Dificuldades Enfrentadas pelo Agente Comunitário de Saúde: Compreensão
Necessária para Prática de Enfermagem
Berenice Temoteo da Silva1; Loeste de Arruda Barbosa2; Ticiano Magalhães Dantas3;
Francisco das Chagas Vasconcelos de Souza Neto4; Cleide Correia de Oliveira5
Enfermeira Mestranda em Saúde Pública pela UECE1; Enfermeiro Doutorando em
Farmacologia pela UFC2; Enfermeiro Especialista em Saúde da Família3; Graduando
em Educação Física pela UECE4; Enfermeira Mestre em Desenvolvimento Regional,
Profª do Departamento de Enfermagem da URCA5
RESUMO
Objetivou-se conhecer as principais dificuldades para a realização do trabalho do ACS
com vistas a subsidiar as práticas de enfermagem frente às necessidades do agente
comunitário de saúde. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa que
teve como universo da pesquisa, ACS das cidades situadas na conurbação Crajubar.
Participaram do estudo, 17 ACS escolhidos de modo aleatório. Aplicou-se entrevista
semi-estruturada e gravada. Os dados foram analisados com técnica de conteúdo
categorial. Obedeceu-se aos aspectos éticos que envolvem estudos com humanos. Na
realização dos trabalhos dos ACS existem dificuldades sócio-ambientais, dificuldades
de acesso dos ACS as residências das pessoas e captações de informações, sobrecarga
de trabalho, exposição demasiada ao sol e sem filtro solar, bem como inexistência de
material didático, fardamentos e identificação. Considera-se que o vislumbre do cenário
das dificuldades enfrentadas pelos ACS consiste em um importante dispositivo para
compreender o contexto de trabalho desse profissional e nortear as práticas de
enfermagem direcionadas ao agente comunitário de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem em Saúde Comunitária; Programa Saúde da
Família; Agente Comunitário de Saúde.
INTRODUÇÃO
A primeira experiência de agentes comunitários de saúde, ACS, como uma
estratégia estruturada e abrangente de saúde pública, ocorreu no Ceará em 1987, com o
objetivo duplo de empregar mulheres das regiões afetadas pela seca e diminuir a
mortalidade infantil(1) .
No ano de 1991 foi criado o Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) por meio do convênio entre a Fundação Nacional de Saúde e as Secretarias de
Estado da Saúde. Cada equipe era constituída na proporção de um enfermeiro instrutorsupervisor para 30 ACS, lotados em uma unidade de Saúde. Essa era uma estratégia
entendida como transitória para o PSF(2), Em 1994 surge também no Ceará, o Programa
de Saúde da Família, (PSF), sendo então, o PACS, incorporado pelo PSF(1) , hoje com
denominação de estratégia de Saúde da Família (SF).
Em diversos municípios do país onde a cobertura pela equipe completa da SF
ainda não se configura uma realidade, coexistem áreas que dispõe apenas de PACS ou
até mesmo sem nenhum tipo de serviço da atenção primária disponível para a
população(2).
Esse novo personagem da história de saúde no Brasil, o ACS, curiosamente, faz
parte da comunidade e trabalha para ela e com ela. Supõe-se que é quem conhece as
formas cotidianas de viver e de se comportar das famílias locais(3)
Nesse sentido, o ACS representa um novo elemento e é considerado como
personagem-chave na organização da assistência, na medida em que assume uma
posição bidirecional, pois é morador da comunidade em que trabalha e,
simultaneamente, integrante da equipe de saúde(4).
Condições complexas permeiam as relações no trabalho em equipe, no qual o
ACS está inserido, destacando-se os diferentes graus de autonomia profissional, a
divisão técnica do trabalho e a legitimidade social dos vários saberes implicados nas
práticas dos profissionais de saúde(5).
As atribuições do ACS no surgimento da profissão se configuravam em práticas
de prevenção de doenças e práticas curativas de intervenção no paciente como
realização de curativos, aferição de pressão arterial, administração de medicamentos
entre outras(6).
Talvez pelo exercício de técnicas até então realizadas apenas pela enfermagem,
pelo grande impacto das ações desse novo profissional de saúde na redução da
mortalidade infantil no Ceará e por indefinição a cerca dessa nova profissão. Surgiu
uma preocupação da categoria de enfermagem no sentido de direcionar suas atribuições
para um caráter de promoção da saúde e prevenção de doença e incorporar os ACS à sua
supervisão(6).
Atualmente, a enfermagem supervisiona os ACS no contexto do PACS e na
estratégia SF, assim se faz relevante conhecer as principais dificuldades para a
realização do trabalho do ACS com vistas a subsidiar as práticas de enfermagem frente
às necessidades do agente comunitário de saúde.
MÉTODO
Trata-se de um estudo proveniente de uma pesquisa mais ampla intitulada de
representação social: compreensão do usuário sobre a estratégia de saúde da família e
seu modelo de promoção da saúde, onde foram pesquisados além dos usuários os
agentes comunitários de saúde.
Consistiu em um estudo descritivo de abordagem qualitativa que teve como
universo da pesquisa, ACS que fazem parte de ESF situadas na conurbação Crajubar,
composta pelas cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, na Região
Metropolitana do Cariri ao sul do estado do Ceará. A conurbação conhecida como
triângulo Crajubar é considerada uma praça comercial de expressiva importância, bem
como centro hospitalar, universitário, industrial e religioso(7).
Participaram do estudo, 17 ACS escolhidos de modo aleatório de diferentes
USF, 7 que trabalhavam em Juazeiro do Norte, 6 que trabalhavam em Crato e 4 que
trabalhavam em Barbalha. No intuito de preservar suas identidades, suas falas ficaram
representadas numericamente de 1 a 17 e acompanhada da letra ‘E’ que representa a
entrevista em questão.
Determinou-se o número de participantes pelo critério de saturação de dados. Na
pesquisa qualitativa a amostra pode ser constituída randomicamente ou não, considerarse a saturação dos dados, quando houver repetição dos mesmos em mais de 50% dos
casos, ou outro critério pré-estabelecido(8).
As unidades Básicas de Saúde nas quais se encontraram os sujeitos foram
selecionadas por meio de sorteio e sob os seguintes critérios de inclusão: consentimento
do enfermeiro(a) responsável pela unidade e funcionamento há mais de um ano.
Ficando excluídas as que não contemplaram esses critérios, procedendo-se então, um
novo sorteio.
Os critérios de inclusão dos sujeitos foram: trabalhar como ACS há mais de um
ano, possuir idade superior a 18 anos e consentimento do entrevistado através do termo
de consentimento livre e esclarecido. Sendo excluídos do estudo os que não se
enquadraram em algum dos quesitos supracitados.
A etapa de coleta de dados se deu no período de fevereiro a abril de 2010 com a
aplicação de uma entrevista semi-estruturada elaborada e gravada pelos autores.
A análise e sistematização dos dados ocorreram utilizando-se a técnica de
análise de conteúdo categorial, que se baseia em operações de desmembramento do
texto em unidades temáticas, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que
constituem a comunicação e, posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes
ou categorias e, se necessários, subcategorias (9).
Este estudo foi conduzido dentro dos padrões exigidos pela declaração de
Helsinque e resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde,
obtendo parecer favorável do comitê de ética da Faculdade de Medicina de Juazeiro do
Norte sob o processo Nº 2009_182 FR 220913.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de sujeitos nesse estudo a grande maioria era do sexo feminino (16)
com idade variando entre 23 e 53 anos. Quanto ao estado civil, a maioria era solteira,
seguida por casados e divorciados.
Sabe-se que a profissão de ACS é uma profissão essencialmente feminina(10). As
atividades do ACS são consideradas, de um modo geral, pertencentes a um universo de
trabalho em que são necessárias competências inerentes à natureza feminina. Esse fato
pode estar intimamente ligado ao papel de cuidadora que a mulher desempenha na
sociedade, sendo as principais responsáveis pela educação e pela alimentação das
crianças, bem como pelos cuidados prestados aos membros idosos da família(11).
Quanto à idade, outros estudos mostram grande variação de idades de ACS, não
havendo idade máxima para atuação(12), entretanto, sendo necessário ser maior de idade
para atuar nessa profissão(13).
No que concerne ao tempo de trabalho como ACS a mais experiente tinha 20
anos de atuação e a menos experiente possuía 1 ano, sendo a média de anos de trabalho
como ACS dos sujeitos de 4 anos e meio. No que se refere à escolaridade, 11 ACS
tinham apenas o ensino médio completo e os demais possuíam o ensino superior ou o
estavam cursando.
Um estudo contatou que os ACS, ao longo dos anos, foram identificando a
necessidade de estudar mais. Isto é positivo tanto para a qualidade do serviço quanto
para a evolução pessoal e profissional(12).
As principais dificuldades apontadas para os ACS desenvolverem seu trabalho
foram captadas e a partir dos relatos dos sujeitos surgiram 3 categorias, as quais
agrupam idéias similares sobre os temas abordados:
Categoria I: Dificuldades sócio-ambientais
Categoria II: Dificuldades de relacionamento
Categoria III: Dificuldades organizacionais.
Dificuldades sócio-ambientais
Há questões que dificultam o trabalho desenvolvido pelos ACS, alguns de
ordem social, pois mesmo com as orientações fornecidas por eles, o meio ambiente
favorece o desenvolvimento de doenças em decorrência da falta de saneamento básico,
assim, o ACS se sente impotente em mudar a realidade das condições de saúde da
população, bem como ter sucesso em seu trabalho de educação em saúde.
Como eu vou trabalhar pra evitar diarreia, se na rua,
como na minha, não tem saneamento básico? Então isso
dificulta muito o trabalho, como eu vou quere que as
famílias sejam, assim, limpinhas se a área é muito
caótica?(E17).
Muitos não abrem a porta pra o agente de saúde... na
área que eu trabalho como tem mais pobres, aí eles
deixam a gente fazer o trabalho, mas a classe alta é mais
difícil (E8).
Percebe-se que, as vezes, no cotidiano do trabalho, espera-se que os ACS deem
conta também de resolver problemas sociais, o que é uma tarefa muito complexa(12).
Fica clara a problemática vivenciada por esses profissionais para que seu trabalho,
principalmente de educação em saúde seja efetivo, pois as condições de vida e infraestrutura formam uma barreira que dificulta a pratica de comportamentos aliados para o
alcançar de boas condições de saúde.
Dessa forma, destaca-se também que a tarefa educativa do ACS é complexa,
pois além de instrumentalizar-se para as ações, precisa conhecer e compreender o
contexto social, econômico e cultural da população que assiste(12).
Outros fatores como escolaridade da população, baixa renda, problemática das
drogas, prostituição, etc também dificultam significantemente o desenvolvimento ótimo
do trabalho dos ACS:
O nível de educação da comunidade é muito baixo e a
família não sabe como agir com a criança, com essas
coisas de comida, de alimentar na hora certa, com tudo
(E5).
A vulnerabilidade deste lócus de trabalho faz com que o ACS se depare com a
miséria, a violência, a falta de perspectivas, dentre outra situações. Isto produz um
sentimento de frustração e inutilidade no ACS, sentindo-se impotentes e incapazes de
ajudar(12).
Dificuldades de relacionamento
Há empecilhos relacionados à conduta da população em relação ao trabalho
dos ACS que muitas vezes não os recebem bem em suas residências, talvez pelo fato
de não compreenderem seu trabalho. Também existe a dificuldade de convencer a
população a procurar o serviço de saúde em tempo hábil para solucionar um problema,
principalmente com relação a comportamentos preventivos.
Tem casas que somos bem recebidos e têm outras que não
a população não entende que nos estamos trabalhando é
justamente pra eles, tem dificuldades, tem pessoas que não
abrem a porta (E2).
Eu vou na casa da pessoa até ela não aguentar mais e ir
para o posto... é muito difícil convencer as pessoas a ir no
posto pra cuidar da saúde (E1).
Tem gestantes que não querem vir fazer o pré-natal, tem
mães que não vem vacinar os filhos no tempo certo ai a
gente tem que tá lá indo! Mesmo as mães sabendo que a
vacina que evita as doenças elas ainda acham que vacinar
é besteira (E11).
Levar Informação né, tem gente que só vai ao médico
quando a gente vai lá, faz a visita dá um puxo bem
grande! olhe você tem que ir, é importante! Você pode tá
tomando o medicamento errado né? (E5).
Alguns usuários não se sentem a vontade em compartilhar dos problemas
familiares/saúde com o ACS, até mesmo por muitas vezes não enxergá-lo como
profissional de saúde e sim como um morador da comunidade havendo resistência da
população em mudanças de hábitos.
Alguns acham que agente tá invadindo a casa deles
sabendo de coisas sigilosas que só quem sabe é a gente o
os outros profissionais de saúde, ai tem gente que tem um
receio (E2).
Tem gente que tem certos tipos de doenças e não se abre.
Os idosos, por exemplo, são mais fechados e tem
dificuldade de se expressar (E12).
Entende-se que no cotidiano laboral o ACS fica muito próximo dos usuários.
Alguns usuários podem entender mal esta proximidade e equivocar-se sobre o papel do
ACS(12). As famílias da comunidade, inicialmente, têm dificuldade em deixar o ACS
entrar em sua casa, com medo do que ele possa dizer sobre a intimidade da família para
outras pessoas. O ACS deve manter a confidencialidade e o respeito com cada usuário
da ESF, pois a quebra da confiança da comunidade causará conflitos (14).
Entretanto, vale ressaltar que diante das necessidades, as pessoas da comunidade
buscam em primeiro lugar o ACS, quer seja uma informação, uma reclamação ou a
solução de um problema mais grave e dele esperam uma resposta, em uma relação de
cobranças e exigências nem sempre tranquila(3).
Dificuldades organizacionais.
Encontrou-se incompreensão por parte da população em relação ao trabalho
dos ACS, tendo em vista que a população em muitos casos espera a resolução de
problemas ou facilitações de suas necessidades, que nem sempre estão diretamente
ligadas as responsabilidades do ACS.
As vezes as pessoas ficam com raiva porque você não
pode fazer tudo que eles querem, eles pedem muito
remédios e a gente não pode
está levando remédios
porque a pessoa tem que vir ao médico pra eles passarem
e tudo, eles sempre querem uma coisa mais fácil (E7).
As pessoas às vezes querer alguma coisa e a gente não ta
ao alcance de ajudar (E9).
Eu acho ruim que as pessoas têm dificuldade de seguir o
cronograma (E14).
A gente sabe que na maioria das vezes os pacientes se
aborrecem por faltam as coisas os exames eles não
conseguem fácil principalmente os de alto custo, até por
que o município tem uma demanda enorme (E4).
Outra questão observada no trabalho do ACS refere-se ao sentimento de
onipotência, pois ele sente poder resolver os problemas dos usuários, mas ao mesmo
tempo, percebe existir coisas que vão além de sua governabilidade, frustrando
expectativas e criando uma esperança no usuário que às vezes não corresponde com a
realidade(3).
A comunidade tem dificuldade de entender o trabalho do ACS. Prevalece ainda a
visão tecnicista, centrada na doença, no remédio e nos procedimentos. Dessa forma,
percebe-se que falhas no serviço de saúde também causam sofrimento nos ACS, pois os
usuários, quando não atendidos pelo serviço de saúde passam a exigir do ACS a
resolução de problemas que não são de sua competência(12).
Faz-se possível observar nos serviços de saúde uma estrutura própria de regras
normas e etc, que comumente são surgidos a partir de pactos e negociações. Assim, não
é raro ocorrer problemas no funcionamento dos serviços de saúde. Isto provoca
cobranças que recaem, em primeira instância nos ACS por conta de serem os
profissionais mais próximos da população, ao quais vivenciam o problema quase
sempre de modo isolado, nos moldes de uma impotência individual
(14)
. Isto provoca
transtornos e desgaste para os ACS(12).
Existe em muitos casos na realidade desse estudo, ACS que relatam ser
sobrecarregados com número excessivo de famílias por estarem atuando em áreas
descobertas, fato esse que acaba por diminuir a qualidade do trabalho prestado. A
exposição ao sol e ao calor também é um aspecto levantado que torna o trabalho mais
difícil e cansativo, principalmente quando têm o trabalho aumentado por atuarem
adicionalmente em áreas descobertas.
Existem áreas descobertas que precisam ser cobertas por
nós, aí acaba sobrecarregando o nosso trabalho porque a
demanda é muito grande (E6).
O sol é uma grande dificuldade mas que ninguém pode
fazer nada né? (E5).
Muitas vezes, o ACS é tido como um ¨tapaburaco¨, pois além de, em muitos
casos, já sobrecarregado com tarefas de sua atribuição, passa a ser atuante em
desenvolver atividades resultantes da carência de outros profissionais nos serviços de
saúde(15).
Sabe-se que a exposição excessiva à luz solar pode trazer várias consequências
negativas para esses trabalhadores, dentre elas, insolação, desidratação, queimaduras,
envelhecimento da pele, podendo desencadear maiores problemas a exemplo do câncer
de pele (16).
Dificuldades relacionadas a material didático, até mesmo identificação formal
como membro da SF, o que até mesmo pode dificultar o acesso dos mesmos às
residências. Reclamam até mesmo dessa falta de um suporte por parte da secretaria de
saúde municipal, como também da falta de comunicação com a mesma. Como
também, a falta de capacitações mais frequentes para melhoria do desenvolvimento
das ações de educação em saúde.
Outra dificuldade também é em relação ao material da
gente né, as vezes a gente não ta com o material completo,
não tem fardamento (E9).
Nós não temos fardamento, nós não recebemos uma
caneta, uma pasta... nada. (E8).
As vezes não há uma parceiria real com a secretaria de
saúde e no fim o agente é que é o culpado de tudo pela
população (E8)
A gente tem que ser mais treinado viu para melhorar o
trabalho, porque no dia a dia as coisas vão evoluindo, as
vezes aquele livro que você guarda ali já está
desatualizado (E9).
A falta de instrumentos e de tecnologias para suprir as necessidades de trabalho
dos ACS nas diferentes dimensões propostas para sua atuação constitui limitações que
dificultam a operacionalização do seu trabalho com ênfase na integralidade do
cuidado(16).
Os ACS valorizam muito capacitações, pois para eles é de grande
responsabilidade as informações que levam para a comunidade de origem, pois caso
estas não forem adequadas e a contento da necessidade, da realidade e dos
casos/doenças, as ACS perdem o respeito e o prestígio da população local
(comunidade)(17). Assim, a educação permanente desses profissionais oportunizaria para
lidarem com as diversas situações existentes em seu cotidiano de trabalho, uma vez que
parte da reflexão sobre o contexto no qual estão inseridos,
produzindo
transformações(16).
Foi relatada, em muitos casos, a dificuldade de o ACS encontrar membros das
residências da área que atuam, por conta da saída dos moradores para trabalhar e a
residência passar todo o dia fechada, horário esse que também é o horário de trabalho
dos ACS.
Primeiro a gente não encontra as pessoas em casa, são
dificuldades porque a gente tem que deixar e família da
gente e ir a noite sabe, a gente tem que ficar até a noite
buscando aquelas pessoas que trabalham fora (E9).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os relatos dos ACS, pode-se compreender há muitas dificuldades
na realização de seu trabalho. Dificuldades sócio-ambientais que envolvem falta de
saneamento básico, pouca escolaridade e renda da população, problemática das drogas,
etc. Há também dificuldades de acesso dos ACS as residências das pessoas, como
também, de captação de informações necessárias às suas atividades, talvez pelo fato de
a população não entender bem o propósito do trabalho dos ACS.
Existem também dificuldades relacionadas à sobrecarga de trabalho dos ACS em
virtude da atuação em áreas que não tem cobertura dos serviços de ACS. Há relatos de
falta de material didático/informativo para a população, falta de fardamento e
identificação desses profissionais, bem como um apoio insuficiente da Secretaria
Municipal de Saúde.
O sol forte da região foi mencionado com um fator que interfere no trabalho,
ressaltando a falta filtro solar disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde.
Existe também a dificuldade de encontrar muitas pessoas durante o dia, pois essas estão
fora nas atividades laborais o que faz com que muitos ACS complementem as visitas a
noite, fora de seus horários oficiais de trabalho.
O vislumbre do cenário das dificuldades enfrentadas pelos ACS consiste em um
importante dispositivo para compreender o contexto de trabalho desse profissional e
nortear as práticas de enfermagem direcionadas ao agente comunitário de saúde.
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