionou na porta do prédio onde eu administro obstruindo a passagem de veículos. Me dirigi ao motorista e informei que ele estava obstruindo a passagem de veículos. Ele me respondeu que estava esperando um supervisor e que quem mandava ali era ele e por isso não ia tirar a viatura do local. (Mário comenta) Que gracinha essas ‘otoridades’, rapaz. Eu acho do cacete, rapaz. Eu acho do cacete. Você tem um motorista da SET, diz quem manda, ‘aqui sou eu e acabou’. Você que se lixe. Lei não existe, ordem não existe. Respeito ao cidadão... é porcaria! Isso tudo não vale nada! Em compensação, tá aqui. Se o pessoal da SET quiser aplicar um corretivo no cidadão é um carro que estava de 13 e 50 as 14 e 40 o número de ordem 015 placa JPH 9808. Então não tem como errar. Não tem como errar. Cacete nesse cidadão!! Cacete!!56 No entanto, há casos em que Mário enfrenta o ouvinte. O ex-prefeito simplesmente corta a ligação do ouvinte e dá a sua opinião sobre o caso, como aconteceu no exemplo a seguir: (Ouvinte) ...Para ser deputado federal um menino desse aí vai se eleger sem ter sido nem dirigente de grêmio estudantil, entendeu? Nem vereador. Nada! Ele vai ser deputado federal... (Mário interrompe) Se o povo quiser né Ana (ela continua) ...vai para o congresso decidir as nossas vidas, porque o povo vai votar, porque existem os currais. Entendeu? ACM chega em tal lugar e diz: ‘aqui é para votar em Paulinho Soutinho; aqui vamos eleger o meu netinho; aqui vamos eleger Marcelinho’. E lá vai. (Mário corta e responde) Sim, mas aí é que tá. É pra isso que a gente tem que lutar. Para acabar com esse negócio de curral, não é verdade? E aí, para isso.. Esse é um dos trabalhos que eu faço aqui. Eu acho que esse é um dos trabalhos que eu faço aqui na 56 Programa dia 7/07/02 44 Metrópole, que a gente faz hoje, inclusive para 350 municípios do interior, com o objetivo exatamente de conscientizar as pessoas. Agora você não pode impedir, numa democracia, que isso, só porque é filho de outro não se candidate. Ele tem todo direito de se candidatar. [vai se exaltando] Agora o povo é que vai votar ou não. O povo que via ter consciência ou não. Entendeu? Não adianta a gente ficar só se rebelando somente com quem é neto, com quem é filho, com quem é isso. [vai se exaltando] A gente tem que se rebelar com todos aqueles que se são eleitos na base do curral. Porque tem muita gente que não é neto, e nem é filho e que é eleito na base do curral, na base da grana. Entendeu? Então, por que só contra esses? Temos que nos rebelar contra todos! A gente tem que buscar eleger pessoas que sejam competentes. E não simplesmente... Não é somente quem é filho quem é neto. É quem tem grana. Quanto deputado aí que nunca fez nada nunca apareceu, nunca disse um ai, e que se elege todo ano na base da grana. Né? Então, vamos fazer. É isso que a gente tá... O trabalho meu aqui é esse. É um dos trabalhos. É esse. É a busca da conscientização da pessoa. Da valorização do seu voto. Não trocar ele ou por um saco de batata, entendeu? Por um saco de cimento ou por meia dúzia de tijolos... ou por uma latrina. Como acontece aqui.”57 3.2. 5 - Perfil do ouvinte Embora a Rádio de Mário Kertész não seja assinante do IBOPE e não tente se guiar por pesquisas, o próprio IBOPE nos dá uma idéia de qual seja o público de seus jornais matutinos. Seus ouvintes são em maior parte de classe econômica baixa, do sexo masculino58. No entanto, parecem ter um nível cultural bom, e costumam apresentar discursos consistentes, e com linguagem mais sofisticada. Veja dois casos. (Ouvinte) Bom dia, Mário. Gostei muito do debate e gostaria de deixar claro o seguinte: o Ciro tem o poder de sedução dos déspotas quando fala sozinho e os seus argumentos não se sustentam quando é confrontado com idéia dos outros. A respeito do debate, acredito que até pelas opiniões das pessoas que falaram até então, o nosso futuro presidente será o Lula, com toda a resistência que encontre em outros setores da sociedade. O Garotinho foi feliz no seu intento, uma vez que sua candidatura está perdida, ele conseguiu bater e apimentar um pouco o debate...59 57 Programa do dia 7/07/02 Dados baseados em pesquisa IBOPE – Rádio Recall, realizada em agosto de 2002. 59 Programa do dia 5/07/02 58 45 Nesse caso, o ouvinte que faz uma denúncia contra o ex-senador Antônio Carlos Magalhães e apresenta toda uma estatística para convencer outros ouvintes: (Ouvinte) “... A Bahia é o quinto Estado mais miserável do país, esse país que tem 26 estados mais o Distrito Federal, enquanto no Brasil de cada 30 brasileiros 9 são miseráveis, na Bahia de cada 30 baianos 16 são miseráveis. No caso, Mario, miseráveis aquele que ganha de 0 a 80 reais por mês. Como nos últimos 32 anos ACM e seu grupo estiveram presentes em 24 deles, ACM tem total responsabilidade por esse quadro ruim. Pode-se enquadrar de outra forma, viu Mario, nos últimos 32 anos, em cada 100 dias de governo 75 dias foram de ACM, vou repetir de cada 100 dias de governo 75 dias foram de ACM. Quando ACM assumiu seu primeiro governo na Bahia, a escola pública era de boa qualidade...” Esse outro ouvinte tenta demonstrar a importância do voto: (Ouvinte) ...a primeira coisa é a respeito ainda desse debate que houve que as pessoas aqui no Brasil tentam levar o debate como uma partida de futebol. Gente, isso é política, é o futuro de nós, o futuro de nossos filhos, nossos netos. Então, pára com esse negócio de quem perdeu e quem ganhou!! Quem quiser votar em Lula, que vota em Lula, quem quiser votar em Ciro, que vota em Ciro e por aí vai. Acho que é assim. Entendeu? Acho que naquele debate, eu assisti, eu tenho 38 anos, foi o pior debate que eu já vi de políticos, foi aquele. Que todo mundo fez... se mascarou.” Existem os ouvintes que ligam para tirar dúvidas de outros ouvintes, advogados que esclarecem casos jurídicos, profissionais de área de saúde que dão dicas para manter vida saudável, motoristas de táxis que informam trânsito e toda uma série de ouvintes-prestadores de serviço, que tentam contribuir com o programa de maneira espontânea. 3.2.6 - Prestação de serviço 46 Os jornais de Mário Kertész também costumam prestar serviços de utilidade pública, não só através de informações de grande interesse da população, mas principalmente respondendo aos questionamentos dos participantes, que costumam aproveitar o fato de Mário ter sido prefeito para esclarecer dúvidas relacionadas à pagamento de tributos, solicitação de documentação, telefones e nomes de funcionários de órgãos do governo, entre outros casos. O programa também abre espaço para solicitações de emprego, de doação de sangue, e até em busca de informações sobre carros roubados ou objetos desaparecidos: (Ouvinte) Eu tô ligando para pedir um favor, na verdade. Eu estudo na faculdade Jorge Amado e na sexta-feira eu saí um pouco mais cedo e esqueci um pacote na sala e pedi a um amigo para levar e acabou ele perdendo esse pacote dentro da faculdade, dentro das dependências da faculdade. (...) Se alguém encontrou esse pacote, dentro da minha agenda tem o meu telefone, tanto da residência quanto do celular que entre em contato comigo porque realmente eu estou precisando muito desse pacote. Nesse caso, o ouvinte aproveita o espaço fornecido pelo programa para ajudar alguém que precise. (Ouvinte) Alô Mário, bom dia. Eu queria de fazer uma doação. Eu queria doar uma cadeira de rodas mas para uma pessoa que precisasse mesmo, viu? Uma pessoa deficiente. Deve-se destacar ainda que a programação da Metrópole conta com boletins informativos. Um deles, chamado “Últimas Notícias”, é veiculado a cada meia hora, com duração de 2 minutos e 4 notícias de editorias variadas. Durante os Programas Bom Dia com Mário Kertész e Jornal da Bahia no ar, são 6 edições. Além dele existe outro boletim, mais curto, que é veiculado a cada hora, com manchetes de notícias, o “Notícias de Agora”. Os boletins são lidos por Luciana Acioly e pelo locutor Abraão Nunes e reúnem as principais notícias do momento. 47 Ainda sobre os programas comandados por Mário Kertész é preciso ressaltar ainda que as entrevistas conduzidas pelo apresentador costumam ter perguntas objetivas, de interesse geral e até certo ponto isentas. Um bom exemplo foi a entrevista feita com o então presidenciável Luis Inácio Lula da Silva60. Abaixo, algumas das perguntas feitas ao candidato. (Mario) “Queria que você me desse a sua opinião sobre esse acordo que foi fechado com o fundo monetário internacional.” (Mário) “Lula, à respeito do debate da Band, tem muita gente que diz o seguinte, que disparadamente você foi quem se saiu melhor no debate, mas que por outro lado você foi muito preservado pelos outros candidatos, que você estava numa posição muito confortável . É assim que você vê o debate?” (Mário) “Agora, Lula, esse ano a campanha tem um diferencial que é a abertura dos canais de televisão, sobretudo da Globo, abrindo espaço não somente para debates que vão acontecer, como esse que aconteceu na Bandeirantes, mas sobretudo para que cada candidato vá primeiro no Jornal Nacional, agora no Jornal da Globo, depois mais pra frente no Bom Dia Brasil. Quer dizer, essa abertura da mídia, é... que todos os canais estão começando a proporcionar, você vê isso como uma coisa positiva, porque não fica dependendo somente do horário eleitoral gratuito para as pessoas ficarem conhecendo os candidatos?” (Mário) “Lula, com quem você vai governar?” Ao final da entrevista com Lula, Mário Kertész deixa claro que vai entrevistar Serra, Ciro e eles terão o mesmo espaço e serão questionados sobre os mesmos temas. Isso mostra que houve a intenção de dar aos presidenciáveis o mesmo espaço no rádio, ao menos em suas entrevistas. 60 Programa do dia 9/07/2 48 4.0- Linguagem, ética e política no rádio A comunicação no rádio conta apenas com a audição e portanto, deve suprir a carência de imagem, sendo ao mesmo tempo simples, rica e objetiva, fazendo com que seu ouvinte consiga ver através das palavras. A audição é passageira, não se pode voltar atrás para ouvir uma informação que não foi compreendida, como num jornal impresso, por isso o texto usado no rádio também precisa de claro. O rádio não demanda exclusividade, ninguém pára de realizar uma atividade para ouvir um programa radiofônico. Simplesmente o faz enquanto trabalha, dirige ou estuda. O texto radiofônico precisa ainda ser forte, atraente, para que atinja o ouvinte que está no carro, trabalhando. Forte, porém sem apelação, pieguice ou sensacionalismo. E acima de tudo, o rádio exige uma linguagem agradável aos ouvidos. No caso do texto jornalístico, é preciso haver ainda seriedade, clareza, objetividade e responsabilidade. Nilson Lage destaca que a linguagem jornalística “é basicamente constituída de palavras, expressões, e regras combinatórias que são possíveis no registro coloquial e aceitas no registro formal61”. No caso dos programas analisados a linguagem utilizada pelos apresentadores é bastante coloquial, com expressões correntes na modalidade falada, na conversa familiar. Pode-se dizer portanto, que a linguagem falada nos programas não é jornalística, um vez que está muito mais próxima da linguagem informal, que é utilizada para conversar com um amigo. A proposta dos apresentadores é justamente essa: criar um clima de intimidade com o público, deixando de lado as “formalidades” do jornalismo. No caso do apresentador Mário Kertész a linguagem chula também é utilizada com freqüência, quebrando a velha imagem do apresentador distante e impessoal. Ao comunicar usando gírias e expressões populares ele estabelece uma relação de intimidade com seus ouvintes. Algo semelhante se verifica na linguagem de Marco Aurélio, sendo que nesse caso, ao invés de termos chulos, o apresentador utiliza constantemente palavras de uso popular como “arabaca” (para 61 LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo, Ática, 1993, p. 38. 49 falar sobre seu carro), “buzú”, “patuléia”, entre outras. Com isso ele tenta passar a idéia de vive numa mesma condição social que seus ouvintes. A linguagem jornalística passa a ser usada nesses programas, somente quando os âncoras lêem textos do jornal impresso. Nesse caso, trata-se ainda, de uma linguagem distinta daquela que deve ser usada por um jornalista de rádio, haja vista que o texto radiofônico não deve ter o mesmo formato que o texto feito para impresso. Além das características mencionadas acima, o texto radiofônico deve conter frases curtas, em ordem direta, sem orações intercaladas, evitando-se o uso de verbos no gerúndio ou no futuro do presente. Isso sem falar na sonoridade, já que o texto a ser lido no ar deve ser de fácil pronúncia, sem aliterações ou cacófatos. Em seu discurso, o apresentador Marco Aurélio utiliza também mensagens religiosas, como forma de atrair a audiência. Mais do que comunicador, ele passa a ser uma figura quase santa, bondosa e religiosa, insistindo na ritualização da tradição e dos bons costumes, no bom comportamento. Para muitos desses ouvintes conversar com o apresentador é mais do que um prazer, é um presente de Deus, como mostramos no capítulo anterior. Trata-se de um discurso valorativo, com o intuito de servir de exemplo. 4.1 - Populismo62: Nos dois programas é fácil perceber ‘tendências populistas’ no discurso de seus âncoras. No caso de Marco Aurélio esse discurso se mostra ainda mais evidente. O 62 O populismo surgiu no Brasil em 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. O movimento pode ser definido como a política do "vão-se os anéis, ficam-se os dedos", ou seja, faz-se algumas concessões ao povo e aos aliados, mas mantém-se o poder. Dava-se um pouco de direitos aos trabalhadores, mas atrelava-se seus sindicatos ao Estado. Queimava-se o café excedente, mas o lucro, que porventura aparecesse, iria para o desenvolvimento das fábricas. Vargas procurou dar aos trabalhadores alguns direitos que há muito tempo batalhavam, como o direito ao voto secreto e universal, ao salário mínimo, à formalização de um período de trabalho, entre outras coisas. 50 termo populismo é dado à “atitude pesquisada e fabricada segundo parâmetros sempre presentes nos antigos líderes populistas, numa vã tentativa de promoção, de conquistar o apoio das massas em momentos de crise, sem que alterações substanciais ocorram nos planos político e social, e muito menos no econômico sejam observáveis”63. As manifestações populistas surgem como uma forma de dominação causada pela “condição de vazio político”64. As pessoas, desencantadas com os líderes políticos dos poderes tradicionais, sentem necessidade de um novo líder. No populismo, “a fonte principal de inspiração e termo constante de referência é o povo, considerado como agregado social homogêneo e como exclusivo depositário de valores positivos, específicos e permanentes”65. Trata-se de uma espécie de ideologia onde a legitimidade reside no povo. Como vimos no capitulo anterior, os apresentadores costumam se posicionar ao lado do povo e a favor dele. “Eu estou com o povo e povo está comigo”, repete Marco Aurélio durante várias vezes em seu programa. “Para o populismo, a divisão é entre o povo e o não-povo.” O povo, no caso de Salvador, é formado pela massa de trabalhadores, enquanto que o não-povo é representado pela elite, os “barões”, como costumam repetir os apresentadores. Diariamente, eles tentam passar a imagem de que estão ao lado do trabalhador e contra a elite. No caso da TV e do rádio, uma tendência populista pode ser entendida como o projeto de uma classe hegemônica que, para manter e aumentar sua hegemonia assimila e reflete em suas produções parte da ideologia proletária, numa espécie de aliança que dá ao outro lado a ilusão de participar 66. Os apresentadores costumam, de 63 SANTORO, Luís Fernando. Tendências populistas na TV Brasileira ou as escassas possibilidades de acesso às antenas. IN: Populismo e Comunicação. São Paulo, Cortez, 1981, p.143. 64 Como esclarece Francisco Weffort, no livro O Populismo na Política Brasileira, “o populismo surge como forma de dominação nas condições de vazio político em que nenhuma classe tem a hegemonia”(pág 159). 65 BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília, Editora da UnB, 1985, p.980. 66 A idéia é desenvolvida por Santoro, p. 135. 51 fato, valorizar aquilo que eles chamam de interatividade, abrindo espaço para o ouvinte falar ‘o que quiser’. No programa “Ligação Direta”, o ouvinte é atendido individualmente, seja por carta, ao vivo ou por telefone. O ouvinte é identificado pelo nome, sobrenome, bairro onde mora, idade, ocupação e estado civil. Em alguns momentos, a conversa se estende para assuntos banais. Estabelece-se uma relação intimista e afetiva entre o ouvinte e o apresentador, que passa a ser um amigo, confidente. Tenta-se, a todo tempo passar a idéia de que Marco Aurélio é a própria voz do povo. O seu discurso é carregado de elementos que representam vinculação com o povo: nacionalismo, reivindicações sociais, luta por melhores salários e condições de vida para a população. No caso do discurso de Mário Kertész, nem todas essas características são tão evidentes, porém é possível notar também em seu texto, trechos em que o comunicador se coloca inserido no mesmo universo social de seus ouvintes, especialmente quando critica o governo brasileiro, a impunidade, os impostos, os aumentos nos preços de taxas e produtos consumidos por seu público. Um exemplo disso é a campanha contra os reajustes nos preços dos combustíveis, e contra a formação de cartel dos combustíveis em Salvador. Seu discurso também passa pelo aspecto legislador e pedagógico. Nesse caso, vale destacar a sua campanha pela manutenção dos radares usados para multar motoristas que desrespeitem os limites de velocidade no trânsito. Os dois apresentadores costumam selecionar assuntos, apontar falhas, sugerir caminhos a serem seguidos, orientando os ouvintes. Muitas vezes casos isolados são escolhidos pelos comunicadores e resolvidos com a ajuda do programa. No caso dos jornais da Metrópole a solução dos problemas é o encaminhamento às instituições públicas que podem ajudar o ouvinte, num sentido de orientação. Já no jornal da Tropical Sat a solução se dá através da utilização do prestígio que o apresentador tem mediante instituições, médicos, e órgãos públicos. E o desenrolar de cada drama é acompanhado no programa. Em muitos casos, Marco 52 Aurélio realmente consegue resolver os problemas dos ouvintes. Ele consegue atendimento médico para aqueles que apresentam alguma doença, interna pacientes que querem se livrar das drogas, e doa alimentos à ouvintes que reclamam da fome. A distribuição de presentes é marca registrada do programa. Diariamente são escolhidos uma média de 4 ouvintes para receber presentes dos programa. São geladeiras, fogões, cestas de alimento, botijões de gás, e até dinheiro em espécie. O apresentador tenta sempre se identificar com o povo, assumindo uma postura paternalista tentando obter popularidade e ser reconhecido por seu público por essas características. 4.2 - Sensacionalismo No populismo, técnicas de sedução são usadas para aumentar a intensidade do estímulo, da excitação das pessoas. “A comunicação de massa é planejada sob forma de espetáculo”67. O sensacionalismo é outra característica no discurso dos apresentadores Mario Kertész (também de maneira mais discreta) e Marco Aurélio (de forma mais evidente). Entende-se por sensacionalismo a “forma de comunicação que apela às emoções primitivas por meio da apresentação de fatos que têm características incomuns, místicas ou sádicas, idealísticas ou monstruosas, fatos que são ao mesmo tempo desejados, temidos e repelidos”68. O sensacionalismo está relacionado à cultura de massas e trata-se de mais um artifício para despertar a atenção do público. Tenta-se dar destaque à violência e ao erotismo. No programa “Ligação Direta” o apresentador busca dar ênfase às notícias policiais, com utilização de fundo musical, e dando à leitura uma entonação dramática. No texto em que fala sobre a mulher que toca fogo no marido (relatado no capítulo 67 MORÁN, José Manuel. “A comunicação populista”, in: VVAA, Populismo e Comunicação, organizado por José Marques de Melo, São Paulo, Cortez, 1981, p.81. 68 BICUDO, Virgínia. “Educação e sensacionalismo” in: Jornalismo sensacionalista. São Paulo, Comunicação e Artes, 1972, p.52. 53 anterior) Marco Aurélio grita, e emite julgamentos durante a leitura: “Ela nega, diz que não foi ela, que foi ele que, quando chegou em casa embriagado, jogou álcool derramando sobre o piso cerâmico e aí ele mesmo de maneira... que não pode se justificar tocou fogo. Isso é o que ela diz.” Em outro programa o mesmo apresentador dá ênfase ao caso das garotas xifópagas, que nasceram ligadas pelo tronco. Nesse caso, trata-se de um caso quase monstruoso, e que desperta a atenção do público. O apresentador, ao entrevistar o pai das crianças, tenta a todo o tempo comover o entrevistado e o público, abordando os temas morte e perda, utilizando sempre o nome de Deus. O sensacionalismo também está presente no discurso do comunicador Mário Kertész, embora de maneira menos explícita. Apresenta-se em sua linguagem, muitas vezes chula e repleta de gírias69; nas piadas que abordam o sexo, algumas contadas por ele outras por seus ouvintes mediante sua autorização. O sensacionalismo está nos discursos revoltados onde faz críticas à empresas (muitas vezes aos gritos), num atitude de defesa ao discurso do ouvinte, porém sem ter o cuidado de checar a informação divulgada por este. E embora os programas da Metrópole não usem fundos musicais, a linguagem do apresentador é também, em muitos momentos, exaltada, enfática e dramática. 4.3 - Política e informação: “Controlar as fontes de informação corresponde a ter em mãos os instrumentos construtores, isto é, formadores, da opinião pública, a matéria prima do processo 69 A questão da linguagem no discurso sensacionalista é abordado por Ramão Gomes Portão, p. 23-28. 54 eleitoral”70. Ao se falar em rádio e sua relação com o poder, é importante localizar esse meio de comunicação dentro do sistema de telerradiodifusão. Pode-se começar destacando que o faturamento de uma emissora de rádio é baixo se formos comparar ao de uma emissora de TV, jornal impresso ou até de uma revista (ver quadro). Faturamento Bruto por Meio (em R$) Quadro Comparativo Mídia Televisão Rádio Outdoor Jornal Exterior Revista TV Paga Total 1999 4.462.465.823 378.936.537 233.685.466 1.898.647.246 167.208.473 788.041.779 80.600.304 8.009.585.628 Mídia Faturamento Bruto por Meio (em R$) – Valores acumulados em 2001 5.340.230.640 441.564.300 233.857.118 1.975.049.292 203.810.479 985.466.248 142.603.019 9.322.581.096 Televisão Rádio Outdoor Jornal Exterior Revista TV Paga Total 2000 5.542.039.411 482.152.759 296.036503 2.113.741.689 215.133.041 1.043.401.772 161.548.907 9.854.054.082 2001 5.340.230.640 441.564.300 233.857.118 1.975.049.292 203.810.479 985.466.248 142.603.019 9.322.581.096 Participação no bolo total 57,3% 4,7% 2,5% 21,2% 2,2% 10,6% 1,5% 100,00% Fonte: Projeto Inter-Meios No entanto, sabe-se que o rádio é uma poderosa ferramenta de manipulação ideológica, e por isso é muito cobiçada por grupos políticos e religiosos. O nazismo 70 AMARAL, Roberto. Controle das eleições e informação- o papel dos meios de comunicação de massa IN: Comunicação & cultura Vol 7, nº 2, Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, 2000, p.146. 55 utilizou o rádio para chegar às massas. “Hitler só teve existência política graças ao rádio e aos sistemas de dirigir-se ao público. Isto não significa que estes meios tenham retransmitido de fato seus pensamentos ao povo alemão. Seus pensamentos eram de curto alcance. O rádio propiciou a primeira experiência maciça de implosão eletrônica, a reversão da direção e do sentido da civilização letrada”71. Aqui no Brasil, podemos dizer que o rádio, de uma forma ou de outra, sempre foi usado pelos governantes, ora através da divulgação de obras e realizações, campanhas políticas, ora através da censura de notícias. A primeira mostra disso se deu ainda na década de 30, quando foi criada por Getúlio Vargas “A Hora do Brasil” programa que é apresentado até hoje das 19h às 20h e que divulga as realizações e feitos do governo. O sistema de concessões de emissoras de rádio e TV é outra mostra desse controle da mídia por parte do governo, que exerce e sempre exerceu controle sobre a programação das emissoras. No Brasil, até 1994, o processo para se conseguir um canal de televisão ou uma emissora de rádio implicava em um trabalho político já que, pela legislação de 1962, do Código Brasileiro de Telecomunicações, a permissão para operação de um serviço de radiodifusão era de atribuição exclusiva do presidente da República. O resultado disso é que o sistema de comunicação social brasileiro deve sua formação e expansão à distribuição de emissoras entre amigos de influentes políticos do legislativo, que trocavam votos no Congresso por canais de rádio e Tv. Só o governo Sarney, em pouco mais de 3 anos e meio foi responsável por 1.028 concessões (ver quadro). 71 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. Cultrix, São Paulo, 1964, p.337. 56 Tipo Serviço FM OM TV Total de 1985 1986 1987 1988 Total 66 47 14 127 91 50 13 154 143 53 12 208 332 164 43 539 632 314 82 1.028 Na época, o Ministro das Comunicações era Antônio Carlos Magalhães. Durante sua gestão no Minicom, ACM foi bastante “generoso” com seus conterrâneos e familiares, destinando-lhes cerca de 96 concessões de rádio e seis de TV 72. Os números não são precisos já que existem emissoras de rádio ligadas à ACM em nome de terceiros que não puderam ser identificados. Atualmente, o ex-ministro é “proprietário” da Rede Bahia, um dos maiores grupos empresariais de comunicação do Norte e Nordeste, com 22 empresas que operam nos segmentos de mídia eletrônica, mídia impressa, TV por assinatura, gráfica, construção e logística. Nesse grupo está a Rede de rádio Tropical Sat, que conta atualmente com 25 afiliadas (que atingem 144 municípios), grande parte dessas emissoras pertencentes a políticos e empresários que apóiam ACM. Esse assunto (já foi abordado ou iremos detalhar mais tarde). O Relatório de Desenvolvimento Humano – 2002, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), mostra que dentre todas as mídias, o rádio é a que mais se concentra nas mãos do poder estatal. Dados mostram que 72% das AMs e FMs estão nas mãos do governo, contra 60% das TVs e 29% dos jornais73. Para quem ouve rádio é fácil perceber que mesmo as emissoras que não são controladas diretamente pelo Estado, costumam ser afetadas por interesses e pressões políticas. Muitas vezes, a mídia acaba caindo em monopólios familiares como A Globo e a própria Rede Bahia. Como foi mostrado no capítulo anterior, os programas da Tropical Sat e da Matrópole apresentam alguns problemas no que se refere à falta de isenção de seus apresentadores. No caso de Marco Aurélio essa característica é ainda mais clara e fica evidente nos dois exemplos de entrevistas realizadas pelo apresentador com o 72 73 Os números estão no texto de MOTTER, p. 109. A pesquisa foi divulgada no jornal Folha de S. Paulo do dia 31 de julho de 2002. 57 governador da Bahia, Otto Alencar, e com prefeito da capital, Antônio Imbassahy, onde é clara a intenção do âncora de promover o então candidato a república Ciro Gomes, apoiado pelo Carlismo. Marco Aurélio também chega a manipular a informação, modificando o resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto Retrato referente ao desempenho dos presidenciáveis em um debate. “O rádio tem que ser honesto com o ouvinte ainda que a linha editorial seja marcadamente favorável – ou contrário – a determinado fato ou opinião”74. A questão da imparcialidade e objetividade no jornalismo é polêmica. Muitos autores75 defendem a idéia de que a imparcialidade não existe. É utópica. Não há como separar informação de opinião, já que a subjetividade faz parte do dia-a-dia do ser humano. No entanto, deve-se buscar a isenção, “o respeito ao contraditório, o espaço para que todos os lados envolvidos nos fatos tenham condições de dar sua versão76”, o respeito aos que pensam de outra maneira, o combate ao uso da imprensa a favor de quem quer que seja. Comunicadores não devem fazer comentários que influenciem os ouvintes quando noticiarem fatos políticos, nem devem fazer referências que possam ser interpretadas como apoio ou declaração de voto a qualquer candidato ou partido 77. A emissão de opinião não pode exacerbar paixões em torno de um tema 78. Mesmo assim, essa prática é freqüente nos programas analisados. É verdade que Mário Kertész costuma dar espaço para ouvintes de todas as correntes políticas, não limitando a participação de nenhum, de qualquer que seja a posição, o que é um aspecto positivo, já que representa, de certa forma, algum respeito ao contraditório. Entretanto, o próprio âncora não pára de emitir opiniões e fazer discursos beneficiando certos políticos, ao mesmo tempo em que critica outros, de maneira gratuita - e sem fundamentação teórica uma vez que o apresentador não é um cientista político e nem é sua função fazer discursos políticos com tais conteúdos. 74 Barbeiro e Rodolfo, op. Cit., p.27. Só para citar alguns: Juarez Bahia, Luiz Amaral e Heródoto Barbeiro. 76 Barbeiro e Rodolfo, op. Cit., p.11 77 A idéia é desenvolvida por Babeiro e Rodolfo na página 111. 78 BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre, Sulina, 1980, p.20. 75 58 Um aspecto perigoso dos discursos políticos proferidos por comunicadores como esses é que muitas vezes não é fácil para o ouvinte distinguir o que é informação e opinião. Os dois aspectos acabam se misturando e confundindo o ouvinte. Portanto, é preciso fazer uma clara distinção entre o fato e o comentário emitido pelo âncora. 4.4 - Outras questões éticas: Pode-se destacar ainda outras falhas nos discursos desses apresentadores, tendo como parâmetro o Código de Ética do jornalista79. Vale ressaltar que os comunicadores não são jornalistas, e talvez nem sequer conheçam o código de ética da profissão (ou até conheçam, mas não queiram ou não possam segui-lo). Mesmo assim, ao se oferecerem para desempenhar uma atividade jornalística, deveriam seguir as normas de conduta da profissão. Só para citar alguns artigos do código que não são seguidos pelos comunicadores: Artigo 2º - A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de comunicação pública independente da natureza de sua propriedade. Artigo 3º - A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo. Artigo 7º - O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho de pauta pela apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação. 79 O Código de Ética dos Jornalistas foi aprovado no Congresso Nacional de Jornalistas em 1987. O Código fixa as normas a que deverão subordinar-se a atuação profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e entre jornalistas. 59 Artigo 13º - O jornalista deve evitar a divulgação de fatos de caráter mórbido e contrários aos valores humanos. Artigo 14º - O jornalista deve tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar. Outras falhas éticas que merecem destaque nos programas analisados: -As denúncias veiculadas nos programas de Mário Kertész normalmente não são checadas com antecedência. -Marco Aurélio reproduz entrevistas gravadas e as anuncia como se estivessem ocorrendo no momento (ao vivo). -Marco Aurélio costuma apresentar testemunhal80 durante o programa. 80 Gravar testemunhal é a prática que consiste na publicidade com base na credibilidade pessoal do âncora, o que é incompatível com a prática jornalística. 60 5.0 – Considerações finais A informação no jornalismo, seja ela qual for, deve ser transmitida com responsabilidade. No rádio, embora a audiência seja pulverizada, essa responsabilidade não pode ser menor. No entanto, os jornais produzidos em Salvador para o meio rádio são deficientes e apresentam, de fato, falhas éticas. Primeiramente, eles são pouco sérios. Nos dois programas analisados, elementos não jornalísticos são usados a todo tempo numa tentativa de atrair a atenção do ouvinte, de mesclar informação com entretenimento. No caso do “Ligação Direta”, músicas, orações, mensagens, horóscopo, simpatias se misturam às notícias de economia, locais, nacionais e internacionais. No caso do “Bom Dia com Mário Kertész” e o “Jornal da Bahia no Ar”, as notícias dividem espaço com piadas e com um verdadeiro ‘bate-papo’ que o apresentador estabelece com ouvinte. Em ambos os casos a linguagem dos apresentadores compromete a seriedade do programa. A função do âncora em um programa jornalístico é a de comandar um jornal, organizando as informações e servindo de elo entre os repórteres, o público e os entrevistados. Se a linha editorial permitir, o âncora também pode fazer comentários e traduzir as informações. No programa de Mário Kertész, que praticamente não possui repórteres, a função do âncora se limita à de comentar as notícias lidas pela apresentadora Luciana Aciolly e atender às ligações dos ouvintes. Seria leviano dizer que os programas analisados não são informativos. Eles o são. Diariamente, as principais notícias do dia são abordadas nos jornais das duas emissoras. O problema é o tratamento que é dado a essa informação. Os comentários feitos pelos apresentadores não são consistentes. E nem poderiam ser. Afinal, é difícil que alguém seja especialista em todas as editorias de um jornal. Mesmo assim, ambos aceitam o desafio de comentar desde notícias de economia, até fofocas do mundo artístico. O resultado disso não poderia ser outro. Luis Beltrão escreve, citando Rod 61 W. Horton81, que “o leitor exige os fatos e exige também que eles sejam misturados com as opiniões da redação. Aceita truques da inclinação, porém com o privilégio da opinião particular”82. Só que nesses programas a opinião ultrapassa os limites da ética e se transforma em discurso político. Os programas de rádio também costumam valorizar as notícias policiais e esportivas. O programa “Ligação Direta” é um bom exemplo disso. Dos 5 repórteres fixos, 2 falam sobre casos policiais e 1 sobre esporte. A repórter que divulga notícias de São Paulo também dá ênfase aos dramas policias. A idéia de que o ouvinte de rádio quer ouvir notas policiais pode não ser verdadeira. Pelo menos é o que mostra uma pesquisa feita anualmente pelo IBOPE. Dados de 2002 mostram que os ouvintes, mesmo das classes mais baixas, preferem ouvir notícias nacionais, às notícias policiais (ver anexo). No entanto, é comum as emissoras colocarem seus repórteres diariamente na Secretaria de Segurança Pública ou no Hospital Geral do Estado. Informações sobre projetos que tramitam na Assembléia Legislativa, ou resoluções publicadas no diário oficial, dicas de saúde e cultura são muito raras nos programas locais. A própria política, que é tema tão constante nos dois programas, está mal retratada no rádio de Salvador. Como vimos nos capítulos anteriores, as notícias políticas apresentadas nesses programas são geralmente acompanhadas de comentários emocionados. Além disso, as entrevistas com políticos são geralmente tendenciosas e mal-feitas. As perguntas condizem mais com o que o entrevistado quer falar do que com o que o ouvinte quer saber. No programa “Ligação Direta”, os políticos do carlismo83 costumam se pronunciar com freqüência. O prefeito de Salvador, o governador da Bahia e os senadores do Estado costumam dar entrevistas à emissora semanalmente, tendo espaço para falar sobre os trabalhos desenvolvidos por eles em suas gestões. 81 HOTON, Rod W. “A liberdade de imprensa e o leitor livre” IN: Diário de Pernambuco. Recife, 1957. BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Opinativo. Porto Alegre, Sulina, 1980. 83 São chamados políticos do carlismo aqueles ligados ao ex-presidente do senado, Antônio Carlos Magalhães. 82 62 No caso de Mário Kertész esse partidarismo se mostra mais camuflado. Os programas que apresenta têm, mais do que uma finalidade política, o objetivo de lhe conferir prestígio, como empresário e como ser humano. O rádio é seu pedestal de poder, lhe confere a sensação de controle da situação. A emissora se torna uma arma, que pode ser usada contra inimigos e a favor dos aliados, sejam eles políticos ou não. O tratamento que é dado ao ouvinte é outra falha desses programas. Falar no rádio é a chance que o público tem de expor o seu problema, na esperança de obter uma solução. Para a população é difícil acessar o prefeito para reclamar da deficiência do transporte em um determinado bairro, mas, ao fazer sua declaração, ao vivo, para toda a Bahia, a solução pode ser alcançada. Em certos casos, os chamados ouvidores84 de empresas resolvem os problemas denunciados no rádio, ou ao menos oferecem alguma explicação para aquele problema. No entanto, a grande maioria dos casos permanece sem solução. O aspecto mais grave com relação à participação popular está no tipo de denúncia que é veiculada. Nos programas com Mário Kertész, “abre-se o microfone” 85 para qualquer ouvinte, sem que haja nenhum cuidado, ou filtro. As participações são de tipos variados: existem aqueles que lêem matérias de jornal, que procuram desaparecidos, que contam piadas, que vendem produtos, que discutem política, que criticam empresas, que vendem remédios caseiros, que pedem votos... Não há nenhum controle sobre o que irá ao ar. Abre-se, muitas vezes de maneira irresponsável, espaço para o público falar literalmente ‘o que quiser’. Não bastasse isso, muitas dessas denúncias costumam ser apoiadas pelo apresentador. Em um programa, um ouvinte ‘dá um aviso’ à audiência, dizendo que as lojas Mitchel não fazem trocas. Uma denúncia como essa pode prejudicar as vendas da loja. Os produtores do jornal não têm como saber se quem fez a denúncia era mesmo um ouvinte ou simplesmente o dono da loja concorrente. Se a informação fosse verdadeira, a denúncia seria de 84 Muitas empresas costumam ter funcionários contratados para ouvir programas de denúncia e tomar nota de reclamações feitas pelo público. Essas reclamações são investigadas e um esclarecimento é dado ao meio de comunicação em que a denúncia foi veiculada. 85 Expressão muito usada em emissoras de rádio, que significa permitir que alguém fale em um determinado programa. 63 utilidade para a população. No entanto, as lojas Mitchel fazem trocas. Esse e outros exemplos sugerem que as denúncias feitas não são checadas, nem confiáveis. E ainda assim o ouvinte tem o espaço para falar e, além disso, recebe o apoio do âncora. É preciso que se tenha consciência que dos perigos que uma informação mal-apurada pode causar. Rádio é um espaço público, portanto deve-se ter cuidado para não levantar falsas denúncias no ar. Ainda tratando dos programas da Rádio Metrópole, essa falta de comprometimento com o conteúdo que vai ao ar é, em parte, reflexo de uma equipe mal preparada. Destaca-se o fato da equipe de produção ser reduzida e não conter jornalistas. Apenas 4 funcionários se encarregam da tarefa de produzir os 3 primeiros programas do apresentador: os dois aqui avaliados mais o “Jornal do Meio Dia”, totalizando 4 horas de programa. Destaca-se também o fato do apresentador também não ser jornalista. Outra falha é a ausência de repórteres de rua. As notícias divulgadas nos programas têm como fonte os jornais impressos do dia e a internet, de onde vêm as informações mais atualizadas. A apuração é feita por produtores, na redação, via telefone. No caso das notícias divulgadas por locutores do interior, desconfia-se que o procedimento seja semelhante. Já o “Ligação Direta” possui 5 repórteres fixos (além dos radialistas das emissoras afiliadas no interior do Estado) e uma produtora (que como já falamos é jornalista e tem muitos anos de experiência). Mesmo assim pode-se dizer que se trata de uma equipe pequena, pois conta apenas com uma produtora exclusiva. A equipe de repórteres também não é ideal, e poderia ser maior, dando ao jornal mais movimentação e informação. Entretanto, vale destacar que é o programa com a maior equipe de profissionais de Salvador86. A iniciativa de contratar repórteres correspondentes é boa, já que nenhum outro jornal de rádio em FM produzido em Salvador havia feito isso antes. Além disso, as reportagens desses jornalistas 86 O programa Balanço Geral da rádio Sociedade tem 3 horas de duração, possui 3 repórteres e 1 produtora. 64 costumam ser muito bem feitas, objetivas, informativas, com utilização de sonoras e o melhor: bem atuais. A dupla de repórteres que atua na capital baiana não costuma fazer reportagens elaboradas87. Fazem, em média, três entradas em cada programa, divulgando, ao vivo, boletins policiais ou entrevistando pessoas nas ruas. Os boletins são bastante atualizados. Ocasionalmente esses repórteres são deslocados para gravação de entrevistas com personalidades (como foi o caso da entrevista gravada pela repórter Verônica Borges com o candidato ás eleições presidenciais de 2002 pelo PPS, Ciro Gomes, e com o pugilista Acelino Popó Freitas) ou com moradores de bairros pobres. Equipes ideais custam caro. Os empresários de rádio, mesmo aqueles que não visam lucro, geralmente não estão dispostos a gastar tanto em jornalismo. Investe-se em propagandas, em novas vinhetas, em shows. Mas o jornalismo em rádio ainda não é reconhecido na capital. Troca-se o essencial pelo supérfluo. Os proprietários de rádio comodamente preferem fazer do seu ouvinte o repórter, utilizando a justificativa de que buscam um programa interativo. Investe-se pouco em jornalismo com a desculpa de que ele custa caro e não dá tanta audiência quanto um programa musical. No período em que essa pesquisa foi realizada, a líder de audiência em Salvador no horário de 7h às 9h (e em todos os horários), era a Piatã FM88. Nesse horário a emissora transmitia um programa musical. Entre junho e agosto de 2002, enquanto a Piatã conseguia atingir cerca de 96 mil ouvintes por minutos durante o horário mencionado, a Tropical Sat e seu Ligação Direta atingia uma média de 21 mil ouvintes, e a Metrópole, 18 mil89. Na tentativa de melhorar essa audiência, os comunicadores apelam para o popular, o populismo, o sensacional, o emocionante. 87 Por reportagens elaboradas considero aqui matérias produzidas, com utilização de sonoras e texto do repórter, como as que são feitas pela repórter Andréa Welbaun, correspondente do Ligação Direta em São Paulo. 88 Fonte: IBOPE (ver anexo) 89 Ver em anexo material sobre pesquisa IBOPE, explicando como é feita e como pode ser analisada. 65 “É preciso impedir que o jornalismo seja apenas um atendimento do mercado, e seja totalmente dominado por ele. O que deve prevalecer é o meio termo entre as necessidades do público e do mercado. Não trate o público como massa. É preciso resistir aos apelos de reportagem que ‘o povo pede’”90. Falta em Salvador um jornal de rádio em FM que pratique o jornalismo de maneira séria, isenta, sendo direto, informativo, com boas reportagens, independente. “O jornalismo que as FMs fazem e nada é a mesma coisa”, criticou o radialista Manoel Canário91. “Jornalismo em FM (em Salvador) não existe. Ele apenas cumpre o que determina a lei. O cara pega o jornal, recorta lá, gilete press como a gente chama, e lê”, afirma o coordenador de jornalismo da Rádio Sociedade, Armando Mariani92. Os radialistas têm, em parte, razão. No entanto, é preciso deixar claro que, embora o jornalismo feito em FM ainda não tenha a qualidade desejável, ele começa a ocupar espaços. Aos poucos, as emissoras estão inserindo o jornalismo em suas programações. O espaço reservado às notícias ainda é pequeno, mas vem crescendo. Hoje, a freqüência modulada já dispõe de uma emissora como a Metrópole, que tem maior parte da programação falada. Para 2003, existe ainda a previsão de instalação em Salvador de uma afiliada da CBN, emissora que transmite notícias 24 horas. É difícil dizer se esse jornalismo feito na capital em FM irá algum dia atingir, ou se aproximar, do ideal. Num Estado onde a política controla grande parte dos meios de comunicação, pode-se desconfiar que esse objetivo esteja um tanto longe de ser alcançado. No entanto, poderia afirmar que uma rádio “all-news” como a CBN teria espaço no mercado, porque mesmo com audiência reduzida, atingiria a um público segmentado, o que atrairia os anunciantes e garantiria a sobrevivência da emissora. O jornalismo no rádio da Bahia precisa de profissionalismo, competência, responsabilidade e ética. 90 H. Barbeiro e P. Rodolfo, op. Cit. p.30. Entrevista gravada no dia 27/09/02 92 Entrevista gravada no dia 11/09/02 91 66 6.0 - Bibliografia: AMARAL, Luiz. A objetividade jornalística. Porto Alegre: Sagra, 1996, pp. 25-43. AMARAL, Roberto. “Controle das eleições e informação- o papel dos meios de comunicação de massa” IN: Comunicação & Cultura Vol 7, nº 2, Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, 2000. BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica – vol 1. São Paulo, Ática, 1990. BARBEIRO, Heródoto e RODOLFO, Paulo. Manual de radiojornalismo. Rio de Janeiro, Campus, 2001. BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre, Sulina, 1980. BICUDO, Virgínia. “Educação e sensacionalismo” IN: Jornalismo sensacionalista. São Paulo, Comunicação e Artes, 1972. BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília, Editora da UnB, 1985. CORNU, Daniel. Ética da informação. São Paulo: EUSC, 1998. DINES, Alberto. “ Sensacionalismo na Imprensa” IN: Jornalismo sensacionalista. São Paulo, Comunicação e Artes, 1972. ECO, Humberto. Como se faz uma tese. São Paulo, Editora Perspectiva, 1989. FELICE, Mauro de. Jornalismo de rádio. Brasília, Thesaurus, 1981. FREDERICO, M.E. Bonavita. 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Vargas procurou dar aos trabalhadores alguns direitos que há muito tempo batalhavam, como o direito ao voto secreto e universal, ao salário mínimo, à formalização de um período de trabalho, entre outras coisas. SANTORO, Luís Fernando. Tendências populistas na TV Brasileira ou as escassas possibilidades de acesso às antenas. IN: Populismo e Comunicação. São Paulo, Cortez, 1981, p.143. Como esclarece Francisco Weffort, no livro O Populismo na Política Brasileira, “o populismo surge como forma de dominação nas condições de vazio político em que nenhuma classe tem a hegemonia”(pág 159). BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília, Editora da UnB, 1985, p.980. A idéia é desenvolvida por Santoro, p. 135. MORÁN, José Manuel. “A comunicação populista”, in: VVAA, Populismo e Comunicação, organizado por José Marques de Melo, São Paulo, Cortez, 1981, p.81. BICUDO, Virgínia. “Educação e sensacionalismo” in: Jornalismo sensacionalista. São Paulo, Comunicação e Artes, 1972, p.52. A questão da linguagem no discurso sensacionalista é abordado por Ramão Gomes Portão, p. 23-28. 69 AMARAL, Roberto. Controle das eleições e informação- o papel dos meios de comunicação de massa IN: Comunicação & cultura Vol 7, nº 2, Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, 2000, p.146. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. Cultrix, São Paulo, 1964, p.337. Os números estão no texto de MOTTER, p. 109. A pesquisa foi divulgada no jornal Folha de S. Paulo do dia 31 de julho de 2002. Barbeiro e Rodolfo, op. Cit., p.27. Só para citar alguns: Juarez Bahia, Luiz Amaral e Heródoto Barbeiro. Barbeiro e Rodolfo, op. Cit., p.11 A idéia é desenvolvida por Babeiro e Rodolfo na página 111. BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre, Sulina, 1980, p.20. O Código de Ética dos Jornalistas foi aprovado no Congresso Nacional de Jornalistas em 1987. O Código fixa as normas a que deverão subordinar-se a atuação profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e entre jornalistas. Gravar testemunhal é a prática que consiste na publicidade com base na credibilidade pessoal do âncora, o que é incompatível com a prática jornalística. 70