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Perfil do Agente Comunitário de Saúde no PSF Vila Mury
Kátia Villaça dos Santos 1
Beatriz Lopes Ferraz Elias 2
Fernando Yugi Furukawa Horita 2
Letícia dos Santos 2
Caroline Costa e Souza 2
Franciane Emanulle Pacheco 3
Palavras-chaves:
Resumo
Perfil do Agente
Comunitário de
Saúde
Comparar o atual perfil do Agente Comunitário de Saúde ao “perfil ideal”
para identificar os pontos positivos e negativos do agente comunitário de
saúde em atividade no PSF da Vila Mury em Volta Redonda, neste período.
Traçar estratégias e apresentar propostas de fortalecimento e solução para os
problemas encontrados. Gerar mais questionamentos ao levantar esse perfil
e dar inicio a uma série de debates com referencia a importância do nível de
instrução dessa classe. Identificar os critérios usados na forma de seleção
e contratação desses profissionais. Instigar nos estudiosos a realização
de novos estudos, mais específicos e de maior abrangência, para melhor
comparar o impacto do trabalho desenvolvido pelos ACS nas diferentes
realidades das comunidades.
Nível de
Instrução
Importância
do Agente
Comunitário de
Saúde
O Programa de Saúde da família
trata-se de uma estratégia que prioriza ações
de promoção, proteção e recuperação da saúde
dos indivíduos, da família, do RN ao idoso,
sadios e doente de forma integral e contínua.
A partir de 1991 a União começou a implantar
esse novo modelo de assistência à saúde da
população e atualmente todos os estados
brasileiros em menor ou maior proporção
já o conhecem. Mais de 3,5 mil municípios
brasileiros têm equipes atuantes de Programa
de Saúde da Família (PSF). Ao todo, são
14.770 equipes com, pelo menos, um médico,
um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e
dois a seis agentes de saúde. Cada equipe é
responsável pela saúde de mil famílias.
O PSF tenta substituir um modelo
que se empenhava na assistência ao enfermo,
Especialista - Ciências da Saúde – UniFOA
Acadêmicos - Ciências da Saúde – UniFOA
3
Graduada - Medicina – UniFOA
1
2
uma vez que prioriza a prática assistencial em
novas bases e critérios, na perspectiva de atuar
na atenção à família a partir do ambiente no
qual ela se insere. O objetivo da reorientação
do modelo tradicional é empreender através
da reafirmação dos princípios e diretrizes
do Sistema Único de Saúde (universalidade,
integralidade, equidade), uma atenção integral
às famílias, empenhando em ações de caráter
preventivo e de promoção de saúde. Dessa
forma, interferir no processo saúde-doença
para prevenir que o homem sadio adoeça,
realizar diagnóstico das doenças em tempo
hábil, minimizando as complicações que
retiram o homem ativo do mercado de trabalho
por invalidez ou morte, em longo prazo, são as
perspectivas de um novo perfil de morbidade
hospitalar e dos indicadores epidemiológicos
Cadernos UniFOA
1. Introdução
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
Critério para
Contratação
do Agente
Comunitário de
Saúde
Cadernos UniFOA
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
40
de saúde.
A consolidação dos propósitos dessa
nova estratégia depende principalmente do
estabelecimento de uma estreita relação e
criação de vínculos, de laços, de compromissos
e de co-responsabilidade entre os profissionais
de saúde e a população. A família passa a
ser o objeto recípuo de atenção entendido
a partir do ambiente onde vive. O maior
recurso proposto para a efetivação desse elo
é o Agente Comunitário de Saúde, profissão
regulamentada na gestão do ex-ministro da
saúde José Serra, que tem diversas atribuições,
baseadas em diretrizes apresentadas pelo
Ministério da Saúde em 1999, que se resumem
no seguinte tripé: identificar sinais e situações
de risco, orientar as famílias e comunidades
e encaminhar e comunicar à equipe os
casos e situações identificadas. Os Agentes
Comunitários de Saúde são um dos pilares da
atenção primária de saúde no Brasil.
As experiências com Agentes
Comunitários de Saúde no País ocorreram em
vários estados durante a década de 70 e 80 de
forma pontual e isolada. A partir de 1987, o
Estado Ceará institucionalizou e expandiu
para todo seu território o Programa de Agentes
de Saúde. O sucesso dessa experiência na
melhoria da situação de saúde da população
foi tão relevante que o Ministério de Saúde
adotou o programa e o estendeu para todos os
Estados do País. Na atualidade, o Brasil conta
com cerca de 210.000 Agentes Comunitários
de Saúde, atuando em grande parte de sua
extensão territorial.
Os agentes comunitários de saúde
podem ser encontrados em duas situações
distintas em relação à rede do SUS: a)
ligados a uma unidade básica de saúde
ainda não organizada na lógica da Saúde da
Família; e b) ligados a uma unidade básica de
Saúde da Família como membro da equipe
multiprofissional. Ele mora na comunidade e
integra a equipe de saúde da família que atende
à comunidade. O perfil desejado para o agente
comunitário é de alguém que se destaca na
comunidade pela capacidade de comunicar-se
com as pessoas e pela liderança natural que ele
exerce, funcionando como elo entre a equipe
e a comunidade. O contato permanente com
as famílias facilita o trabalho de vigilância
e promoção da saúde realizada por toda a
equipe. Exerce também o papel de elo cultural,
o que fortalece o trabalho educativo, ao fazer
a interseção entre dois universos culturais
distintos: o do saber científico e o do saber
popular.
O recrutamento dos agentes é feito
através de processo seletivo no município,
com assessoria da Secretaria Estadual de
Saúde. Entre outros requisitos, o agente de
saúde precisa morar, há pelo menos dois anos,
na área onde desempenha suas atividades;
saber ler e escrever; ser maior de 18 anos; e
ter disponibilidade de tempo integral para
trabalhar.
O desenvolvimento das ações
propostas a esses profissionais tem uma
implicação direta no sucesso e na repercussão
da Estratégia Saúde da Família. A discussão
do perfil e competências dessa categoria
profissional será o nosso objeto de estudo,
já que não é observada na literatura uma
delimitação clara de suas atribuições o que
contribui para um processo inadequado e
insatisfatório de qualificação.
2. Questões
•
As atribuições instituídas como
competências dos ACS estão claramente
definidas na prática da atuação desses
profissionais?
• Há uma normatização para o processo
seletivo de contratação dos agentes?
• É estabelecido um sistema de dados que
compara as diversas unidades de PSF, e até
mesmo as diferentes equipes do mesmo
PSF, no que diz respeito ao impacto e aos
resultados nos indicadores de saúde, na
tentativa de comparar se há um desempenho
diferente nas diversas unidades, para facilitar
a detecção dos problemas específicos de cada
equipe?
3. Justificativas
Os ACS exercem relevante papel no
desenvolvimento de atividades de promoção
de saúde e prevenção de doenças, com suas
responsabilidades na identificação e notificação
das doenças e agravos, mantendo a equipe
informada das situações de risco. Desta forma,
uma criteriosa análise de seu desempenho
contribuiria para um melhor funcionamento
do Programa de Saúde da Família.
5. Cronograma
Inicialmente, na primeira semana
de março de 2008, foi discutido em equipe
(Preceptora e alunos do PSF Vila Mury) o tema
a ser abordado. Em seguida, iniciamos uma
revisão bibliográfica, seguida da delimitação
dos objetivos, focos da pesquisa e do traçado
de um plano de ação.
Em abril de 2008 já tínhamos
elaborado a folha de entrevista e esta foi
aplicada pelos alunos aos ACS numa quintafeira pela manhã, dia em que todos estão
presentes para a reunião de equipe semanal.
Com os dados tabulados e analisados,
o estudo foi discutido pelo grupo de alunos
junto à preceptora e o trabalho foi montado.
Na primeira semana de maio, o
trabalho foi submetido as últimas correções.
6. Resultados
No PSF Vila Mury constatamos que
todas agentes comunitárias de saúde (ACS)
são do sexo feminino (13) (Gráfico 1), sendo
62% (8) na faixa etária entre 18-25anos, 15%
(2) entre 26-35anos e 23% (3) maiores de 35
anos (Grafico 2).
Quanto ao nível de escolaridade
61% (8) cursaram o 2º Grau completo, 31%
(4) responderam estar cursando ou ter cursado
3º Grau e apenas uma respondeu ter cursado
somente o 1º Grau completo (Gráfico 3).
Quando questionamos sobre o
motivo principal que as levaram a ser ACS,
38% (5) responderam a vontade de trabalhar
na comunidade, outros 38% (5) responderam
para complementar renda para o estudo e 24%
41
7. Discussão dos resultados
O estudo pretende avaliar o perfil dos
agentes de saúde do PSF Vila Mury, visando
aventar possíveis deficiências e estimular
projetos de estudos futuros a partir dos dados
obtidos.
O PSF Vila Mury foi implantado
em dezembro de 2005 com 01 equipe inicial,
formada por apenas 02 agentes comunitários
de saúde (ACS).
Em maio de 2005, foi ampliado
para 02 equipes, mas com número de ACS
incompletos. Hoje (abril de 2008), já estão
formadas 02 equipes completas compostas,
cada uma, por 01 médico da família, 01
enfermeiro, 01 auxiliar de enfermagem e 04
agentes comunitários de saúde.
Visando a cobertura de áreas não
atendidas por essas equipes, chamadas
áreas flutuantes, já está em formação uma
terceira equipe que assumirá esta parcela da
comunidade.
Atualmente estamos com uma
população cadastrada de 4098 habitantes,
num total de 1572 famílias; sabe-se que
uma população de aproximadamente 12.000
habitantes se somam ao incluir a área
flutuante.
O perfil desejado para o agente
comunitário é de alguém que se destaca na
comunidade pela capacidade de comunicar-
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
O trabalho, com o objetivo de traçar
o perfil dos agentes de saúde da unidade em
questão, foi realizado através de entrevistas
com os agentes de saúde da unidade. A
entrevista foi aplicada a 13 agentes de saúde
da unidade, num total de 14 agentes, com
uma ausência justificada por licença de saúde.
Os agentes de saúde foram entrevistados
quanto à idade, escolaridade, motivo que
o levou a ser agente de saúde, realização de
curso preparatório específico para agente de
saúde, outros cursos e se residem no bairro da
unidade. (folha da entrevista em anexo)
(3) disseram que o motivo é ajudar na renda
familiar (Gráfico 4).
As ACS responderam se residem no
bairro Vila Mury e 7,6% (1) respondeu que
não reside, enquanto 92,4% (12) responderam
que sim (Gráfico 5).
Questionadas se receberam curso
específico de capacitação para Agente
Comunitário de Saúde, a maioria, 77% (10)
relatou não ter realizado nenhum treinamento
e apenas 23% (3) responderam ter recebido tal
instrução (Gráfico 6).
Ainda foi questionado sobre outros
cursos, onde a maioria, 85% (11), responderam
ter recebido outros cursos (dentre eles:
atendimento ao público- 4ACS; amamentação
– 3ACS; Introdutório do PSF – 2ACS; Anemia
falciforme –6ACS; dentre outros) e 15% (2)
responderam não ter recebido nenhum outro
(Gráfico 7)
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4. Materiais e Métodos
Cadernos UniFOA
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
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se com as pessoas e pela liderança natural
que ele exerce, ou seja, um elo entre a equipe
a comunidade. Deve estar em contato com
as famílias podendo então fazer a vigilância
e promoção de saúde com o apoio de toda
equipe, representando assim o elo cultural e
fortalecendo o trabalho educativo.
É preciso que o ACS more há
pelo menos 02 anos na área, que saiba ler e
escrever, que tenha idade maior ou igual a 18
anos e a disponibilidade de tempo integral
para trabalhar.
De acordo com o Programa Saúde da
Família compete ao Agente Comunitário de
Saúde o seguinte:
• Realizar mapeamento de sua área
• Cadastrar famílias que estão em sua área
de atuação e atualizar permanentemente o
cadastro
• Identificar indivíduos e famílias expostas à
situação de risco
• Identificar áreas de risco
• Orientar as famílias para utilização adequada
dos serviços de saúde,
encaminhandoas a serviços, conforme orientação de sua
coordenação local
• Realizar ações e atividades, no nível de
sua competência, nas áreas prioritárias da
Atenção Básica
• Realizar, por meio de visita domiciliar,
acompanhamento mensal de todas as
famílias sob sua responsabilidade
• Realizar busca ativa de casos como
tuberculose, hanseníase e todas demais
doenças de cunho epidemiológico
• Estar sempre bem informado e informar
aos demais membros das equipes, sobre
a situação das famílias acompanhadas,
particularmente aquelas em situação de
risco
• Desenvolver ações de educação e vigilância
à saúde, com ênfase na promoção da saúde e
na prevenção de doenças
• Monitorar as famílias com crianças
menores de 01 (um) ano, consideradas em
situação de risco
•
Acompanhar
o
crescimento
e
desenvolvimento das crianças de 0 (zero) a
5 (cinco) anos
• Identificar e encaminhar gestantes para o
serviço de pré-natal na Unidade de Saúde da
Família
• Realizar ações educativas para prevenção
do câncer cérvico uterino e de mama
encaminhando as mulheres em idade fértil
para a realização de exames periódicos nas
unidades de referência
• Promover a educação e a mobilização
comunitária, visando desenvolver ações
coletivas de saneamento e melhoria do
meio ambiente, entre outras dentro do
planejamento da equipe, sob a coordenação
do profissional enfermeiro;
• Traduzir para a Equipe de Saúde da
Família a dinâmica social da comunidade,
suas necessidades potencialidades e limites;
• Identificar parceiros e recursos existentes na
comunidade que possam ser potencializadas
pela equipes;
• Outras ações e atividades a serem definidas
de acordo com prioridades locais durante o
desenvolvimento do programa.
Na prática, os agentes de saúde
cadastram as famílias. Além de nome,
idade, condições de moradia, escolaridade,
profissão, identificam o histórico de saúde
dos integrantes, apontando a existência de
enfermidades, como tuberculose, hanseníase,
malária, hipertensão, diabetes, desnutrição,
entre outras. As consultas necessárias são
marcadas pelo agente, que, muitas vezes,
acompanha a pessoa até o centro de saúde.
Também controla a medicação dos doentes
crônicos, dão orientações sobre dengue,
leptospirose, higiene básica e outros cuidados
com a saúde; também realiza a busca ativa dos
casos de risco.
A visita domiciliar de médicos,
enfermeiros e auxiliares são realizadas
somente em situações especiais identificadas
pelos agentes, como idosos em situação de
abandono, com dificuldade motora, acamados
e com feridas, gestantes que se ausentam das
consultas e etc...
De acordo com atribuições que
cabem ao agente comunitário da saúde é que
justificamos o motivo de levantar a questão do
seu “perfil”, porque entendemos a importância
deste profissional na estratégia para reorganizar
a atenção básica e não apenas aumentar a
extensão de cobertura para as populações
marginalizadas. Irá promover atenção básica
em saúde para toda população de acordo com
os princípios de integralidade, universalidade
e equidade do SUS. Atualmente, encontramse em atividade no país 210 mil ACS, estando
presentes tanto em comunidades rurais e
periferias urbanas quanto em municípios
8. Conclusão
Durante a realização deste estudo
e vivência no PSF Vila Mury percebemos a
notável importância do Agente Comunitário
de Saúde, estabelecendo um elo entre
comunidade e serviço de saúde, como afirma,
EPSTEIN (2001) “A comunicação face a face,
indivíduo-indivíduo, ou seja, a relação médico
paciente que como vimos, é assimétrica e
problemática, é substituída por uma relação
mais equilibrada entre agente de saúde e
43
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
da renda familiar ou para estudo. Quando
questionadas as Agentes que buscam uma
complementação de renda para estudo (38%)
a totalidade delas responderam que não
investem essa renda em curso relacionado a
área de saúde.
Importante salientar que mais que
traçar somente o perfil de nosso agente, o
trabalho passa a ter a importância no que
diz respeito a gerar mais questionamentos,
levantar essa questão inicia uma série de
debates a respeito da importância e da
formação dessa classe; e através desse esboço
desenvolver pesquisas mais específicas, no
que diz respeito ao impacto do trabalho dos
agentes na promoção da saúde como também
como seria o perfil ideal desse agente; até
onde influenciam na adesão aos tratamentos,
na diminuição no número de hospitalizações
e internações; se o perfil físico do agente é
uma condição a considerar visto que é um
trabalho que é feito a pé, se a disposição
física está diretamente ligada a dedicação
dos agentes. A importância com referencia
a idade, antiguidade e experiência. Como
interferiria a ação de um agente mais antigo
como líder do grupo, fornecendo informações
e experiências adquiridas com a vivencia
naquela comunidade.
O perfil e competências do agente
nos interessam, pois entendemos ser ele um
multiplicador de informação e um edificante
instrumento, visto que podem quebrar
paradigmas e promover muitas transformações
já que ele é: “o olho lá!”, está em contato
direto, conhece a realidade da área e está
constantemente visitando o usuário.
O desenvolvimento das ações
propostas a esses profissionais tem uma
implicação direta no sucesso e na repercussão
de estratégia de saúde da família
Cadernos UniFOA
altamente urbanizados e industrializados. Daí
contestar em qual realidade está inserido esse
agente e se falta uma adequada qualificação a
esses profissionais.
Sabendo da importância deste
membro para o sucesso das ações do PSF é
que levantamos esse tema. A idéia de traçar
o perfil do agente de nossa comunidade vem
questionar quem é nosso agente, que perfil ele
preenche e se de fato existe um perfil ideal. Se
por acaso existe, que estratégias sugerir para
melhorar a qualidade do nosso ACS em relação
à: nível de instrução, poder de comunicação,
relacionamento com a comunidade e com a
equipe de trabalho, e, claro, o compromisso
com a causa. A população de modo geral
desconhece como funciona nosso sistema,
como é a porta de entrada e como o médico
não pode ser onipresente. Reconhecemos
o agente como um instrumento para o
entendimento e o êxito das ações de saúde e o
bom funcionamento não somente do PSF, mas
do SUS.
Durante a realização deste estudo
nosso propósito foi estar próximo dos
ACS para conhecer melhor o perfil desses
profissionais e entender se as suas atribuições
são cabíveis na prática e se os mesmos estão
aptos a empreendê-las.
Ao entrevista-los observamos que
no PSF Vila Mury há 100% de ACS do sexo
feminino, fato que podemos relacionar a maior
interação das mulheres junto a comunidade na
realização de eventos de cunho social e trabalho
voluntário, o que as aproxima das famílias e as
tornam conhecedoras das realidades de cada
universo familiar.
Em relação a faixa etária, a
predominância foi de menores de 25 anos,
diferente da tendência observada no PACS. A
população de ACS no programa que inspirou
a institucionalização dessa nova modalidade
profissional era em sua maioria composta por
mulheres numa faixa superior aos 25 anos,
que já traziam um histórico de engajamento
sócio-cultural (envolvimento nas pastorais
da criança, da família ou em outras entidades
beneficentes), de onde surgia o estimulo e
interesse em desenvolver o trabalho de Agente
Comunitário de Saúde. Isso tem implicação
no questionamento que fizemos a elas sobre o
motivo que as levaram a buscar essa profissão,
em que 62% relacionamos o interesse nesse
trabalho pela possibilidade de complemento
Cadernos UniFOA
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
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família. Muitos dos obstáculos mencionados
da relação médico paciente se dissolvem.
Quando, se necessário, encontra o médico, o
paciente já está mais familiarizado e confiante
no sistema. Uma mudança de padrão de
comunicação pode ser um (além de outros)
fator que leva a resultados excelentes no “
programa de médico de família”.
Inferimos, portanto, que os ACS
da Unidade Vila Mury não possuem uma
adequada capacitação, não participaram de
cursos preparatórios e de qualificação antes
da efetiva entrada nas unidades de PSF. É
importante a conscientização dos ACS quanto
seu papel no desenvolvimento de atividades de
promoção de saúde e prevenção de doenças,
e suas responsabilidades na identificação e
notificação das doenças e agravos, mantendo
a equipe informada das situações de risco,
pois somente dessa forma teremos indicadores
fidedignos que direcionem futuros estudos
e ações efetivas de melhoria da saúde da
comunidade.
Além disso, concluímos que os
ACS do PSF Vila Mury não se adequam ao
perfil sugerido pelo Ministério da Saúde,
tendo em vista que não observamos ações
de engajamento e de liderança que facilitem
o contato permanente com as famílias, pois o
principal motivo que os levou a atuar como
ACS, estava relacionado à complementação
de renda familiar.
A localização e a população assistida
podem interferir diretamente nas ações dos
ACS, pois a área em questão atende uma
comunidade primariamente e historicamente
formada, por funcionários da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), refletindo,
nos dias atuais, numa parcela detentora de
assistência privada à saúde, que erroneamente
julga desnecessário seu vinculo com o
Programa de Saúde da Família através dos
ACS. Esse pensamento deveria ser reavaliado
uma vez que a rede privada de saúde vem a
complementar o Sistema Único de Saúde.
Apesar de estabelecidas as atribuições
dos ACS junto ao Ministério de Saúde,
na prática, seu papel tem sido distorcido,
como por exemplo, cadastrar famílias em
projetos sociais como bolsa escola e bolsa
família, sobrecarregando, muitas vezes,
seu trabalho. Isso tem implicação direta no
processo inadequado de qualificação, pois
passa a receber diversos micro-treinamentos,
fragmentados, dados por diferentes programas,
fora do contexto e sem uma seqüência
lógica, como vimos em nosso estudo, cursos
superficiais sem uma base de formação
prévia, como cursos sobre anemia falciforme,
amamentação, atendimento ao público, entre
outros. Ressalta-se que para a realização
desses “micros cursos” existe um grande
investimento por parte dos municípios que
oneram os cofres públicos, sem o resultado e
benefício pleno esperado.
Não há a menor dúvida de que o
ACS deve contribuir para o processo de
transformação social. No entanto, é preciso
ter em mente que a transformação social é um
processo lento, requer esforços conjuntos e
permanentes e é papel de todos os cidadãos.
Portanto,
concordamos
com
NEIGHBOURN (1992) quando avalia
serem os agentes comunitários de saúde
verdadeiros monitores de adultos, com ações
educativas, exercendo o papel de elo cultural
ao fazer interseção entre dois universos
culturais distintos: o do saber científico e o
do saber popular, “com um papel de facilitar
no desenvolvimento do aprendiz: em vez
de lhe transmitir conhecimentos, parte dos
conceitos prévios e, analisando as informações
disponíveis, desenvolve um novo saber, fruto
da interação entre educador e educando.”
Contudo, toda a análise a partir
do estudo não seria válida se não aventasse
questões e instigasse propostas. Portanto,
questionamos sobre engajamento ideal dos
ACS, seu papel social na comunidade em que
trabalha, capacitação para exercer a função e
adequação de seu perfil, mas deveríamos, para
isso, oferecer uma remuneração justa para que
os ACS sintam-se estimulados a acompanhar
as famílias, integrá-las às equipes de saúde e
desenvolver ações educativas e de prevenção.
Além disso, deveria ser instituído um protocolo
oficial regendo o perfil dos ACS e este deveria
ser rigorosamente cumprido, de maneira a
unificar o perfil da equipe para aperfeiçoar as
ações e obter um melhor aproveitamento.
Acreditamos que deveria existir
uma sistematização no processo de formação,
avaliação e contratação dos ACS, por ser uma
forma mais apurada de apontar o profissional
mais capacitado para o cargo, denotando a
importância e seriedade ao programa de saúde
da família; também considerar a avaliação
continuada do seu desempenho profissional,
avaliando seu relacionamento com a
comunidade e com sua equipe de trabalho, o
grau de responsabilidade e compromisso com
que o profissional assume suas obrigações,
conhecimento demonstrado ao exercer suas
funções, além de assiduidade e pontualidade.
Existe um modelo de avaliação que está em
fase de implantação no PSF Vila Mury.
Por fim, nosso ideal é estimular o ACS
em seu papel de elo entre a comunidade e o
serviço de saúde, criando condições dignas de
trabalho e apontar possíveis falhas, reconhecer
habilidades e atitudes favoráveis para que
nosso trabalho sirva de meio para futuros
estudos e instigue novos questionamentos.
45
9. Referencias
BEREK, J. S., et. al. Tratado de Ginecologia:
novak. 13 ed, Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan S.A., 2005. 1740p.
BRISSOL, J., et. al.; Risk Factors for Cervical
Intraepithelial
Neoplasia:
differences
between low and high-grade lesions. Am J of
Epidemiol 1994; 140:700-10.
EPSTEIN, I., 2001 - A Comunicação da
Ciência - No prelo – Revista Comunicação
e Sociedade. Disponível em:<http://www.
metodista.br/unesco/PCLA/index.htm>.
Acesso em: 15 mar.2008
NEIGHBOUR, R. The inner apprentice.
Newbury: Petroc Press, 1992) in Bases
Conceituais de Trabalho em Saúde da Família
- Wagner, H. L. et al. Disponível em:<http://
planeta.terra.com.br/saude/PSF/psf002.htm>.
Acesso em: 15 mar.2008.
Cadernos UniFOA
INCA – Instituto Nacional de Câncer. Endereço
Eletrônico: http://www.inca.gov.br. Data de
Acesso: 21/11/2007.
Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008
FEBRASGO. Tratado de Ginecologia. 1
ed, Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2000.
1568p.
10. Anexos
46
Anexo 1
Folha de entrevista: Perfil dos agentes de saúde
Objeto do estudo:
Agente de saúde PSF Vila Mury
Estudo: Perfil do agente de saúde
PSF Vila Mury
3 equipes- 4 agentes
Sexo: Masculino ( )
Feminino ( )
Faixa etária: 18 – 25 anos ( )
25 – 35 anos ( )
> 35 anos
( )
Escolaridade: 1 grau ( )
2 grau ( )
3 grau ( )
Reside no bairro: Sim ( )
Não ( )
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Motivo que o levou a ser agente de saúde:
- Trabalhar na comunidade
( )
- Renda familiar
( )
- Complementar renda para estudo ( )
Teve curso de capacitação para agente de saúde:
Sim ( )
Não ( )
Outros: Sim ( )
Não ( )
Quantos: 1
2
3
4 ou mais
(
(
(
(
)
)
)
)
Quais:__________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________
Gráfico 5
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Gráfico 4
Gráfico 6
Cadernos UniFOA
Anexo 2
47
Gráfico 1
Gráfico 7
Gráfico 2
Gráfico 3
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48
Anexo 3
Folha de Cadastro
Anexo4
49
Cadernos UniFOA
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Folha de avaliação de desempenho
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
SANTOS, K. V.; ELIAS, B. L. F.; HORITA, F. Y. F.; SANTOS, L.; SOUZA, C. C.; PACHECO, F. E.. Perfil do Agente Comunitário de Saúde no PSF Vila Mury. Volta Redonda, ano III, edição
especial, outubro. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/especiais/pmvr/39.pdf>
Download

Perfil do Agente Comunitário de Saúde no PSF Vila Mury