UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Gustavo Werpel Fernandes Matheus Fernandes Viola Concepções de Professores sobre o Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos São Paulo 2009 1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Gustavo Werpel Fernandes Matheus Fernandes Viola Concepções de Professores sobre o Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos Monografia apresentada ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro São Paulo 2009 2 ''Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes. Paulo Freire. Dedicamos aos nossos Famíliares e Professores 3 AGRADECIMENTOS A Deus, que através de sua força, fez com que mais uma conquista fosse alcançada, e por ajudar nos momentos de dificuldade encontradas no caminho. Para que a concretização deste trabalho se efetivasse: agradecemos às inúmeras pessoas que foram incentivadoras neste processo, levando em consideração seus ensinamentos que se tornaram essenciais em nossas vidas profissionais e pessoais. Então, por estes extraordinários exemplos, expressamos nossos sinceros agradecimentos. Ao Prof. Adriano Monteiro de Castro, que com sua capacidade e empenho nos orientando, sempre esteve disposto a melhor atender, proporcionando esta longa caminhada. À Prof.ª Magda Medhat Pechliye, pela sua delicadeza, paciência e inteligência, ministrando a disciplina do trabalho de conclusão de curso. Aos professores que a nós repassaram seus conhecimentos, fazendo que nosso desenvolvimento fosse o melhor possível. Aos voluntários que foram de grande importância para a realização desta pesquisa. Aos meus colegas de curso e disciplinas que compartilharam conosco seus conhecimentos. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram ou torceram pela concretização desta pesquisa. 4 ABSTRACT This study, qualitative, aimed at identifying and analyzing the concept of teachers on the Teaching of Science in Education for Youths and Adults (EYA). From there, he was raised a theoretical back to the history of adult education in Brazil, the ministerial guidelines for teaching science in this mode and contributions to the discussion of scientific literacy in general. The data for this analysis were obtained from the application of semi-structured interviews of teachers of 2nd Segment of Adult Basic in order to determine how much the ideas in the enclosed are present in the theoretical pedagogical practices of teachers. The results point to the need to resume the training opportunities for teachers in order to overcome the ignorance about the specifics of science teaching in adult education. Key-Words: youth and adults. conceptions. scientific literacy. 5 RESUMO O presente estudo, de natureza qualitativa, buscou identificar e analisar a concepção de um grupo de professores sobre o Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir daí, foi levantado um referencial teórico voltado ao histórico da EJA no Brasil, às orientações ministeriais para o ensino de ciências nesta modalidade e às contribuições para a discussão acerca da alfabetização científica de maneira geral. Os dados para análise foram obtidos a partir da aplicação de entrevista semi-estruturada em quatro professores do 2º Segmento do Fundamental da EJA, a fim de averiguar a quanto as concepções cercadas no referencial teórico estão presentes nas práticas pedagógicas dos professores. Os resultados apontam para a necessidade de retomadas nas oportunidades de formação dos professores de modo a superar o desconhecimento sobre as especificidades do ensino de ciências na EJA. Palavras-Chave: educação de jovens e adultos. concepções. alfabetização científica. 6 SUMÁRIO 1. Introdução..............................................................................................Pág 7 2. Fundamentação Teórica........................................................................Pág 9 2.1 Histórico da EJA........................................................................Pág 9 2.2 A EJA e o Ensino de Ciências .........................................,,.......Pág 21 3. Procedimentos Metodológicos...............................................................Pág 27 4. Análise dos Dados e Discussão.............................................................Pág 29 5. Considerações Finais.............................................................................Pág 47 6. Referências Bibliográficas......................................................................Pág 49 Apêndice A – Entrevistas............................................................................Pág 52 7 1- INTRODUÇÃO Segundo Di Pierro (2000), estudos recentes realizados pelo IBGE na última década verificaram que, dentre os brasileiros com 15 anos ou mais, 15,3 milhões (14,2%) não completaram sequer um ano de escolaridade; 19,4 milhões (18,2%) têm apenas de um a três anos de instrução e outros 36 milhões (33,8%) completaram de quatro a sete anos. Levando em conta o total desses dados, é possível constatar que são 70,7 milhões de brasileiros (66,2%) os que não completaram o ensino fundamental e que, de acordo com a Constituição Brasileira e pela UNESCO, deveriam ter acesso e direito ao ensino fundamental gratuito adequado à sua condição de jovens e adultos trabalhadores. Segundo alguns levantamentos realizados pelo Ministério da Educação e do Desporto, também conhecido como MEC, entre 1995 e 1998 o número de matrículas no ensino fundamental de jovens e adultos ficou em torno de dois milhões. Relacionando esse dado à alfabetização, o índice de cobertura não chega a ser 1 %. No caso do acesso ao ensino fundamental encontra-se apenas cerca de 4% de jovens e adultos freqüentando cursos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A exclusão experimentada por essa significativa parcela da população seguramente acarreta em carências de oportunidades para a construção de conhecimentos científicos e, assim, nota-se a necessidade de estudar um ponto muito importante na educação de jovens e adultos, que é a concepção dos professores sobre o Ensino de Ciências na EJA, já que este também pode influenciar na oscilação desses dados. O presente trabalho tem como premissa a importância do professor de ciências na educação de jovens e adultos para a efetiva contribuição na alfabetização científica dos alunos. Assim, seu objetivo foi identificar e analisar a 8 concepção de docentes sobre o Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos, através de um estudo qualitativo das falas de quatro professores de ciências do 2º segmento do Fundamental da EJA. Em outras palavras, buscou-se identificar se os professores estão atendendo às atuais exigências para o ensino de ciências na EJA. A Fundamentação Teórica buscou descrever o histórico da EJA, em todo seu contexto, desde os tempos coloniais até os dias de hoje, no Brasil. Procurou abordar, ainda, aspectos relativos à importância do professor no processo de Educação a respeito do ensino na EJA, tratando da contribuição do educador para tal processo. Finalmente, apresentou a importância do conhecimento científico nos dias atuais e suas implicações no cotidiano dos alunos, relativos a um processo que vem sendo denominado de alfabetização científica. Em seguida serão apresentados os Procedimentos Metodológicos a Análise dos Dados e Discussão. O trabalho se encerra com as Considerações Finais, nas quais se apresentou a síntese do estudo realizado, recapitulando sinteticamente os resultados obtidos na pesquisa e encaminhando novas abordagens a serem consideradas em trabalhos semelhantes. 9 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 2.1 HISTÓRICO DA EJA Segundo Haddad & Di Pierro (2000) a ação Educativa junto a adolescentes e adultos não é novidade. Para relatar a trajetória da educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil é importante remontar aos tempos coloniais quando religiosos exerciam uma ação educativa missionária sobre os adultos, nesse período era difundido o evangelho, e os educadores ensinavam determinados ofícios importantes ao funcionamento da economia colonial e transmitiam normas de comportamento, sendo inicialmente aplicado aos indígenas e, em seguida, aos escravos negros. Posteriormente, se encarregavam das escolas de humanidades para os colonizadores e seus filhos. Após uma desorganização do sistema de ensino, devido à expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, informações sobre a educação de adultos só volta a acontecer no período do Império. Nesse período pouco ocorre, devido principalmente a concepção de cidadania, considerada somente como um direito das elites econômicas. No que tangem as questões de direitos trazidas pela primeira Constituição brasileira, de 1824 Hadadd & Di Pierro (2000) expõem, que esta foi firmada sobre uma forte influência da Europa, a garantia de uma “instrução primária e gratuita para todos os cidadãos”, e isso incluía também os adultos. Esta definição foi semeada tornando presente na cultura jurídica, sendo manifestadas nas seguintes constituições brasileiras. O direito que nasceu na constituição de 1824, visando a garantia de uma escolarização básica para todos não passou da intenção. Tal implantação de uma escola com qualidade para todos progrediu lentamente ao 10 decorrer da historia brasileira. Cabe ressaltar também que isso tem sido interpretada como direito apenas para as crianças. Na segunda década do século 20 o movimento de educadores e da população e da população em prol da ampliação do número de escolas e da melhoria de sua qualidade começou a estabelecer condições a favor da implementação de políticas públicas para a educação de jovens e adultos. Foi exigido do Estado, pelos renovadores da educação, responsabilidade pela oferta desses serviços. É importante comentar também que os movimentos operários valorizavam a educação em seus pleitos e reivindicações (HADADD & DI PIERRO, 2000). Segundo a Proposta Curricular para a educação de Jovens e Adultos (BRASIL 2000), na década de 40 foi estabelecido que a educação de jovens e adultos era importante como uma questão de política nacional, por força da Constituição de 1934, e foi instituída nacionalmente a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário para todos. Alguns aspectos se destacaram no âmbito nacional. São eles: - a criação do Fundo Nacional de Ensino Primário, com o objetivo de aumentar a educação primária, incluindo o ensino supletivo para adultos e adolescentes; - o SEA, conhecido como Serviço de Educação de Adultos, cujo objetivo era direcionar, orientar e coordenar os planos anuais do ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos; - os surgimentos de campanhas como a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), que visava atender à educação de jovens e adultos sendo primordial como fornecedora de infra-estrutura aos estados e municípios; 11 - a Campanha Nacional de Educação Rural (1952); - a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958) Tais esforços empreendidos durante as décadas de 40 e 50 fizeram com que os índices de analfabetismos das pessoas caíssem relativamente na década de 60. No entanto, para que os índices de escolarização da população brasileira ficassem em patamares reduzidos quando comparadas à média do “primeiro mundo” e mesmo de alguns países da América Latina. Ainda na década de 60, as idéias de educação popular foram difundidas, acompanhando a democratização da escolarização básica. Novas perspectivas de cultura e educação eram desenvolvidas por estudantes e intelectuais junto a grupos populares, por meio de diferentes instituições e com variáveis graus de ligação com o Estado. Destacaram-se nesta época o Movimento de Educação de Base (MEB) a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento de Cultura Popular do Recife, iniciado em 1961, Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), Campanha De Pé no Chão, Também se Aprende a Ler, da Secretaria Municipal de Educação de Natal e em 1964 o Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura que contou com a presença de Paulo Freire. Inicialmente oferecia-se apenas o equivalente ao ensino primário á educação de jovens e adultos e foi a partir de 1960, foi estendida ao curso ginasial. De acordo com a Proposta Curricular para a educação de Jovens e Adultos (2000) e Di Pierro (2001), Paulo Freire foi a principal referência para a constituição de um novo paradigma teórico e pedagógico na década de 60. Foi de grande relevância seu papel no desenvolvimento da EJA no Brasil, por destacar a importância da participação do povo na vida pública nacional, assim como o papel da educação para sua conscientização. As iniciativas de educação popular eram 12 organizadas a partir de trabalhos que levavam em conta a realidade dos alunos, implicando a renovação de métodos e procedimentos educativos. Foi aprovado em Janeiro de 1964 o Plano Nacional de Alfabetização, que previa a disseminação de programas de alfabetização orientados pela proposta de Paulo Freire por todo o território Brasileiro. Barreto (1986) apresenta resumidamente algumas das principais contribuições de Paulo Freire para a Educação de Jovens e Adultos: Freire reconhece o adulto de classes populares como detentor de um conhecimento único, tal afirmação pode parecer óbvia nos dias atuais, mas tal afirmação foi dita primeiro por ele. Antes dele possuía-se uma visão predominante da época em que somente o educador detinha o conhecimento e o educando não, era uma relação baseada em transmissão de conhecimento e infelizmente é tratada assim nos dias atuais. Segundo esse aspecto somente o conhecimento das classes dominantes são válidos e como esses conhecimentos baseiam-se em códigos escritos, uma vez que não se domina essa escrita, o sujeito é taxado como escoria da sociedade. Contudo, Paulo Freire enfatiza a necessidade de se atrelar a relação existente entre professor e aluno levando-se em consideração o importante conhecimento das classes populares, pois se partirá dessa relação à construção de novos conhecimentos. A construção do conhecimento se dá pela relação entre as pessoas e o mundo, esse processo pode ser acompanhado pela escola porém a sua ausência não expressa falta de conhecimento podendo até mesmo coibir a construção do conhecimento, desta forma, Paulo Freire desmistifica a escola como única construtora de conhecimento, pois sem esta o homem não abdica 13 sua construção. Em qualquer trabalho do dia-dia o homem passará por situações em que ele decidirá quais as melhores alternativas e soluções para determinado problema obtendo novas informações, gerando no fim do dia confianças e desconfianças, pois homens não são máquinas e devem refletir sobre sua prática sempre construindo conhecimento. Nossa sociedade tenta reprimir o pensamento reflexivo principalmente das camadas populares, contudo essa alienação não é o suficiente para reprimir seus pensamentos não descartando o fato de que essa alienação influencia. O conhecimento oculto do aluno é a base para a compreensão dos ensinamentos escolares, sem tomar conhecimento sobre os saberes do aluno tem-se a impressão que esses conhecimentos tiveram início na escola sendo que na verdade a compreensão de um conhecimento já existente ajudará na construção do novo. Freire diz necessário que o educador tome como base para seu trabalho, o conhecimento que o aluno já domina, fazendo uma leitura significativa para que o conhecimento já dominado sirva como referencial para estabelecer relações que permitirão ao aluno conhecer melhor o que já se conhece e passar a conhecer o que ainda não sabe. O adulto possui maior conhecimento sobre a sua realidade seja ela mágica, ingênua ou até mesmo deformado pela ideologia. Sabendo-se que o professor deve partir de conhecimentos já existentes do aluno, fica claro que, no caso do ensino de adultos deve-se partir da realidade dos mesmos para que seja feita a ponte entre os conhecimentos do professor e dos alunos, e inegavelmente faz-se necessário a compreensão da realidade do aluno por parte do professor, a realidade do aluno exercerá o papel de mediação nessa relação. O primeiro passo no processo se dará pelo confronto de 14 conhecimentos que ambos possuem sobre a mesma realidade iniciando as primeiras trocas de saberes. Freire diz necessária a reflexão entre aluno e professor, segundo ele este é o conteúdo, pois é o objeto da construção do conhecimento sobre o qual se voltam professor e aluno. Freire defende a importância do conhecimento popular como elemento educativo de importante ponto de partida para construção de qualquer outro conhecimento a ser trabalhado com os adultos, porém não nega a importância de se trabalhar os conhecimentos artísticos e científicos, pois os conhecimentos populares não são o suficiente. Freire discorda dos conteúdos programáticos que não se adaptam as camadas populares, porém não nega os conteúdos na educação. Muito embora as idéias de Paulo Freire tenham sido consideradas na elaboração do Plano Nacional de Educação, estas acabam por não se consubstanciarem na prática, já que o golpe militar de 1964 acabará conduzindo um outro projeto para a EJA, denominado MOBRAL. Segundo Di Pierro (2000), em 1967 o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi organizado pelo governo Brasileiro dando início a uma campanha nacional maciça de alfabetização e de educação continuada para jovens e adultos. Foi implantado o ensino supletivo em 1971, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n.º 5.692/71). O Mobral não parou de crescer, difundindo-se por todo o território nacional e diversificando sua atuação até a década de 80. De acordo com a Proposta Curricular para a educação de Jovens e Adultos (2000), o Mobral foi criado com 3 características básicas: 15 - relação paralela levando em consideração os demais programas de educação - organização operacional descentralizada, realizada pelas Comissões Municipais espalhadas por quase todos os municípios do Brasil. - centralização de direção de processos educativos, através da Gerência Pedagógica do MOBRAL Central. Com a atuação do MOBRAL, dois programas foram criados devido a sua divisão. Eram eles, o Programa de Alfabetização (1970), e o Programa de Educação Integrada, conhecido como PEI e, após um determinado tempo, uma série de outros programas foi implantada pelo MOBRAL. Diversos convênios foram firmados com instituições privadas e órgãos governamentais, além do convênio com as Comissões Municipais e com as Secretarias de Educação. Alguns exemplos são: SENAC, SENAI, Cruzada Evangélica de Alfabetização entre outras. Contudo, o MOBRAL tratava-se de um movimento de alfabetização em massa que não atendia às necessidades reais dos educandos, mas sim, às necessidades políticas do poder vigente, este que necessitava de um trabalhador bem informado que possa ler os manuais, que tivesse conhecimento técnico para o aumento da produtividade e também lhe concedia o status político, lhe permitia participar do poder através da eleição de seus participantes. Desta maneira o MOBRAL, de caráter político, visa transformar a mentalidade do sujeito e não dar a ele subsídios que o faça capaz de enxergar e transformar a sua realidade. O ensino supletivo ganhou capítulo próprio na LDBEN n.º 5.692/71, e foi estabelecido que ele destinasse a “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tinham seguido ou concluído na idade própria”. Podendo, o ensino, ser ministrado a distância por correspondência ou por outros meios 16 adequados. Afirma-se nesse período à necessidade adequar o ensino ao tipo especial de aluno a que se destina, o que resultaria de uma grande flexibilidade curricular. O Mobral foi extinto em 1985 com o fim da Ditadura Militar o que ocasionou na implantação da Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos, a assim chamada Fundação Educar que possuía como funções, entre outras, promover o atendimento às séries inicias do 1º grau, a produção de material e a avaliação de atividades. Em 1990 com a extinção dessa fundação, os órgãos públicos, as entidades civis e outras instituições passaram a arcar sozinhos com a responsabilidade educativa pela educação de jovens e adultos. Em 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, durante a qual se reforçou a necessidade de expansão e melhoria do atendimento público na escolarização de jovens e adultos. Porém foi em 1994 que se concluiu o Plano Decenal, fixando metas para o atendimento de jovens e adultos pouco escolarizados. Na seção dedicada à educação básica de jovens e adultos da LDBEN n.º 9.394/96 fica estabelecido que: A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames 17 supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos e nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (LDBEN n.º 9.394/96) Em decorrência de uma nova legislatura entrar em vigor, parte dos direitos inclusos no Projeto acabou não chegando à versão final da Lei, finalmente aprovada em 1996. Devido à aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), ocorrido no mesmo ano e com os vetos do Presidente da República neste período à contabilização de educandos de EJA para cálculo dos recursos do novo Fundo, estabeleceu-se um dos momentos mais difíceis para a EJA (HADADD & DI PIERRO, 2000). De acordo com a Proposta Curricular para a educação de Jovens e Adultos (2000), neste período o movimento de mobilização de educadores e educandos, pesquisadores e gestores de EJA ainda se mostrava tímido em torno do chamamento do MEC para os eventos preparatórios à V CONFINTEA 1, porém deixou um saldo positivo, fomentando a partir da fundação do Fórum de EJA do Rio de Janeiro, em 1996, gênese de um processo organizado de debates e discussões 1 A “Conferência Internacional de Educação de Adultos” do francês “Conférence Internationale sur l´Education” é um evento com o foco na educação de jovens e adultos a nível global tornando-se simbólico para a UNESCO assim como para a comunidade internacional. Ocorre com periodicidade de aproximadamente 12 anos. Entre os dias 19 e 22 de 2009 pela primeira vez o evento realizar-se-á no Brasil (IV CONFINTEA desde 1949) mais precisamente em Belém reunindo cerca de 2 mil participantes incluindo chefes de estados, especialistas,representantes da sociedade civil, setor privado e profissionais de todo o mundo. 18 que se espalhou por todo o país ao longo desses 12 anos. Destaca-se a tentativa de implantação do Plano Decenal de Educação ainda na década de noventa, visando acabar, principalmente com o analfabetismo no país, no prazo de dez anos, mas que na prática nenhuma meta foi estabelecida, ignorando-se os compromissos firmados no Plano Decenal de Educação. A União continuou ausente dos trabalhos efetivamente realizados nessa área. Desde 1997, a Presidência da República se coloca a favor de ações de alfabetização por meio do Conselho da Comunidade Solidária que, a partir de 1999, transformou-se em uma ONG. Seu Programa de Alfabetização Solidária, realizado em parcerias com o MEC e a iniciativa privada, atua em diversos municípios, prioritariamente no Nordeste e no Norte, e, dentre esses, as regiões que apresentam maiores índices de analfabetos. Universidades associadas ao programa fornecem apoio para o processo de alfabetização. Em 2001 foi lançado o Plano Nacional de Educação (Lei nº. 10.172/2001), que estabelece algumas metas para a EJA para serem cumpridas até 2011. O Plano previa a ampliação dos recursos públicos para 7% do PIB, de modo a cumprir suas metas. Novamente, um veto do Presidente da República à época torna sem efeito esta redefinição de recursos do PIB, condição única para viabilizar a implementação do PNE. Em 2003, o Governo Federal, dá origem ao programa Brasil Alfabetizado com objetivo de abolir o analfabetismo no Brasil e aumentar a escolarização de jovens e adultos, incrementando o acesso à educação como um direito de todos em qualquer momento da vida. O programa é vistoriado pelo MEC e atua por meio de convênios com instituições de alfabetização de jovens e adultos. 19 Esta última década observou uma progressiva implantação de políticas de financiamento para a EJA, que culminam na aprovação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério (FUNDEB), em 2006. É importante comentar que a educação de Jovens e Adultos, dentro deste contexto histórico, tornou-se mais que um direito conforme à declaração de Hamburgo. Os participantes se reuniram na cidade de Hamburgo, na “V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos”, reafirmando que o desenvolvimento centrado no ser humano e a existência de uma sociedade participativa eram as principais vias para levar a sociedade a um desenvolvimento justo e sustentável, baseando-se no respeito integral aos direitos humanos. Durante esta década, a educação de adultos sofreu profundas transformações, experimentando um forte crescimento na sua abrangência e na sua escala. Em sociedades baseadas no conhecimento, que estão surgindo em todo o mundo, a educação de adultos e a educação continuada tem-se tornado um necessidade, tanto nas comunidades como nos locais de trabalho. As novas demandas da sociedade e as expectativas de crescimento profissional requerem, durante toda a vida do indivíduo, uma constante atualização de seus conhecimentos e de suas habilidades. No centro dessa transformação, está o novo papel do Estado e a necessidade de se expandirem as parcerias com a sociedade civil visando à educação de adultos. O Estado ainda é o principal veículo para assegurar o direito de educação para todos, particularmente, para os grupos menos privilegiados da sociedade, tais como as minorias e os povos indígenas. O papel do Estado está em transformação. Ele não é apenas um mero provedor de educação para adultos, mas também um consultor, um agente financiador, que monitora e avalia ao mesmo tempo. Governos e parceiros sociais 20 devem tomar medidas necessárias para garantir o acesso, durante toda a vida dos indivíduos, às oportunidades de educação. (Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos, 1997) É nesse momento que a educação de adultos torna-se mais do que um simples direito. Passa ser considerada como a chave do século XXI, fundamentada no exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade, e em prol do desenvolvimento socioeconômico e cientifico. 21 2.2. A EJA E O ENSINO DE CIÊNCIAS. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (2000) o mundo atual vem passando por diversas mudanças, e a educação se tornou palavra chave indispensável para o exercício da cidadania na sociedade contemporânea, se estabelecendo cada vez mais nas inovações nos processos produtivos e nestes tempos de grandes mudanças. A educação capacitou alguns indivíduos jovens e adultos a readquirir seu potencial e força, desenvolver suas habilidades, sustentar competências ganhas na educação extra-escolar e na própria vida. Nos dias de hoje, quando se fala em um processo ensino-aprendizagem, não se está pensando na abordagem tradicional, que caracteriza o aluno como “tábula rasa”. O estudante é levado em consideração como um indivíduo com uma história de vida, com experiências pessoais e portador de um conjunto de explicações próprias que procura dar conta de suas relações com o mundo em que vive. Este raciocínio é completado por Coll (1994) e Rosa (2003), que concordam que a aprendizagem deve apresentar foco no aluno, e este é responsável pelo processo de construção, reconstrução e rearranjo do conhecimento, em um processo singular. Nesta linha, a educação de jovens e adultos representa novas oportunidades para o caminho de desenvolvimento e evolução de indivíduos de diversas idades. É através dela que idosos, adultos, jovens e adolescentes serão capazes de atualizar conhecimentos, mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas culturas. Assim, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA, é importante respeitar os conhecimentos dos alunos, por mais diferentes que sejam, pois ao impor uma determinada explicação como a correta, menosprezando a explicação popular, pode-se criar uma falta de disposição em relação a determinado conhecimento, perdendo-se a chance de promover a 22 reflexão. Desse modo o aluno acaba identificando esse conhecimento como algo a ser usado apenas na escola, sem que haja alteração de suas reais convicções. Isso motiva a intolerância com culturas diferentes da sua, pela falta de compreensão de certos termos diferentes dos seus. Através desta linha de pensamento é possível notar a diferença de natureza entre os alunos. De acordo com o Parecer CNE/CEB2 11/2000, é necessário chamar atenção para o fato de que não levar em consideração as desigualdades, ou tentar passar por elas sem uma devida atenção favorecendo um lado e desfavorecendo outro, significará introduzir artificialmente discriminações, que acabam sendo nocivas às pessoas. Ainda completando esta idéia, tanto Tiba (1998) quanto Zabala (1998) concordam que faz parte do papel do professor procurar considerar a heterogeneidade em suas aulas, sabendo que a aprendizagem não ocorre de maneira única. Como cada aluno aprende de uma determinada maneira, cabe ao professor, mediador deste processo, apresentar estratégias variadas para ensinar. É importante que o professor apresente um “leque” de possibilidades, ocupando o lugar intermediário entre a cultura e seus alunos, já que a diversidade dos alunos se estende a sua maneira de compreensão. Zabala (1998) explica que é necessário que o aluno encontre sentido naquilo que está sendo desenvolvido em sala de aula. As Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA completam o raciocínio, explicando a necessidade de desvendar, por exemplo, a Ciência na realidade do aluno, e que para isso é fundamental utilizar exemplos e temas de estudos ligados ao cotidiano, como eletricidade, culinária, etc. Ao entender que o conhecimento é influenciado diretamente pela vida de todas as pessoas, o aluno sem via de dúvidas se tornará 2 Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Básica. Parecer de Carlos Roberto Jamil Cury sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Aprovado em maio de 2000. 23 mais estimulado a refletir sobre a natureza de tais conhecimentos específicos. No caso da educação de Jovens e Adultos, por estarem mais envolvidos com o mundo atual de trabalho e a sociedade em âmbito geral, o adulto e o jovem estão mais aptos a observarem alguns aspectos com uma maior facilidade, em relação às crianças e adolescentes, como afirma as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais. Levando em conta a idéia acima, é importante comentar que o ensino para jovens e adultos fundamenta-se nos mesmos objetivos gerais do ensino voltado para adolescentes e crianças do Ensino Regular, como comenta as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA. Mas para concretizar esses objetivos gerais, é fundamental seguir determinadas orientações didáticas, dando a oportunidade e oferecendo subsídios para que o professor seja capaz de desenvolver seu planejamento, sendo este coletivo ou individual. As Diretrizes citadas explicam que todas as orientações têm foco no aprimoramento metodológico ativo para o ensino e na aprendizagem de diferentes conteúdos e mostra a importância do planejamento, do uso do livro didático e dos desafios envolvidos no trabalho com classe diversificada. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA (BRASIL, 2000), há mais de trinta anos existe uma similaridade no Ensino Fundamental e na EJA a respeito da distribuição dos conteúdos. Tal distribuição é caracterizada da seguinte maneira: ar, água e solo, na 5ª série; seres vivos, 6ª série; corpo humano, na 7ª série; Física e Química, na 8ª série. Alguns conteúdos como Ecologia, Astronomia e Evolução possuem lugares variáveis, sendo estes aplicados na 5ª ou na 6ª série. É importante frisar que, ainda que as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA procurem superar a arbitrariedade dessa 24 organização curricular, essa distribuição tradicional dos conteúdos persiste até os dias atuais. As Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA reconhecem que essa abordagem, fortalecida pelos livros didáticos, encontra-se bastante enraizada nos professores de Ciências, e que esta fórmula vem se repetindo, com pequenas variações. Alguns aspectos criticados pelas Diretrizes são: os assuntos de Biologia não são pautados em suas interações com o meio ambiente, e sim com ênfase na classificação dos seres vivos; a abordagem dos fenômenos naturais é estancado, sendo realizados apenas no segmento final do curso; falta de correlações entre as ciências naturais; falta de correlação entre o desenvolvimento da humanidade e a cultura em geral. Na necessidade de selecionar e organizar bem os conteúdos, as Diretrizes Curriculares Nacionais de Ciências Naturais para a EJA propõe cinco modos distintos e complementares de análise, levando em conta os grupos de alunos de cada classe. Essa proposta difere bastante da pratica de significativa parcela dos professores de Ciências. São eles: Temas transversais, importantes para a formação da consciência; critérios para a seleção de conteúdos, que sintetizam as considerações e os objetivos da área; natureza dos conteúdos, enquanto fenômenos, conceitos, procedimentos, atitudes e valores, uma classificação compartilhada com as demais áreas e temas transversais; organização dos conteúdos em temas de trabalho, que o professor seleciona de modo a proporcionar o desenvolvimento das capacidades expressas nos objetivos gerais; eixos temáticos, como, por exemplo, Terra e universo, vida e ambiente, ser humano e saúde, na intenção de articular vários conteúdos, a partir dos quais o professor desenvolve os temas de trabalho. 25 Segundo Krasilchik & Marandino (2004) é impossível viver nos dias de hoje, com uma boa qualidade de vida, sem a forte presença da ciência e tecnologia no dia-a-dia dos cidadãos seja por impactos, conseqüências ou produtos que consumimos em nosso cotidiano. Seria fácil argumentarmos a necessidade de aprendermos ciência com a finalidade de uma melhor qualidade de vida, mas o que se discute é a maneira que o conhecimento cientifico deve ser aprendido pela população, este não se deve servir apenas para acúmulo de informação e sim tornar-se efetivamente usual para tomada de decisões. Krasilchik & Marandino (2004) falam sobre a necessidade de se filtrar toda a informação científica existente de modo a ser coerente com as necessidades de quem recebe essa informação, sendo que a decisão sobre qual a informação básica a ser passada deve se basear na crença no poder da educação como instrumento para combater e impedir a exclusão, permitindo a possibilidade de superação, em todas as idades, de obstáculos que mantém analfabetos em todos os níveis. A presente situação só mudará quando houver uma poderosa renovação curricular com inclusão de programas e metodologias adequadas às atuais questões sociais, pois se faz necessário conhecer as necessidades, interesses e conhecimentos dos alunos para efetivamente levá-los a uma verdadeira alfabetização científica. Há diferentes formas de se entender a alfabetização cientifica. Tomando como exemplo o ensino de Biologia, segundo o BSCS (1993 apud Krasilchik e Marandino, 2004) esse processo se desenrola em quatro estágios: Nominal – reconhecimento de termos específicos do vocabulário cientifico pelo estudante, como átomo, célula, isótopo e gene. 26 Funcional – definição de termos científicos pelo estudante (como os exemplificados) sem conhecer totalmente seu significado, conceitua gene como base hereditária e átomo como menor partícula de matéria. Estrutural – compreensão das idéias básicas que estruturam o atual conhecimento cientifico pelo estudante, ou seja, entende que continuidade genética é mantida pela reprodução. Multidimensional – compreensão integrada do significado dos conceitos aprendidos pelo estudante, levando a formação de um amplo quadro que envolve também conexões e vínculos com outras disciplinas, como por exemplo, o conhecimento da constituição, das vantagens e desvantagens do uso de sementes transgênicas. Krasilchik & Marandino (2004) ainda afirmam que é comum que o processo de alfabetização cientifica transcorra por esses estágios na etapa escolar atingindo comumente a fase de alfabetização funcional e muito raramente a fase multidimensional. A memorização de vocabulário efetivada por Cursos e Programas atualmente são os mais presentes e proporcionam aos alunos idéias distorcidas de ciências como um conjunto de definições e nomes impedindo a visualização das interações entre ciência, tecnologia e sociedade. Dessa forma é inegável que a formação do aluno deve estimulá-lo a compreender que o conhecimento científico é cumulativo e historicamente construído, implicado nas relações sociais, políticas, econômicas e ideológicas da sociedade onde é produzido. 27 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. Frente aos objetivos do presente estudo, esta pesquisa se enquadra como de natureza qualitativa, utilizando, como instrumento de coleta de dados, uma entrevista semi-estruturada baseada no seguinte roteiro: 1 – Como é ensinar Ciências na EJA? - Quais aspectos são iguais ao Ensino Regular? - Quais aspectos são diferentes do Ensino Regular? 2 – Quais os fatores que poderiam contribuir com melhorias no ensino de ciências na EJA? 3 – Há orientações para a elaboração das aulas? - De onde vêm as orientações? - Quais são essas orientações? - Que tipo de material é utilizado? 4 – O professor teve na sua formação alguma disciplina relacionada a educação de Jovens e Adultos? Segundo Lüdke e André (1986), a entrevista é um instrumento adequado para a realização de estudos desta natureza e os dados obtidos serão passiveis de análise, a qual será realizada, no presente estudo, concomitantemente à discussão. As entrevistas foram realizadas durante o mês de Outubro de 2009, contando com a participação de 4 professores de ciências do 2º segmento do Fundamental da EJA. Conforme as orientações de Lüdke e André (1986) o anonimato dos professores participantes foi garantido. A íntegra das entrevistas pode ser consultada no Apêndice A do trabalho. 28 Cabe aqui comentar que o tempo disponível para a realização deste trabalho resumiu-se a quatro meses e, durante esse tempo, foi encontrada certa dificuldade no que diz respeito a coleta de dados devido às constantes recusas de alguns professores em participar do estudo 29 4. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO. Para a elaboração da presente análise foram adotadas as seguintes categorias: Comparação entre Ensino Regular e EJA; O Ensino de Ciências na EJA; O Planejamento; e Os Materias Curriculares. Estas categorias foram construídas com base nos referencias teóricos e conduziram a própria elaboração do instrumento de coleta de dados. A primeira categoria visa confrontar as abordagens do Ensino Regular e EJA, notando suas semelhanças, diferenças e relações, bem como a concepção dos professores sobre os alunos jovens e adultos. A segunda categoria vem com o objetivo de analisar as preocupações reais dos professores com a alfabetização científica, de modo a discutir os níveis desta no Ensino de Ciências. A terceira categoria tem como foco analisar a elaboração do planejamento do ensino, tendo em vista o modo com que este é realizado pelo professor, ou seja, identificar seu caráter de produção ou reprodução. A quarta categoria vem com o propósito de analisar as escolhas e modos de aplicação dos materiais e recursos curriculares pelos professores. A fim de confrontar as abordagens do Ensino Regular e EJA, tendo em vista suas semelhanças, diferenças e relações, é possível notar nas entrevistas realizadas com os docentes que estes tomam caminhos distintos na realização de suas aulas, demonstrando diferentes concepções de Ensino. 30 Tendo em vista algumas respostas obtidas através do questionário, podem-se levantar vários pontos a serem discutidos. Exemplo: Professor “A”: ”... o tempo que é fornecido para a gente aplicar esses objetivos é muito curto. E no ensino fundamental o aluno tem mais tempo para dar conta do conteúdo que é passado para ele, sendo que esse conteúdo é o mesmo para a EJA.” “... facilita com que o aluno aprenda o que é dado em sala de aula.” Nota-se nessas respostas uma preocupação muito grande com a questão do conteúdo, remetendo-se a uma visão mais tradicional. Tal raciocínio está de acordo com aquilo que Mizukami (1986) define como típico da abordagem tradicional do ensino: o papel do professor está voltado em garantir que o conhecimento seja passado ao aluno, através dos conteúdos, independente da vontade deste, restringindo assim sua participação. Tal abordagem visualizada no exemplo acima impede que o aluno se sinta verdadeiramente responsável pelo processo de aprendizagem, limitando assim o seu próprio progresso, uma vez que o professor apresenta uma sistematização dos conhecimentos, padronizando a aprendizagem, fazendo com que esta se recorra à rotina a fim de conseguir uma fixação de conhecimento, conteúdos e informações. Desta forma, essa abordagem de ensino baseia-se na transmissão de conteúdo, resumindo-se na maioria das vezes em “passar a lição” e “tomar a lição”, A preocupação com o conteúdo também se evidencia no exemplo anterior quando o docente se demonstra inquieto com a questão do tempo, destinado a 31 aplicação da matéria. Esta idéia esta de acordo com a abordagem tradicional exposta por Mizukami (1986), que diz que algumas matérias são consideradas mais importantes que outras, de forma a destinar a elas uma maior carga horária, e que tal relevância está relacionada com o resultado esperado e desejado pelo professor, que no exemplo citado se trata de chegar ao objetivo proposto, que consiste na transmissão do conteúdo, em um tempo relativamente menor. Nota-se também no professor “C”, através de uma análise na integra do questionário, a mesma tendência seguida pelo professor “A”, uma vez que, em todas as perguntas a ele realizadas, este demonstrou uma preocupação geral com os conteúdos. Uma vertente menos tradicional, é visualizada em algumas respostas de outros professores, levantando assim alguns dados importantes e passíveis de discussão. Exemplo: Professor “B”: “... o modo como se provoca a curiosidade, e a habilidade de elaborar perguntas, ou seja, que o próprio aluno desenvolva o seu conhecimento.” Professor “D”: “... fazer o balanço entre o conhecimento e o aluno.” “... nesse caso existem maneiras diferentes de trabalhar os conteúdos de acordo com cada tipo de aluno.” 32 Segundo Rosa (2003) e Coll (1994), a concepção menos tradicional coloca no centro do processo de aprendizagem o aluno, já que a construção e a reelaboração do conhecimento é um processo individual onde cada um é capaz e responsável pelo seu próprio entendimento. É importante entender que o relacionamento entre alunos e professores é a chave para que se realize um processo de aprendizagem. Coll (1994) ainda acrescenta que como o aluno é que é o verdadeiro responsável pela sua própria aprendizagem, a relação entre este e seu mestre deve ser responsável por ajudar e criar a sedimentação necessária para que o verdadeiro conhecimento seja construído. Como Coll (1994) propõe, os professores em questão estão sempre ajudando seus alunos a elaborarem as suas próprias concepções, já que deixa a cargo deles a identificação e a resolução de situações- problema. Além disto, esta abertura comumente visualizada nestas respostas faz com que os alunos se sintam verdadeiramente parte do processo de aprendizagem, principalmente, pelo seu próprio progresso. Rosa (2003) entende o papel mediador do professor frente o aluno e o conhecimento. Aqui no caso, podemos visualizar claramente que os estudantes são responsáveis pelo produto final de suas reflexões e discussões, enquanto que o docente colabora, provendo uma espécie de apoio para que estas discussões ocorram. Na mesma linha de raciocínio, Freire (1993) prevê que o professor não deve se limitar a um entendimento supérfluo de seus alunos, tentando sempre vê-los como seres humanos completos. Nesse caso, é dever do professor conhecer a realidade em que vivem seus alunos, já que apenas desta maneira consegue-se entender o que eles sabem, levando em conta, finamente, o tão importante 33 conhecimento prévio, como é o caso do professor “D”. Este demonstra uma breve preocupação quando comenta sobre a necessidade de se entender os diferentes tipos de aluno. Desta forma o professor permite a criação de um canal de comunicação comum a todos. Sendo assim, também é passível uma análise no que concernem às semelhanças e diferenças entre Ensino regular e EJA apontados por estes, assim como suas concepções sobre os alunos jovens e adultos Segundo as Diretrizes Curriculares para a educação de Jovens e Adultos (BRASIL 2000), os Objetivos Gerais trabalhados na EJA se espelham em sua totalidade aos objetivos trabalhados no Ensino Regular indo ao encontro da fala da professora “A”, no entanto esta, de acordo com a linha de raciocínio visto anteriormente, apresenta uma tendência mais tradicional: “... eu considero os objetivos gerais.” “... esses objetivos priorizam a formação da cidadania e do cidadão, e é importante também levar em consideração a preparação para o trabalho destes cidadãos.” De acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos (BRASIL 2000), os Objetivos Gerais são: - Compreender a ciência como um processo de produção de conhecimento e uma atividade humana, histórica, associada a aspectos de ordem social, econômica, política e cultural. 34 - Compreender a natureza como um todo dinâmico, e o ser humano, em sociedade, como agente de transformações do mundo em que vive, com relação essencial com os demais seres vivos e outros componentes do ambiente. - Identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje, sua evolução histórica, e compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, sabendo elaborar juízo sobre riscos e benefícios das práticas científico-tecnológicas. - Compreender a saúde pessoal, social e ambiental como bem individual e coletivo que deve ser promovido pela ação de diferentes agentes. - Formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar. - Saber utilizar conceitos científicos básicos, associados tanto a energia, matéria, transformação, como espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida. - Saber combinar leituras, observações, experimentações e registros para coleta, comparação entre explicações, organização, comunicação e discussão de fatos e informações. - Valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento. Concordando entre si, os PCNs para o Ensino de Ciências Naturais (BRASIL 1998) e as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos (BRASIL 2000) dizem que o ensino de ciências, atualmente, é trabalhado de uma forma fragmentada, fazendo com que a ciência seja vista como um conhecimento atemporal e neutro sem vínculos políticos e sociais sem se fazer refletir sua natureza 35 dinâmica. As duas propostas se aproximam novamente ao retratarem a necessidade de se considerar o desenvolvimento cognitivo do estudante, suas experiências sociais e culturais bem como o significado que as Ciências naturais têm para estes. Esta visão é contemplada em uma das respostas do professor “A”, que explicita que os objetivos gerais tem como foco também a formação da cidadania e do cidadão. Faz-se necessário também a contextualização do que se vai trabalhar tanto na EJA como no Ensino Regular a fim de tornar a atividade interessante, possibilitando a exploração e sistematização do conhecimento e assim mostrar ao aluno seu papel atuante e transformador, concordando assim com a resposta do professor “B” e parcialmente com o professor “D” e “C”: Professor “D” “... EJA se diferencia pela necessidade maior de contextualização, e também pela elaboração de projetos, que aproxime o aluno de sua realidade. Vamos crer que isso também é uma questão de similaridade com o Ensino Regular” Professor “C”: “Não tem como falar com um adulto da EJA igual se fala com um aluno do ensino regular. Você tem que se adaptar.” Professor “B”: “... os principais aspectos iguais são o modo como se provoca a curiosidade, e a habilidade de elaborar perguntas, ou seja, que o próprio aluno desenvolva o seu conhecimento.” 36 As falas dos professores “D” e “C” são tidas como parciais, pois as formas com que deve ser conduzido o processo de ensino e aprendizagem devem ser distintas até mesmo em salas de aula de um mesmo segmento de ensino, seja EJA ou Ensino Regular, indo de acordo com os pensamentos de Coll (1994) e Freire (1993), em que o aluno, em si, é responsável pela construção do seu próprio conhecimento, sendo necessário que o docente tenha noção que o discente já possui uma determinada carga de conhecimento. Sendo assim, deve-se considerar que o sonho de uma sala cognitivamente, historicamente e socialmente homogênea está longe ou até mesmo impossível de se realizar. Desta forma é exigido do professor atenção a esses aspectos e faz-se entender que as dificuldades e desafios estão presentes em todos os tipos de alunos e não somente em alunos possivelmente mais velhos, como apontado pelo professor “A” e “C”: Professor “A”: “... é bom porque sempre tem alunos que querem aprender, e são mais maduros, e já vieram para cá com algum objetivo, seja ele trabalho, estudo entre outros. Mas têm aqueles que não se esforçam e estão por obrigação.” Professor “C”: “O lado positivo é que no geral estamos ensinando pessoas mais velhas, portanto mais responsáveis e com maiores experiências de vida.” “Os conteúdos se mantêm. O que muda como eu já disse a vocês é como ensinar a essa faixa etária.” 37 É importante comentar uma breve preocupação de alguns professores, ao indicar as variadas idades dos alunos como uma das diferenças notáveis entre a EJA e o Ensino Regular. Mas como visto acima, a diferença entre os alunos não se atrela a sua idade. Estes são diferentes por possuírem conhecimentos prévios distintos. Sendo assim, a diferença entre eles está no modo com que se trabalha, visando um processo de ensino e aprendizagem significativo.. Sabendo-se da diversidade de conhecimento que o aluno possui, é fundamental fazer uso destes conhecimentos a fim de ampliar as possibilidades para que os discentes possam entender a ciência, compreendendo melhor as manifestações do universo, fomentando assim uma alfabetização cientifica concisa. Segundo Aguilar (1999 apud Chassot, 2003 ), a alfabetização cientifica é tida como uma linha atual no ensino de ciências, que relaciona-se diretamente ao conhecimento resultante dos afazeres cotidianos, proporcionando a decodificação das crenças aderidas a ela. Nota-se na fala de alguns professores a devoção de encontrar relações existentes entre conhecimento e a vivencia do aluno. Exemplo: Professor “B”: “... Porem é mais fácil trabalhar com Ciências relacionando ela com o cotidiano.” Professor “D”: “... e também pela elaboração de projetos, que aproxime o aluno de sua realidade.” 38 Percebe-se, nas falas acima, a ligeira intenção de trazer o cotidiano dos alunos à sala de aula. Trata-se de uma alternativa adotada pelo professor para realizar uma mediação do conhecimento do aluno no processo de ensino, como comenta Zabala (1998). Essa idéia vai de acordo com Chassot (2003), dizendo que tal mediação facilita a compreensão da ciência, colaborando na interpretação dos fenômenos que ocorrem na natureza. O autor ainda explica que tais condições, quando postas em prática, envolvem o cotidiano do aluno, favorecendo a adoção de atitudes que podem levar a melhorias em suas condições de vida. Prewitt (1983 apud Santos, 2007) completa que assim teremos a formação do Cidadão Prático que, apesar de não ser um cientista propriamente dito ou um tecnólogo, obterá capacidade para atuar na sociedade no nível pessoal e social enxergando os princípios e as estruturas que governam situações complexas a fim de se obter uma melhor compreensão de como a ciência e tecnologia exercem influência na sua vida. Na mesma linha de raciocínio, Krasilchik & Marandino (2004) dizem que é impossível viver nos dias de hoje, com uma boa qualidade de vida, sem a forte presença da ciência e tecnologia no dia-a-dia dos cidadãos. Seria fácil argumentar a necessidade de aprender ciência com a finalidade de uma melhor qualidade de vida, mas o que se discute é a maneira que o conhecimento cientifico deve ser aprendido pela população. Apesar dos professores se atentarem à necessidade de relacionar o cotidiano ao ensino, Krasilchick & Marandino (2004) acrescenta a necessidade de se filtrar toda a informação cientifica existente de modo a ser coerente com as necessidades de quem recebe essa informação superando assim, em todas as idades, os obstáculos que mantém analfabetos em todos os níveis. Para isso enfatiza-se novamente a necessidade de se conhecer os interesses e conhecimentos dos 39 alunos, para efetivamente levá-los a uma verdadeira alfabetização cientifica. Podese dizer com base nos exemplos acima, que estes professores se aproximam mais do estagio de alfabetização cientifica multidimensional, como diz Krasilchick & Marandino (2004), uma vez que possibilitam a compreensão integrada do significado dos conceitos aprendidos pelo estudante. Santos (2007) completa que: Assim, uma pessoa funcionalmente letrada em ciência e tecnologia saberia, por exemplo, preparar adequadamente diluições de produtos domissanitários; compreender satisfatoriamente as especificações de uma bula de um medicamento; adotar profilaxia para evitar doenças básicas que afetam a saúde pública; exigir que as mercadorias atendam às exigências legais de comercialização, como especificação de sua data de validade, cuidados técnicos de manuseio, indicação dos componentes ativos; operar produtos eletroeletrônicos etc. Além disso, essa pessoa saberia posicionarse, por exemplo, em uma assembléia comunitária para encaminhar providências junto aos órgãos públicos sobre problemas que afetam a sua comunidade (Santos 2007) Ao retomar as seguintes frases ditas pelos professores “A” e “C”, ao fixaremse na idéia da imutabilidade dos conteúdos, percebe-se uma maior preocupação em sua transmissão, ao invés de torná-los significativos: Professor “A”: ”... o tempo que é fornecido para a gente aplicar esses objetivos é muito curto. E no ensino fundamental o aluno tem mais tempo para dar conta do conteúdo que é passado para ele, sendo que esse conteúdo é o mesmo para a EJA.” Professor “C”: 40 “Os conteúdos se mantêm.” “... os conteúdos do Ensino não mudam....” Desta forma, os professores atingem, segundo Krasilchick & Marandino (2004) a fase de alfabetização cientifica Nominal e Funcional, retratando assim idéias distorcidas de ciências como um conjunto de definições e nomes impedindo a visualização das interações entre ciência, tecnologia e sociedade. Para evitar tal situação é fundamental que, no processo de formação do aluno, este seja estimulado a compreender que o conhecimento científico é cumulativo e historicamente construído, implicado nas relações sociais, políticas, econômicas e ideológicas da sociedade onde é produzido. Tendo em mente a importância do conhecimento cientifico no processo de ensino e aprendizagem do aluno, estipula-se que o docente necessita de alguns fundamentos para elaboração de um planejamento, a fim de um melhor manejo no modo com que cada professor administra suas aulas. Segundo Zabala (1998) o processo educativo se faz tão complexo que dificilmente é possível prever o que pode ocorrer em sala de aula. Devido a esse fato, torna-se necessário que o docente apresente um grande número de estratégias a fim de atender as demandas que surgirão no percurso do processo de ensino e aprendizagem. O autor contempla a importância de elaborar um planejamento suficientemente flexível dando oportunidades de adaptação às necessidades dos alunos, pois estes precisam encontrar sentido no que está sendo realizado para assim alcançar suas metas. Porém existem professores que entram em contradição com os pensamentos do autor quando se limitam a fontes restritas de orientação para o planejamento. Exemplo: 41 Professor “A” “As orientações que eu sigo são as que estão no livro de ciências e as que são passadas pela secretaria da educação Professor “C” “Orientações em gerais, como o modo de ensinar na EJA, o jeito de como se deve tratar o aluno, o que é bom enfatizar no conteúdo.” “Muitas vezes, utilizo orientações que os livros didáticos têm” Nos exemplos citados a cima, fica evidente a conduta dos professores de reproduzir orientações de planejamento do material didático. A partir disso nota-se uma deficiência no modo de aplicar suas aulas, pois Zabala (1998) comenta a necessidade da construção de um planejamento suficientemente diversificado dando possibilidades para atividades, favorecendo diferentes formas de se relacionar e interagir, já que nem todos os discentes, como mencionado anteriormente na análise, aprendem da mesma forma e nem no mesmo ritmo e tampouco o fazem com as mesmas atividades. Os professores em questão expressam assim a falta de iniciativa na busca de novas fontes de planejamento, restringindo-se aos livros didáticos e reproduzindo assim suas orientações. Tal comportamento pode ser interpretado como apego na transmissão do conteúdo caracterizando o aluno como uma “tabula rasa”, expressando-se novamente um caráter mais tradicional. Foram identificados também professores que não se restringem a reprodução de orientações, mas sim voltam-se a construção de planos. Exemplo: 42 Professor “D” “Pelo menos no meu caso eu busco sempre as melhores possibilidades para motivar meus alunos, senão a aula não ocorreria. A maioria sempre chega cansada do trabalho. Uma aula tradicional faria eles dormir.” Interpreta-se, no caso acima, a vontade do docente em motivar seus discentes, moldando planos aos diversos tipos de situações e alunos. Trata-se de uma atitude em que o docente deixa um espaço para manifestação dos discentes, e estes atuam com contribuições e decisões, evitando assim a rotina de uma aula desmotivada. Tal raciocínio é completado por Zabala (1998), quando explica a importância de se planejar, tendo em mente canais de comunicação para uma melhor participação e construção do conhecimento, promovendo assim a autoestima, e até mesmo autoconceito. A partir dessas idéias vê-se a importância de não se ater ao que é estipulado nas orientações dos livros. Em algumas situações, o professor se vê na necessidade de mudar a ordem de algumas atividades, devido à diversidade da sala, para um melhor resultado, visando às metas estipuladas. Zabala (1998) explicita que a ordenação articulada das atividades seria o elemento diferenciador das metodologias e que o primeiro aspecto característico de um método seria o tipo de ordem em que se propõem as atividades, visando abranger algumas dimensões, como atitudinais. Tais dimensões são verificadas no professor abaixo: procedimentais e 43 Professor “B”: “... orientações procedimentais e atitudinais que o professor deve ter perante o ensino e aprendizagem na EJA.” Este professor demonstra uma consideração na aprendizagem, através de conteúdos procedimentais e atitudinais, levando em consideração os métodos, destrezas e habilidades dos alunos, assim como os seus valores, normas e atitudes, porém deixa o tom da dúvida na seguinte resposta: Professor “B”: “A escola possui livros didáticos e um roteiro com a proposta de atividades, porém nenhum destes materiais é de uso obrigatório.” Tal suspeita surge no momento em que o docente comenta, ao responder sobre o seu planejamento, das orientações decorrentes do livro didático e do roteiro com a proposta de atividades, seguindo o mesmo caráter dos professores que se atem a uma única fonte de orientação, reproduzindo os planos estipulados. Porém, neste caso, parece viável interpretá-lo de outro modo, já que a falta da obrigatoriedade do uso desses materiais, lembrada pelo professor, é compensada pela oportunidade de se construir um plano, tendo em mente as necessidades de cada aluno e de cada sala. Esta interpretação pode facilitar o acesso dos alunos aos conteúdos procedimentais e atitudinais. Para Zabala (1998), os conteúdos procedimentais correspondem a oportunidade de aprender como ler, desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir, recortar, entre outros; e os atitudinais 44 agrupam valores atitudes e normas, que atuam de formas diferentes de acordo com cada aluno. Mas para que isso se concretize é necessário um planejamento flexível, que se adapte as diferentes situações. Para tanto, faz-se necessário o uso de materiais curriculares que proporcionem ao educador critérios para tomadas de decisões, tanto no planejamento, como na intervenção direta do processo de ensino e aprendizagem. Zabala (1998) disserta que os materiais curriculares servem como meio de ajuda aos professores para responder problemas concretos existentes nas diferentes fases que o processo de planejamento apresenta. Desta forma, a idéia sobre os materiais curriculares se amplia, podendo abranger elaborações de projetos educativos e curriculares, aulas práticas, propostas para o ensino destinado a alunos com necessidades educativas especiais, dentre outros. Com relação aos materiais usados, Zabala (1998) diz que os materiais de suporte são aqueles que contribuem para a explicação, ou seja, se a intenção do professor está voltada a expor a matéria aos alunos, o quadro negro, recursos audiovisuais, textos de apoio e o livro didático são suficientes, indo de acordo com professor “C” que exerce um caráter mais tradicional: Professor “C”: “Eu uso o básico. Eu uso os livros que tem, textos, o quadro negro, e algumas vezes eu passo um vídeo.” Porém alguns tipos de conteúdos, como os procedimentais, não podem se limitar somente ao uso de recursos básicos. Neste caso, não apenas é necessário que os discentes entendam determinadas exposições, mas para dominar os 45 conteúdos procedimentais terão que exercitá-los de forma suficiente. E para a concretização de algumas dessas atividades é conveniente usar algum tipo de suporte. Nota-se na fala do professor abaixo certa inquietação devida a ausência de aulas práticas que serve como suporte dito anteriormente: Professor ”A”: “Eu acho que aulas práticas melhorariam bastante o ensino na EJA.” Professor “B”: “Para melhorar o Ensino na EJA é necessário mais aulas práticas.” Uma crítica a ser feita está relacionada à falta de aulas práticas observadas nas respostas dos professores. Elas não ocorrem intercaladamente com as aulas teóricas, e por falta de um espaço na programação escolar, isto entra em contradição com um planejamento ideal. Sabe-se que um grande problema encontrado atualmente no desenvolvimento dos alunos é que eles não relacionam as suas aulas com as suas experiências informais. Havendo aulas práticas e laboratoriais intercaladas com as aulas expositivas, pode-se ajudar os alunos a vincularem o que está sendo estudado na escola com seu dia-a-dia. Desta maneira o aprendizado se torna mais eficiente e traz o interesse do aluno para dentro da sala de aula. Este interesse, como Tiba (1998) acredita, é responsável por melhorar ainda mais a relação aluno-professor, dando-lhe cada vez mais, maior significado. Concordando com Zabala (1998), as escolhas de materiais didáticos devem corresponder a preocupações com a mediação na construção do conhecimento dos 46 alunos e não servir como facilitadores de transmissão de conteúdos ou do trabalho do professor, como observado na fala do professor abaixo: Professor “A”: “Por que ela facilita com que o aluno aprenda o que é dado em sala de aula e facilita até minha vida.” Tendo em vista a má interpretação do papel da aula prática, é necessário esclarecer que as aulas teóricas e práticas se retroalimentam. Para isso deve se entender aqui que um tipo de aula é capaz de complementar o outro tipo e que nenhum destes deve ser desconsiderado em detrimento do outro. A aula prática tem de perder seu papel errôneo de complemento e finalmente ganhar seu verdadeiro status de importância. 47 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Os resultados advindos do presente estudo sinalizam as variadas concepções de professores sobre o Ensino de Ciências na EJA, relacionadas à suas concepções de ensino, de seu papel na alfabetização cientifica, ao seu modo de construção de planos de ensinos e utilização de materiais curriculares. Dessa forma observou-se a existência de professores que encaram o ensino na EJA de maneira diferenciada do Ensino Regular, assim como há professores que notam principalmente semelhanças entre os dois tipos de ensino. Para tudo, é significativo comentar que durante a elaboração do trabalho cada vez mais tornou-se evidente que os dois segmentos de ensino devem compartilhar os mesmos princípios. Quanto às abordagens de ensino, destacou-se a presença daquelas mais tradicionais, ainda que tenha havido discursos bastante voltados aos princípios ligados às correntes construtivistas. Cabe neste momento comentar que os alunos da EJA são tidos, no geral, como detentores de conhecimento específicos por serem mais velhos, fazendo-se necessário uma diversificação no modo de trabalhar, a fim de respeitar e valorizar essa diferença. Porém essa observação deveria ser estendida aos alunos do Ensino Regular, que também são detentores de conhecimentos únicos, sendo assim também necessário o mesmo trabalho com estes. No que tange à alfabetização cientifica, foi possível observar em alguns discursos a preocupação com a co-relação entre cotidiano do aluno e os conteúdos dados em aula, de maneira a torná-la significativa. No entanto, identificou-se também aqueles estritamente preocupados somente com o conteúdo, instigando assim níveis mais baixos de alfabetização científica. 48 A respeito do planejamento, surgem professores preocupados em construir planos mais flexíveis, que atendam às necessidades, motive e mostre sentido ao que os alunos estão aprendendo.. Mas também existem aqueles que se restringem somente à transmissão de conteúdos, implicando a reprodução de orientações contidas geralmente no livro didático. Quanto à questão dos materiais e recursos curriculares, que se limitam, na maioria das vezes, aos mais usuais, surge a proposta de alguns professores quanto ao uso de ferramentas alternativas, que diversifiquem e aproximem o aluno da realidade, buscando uma melhora no processo de ensino e aprendizagem. Conclui-se que o educador da EJA precisa estar em constante formação refletindo sobre suas práticas pedagógicas, dando um novo significado a sua atuação, pois a demanda advinda da EJA lhe exige uma formação peculiar para atender às especificidades e necessidades de seus discentes. Mas o mesmo deve ser exigido para a atuação frente às especificidades dos alunos de quaisquer outros níveis e modalidades do ensino., Especificamente quanto ao Ensino de Ciências, este, de maneira geral deverá, cada vez mais, adequar-se ao propósito de contribuir efetivamente com a alfabetização científica dos cidadãos, independente de suas idades. Do exposto, verifica-se que o presente Trabalho de Conclusão de Curso se constituiu em mais uma oportunidade de estudo sobre as competências necessárias ao professore de ciências, em geral, e ao da EJA, em particular. É relevante considerar que em futuros trabalhos relacionados ao mesmo tema haja um aprofundamento maior na coleta de dados, preenchendo assim possíveis lacunas deixadas por este. 49 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB 11/2000 sobre as diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos. Brasília 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. Brasília 1998. BRASIL, Ministério da Educação. Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos: Segundo segmento do Ensino Fundamental (5.ª a 8.ª série). Volume 3: Matemática, Ciências Naturais, Arte e Educação Física. BRASIL. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento Base Nacional Preparatório a VI CONFINTEA. Brasília 2008. BARRETO, J. C. Educação de Adultos na Ótica Freiriana. Texto de apoio da exposição no Seminário Latino Americano de Educação de Adultos, realizado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e pelo Centro Regional de Educación de Adultos y Alfabetización Funcional para a América Latina (CREFAL) do México, entre 16 e 28 de Novembro de 1986 em Salvador. COLL, CÉSAR. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas. 1994 50 CHASSOT, ÁTTICO. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, ANPEd, n. 26, p. 89-100, 2003. FREIRE, PAULO. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Editora Olho d’Água.1993 HADDAD, S.; Di PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 14, p. 108-130, 2000. KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de Ciências e Cidadania. 2. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2007. vol. 1. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. ROSA, S.S. Construtivismo e mudança. São Paulo: Cortez Editora. 2003 SALVADOR, CÉSAR COLL. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas. 1994 SANTOS, WILDSON LUIZ PEREIRA DOS. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Revista. Brasileira de Educação. 2007, vol.12, no.36, p.474-492 51 TIBA, IÇAMI. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Editora Gente.1998 UNESCO. Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos. Hamburgo, Alemanha, julho de 1997. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Educação. III Cumbre Iberoamericana de Rectores de Universidades Públicas, 25 a 27 de abril de 2002. Revista Brasileira de Educação, n. 21, set./dez. 2002. p. 157-158. ZABALA, ANTONI. A prática educativa e: como ensinar. Porto Alegre: Editora ArtMed.1998 BARRETO, José Carlos. Educação de adultos na ótica Freiriana. Disponível em <http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espacoeducar/ensino-fundamental/educ-jovens-adultos/artigos/educacao2.pdf>. Acessado em (26/09/09) UNESCO. 6th International Conference on Adult Education. Disponível em <http://www.unesco.org/en/confinteavi/>. Acessado em (26/09/09) 52 8. APÊNDICE A - ENTREVISTAS PROFESSOR “A” Sexo: ( ) Masculino ( X) Feminino Idade: ( ) de 20 a 25 ( ) 26 a 30 ( ) 31 a 36 ( Grau de escolaridade: ( ) Ensino Médio ( ) Magistério ( X ) Superior Completo ( )Especialização – Mestrado X ) acima de 40 ( ) Superior Incompleto Tempo de Magistério:( ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 de 20 ( X)acima Há quanto tempo leciona na escola: ( ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( X )16 a 20 ( )acima de 20 1 – Como é ensinar Ciências na EJA? “É trabalhoso. Tem seus pontos positivos e negativos. É bom porque sempre tem alunos que querem aprender, e são mais maduros, e já vieram para cá com algum objetivo, seja ele trabalho, estudo entre outros. Mas tem aqueles que não se esforçam e estão por obrigação.” - Quais aspectos são iguais ao Ensino Regular? “Nesse caso, eu considero os objetivos gerais.” - Por quê? “Por que esses objetivos priorizam a formação da cidadania e do cidadão, e é importante também levar em consideração a preparação para o trabalho destes cidadãos.” - Quais aspectos são diferentes do Ensino Regular? “No meu ponto de vista eu considero os objetivos mais específicos da EJA 53 - Por quê? “Por que o tempo que é fornecido para a gente aplicar esses objetivos é muito curto. E no ensino fundamental o aluno tem mais tempo para dar conta do conteúdo que é passado para ele, sendo que esse conteúdo é o mesmo para a EJA.” 2 – Quais os fatores que poderiam contribuir com melhorias no ensino de ciências na EJA? “Eu acho que aulas práticas melhorariam bastante o ensino na EJA.” - Por quê? “Por que ela facilita com que o aluno aprenda o que é dado em sala de aula e facilita até minha vida.” 3 – Há orientações para a elaboração das aulas? “Sim.” - De onde vêm as orientações? “As orientações que eu sigo são as que estão no livro de ciências e as que são passadas pela secretaria da educação. Tem também a utilização de jornais e a revista Escola.” - Quais são essas orientações? “Que a gente tem que trabalhar com situações próximas dos alunos, priorizando situações práticas.” - Que tipo de material é utilizado? “Xerox de textos, desenhos, a lousa. Basicamente isso.” 4 – O professor teve na sua formação alguma disciplina relacionada a educação de Jovens e Adultos? “Não. Aprendi a maioria das coisas dando aula na EJA” 54 PROFESSOR “B” Sexo: ( ) Masculino ( X) Feminino Idade: ( X ) de 20 a 25 ( ) 26 a 30 ( ) 31 a 36 ( ) acima de 40 Grau de escolaridade: ( ) Ensino Médio ( ) Magistério ( ) Superior Completo ( )Especialização – Mestrado (X) Superior Incompleto Tempo de Magistério:( X ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 de 20 ( )acima Há quanto tempo leciona na escola: ( X ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 ( )acima de 20 1 – Como é ensinar Ciências na EJA? “Apresenta dificuldades no sentido de visualização de certos aspectos, principalmente se eles estiverem relacionados a outros conceitos. Porém é mais fácil trabalhar com Ciências relacionando ela com o cotidiano.” - Quais aspectos são iguais ao Ensino Regular? “Acho que os principais aspectos iguais são o modo como se provoca a curiosidade, e a habilidade de elaborar perguntas, ou seja, que o próprio aluno desenvolva o seu conhecimento.” - Por quê? “Por que acredita que o processo de ensino e aprendizagem apresenta uma base, um caminho que pode ser percorrido, tanto no ensino regular quanto na EJA.” - Quais aspectos são diferentes do Ensino Regular? “O que difere são os instrumentos a serem utilizados, e como são utilizados” - Por quê? “Porque existem dificuldades distintas entre uma e outra, e as ferramentas usadas para suprir essas dificuldades também devem ser distintas.” 55 2 – Quais os fatores que poderiam contribuir com melhorias no ensino de ciências na EJA? “O auxilio de material didático que não seja igual aos materiais usados no ensino regular, e que também tratem de conteúdos uteis aos alunos.” - Por quê? “Eu acho que relacionando o conteúdo ao cotidiano do aluno, ele pode ter mais interesse.” 3 – Há orientações para a elaboração das aulas? “Sim.” - De onde vêm as orientações? “Da coordenação, porem são orientações gerais dadas nas reuniões.” - Quais são essas orientações? “São orientações procedimentais e atitudinais que o professor deve ter perante o ensino e aprendizagem na EJA.” - Que tipo de material é utilizado? “A escola possui livros didáticos e um roteiro com a proposta de atividades, porem nenhum destes matérias é de uso obrigatório.” 4 – O professor teve na sua formação alguma disciplina relacionada a educação de Jovens e Adultos? “Sim. Tive uma disciplina chamada Educação de Jovens e Adultos, que tratava de aspectos históricos da EJA, e aspectos gerais sobre essa educação.” 56 PROFESSOR “C” Sexo: ( ) Masculino Idade: ( ) de 20 a 25 ( X) Feminino (X) 26 a 30 ( ) 31 a 36 ( ) acima de 40 Grau de escolaridade: ( ) Ensino Médio ( ) Magistério ( X) Superior Completo ( )Especialização – Mestrado ( ) Superior Incompleto Tempo de Magistério:(X) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 de 20 ( )acima Há quanto tempo leciona na escola: ( X ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 ( )acima de 20 1 – Como é ensinar Ciências na EJA? “Bom. Tem seus pontos positivos e negativos. O lado positivo é que no geral estamos ensinando pessoas mais velhas, portanto mais responsáveis e com maiores experiências de vida. O lado negativo, é que as vezes é complicado adequar o modo de ensinar a essa faixa etária.” - Quais aspectos são iguais ao Ensino Regular? “Os conteúdos se mantêm. O que muda como eu já disse a vocês é como ensinar a essa faixa etária.” - Por quê? “Porque os conteúdos do Ensino não mudam, independente da faixa etária, da época da vida, e nem do momento que os alunos se encontram.” - Quais aspectos são diferentes do Ensino Regular? “É diferente porque temos que adaptar o ensino.” - Por quê? “Não tem como falar com um adulto da EJA igual se fala com um aluno do ensino regular. Você tem que se adaptar.” 57 2 – Quais os fatores que poderiam contribuir com melhorias no ensino de ciências na EJA? “Para melhorar o Ensino na EJA é necessário mais aulas práticas.” - Por quê? “Porque aqui na Escola não temos laboratórios e os alguns alunos já e cobraram essa falta.” 3 – Há orientações para a elaboração das aulas? “Sim.” - De onde vêm as orientações? “Muitas vezes, utilizo orientações que os livros didáticos tem. As reuniões de professores da escola também ajudam bastante, e quando tenho oportunidade procuro me informar do que ocorre através de palestras, pelo jornal, revistas e assim vai.” - Quais são essas orientações? “Orientações em gerais, como o modo de ensinar na EJA, o jeito de como se deve tratar o aluno, o que é bom enfatizar no conteúdo.” - Que tipo de material é utilizado? “Eu uso o básico. Eu uso os livros que tem, textos, o quadro negro, e algumas vezes eu passo um vídeo.” 4 – O professor teve na sua formação alguma disciplina relacionada a educação de Jovens e Adultos? “Não. Quando eu fazia faculdade consegui estagiar em uma escola da EJA, mas não tinha nenhuma matéria específica. Acho que é por isso que eu tenho algumas dificuldades, como disse a vocês.” 58 PROFESSOR “D” Sexo: ( X ) Masculino Idade: ( ) de 20 a 25 ( ) Feminino ( X ) 26 a 30 ( ) 31 a 36 Grau de escolaridade: ( ) Ensino Médio ( ) Magistério ( X ) Superior Completo ( )Especialização – Mestrado ( ) acima de 40 ( ) Superior Incompleto Tempo de Magistério: ( X ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 ( )acima de 20 Há quanto tempo leciona na escola: ( X ) de 02 a 05 ( )06 a10 ( )11 a 15 ( )16 a 20 ( )acima de 20 1 – Como é ensinar Ciências na EJA? “Diferente e com mais desafios.” - Quais aspectos são iguais ao Ensino Regular? “No meu ponto de vista eu acho que a maioria dos objetivos, por que é importante levar em consideração que ambos possuem a mesma finalidade, ou seja, temos que fazer com que o aluno aprenda.” - Por quê? “Porque tanto na EJA como no ensino regular temos que formar indivíduos e nos professores estamos aqui para fazer o balanço entre o conhecimento e o aluno.” - Quais aspectos são diferentes do Ensino Regular? “Bom, no meu ver eu acho que é o modo com que o professor trabalha com os alunos, é uma questão de estratégia.” - Por quê? “Bom, porque o EJA se diferencia pela necessidade maior de contextualização, e também pela elaboração de projetos, que aproxime o aluno de sua realidade. Vamos crer que isso também é uma questão de similaridade com o Ensino Regular, pois também trabalha assim no ensino Regular. Nesse caso existem 59 maneiras diferentes de trabalhar os conteúdos de acordo com cada tipo de aluno. O que eu explico para uns pode soar grego para outros.” 2 – Quais os fatores que poderiam contribuir com melhorias no ensino de ciências na EJA? “Bom, o que poderia ser feito é uma melhora da qualidade de formação dos professores que atuariam nesta área e mais investimentos em instituições que desenvolvem esse tipo de ensino.” - Por quê? “Porque vontade e dedicação deste público são coisas que não faltam.” 3 – Há orientações para a elaboração das aulas? “Não. A responsabilidade cai nas costas do professor. Pelo menos no meu caso eu busco sempre as melhores possibilidades para motivar meus alunos, senão a aula não ocorreria. A maioria sempre chega cansada do trabalho. Uma aula tradicional fariam eles dormirem.” 4 – O professor teve na sua formação alguma disciplina relacionada a educação de Jovens e Adultos? “Sim. Tive esse contato já na faculdade com assuntos relacionados à EJA, que me ajudou muito a compreender as necessidades da educação de jovens e adultos, facilidades e dificuldades, mas nada comparado a prática de fato.” 60 Estou ciente do conteúdo da Monografia “Concepções dos Professores sobre o Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos”. Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro– Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Gustavo Werpel Fernandes ( Aluno – Código de Matricula 406.4032-9) Matheus Fernandes Viola ( Aluno – Código de Matricula 406.3727-1) Trabalho a ser apresentado em: 01/12/09