GRUPOS ESCOLARES E ESCOLAS REUNIDAS: A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA GRADUADA EM MATO GROSSO (1927-1945) Elton Castro Rodrigues dos Santos Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] Palavras-chave: Políticas Educacionais. Ensino primário. Escolas Reunidas Introdução A escola graduada se constituía, nas primeiras décadas republicanas, em modelo de instituição educacional almejada pelos governantes brasileiros. “Tal centralidade se evidenciará em termos de interiorização e de expansão, inclusive com a atuação crescente de poderes locais e regionais no processo de escolarização.” (SCHUELER; SÁ; FERRO, 2010, p. 128). Em seu estudo sobre a implantação da escola graduada em São Paulo, nos primórdios republicanos, Souza (1998, p. 31-32), esclarece as conjunturas políticas e educacionais que culminaram no processo de criação deste modelo escolar: Em realidade, na origem da escola graduada encontra-se um processo de profundas transformações sofridas pela escola primária: da existência de um conjunto de escolas sem uniformidade para um sistema mais ordenado, estandardizado e de caráter estatal, de uma escola de ler escrever- contar para uma escola de educação integral com um programa enriquecido e enciclopédico; de uma escola de acesso restrito para uma de acesso obrigatório, generalizado e universalizado. Essa mudança no setor educacional significou, nas palavras de Souza (2006, p. 24), “[...] profundas transformações na organização e na constituição dos sistemas estaduais de ensino público no país.” A escola graduada, para a mesma autora (p. 114), [...] fundamentava-se essencialmente na classificação dos alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos, implicando a constituição das classes. Pressupunha, também, a adoção do ensino simultâneo, a racionalização curricular, controle e distribuição ordenada dos conteúdos e do tempo (graduação dos programas e estabelecimento de horários), a introdução de um sistema de avaliação, a divisão do trabalho docente e um edifício escolar compreendendo várias salas de aula e vários professores. O modelo colocava em correspondência a distribuição do espaço com os elementos da racionalização pedagógica – em cada sala de aula uma classe referente a uma série; para cada classe, um professor. O método simultâneo veio substituir o ensino individual, no qual o “professor chama sucessivamente para perto de si cada aluno e lhe dá atenção por alguns minutos”; já no método simultâneo, “o ensino não se dirige mais a um único aluno, como no modo individual, mas pode atender a cinquenta ou sessenta alunos ao mesmo tempo.” (LESAGE, 1999, p. 6). Essa nova forma de organização se constituiu como elemento importante para a escola graduada, pois, por meio desse método, [...] um único professor trabalha simultaneamente com todos os alunos da classe, com base em atividades a serem desempenhadas por todos ao mesmo tempo. Esse método irá requerer cada vez mais a homogeneidade das turmas, o que será obtido a partir da implementação progressiva da seriação como um elemento-chave da forma escolar moderna, sendo observado de forma mais sistemática no período republicano. (SCHUELER; MAGALDI, 2009, p. 37). Dessa forma, a utilização do método simultâneo consistia em dividir os alunos em classes de acordo com o “[...] mesmo nível de conhecimentos e de idade dos alunos, eram entregues a uma professora, às vezes acompanhada de uma assistente, que deveria propor tarefas coletivas. Cada um e todos os alunos teriam que executar uma mesma atividade a um só tempo.” (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p. 25). Os grupos escolares foram instituições propulsoras e difusoras da escola graduada no Brasil, integrando a realidade urbana e “fundaram uma representação de ensino que não apenas regulou o comportamento, reencenando cotidianamente, de professores e alunos no interior das instituições escolares, como disseminou valores e normas sociais (e educacionais).” (VIDAL, 2006, p. 9). A implantação dos grupos escolares se constituiu em marco na educação do país, “um momento crucial de produção da necessidade de re-fundar a escola pública, uma vez que aquela que existia era identificada como atrasada e desorganizada.” (FARIA FILHO, 1996, p. 39). A cidade de São Paulo foi pioneira na implantação de um modelo de escola graduada, com a criação da Escola Modelo, em 1890, que funcionava anexa à Escola Normal Caetano de Campos, prestando-se como local de estágio para a formação de futuros professores. A implementação da Escola Modelo acarretou diversas mudanças, como: “adequação do prédio escolar às finalidades educativas, atendendo as recomendações pedagógicas e higiênicas; mudança no relacionamento do aluno-professor, estimulando a participação deste último nas aulas; e a substituição de castigos físicos por castigos morais.” (POUBEL e SILVA, 2006, p. 53). A experiência da escola graduada, implantada inicialmente na capital paulista, frutificou, pois, em 1893 foram criados os grupos escolares, formato mais elaborado do ensino graduado, concentrando num único edifício diversas classes regidas por professores normalistas e já imbuídos dos pressupostos escolanovistas, já divulgados à época. A expansão dos grupos escolares em São Paulo buscava acompanhar o desenvolvimento urbano. Segundo Souza (2010, p. 165), em 1929 “já haviam sido instalados 297 grupos escolares”, totalizando um montante de “4. 249 classes – 47 localizados na capital e 250 nas cidades do interior [...]”. Pode-se verificar este crescimento na tabela que se segue: Tabela 01 Crescimento do Grupo Escolar em São Paulo entre 1916 a 1929 Ano Número de Grupos Escolares - SP 1916 162 1917 170 1918 171 1919 187 1920 195 1921 197 1922 198 1924 200 1925 275 1927 289 1929 297 Fonte: SOUZA, 2010, p. 166. Percebe-se que os grupos escolares em São Paulo, além de terem um crescimento gradativo, passaram por momentos quase nulos de expansão, como foi o ocorrido entre os anos de 1920 a 1924, devido ao forte investimento da Diretoria da Instrução Pública, dirigida por Guilherme Kuhlmann1, na criação das escolas reunidas, modelo escolar graduado e de menor custo. Souza (2009, p. 122) justifica tal investimento: 1 Segundo Nery (2009, p. 85) “Entre 1922 e 1931, foram quatro os diretores gerais da Instrução Pública de São Paulo; de 1921 a 1924 Guilherme Kuhlmann, colaborador da Sociedade de Educação, foi quem ocupou o cargo. No final de 1924, foi empossado Pedro Voss, ex-diretor da Escola Normal de Itapetininga e 12º diretor da Escola Normal da Capital, que permaneceu até agosto de 1927. Seu sucessor foi Amadeu Mendes, ex-diretor do Ginásio de Campinas, incentivador da Sociedade de Educação, que somente deixou o cargo com a Revolução de 1930.” Pela primeira vez, desde a reforma republicana da instrução pública, realizada entre 1890 e 1896, foi interrompida a criação e instalação de grupos escolares. De outro modo, a política dos reformadores nos anos 20 orientou-se para multiplicação das escolas reunidas priorizando a organização e distribuição do ensino primário nas vilas, distritos de paz e bairros populares nos núcleos urbanos. Assim, enquanto em 1920 havia 52 escolas reunidas em São Paulo, em 1924, o número total dessas escolas passou a computar 357 unidades. No estado do Rio de Janeiro, o Decreto Legislativo nº 38, de 9 de maio de 1893, estabeleceu que “a municipalidade mandaria construir, em casa circunscrição urbana do Distrito Federal, um ou mais grupos escolares conforme a densidade da população.” (CAMARA; BARROS, 2006, p. 285). Porém, a implantação efetiva dos grupos escolares cariocas ocorreu somente em 23 de janeiro 1897, por meio de uma Lei promulgada pelo prefeito Francisco Furquim Werneck de Almeida. Sobre o assunto, Torres (2009, p. 58) esclarece que “[...] a partir do Decreto nº 377, de 23 de março do mesmo ano, os intendentes aprovaram a reorganização do ensino primário municipal e todos os assuntos relativos à diretoria de instrução. Um novo regulamento da instrução foi aprovado em 1901.” Segundo Schueler (2010), a escola graduada fluminense se constituía de maneira diferenciada da paulista, que se expandiu por diferentes localidades. No cenário fluminense, os governantes, à época, tinham a pretensão de limitar “o número de estabelecimento destes grupos escolares apenas nas principais cidades, onde funcionariam, no mesmo espaço, mas não em regime misto, as escolas masculinas e femininas”, como ocorria em São Paulo. A autora acrescenta que os governantes acreditavam que a criação deste modelo escolar “[...] era a medida vantajosa pela economia de recursos com os alugueis de casas escolares e pelo atendimento à „ordem‟ e à „disciplina‟ pedagógica.” (SCHUELER, 2010, p. 119). Os grupos escolares no estado do Rio de Janeiro não tiveram uma expansão de imediato, vindo isso a ocorrer somente a partir de 1916, com um total de 33 instituições, e chegando a 60 unidades em 1927. A progressão estimada de crescimento dos grupos escolares no Rio de Janeiro pode ser observada na tabela 02: Tabela 02 Grupo Escolar no Rio de Janeiro entre 1916 a 1930 Ano Grupo Escolar - RJ 1916 33 1918 37 1919 41 1920 49 1921 50 1922 51 1926 59 1927 60 1930 65 1937 118 Fonte: SCHUELER, 2010, p.128. Os grupos escolares fluminenses, entre 1916 e 1937, quase quadriplicaram em número, alcançando 118 unidades no ano de 1937. Em Mato Grosso, o ideário civilizador/modernizador que permeava o país nos anos de 1900, esbarravam problemas como a “[...] falta de professores, alunos, materiais escolares e prédios adequados para funcionamento das escolas.” (SÁ; SÁ, 2011, p. 29). O cenário educacional de Mato Grosso, em 1909, era composto por 85 escolas, entretanto, “apenas funccionaram 70, conservando-se as outras fechadas por falta de professores ou de frequência escolar. Adicionando-se a este número as recentemente creadas, eleva-se o total a 104, das quaes algumas dependem ainda de instalação.” (MENSAGEM, 1910, p. 8). De acordo com Sá (2007, p. 78), faltava também às escolas de Mato Grosso uma efetivação maior de inspeção escolar, não havia prédios adequados para os fins educativos, faltando também mobiliário e materiais pedagógicos. Visando mudar o quadro da educação em Mato Grosso, o Cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa, em 1910, para que o estado se posicionasse dentro do cenário de mudanças propostas pela República, investiu na reformulação da instrução pública primária e implementou o Regulamento de 1910, instituindo assim, os grupos escolares no cenário educacional do estado (SÁ; SÁ, 2011, p.30). A criação e instalação dos grupos escolares em Mato Grosso foram autorizadas nas cidades mais prósperas. Onde instalaram-se os primeiros grupos escolares em prédio provisórios (REIS, 2011, p. 92). Com relação ao Regulamento de 1910, este, [...] foi criado para normatizar todos os estabelecimentos do ensino primário do Estado, em especial – a Escola Isolada e o Grupo Escolar recém cria do. O Decreto nº 265, de 22 de Outubro de 1910 tratava-se de um extenso e meticuloso documento composto de 215 Artigos, que dispunha sobre as bases de organização a estrutura e os tipos de estabelecimento de ensino, período letivo, férias regime de aula critérios para promoção de alunos, atribuições do corpo docente, administrativo disciplina e escrituração escolar, instituições complementares da escola entre outros itens. (REIS, 2011, p. 92). Em Mato Grosso, o Palácio da Instrução, construído na Capital para abrigar a Escola Normal, o Liceu Cuiabano e a Escola Modelo (1º Grupo Escolar de Mato Grosso), foi a mais imponente instituição educacional construída no estado nas primeiras décadas de 1900 e constitui, contemporaneamente, um patrimônio arquitetônico de grande relevância para a história educacional e cultural de Mato Grosso. Sobre o assunto, Cunha (2009, p. 59) esclarece: O projeto do “Palácio da Instrução”, em Cuiabá, atendeu rigorosamente no aspecto social, à organização capitalista de escola, já que a questão republicana prioritária não era prover de ensino um grande número de alunos (embora o discurso fosse de educação popular), mas sim, levar o conhecimento a alguns poucos privilegiados, mantendo-os entre as paredes das salas de aulas, submetidos ao olhar vigilante do professor o tempo necessário para terem seu caráter domado e seu comportamento convenientemente formado, até que fossem transformados em cidadãos e trabalhadores educados, de bom caráter e lhes fossem atribuídas qualidades servis, mostrando-se preparados para ocupar cargos de mando e no mercado de trabalho que surgia. De acordo com Sá (2007, p. 125), o Palácio da Instrução representou, à época, um contraste no cenário urbano da capital, tendo em vista que nesse período Cuiabá era “composta de casa feitas de abobe, constituindo um exemplo de como deveria ser a cidade moderna”, conforme se vê na imagem que se segue, na qual o referido prédio está localizado ao lado da Igreja Matriz. O prédio do Palácio da Instrução abrigou a Escola Normal e, de acordo com as normativas de 1910 que regiam a instituição, haveria, anexa a ela, um grupo escolar “sob a denominação de Escola Modelo” (REGULAMENTO DA ESCOLA NORMAL, 1910, Art. 131, p. 169). Com relação a Escola Modelo, Reis (2005, p. 128) esclarece que essa “foi uma instituição de ensino primário que serviu de „oficina pedagógica‟ para os alunos da escola normal, além de ser o „modelo‟, para demais escolas primárias do estado.” Em relação à implantação do Regulamento de 1927, ocorreram mudanças além do desmembramento das escolas isoladas em: escolas isoladas urbanas, escolas isoladas distritais, escolas isoladas rurais e escolas isoladas noturnas, essa Lei criou as escolas reunidas. Tendo como paramêtro a normatização dessa Lei educaional, este trabalho busca analisar o processo de criação e expansão das Escolas Reunidas em Mato Grosso e sua relevância no cenário educacional do estado, a partir da sanção do Regulamento de 1927 até 1945. A pesquisa encontra-se situada no campo da historiografia, com análise de fontes documentais, como relatórios de presidentes do estado de Mato Grosso, Inspetores de Ensino e Diretores da Instrução Pública, disponíveis nos principais acervos e arquivos de Mato Grosso: o Arquivo Público de Mato Grosso (APMT); o Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR) e o Arquivo da Casa Barão de Melgaço (ACBM). 1.0 Os grupos escolares e as escolas reunidas em Mato Grosso A organização da Instrução Pública mato-grossense sofreu mudanças no final da década de 1920, isso porque entrou em vigor, por meio do Decreto nº 759, de 22 de abril de 1927, o novo Regulamento da Instrução Primária. Com essa nova diretiva, o ensino ficou distribuído entre as seguintes categorias: escolas isoladas rurais; escolas isoladas urbanas; escolas isoladas noturnas; escolas reunidas e grupos escolares. Os grupos escolares seriam constituídos de, no mínimo, 8 classes e instalados nas localidades com, pelo menos, 250 crianças em idade escolar, residindo num raio de 2 quilômetros. Para as classes dos grupos escolares, seriam destinados professores com “1- um ano de exercício efetivo em escola urbana; 2- dois anos em escola rural; 3- e por professores normalistas, com três anos de exercício interino.” (REGULAMENTO, 1927, Art. 34, p. 172) A prerrogativa do Regulamento determinava que a classe do grupo escolar cuja matrícula excedesse a 45 alunos, seria “[...] desdobrada, dando-se à nova classe que resultar do desdobramento, provimento interino, sendo nomeados os normalistas que tiverem maior nota no cômputo geral das obtidas no curso das escolas normais.” (REGULAMENTO, 1927, Art. 136, p. 172). Para se constituírem como instituição, os grupos escolares absorveram escolas isoladas ou reunidas, cujos alunos eram distribuídos em 8 ou mais classes, assim como os professores incorporados ou aproveitados como adjuntos no mesmo estabelecimento ou, ainda, dispensados de seus serviços, se houvesse, na hora da junção das escolas, o fechamento de uma classe, seriam dispensados, primeiro, os interinos e, depois, os efetivos, seguindo a ordem de maior tempo de serviço (REGULAMENTO, 1927, Art. 60, p. 172). Em relatório, o diretor do Grupo Escolar de Poconé, Waldomiro de Campos2 (RELATÓRIO, 1916, p. 14), salientava que o citado estabelecimento de ensino sob sua 2 Considera-se que Waldomiro Campos foi uma figura importante para o estudo das escolas reunidas em Mato Grosso, pois, em 1916 enfatizou a importância da criação desse modelo escolar no estado. Contudo, não se encontrou documentos que revelassem sua trajetória de vida e profissional no estado. responsabilidade passava por inúmeras privações, sendo a maior delas a falta de alunos matriculados, o que redundava no baixo rendimento educacional da instituição escolar, contrariando as prescrições do regulamento de 1910. Nas palavras do mesmo mestre: “Em todo o caso, o fracasso teve causas, em tudo estranhas á minha vontade e, por consequencia, não tendo podido remediar, cabe-me, entretanto, lamentar e desejar a paz tão necessaria ao progresso da instrução, base incontestavel do progresso do Estado.” (RELATÓRIO, 1916, p. 14). Em 1913, o presidente Joaquim da Costa Marques declarou, em mensagem à Assembleia Legislativa estadual, que havia muito que fazer para melhorar a instrução pública primária mato-grossense. Segundo ele: Muito e muito ainda se precisa fazer n‟este departamento da administração publica para se alcançar o resultado desejavel, e os esforços do governo no sentido de melhorar e diffundir a instrucção por todo o Estado tem encontrado embaraços e difficuldades de toda especie - desde a falta de pessoas idoneas nos diversos municipios e povoações para o exercicio do magisterio e de outras funcções que lhe são inherentes, até o de casas apropriadas para o regular funccionamento das escolas. (MENSAGEM, 1913, p. 39). Os problemas relacionados à instrução pública faziam com que alguns diretores de grupo escolar, por meio de relatórios remetidos ao Presidente de Estado, solicitassem sua mudança de categoria para escolas reunidas, pois, para manter funcionando um grupo escolar era necessária estrutura física maior do que o governo dispunha, na década de 1910. A tabela a seguir demonstra as matrículas dos grupos escolares de Mato Grosso: Tabela 03 Grupos escolares em Mato Grosso (1919-1926) GRUPOS ESCOLARES Ano Número de matrículas 1919 Escola Modelo 184 G. E. Senador Azeredo 64 G. E. Cáceres 219 G. E. Rosário 154 G. E. Poconé 127 1920 473 126 171 122 109 1001 1921 480 137 186 114 110 1027 1922 550 139 - 94 - 783 1923 712 - 212 180 - 1104 748 1924 861 - 197 220 - 1278 1925 656 - 219 232 - 1107 1926 653 314 139 166 - 1272 Fonte: MENSAGENS DE PRESIDENTES DE MATO GROSSO, ENTRE OS ANOS 1919-1926. O Grupo Escolar de Poconé vinha tendo problemas com o reduzido número de matrículas, em relação ao Grupo Escolar do 1º distrito (Escola Modelo Barão de Melgaço), onde elas eram extremamente superiores às do 2º distrito (Grupo Escolar Senador Azeredo). Por esse motivo, em 1922 teve seus trabalhos interrompidos. A respeito, Corrêa, em relatório (1925, p. 26), esclareceu: [...] attendendo ás conveniencias da população do 2º districto desta capital, que se interessa pela reabertura do respectivo grupo escolar, fechado, á mingua de frequencia, em 1922, foram reabertas, por Decreto n. 889 de 5 de Fevereiro, e a titulo provisorio, as suas oito classes, onde já se matricularam até 31 de Março 108 alumnos, 144 alumnas. O Grupo Escolar de Poconé passava pelos mesmos problemas do Grupo Escolar Senador Azeredo, “[...] sua matricula para os diversos annos do curso não passaram de 66 alumnos ao todo, dos quaes 34 do sexo masculino e 32 do feminino, numero este diminutissímo para um instituo dessa natureza, com um corpo docente de 7 professores.” (MENSAGEM, 1916, p. 60). Quanto as escolas Reunidas, essas seriam criadas “quando num raio de dois quilômetros, funcionarem três ou mais escolas isoladas, num raio de 2 km, com freqüência total mínima de 80 alunos, o governo poderá reuni-las num só estabelecimento.” (REGULAMENTO, 1927, Art. 19, p. 166). O objetivo das escolas reunidas era de melhorar as condições pedagógicas e de higiene dos ambientes escolares, além de classificar os alunos por nível de desenvolvimento e facilitar a inspeção escolar, premissas da escola graduada. As escolas reunidas teriam o máximo de 7 e mínimo de 3 classes, obedecendo a quantidade não inferior a 15 e nunca superior a 45 alunos por classe. Diferentemente dos grupos escolares, onde havia uma ou mais classes para cada ano escolar, nas escolas reunidas era permitida a fusão numa só classe de dois ou mais anos do curso, ou a formação de classes mistas, quando o número de alunos matriculados fosse insuficiente para a separação por sexo e graduação de curso em salas distintas. Abaixo ilustração do prédio da Escola Reunida de Rio Pardo – MT: Ilustração 01: Escola Reunida de Rio Pardo (01) – MT Fonte: RELATÓRIO, 1942, p. 53. (APMT) Ilustração 02: Escola Reunida de Pardo (02) – MT. Fonte: RELATÓRIO, 1942, p. 54. (APMT) As classes que obtivessem matrícula e frequência inferior a 15 alunos, num período de três meses consecutivos, seriam extintas. Importante salientar que, nas escolas reunidas onde estivesse funcionando, no período de um ano, uma média frequente de oito classes, elas seriam transformadas em grupos escolares (REGULAMENTO, Art. 28, 1927). A primeira escola reunida encontrada nas fontes documentais oficiais foi autorizada por ato da presidência do Estado de 23 de outubro de 1929, quando foram agrupadas três escolas isoladas de ambos os sexos existentes na cidade de Santo Antônio do Rio Abaixo (hoje, Santo Antônio de Leverger). A abertura das aulas aconteceu no dia 4 de março de 1930. Em 1937, seis anos após a implantação da primeira escola reunida, Mato Grosso contava com mais sete: Escola Reunida da Villa de Livramento, Escola Reunida de Ladário, Escola Reunida de Corumbá; Escola Reunida de Santana do Paranaíba; Escola Reunida do Bairro de Amambaí, em Campo Grande, Escola Reunida da cidade de Miranda; Escola Reunida de Guajará-Mirim – e mais duas criadas naquele ano a serem instaladas: a Escola Reunida da cidade de Coxim e a Escola Reunida do Coxipó da Ponte (MENSAGEM, 1937). No ano de 1940, o relatório de Júlio Strübing Müller (Interventor Federal) trás informações sobre a implantação de novas unidades de escolas reunidas. Neste período, o número delas chegava a 20, passando, em 1943, para 23 unidades em funcionamento e 3 por serem instaladas: Escola Reunida Januário Rondon em Cuiabá, Escola Reunida Barra do Bugres em Barra do Bugres, Escola Reunida de São Vicente em Guiratinga, sendo as duas últimas criadas pelos Decretos da Interventoria Federal, nº 145, de 11 e 14 de maio de 1943 (RELATÓRIO, 1943). Eram distribuídas nos seguintes municípios: Tabela 12 Escolas Reunidas em 1943 ESCOLAS Localidade Interinas Efetivas Escola Reunida José Magno 6 2 “ Escola Reunida Leovegildo Melo 6 3 “ Escola Reunida Pedro Gardés 5 2 “ Escola Reunida Souza Bandeira 3 1 “ Escola Reunida José Estevão 2 3 Livramento Escola Reunida de Livramento 5 1 Corumbá Escola Reunida de Ladário 3 1 Aquidauana Escola Reunida Teodoro Rondon 2 1 Porto Murtinho Escola Reunida Cláudio Oliveira 4 1 Miranda Escola Reunida Caetano Pinto 4 0 Nioaque Escola Reunida Antônio João 5 0 Bela Vista Escola Reunida Generoso Ponce 3 0 Campo Grande Escola Reunida de Rio Pardo 4 0 2 0 Escola Reunida de Entre Rios 3 0 Escola Reunida de Maracajú 5 0 Escola Reunida de Vista Alegre 3 0 Escola Reunida de Paranaíba 5 0 Escola Reunida de Aparecida Taboado 4 0 Dourados Escola Reunida de Dourados 4 0 Guiratinga Escola Reunida Cel. Júlio Müller 4 0 Poxoréu Escola Reunida Bel. Júlio Müller 4 0 Guajará Mirim Escola Reunida de Guajará Mirim 3 0 Cuiabá Escolas Reunidas PROFESSORES Ribas do Rio Pardo Escola Reunida de Jaraguarí Maracajú Paranaíba Fonte: RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDERAL DE MATO GROSSO, 1943. Como as escolas reunidas seguiam as mesmas normativas organizacionais dos grupos escolares, sendo um professor para cada turma, e levando em consideração o número de professores em 1943, foi observada discrepância entre as escolas reunidas localizadas em Cuiabá e nas demais localizadas no interior. As da Capital possuíam, em média, 4 a 7 professores interinos e de 1 a 3 professores efetivos. Já as do interior, majoritariamente, eram regidas por professores interinos, ficando a educação a cargo de profissionais que não possuíam formação para o magistério. Considerações finais. As informações documentais traçaram uma teia que entrelaça as escolas reunidas e os grupos escolares. Primeiramente, os grupos escolares enquanto instituições almejadas para o estado, visto que símbolo da modernidade, seja pela sua grandiosidade e qualidade de ensino, mas, sobretudo, por representar o que havia de mais moderno no processo ensinoaprendizagem; e depois, as escolas reunidas como uma mola propulsora na expansão da escola graduada. Como foi criada similar ao grupo escolar, à escola reunida seria, na visão dos governantes, economicamente mais viável, pois exigia menor investimento por parte do governo e, quando conseguisse ampliar sua clientela com a divisão dos alunos em 8 classes, seria classificada como grupo escolar, contribuindo, assim, para expansão dessa instituição educacional. Nas escolas reunidas, a organização, segundo as normativas do Regulamento de 1927, previa a classificação dos alunos por série e nível de conhecimento, sendo que a divisão do trabalho docente compreendia um professor para cada série/classe constituída, além de ter reduzido número de classes e de funcionários. As mesmas determinações normalizaram os grupos escolares, que deveriam superar em todos os aspectos citados as escolas reunidas. As análises documentais indicam que a implementação das Escolas Reunidas vinham ao encontro com as necessidades de contenção de gastos do estado, pois reunia em um só prédio três ou mais escolas isoladas exigia um número menor de funcionários e professores, se comparadas com os grupos escolares. As escolas reunidas foram as grandes responsáveis pela propagação do modelo graduado de ensino e possibilitou o acesso de centenas de matogrossenses à educação. Referências: CAMARA, Sônia; BARROS, Raphael. 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