1 EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA E A REFORMA NO ÂMBITO DO PODER JUDICIÁRIO Rener Marcos Amorim de Almeida* RESUMO O presente trabalho busca mostrar a evolução da Administração Pública brasileira e a reforma no âmbito do Poder Judiciário, passando pelas diversas teorias da administração, pelos modelos de gestão pública, bem como faz um breve histórico da evolução da administração pública no Brasil e suas diversas reformas, até chegar às causas que levaram o Poder Judiciário a realizar uma completa reforma em seus sistemas de administração pública. Palavras-chave: Teorias da administração. Administração Pública. Modelos de Gestão Pública. Evolução da Administração Pública. Reforma do Poder Judiciário. 1 INTRODUÇÃO Administração Pública compreende a forma pelo qual os gestores públicos buscam administrar a coisa pública, ou seja, os meios pelos quais os gestores buscam administrar as demandas oriundas das necessidades dos cidadãos, administrando os bens, valores e recursos públicos, por meio da arrecadação, aplicação, guarda e conservação. O presente trabalho busca avaliar a influência da evolução da administração pública no âmbito geral, bem como junto ao Poder Judiciário, passando por um breve histórico de cada fase, destacando os principais problemas e eventuais conflitos das mudanças de paradigmas da administração, suas transformações políticas e econômicas, seus principais problemas de adaptação no poder judiciário junto às formas de gestão pública e sua influência na nova administração gerencial. Deste modo serviu como fonte de dados: livros, textos e artigos sobre o tema. O presente estudo esta estruturado da seguinte forma: Teoria das Organizações aplicadas a Administração Pública; Evolução da Administração ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 2 Pública; Modelos de Gestão Pública; Breve histórico da Evolução da Administração Pública no Brasil; Reforma do Poder Judiciário; Considerações finais sobre a administração gerencial e a importância da reforma administrativa no poder judiciário. 2 TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES APLICADAS A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A evolução da Administração Pública tem seus fundamentos básicos tirados da evolução dos modelos de gestão empresarial, cujos precursores foram Frederick Taylor e Henry Fayol, considerados os pioneiros na elaboração de trabalhos a respeito da Administração (Abordagem Clássica da Administração). O Americano Frederick Taylor, deu inicio a chamada Escola da Administração Científica, cuja preocupação era a produção em massa, caracterizada pela superespecialização do trabalhador no desempenho de suas tarefas (divisão do trabalho), ou seja, aumento da eficiência da indústria por meio da racionalização do trabalho do operário, aliado ao estudo do tempo e movimento. Pela sua teoria a preocupação principal era aplicar métodos e técnicas de engenharia para aumentar a produtividade e evitar perdas e desperdícios. Para isso criou-se então a ORT – Organização Racional do Trabalho, técnica que estabelecia fundamentos para padronização do trabalho. Já, o europeu Henri Fayol, criou a chamada Teoria Clássica, cuja preocupação se baseava nas estruturas organizacionais, ou seja, para ele a produtividade esta diretamente relacionada às estruturas adotadas. O aumento da eficiência da empresa se daria por meio de sua organização. Segundo Fayol para que a organização se tornasse eficiente deveria haver uma reestruturação de toda a organização atingindo todas as partes envolvidas (pessoas, órgãos e estruturas de comando). Na Abordagem Clássica da Administração 1 , que fazem parte Taylor e Fayol o trabalhador é visto como homem econômico, cuja sua preocupação é exclusivamente com o trabalho, visto que passa a se sentir ameaçado. 1 Segundo Chiavenato – A Abordagem Clássica da Administração considera os indivíduos participantes da organização como instrumentos passivos cuja produtividade varia e pode ser elevada mediante incentivos financeiros (remuneração de acordo com a produção) e condições físicas ambientais de trabalho favoráveis. È uma posição simplista e mecanicista. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 3 Após este período surgiu a Teoria Humanística da Administração 2 que transfere a ênfase adotada pela Teoria Científica (tarefas) e pela Teoria Clássica (estrutura organizacional) para o aspecto pessoal, ou seja, a preocupação passa se focar nas pessoas e grupos sociais. Para estes teóricos os aspectos técnicos e formais dão lugar aos aspectos psicológicos e sociológicos. Com o advento desta teoria surgem novos conceitos como motivação, liderança, comunicação, organização informal e dinâmica de grupos. Com isto acredita-se que o sucesso da organização depende diretamente das pessoas e isto leva o administrador a ser um verdadeiro líder. As pessoas agem conforme o grupo, o homem passa a ser tratado com respeito, surge o homem social. A partir da década de 1950 surge uma nova teoria oriunda da remodelação da teoria administrativa trazida pelo fim da segunda guerra mundial, uma vez que o mundo passa por um surto de desenvolvimento industrial e comercial sem precedentes. Surgimento da televisão, motor a jato, telecomunicações. Isto leva as organizações a buscarem uma profunda remodelação em suas estruturas organizacionais. Antenados a essas mudanças alguns teóricos como Peter F. Drucker e Harold Koontz criam a Teoria Neoclássica 3 , que nada mais é que uma remodelação da Teoria Clássica de Henri Fayol. Suas principais características são a reafirmação dos postulados clássicos, a ênfase na prática da administração (pragmatismo), nos princípios gerais da administração, nos objetivos e nos resultados, além do ecletismo nos conceitos. No inicio do século XX, ocorreram fortes críticas a Teoria Clássica, pelo seu mecanicismo, e a Teoria Humanística, pelo seu romantismo. Na busca de uma teoria sólida e abrangente alguns estudiosos recorreram aos trabalhos do economista e sociólogo alemão Max Weber e acabam por criar a Teoria da Burocracia na Administração. Trata-se da Abordagem Estruturalista da Administração, que nada mais é do que a passagem da era da produção em massa para a era da eficiência. A Teoria da Burocracia tinha como ênfase a criação de regras, padrões e hierarquias Segundo Chiavenato - A Teoria Humanística da Administração considera os indivíduos participantes da organização como possuidores de necessidades, atitudes, valores e objetivos pessoais que precisam ser identificados, estimulados e compreendidos para obter sua participação na organização, condição básica para sua eficiência. É uma posição limitada. 3 Segundo Chiavenato – A Teoria Neoclássica caracteriza-se por uma forte ênfase nos aspectos práticos da Administração, pelo pragmatismo e pela busca de resultados concretos e palpáveis, muito embora não se tenha descurado dos conceitos teóricos da Administração. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 2 4 acerca do trabalho. Sua principal característica esta no apego as normas e regulamentos escritos, que nada mais são do que as diretrizes e procedimentos elaborados pela organização para execução das tarefas pelos empregados. Suas diretrizes se baseiam no caráter legal das normas, regulamentos, na formalidade de comunicações, no aspecto racional, na divisão de trabalho, na impessoalidade nas relações, na hierarquia de autoridade, na rotina e procedimentos padronizados, na competência técnica e meritocracia, na especialização da administração, na profissionalização dos participantes e na completa previsibilidade do funcionamento. Para Weber a burocracia apresenta inúmeras vantagens sobre as outras formas de associação. Entre elas estão: maior racionalidade em relação ao alcance dos objetivos organizacionais, precisão na definição do cargo e na operação, rapidez nas decisões, univocidade de interpretação garantida pela regulamentação específica e escrita, uniformidade de rotinas e procedimentos, continuidade na organização, redução de atrito entre pessoas, constância, confiabilidade e benefícios para as pessoas na organização. Todavia o uso da palavra “burocracia” nos dias de hoje é visto como sinônimo de ineficiência, lentidão e rigidez. Apesar da idéia principal de Max Weber conceituar burocracia como forma eficiente de administração, esta, porém, apresentam algumas desvantagens, chamadas de disfunções da Burocracia: internalização das normas, excesso de despersonalização do formalismo e relacionamento, papelório, resistência categorização do as mudanças, relacionamento, superconformidade, exibição de sinais de autoridade e dificuldades com clientes. A partir do modelo Burocrático, os estruturalistas como Wickesberg e Amitai Etzioni introduziram o conceito de sistema aberto nos estudos das organizações, através do desdobramento da teoria burocrática e aproximação da teoria humanística criando uma visão crítica da organização formal. Para os estruturalistas a organização é considerada como um todo, ou seja, como uma só estrutura e daí passa-se a analisar as influências de aspectos externos sobre a organização, o impacto de seus próprios aspectos internos e as múltiplas relações que se estabelecem entre eles. Gerando submissão do individuo a socialização, conflitos inevitáveis, hierarquia perniciosa à comunicação dentro da empresa, incentivos ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 5 mistos, expansão dos estudos para organizações não-industriais e sem fins lucrativos. Também no século XX surge uma nova abordagem em contraponto as Teorias Clássicas, Humanísticas e Burocráticas. Aparece a Abordagem Comportamental da Administração com criação da Teoria Comportamental da Administração ou Teoria Behaviorista, cujos principais mentores são: Herbert Alexander Simon, Chester Barnard, Douglas Mcgregor, Rensis Likert, Chris Argyris. Já dentro do campo da motivação humana salientam-se Abraham Maslow, Frederick Herzberg e David McClelland. Esta teoria trouxe uma nova abordagem das ciências do comportamento, a partir do experimento de Hawthorne, revelou-se a importância do grupo sobre o desempenho dos indivíduos e inicio-se o estuda da organização informal e a preocupação com a estrutura organizacional. O comportamento das pessoas na organização se desloca para a preocupação com os processos organizacionais e com o comportamento organizacional como um todo. Sua principal influência vem das ciências comportamentais, como a psicologia organizacional. Segundo Chiavenato (2006), os indivíduos participantes da organização percebem, raciocinam, agem racionalmente e decidem a sua participação ou nãoparticipação na organização como tomadores de opinião e decisão e solucionadores de problemas. As principais teorias desta abordagem comportamental são: Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow Para Maslow as necessidades dos seres humanos obedecem a uma hierarquia de importância, Teoria da Motivação, as necessidades humanas são dispostas em forma de pirâmide de forma que a base é formada pelas necessidades fisiológicas, em seguida vem à necessidade de segurança, necessidade social, necessidade de auto-estima e por fim a necessidade de auto-realização. Somente quando o indivíduo satisfaz uma destas necessidades é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento da pessoa, ou seja, quando a necessidade é satisfeita o nível de motivação se reduz e isso leva um nível mais elevado da pirâmide a se manifestar e gerar uma nova motivação do indivíduo. Teoria dos Dois Fatores de Frederick Herzberg ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 6 Para Herzberg o comportamento das pessoas está associado ao ambiente externo e no trabalho do indivíduo, ou seja, a dois fatores – os motivacionais e os higiênicos. Os fatores motivacionais estão relacionados à como a pessoa se sente em relação ao seu cargo: sentimentos de realização, de crescimento, de reconhecimento profissional, e de responsabilidade. Os fatores higiênicos estão relacionados ao sentimento da pessoa em relação a sua empresa: condições físicas e ambientais, salário, benefícios sociais, políticas da empresa, regulamentos, relacionamento entre supervisão e empregados. Teria X e Teoria Y – Douglas McGregor Para McGregor existem dois estilos opostos e antagônicos de administrar: o primeiro conhecido como Teoria X, é tido como um estilo baseado na teoria tradicional, mecanicista e pragmática. O segundo conhecido como Teoria Y, é tido como um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento do homem. Teoria X – o comportamento humano é visto como errôneo e incorreto: O homem é indolente e preguiçoso por natureza; Falta-lhe ambição; O homem é egocêntrico e seus objetivos pessoais opõem-se, em geral, aos objetivos da organização; È resistente a mudanças; Sua dependência o torna incapaz de autocontrole e autodisciplina; Teoria Y – o comportamento humano é despido de preconceitos a respeito da natureza humana: As pessoas não têm desprazer inerente de trabalhar; As pessoas não são passivas ou resistentes às necessidades da empresa; ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 7 As pessoas têm motivação, potencial de desenvolvimento; As pessoas têm padrões de comportamento adequados à capacidade de assumir responsabilidades; As pessoas podem exercer autocontrole e dirigir-se desde que sejam convencidas para tal; As recompensas do trabalho estão diretamente ligadas aos compromissos assumidos; A necessidade de auto-realização pode ser recompensa dos esforços no sentido dos objetivos da organização; Por volta de 1950, a abordagem comportamental da lugar a abordagem sistêmica da administração. Surge a teoria geral de sistemas (também conhecida pela sigla, T.G.S) com os trabalhos do biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy, publicados entre 1950 e 1968. Esta teoria surgiu como um meio de interpretar as organizações, ela encara a organização como um conjunto de unidades internas e externas. A organização é vista como um sistema unificado e integrado em um todo funcionalmente indivisível. A atividade de cada parte afeta, de forma inter-relacionada, a atividade de toda a organização e, paralelamente, cada parte pertence a um sistema maior que é o ambiente externo. Sua importância esta na necessidade de se avaliar a organização como um todo e não somente em departamentos ou setores. Procura-se identificar por meio desta teoria o maior número de variáveis possíveis, externas e internas que, de alguma forma, influenciam em todo o processo existente na Organização, por meio de analise do feed-back que deve ser realizado ao planejamento de todo o processo. A Teoria dos Sistemas começou a ser aplicada a administração em função da necessidade de maior integração das teorias anteriores (Cientificas, Relações Humanas, Estruturalista e Comportamental) e da intensificação do uso da cibernética e da tecnologia da informação nas empresas. Tal teoria proporciona um arcabouço com o qual podemos planejar ações e prever conseqϋências imediatas e ao longo prazo, ao mesmo tempo que nos permite compreender as conseqϋências não-previstas a medida que elas vão aparecendo. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 8 Também a partir da segunda metade do século XX, surge a Teoria da Contigência, desenvolvida por administradores, consultores e pesquisadores que tentaram aplicar os conceitos das principais escolas a situações reais. Ela representou um passo além da Teoria dos Sistemas em Administração. Esta teoria passa a enfatizar a natureza multivariada das organizações, verificando como as organizações operam em situações de condições variáveis e em cirucustâncias específicas. Segundo Chiavenato (2006), a visão contigencial está dirigida acima de tudo para desenhos organizacionais e sistemas gerenciais adequados para cada situação específica. Seu enfoque se baseia no ambiente e na tecnologia. Para esta teoria a tarefa do administrador é identificar que técnica poderá, numa situação específica, sob circunstâncias específicas e num momento específico, contribuir melhor para a obtenção dos objetivos da administração. Os defensores da abordagem contigencial vêem-na como principal corrente de pensamento sobre a administração da atualidade, uma vez que sua abordagem vai mais longe do que a sistêmica ao focalizar os pormenores das relações entre as partes de um sistema, ao buscar definir quais fatores são cruciais para uma questão ou tarefa específica e ao esclarecer as interações funcionais entre os fatores relacionados. Segundo Chiavenato (2006), a partir da Teoria da Contigência, a variável tecnológica passou a assumir um importante papel na teoria administrativa, uma vez que esta parte para novos modelos organizacionais mais flexíveis e orgânicos, como a estrutura matricial, a estrutura em redes e a estrutura em equipes, além de enfatizar o modelo do homem complexo e abordagens contigenciais sobre motivação e liderança. 3 EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL: DO MODELO RACIONAL-LEGAL AO PÓS-BUROCRÁTICO. A Administração Pública possui duas formas distintas: a primeira em sentido subjetivo (formal), que é o conjunto de entes (pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos) que exercem a função administrativa do estado, ou seja, “é o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado” (Di Pietro, 2005). A segunda em sentido objetivo (material) ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 9 “abrange as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas, órgão e agentes incumbidos de atender concretamente às necessidades coletivas; corresponde à função administrativa atribuída preferencialmente aos órgãos do Poder Executivo” (Di Pietro, 2005). 3.1 MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA: PATRIMONIALISTA, BUROCRÁTICO E GERENCIAL. Os modelos de gestão pública sofreram ao longo dos anos um processo evolutivo que teve seu inicio nas monarquias absolutas com o modelo patrimonialista, logo depois substituído pelo burocrático e por fim evoluiu para o gerencial. 3.1.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PATRIMONIALISTA. Este modelo de administração surgiu nas monarquias absolutas e se caracterizava por ser um modelo de gestão em que o aparelho do Estado funcionava como uma extensão do poder do soberano, o qual utilizava os bens públicos como se fosse extensão do seu patrimônio. Neste modelo o patrimônio do soberano se confunde com o patrimônio do Estado, ou seja, a “res publica” não é diferenciada da “res principis” e o soberano a utiliza de forma que a bem entende, sem prestar contas a quem quer que seja. Já, seus auxiliares e servidores, possuíam status de nobreza real, os cargos são considerados prebendas ou sinecuras, ou seja, o emprego exige pouco ou nenhum trabalho de quem o exerce, a sua aquisição dependia única e exclusivamente da vontade do soberano. O nepotismo, o empreguismo e a corrupção eram norma. 3.1.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA. Na segunda metade do século XIX a administração patrimonialista fundamentada no estado absolutista começa a receber criticas severas sobre sua ineficiência, favoritismo e uma completa falta de preocupação com o bem estar da sociedade. O surgimento do capitalismo favorece essa indignação, uma vez que para a sociedade da época a utilização do bem público como particular torna-se inaceitável. Desta forma a sociedade passa a exigir do estado uma administração voltada para um controle mais eficiente com o acompanhamento passo a passo dos ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 10 processos administrativos, visando evitar a corrupção e o nepotismo, pratica comum na administração pública patrimonialista. Surge então a Administração Pública Burocrática como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Suas principais características são: a profissionalização, a idéia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. Nesta forma de administrar o administrador é sempre visto com desconfiança, os controles administrativos visando evitar a corrupção e o nepotismo é sempre a priori e com controles rígidos dos processos. Por outro lado, o controle – a garantia do poder do Estado – transforma-se na própria razão de ser do funcionário. Em conseqüência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à sociedade. A qualidade fundamental da administração pública burocrática é a efetividade no controle dos abusos. Seu defeito, a ineficiência, a auto-referência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos como clientes. O Estado limitava-se a manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade (CHIAVENATO, 2006). 3.1.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL. Com a expansão das funções econômicas e sociais do Estado, o desenvolvimento tecnológico e a globalização da economia mundial, fez surgir na segunda metade do século XX o modelo de Administração Pública Gerencial, uma vez que o modelo anterior não mais respondia as necessidades impostas pelo novo momento mundial, isto não significa um rompimento total à sistemática empregada pelo modelo burocrático, mas sim um avanço nas relações de administrar. Este modelo busca melhorar a maneira como o estado passa a gerir a coisa pública. Seu foco passa a se basear no resultado e não mais no processo como era feito no modelo burocrático. Busca-se a eficiência da Administração Pública, a redução de custos, o aumento na qualidade dos serviços para atender ao cidadão, cidadão este que se torna foco do bom atendimento, da qualidade e da eficiência do serviço público. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 11 Na administração pública gerencial a estratégia volta-se (1) para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, (2) para a garantia de autonomia do administrador na gestão de recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados a disposição para que possa atingir os objetivos contratados, e (3) para controle ou cobrança a posteriori dos resultados (CHIAVENATO, 2006). Outro ponto a se destacar com relação a administração gerencial é o fato de estimular a competição interna entre as unidades, buscar a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos. Em resumo a administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, ou seja, busca ver o cidadão como um contribuinte de impostos e como cliente cidadão dos seus serviços (CHIAVENATO,2006). 3.2 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL. No Brasil, o modelo de administração burocrática emergiu a partir dos anos 30. Surgiu no quadro da aceleração da industrialização brasileira, em que o Estado assumiu papel decisivo, intervindo pesadamente no setor produtivo de bens e serviços. A partir da reforma empreendida no governo Vargas por Maurício Nabuco e Luiz Simões Lopes, a administração pública sofreu um processo de racionalização que se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocráticas e na tentativa de adoção do concurso como forma de acesso ao serviço público. A implantação da administração pública burocrática é uma conseqüência clara da emergência de um capitalismo moderno no País (MARQUES, 2008). A decisão política adotada pelo governo Getúlio Vargas de estruturar o aparelho do Estado, com caráter autoritário e centralizador, e a implantação de uma burocracia nos moldes “weberianos” começa a ser viabilizada com a criação do Departamento de Administração do Setor Público (DASP), em 1936. Essas medidas tinham como objetivo, entre outros, a intenção de suprimir a administração patrimonialista, que até então prevalecia no país (MATIAS-PEREIRA, 2008). O DASP encarregou-se de modernizar a burocracia, instituindo o sistema de mérito, com a introdução dos concursos e de provas de habilitação, além de promover o ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 12 aperfeiçoamento dos funcionários, incentivando a aquisição e intercâmbio de conhecimentos através da realização de cursos e das viagens de estudos ao exterior. No começo da década seguinte, teve inicio a formação do Estado empresário, com a criação da companhia Siderúrgica Nacional. Entretanto após a queda de Getúlio Vargas, em 1945, novamente são retomadas as práticas patrimonialistas, deteriorando de forma acentuada o aparelho do Estado (MATIAS-PEREIRA, 2008). Em 1951, Vargas retoma o poder e reaviva o processo de industrialização, que havia sofrido uma desaceleração no governo de Gaspar Dutra. Neste período foi criada a Petrobrás, a Eletrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), além da Fundação Getúlio Vargas (FGV) responsável pelo ensino e pesquisa nos campos da economia e da administração. O modelo de acumulação do capital brasileiro pautou-se numa intensa participação do governo no sistema de produção (GNISCI, 2007). Tendo em vista as inadequações do modelo de administração burocrática implantada a partir de 1930, varias tentativas de reformas foram feitas. Não obstante as experiências se caracterizaram, em alguns casos, pela ênfase na extinção e criação de órgãos e, em outros, pela constituição de estruturas paralelas visando alterar a rigidez burocrática. Na própria área da reforma administrativa esta última prática foi adotada, por exemplo, no governo de Juscelino Kubitschek, com a criação de comissões especiais, como a Comissão de Estudos e Projetos Administrativos, objetivando a realização de estudos para a simplificação dos processos administrativos e reformas ministeriais, e a Comissão de Simplificação Burocrática, que visava à elaboração de projetos direcionados para reformas globais e descentralização de serviços (MARQUES, 2008). No governo de João Goulart começa a surgir certa insatisfação dos militares quanto às tendências esquerdistas de sua administração. Porém com a crise de 1960, fica novamente visível e inaceitável a rigidez burocrática, que atrapalha o desenvolvimento do país. Com isso, surge necessidade inadiável a formulação de uma reforma administrativa. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 13 Em 1963, Amaral Peixoto foi incumbido de dirigir diversos grupos de estudos, encarregados da formulação de projetos de reforma (GNISCI, 2007). Porém, só depois do golpe de Estado em 1964 que se implementou a Reforma. Decorridos quase três anos após a instalação do regime militar no Brasil, o governo federal buscou dar maior efetividade à ação governamental, com a introdução de valores gerenciais. Para alcançar os seus propósitos, editou o Decreito-lei n˚ 200, de 1967. Este Decreto representou um marco na tentativa de superação da rigidez burocrática, podendo ser considerada como um primeiro momento da administração gerencial no Brasil. Alem do mais esse diploma legal definiu novos rumos para a Administração Pública, como por exemplo, autonomia de gestão, descentralização administrativa do aparelho do Estado, com a expansão da administração indireta, sobretudo por meio da criação de empresas estatais. Foi implantada assim, a denominada “administração para o desenvolvimento”, conservando uma forte centralização política na União. A Conseqüência dessas mudanças no aparelho do Estado é um sensível enfraquecimento da administração direta, deteriorando sua capacidade de formulação de políticas (MATIAS-PEREIRA, 2008). Em meados dos anos 70, uma nova iniciativa modernizadora da administração pública teve inicio, com a criação da SEMOR – Secretaria da Modernização. Reuniuse em torno dela um grupo de jovens administradores públicos, muitos deles com formação em nível de pós-graduação no exterior, que buscou implantar novas técnicas de gestão, e particularmente de administração de recursos humanos, na administração pública federal (MARQUES, 2008). Já no inicio dos anos 80, uma nova tentativa de reformar a burocracia e orientá-la na direção da administração pública gerencial foi implementada, com a criação do Ministério da Desburocratização e do Programa Nacional de Desburocratização – PrND, cujos objetivos eram a revitalização e agilização das organizações do Estado, a descentralização da autoridade, a melhoria e simplificação dos processos administrativos e a promoção da eficiência. As ações do PrND voltaram-se inicialmente para o combate à burocratização dos procedimentos. Posteriormente, foram dirigidas para o desenvolvimento do Programa Nacional de Desestatização, num esforço para conter os excessos da expansão da ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 14 administração descentralizada, estimulada pelo Decreto-lei n˚ 200/67 (MARQUES, 2008). Em 1985, inicia-se o processo da Reforma Administrativa. O governo Sarney recria, em 31/7/1985, o Ministério Extraordinário para Assuntos Administrativos e com ele a Comissão Geral do Plano de Reformas Administrativas, que adotava como princípios básicos a racionalização das estruturas administrativas, a política de recursos humanos e a contenção dos gastos públicos. O Objetivo da reforma era a modernização da administração pública de forma a torna - lá compatível com os modernos processos de gestão, a adequação do serviço público a padrões de eficiência que dessem suporte aos planos do governo, eficiência na prestação de serviços públicos ao cidadão, a valorização da carreira do servidor público, a democratização das oportunidades de acesso à administração pública e por fim a agilidade no desempenho do governo federal. A reforma de 1985 representou uma grande vitória democrática, mas gerou um loteamento dos cargos públicos da administração indireta e das delegacias dos ministérios nos Estados para os políticos vitoriosos. Um novo populismo patrimonialista surgia no país. Além disso, a alta burocracia passava a ser acusada, principalmente pelas forças conservadoras, como culpada da crise do Estado, na medida em que favorecera seu crescimento excessivo. A conjunção desses dois fatores leva, na Constituição de 1988, a um retrocesso burocrático sem precedentes. Devido à égide de uma coalizão política conservadora no Congresso no período de 1988 e 1989 levou assim a formação de uma política populista e patrimonialista, que representava uma verdadeira “volta ao capital mercantil” (CHIAVENATO, 2006). As principais conseqüências atribuídas a Constituição de 1988 quanto ao retrocesso burocrático veio por meio do engessamento do aparelho estatal, ao estender para os serviços do Estado e para as próprias empresas estatais praticamente as mesmas regras burocráticas rígidas adotadas no núcleo estratégico do Estado. A Nova Constituição determinou ainda a perda de autonomia do Poder Executivo para tratar da estruturação dos órgãos públicos, institui a obrigatoriedade de regime jurídico único para os servidores da União, dos Estados e dos Municípios, ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 15 abrindo espaço para o clientelismo, principalmente ao nível dos estados e municípios. Por outro lado, e contraditoriamente com seu espírito burocrático-legal, a Constituição de 1988 permitiu que uma série de privilégios fosse consolidada ou criada. Entre eles o estabelecimento de um sistema de aposentadoria com remuneração integral sem nenhuma relação com o tempo de serviço prestado diretamente ao Estado. Um segundo privilégio foi ter permitido que, de um golpe, mais de 400 mil funcionários celetistas das fundações e autarquias se transformassem em funcionários estatutários, detentores de estabilidade e aposentadoria integral. O retrocesso burocrático ocorrido em 1988 não pode ser atribuído a um suposto fracasso da descentralização e da flexibilização da administração pública que o Decreto-lei n˚ 200/67 teria promovido (CHIAVENATO, 2006). Em síntese, o retrocesso burocrático da Constituição de 1988 foi uma reação ao clientelismo que dominou o país naqueles anos, mas também foi uma afirmação de privilégios corporativistas e patrimonialistas incompatíveis com os princípios burocráticos. Foi, além disso, uma conseqüência de uma atitude defensiva da alta burocracia, que, sentindo-se acuada, injustamente acusada, defendeu-se de forma irracional. As distorções provocadas pela nova Constituição logo se fizeram sentir. No governo Collor, as reformas ganham um excessivo dinamismo, com a abertura da economia brasileira, desregulamentação e privatizações, entretanto, a reposta a elas foi equivocada e apenas agravou os problemas existentes, na medida em que se preocupava em destruir ao invés de construir. O governo Itamar Franco buscou essencialmente recompor os salários dos servidores, que haviam sido violentamente reduzidos no governo anterior. O Discurso de reforma administrativa assume uma nova dimensão a partir de 1994, quando a campanha presidencial introduz a perspectiva da mudança organizacional e cultural da administração pública no sentido de uma administração gerencial. O esforço para alterar este quadro tem inicio no primeiro governo Fernando Henrique (1995-1998), no qual se constata uma iniciativa, mesmo que incipiente, de ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 16 reconstrução do Estado, com readequação de suas funções na expectativa de estabelecer as bases de um Estado regulador e promotor do desenvolvimento do País. Buscou-se implantar modelos organizacionais/institucionais e introduzir uma cultura gerencial, associados aos distintos instrumentos que fortalecessem valores democráticos, como a transparência, participação e controle social (MATIASPEREIRA, 2008). Nos anos 90, o ajuste estrutural continuava a ser um dos principais objetivos, no entanto, a ênfase foi transferida para a reforma do Estado, em especial a administrativa. A questão central passou a ser a reconstrução do Estado, para definilo em um mundo globalizado. No Brasil, essa mudança de perspectiva, consistiu em uma das primordiais diretrizes do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, embora a reforma da administração pública fosse tema da campanha de 1994. Assim, como ato precursor dessa reforma, o Governo FHC promoveu a transformação da antiga e burocrática Secretaria da Presidência, responsável pela gestão do serviço público, no Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), o qual estaria encarregado da reformulação ou reconstrução do Estado brasileiro. O Ministro Bresser Pereira, ao assumir a direção do MARE, propôs que a reforma administrativa fosse incluída entre as reformas constitucionais já definidas como prioritárias pelo novo governo, a fiscal, previdência social e eliminação dos monopólios estatais. Para tanto, havia necessidade de flexibilizar o estatuto da estabilidade dos servidores públicos, visando à aproximação dos mercados de trabalho público e privado. A reforma administrativa, encaminhada ao Congresso Nacional em agosto de 1995, caracterizava-se pela transformação da administração pública brasileira de burocrática para gerencial, através da privatização de estatais, regulamentação da descentralização do SUS, extinção de órgão, cortes de pessoal, inovação de modelos por contratos de gestão. A reforma de Estado de 1995 pautou-se no Plano Diretor para a Reforma do Aparelho do Estado, que tinha por objetivo aproximar o setor público para exercer seu papel de forma fundamentalmente voltada para o atendimento dos cidadãos. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 17 Para isto as instituições públicas deveriam ser eficientes e eficazes, fortalecendo os debates entre Estado e a sociedade. Este plano traz como meta a administração “gerencial” e a redução da presença do Estado na Economia. No plano de reforma a ênfase do controle deve sair do controle formal para o controle de resultados ou controle a posteriori. A sociedade neste sistema passa a ter participação maior na fiscalização da atuação dos gestores e funcionar como uma forma de controle externo denominado de controle social. Também pretendia reorganizar as estruturas da administração com ênfase na qualidade e na produtividade do serviço público; na verdade a profissionalização do servidor público que passaria a receber salários mais justos para todas as funções. Bresser Pereira buscou em seu plano atacar a administração pública burocrática, ao mesmo tempo em que afirmava a importância do serviço público, defendia as carreiras de Estados. Ele também atuou na criação das duas novas instituições básicas da reforma, as “agências executivas” e as “organizações sociais”, buscou alterar a forma de remuneração dos cargos de confiança, bem como na forma de recrutar, selecionar e remunerar as carreiras de Estado. A nova estrutura do aparelho do Estado que se estava propondo, baseava-se em ampla descentralização para agências e organizações sociais, e a nova forma gestão apoiada não mais em regulamentos rígidos, mas na responsabilização por resultados através de contratos de gestão. No segundo mandato do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ocorreu à extinção do Ministério da Administração e Reforma do Estado em 1998, à descontinuidade no processo de implementação de conjuntos de projetos contidos no Plano Diretor de Bresser e a força política que o Programa Nacional de Desestatização ganhou depois disso, também contribuíram para a imperfeição do Estado Regulador brasileiro. Com a aprovação da Emenda Constitucional n˚ 19/1998, que modificou o regime jurídico dos servidores públicos e estabeleceu princípios para a Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal. Já no ano 2000 ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 18 com o novo governo de Fernando Henrique Cardoso intitulado de “Avança Brasil”, foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal – LC n˚ 101/2000, que estabeleceu diretrizes para o controle e fiscalização dos orçamentos para a União, os Estados e Municípios, bem como para os gestores de dinheiro e bens públicos. Além da Lei de Responsabilidade Fiscal, foi implantado também o chamado Governo eletrônico. Em 2004 no governo Lula, as inovações na esfera de gestão pública não tiveram um núcleo irradiador único. A maioria não se situou explicitamente nas áreas das políticas de gestão pública. Foram destaque a formulação de um marco jurídico comum para todos os setores em que o Estado regulador começa a tomar forma, a institucionalização de uma mesa de negociação para lidar com as questões trabalhistas no setor público, o sorteio de prefeituras para efeito de fiscalização da utilização dos recursos federais pela Controladoria Geral da União, a criação da figura jurídica dos consórcios públicos, a unificação das receitas federal e previdenciária e por fim a criação do programa Bolsa Família. 4 A REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO. A reforma do Poder Judiciário é um assunto muito vasto, profundo, reflexivo e de fundamental importância para o futuro do mundo jurídico brasileiro. No atual momento, quando todos se manifestam inquietos com sua falta de eficiência, perquirindo as causas de suas carências e reunindo idéias dentro do que for possível na efetiva conjuntura política, buscando soluções que possam minimizar, atualizar ou mesmo corrigir em parte as grandes distorções e entraves na aplicação da justiça, é da maior importância a discussão a respeito da reformulação do Poder Judiciário brasileiro (CHAVES, 2003). A partir da Constituição de 1988, o Poder Judiciário e as mudanças que nele se fazem necessárias vem sendo objeto de intenso debate, não só em função dos aspectos materiais de seu funcionamento, mas principalmente pelo papel político que tem exercido na democracia brasileira, em especial, o de confrontar decisões dos demais poderes do Estado. O Poder Judiciário, como todas as instituições do Estado contemporâneo, sofre os múltiplos reflexos e impactos de um mundo em vertiginoso processo mutação. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 19 Sua estrutura atual tornou-se disfuncional e inadequada às demandas da sociedade moderna. Ocorre que o Judiciário enfrenta hoje um volume excepcional de trabalho, com um excesso de processos que lhe são apresentados. Assim como o Poder Executivo que vive sua crise de Estado passando por dificuldades para implantação de seus projetos de bem-estar social e de assistência social. Contudo, esta busca intensa pela tutela jurisdicional, em que o juiz é a esperança última do indivíduo, fez com que a instituição entrasse em colapso refletindo nos demais poderes do estado (ALMEIDA, 2006). As críticas comumente dirigidas à atuação do Poder Judiciário brasileiro podem ser englobadas em dois grupos genéricos: a) críticas à morosidade e à ineficiência da prestação jurisdicional; b) críticas à corrupção de juízes pela ausência de maiores formas de controle desse poder. As principais causas que levaram o judiciário a passar por tamanha crise foram a espantosa produção de leis e pelo Legislativo, bem como as inúmeras medidas provisórias editadas pelo Executivo, que acabam por engessarem a celeridade processual. Outro fator de extrema importância esta relacionado à consciência do cidadão que após a Constituição de 1988 estimulou o cidadão a buscar seus direitos e a resolver seus conflitos. Diante de todos estes problemas o Judiciário entrou em crise causada pelo excesso de processos, morosidade de suas decisões, falta de magistrados, falta de recursos orçamentários, falta de servidores, a necessidade de modificação da legislação processual, a utilização de interposição dos intermináveis recursos e por fim uma completa ineficiência administrativa para atendimento de quem o procura. Isto levou o Poder Judiciário a analisar as causas dessa crise. Na busca de soluções alguns magistrados estabeleceram como objetivo a implantação de métodos gerenciais modernos visando proporcionar, além da racionalização dos processos, e a possibilidade de valorização dos magistrados e servidores como seres humanos dentro da Instituição (Elizabet Leão). ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 20 Dentre os principais problemas do Poder Judiciário, verifica-se que o de maior gravidade se refere aos métodos utilizados para a sua administração, principalmente pelo fato dos magistrados e servidores não possuírem uma formação acadêmica de administração (Elizabet Leão). Em 8 de dezembro de 2004, foi publicada então a Emenda Constitucional n˚ 45, que além de modificar o texto constitucional em muitos elementos inalteráveis, trouxe as seguintes mudanças sobre: a razoável duração do processo, a hierarquia constitucional dos tratados internacionais de direitos humanos, a previsão de jurisdição do Tribunal Penal Internacional, a criação dos Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público e Superior da Justiça do Trabalho, as mudanças no estatuto constitucional da magistratura, a extinção das férias coletivas, a quarentena de juízes, a destinação de custas, as alterações quanto ao orçamento, a alteração das competências do Supremo Tribunal Federal , do Superior Tribunal de Justiça, da Justiça Federal e da Justiça do Trabalho, as mudanças quanto ao controle de constitucionalidade, a súmula vinculante, as escolas nacionais de formação e aperfeiçoamento, a justiça itinerante, as câmaras regionais, a federalização dos crimes contra os direitos humanos, a alteração da composição dos tribunais, a autonomia da defensoria públicas estaduais e a extinção dos tribunais de alçada. Como se vê, a mudança promovida foi profunda, trazendo o Judiciário para uma administração pós-burocrática, ou seja, uma administração gerencial voltada para a eficiência, eficácia e efetividade dos serviços públicos. Um dos principais fatores para esta nova empreitada rumo a administração gerencial do Poder Judiciário veio com a criação do Conselho Nacional de Justiça que é um órgão meramente administrativo do Poder Judiciário, ligado as questões de controle, fiscalização e administração. As principais atribuições do Conselho são controlar a atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, controlar os deveres funcionais dos juízes e zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura. 5 CONCLUSÃO. Como se vê a Administração Pública constitui um importante segmento da Administração. Ela representa o aparelhamento do Estado e funciona como ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 21 instrumento do governo para planejar, organizar, dirigir e controlar todas as ações administrativas no sentido de dar plena e cabal satisfação das necessidades coletivas básicas, seja no Poder Executivo, seja no Poder Legislativo e também no Poder Judiciário. Seu objetivo principal é se moldar as grandes transformações que surgem no cenário mundial, oriundas das profundas mudanças socioeconômicas e políticas que cada vez mais tornam os ambientes complexos e repletos de desafios exigindo uma nova postura das instituições e dos gestores públicos para cuidar do interesse coletivo de forma a entregar a população uma ampla variedade de serviços públicos capazes de melhorar a qualidade vida em geral. Esta nova forma de administrar é visivelmente apresentada pelas instituições governamentais tanto no Poder Executivo que adota hoje a administração gerencial voltada para eficiência, eficácia e efetividade dos serviços públicos tendo como foco o cidadão como seu cliente, bem como agora estamos presenciando esta administração no âmbito do Poder Judiciário, que busca aliar as suas práticas jurídicas a nova administração gerencial, voltando o seu foco para o cidadão, buscando celeridade nos trâmites de seus processos, criando mecanismos de controle com o intuito de atender com plenitude as necessidades da sociedade. ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 22 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Jorge Luiz. et al. A Reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n. 45/2004. Campinas, SP: Millennium Editora, 2006. ABRUCIO, Fernando Luiz. O Impacto do Modelo Gerencial na Administração Pública: um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP – Caderno ENAP n˚ 10, 1997. CHAVES, José Péricles. Reforma do Poder Judiciário, fatos históricos e alguns aspectos polêmicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 95, 6 out. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4212>. Acesso em: 10 jan. 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006 - 3ª reimpressão. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005. DIDIER JR, Fredie. et al. Reforma do Judiciário. São Paulo: Saraiva, 2006. GNISCI, Eduardo. Administração Pública. Brasília: Fortium, 2007. LEÃO, Elizabeth. Centro Nacional de Gestão Empreendedora do Poder Judiciário. VII Congresso Internacional Del CLAD sobre La Reforma Del Estado y ______________________________________________________________ * Engenheiro Florestal, graduado pela Universidade de Brasília - UNB (1999). 23 de La Administracion Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Outubro 2002. Disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/CLAD/clad0043643.pdf.>. Acesso em: 10 jan. 2009. MARQUES, Marcelo. Administração Pública: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Ed. Ferreira, 2008. MATIAS-PEREIRA, José. Manual de gestão pública contemporânea. 1. ed. 3. Reimp. São Paulo: Atlas, 2008. MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: Atlas, 2008. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução a Administração. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2007. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da Revolução Urbana à Revolução Digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. 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