OFICINA DE DESENHO URBANO:
DESENHANDO E CONSTRUINDO
A CIDADE NO CERRADO
Realização
Universidade Federal de Uberlândia
Apoio Cultural
Mosteiro Zen Morro da Vargem - Estação Cultural
Ibiraçu/ES
Patrocínio
Cultural
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Reitor
PROF. ARQUIMEDES DIÓGENES CILONI
Vice-Reitor
PROF. ANTÔNIO DE ALMEIDA
Pró-Reitora de Graduação
PROFª. VERA LÚCIA PUGA DE SOUZA
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
PROF. JOMAR MEDEIROS CUNHA
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis
PROF. GABRIEL HUMBERTO MUÑOZ PALAFOX
Pró-Reitora de Recursos Humanos
PROFª. LEILA BITAR MOUKACHAR RAMOS
Pró-Reitora de Planejamento e Administração
PROFª. RAQUEL CRISTINA RADAMÉS DE SÁ
Prefeito de Campus
ENG. WILSON AKIRA SHIMIZU
Diretora de Culturas
PROFª. VÂNIA CARVALHO LOVAGLIO
Diretor do Instituto de Geografia
PROF. SAMUEL DO CARMO LIMA
Lucimar Bello Pereira Frange
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos
(Organizadores)
OFICINA DE DESENHO URBANO:
DESENHANDO E CONSTRUINDO
A CIDADE NO CERRADO
2ª edição
UBERLÂNDIA
2004
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de
Catalogação e Classificação / mg
O32d
2. ed
Oficina de desenho urbano: desenhando e construindo a cidade no cerrado
/ Lucimar Bello Pereira Frange, Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos,
organizadores. - 2. ed. - Uberlândia : Universidade Federal de Uberlândia
/ PROEX, 2004.
1CD-ROM : il.
1. Desenho. 2. Urbanização. 3. Cidadania. I. Frange, Lucimar Bello
Pereira. II. Vasconcellos, Luiz Gonzaga Falcão. III. Universidade Federal
de Uberlândia. Pró-Reitoria de Extensão Cultura e Assuntos Estudantis.
CDU: 744
Oficina de Desenho Urbano: a s Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado - Segunda Etapa
PROJETO: “Oficina
Etapa”” .
COORDENAÇÃO: Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos
PESQUISADORES: Profª. Drª. Lucimar Bello Pereira Frange (Artista Plástica)
Prof. Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos (Geógrafo Urbanista)
ESTAGIÁRIAS: Anaisa Moreira Firmino (Aluna do Curso de Geografia da UFU)
Priscila Georgia Freitas de Souza (Aluna do Curso de Geografia da UFU)
Mara Nogueira Porto (Aluna do Curso de Artes Plásticas da UFU)
REVISÃO: Luciane Chedid Melo Borges
Victor Mariotto Palma
2004
Universidade Federal de Uberlândia
CEP 38400-902 - Uberlândia - MG - Brasil
Fone: (34) 3239-4411
www.ufu.br
Sonhos coletivos
E
ra uma vez um sonho. Um sonho que de tão grande precisava que muitas pessoas o sonhassem ao mesmo
tempo.
Era uma vez uma cidade com várias praças. Tantas praças que o tamanho do sonho não conseguiu abarcá-las ( ou
que não couberam dentro do sonho)
Como sonhos sonhados em conjunto têm várias opções, foi preciso selecioná-las e organizá-las para que abrisse
os olhos, acordasse e depois de um grande bocejo, virasse realidade.
No sonho, crianças desenhavam ao mesmo tempo em todas as praças da cidade; na realidade, 2000 crianças e
jovens desenharam em 30 praças.
Que surpresa boa!!!
O sonho grande não deu lugar a uma pequena realidade. As fadas e duendes de plantão conspiraram para que tudo
desse certo e os sonhadores se sentissem felizes.
Mas, como um bom sonho deu origem a uma boa realidade, esta faz com que os sonhos se multipliquem em
cabeças sonhadoras.
Outdoors, vídeo, livro e desenhos produzidos são a confirmação de que são possíveis sonhos coletivos!
Eliane de Fátima Vieira Tinôco
DesenhosCidadesCidadesDesenhosDesenhosCidades
casca oca
a cigarra
cantou-se toda
D
Bahô (século XVII)
Tradução: Paulo Leminski
esenhar e construir cidades vividas, visivas e imaginárias tem sido um percurso coletivo desde o ano
de 2001. Estamos em 2004 e as nossas interlocuções têm acontecido por todo esse tempo, com atores sócioculturais de cidades que; em suas construções, desconstruções e reconstruções; contêm - além de fragmentações e articulações - sonhos e utopias.
A temática do Desenho Urbano tem sido um exercício aprofundado sobre um Município, sua Cidade, seus distritos e as inúmeras e complexas cidades constituintes; e o interesse por essa experiência vem se ampliando entre
escolas, faculdades, universidades, centros de pesquisa, instituições culturais, órgãos públicos, associações de
moradores e ONGs.
Os 2643 desenhos, falas-vozes dos desenhadores, os depoimentos, as perguntas e os diálogos, são multiplicidades
e densidades humanas que têm nos implusionado a dar seguimento ao trabalho. Instauram-se, cada vez mais,
dimensões estéticas e estésicas sobre as cidades nas quais se vive e sente e pensa e questiona e se propõe a
partir do tema A cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir.
Este CD-ROM integra o Projeto Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado, agora
em sua 2ª etapa. As diretrizes para os desdobramentos desta etapa foram concebidas e trabalhadas numa busca
inquieta de pensar a Cidade em suas múltiplas dimensões espaço-temporais, em fevereiro de 2004, na Estação
Cultural do Mosteiro Zen Morro da Vargem em Ibiraçú - ES.
A Segunda Etapa tem, ainda, a edição de um Vídeo artístico-documental e a publicação de Cartelas, que se
constituem de Conversas de Desenhos com Desenhos. Em 2001, 2002 e 2003 foram editados 1000 exemplares
do livro (em duas tiragens de 500) e 100 exemplares em CD-ROM. Tanto o vídeo quanto o CD-ROM têm patro-
cínio da Caixa Econômica Federal, através da Diretoria Desenvolvimento Urbano e Parcerias.
Assim, optamos por mais esta alternativa de divulgação, para dar continuidade à disponibilização, socialização
e publicização das produções dessa experiência de ensino, pesquisa e extensão universitária. Essa jornada vem
se concretizando no encontro de muitos desejos e a construção coletiva de um sonho - pensar e propor, por
imagens, a Cidade no Cerrado Uberlândia e seus distritos Tapuirama, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos e
Miraporanga.
Ibiraçú, fevereiro de 2004.
Lucimar Bello Pereira Frange
Artista Plástica e Professora
[email protected]
&
7
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos
Geógrafo Urbanista e Professor
[email protected]
A
Diretoria de Culturas vem apresentar à comunidade, universitária e local, a Segunda Etapa da “Oficina
de Desenho Urbano”. Na sua Primeira Versão, houve a produção gráfica do material, contendo imagens e reflexões a partir do tema “A cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir”. Foram distribuídos livros
aos participantes do Projeto, às escolas municipais, estaduais e associações de bairro, e enviados a diversas
instituições de ensino do país e do exterior - Estados Unidos, Canadá e Europa.
Nesta Segunda Etapa, estão sendo lançados o CD-ROM - uma versão digital - do livro e o vídeo, produzido a
partir de um mergulho sobre as imagens dos 2643 desenhos e de conversas outras.
Agradecemos, portanto, a todos que, por meio de seus olhares e de suas falas, evocaram reflexões a respeito da
nossa condição existencial, possibilitando-nos uma maior aproximação entre as dimensões geográfica, histórica, cultural e emocional.
Vânia Carvalho Lovaglio
Diretora de Culturas - DICULT / PROEX / UFU
8
Sumário
Apresentação
DesenhosnasPraçasenosDistritosdaCidadenoCerradoUberlândia
Capítulo 1
Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado, um Percurso
10
13
Capítulo 2
Dialogando com as Imagens
· A Praça como Moldura
· Desenhos-Desenhados: sonhos, desejos, realidades, lembranças
· O meio, a cidade, o desejo, o desenho e o olhar
· Propostas para as cidades de seus sonhos: uma viagem pelos desejos-desenhados
· O urbano modificando as relações sociais através do olhar de crianças e de jovens
· Leituras e diálogos com imagens nos Distritos: Martinésia, Tapuirama, Cruzeiro dos Peixotos e Miraporanga
· Fotos-Percursos-Espaços dos Desenhos-Desenhados
27
27
47
66
85
100
123
166
Capítulo 3
Concluindo ou Continuidades possíveis
181
Dados Complementares
· Lista das Praças
· Lista dos Desenhadores
· Lista dos Oficineiros-Colaboradores
· Tabelas dos Desenhos-Desenhados
· Equipe de Gestão e Execução do Projeto
187
187
188
192
199
202
9
Apresentação
DesenhosnasPraçasenosDistritosdaCidadenoCerradoUberlândia
A
Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado é momento das vozes e das
falas desenhadas, de crianças, jovens e cidadãos a proporem uma cidade da utopia, da possibilidade humanística
e imaginária: uma Minas de muitas minas, parafraseando Guimarães Rosa.
Olhar a cidade, perceber a cidade e propor cidades para uma cidade é um olhar humano construído pelas culturas
nas quais se vive. É uma constante integração com o meio no qual se está mergulhado e adensado pelas inúmeras
histórias pessoais e coletivas. O olhar constrói, não é neutro, não é passivo, enfim, não é uma simples janela a ser
aberta para o mundo. O olhar age sobre o mundo e age sobre a sociedade1 .
A Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado é uma proposição cultural ancorada em
dimensões políticas, pedagógicas, culturais e sociais. A política, segundo Renato Janine Ribeiro, não está ligada à
polis, à cidade, às organizações das instituições como estava na tradição da teoria política, mas está ligada ao
poder, no sentido de ser a maneira como nós pegamos os fios descosturados de uma vida e tentamos ser senhor
destes. Fazer política é ser um cidadão ativo, de minha vida, um ‘condotiere’ de meu destino; é deixar de ser um
joguete passivo daquilo que me formou2 .
Como diz Bruno Kardele Dantas (um do desenhadores do Projeto, habitante de Cruzeiro dos Peixotos): achei legal
porque desperta esperança, amor e alegria, dimensões a serem trabalhadas enquanto “sustâncias” de vida neste
milênio que se inicia, substâncias para vidas a serem ressignificadas.
O livro traz algumas vozes de desenhadores e de oficineiros-colaboradores que, agregadas às nossas conversas,
às leituras visuais e verbais, ampliam as percepções da cidade e das cidades, são fluxos e entre-fluxos citadinos a
nos constituírem3 :
... a vontade de desenhar é grande, mas às vezes a timidez impede que a criança consiga expor seus pensamentos ...
... o fato que mais atraiu e despertou a atenção das crianças foi o plantio da árvore e fez com que elas conversassem
e brincassem juntas ...
DUARTE, Paulo Sérgio. O campo expandido
da arte, parte 3. Mudança de regime de percepção. Em: www.cultura-e.com.br
RIBEIRO, Renato Janine. A postura do brasileiro diante da ética e o preconceito que existe em relação a política do país. In: Calendário de Extensão
e Cultura. São Paulo: USP, dez, 2001.
3
As vozes foram preservadas inclusive com erros de português.
1
2
10
Dois policiais passaram pela praça e também desenharam.
Os jovens estavam sempre acompanhados por amigos e sempre sentiam vergonha ao desenhar.
Posso buscar minha régua, meu lápis de cor, o que nós vamos ganhar?
Eu vou vir todo dia aguar a plantinha ...
Pessoa de 02 a 70 anos tiveram o prazer de desenhar.
Cíntia desenhou um cruzamento e pediu não violência no trânsito. Ela já foi atropelada. Estava em uma moto com
o pai e um senhor bêbado, de bicicleta, atravessou na frente da moto ...
Wallison (3 anos) desenhou o lixo nas ruas, pois ele não quer lixo nas ruas e nas praças.
Vou desenhar uma quadra pintada porque fizeram essa, mas não é uma praça, é um curral de cavalo ...
Desenhei os prédios chiques e os barracos ao lado.
Desenhei um rapaz assaltando porque existe essa realidade na cidade.
Os jovens chamaram o Sr. Ari (responsável, como voluntário, pela manutenção da praça) para conhecer a nova
árvore plantada e que precisará de muitos cuidados.
Como eu vou desenhar como eu vejo a cidade? Eu nunca andei de avião ...
Eu tentei desenhar a paz.
A escola inteira está aqui.
Gostaria que tivesse policiamento, um posto de saúde melhor; melhorar a escola, mais salas, pois tem alunos que
não podem entrar; é preciso de aulas de computação, área de lazer para o povo, clube.
Deveria ter mais cursos de aperfeiçoamento, pois as fazendas precisam ter pessoas qualificadas.
Nelson Brissac Peixoto, no catálogo da Artecidadezonaleste, pergunta: de quem é a cidade? A metrópole de hoje
emerge como um local estratégico para todo um leque de novos tipos de operações - políticas, econômicas e
culturais. Novos alinhamentos compõem o campo de batalha da cidade global. Surgem novos atores sociais: as
corporações multinacionais e a multidão. A cidade global do modernismo tardio é uma operação de reestruturação
do espaço urbano, controle e exclusão social4 .
O capítulo 1 situa o Projeto e mostra suas etapas, complementado por dados e tabelas no final do livro. O capítulo
4
PEIXOTO, Nelson Brissac. As máquinas de guerra contra os aparelhos de captura. In: Artecidadezonaleste.
São Paulo, 2002. (Catálogo de exposição)
11
2 é o locus das conversas com os Desenhos-Desenhados. Várias equipes, compostas de 3 a 10 pessoas, olharam,
perceberam, dialogaram e escreveram algumas possíveis entradas nas cidades desenhadas. A ordem de leitura
pode ser escolhida por você, leitor, pois cada texto tem a autoria do grupo “escre-vedor” e o respeito da Comissão
Organizadora do livro, não sendo, portanto, seqüenciais. O capítulo 3 faz uma síntese do projeto e aponta possíveis caminhos após um percurso iniciado, gestado (com enormes desafios institucionais) e partilhado, prazerosamente,
no período de abril de 2001 a julho de 2002.
A Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado é um exercício, um ato coletivo,
político, pedagógico, sócio-cultural; alicerce para uma possível metodologia capaz de interligar extensão, cultura,
educação e cidadania. Convidamos você, leitor, a partilhar conosco esses sabores, co-gestar novos saberes e
perguntar, junto a nós do Projeto, quem somos nessa Cidade Cerradiana de Minas, de onde viemos e para onde
estamos indo...
12
Capítulo 1
Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado, um percurso
Eliane F. Vieira Tinôco, Lázaro Vinícius
Oliveira da Silva, Lucimar Bello P. Frange,
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos, Rafael Tannús Moreira5
As cidades, como os sonhos,
são construídas por desejos e medos,
ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto,
as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas sejam enganosas,
e que todas as coisas escondam uma outra coisa.
Ítalo Calvino6
A cidade é, por si, ao se fazer democrática.
Ela não tem desenho a não ser sendo democrática.
Ela é de todos, inclusive numa desgraça, sem dúvida nenhuma,
você vê que se pode dormir no meio da rua.
Paulo Mendes da Rocha7
U
ma oficina pode ser entendida, imaginada, pensada e concebida como local de construção de muitas
possibilidades. Desenhar na Oficina o Desenho Urbano é dar curso às percepções, aos sentimentos e às emoções,
aos experimentos, aos sonhos e às vivências no fazer e fazer-se urbano, que se constitui no acontecer da cidade,
do lugar onde vivemos, sejam quais forem suas condições. O lugar em que se mora é o lugar no qual a maioria das
pessoas passa a maior parte de suas vidas; portanto, um tempo enorme de seu viver. Assim, cunham-se as expressões “minha terra”, “minha cidade”, “o lugar onde vivo”, “meu torrão”, “meu bairro”, “minha cidade é uma vila
pequenininha”, “meu lugar”, entre tantas outras carregadas de significado histórico-geográfico e de dimensão
sócio-cultural ímpares.
O projeto Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado (O.D.U.) teve seu início no mês
de abril de 2001, quando uma equipe multidisciplinar formada por profissionais ligados à Prefeitura Municipal de
5
Eliane de F. V. Tinôco é professora de arte da Rede Municipal e assessora de Ação Educativo-Cultural da DICULT; Lázaro Vinícius Oliveira da
Silva é geógrafo da SEDUR e professor da Rede Estadual de Ensino; Lucimar Bello Pereira Frange é artista plástica, arte-educadora e diretora
de Culturas da PROEX/UFU; Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos é geógrafo professor do Instituto de Geografia da UFU e assessor da SEDUR/PMU; Rafael
T. Moreira é coordenador do setor de Interlinguagens Artísticas da DICULT e professor da rede particular de ensino.
6
CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
7
ROCHA, Paulo Mendes da. Revista Caros Amigos, ano VI, nº 61, abril de 2002. (entrevista)
13
Uberlândia (PMU) e à Universidade Federal de Uberlândia (UFU) se reuniu e começou a planejar ações de desenhos
com crianças e jovens e realizou, no dia 30 de setembro de 2002, a ação “Desenhando e Construindo a Cidade no
Cerrado” que aconteceu em 30 (trinta) praças do município, sendo 26 (vinte e seis) na cidade (distrito sede) e 4
(quatro) nos distritos de Tapuirama, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos e Miraporanga. O tema central foi: “a cidade
em que você vive e a cidade que gostaria de construir”, pensado e definido após muitas reflexões, passando, dessa
forma, a constituir-se no corpus norteador do desenvolvimento do Projeto.
Surgido a partir do encontro de experiências advindas do âmbito das Artes Plásticas, da Geografia Urbana e do
Urbanismo, o Projeto foi agregando idéias à medida que aumentava a diversidade de profissionais e estudantes
envolvidos nos trabalhos. Juntaram-se aos precursores e equipe do Projeto uma gama enorme de pessoas que
atuaram como oficineiros e colaboradores, o que evidenciou a vontade, o compromisso e o encantamento das
mesmas.
O projeto vem se efetivando ancorado em metodologias como a pesquisa-ação. Envolve dez Secretarias Municipais
(Meio-ambiente, Planejamento, Cultura, Educação, Turismo, Ciência e Tecnologia, Comunicação Social, Orçamento
Participativo, Desenvolvimento Social e Administração dos Distritos) e a Diretoria de Culturas da UFU (DICULT). As
reuniões - que aconteciam a cada quinze dias em locais diferentes, para que habitássemos os espaços pessoais e
coletivos de cada integrante da equipe gestora do projeto - eram momentos de discussões conceituais e de proposições para novas pesquisas, mais aprofundamentos e mais ações. Em uma equipe multidisciplinar, cada membro
falava de sua especificidade, dando embasamento para a construção coletiva de um projeto transdisciplinar.8
O investimento do projeto é de uma cidade humana a ser humanizável com qualidade de vida para todos os
seus segmentos, na qual convivam a cidade e o urbano enquanto produções sociais de citadinos/cidadãos,
independente de suas idades e etnias, seus gêneros e grupos sociais.
Segundo Michael Brenson: O crescente envolvimento artístico com crianças sugere uma necessidade, entre
artistas, de imaginar um futuro com poder em novas mãos9 . No caso da O.D.U, o envolvimento se dá tanto por
artistas quanto por uma diversidade de profissionais que vêem no desenho da criança possibilidades estéticas, culturais, políticas e sociais. Os desenhadores, ao desenharem “a cidade em que você vive e a cidade que
8
9
A transdisciplinaridade é entendida como a quebra das barreiras entre as áreas de conhecimento e um trabalho de com-junto entre elas.
BRENSON, Michael. In: Perspectivas da Arte Pública. Arte Pública. São Paulo: SESC, 1998.
14
gostaria de construir”, têm, em seus desenhos, projetos/propostas de cidades sobre as quais são pensadas
múltiplas possibilidades.
O objetivo da pesquisa cultural e social é motivar e instrumentar diversificados grupos de trabalho, como fonte de
conhecimento e de uma ação educativa de transformação, numa perspectiva libertadora/criadora.
O Projeto aponta em múltiplas direções quanto à conceituação da “cidade-urbano”. Contudo, tal diversificação vai
apresentar um aspecto comum: a contraposição à homogeneização e ao autoritarismo permeado na idéia da cidade
produtivista. Para ilustrar esse contraponto, tomamos emprestada a palavra do poeta amazonense Aldísio Filgueiras
quando fala que a cidade que existe em nós tem saudades do futuro. Não tem água que se acabe. Mas isto é para
quem viverá. Não existem águas paradas10 .
A cidade da produção - a exemplo da fábrica - deve ser bem gerenciada, ter funcionalidades, ser “racional” e
lucrativa. Suas formas, conteúdos e atributos precisam atender aos objetivos da produção econômica, tornando-se
competitivos, pragmáticos e planejados nesse intuito. Sua lógica, fundada nos paradigmas do processo de
globalização da economia, indica a importância de sua articulação no concerto internacional de cidades, com
preocupação voltada para a racionalidade exigida por tal concepção. Esse “ideal” de cidade é o do pensamento
único, sem tensionamentos, utopias, sonhos e ideologias, ou seja, uma cidade sobre a qual só se conhece parte de
sua história, de seu passado e de suas vitórias e derrotas. Em contraponto a esse conceito, o presente Projeto
trabalha a cidade enquanto materialização de tempos históricos, produto das relações humanas, natureza apropriada e transformada. Suas formas, sempre datadas, são fruto dos saberes, das técnicas e das dimensões artísticas
e culturais das sociedades em cada época. Seus atributos atendem, ou buscam atender, às demandas e aos interesses dos segmentos sociais de cada sociedade. Seus conteúdos expressam ideologias, crenças, sentimentos, culturas e filosofias de vida. A cidade torna-se, portanto, causa e efeito da ação coletiva, lugar privilegiado das idéias, e
condição necessária ao exercício da cidadania. Entendendo a cidade e sua dinâmica como resultante da ação de
múltiplos agentes sociais, pensamos o Projeto com o intuito de combinar, mesclar e amalgamar a pesquisa e a
extensão universitária, através de uma ousada cooperação inter-institucional envolvendo a Universidade e a Prefeitura com os seguintes objetivos:
10
FILGUEIRAS, Aldízio. Manaus: as muitas cidades, 1987-1993. Edição do autor: 1994, p.58.
15
1 –Pensar a cidade e o município através dos desenhos de crianças e jovens realizados em praças públicas entendidas como espaços de encontros, diálogos, trocas e criações.
2 –Incentivar as percepções da cidade como espaço habitacional de trocas culturais e sócio-políticas.
3 –Conhecer o município, os distritos e a cidade como resultantes de processos sócio-culturais, considerando os
“bens naturais e os bens simbólicos” incorporados como valores existenciais.
4 –Propor que as crianças e os jovens fizessem desenhos do lugar onde vivem e do lugar que gostariam de construir.
5 –Encaminhar as proposições feitas pelas crianças e jovens, entendidas como práticas cidadãs, aos órgãos dos
poderes públicos e instituições da sociedade civil.
Desenhar e construir a cidade que contém, em sua essência e fundamento, o binômio natureza-sociedade, passa,
no caso de Uberlândia, pelo Cerrado, pelo planalto, por seus rios e córregos, por sua fauna, por seu clima, por sua
geologia e por sua vegetação, onde atores sociais constroem seus viveres. O “Cerrado Uberlandense”, para nós,
tem essa marca. A sociedade-natureza forja sua antropogeografia11 e constitui um espaço-tempo com personalidades e identidades próprias. Essa “marca registrada”, seja de que forma for, aponta para nossas identidades,
nossas personalidades, nossas individualidades e pluralidades nos contextos em que nos inserimos.
Se abertos à multiplicidade que é a cidade - local e lugar, que brota e pode florescer, de dentro para fora e de fora
para dentro, a diversidade cultural que somos - podemos edificar a “cidade” do direito ao direito, do direito à
diferença, do direito às oportunidades e realizações.
A equipe gestora do projeto, em um primeiro momento, demonstrou a vontade de ter crianças e jovens desenhando, ao mesmo tempo, em todas as praças da cidade de Uberlândia e dos distritos. De posse de um mapa
da cidade, vendo as praças e as áreas institucionais, locais que ainda seriam transformados em praças, percebeuse ser impossível utilizá-las para o momento de desenho com crianças e jovens. Por isso, foram escolhidas
praças nas diversas regiões da cidade, respeitando-se a setorização do Plano Diretor e a regionalização do
Orçamento Participativo. As praças foram visitadas por duplas de pessoas que relataram, para o grande grupo,
as condições das mesmas. Assim, foram criadas equipes de trabalho destinadas ao estudo desses espaços,
11
A Antropogeografia é aqui entendida como o mesmo que “Geografia Humana”, constituindo o conhecimento do ambiente construído (físico/
cultural), a partir de um processo social. Tal conhecimento contém uma reflexão crítica na perspectiva da produção do saber geográfico.
16
levando em consideração aspectos, como tamanho, conforto, tráfego de veículos, bem como a existência de
escolas em suas proximidades.
A estrutura física das praças deveria acolher os “desenhadores”, proporcionando-lhes o abrigo em relação ao sol forte e,
também, protegê-los de problemas como o trânsito de automóveis. Além disso, um mínimo de infra-estrutura correspondente
aos bancos e aos canteiros gramados foi considerada por essas “equipes de andarilhos” que percorreram os cinco setores e os
quatro distritos de Uberlândia, levantando os locais possíveis para a realização da ação de desenho.
As visitas em duplas a cada uma das praças eram momentos de trocas entre as equipes e os freqüentadores do local, proporcionando um maior entrosamento entre as pessoas.
Com os números de praças e locais estabelecidos, a equipe definiu os Coordenadores responsáveis por cada setor e distritos da
cidade. Estas pessoas assumiram não só as tarefas de distribuir e recolher as fichas de inscrições, calculando o número de
colaboradores por praça; como, também, foram responsáveis pelo planejamento das ações com os grupos de trabalho, assumindo a divulgação do projeto e de sua concepção junto aos oficineiros-colaboradores e escolas.
Os oficineiros-colaboradores surgiram de diversas comunidades. Muitos estavam ligados a escolas Estaduais e Municipais, outros eram professores e alunos de vários cursos da UFU e do Centro Universitário do Triângulo - UNIT. Houve a
participação de diversos profissionais liberais, estudantes e funcionários públicos que queriam trabalhar no dia 30 de setembro: 160 estudantes, 146 profissionais e 18 pessoas que não identificaram sua profissão. O total de 324 pessoas foi
assim subdividido: 51 estudantes de Artes Plásticas, 38 do Ensino Médio, 30 de Arquitetura, 22 de Geografia, 3 de PréVestibular, 3 de Psicologia, 2 de Ciências Sociais, 2 de Comunicação Social, 2 de Engenharia Civil e estudantes de
Arquitetura e Artes Plásticas, de Biologia, de Computação, de Direito, de Economia, de Educação Física e de Engenharia
Mecânica. Dentre os profissionais, 45 eram Professores, 14 Arquitetos, 8 Geógrafos, 8 Professores de Artes, 5 Artistas
Plásticos, 5 Donas de Casa, 4 Educadores, 3 Economiárias, 3 Jornalistas, 3 Vendedores, 2 Arte Educadoras, 2 Arte Terapeutas,
2 Artistas Plásticas e Professoras, 2 Atendentes, 2 Cabeleireiros, 2 Dentistas, 2 Designers, 2 Diretoras de Escola, 2 Economistas, 2 Pedagogas, 2 Psicólogas, 2 Supervisoras, Agente de Controle de Zoonoses, Agricultor, Analista de Sistema,
Aposentada, Artista Plástico e Bancário, Assistente Administrativa, Assistente Social, Auxiliar de Creche, Auxiliar de Laboratório, Balconista, Bordadeira, Comerciário, Corretora de Imóveis, Costureira, Eletricista, Fiscal Ambiental,
17
Funcionária Pública, Instrutora, Manicure, Merendeira, Modelista, Orientadora, Pintor, Professora e Psicóloga.
Essa diversidade de pessoas proporcionou uma rica troca de experiências culturais e sócio-políticas,
que fortaleceu os encaminhamentos para o dia “Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado” (30 de
Setembro).
Desde o início, a escola foi percebida como comunidade essencial para a viabilização da ação. Evidentemente, a
proposta não estava restrita somente às escolas; portanto, entendemos a sua importância na mobilização dos
jovens, das crianças e dos adultos das comunidades locais. A partir de seu envolvimento, poderíamos, ainda,
convidar os diversos profissionais ligados ao ensino médio e fundamental.
Foi necessário que pensássemos e definíssemos o material, e optamos por:
- uma folha branca (tamanho ofício), imaculada, material de uso diário de crianças, jovens e adultos, conviventes
do cotidiano estudantil e profissional, que não causaria, por sua familiaridade, estranheza ou impacto negativo;
- uma caneta preta, não tão familiar, mas objeto de desejo de crianças pequenas (que vêem nela a afirmação de
seus saberes), companheira dos adolescentes e jovens na construção de seus conhecimentos, escolhida e debatida
pela equipe gestora, por suas possibilidades gráficas de registro que não se apaga, pela facilidade e fidedignidade
da reprodução; uma linha que, pelo material, já instala uma necessidade de pensamento, linha-pessoa-vida-cidade a ser construída, linhas primevas, linhas-gestos-proposições; riquezas de sensibilidades, de percepções, de
expressões cidadianas e cerradianas (dos Cerrados de Minas);
- um papelão A4 como uma base rígida, para conforto do desenhador e qualidade do desenho;
- um varal, com cordão e prendedor de roupas, montado em todas as praças, para tornar visíveis as diversas
propostas individuais dos desenhadores, coletivizando as idéias e os ideais de uma cidade e de muitas cidades.
Em um projeto que vai se construindo a todo momento são incorporadas, sempre no coletivo, novas idéias.
Foi assim que, em um momento das discussões, pensamos a necessidade de se deixar na praça um marco/
marca do projeto. Pensamos, primeiramente, em uma construção de placas de cerâmica, mas definimos por
plantar uma árvore típica do Cerrado, na finalização dos trabalhos com as crianças e pessoas que estivessem
na praça. Assim, em cada comunidade, criar-se-ia um vínculo maior das crianças com a praça, já que as
18
mesmas seriam incentivadas pelos oficineiros a cuidarem da árvore que plantaram. Outra idéia concebida
pelos gestores do projeto foi a realização de seminários com o objetivo de socializar com os oficineiros os
estudos e as etapas do Projeto, discutir metodologias de ações e estabelecer o cronograma de trabalho e os
materiais utilizados.
A divulgação do projeto foi feita por um cartaz/folder com todas as informações, entregue, com uma semana de
antecedência, nas escolas, tanto públicas quanto particulares, bem como nos estabelecimentos comerciais no
entorno das praças.
A divulgação, neste primeiro momento, foi baseada num contato mais próximo entre as pessoas, proporcionando
uma religação entre os sujeitos, e, que a revitalização de “prosas” e contatos interpessoais se sobrepôs aos métodos “frios” de propaganda e comunicação. Com isso, não foi oportuna (também não queríamos, após discussões na
equipe gestora), a presença de carros de som ou outros meios que levassem as crianças e jovens a desenharem em
troca de algo. O prazer em ir à praça estaria arraigado ao ato de desenhar e pensar a Cidade no Cerrado
Cerrado, não
sendo necessária, e nem aceita, a presença de shows ou mesmo de “balinhas e prêmios”, pois o “único incentivo”
para que as crianças e os jovens lá estivessem era o desenho e a cidade, entendido como tempo/espaço/possibilidade das vozes de um segmento da população que normalmente não manifesta, nos órgãos oficiais, seus desejos
e vontades com relação à cidade.
As crianças e os jovens vivenciam suas cidades a partir de suas inserções culturais e sociais no âmbito da cidade
e, conseqüentemente, do “lugar” que ocupam na sociedade em que vivem, cidades de seus sonhos, suas bondades,
suas malícias, com gostosuras e belezas, amarguras e feiúras, elaborando expectativas, propostas e planos para o
fazer-se e refazer-se dessas mesmas cidades, assim como são desejosos de oportunidades para o diálogo e a
exposição de suas idéias para “novas construções da cidade”.
Em um projeto, cuja ação é o desenho da cidade
cidade, tínhamos a noção de que cada criança chegaria, desenharia
e iria embora, ou ficaria habitando a praça por mais algum tempo, por sedução ou hábito de estar ali. Em
algumas praças, as crianças foram chegando para desenhar, pois já sabiam do projeto. Em outras, os oficineiroscolaboradores precisaram sair e convidar crianças que estavam na praça ou em seu entorno. Houve casos de
19
oficineiros convidarem um grupo de crianças que pararam de jogar futebol para poder desenhar. As crianças
poderiam chegar a qualquer momento e ir embora quando sentissem vontade.
O Projeto assumiu um distanciamento das fórmulas “eventistas” tradicionais, buscando a efetiva participação das
crianças e dos jovens. Os oficineiros iniciaram o dia com a apresentação do tema “Desenhe a cidade em que você
vive e a cidade que gostaria de construir” e encerraram a ação com o plantio dos ipês rosas (definidos como Marco/
Marca do Projeto).
A frase “Desenhe a cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir” foi pensada e definida após muitas
rodadas de conversas entre os gestores do Projeto (PMU e UFU) durante o período que compreende os meses de
abril a agosto de 2001. É o tema da ação realizada no dia 30 de setembro que tem em sua proposição algumas
possíveis entradas. Num primeiro momento, há uma provocação e um chamamento para um ato: desenhe. Desenhar é desenhar-se e o Projeto pede atos de “desenhamentos” de uma Cidade no Cerrado; pede pela imagem, as
condições de vidas-em-vivência, quer dizer, uma vida que se percebe, para a qual se olha, sobre a qual se pensa,
que se faz desenhar e que, pelo desenho, se faz ver, vida sentida significativamente. E, ainda, encaminham-se para
instituições e entidades, as solicitações dos desenhos-desenhados, que são algumas possibilidades de melhoria
de vida. “Desenhamento” é uma condição de uma pessoa que se desenha e, ao se desenhar, desenha as interrelações com outras pessoas e com o mundo percebido, vivido e “julgado” crítica e propositoramente.
O tema “a cidade em que você vive” propôs uma ação “determinada” por nós, chamando um desenhador para um ato
de desenhar a cidade atual, na qual se está imerso enquanto “pessoalidade” e “pessoalidades” e, concomitantemente,
uma cidade do imaginário coletivo sócio-cultural. “Desenhador” quer dizer no projeto aquele que desenha por
vontade, por se sentir seduzido pela proposta do tema, podendo ser qualquer pessoa de qualquer idade, uma vez
que a praça é espaço público. “Pessoalidade” é a maneira de uma pessoa se constituir, com sua personalidade, suas
maneiras, seus sonhos, suas raivas, suas ancestralidades, suas perspectivas e suas ousadias.
Na seqüência do tema, existe uma outra proposição: “a cidade que gostaria de construir”, que convoca para um ato
de desenhar proposições, tendo a vontade e o desejo já instalados anteriormente.
“Desenhe a cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir” é uma temática de muitos possíveis -
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marcas-desenhantes, registros e pegadas de uma pessoa, de espaços coletivos e idéias culturais, de contextos e
situações. Nesse sentido, algumas pessoas, tanto oficineiros quanto desenhadores, entenderam como sendo “chamados” dois desenhos; outras privilegiaram uma das partes do tema ou fundiram-nas em uma; e outras, ainda,
fizeram seus desenhos “guardados” enquanto vontades, desvinculados, pelo menos à primeira vista, do tema proposto. A ambigüidade do tema foi objeto de ampla discussão. Entendendo que as pessoas encontrariam maneiras
de, com a linha-desenhante, falar de suas percepções e proposições para a Cidade no Cerrado - Uberlândia e seus
distritos - mantivemos propositadamente a condição do ambíguo, inclusive como um mote duplo, de provocação:
irritação ou sedução. O tema convidou a uma criação propositiva, criando condições às crianças e aos jovens de
desenhar a partir de suas vivências e anseios. Se, para alguns, a frase propunha situações distintas, separando
presente e futuro, para outros ela combinava essas dimensões temporais, o que levou a uma diversidade riquíssima
de desenhos, nos quais a compreensão da temática é retratada com razão, emoção, sonhos e utopias.
A aparente dualidade quanto à temática não causou problema metodológico, pelo contrário, enriqueceu a proposta
inicial, abrindo caminhos para a criatividade e subjetividade. Tal diversidade veio ao encontro das concepções do
Projeto, uma vez que o mesmo se apresenta aberto à multiplicidade teórico-conceitual relativa à cidade e ao
urbano.
Todos os desenhos a nós entregues foram aceitos, independente de idade. Todas as pessoas que quiseram
os materiais para desenhar vieram às praças, tiveram-nos e sabíamos que, ao chamar as crianças e os
jovens, estávamos chamando as famílias, os “tomadores de conta”, as turmas, as comunidades circunvizinhas
das praças.
Os desenhos-desenhados (2643 no total) mostram “muitas cidades” no Cerrado de Minas, com inúmeras
solicitações, muitas delas reafirmando as vontades faladas e verbalizadas em diversas situações. No entanto, a condição humana é aspecto que aparece somente nos desenhos-desenhados. Os desenhadores mostram, pelas imagens, seus gostos, suas maneiras de ser e seus sonhos, gostos de um sujeito do “gosto” que
possui a paixão pela diferença12 . Os sujeitos-pessoas-desenhadoras possuem e nos mostram as suas paixões citadinas.
12 FIORIN,
José Luiz. “De gustibus non est disputandum? Para uma definição semiótica do gosto”. In: Landowski, Eric e FIORIN, José Luiz. O
gosto da gente, o gosto das coisas. São Paulo: EDUC, 1977, p. 15-7.
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Após o dia 30 de setembro, cuidamos da realização dos seminários. Foram quatro dias, sendo dois deles
realizados pelos coordenadores do projeto e dois com as palestrantes convidadas, professoras ligadas à arte
pública13 : Lilian Amaral e Ana Mae Barbosa.
Lilian Amaral (artista plástica) sugeriu que no seminário se fizessem vários outdoors criados pelos oficineiros do
projeto. No dia 09 de novembro de 2001, após o seminário sobre Arte Pública, os oficineiros desenharam o tema “a
cidade em que se vive e a cidade que gostaria de construir” (em papel branco no tamanho de outdoors convencionais e tinta preta PVA).
Nesse seminário foram abordados os possíveis diálogos entre Arte, Publicidade e Cidade. Os participantes entraram em contato com os percursos da Arte Pública ao longo da história e tiveram a oportunidade de ampliar as suas
relações e o seu imaginário dentro do contexto urbano. A cidade foi enfatizada enquanto local de informações,
espaço “comunicante”, onde a sua dinâmica envolve uma diversidade de imagens e de símbolos que se movem, se
modificam e que também nos transformam num ritmo acelerado.
A elaboração dos dez outdoors se constituiu como efetiva intervenção coletiva dentro do espaço urbano, onde
grupos de oficineiros disseminaram os seus olhares sobre a cidade em diversos pontos das avenidas João Naves de
Ávila e Rondon Pacheco.
Essas imagens ficaram expostas de 16 a 31 de dezembro de 2001 e, dentro deste período, foram organizados dois
momentos de visitação, no qual grande parte dos oficineiros envolvidos se deslocou ao longo das avenidas, para
comentar e analisar uma linguagem fugaz, feita para ser vista de longe, devendo ser captada em poucos segundos
pelo espectador que transita rapidamente com seus automóveis.
Desejos e estranhamentos, esperança e indignação, tudo inscrito em grandes suportes na paisagem urbana.
Sem menção à autoria, esses “desenhospinturaspúblicas” firmam o caráter de coletividade e interatividade presentes desde o início do Projeto, apresentando à Cidade uma experiência em arte, perpassada pelo diálogo e pela
colaboração entre sujeitos com saberes diversificados.
No processo de entender e “contabilizar” os pedidos/demandas/desejos, aproximadamente cinqüenta pessoas
conversaram com os desenhos, numa tentativa de exercício a ser socializado com os participantes através das
13
Arte Pública é entendida aqui em um conceito mais amplo, como arte que é produzida em contato mais próximo com a comunidade, podendo ser
permanente ou efêmera.
22
seguintes produções: vídeo, livro, encarte de jornal, cartões telefônicos, cartões postais, contenedores de imagens-falantes, de proposições assinadas e autorais, estudadas e retornadas aos desenhadores e aos participantes.
O que permite e torna essas pessoas cúmplices e seduzidas de contínuos trabalhos, enquanto uma cidade na qual
se vive e que se quer construir?
O desejo tem sido um forte aliado das proposições, entra quem quer gestar e compor uma coordenação ampliada
entre a Prefeitura e Universidade. Estamos partindo, sempre, dos desejos para as “necessidades” e não do contrário,
como muitas vezes acontece com as políticas culturais;
·
Inscreve-se para ser oficineiro-colaborador a pessoa que simpatiza com as idéias do projeto (as inscrições
foram abertas até o limite das três centenas de pessoas com vontades políticas, educacionais, sócio-culturais e
emancipatórias);
·
desenham, nas praças, as pessoas que têm vontade de o fazer;
·
fazem outdoors e os visitam (quando afixados nas avenidas) as pessoas gestoras do Projeto;
·
conversam com as imagens as pessoas que se agregam às equipes e delas participam;
·
escrevem o livro os gestores e os coordenadores do Projeto: os vedores-leitores de imagens (desenhos e
fotos);
·
produzem o vídeo as pessoas que o desejam; e estão envolvidos nas diversas etapas do Projeto, profissionais
da Universidade e da Prefeitura, artistas e professores.
Os vedores-leitores-desejantes de conversas com as imagens constituíram-se em seis equipes de cores: vermelha
(setor oeste), amarela (setor distritos), laranja (setor sul), verde (setor norte), azul (setor leste) e lilás (setor central),
diferenciando-se dos momentos anteriores, que eram sempre em branco e preto. Uma equipe se responsabilizou
por ver, analisar, catalogar e conversar com as fotos. “Vedor-leitor-desejante” é aquela pessoa que vem discutir, no
coletivo, as imagens de um setor ou dos distritos e escrever um texto a partir das conversas com as imagensdesenhadas.
Para essas conversas, fizemos alguns recortes desse vasto corpus de fotos e desenhos-desenhados, mas todos os desenhos
estão disponíveis para qualquer pessoa que queira pesquisá-los, pois permitem muitas entradas e inúmeras abordagens.
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Estamos com este Projeto de extensão e de pesquisa convocando sujeitos de estado14 e sujeitos do fazer15, os
sujeitos-pessoas que sentem a cidade, a registram e a propõem; e os sujeitos-desenhadores que, pelos gestosdesenhantes, fazem e nos mostram outras cidades possíveis. Estão instaladas, nos desenhos, as dimensões de um
querer-fazer que procede a um querer-ser, uma cidade a ser construída com dimensões humanizáveis de condições de Ser e sermos, coletivamente, atores políticos e sócios-culturais em uma Cidade no Cerrado.
No Projeto estamos convocando uma estética do cotidiano, um paradigma proto-estético, segundo Felix Guattari,
uma dimensão de criação em estado nascente e não estamos nos referindo à arte “institucionalizada”. Os desenhos-desenhados são territórios existenciais, terra natal e de outros “natais”, terras de pertencimentos, espaços
particulares, tempos pessoais e sociais. Se consideramos as imagens como “objetos”, eles são espaços vibratórios,
posições transversais, devir de ancestralidades e de ousadias cósmicas. Objetividades e subjetividades imbricam-se umas com as outras, invadem-se para constituir entidades coletivas: meio-coisa, meio-alma, meiohomem, meio-animal, máquina e fluxo, matérias e signos, cidade e cidades visíveis e lesíveis em muitos desenhos ... Valores de desejos, valores de trocas e valores de usos ... campos de perceptos e campos de afetos. O
limiar de um novo paradigma estético reside no investimento desses processos de criação para se autoafirmar como fonte existencial e auto-poiética16 . A criação é processual, tem implicações ético-políticas,
porque quem fala em criação, fala em responsabilidade da instância criadora em relação à coisa criada, em
inflexão de estados de coisas e de estados de sujeitos. Os paradigmas estéticos estão fundados, portanto,
em paradigmas científicos e éticos. A ênfase não é mais sobre o ser, mas sobre a maneira de Ser 17 e, neste
Projeto, a maneira de Ser-Cidades e Ser-Cidadãos, pessoas em inter-relações e em dimensões plurais, ou
seja, pessoas pluri-dimensionais.
Com o desenvolvimento do Projeto, verificamos as maneiras como as pessoas, sobretudo crianças e jovens,
percebem a cidade e quais mudanças gostariam de propor. A sistematização e apresentação de tais propostas têm o intuito de evidenciar as aspirações das crianças e jovens, bem como disponibilizá-las como necessidades, demandas e desejos a serem considerados na formulação de diretrizes e projetos para o plane14
Sujeito de estado é um sujeito de estados de coisas e estados “da alma”, um sujeito e suas maneiras de sentir e perceber sentimentos e
sensações, ou seja um sujeito e suas paixões.
15
Sujeito do fazer é um sujeito que faz da percepção um ato. No caso, os desenhos-desenhados são atos de sujeitos que se fazem e que, ao se fazerem,
nos mostram suas maneiras de Ser.
16
Poiética vem de “poiésis”
17
Ver: Um novo paradigma estético. In: GUATTARI, Felix. Caosmose. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 125-140.
24
jamento e desenvolvimento local e urbano de Uberlândia. Dessa forma, buscamos colaborar na abertura de
caminhos para esse grupo de atores sociais, dando-lhes oportunidade para expressarem seus desejos, sentimentos e frustrações com relação à cidade em que vivem e a cidade que gostariam de construir.
25
dE
SENHOuRBANOcIDADEnOcERRADO
dESENHOuRBANOcIDADEnOcERRADO
cerrado serrado?
Desenho
Desenhadores
Cidades desenháveis
Cidade no Cerrado
Cidades Vozes
Cidades falas
Cidades imagens
cerrado serrado ...
Cerrado não-serrado
Cerrado Cerradiano
no ato
no vácuo
na fonte
pr’a onde?
cerrado cidades no cerrado
CidadenoCerrado
cidadetortura
cidadetontura
cidadeabertura
CidadeAventuras
Cidade nos Cerrados
desenhosnaspraças
desenhosnosdistritos
cidades nos cerrados
Cidades Leiturizáveis
Cidades Humanizáveis
AS CIDADES NOS CERRADOS !!!
26
Capítulo 2
lucimarbello, 2002
Dialogando com as Imagens
A Praça Como Moldura
A
Aninha Duarte, Iná Maria Nascimento Gomes Silva, Marco Túlio Pereira18
Oficina do Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado tornou-se um significante que
passou de certa forma a circular entre nós, demarcando um movimento, envolvendo profissionais e colaboradores
interrogados e sensibilizados pelo tema.
O acontecimento em Uberlândia efetuou uma espécie de recorte, abrindo uma possibilidade singular para se pensar
a cidade e a construção subjetiva de nosso tempo. Conforme o próprio nome diz, crianças e jovens numa manhã de
domingo, numa cidade do cerrado brasileiro, foram surpreendidos por um convite: desenhar a cidade onde moravam e “aquela” (lá do desejo), que gostariam de construir.
Através desta experiência em praça pública, pode-se constatar que é possível desenhar, fazer inscrições, sem
limites impostos por paredes e espaços, desenhando literalmente “ao vento...”
Detivemo-nos a observar crianças e adolescentes que assentavam suas folhas nos mais diferentes locais: bancos,
balanços, escorregadores, gramados e logo punham-se a retratar um sonho, uma escrita. Diz Adélia Prado que a
mulher pensa poesia catando feijão e quem sabe a criança “cata poesia” enquanto pensa o desenho? Poesia aqui
compreendida no sentido de um fazer criativo.
Para Donald W. Winnicott a criança situa-se como um pequeno inventor. Com ele também concorda o psicanalista
mineiro Luiz Carlos Ferreira Drummond ao afirmar que: A criança é uma promessa - para além de ser criatura, é
promessa de um futuro sujeito criador. É assim promessa e enigma, para si própria e para o mundo que a rodeia.
18
Aninha Duarte é Artista Plástica. Professora do Departamento de Artes Plásticas da UFU-MG. Graduada em Pintura pela UFMG. Especialista em
Ensino de Arte pela UFU. Mestranda em História, área História e Cultura UFU. Iná Maria Nascimento Gomes Silva é Psicóloga Clínica com formação
em Psicanálise. Marco Túlio Pereira é Estudante de Arquitetura e Urbanismo UFU.
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Não um enigma para ser prontamente decifrado, mas um enigma para ser suportado. Dar à criança a oportunidade
de inventar, desenhando ou pintando, é extremamente importante, sem que o adulto, entretanto, procure dar-lhe
sentido imediato, decodificando, a qualquer preço, a prematura construção de sua subjetividade. No caso da Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado, o desenho veio ocupar uma posição
particular: a construção ao ar livre de outras formas de enunciação, articulando, inclusive, possibilidades de referências sociais.
Em “O Brincar e a Realidade”, Winnicott defende a posição de estudar o brincar como um tema “em si-mesmo”.
Ou seja, abandonar a idéia de buscar incessantemente prováveis significações para a brincadeira e apenas
situando o brincar. Ao contextualizarmos os desenhos produzidos nas praças, provavelmente estaremos situando o “Belo” enquanto causa de uma ética que posiciona crianças e adolescentes no discurso social. Diz Edith
Derdyk que A criança, ser global, mescla suas manifestações expressivas: canta ao desenhar, pinta o corpo ao
representar, dança enquanto canta, desenha enquanto ouve histórias, representa enquanto fala. Nesse sentido, podemos dizer que a criança possui o desprendimento mágico de viver a interdisciplinaridade de forma
livre e espontânea.
Desenhos estão em todos os lugares, naturalmente impressos na natureza. Em meio a tantos exemplos, salientamos a misteriosa linha do horizonte vista em espaço aberto: pode ser reta, curva, sinuosa, requintada ou
poética. Encerra o espaço circundante do homem através do distanciamento e da separação ilusória do plano
terrestre e celeste. Esta talvez seja a mais simbólica das linhas, por deixar em aberto a idéia do ilimitado, da
continuidade e do infinito de horizontes tão díspares.
Acreditamos que somos seres desenhantes, da criança ao adulto. Quantas vezes nos surpreendemos
desenhando em qualquer lugar e de formas tão inusitadas diante do olhar da convencionalidade? Desenhamos
com os pés, com as mãos, na areia da praia, no vidro do carro empoeirado ou úmido de vapor, na água,
falando ao telefone.
Voltemo-nos, então, para o desenho urbano produzido nas praças de Uberlândia, e tentemos seguir os passos de
Winnicott: situar o desenho como um tema em si mesmo, num tempo e lugar específicos, catando poesia em garatu-
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jas, figuras e traços - construções subjetivas e reconstituições culturais. E, assim, sustentados nesta posição, propomos-nos a escutar a propriedade dos desenhos, sem, contudo, sucumbirmos à tentação de apropriação.
Desenhando ao Vento:
O Desenho que Fala
O Desenho que Cala
Indagamos sobre o que haveria de especificidade no ato de desenhar em praça pública, já que o espaço
apresenta uma série de características e particularidades. Por que crianças e adolescentes acenaram
afirmativamente ao convite para desenhar? Submissão, enquadramento ou desejo? Vejamos.
Crianças estão sempre sendo convidadas a desenhar sob vários pretextos e iniciativas distintas.
Como exemplo, poderíamos citar a exposição de “Desenhos de Crianças no Brasil 500 Anos”, oficinas de desenhos para filhos de bancários, propostas de desenho em museus, ruas e locais de lazer,
ocorrendo, em muitos casos, seleção e prêmios. Nesta direção, levantamos algumas interrogações
sobre os parâmetros, nos quais poderíamos nos sustentar para efetuar uma análise e/ou leitura de
um desenho. Chegamos a indagar, inclusive, se crianças poderiam ser convidadas a “selecionar”
desenhos de crianças. O que elas pensam do desenho? Ficam essas incógnitas.
Sem desconsiderar a contribuição de estudiosos na área, tais como Piaget, Winnicott, Kellog, Luquet
e outros, constatamos que há um viés que aponta para o desenho como um universo inconcluso e
enigmático. Na verdade, o estudo e as discussões acerca dos desenhos trouxeram à tona a complexidade de “ impressões/inscrições” depositadas nas produções.
Talvez possamos levantar a hipótese de que desenhar a cidade, no caso da criança, possa ter funcionado como uma figuração do campo do brincar: possibilidade de invenção e representação de suas
verdades subjetivas (exteriorização de suas “cidades” internas, simbolização). E para o adolescente
há a possibilidade de necessidade de reconhecimento. Sentir-se incluído através do olhar do outro.
29
Solicitação de “ regulação frente à desorganização pulsional de seu corpo”.
Fazendo o recorte desta análise, em relação aos desenhos de crianças nas praças da cidade, pudemos observar que elas pareciam não premeditar o que iriam desenhar. Davam a impressão de trabalhar com a surpresa do instante, experimentando com prazer novas formas de representar seu mundo e reconhecer o espaço e seus nichos. Nos desenhos de adolescentes, entretanto, a dinâmica da proposta
pareceu percorrer um itinerário distinto. Diferentemente da criança, a temporalidade adolescente diz de uma certa
urgência: o adolescente não pode mais esperar, seu corpo é outro, não consegue se sustentar no faz-de-conta de
antes. Talvez, por isso, seus desenhos contextualizem elementos de aceleração, movimento e demandas concretas
de soluções para o caos social.
Nessa perspectiva, destacaríamos alguns desenhos produzidos nas praças do setor norte por apresentarem indicativos
de duas vertentes principais:
1- O Mal-Estar Contemporâneo, o declínio da lei, o desmoronamento da interdição, a ausência de limites representados por figuras humanas fortes e absolutas, desordem urbana, solicitação de paz e outros.
2- A Possibilidade de Ir Além, de relançar o sujeito na invenção de sua história, de deslocar o olhar, de sublimar.
Estes elementos parecem estar representados por construções como parques, escolas, postos policiais, creches,
centros de recuperação do menor e outros.
O que teria sido possível simbolizar? Pertencimento ao coletivo, talvez. Inscrição de algo que reúne em si uma
presença/ausência. Fragmentos de histórias pessoais e coletivas e, ao mesmo tempo, a expressão daquilo que não
pode ser nomeado pela experiência.
Catando Poesia: O Contorno e o Entorno
Rastreou-se “pistas” das representações e registros contidos nos desenhos. Chamou-nos a atenção o volume de
desenhos construídos através de estereótipos como: flores de quatro pétalas, casas com chaminés, prédios, aves
em forma de “v”, nuvens de algodão, etc. A “casa-mãe” ou o planeta terra pareceu estar representado por sol, céu e
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nuvens. Árvores, elementos da natureza e figura humana apresentaram ocorrência significativa na maioria dos
desenhos. Essas imagens nos levaram a refletir sobre a transmissão dos signos e sua permanência, isto é, a força
da sobrevivência que reside nestes modelos. Perguntamo-nos, por exemplo, sobre a origem deste legado e sua
fonte de distribuição. Levantamos a hipótese da interferência das aulas de arte, os corredores e pátios de escolas
pintados alegoricamente com essas temáticas, além de outros veículos de comunicação. Não podemos precisar estas
questões. Consideramos, porém, ser possível incentivar um pouco mais a criatividade, tentando, assim, evitar um
olhar contaminado por modelos e estereótipos, desmontando construções que alienem e obscureçam o desenlace
criativo.
Outro ponto considerado relevante é que mesmo sob o signo da diferença e da particularidade, desenhos de casas e
prédios parecem estar presentes em praticamente todas as faixas etárias, dando-nos indícios de que ambas as
tipologias são aceitas como identidade arquitetônica: da cidade em que se vive e daquela que se gostaria de construir.
Os desenhos parecem apontar para uma relação direta do ser humano com o meio que habita, desde a transferência
de preocupações individuais na infância (sonhos lúdicos, figura humana) até preocupações coletivas e urbanas para
adolescentes e adultos, como a influência da paisagem urbana tão demarcada nas criações do desenho.
Para além dessas questões, observou-se que, apesar das diferenças de local (várias praças), de modo geral houve
uma “massificação” de imagens. Algo como estímulos e repertórios repetitivos, como exemplo, o confronto do
bem e do mal. Talvez a própria proposta conduzisse de alguma forma a uma construção imaginária, sugerindo
quem sabe no próprio enunciado a idéia de paraíso. Interessante ressaltar que desde o século IX desenhos e
cartografias européias situavam imaginariamente o oceano Atlântico e suas inúmeras ilhas como o paraíso na terra,
onde havia abundância, clima ameno e igualdade entre seus habitantes. Passados quase setecentos anos, sabe-se
que o Brasil não é uma ilha e que, talvez, o paraíso não seja bem aqui... ( Backes, 2000, p.128).
Para além de nossos mitos fundadores os desenhos realizados nas praças poderiam retratar também um “novo
achado”. Considerando que o Brasil não é o paraíso, tampouco a cidade de Uberlândia, consideramos ser possível ir
além de interpretações românticas, técnicas ou imaginárias. Talvez abandonando a idéia do Éden nos traços, riscos e
rabiscos possamos contribuir para dar expressão às descobertas contidas nos desenhos. Conforme propõe o poeta
31
Carlos Drummond de Andrade em seus versos: Precisamos descobrir o Brasil. O Brasil está dormindo coitado...
Outro ponto considerado relevante foram os indicativos de cerceamento de nossos direitos de cidadãos, direito de
ir e vir, em função deste frêmito ameaçador chamado violência urbana. Dizem ainda de respostas para saúde, educação, segurança e lazer gratuitos. Quem sabe se houvesse maior assistência por parte de governos e administrações,
as representações destas cidades imaginárias seriam outras? Desenhos de crianças não são disfarces e dissimulações, são verdades impressas no simples ato de desenhar. Esses desenhos driblam a demanda onipotente do homem
contemporâneo de tudo explicar com a idéia de causa e efeito, resíduos de condutas positivistas.
Enquanto houver crianças e jovens desenhando, acreditamos que os desenhos serão autônomos, alforriados de
amarras e esquemas, e nós, espectadores, seremos eternos apreciadores dessas imagens figurativas ou abstratas.
Retratando um Sonho: em cada traço, um passo
Resgatando alguns desenhos do Setor Norte, colocamo-nos à escuta de seus movimentos no papel e levantamos,
então, algumas premissas que especificaremos a seguir:
Michele, 14 anos, estudante da Escola Sete de Setembro (pág. 37), registra sua participação na Oficina do Desenho
Urbano no espaço da Praça Lincoln. Sua representação remete-nos à possibilidade de que Michele tenha trabalhado
seu auto-retrato. Vemos na imagem central uma menina com os cabelos ao vento, vestida com uma camiseta que
contém uma frase que pode ser traduzida como: EU AMO UBERLÂNDIA. A composição apresenta, também, uma
grande árvore, um sol reluzente e as palavras “Paz e Amor”. Do lado direito, temos a palavra “Esperança” e sobre ela
um possível logotipo ou “botton”, com duas mãos se encontrando, propondo talvez um pacto: Esperança de uma
cidade melhor? O olhar decidido da garota poderia propor a idéia de trabalho coletivo: Vista essa camisa, vamos
todos à luta e teremos a cidade que queremos ter! Michele já vestiu a dela.
Hudson Oliveira Silva, 14 anos e Higor O. Silva, 14 anos (págs.38-39), são alunos da Escola Estadual da Cidade
Industrial. Foi no cenário da Praça José Miguel que eles construíram suas significativas imagens. Ocupando o papel
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de forma análoga, suas imagens possuem um diálogo íntimo entre si. Seus desenhos parecem denunciar questões
como: mendicância, drogas, pichadores de rua, brigas, gangues, assaltos à mão armada, lixo nas ruas, falta de
policiamento, transporte urbano precário. Falam também de vandalismo que pode ser observado através de vidraças e bancos de praças quebrados, além de sinalizarem a necessidade de consciência ecológica, possivelmente
expressa na retratação de árvores mortas. Do lado direito da composição, eles possivelmente fazem o contraponto
de suas denúncias e trazem a mesma cidade com essas questões encaminhadas ou solucionadas. É essa a cidade
que Hudson, Higor e todos nós merecemos ter.
Flávia Cardoso Rodrigues, 13 anos, estudante da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves (pág.40), representa
“suas cidades” na Praça Lopes Trovão. Através de seu desenho podemos perceber, no lado esquerdo da composição, pontos importantes que a cidade de Uberlândia possui: comércio que já conta com presença de grandes e
pequenas lojas, uma arquitetura formada de casas e altos prédios, estádios, hospitais e praças. Do lado direito,
Flávia parece enviar seu recado através de uma cartinha que somam escritas e desenhos. São signos que se fundem
com desejos exteriorizados tacitamente por palavras e por desenhos que se entrelaçam numa cumplicidade verdadeira. O desenho de Flávia parece remeter a uma mensagem de otimismo: A cidade que temos já nos oferece muitas
oportunidades, porém, precisamos ampliá-la com seriedade como nos dizeres de Flávia: Assim essa cidade torna-
rá uma cidade de verdade, uma cidade que todos possam apreciar sua beleza e cultura.
Fernanda, 9 anos, aluna da Escola Municipal Maria Leonor F. Barbosa (pág.41), estava presente na Praça Lincoln e
apresentou uma imagem da cidade atual como um cenário conturbado e denso, o palco onde se passa uma violenta
trama urbana. No desenho da cidade em que vive, os edifícios parecem funcionar como abrigo enclausurado, já que
a autora desenha todas as portas fechadas. Em contrapartida, ela dá indicativos de almejar uma cidade futura, na
qual as pessoas possam usufruir do espaço urbano, além de condomínios e edifícios, num convívio social e coletivo, quem sabe até tranqüilo.
Wisley, 10 anos (pág.42), apresenta três desenhos distintos numa seqüência que oscila entre a cidade em que ele
vive e a cidade e/ou o mundo que ele sonha e gostaria de construir. No primeiro desenho, ele parece retratar uma
via de trânsito controlada por equipamentos automatizados, dando margem a uma associação de inibição de sua
33
liberdade no espaço. Logo abaixo, ele dá a impressão de buscar essa liberdade perdida, propondo um desenho
lúdico, um parque e balanços. Num terceiro momento, ele chega até ao meio ambiente, ao natural, parecendo
chegar à liberdade tranqüila e pacífica.
Laís de Souza Santos, 12 anos (pág.43), na Praça 1º de Maio, parece ter como imagem da cidade onde vive um
habitat árido, composto por casas e altos edifícios por onde circulam os aparelhos de locomoção moderna: carros,
caminhões, aviões. Ela dá a impressão de propor, em substituição a esta cidade, um espaço voltado ao pedestre,
bem arborizado, com bancos e equipamentos de lazer, assim como instituições de apoio às crianças e adolescentes (escolas e centros de convivência).
Fazendo uma alusão clara a duas cidades distintas, Mariana Miranda de 9 anos (pág.44), surpreende ao utilizar
códigos de expressão que parecem situar o desprazer, o caos urbano e a ausência de lei em uma parte do desenho.
Seria a cidade, na qual vive representada ou vivenciada como alienante? Em caso afirmativo, porque a cidade teria se
transformado numa espécie de depositária de um processo de “des-ordem” e opressão? Quais seriam as contribuições sociais, coletivas e institucionais, para a instalação deste quadro? Na parte superior do desenho, entretanto,
Mariana consegue retratar outra proposição: possibilidades de experiências outras, nas quais sua cidade “dá frutos”. Parece haver um reconhecimento de que mesmo sob o estatuto da diferença (prédio versus casa/quintal) é
possível construir a ordem, o ato, o sorriso e a singularidade.
Num desenho repleto de cenas e significações, Wester Torres de Oliveira, 12 anos (pág.45), parece produzir em seu
desenho na Praça 1º de Maio uma espécie de super-herói. Numa primeira cena, observamos a representação de
indisciplina e desprezo à coletividade. Abaixo, passa a representar uma possibilidade de subverter a situação
anterior. Sem negar ou desconsiderar que a ordem e o convívio coletivo supõem a estruturação de um trabalho,
de um compromisso e de atribuições; Wester retrata, então, uma cidade limpa, na qual um morador/personagem
está consciente de sua responsabilidade. Intrigante, porém, a presença de um super-herói que supostamente
colaboraria para organizar a cidade. Que significação sustentaria a presença de um super-herói? Estaria a cidade
sendo percebida como à deriva, algo como “terra de ninguém”, onde figuras de autoridade não têm conseguido
oferecer respaldo e confiança suficientes e, assim, só mesmo criando um herói fantasioso que possa desempenhar
34
essa função? Quem sabe.
José Luiz, de 14 anos (pág.46), também dá o seu recado na Praça 1º de Maio. Parece representar, num primeiro
momento, uma cidade padronizada, uma massa indiferenciada de construções que ele denomina de “prédios”.
Abaixo, passa a retratar pessoas que parecem querer ser reconhecidas, a exemplo da expressão: “eu sou o Cristiano!”
Propõe casas com muitas janelas, dando idéia de abertura e receptividade e termina representando uma enorme
creche. Seria talvez uma representação de que a cidade estaria entregue à modelização, desconhecendo o que é da
ordem da singularidade, da abertura e das condições que possibilitem ao ser humano ascender à condição de
sujeito social.
Sob o Céu do Cerrado
A Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado sugeriu a possibilidade de um ato.
Desenhando despretensiosamente, jovens e crianças priorizaram um discurso: há algo de insuportável que pode
obstaculizar a realização, a sobrevivência social e a criatividade. É a ausência de uma lei que intervenha não como
opressora e inibidora de manifestações, mas uma lei que possa emergir como a única regulação capaz de mobilizar
esforços, de reconhecer necessidades, de considerar diferenças e respaldar os cidadãos. Os desenhos sugerem
saídas que oportunizem de um lado a criação e de outro a sobrevivência em sociedade. A Oficina de Desenho
Urbano foi como um canto, uma orquestração de traços, um retrato dos sonhos, um movimento chamado desejo.
35
Numa manhã de Domingo
Sob o céu do cerrado
Um grupo se reuniu
Num propósito bem arranjado:
Propor desenhos nas praças
Tendo a cidade como traçado
E entre imagens e traços
Garatujas e poesia
Crianças e jovens deixaram um recado
Que seu desenho representaria:
Mais vale uma cidade viva
Que uma cidade vazia.
Bibliografia
ANDRADE, Carlos Drummond. Hino Nacional. Correio Appoa nº 84, 2000.
BACKES, Carmen. O que é ser brasileiro? São Paulo: Escuta, 2000. p.128.
CURI, Thereza Christina Gontijo Bruzzi. Pai, não vês que posso perder-te? Belo Horizonte: IEPSI, 1997.
36
Michele - 14 anos
37
Hudson Oliveira Silva - 14 anos
38
Higor O. Silva - 14 anos
39
Flávia Cardoso Rodrigues - 13 anos
40
Fernanda
41
-
09 anos
Wisley - 10 anos
42
Laís de Souza Santos - 12 anos
43
Mariana Miranda
44
- 09 anos
Wester Torres - 12 anos
45
José Luiz - 14 anos
46
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.
DRUMMOND, Luiz Carlos Ferreira. O brincar e a criação.Trabalho apresentado na Semana de Psicologia da PUC: MG,1996.
FRANÇA, Maria Inês. Psicanálise, Estética e Ética do Desejo. São Paulo: Perspectiva,1997.
WINNICOTT, Donald. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago,1975.
Desenhos-Desenhados: sonhos, desejos, realidades, lembranças
Cristiane Silva Costa , Drucila Milian de Souza,
Edimilson Lino, Eliene Boaventura de Oliveira, Fernanda Bernardes de Assis,
Lázaro Vinícius Oliveira da Silva, Márcio Carvalho de Souza,
Maria Angélica Almeida, Rafael Tannús Moreira, Renata Kelen de Paula.19
N
a ação desenhante, algumas áreas da cidade tornaram-se locais de exposições de desejos, expressos
nos desenhos de uma cidade que se quer real, capaz de refletir a imensidão de possibilidades rabiscadas num
papel.
Talvez devêssemos iniciar nossa atenção para o lugar de onde se olha a cidade, a praça, lugar de passagem, lugar
de moradia, lugar de brincadeira, de expressões culturais. A praça que um dia foi a Ágora grega, lugar de tomadas
de decisões políticas e de debates. No século XXI, a praça se modificou, está mais vazia, concorre com outros
lugares mais “atraentes”, mais sofisticados. Em muitos bairros de nossa cidade é apenas um espaço que divide
ruas e avenidas, onde os moradores não a reconhecem como lugar de lazer, apenas uma passagem sem significação. O abandono toma conta das poucas árvores e bancos desconfortáveis, sem equipamentos que possam
atrair a população.
É neste lugar que se reuniram jovens e adultos com o desejo de expressarem o seu universo, o desejo de projetarem, para si e para os outros, o futuro urbano. Tendo esses desejos como ponto de partida, este estudo busca
analisar as expressões gráficas dos participantes, captando a diversidade de proposições possibilitadas pelo ato de
desenhar.
19
Cristiane Silva Costa é especialista em Planejamento Estratégico e funcionária da Secretaria de Desenvolvimento Social; Drucila Millian de Souza é aluna do
curso de Artes Plásticas da UFU; Edimilson Lino é Professor Mestre em História; Eliene Boaventura de Oliveira é estudante de Artes Plásticas e monitora do MUnA;
Fernanda Bernardes de Assis estuda Psicologia na UFU; Lázaro Vinícius Oliveira da Silva é Geógrafo da SEDUR e professor na rede estadual de ensino; Márcio Carvalho
de Souza é graduando em Artes Plásticas, História e estagiário da DICULT; Maria Angélica Almeida é graduada em Arquitetura e funcionária da SEDUR; Rafael Tannús
Moreira é coordenador do Setor de Interlinguagens Artísticas da DICULT e professor de artes na rede particular de ensino; Renata Kelen de Paula é estudante de
Artes Plásticas e monitora do MUnA.
47
O desenho, enquanto uma criação social, não está fora de um espaço de relações que são construídas, nas quais
grupos sociais se expressam, emitem valores, concepções de vida, enfim, é o resultado de experiências diversas
provocadas e estimuladas, constituindo costumes de homens, mulheres e crianças. É o olhar que interfere na
paisagem experimentada, desenhar é uma expressão pouco usual, principalmente numa sociedade da imagem
massificada, da informação rápida, rasteira e efêmera.
Esse olhar ativo e transformador, proporcionado pela elaboração de imagens, projetou-se também no Setor
Oeste da Cidade de Uberlândia. A “Ação Desenhando e Construindo a Cidade” foi acolhida pelas comunidades
próximas a cinco praças, encontradas nos bairros Luizote de Freitas, Jardim Canaã, Jardim das Palmeiras, Tocantins
e Jaraguá.
No total, foram produzidos 669 desenhos que, a partir de então, passaram por um processo de escolha, numa
busca por imagens que contemplassem o tema do Projeto - “a cidade em que você vive e a cidade que gostaria de
construir”. Tornou-se importante considerarmos cada critério levantado pela equipe, buscando com isso estabelecer uma metodologia coesa de análise desta etapa de conversa com as imagens. A princípio, reduzimos o número
inicial de imagens para cerca de 190 desenhos. Esta etapa foi uma etapa de tensão e de muitas discussões em torno
de cada escolha e retirada dos desenhos que passavam por nossas mãos e por nossos olhares.
Entendemos que as possibilidades lineares ou plásticas das imagens não eram o fim da proposta, no entanto,
algumas imagens foram separadas de acordo com a afinidade do grupo com algumas soluções gráficas dadas
pelos desenhadores. Porém, não partimos de uma classificação reducionista, separando exclusivamente as
imagens “mais resolvidas” graficamente. Foram buscadas, portanto, imagens que tivessem uma singularidade
em meio ao montante de 669 desenhos encontrados no Setor Oeste.
A partir da primeira fase do processo de escolha, iniciamos novamente o trabalho de triagem, buscando identificar um grupo de sete a dez desenhos que pudessem representar a diversidade e a complexidade de desejos e
reflexões sobre a cidade. Com as 08 imagens em mãos, a equipe começou a perceber os possíveis eixos
temáticos a serem trabalhados. Um destes eixos consiste na abordagem das “demandas sociais”, o outro se
ocupa do traçado urbano presente nas imagens. Uma outra possibilidade de análise recai sobre a percepção das
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demandas culturais e artísticas encontradas nas imagens. Esta última abordagem destinou-se à observação de
desenhos que contemplassem a própria praça e outros espaços de convivência, entendidos como possíveis locais
de divulgação de manifestações culturais e educativas.
De acordo com estes eixos temáticos, ocorreu uma divisão da equipe em grupos (Urbanistas, Estudantes de Artes
Plásticas, Assistentes Sociais, Psicólogos e Historiadores), na tentativa de distribuir cada tema para os profissionais de áreas afins. Cada grupo ficaria encarregado de trabalhar um eixo temático. No entanto, percebemos, no
final do processo, que grande parte das impressões colocadas por estas pessoas ligadas a saberes diferentes
encontravam-se em muitos instantes e, por isso, a divisão feita inicialmente parecia não ter sido relevante.
As análises, em certa medida, assumiram uma coerência dialógica, assim foram organizadas em conjunto, fazendo
referência a temas como: “Espaços Públicos de Convivência”, “Violência e (In)Segurança no Espaço Urbano”, “Meio
Ambiente e Cidades Tecnológicas”. Os desenhos passam, então, a ser divididos de acordo com estas temáticas
percebidas pela Equipe.
Espaços Públicos de Convivência
Notamos que a praça foi bastante destacada nos desenhos enquanto lugares propícios à convivência, interação
social e afetiva. Por isso, ocupamo-nos em analisar conjuntamente este grupo de desenhos, ligados, principalmente, à implementação e à real utilização desses espaços públicos da cidade.
Talvez a presença da praça se dê pelo fato de que a “Ação Desenhando e Construindo a Cidade” tenha sido ali,
ocorrendo, assim, um despertar nos desenhadores para a importância desses lugares. A praça surge, por conseguinte, como um ponto de partida para as reflexões em torno das cidades sentidas e desejadas pelas crianças,
jovens e adultos deste Setor.
Destacamos três desenhos, entendidos como “falas” relacionadas com a necessidade de ocupação dos espaços
públicos de convivência. Quando percorremos a imagem do jovem Walterlhana, do bairro Luizote de Freitas (pág.58),
notamos a apresentação de propostas para a melhoria das praças de seu Bairro, além da criação de outros espaços
49
públicos destinados à Cultura.
O cinema e locais de divulgação da literatura são explicitados na parte superior do papel, de onde podem ser vistas
duas figuras humanas próximas a uma estante de livros, além de uma sala com uma tela imensa, ocupada por
cadeiras de dimensões bastante reduzidas.
O desenhador busca a participação e a inserção nos segmentos ligados à cultura. Por trás da “fala desenhada” de
Walterlhana, percebemos a distância real destes segmentos em relação aos bairros, demonstrando o quão
enclausurados estão os lugares de difusão da arte e da cultura. As artes visuais, a literatura e outras linguagens
artísticas parecem encaixotadas dentro da cidade, encontradas em lugares ainda fechados para a maioria da população.
É necessário, então, ampliar e estruturar lugares destinados ao desenvolvimento de manifestações culturais nos
bairros. Com isto, estes locais passariam a ter valor enquanto espaços provedores da cidadania, formando o ser a
partir de suas potencialidades imaginativas, críticas e intuitivas.
No desenho de Walterlhana, observamos uma bica d’água, que nos permitiu estabelecer um paralelo entre estes
espaços públicos e os “Oásis”. As praças poderiam assumir uma função semelhante a destes “Oásis”, amenizando
“o deserto” de (in)possibilidades destinadas ao cidadão que se entrega à passividade e ao imediatismo.
Em algumas imagens, fica claro que não basta simplesmente a criação de áreas verdes dentro de um espaço
retangular ou circular envolto por casas. Esta seria apenas uma das funções das praças, aliás uma função de
extrema importância para uma cidade que se acinzenta progressivamente.
No desenho de Rodrigo Cândido, 12 anos, morador do bairro Jardim das Palmeiras (pág.59), percebemos que existe
um desejo de ver estas praças implementadas com a construção de banheiros, parques e quadras. Timidamente,
surge dentro do espaço sonhado por Rodrigo, a questão da segurança, representada por dois policiais presentes na
praça. Dentro da imagem, construída a partir de uma vista aérea, é colocado o próprio desenhador. O espaço está
tomado, saindo da condição exclusiva de jardim a que muitas praças estão submetidas. A praça é de Rodrigo e
também da comunidade.
O entendimento e o desejo da praça enquanto espaço destinado ao lazer, surge também na imagem de Júnior, 29
50
anos (pág.60), que coloca no primeiro plano algumas crianças pulando corda. Essas figuras são bastante destacadas das outras, pois foram preenchidas com a caneta preta, recurso também utilizado no canto inferior esquerdo da
imagem, de onde outra figura aparece construindo um castelo de terra ou de areia. O desenhador revela-nos, ainda,
a sua atenção em relação ao entorno da praça, construindo um cruzamento em que os sinas de trânsito são
apresentados com a mesma linha forte e escura encontradas nos desenhos das crianças que brincam na praça.
Talvez, o desenhador queira reforçar a presença e a importância destes sinais no entorno, demonstrando a sua
preocupação com a segurança naquele cruzamento de ruas.
No referido desenho, as formas arquitetônicas sugerem a predominância de uma horizontalidade do espaço, as
edificações pequenas e acanhadas possuem uma expressão arquitetônica comum. O desenho mostra-nos uma
cidade modesta, porém, acolhedora e agradável. Nela não existe lugar para os indesejados problemas urbanos; a
vida segue um ritmo provinciano, no qual o espaço é organizado de modo a propiciar a utilização saudável das
áreas públicas.
Acreditamos que as praças devam ser melhor utilizadas, atendendo às necessidades e aos interesses das comunidades dos bairros. Torna-se necessário, além dos recursos materiais, o desenvolvimento de programas educativos
e culturais que se estendam a outras áreas, não se limitando somente à região central da cidade.
A praça pode se tornar palco de uma série de manifestações culturais que envolvam os cidadãos, ligando-os à
memória de seu espaço, estimulando-os à participação nas decisões políticas da cidade, além de efetivamente
promover o lazer e desenvolver o interesse pela preservação do meio ambiente.
A Violência e a (In)Segurança na Cidade
As figuras do bandido e do policial surgiram em muitas imagens do Setor Oeste. A violência aparece geralmente no
desenho que representa a cidade atual, já o desejo por mais segurança encontra-se, na maioria das vezes, representado na cidade futura.
Três desenhos com este tema foram escolhidos pela equipe, que se preocupou em captar imagens distantes das
51
representações referentes aos “Bang-Bangs”. Buscamos “imagens-falas” capazes de nos mostrar proposições relativamente novas em relação à violência urbana. Contemplamos, portanto, a sutileza do desenhador no ato de
registrar este problema tão freqüente em nossa sociedade.
Na imagem de Márcia (pág.61), percebemos o contraste entre os dois desenhos encontrados cada um numa extremidade da folha de papel. O primeiro desenho parece nos revelar o descontentamento da desenhadora, que constrói a sua cidade atual com linhas entrecruzadas que nos remetem a uma cela encarcerando a expressão de uma
figura humana. É o sujeito preso dentro de sua cidade ou de sua casa? O que estará provocando o mal estar na figura
representada com a expressão de indignação? Existirá uma menção à violência urbana?
Esta possibilidade parece-nos ser viável. Talvez a desenhadora nem queira uma cidade nova, ela pode estar desejando simplesmente estar livre na cidade ou no bairro em que vive.
Com esta imagem, suspeitamos que a cidade é percebida como local articulado por vias e quadras retilíneas,
estruturado intencionalmente para atender os ditames da velocidade e da aceleração do tempo social. A autora
parece desejar uma cidade menos pragmática e mais prazerosa, resultado de um desenho urbano que não vise
apenas à reprodução do capital, mas à valorização do espaço, enquanto meio social.
A imagem de Patrícia, 18 anos (pág.62), revela a sua indignação com a realidade que se impõem. Na parte esquerda
de seu desenho, pode ser encontrada a cidade atual da desenhadora, que é representada por um cruzamento de
vias, semelhante a uma cruz vista em perspectiva.
A cidade parece se transformar numa grande “cruz”, composta por outras cruzes, formadas por vias, avenidas,
esquinas e seus entroncamentos. Caberia, neste instante, perceber a cidade como uma composição de “Grandes
Cruzes Urbanas”, em que numa época não muito remota, podíamos quase que deslizar tranqüilos sobre elas,
convivendo melhor com suas horizontalidades e verticalidades. Agora, nossa percepção, reforçada pela imagem de
Patrícia, entende que o homem há muito não desliza sobre este espaço urbano que, pelo contrário, é percorrido com
um esforço exaustivo. Sair pelas ruas da cidade é embrenhar num espaço ameaçador, do qual o peso das “Cruzes
Urbanas” não só esmagam o ombro do cidadão, mas também abraçam o seu pescoço, levando-o a uma asfixia
contemporânea que promove a exacerbação do medo, a angústia e a intolerância.
52
Sobre o entroncamento colocado no lado esquerdo do papel, a desenhadora distribui seus personagens, colocando-os dispersos, cada um na sua esquina, sem troca de olhares, demonstrando exatamente o contrário do que
Patrícia quer construir na sua cidade.
Talvez a igreja desenhada no canto inferior esquerdo do papel represente um local de abrigo para a união entre os
homens, desejada na sua cidade atual. No entanto, a igreja de Patrícia apenas se encontra inserida neste espaço, e
suas cruzes parecem não obter um efeito suficientemente moralizante ou inibidor, incapaz de travar os acontecimentos que ocorrem na rua , ou melhor, na “Grande Cruz Urbana” encontrada ao redor desta igreja.
Patrícia, através de seu desenho, demonstra a capacidade de ouvir as “notas musicais” de sua cidade presente, de
onde os sussurros e gritos de pavor provocados por um assalto se misturam a um canto de louvor, que se choca
com o estrondo de uma batida de automóvel, juntando-se com o chamado que parece ser de uma prostituta e com
os gemidos de um aparente mendigo na esquina de suas ruas. A desenhadora reforça este entendimento quando
diz que hoje acontecem assaltos, seqüestros e outros tipos de violência; mulheres se prostituindo, pessoas men-
digando entre outras coisas....Tudo isso porque não existe união.
Estes ruídos atingem sem dúvida a desenhadora, que deseja uma cidade onde as pessoas tenham “união” e respeito
pela diversidade, sem discriminação de cor, opção religiosa ou classe social. Este desejo encontra-se, também, em
uma das frases no verso da imagem de Patrícia: Gostaria que todos fossem amigos, sem escolha de raça, cor ou
religião, e que ajudassem uns aos outros; talvez assim teríamos um mundo melhor, sem violência, sem miséria e
com alegria!!.
Na metade direita da composição, percebemos um grupo de quatro jovens cujos olhares se encontram, mostrando
cumplicidade e ligação entre eles. Agora a situação já não é mais a mesma, o espaço ocupado por estes jovens tem
árvores, algumas flores e pássaros.
A desenhadora pode, na realidade, até conviver com a situação representada no lado esquerdo do desenho, cercada
por várias formas de violência. No entanto, o desenho pela sua própria disposição espacial chama o espectador
para um distanciamento dos acontecimentos, uma vez que a sua composição é percebida a partir de uma vista
aérea, de onde as figuras surgem pequenas e distantes. O que parece ocorrer é uma necessidade de afastamento de
53
tais acontecimentos.
No lado direito da imagem, a situação já não é a mesma, apesar das figuras também serem construídas a partir de
uma vista aérea, existe uma aproximação bem maior. Os quatro jovens aparecem usufruindo do espaço público,
aliás a própria desenhadora parece se projetar dentro deste espaço, revelando a necessidade e o seu desejo por uma
reformulação nos “espaços humanos”.
Patrícia nos apresenta uma possibilidade: a mudança, a busca de um caminho possível e desafiador, que tem como
agente principal o ser humano, ser histórico-social, que encontra no grupo, no coletivo, o espaço de construção do
diálogo. Essa perspectiva parece ainda ir na contra-mão de uma realidade em que se acentua o individualismo, o
isolamento, gerando doenças psíquicas e emocionais sérias, que retiram das pessoas a capacidade de reagir frente
às adversidades colocadas cotidianamente.
O desenho do jovem Túlio Silvio, 13 anos, morador do Bairro Canaã (pág.63), na sua simplicidade, reivindica algo
tão solicitado pela população em geral: o policiamento intensivo, e ataca diretamente um aspecto caro à nossa
atual sociedade, o aumento crescente da violência.
Ao fazer isto, Túlio revela uma contradição latente: a cadeia não é um lugar puramente de marginais, criminosos,
mas de homens e mulheres que, já condenados socialmente, têm suas vidas cerceadas. Esta abordagem é singular,
não aparecendo em outros desenhos que tratam das questões relativas à violência e à segurança. Isto pode ser
compreendido quando percebemos a presença de balões contendo mensagens relacionadas ao desejo de perdão,
demonstrando, em certa medida, o arrependimento de alguns personagens.
Túlio parece, ainda, querer reforçar a condição do presidiário dentro das celas. Cada figura aparece espremida
dentro de pequenos espaços, mais parecidos com gaiolas. A cadeia, que parece ser a solução definitiva da
criminalidade, revela personagens que têm desejos e reivindicam ser ouvidos socialmente.
Cidade Tecnológica e Meio Ambiente
O desenho de Tonny Marcell, 14 anos (pág.64), traz em suas linhas a representatividade de dois mundos “distin-
54
tos”, presente e futuro.
Uma leitura descritiva desse trabalho poderia ser a seguinte: no presente, Tonny retrata um dia comum de trabalho,
fazendo um cruzamento de ruas com carros e prédios “normais”. Já no futuro, essa normalidade dá lugar a uma
composição com objetos ainda desconhecidos, entretanto, as pessoas parecem estar mais tranqüilas, à vontade com as novas tecnologias, que parecem proporcionar o lazer e a comodidade. Esta cidade futura, remetenos a um momento prazeroso, no qual o “shoop spacial” está presente, aliás, o grande foco está destinado a
este espaço que abarca um número não muito grande de figuras humanas, as quais se deslocam até ele por
meio de um elevador transparente ou pela calçada. Os semáforos, o ônibus e a velocidade se repetem nas duas
imagens.
Entretanto, o mais interessante neste desenho é que ele parece carregar a concepção de progresso presente na
consciência coletiva dos indivíduos sociais. Progresso este que se determina em um dado tempo histórico, ou
seja, no presente, uma vez que o futuro representado pelo desenhador não se distancia muito do tempo presente. Esse futuro idealizado por Tonny parece carregar as contradições do presente, o futuro já está posto,
onde temos a mudança dos objetos, portanto, as “estruturas humanas” parecem as mesmas. Tonny capta este
estado próprio de nossa época, no qual o encanto com o tecnológico parece se sobrepor à condição humana.
Todavia, na imagem futura, apesar de não termos a menção à coletividade, os seres humanos estão mais
presentes. O homem aparece no veículo e mesmo a família ainda se encontra unida.
O que poderíamos chamar de “Cidade Logomarca”, dimensionada pelas relações financeiras e comerciais,
repete-se nos dois lados da folha de papel. Esse projeto de futuro, também encontrado em filmes e desenhos
animados, parece uma imposição. A impressão que temos é que esse futuro virá de qualquer forma sem
termos tempo de escolher ou almejar novos modelos de inter-relações humanas. Este futuro é previsível e
mensurável, isso ocorre porque, em certa medida, nossa concepção de tempo é linear, partindo de um estágio
“inferior” materialmente, para outro mais “elevado”, estágio em constante “evolução”.
Tonny Marcell parece se colocar dentro deste “espaço-espacial”, permeado pelo desenvolvimento tecnológico,
construído através de recursos possivelmente importados de outros países. Esta colocação parece clara quan-
55
do analisamos os dizeres no desenho, quase todos escritos em inglês. O desenhador com isso demonstranos, também, a força da cultura estrangeira no nosso cotidiano, situação que se impregna violentamente em
nossas vidas.
No desenho de Leandro Oliveira (pág.65), encontramos uma mensagem extremamente clara, relativa às questões de preservação do meio ambiente. O desenhador demonstra sua preocupação com a destruição dos recursos naturais nos espaços urbanos. A árvore “decepada” registra a violência e a falta de civilidade em relação ao
meio ambiente.
A “cidade do futuro” de Leandro demonstra a organização do espaço, onde a rua e suas faixas aparecem cuidadosamente construídas, apresentando uma incrível retidão e firmeza nas linhas que compõem o desenho. A árvore
surge protegida, cercada como na árvore da cidade presente, porém, observamos uma copa, ela agora é imponente,
está realmente viva.
A cidade futura é extremamente verticalizada, repleta de prédios e nela não temos a presença do caminhão soltando
fumaça na atmosfera. Parece mesmo haver uma inversão de conceito em relação à idéia de cidade onde a natureza
é preservada. Os recursos naturais, geralmente preservados em “cidades horizontais” (observar o lado esquerdo do
desenho), estão presentes justamente na “cidade vertical”, repleta de prédios que nos remetem a uma cidade
“desenvolvimentista”, porém, livre da poluição e sem depredação da natureza.
Neste desenho não encontramos uma visão romantizada da preservação ambiental, na qual geralmente temos a
imagem de poucas casas em meio a uma floresta fechada. Leandro parece querer conciliar o desenvolvimento
econômico e tecnológico com o respeito pelos recursos naturais.
Considerações Finais
Um aspecto a respeito da organização do espaço urbano, considerado importante pelos desenhadores, está relacionado
com a distribuição espacial dos equipamentos públicos. Observando os desenhos, percebemos a ausência desses
equipamentos nos bairros periféricos da cidade, ficando evidente o descontentamento da população desses bairros.
56
Esse fato deve servir aos planejadores e gestores urbanos, lembrando-os que a cidade deve ser pensada e planejada
visando atender aos interesses e às necessidades de toda a população e não apenas a alguns poucos privilegiados.
O desejo por uma cidade ordenada, resultado de um planejamento urbano engajado com as questões sociais e
ambientais, também é expressado em muitos desenhos. Os impactos ambientais aparecem como problemáticas
que exigem intervenções imediatas e tecnicamente eficazes. Uma verdadeira denúncia contra os problemas ambientais
demonstra a insatisfação da população com a gestão urbana contemporânea.
A questão da segurança é apontada como um dos problemas mais sérios, exigindo a implementação de medidas
que devolvam à cidade e seus habitantes a justiça e a segurança pública.
Enfim, o que desejam os desenhadores é um espaço menos pragmático, coercitivo e intencional. A cidade do futuro
deverá ter formas e espaços destinados às manifestações artísticas e culturais, promovendo a formação de cidadãos mais humanos e criativos. O urbano será a manifestação solidária e humanizadora da cidade, que se tornou
novamente a expressão da cidadania.
57
Walterlhana - 12 anos
58
Rodrigo Cândido de Oliveira - 12 anos
59
Júnior - 29 anos
60
Márcia Rodrigues - 42 anos
61
Patrícia Braga - 18 anos
62
Túlio Silvio - 13 anos
63
Tonny Marcel - 14 anos
64
Leandro Oliveira - 13 anos
65
O meio, a cidade, o desejo, o desenho e o olhar
Antônio Neto F. Santos, Denise Elias Attux,
Eduardo Guerra França, Elsiene Coelho da Silva,
João Virmondes, Marco Henrique, Marcos Antônio de Oliveira,
Maria Divina Silva Alves, Marilane Costa Leles.20
A
produção de imagens nos possibilita codificar experiências, sonhos e desejos. Dessa forma, o expectador,
diante da comunicação simbólica de imagens, não tem por função exclusiva decodificar a pretensão do autor, mas
interpretar a mensagem visual a partir de seus próprios conceitos e vivências.
Neste aspecto, o ato de fruição é transgredido pelas análises imagéticas, cujas múltiplas dimensões são exploradas não apenas pela visão, mas também por todos os sentidos. O exercício do olhar ganha forma quanto aos
aspectos da expressão e do conteúdo, ao interpretarmos e re-escrevermos verbalmente os dez desenhos ora
analisados.
Cumpre-nos destacar a relevância do desenho enquanto mediador do diálogo entre o indivíduo e sua realidade,
facilitando a tradução da experiência de vida em conceitos significativos. Enquanto forma de escrever e falar, o
ato de desenhar promove o pensamento, a percepção, enfim a emoção.
O processo de escolha dos 384 desenhos realizados por crianças, jovens e adultos, no Setor Central de Uberlândia,
foi realizado após discussões e o estabelecimento de três categorias: a) garatujas; b) retratos da cidade e outras
imagens; c) cidades imaginárias. A opção pelo grupo C, representada por 53,64 % do conjunto das imagens, do
qual destacaram-se dez desenhos com base nos critérios da expressividade e da comunicabilidade, cerca a
riqueza de significados em torno da exploração temática, permitindo uma análise individual, resultando no
20
Antônio Neto F. Santos, Professor de Técnicas Agrícolas da Rede Municipal de Educação com especialidade em Educação Ambiental; Denise Elias Attux,
Arquiteta da Seção de Planejamento Urbano e Rural da SEDUR; Eduardo Guerra França Professor Psicologia da Educacão da UFU; Elsiene Coelho da Silva,
Professora Mestre em Arte Educação e Chefe do Departamento do Curso de Artes Plásticas da UFU; João Virmondes, Artista Plástico e Professor
Substituto do Departamento de Artes Plásticas da UFU; Marco Henrique é Funcionário do Museu Municipal graduado em Artes Plásticas com Mestrado em
História; Marcos Antônio de Oliveira, Artista Plástico e Coordenador do Setor de Manifestações Culturais da DICULT-PROEX/UFU; Maria Divina Silva
Alves, Graduando no Curso de Artes Plásticas da UFU; Marilane Costa Lelis Melo, Artista Plástica e Professora em Artes da Rede Municipal de Ensino.
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presente texto de construção coletiva.
O repertório das imagens perpassa o meio. A cidade objeto, arena, o palco do olhar. O desejo, a projeção virtual. O
desenho, o meio, o registro. O olhar, o que vejo e o que nos olha. A ambigüidade entre o habitar e o ser habitado,
o observar e o ser observado constitui o labirinto do meio ambiente urbano.
O meio ambiente se transforma rapidamente a partir dos anos 90, em função do crescimento populacional, que
trouxe evidências da má distribuição de renda. A “ordem” e o “progresso”, motivo de orgulho dessa cidade, desfazse diante do aumento da mendicância e da violência nas ruas, tornando-se incontroláveis pelas políticas públicas
que não mais conseguem mascarar essa realidade conflitante.
Refém de uma política falida, que a todo instante procura novos artifícios para arrecadação de impostos, sob o
pretexto das necessidades de ações sociais, a população se divide hoje em duas classes, como disse Gaudêncio
Frigoto: a que tem fome e a que tem medo de quem tem fome21 . O que isso significa, senão um novo tipo de poder
que se estabelece numa correlação de forças nesse meio ambiente?
As imagens trazem sentimentos diversos, resultados de uma política voltada para as edificações que não considera
a dimensão dos sujeitos que irão habitá-las. Dessa forma, os desenhos analisados trazem o hoje, o amanhã e,
quem sabe, trarão a saudade de ontem que se confunde com o desenho do amanhã. Idéias visuais e verbais surgem
do caos da vida urbana.
A imagem de Aline, 10 anos, Praça Nicolau Feres (pág.75), surpreende o espectador pela capacidade de abstração
da proposta e pela representação da cidade refletida no sujeito que ali habita, cujo reflexo do meio em que vive
encontra-se impresso na sua forma de ser.
No seu auto-retrato, os dois tempos da cidade, o presente e o futuro, dividem a figura e a transformam conforme
o contexto de cada espaço, apresentando uma unidade antagônica, contida num ser paradoxal, resultando numa
composição equilibrada.
Um ser triste num cotidiano de violência, pobreza e droga que Aline verbaliza e expressa com um “x” na frente de cada
palavra contrasta com a alegria e a esperança de um futuro em que reinem a paz, a harmonia e a felicidade, ratificadas pelo
“c” de certo que as acompanham, mesmo esse futuro sendo duvidoso. No rosto como no vestido, a unidade paradoxal; a
21
FRIGOTO, Gaudêncio. O Uno e o
de novembro de 2000.
Diverso na Educação Escolar. In: 2² Seminário de Educação promovido pelo Mestrado em Educação. Uberlândia, 29
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tristeza é o sorriso iluminado; a flor incompleta, murcha ou até mesmo morta e a flor viva, completa, exuberante.
Esse ser, ironicamente condenado à solidão, ao mesmo tempo afirma e nega, constrói e destrói a cidade. Vivencia
dúvidas e esperanças, aridez e produtividade, carência e fartura. Transita e se divide entre a percepção da realidade
e o desejo num pensamento interrogativo, entre morte e vida simultaneamente.
Maria de Lurdes, 37 anos, Praça Ana Diniz (pág.76) , apresenta um fragmento de uma metrópole imensa, pétrea. A
cidade é definida como uma estrutura destinada a crescer infinitamente e a superar-se. O espaço vazio que circunda a imagem amplia o foco de visão e coloca o observador do outro lado da rua. A via torna-se o sítio, onde
automóveis trafegam como máquinas técnicas, indeléveis, impondo-se no espaço urbano juntamente com as
construções, um problema que Maria de Lurdes lamenta ao escrever: vejo muita preocupação com o espaço físico
e muito pouco é feito pela valorização das pessoas que convivem nossos espaços - fenômeno que se processa em
todas as cidades em via de crescimento. As áreas de convivências transformam-se enquanto os concretos furtam
as áreas outrora destinadas ao bem estar.
As edificações verticais e a solidez do concreto armado ocupando cada milímetro do espaço urbano obliteram os
últimos vestígios da natureza, as últimas áreas de ser e estar e contrastam com a fragilidade de duas figuras
humanas, minúsculas, comprimidas entre paredões.
As figuras caminham numa mesma direção sem opções. Seguem a mesma trajetória dos carros, embora seja impossível os acompanharem na mesma velocidade. Entretanto, a força que atrai os movimentos para um só sentido
traduz a ação mecânica do homem que segue o ritmo da cidade, sem tempo nem espaço para si, sem condições de
indagar: quem sou? Onde estou? Para onde vou? Segue sufocado pela falta de qualidade de vida, restando-lhe, tão
somente, a luta pela sobrevivência.
O desenho de Juliano, 16 anos, Praça Nossa Senhora Aparecida (pág.77), e de Ana Tereza, 8 anos, Praça Sérgio
Pacheco (pág.78), são reflexos das campanhas somos amigos da... tão propagadas nos meios de comunicação,
produto de políticas governamentais rasas que incitam a sociedade à prestação de serviço voluntário e omitem o
fato de receitas advindas da cobrança de impostos serem utilizadas, muitas vezes, mais para fins particulares do
que para a viabilização de projetos sociais, educacionais, e culturais.
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Nesse contexto Juliano escreve Udi, queria que soubesse que não estou muito contente com seu crescimento, pois,
cresceram os concretos e extinguiram a mais digna civilização e esqueceram de plantar uma semente, na educação,
saúde, segurança e clama ajude a quem precisa. Para isso, propõe um centro de ajuda e arrecadação para umildes,
assim como Ana Tereza e a Casa SOMOS AMIGOS DA BONDADE. E ele acrescenta, numa placa, EVITE FILAS seja um
BOM CIDADÃO. Ser um bom cidadão não significa assumir um compromisso de doações evitando filas e tão pouco
praticar ações solidárias principalmente em datas especiais. Da mesma forma, Ana Tereza coloca: Lembram de mim
no natal, no dia das crianças, doações de “brinquedos”; somos crianças carentes oferecem “comidas”; precisamos
de roupas para protegermos do frio contribuam com “roupas e sapatos”.
Ana Tereza desenvolve a idéia com muita sensibilidade através de seu desenho dividido por cenas, expressando o
sentimento de alegria das crianças que se organizam em fila. Noutro desenho, demonstra o desafio expresso nas
pernas que se alongam para alcançar as doações quase inacessíveis de pessoas com auréolas de santos, e que, ao
final, mostram-se felizes por conseguir vencer as dificuldades e com o presente na mão. Mesma fila, mesmo
claustro, imagem de Rubião e Kafka…
Evite filas
Resolva
Saia dos teus impasses repetitivos – ó cidade
Sejas realmente um cidadão – ó cidadinha cidade.
A cidade na sua imensidão esconde a solidariedade, o amor fraterno, o cuidado com a educação. Benazir do Prado,
12 anos, Praça Sérgio Pacheco (pág.79) , chama atenção para essas questões ao desenhar o trânsito, os seres, a
arquitetura da cidade numa ordem lógica, formal e imaginária. Projeta o espectador para o outro lado da rua (como
em “Las Meninas” de Vélazquez), convidando-nos a, juntamente com os dois personagens centrais, atravessá-la
pela faixa de pedestre. Acima, novamente, os mesmos personagens são apresentados e inseridos num contexto
social que coexiste desordenadamente nesse espaço imaginário. Integra fragmentos do cotidiano, cenas captura-
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das pelo zoom de uma lente que pinça valores essenciais de uma sociedade.
Outros fragmentos retratam a diversidade da cidade trabalhada. No trabalho de Sônia Maria, 56 anos, Praça Coronel
Carneiro (pág.80), um desenho infantil revela a falta de acesso e possibilidade de ampliar sua experiência gráfica.
Há um olhar nostálgico sobre o retrato da cidade, onde o ambiente natural cede lugar às edificações, à educação ao
lixo transbordante, à harmonia, à violência cotidiana que assombra e gera a síndrome do medo despertando desejos e saudades.
A cidade vislumbrada corresponde a uma proposta ou será uma rememorização do modo de vida antes do êxodo
rural?! A harmonia do ser humano com a natureza se desfaz em função das especulações imobiliárias que impõem
rigidez e crescimento desordenado à cidade. As crianças de olhar e sorriso brilhantes, cujos gestos flutuantes
comungavam com a natureza, hoje, são aprisionadas em cubículos, sufocadas por regras de convivência que as
privam da liberdade.
O desejo de fuga da realidade encontrado no refúgio de Fabiana, 10 anos, Praça Tubal Vilela (pág.81), é representado pela ausência dos prédios e ânsia pela natureza. Refugia-se numa paisagem contemplativa repleta de flores
que, em profusão, transformam o ambiente, tornando-o belo, agradável a ponto de tornar o lugar da única casa que
flutua em meio à excelência da floração. A natureza hegemônica faz com que a cidade recue até o mero detalhe para
que a personagem possa caminhar pelas encantadoras formas oblongas e semicirculares. A composição é essencialmente lírica. Tudo parece brotar repentinamente como se um toque mágico criasse um terreno acidentado, uma
cadeia de morros, emersa da terra, surpreendendo a garota desatenta, que se vê impelida a equilibrar-se na
superfície íngreme. A natureza, então, representa um espaço onírico que subsiste numa situação imaginária para
além dos lugares citadinos, os quais não devem desaparecer em névoas de sonhos e desejos quando a trilha se
torna invisível para a menina urbana.
A praça, elemento simbólico da representação do meio ambiente urbano, foi uma referência constante nos
desenhos. Se existe uma necessidade real do espaço como lazer, ou se foram influenciados pela circunstância da
experiência do desenho, não se sabe. Um desses desenhos é o de Paulo Batista, 8 anos, Praça Nicolau Ferez
(pág. 82). Enquanto, num ritmo acelerado ônibus e carros circundam a praça, um homem transcendente solitário
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caminha em linha reta, com pensamentos vagos. No centro, a praça surge como um lugar de extrema placidez, um
microcosmo harmonioso que sobrevive no interior do caos urbano, como um espaço de convívio social, descanso
e contemplação, onde mães trocam experiências e crianças brincam. Uma das cenas possíveis de o observador
captar, nesse caso, são as unidades formais representadas por uma vista aérea, permitindo perceber a praça no
conjunto do ambiente em que está localizada.
O desenho de Gabriel, 42 anos, Praça Tubal Vilela (pág. 83), representa também uma vista aérea, porém, ele vai além
do recorte para trazer a cidade completa, um ambiente saturado de exclamações. Na sua figura, existe um ambiente
construído e constituído tanto de problemas ecológicos, quanto de partes preservadas e harmoniosas. Os problemas ambientais estão relacionados com falta de terra para todos construírem suas casas, falta de comida e trabalho para todas as famílias, excesso de terrenos vazios mantidos por especulação imobiliária, lixo espalhados pelas
ruas e, enfim, apresenta problemas de planejamento urbano. Na parte preservada e organizada são mostradas áreas
de lazer com muito verde, piscinas, museus, quadra de esporte, campo de futebol, brinquedos, espaços para
apresentação de teatro, música, escolas e universidades. Traz palavras de ordem para organizar a sociedade: segurança cidadã, limpeza, culturas e liberdades.
Já o desenho de Viviam Resende, 16 anos, Praça Sérgio Pacheco (pág. 84), o último a ser analisado, dentre o
conjunto das dez imagens, apresenta o espaço humano dividido em dois momentos distintos. O primeiro, ocupando o espaço superior, traz grandes problemas ambientais: rio totalmente poluído com dejetos da rede de esgoto
doméstico e industrial, lixos sólidos, compostos de latas, sacos plásticos e pneus. Neste rio não há vegetais nas
margens. Há, sim, construções de casas e avenidas provocando grandes congestionamentos de carros; falta de
proteção contra enxurrada das águas; assoreamento com detritos sólidos e emissões de gases poluentes, como o
monóxido de carbono, pelos carros no espaço atmosférico. Acima da margem do rio, no topo de uma linha curva,
observam-se aglomerações de casas, uma seqüência de arranha-céus e nenhuma indicação de árvores. Há, porém,
muitas antenas para recepção e transmissão de ondas de TV, telefone e rádio que, além de poluírem visualmente o
ambiente, contribuem para a emissão de radiações que prejudicam a saúde da população. Assim, não poderia ser
diferente a necessidade nitidamente destacada por ambulância, carro de radiopatrulha ou carro do corpo de bom-
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beiro, atendendo às emergências referentes à saúde e à segurança humana.
A cidade, objeto do desejo, constitui-se de uma seqüência de planos sobre uma linha horizontal reta, traduzindo
harmonia, equilíbrio e paz. No rio despoluído, dá para ver peixes nadando; sua margem está recoberta por vegetais
de vários tamanhos e diferentes espécies. Não há avenidas próximas ao rio. Nas casas e nos prédios, que estão
bem distantes da margem do rio, não são vistas antenas. No céu, aparece um sol brilhante por detrás das nuvens
esparsas e brancas.
A análise temática dessas imagens provoca no espectador a construção de conceitos que vão além das estruturas
formais: linhas, planos, equilíbrio, ritmo, tensão espacial, etc. Faz-se necessário definir meio ambiente, problemas
ambientais, educação ambiental, desenvolvimento sustentável, dentre tantos outros.
Dessa forma, o ambiente ou espaço humano é criado através da ação do homem dialeticamente em contato com o
meio natural. Nessa criação, na maioria das vezes, o homem constrói uma série de problemas ambientais que
acabam retornando para si sob a forma de catástrofes, tais como: inundações, contaminação de mananciais de
água, aumento de temperatura por falta de cobertura vegetal ou por excesso de usinas hidrelétricas, doenças
relacionadas com mosquitos que se procriam em lugares que acumulam água, doenças como cólera, verminoses
provenientes de rios ou lagos contaminados por esgoto humano, peixes contaminados por metais pesados provenientes de resíduos industriais, violências urbanas provenientes das desigualdades sociais e de famílias
desestruturadas que não conseguem prover os filhos das necessidades mais básicas.
Essa maneira de ver e entender o meio ambiente está de acordo com as idéias de REIGOTA, que apresenta o
meio ambiente como o lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em relações
dinâmicas e em interações. Essas relações implicam processos de criação e tecnologia de processos históricos de
transformação do meio ambiente natural e construído.22
É no contato do homem com a natureza que se materializam as relações naturais e sociais que compõem o
meio ambiente. A relação desse ambiente degradado com a saúde humana é evidenciada através das doenças
físicas, emocionais e mentais. Esse homem deixa de ser um sujeito ativo, saudável, e passa a ser um paciente à
mercê de inúmeros problemas ambientais que o cercam. E nesse ambiente degradado, insólito, todos são vítimas
22
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social, 2² ed, São Paulo: Cortez, 1997
72
em maior ou menor grau, desde o sujeito que vive em bairros de periferias ou em favelas, como aqueles que vivem
em grandes mansões. Talvez os primeiros sintam bem mais rápido os problemas ambientais, embora os demais
também se tornem vítimas desse ambiente inadequado para seres ditos racionais e detentores do controle de suas
vidas.
Para exercitar uma cidadania é preciso entender o meio ambiente, como ele é transformado e recriado, qual a
relação do homem ao criar o seu meio ambiente, como esse ambiente é degradado e muitas vezes extinto em forma
de solo, plantas e animais.
A cidadania ambiental pode ser construída por meio de um programa de Educação Ambiental. Segundo DIAS (1998),
deve-se promover o desenvolvimento de conhecimento, atitude e habilidades necessárias à preservação e melhoria
da qualidade ambiental, pois a função de um trabalho didático, envolvendo o tema meio ambiente, é contribuir para
a formação ambiental, cognitiva e social do educando, de modo que ele seja capaz de atuar na realidade sócioambiental comprometido com a sociedade local e global.
A Educação Ambiental deve acontecer de uma maneira formal nas escolas de ensino fundamental e médio, bem
como nas universidades. De maneira informal, ela pode acontecer nas praças, sindicatos, igrejas, clubes, parques,
em qualquer lugar, onde as pessoas se reúnam. Nesse sentido, há necessidade não só de políticas ambientais, mas
também de educação ambiental, já que nas figuras aqui analisadas observa-se uma forte presença do desenvolvimento econômico e tecnológico. Nas sociedades contemporâneas, a tecnologia está intensamente presente. Ela se
caracteriza, segundo GRINSPUN 23 , como um conjunto de conhecimentos, informações e habilidades que provém
de uma inovação ou invenção científica, que operacionaliza através de diferentes métodos e técnicas e que é
utilizada na produção de bens e serviços, nos setores primários, secundários e terciários.
Em decorrência disso, as demandas atuais exigem principalmente que a escola ou qualquer outra instituição
governamental ou não-governamental ofereça aos educandos sólida formação ambiental, cognitiva e competência técnica, possibilitando desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes que permitam observar, compreender, utilizar e, fundamentalmente, analisar, ainda que de maneira incipiente, o acelerado desenvolvimento
econômico dessa sociedade tecnológica e as conseqüências ambientais.
23
GRINSPUN, Mirian P. S. Z. Educação Tecnológica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
73
Os problemas ambientais, que também são sociais, afligem direta ou indiretamente qualquer pessoa. Nesse sentido, a experiência dessa análise temática sobre os desenhos revelam um imaginário coletivo que se completa com
o olhar do espectador e por fim assume uma dimensão bastante significativa para a cidadania ambiental.
Assim, a análise sob o contexto histórico, cultural, social e tecnológico permite levantar hipóteses que podem
resultar em propostas que auxiliarão na melhoria da qualidade do ambiente em que vivemos. Faz-se necessário, ao
discutir questões ambientais, integrar a cultura tecnológica não só vinculada aos problemas gerados, mas também
ligados à sua potencialidade de solução de problemas, como o uso inadequado de recursos naturais.
Nessa visão surge o conceito de desenvolvimento sustentável, propagado a partir da 2ª Conferência Mundial sobre
Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992. Desenvolver sustentavelmente é não comprometer todos os recursos
naturais. É respeitar outras formas de vida. É não colocar o desenvolvimento econômico acima de todos os interesses da humanidade. É exatamente isso que as imagens trazem: a possibilidade de se continuar desenvolvendo,
porém com a devida proteção ao meio ambiente.
Bibliografia
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Global, 1998.
GRINSPUN, Mirian P. S. Z. Educação Tecnológica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1997.
74
Aline Almeida de Souza - 10 anos
75
Maria de Lourdes Viana - 37 anos
76
Juliano Pereira - 16 anos
77
Ana Tereza C.M. Hordonis - 8 anos
78
Benazir do Prado Freire - 12 anos
79
Sônia Maria Borges - 56 anos
80
Fabiana Fernandes - 10 anos
81
Paulo Batista Vieira - 8 anos
82
Gabriel Muñoz - 42 anos
83
Vivian Resende Alano - 16 anos
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Propostas para as cidades de seus sonhos: uma viagem pelos desejos-desenhados
Cláudia Maria de Freitas, Daniel Gervásio Bernardes,
Eliane de Fátima Vieira Tinôco,
Márcia Maria de Sousa e Rosana de Ávila Melo Silveira24
Caminhos iniciais
P
ara começarmos a apresentar o trabalho da Equipe Laranja, pensamos ser necessário falar sobre o Setor da
cidade do qual fazem parte os desenhos que analisamos. O Setor Sul da cidade de Uberlândia é marcado por
diferenças sociais, culturais e econômicas muito significativas. Nesse Setor, estão Bairros tradicionais, como exemplo,
o Saraiva e o Patrimônio, e Bairros novos, tais como o Laranjeiras e o Morada da Colina.
Caracterizando a imagem da paisagem vivida do lugar, são distintos os bairros trabalhados: no Bairro Patrimônio,
a comunidade está muito ligada ao Carnaval e ao Congado; já no Bairro Saraiva, as festas juninas são as mais
significativas para a comunidade. No Bairro Laranjeiras, o Centro Poliesportivo Agenor Alves Garcia, onde foram
realizados os desenhos das crianças e dos jovens, constitui-se como um dos poucos pontos de convergência da
comunidade para o lazer e o esporte. E, no Bairro Lagoinha, a marca de destaque é a poluição do seu córrego, que
atravessa, também, alguns bairros próximos.
Como podemos observar, o Setor Sul se caracteriza pela diversidade em vários aspectos.
Para a realização da ação “Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado”, foram visitadas, pela equipe gestora do
projeto, algumas praças do Setor Sul25 e escolhidas duas praças: a Vasco Gifone, no Saraiva, e a José Mota, no
Patrimônio. O Centro Poliesportivo Agenor Alves Garcia do Bairro Laranjeiras, também, foi escolhido por não terem
24
Cláudia Maria de Freitas é Geógrafa da SEDUR e secretária da Associação de Geógrafos do Brasil/sede Uberlândia; Daniel Gervásio Bernardes é Arquiteto, Urbanista e
mestrando em Geografia, Eliane de Fátima Vieira Tinôco é professora de Artes da Rede Municipal de Ensino e Assessora de Ação Educativa-Cultural da DICULT; Márcia Maria
de Sousa é professora de Rede Municipal de Ensino e Especialista em Ensino de Arte; Rosana de Ávila Melo Silveira é professora de Geografia e mestranda em Geografia.
25
As praças visitadas foram Ernesto Ceccon no Bairro São Jorge, Benigno Ferreira Sobrinho no Bairro Granada e Canto Maior dos Palmares no Bairro Patrimônio.
85
as outras praças visitadas o mínimo de requisitos para a realização do projeto: árvores altas, bancos e pavimentação.
Apesar desse conhecimento sobre os bairros do Setor Sul ter começado a fazer parte das análises da Equipe Laranja
somente no momento em que socializamos as análises individuais, ele foi de fundamental importância para podermos compreender o universo do qual faziam parte os desenhos com os quais estávamos conversando.
Desde o princípio do projeto, constituiu-se a idéia de uma participação ampla de uma parcela da sociedade, no
caso as crianças e os jovens, no enquadramento de propostas para a cidade que se deseja construir, e isso
dimensionou inúmeros caracteres que se voltaram para uma construção justa numa dinâmica de civilidade. A
equipe concebida para a análise, equipe laranja, foi constituída por profissionais habilitados que se dispuseram
para a devida avaliação dos significantes dos objetos. Dentre eles destacamos: arquiteto, geógrafas, professores
de arte e geografia.
O vôo nos bidimensionais
Feito pássaros gigantes que sobrevoam paisagens mentalizadas, colocamo-nos frente a frente com os desenhos,
qual espectadores de mundos moldados em páginas bidimensionadas. Consequentemente, a análise dos objetos
desenhados pelas crianças teve como base um procedimento metodológico, pelo qual cada expressão pensada
recebeu toda nossa atenção, com o objetivo de valorizar a idéia proposta pelo desenhador, respeitando o seu
pensamento materializado.
Com essa preocupação, reunimos elementos para uma devida avaliação, pela qual seriam apontados os trabalhos
que representassem melhor o conjunto global realizado pelas crianças. Decidimos ser melhor escolher as imagens
pela empatia que nos causavam, não apenas uma empatia visual, o que resultaria em uma escolha pelos desenhos
mais “bonitos”, mas sim uma empatia por conteúdo e significado. Aqueles desenhos que causassem indagações
seriam preferidos àqueles com resultado gráfico agradável.
As imagens do Setor Sul, em um total de 239, não estavam separadas por idade e por praça e a equipe resolveu
que não iria organizá-las novamente, correndo o risco de escolher trabalhos sem contemplar as diversidades.
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Caso isso acontecesse, faríamos novas escolhas.
No primeiro momento, tivemos uma amostragem de 52 imagens. Em reunião geral anterior, o grupo gestor do projeto
havia decidido que cada equipe de cores conversaria com um número entre 7 e 10 imagens. Assim, deveríamos fazer
uma nova amostragem. Pensamos, então, ser necessário separá-la por faixa etária, pois a presença dos desenhadores
nas Praças do Setor Sul, escolhidas para o projeto, abrangeu faixas etárias diferenciadas. Descobrimos que, dentre os
52, havia mais desenhos de 7 a 10 anos e de 11 a 15, característica que se repetiu na totalidade das imagens do Setor
Sul. Decidimos que, nessas duas faixas, deveríamos ter uma amostragem maior de desenhos. Outra preocupação
desse momento foi a de não excluirmos nenhuma praça do Setor Sul.
Dentre as 239 imagens, para nossa amostragem, nove representações foram as que melhor identidade nos ofereciam
para uma objetivação, sendo: 2 do Poliesportivo, 2 da praça José Mota, 5 da Praça Vasco Gifone. Quanto à idade, a
escolha foi: um de 4 anos, três de 7 a 10 anos, quatro de 11 a 15 e um de 27 anos. Como no primeiro momento os
desenhos estavam misturados, e nós os escolhemos pela empatia, o fato de ter mais desenhos da Vasco Gifone que dos
outros locais foi aceito pelo grupo.
Ao terminarmos a amostragem, os desenhos passaram a ocupar espaço em nossas mentes, e a equipe passaria a
conversar com eles. Sentimo-nos diante de um convite cósmico para uma viagem na imaginação dos desenhadores de
um mundo sonhado. Cada participante da equipe levou 1 ou 2 desenhos para casa e fez sua análise particular. Depois
nos reunimos e, com as imagens nas mãos, refletimos e discutimos sobre o diálogo de cada um com os desenhos em
sua particularidade ou totalidade.
Em um segundo momento, procuramos identificar quais foram os elementos mais destacados pelas crianças, compreendendo que os mesmos são signos que constituem a mensagem principal das crianças. No geral, os desenhos
do Setor Sul destacaram uma preocupação com Moradia, Meio Ambiente e Segurança26 . Nesse sentido, verificamos
que os desenhos de nossa amostragem para conversas não se mostraram representativos da totalidade.
Durante a escolha dos desenhos, percebemos que várias crianças e jovens desenharam a igreja da Praça Vasco
Gifone e os banheiros do Poliesportivo. Esses desenhos, juntamente com as garatujas, foram considerados pela
equipe como “sem definição”, pois não sugeriam/apontavam necessidades ou possibilidades, apenas pontuavam
26
No tema Moradia, foram considerados tanto os desenhos que apenas a retratavam como também os que a reivindicavam. No tema Segurança, foram
considerados trabalhos que falavam sobre Violência e sobre Segurança no Trânsito. A equipe laranja agrupou em uma categoria chamada “Cidadania”
os trabalhos com a expressão de uma visão global sobre as relações entre infra-estrutura e relações sociais – relação indivíduo/cidade.
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aspectos arquitetônicos do espaço, no qual acontecia a atividade do desenho.
Dentre os nove desenhos, o tema mais recorrente foi o Lazer, com interpretações bem diferentes de criança para
criança. No desenho de Viviane, 10 anos (pág. 91), o lazer está ligado à questão do meio ambiente e ela, em uma
visão politizada do projeto; escreve estar esperando que “depois disso” (o desenho), o córrego Lagoinha, que hoje
está poluído, volte a ser uma área de lazer. Esta criança expressa com objetividade seus ideais: proteção e preservação do meio ambiente e a criação de áreas para o lazer coletivo.
Já para Rachid de 10 anos (pág. 92), o lazer faz parte da cidade de seus sonhos, uma cidade bem organizada, bem
sinalizada, onde o parque de diversões ocupa a maior parte de sua área. Em seu desenho, ele salienta todos aqueles
elementos que gostaria que fizessem parte de sua cidade e não fazem.
Para Anísio de 13 anos (pág. 93), a cidade se configura em função do lazer. Ao colocar dentro de um círculo várias
quadras de futebol, ele anuncia sua preferência e define o espaço de lazer como o mais importante em sua visão de
cidade. Ele não ignora que a cidade necessita de alguns aparelhos e, por isso, ao redor do círculo desenha árvores
e retângulos que podem ser construções dos mais diversos tipos. No entanto, o espaço de lazer é o centro de suas
atenções.
Nos desenhos de Douglas, 11 anos (pág. 98) e de Kamila, 7 anos (pág. 95), o lazer é apenas citado como parte do
ambiente e da vivência infantil.
Outro tema muito presente nos desenhos analisados foi o Meio Ambiente. Para a Equipe Laranja, desenhos com
alusão ao meio ambiente são aqueles que contém representações gráficas de elementos ecológicos e preocupação
com a poluição ambiental. Além do desenho de Viviane, já citado anteriormente, Nando, de 27 anos (pág. 94),
explicita sua preocupação com uma cidade limpa, na qual os espaços públicos devem estar organizados de forma
a assegurar e preservar o meio ambiente. De um lado da rua, ele coloca sujeira e árvores cortadas, do outro lado,
latões de lixo e árvores altas dizem como ele gostaria que fosse sua cidade.
Nos desenhos de Théo, 4 anos (pág. 96), Dheynisson, 11 anos (pág. 97), Kamila e Douglas, a representação de árvores,
flores e pássaros no espaço urbano mostram a necessidade de uma maior convivência do concreto com a natureza.
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Um sentimento de liberdade perpassa os desenhos de Théo, Dheynisson e Douglas. Esses desenhos traduzem a
idéia de que uma cidade agradável de se habitar precisa dar liberdade para que seus moradores nela convivam. Todo
o desenho de Théo sugere um movimento composto por diferentes tipos de linhas, ressoando a luminosidade do
sol em todos os símbolos gráficos. Os braços abertos das figuras humanas (crianças) têm correspondência com as
asas dos pássaros que “caminham” da esquerda para a direita da folha, compondo a sensação de liberdade. Dheynisson
sugere a liberdade ao colocar um paraquedista e um casal de namorados em meio a um espaço urbano sem conturbações, no qual um homem, vestido em trajes de Festa Junina, solta fogos de artifícios, reforçando um aspecto
cultural do bairro. No desenho de Douglas, a sensação de liberdade é sugerida pelos semáforos que estão todos
abertos, porém, sem apresentar riscos ao trânsito, pois apenas um carro trafega pela via.
Em contraponto aos desenhos de Théo, Dheynisson e Douglas, está o desenho de Thiago, 13 anos (pág. 99). Ele
demonstra, com seu registro gráfico, a preocupação com a segurança ligada ao trânsito da cidade, preocupação
reforçada pela escrita no canto da folha: Eu quero segurança, não morte. Ele não desenha construções da cidade,
apenas a malha viária, na qual dois carros se chocaram em um trevo, um deles por não ter obedecido os sinais,
reforçados por setas que Thiago representa com evidência no espaço da via. A polícia já está no local.
No desenho de Douglas um fato chamou muito a atenção da equipe. Ele se coloca no centro do desenho e conversa
com o espectador convidando-o ao olhar e ao interagir. O balão com a palavra oi é o ponto de entrada no desenho
e é a marca da criança no espaço. Ele interage com esse espaço, sendo o centro das atenções.
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Abordagem final
Os desenhos ultrapassaram nossas expectativas, pois demonstraram, através da expressão das crianças, seus conceitos e suas proposições como cidadãos, enfatizando desejos que devem ser respeitados e valorizados.
Os desenhos escolhidos sugerem, nas diversas idades, um posicionamento de cidadão que observa a sua realidade e
deseja modificá-la. Muitos destes desenhos sugerem/apontam o que fazer para modificar essa realidade e apontam
o olhar atento das crianças e jovens para a superação dos conflitos urbanos através do desenho enquanto ato de
cidadania. Existe uma visão politizada em relação ao espaço vivido. O desejo de cada criança, expresso no desenho,
deixa clara a importância do projeto enquanto momento de reflexão sobre o que a cidade oferece tanto de positivo,
quanto de negativo a suas crianças e jovens. Alguns desenhos chegam a questionar as possibilidades de mudança a
partir de suas propostas. As mensagens desenhadas ou verbalizadas são um apelo para que as mudanças aconteçam.
Observa-se que houve, por parte das crianças, uma coerência entre seu pensamento verbal e a materialização deste
na folha A4. A cidade vivida e vivenciada pela criança e pelo jovem é repleta de conflitos, captados também por relatos
verbais pelos colaboradores no momento do desenho:
tentei desenhar uma cidade melhor, sem violência, imaginei as crianças saindo do semáforo para irem para a escola,
queria brincar, mas no parque de diversões, eu tentei desenhar a paz, menos acidente de carro, menos droga...
Cada traço, as ruas, escolas, parques, árvores etc., denunciam a cidade mental em suas diversas formas. Sua apreensão pelas crianças revelam-nas como seres que interagem com a sociedade em que vivem. Neste sentido, acreditamos que as cidades das imaginações das crianças são possíveis e, para além dos sonhos, elas são possíveis.
90
Viviane Pires de Siqueira - 10 anos
91
Rachid Rassan Halouche - 10 anos
92
Anísio Soares - 13 anos
93
Nando D’ale - 27 anos
94
Kamila - 7anos
95
Théo Borges Faria - 4 anos
96
Dheynisson da Silva - 11 anos
97
Douglas Rodrigues de Souza - 11 anos
98
Thiago Menezes - 13 anos
99
0 urbano modificando as relações sociais através do olhar de crianças e de jovens
Cíntia Guimarães, Léa Carneiro de Zumpano França,
Lucimagda Aparecida de Lima, Mara Nogueira Porto,
Maria Beatriz Ramos, Pricilla Camargo27
A
penas o homem é capaz de criar/dar significados a sua realidade e, conseqüentemente, edificar a cultura
que sustentará a estrutura social. Tal estrutura se dá por uma relação dialética de construção dessas significações,
ou seja, à medida em que o homem constrói e ergue a sociedade através da atribuição de signos, o real, ele também
é construído socialmente. Esse processo dinâmico de construção e edificação dos valores, significados pelos
homens em sociedade, é que vai garantir a sua existência social.
As necessidades humanas, que durante todo o desenvolvimento, sempre tiveram características individuais, passam a ser necessidades coletivamente erguidas. Com isso, podemos concluir que a visão biológica para o processo
de desenvolvimento humano não é determinante nesse processo e sim no contexto social em que esse ser humano
está inserido, no qual seus valores e significações vão surgir através das interlocuções com o meio social ao qual
pertença.
No entanto, com a evolução da sociedade e a ampliação dos complexos aglomerados humanos, percebemos que o
advento das grandes metrópoles sempre fizera parte do imaginário social, levando-se em consideração as brilhantes obras da literatura, pintura, música e contemporaneamente, o cinema. Essas obras de certa forma implícita ou
explicitamente, retratavam e retratam as indagações com referência ao futuro das gigantescas cidades, das relações sociais e dos problemas estruturais que podiam e que emergiam nas metrópoles.
Com o desenvolvimento industrial e urbano, mudaram-se a configuração social, as relações de trabalho, a inserção
do trabalho assalariado. Isso significou que antes o que era uma relação, na qual o trabalhador detinha os meios e
Cíntia Guimarães é professora substituta do Departamento de Artes Plásticas da UFU; Léa Carneiro de Zumpano França é professora de Artes da Rede
Pública Municipal; Lucimagda Aparecida de Lima é professora da Rede Pública Municipal; Mara Nogueira Porto é graduanda em Artes Plásticas/UFU e
estagiária da DICULT; Maria Beatriz Ramos é Técnica em Assuntos Culturais da Secretaria Municipal de Cultura da PMU; Pricilla Camargo é graduada
em Ciências Sociais/UFU, professora de Sociologia e funcionária do Núcleo da Juventude na Secretaria de Planejamento Participativo da PMU.
27
100
planejamento do seu trabalho, com o capitalismo, a força de trabalho desse indivíduo passa a ser vendida, sendo
apenas esta a maneira de garantia da sua sobrevivência. Um dos desdobramentos desta situação seria essa nova
caracterização das relações de trabalho, sendo um dos principais - senão o único - motivos a propiciar o surgimento
do antagonismo de classes: de um lado, os proprietários dos meios de produção; do outro, os trabalhadores
assalariados.
Junto com essa nova configuração social, veio a edificação gradativa e paulatina das primeiras cidades, que tinham
por características serem cidades industriais que se destinavam a produção de mercadorias. Isso acarretou um
grande êxodo rural, em que os indivíduos deixavam o campo à procura de trabalho nos conglomerados humanos
(CASTELS). A gradativa industrialização trouxe a urbanização e um ritmo muito dinâmico à própria vida cotidiana e
também às relações sociais estabelecidas.
Para o antropólogo Louis Wirth, as cidades são caracterizadas pela aglomeração de indivíduos socialmente heterogêneos e são produtos do crescimento, não é um processo de criação instantânea, não é apenas onde os indivíduos
têm o seu local de trabalho e moradia, mas é principalmente o centro controlador econômico, político e cultural,
pois quanto maior a densidade demográfica, maior será a heterogeneidade e as características desses centros
urbanos. Isso porque os contatos urbanos entre os cidadãos são segmentados, superficiais, para se afastarem de
exigências e expectativas dos outros indivíduos. Mas essa heterogeneidade tende a quebrar com estruturas sociais
rígidas, produzindo dessa forma uma crescente insegurança e instabilidade.
Todo esse preâmbulo fez-se necessário para situar as análises dos desenhos feitos por crianças e jovens da cidade,
especificamente, do Setor Leste, dentro de um processo histórico e social, do qual todos os que participaram são
pessoas que estão sujeitas às dinâmicas interações sociais cotidianas.
O diálogo com os desenhos se deu pela forma, linha, estrutura do desenho no espaço do papel, organização e
elaboração que pelas idéias resultaram em uma proposição de vida - os desejos de cada um e a soma de todos.
Através do traço, surgem nos desenhos a linguagem e a expressão de crianças e de adolescentes sobre um tema
envolvente, pois trata diretamente da vida de cada um e de suas expectativas e esperanças no futuro. Observamos
uma riqueza muito grande de informações e desejos, desde os primeiros anos, nos quais a garatuja já evidencia a
101
figura humana de diversas maneiras: sozinha, com um animal ou com outras pessoas.
Tiveram a oportunidade de se perguntar sobre o que gostariam de construir na cidade onde vivem, nos seus
espaços públicos que são espaços de convivência coletiva. Apareceram muitos pontos comuns nos desenhos: a
identificação em grande parte de espaços de lazer, praças, parques com escorregador, balanços, a roda e as brincadeiras decorrentes dela, crianças soltando pipas.
A presença de árvores bem diferentes quebram estereótipos, formas e linhas particulares, realçando a diversidade
da vegetação no nosso cerrado. Essa riqueza de traços, linhas, emaranhados e hachuras na construção das texturas
e também de telhados, casas e outros elementos nos encanta, e é prazeroso apreciá-las. Nesse aspecto, concluímos que a impossibilidade de estarem utilizando a cor no desenho favoreceu o enriquecimento da linha em todos
os seus aspectos.
Bancos nas praças e parques, com pessoas sentadas de costas para o apreciador do desenho, mostram a necessidade do convívio social, do encontro de forma prazerosa sugerindo até um certo romantismo, uma certa nostalgia,
pois sabemos que é possível resgatar alguns valores, mas dentro de outro contexto, o atual.
Na cidade e nos prédios, o traçado é tratado como uma vista aérea. Já as construções são colocadas no plano
bidimensional do papel, plano deitado axial28 , que é uma característica da faixa etária dos sete até mais ou
menos os doze anos. Outra característica, também, é a sobreposição de planos29 . Em alguns desenhos de
adolescentes, a partir dos treze anos, percebemos a tentativa de tratar a cidade através da perspectiva. Os
desenhos mostram caminhos, ruas, avenidas, enquanto situações reais de percursos no dia a dia, mas vemos
estes caminhos também enquanto possibilidades de busca de novas trajetórias para a cidade que tanto se quer
construir. A qualidade dos desenhos enfatiza essa imensa vontade interior das crianças que participaram e
investiram na proposta.
Os planos presentes no desenho mostram os diversos espaços existentes e desejados na cidade. O movimento,
o urbano se contrapondo à tranqüilidade da natureza. A atual presença de fábricas mostrando a poluição,
não presente no futuro.
28
29
MÉREDIEU, Florence de. O desenho infantil. Características do espaço infantil, p. 46-47.
Idem; p. 48-49.
102
Se as florestas não fossem destruídas
Teríamos um lugar de lazer...
... apenas um lugar de lazer.
Será que é pedir muito?. (Nairona, 15 anos)”.30
Os desenhos falam de maneira muito particular, muito própria, da angústia, da inquietação pelos problemas existentes no momento real, no hoje: a violência, a falta de escolas e de hospitais, a presença marcante de igrejas que
só vêm reforçar a religiosidade tão presente em nossa cultura, o que nos faz lembrar do processo de formação de
nossas comunidades que se iniciava pela construção de uma igreja, geralmente próxima a uma praça que servia de
ponto de encontro para a comunidade. Os desenhos confirmam como esta cultura está impregnada não só em
quem os produziu, mas também em nós, pois fazemos parte desta cidade. Tudo isso remete ao amanhã com a
reflexão sobre a paz. Como ela é almejada por essa geração!
Na maioria dos desenhos, houve a ocupação total do espaço do papel, tentando contemplar a maior quantidade de
elementos possíveis conforme o objetivo da criança e do adolescente a partir do tema proposto. Alguns dividiram
com um traço a folha na vertical ou na horizontal e alguns não fizeram essa divisão - escolheram a atualidade ou
desejo, o presente ou o futuro.
É fundamental esta experiência para as pessoas começarem a questionar o espaço em que vivem e como podem
estar interagindo no grupo, na sociedade, para efetivar mudanças que favorecerão ao bem estar comum, com
objetivos a médio e longo prazo. Portanto, essas ações culturais deverão estar acontecendo com maior freqüência,
não só utilizando a linguagem plástica visual, mas também interagindo com outras linguagens contemporâneas:
teatro, dança, música, cinema, vídeo, fotografia.
Rodrigo Faustino, 10 anos, Escola M. Gladsen Guerra, 3ª série, Praça Ferreira Goulart (Pág. 114).
O desenho mostra dois contextos bem diferentes, mas não deixa claro em qual a cidade onde vive ou qual gostaria
de construir. O nosso olhar vai de uma metade da página à outra, observando a construção do desenho. De um dos
lados, o esquerdo, Rodrigo desenha, na linha do papel, uma casa que tem uma fachada diferente das casas comuns
30
Nairona. Participante da Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado.
*O desenho de Rodrigo Faustino é do setor oeste, porém está analisado dentro do setor leste; e uma vez constatado, respeitamos o texto do grupo.
103
feitas por crianças e que são sempre muito parecidas. Ao lado da casa, algumas árvores.
Ainda deste lado, mais acima, há outras construções com postes de concreto para iluminação, uma cerca de arame.
Mais acima, uma quadra de futebol e no alto da página três carros, uma moto, outras construções.
Do outro lado, está desenhada uma grande árvore com tronco largo, bastantes galhos e nenhuma folha, ela ocupa
toda a metade do papel; no entanto, no canto direito, protegida pelos galhos da grande árvore, podemos observar uma
casa simples, aquela que, geralmente, é a mais comum, desenhada por quase todos, com uma porta, duas janelas
laterais e o telhado. Passa um sentimento de proteção e da importância que a árvore tem em nossas vidas, desde o ar
que respiramos até o alimento que nos fornece. Dela depende nossa sobrevivência, como se nos abrigasse. E, sobre
o telhado da casa que Rodrigo desenhou, lê-se a frase: casa de pobre isso que é a vida.
No entanto, em nenhum dos contextos aparece a figura humana ocupando esses espaços, vivendo e convivendo
neles. Podemos interpretar de várias maneiras a frase presente no desenho. Talvez essa criança seja feliz com os
seus 10 anos de idade brincando e aproveitando esta árvore próxima à sua casa e ela possa ser sua grande companheira. Esta criança pode não ter problemas familiares e financeiros sérios; portanto, não anseia o mundo material
retratado no lado esquerdo da página.
Consideramos muito significativo tanto o desenho, quanto a frase, porque sabemos que os bens de consumo são
necessários à nossa sobrevivência, principalmente, em um mundo globalizado e capitalista, mas também temos a
consciência de que eles não são tudo e podem, inclusive, provocar um vazio muito grande. Para esta criança ser feliz
é o bastante.
Não estão presentes, através deste desenho, preocupações como a maioria das outras crianças tiveram, em relação à
violência, escolas, hospitais, problemas sociais da atualidade.
Por fim, ficamos pensando e não encontramos uma resposta, pois geralmente a vida de rico é um sonho para a maioria
das pessoas. Então, pode ser também que Rodrigo conviva com pessoas desta outra classe social e perceba as
preocupações, a limitação e o controle que sofrem essas crianças e a liberdade que ele possui. Ou então, seus
familiares que trabalham nestes espaços devem observar que a vida deles é árdua. Mas todas essas colocações não
estão explícitas no desenho; são, sim, as diversas leituras que a imagem nos possibilita entrar não só dentro da
104
imagem, bem como imaginar a criança que a criou, em que contexto ela vive e o que a levou a priorizar esta situação.
Realmente é desafiador, mas essas leituras nos enriquecem muito, porque nos possibilitam conhecer um pensamento desta criança que foi expresso através de um desenho.
Tatiana de Souza, 11 anos, Escola Municipal Milton de Magalhães Porto, Praça do Centenário.
31
No desenho de Tatiana , o espaço do papel é dividido em duas partes. De um lado é representada “a cidade de hoje”
e do outro, a cidade imaginada e desejada, sem poluição.
A “cidade de hoje” contém elementos de um grande centro urbano: edifícios, hospitais, indústrias e trânsito de
pessoas e veículos. A sensação de movimento, de tráfego intenso, é expressa pela forma como representa as
pessoas e os veículos se deslocando em várias direções. A fumaça que sai da chaminé da indústria e a presença de
uma única árvore em meio ao ambiente urbano são soluções encontradas para representar a poluição.
Tatiana revela uma preocupação em representar a realidade através de pormenores, como se pode perceber no desenho
da indústria, em que, através da porta levantada, é possível visualizar detalhes do seu interior, como a esteira e as
máquinas. A árvore é representada de forma bem cuidadosa e particular, as folhas desenhadas, uma a uma.
A cidade idealizada por Tatiana agrega em si duas realidades opostas: de um lado o espaço urbano constituído por
edifícios e casas; do outro, uma paisagem natural, onde a cachoeira, o rio, as árvores e os animais formam um
cenário paradisíaco. Um detalhe interessante que se pode perceber no desenho é a presença da cerca, separando a
natureza do espaço cultural e urbanizado, como se este representasse uma ameaça à natureza. Mesmo idealizando
a sua cidade, ela demonstra estar bem ciente dos problemas advindos do desenvolvimento e da dita “civilização”.
31
O desenho de Tatiana não consta nesta edição.
105
Larissa J. C. Pereira, 05 anos, Escola Arca de Nóe e Bianca J. C. Pereira, 07 anos, E. E. José Zacarias
Junqueira, Parque do Sabiá (Págs. 115 e 116).
Podemos perceber que o desenho de Larissa está ligado à questão da fé e religião, não importando qual
seja, mas levando em conta o fato de questionar e de se sentir protegida por uma força maior e soberana
que norteia seus caminhos, através da conquista de paz, sendo transmitidas com linhas seguras e que
demonstram certeza em um futuro melhor e abençoado.
No alto da folha, Larissa coloca nas nuvens duas formas que interpretamos como sendo as mãos de
Deus, reafirmadas pela frase que escreveu logo abaixo: Deus abençoe a cidade . Larissa com seus cinco
anos faz um desenho alegre com um avião passando no céu mostrando os passageiros, árvore com
flores, casa, escola, uma criança balançando, outra próxima a casa, a igreja.
Coincidentemente, observamos que Larissa e Bianca são irmãs e que são grandes as semelhanças nos
seus desenhos, a mesma igreja, a escola, a mesma frase, mas o que nos encantou no desenho de Bianca
foi a roda com as crianças, um resgate às brincadeiras infantis, que já foi tema de pinturas para artistas
como Portinari, Milton Dacosta, Pieter Bruegel, naifs e outros, cada um a seu tempo e a seu modo.
Gabriel Moraes Borges, 18 anos, Escola Visão, Praça Senador Camilo Chaves (Pág. 117).
É muito significativo o desenho de Gabriel e essa diferença faz com que tentemos analisá-lo ou entendêlo melhor através de um olhar especial e um diálogo com a imagem. O primeiro fato que chama a atenção
são as placas nos lotes vazios da cidade que, atualmente, não têm muitas construções, mostrando oito
quadras com as edificações de uma igreja, um hospital, uma escola municipal, alguns prédios e casas.
Ao passo que nas placas podemos ler “Em obras”, “Breve Shopping”, “Breve uma Escola”, “Breve Poli Esportivo”,
Breve Zoológico”, “Breve Praça”, Breve Farmácia Povão”, “Breve Creche”, “Breve Biblioteca”, enquanto observávamos o desenho, esses “Breves” ficaram ecoando em nossas cabeças. Qual o sentido para que ele repetisse
tanto essa palavra? Será que realmente tudo fica para breve e nada se concretiza? Ou será que a cidade está em
um constante processo de crescimento e que estamos sempre vendo placas se referindo a novas obras?
106
Percebemos, em linhas gerais, que tanto as crianças, quanto os jovens, não importando a faixa etária,
têm uma noção de espaço urbano que, muitas vezes, em seus desenhos, foram ligadas diretamente à
questão da violência, mas nos desenhos e linhas estabelecidas pelos jovens há um traço bem marcante:
não se sentem distantes dessa realidade, mas capazes de questioná-la à sua maneira.
O que fica claro neste processo de análise é a questão da percepção dos problemas sociais que mais os
afetam diretamente, colocando em cada linha a expectativa de transformação e melhoria da realidade,
através de seus desenhos que falam com clareza de promessas políticas e da falta de comprometimento
com a população pelo poder público em geral.
Fausto Lopes Neto, 10 anos, Escola Municipal Professor Domingos Pimentel, Praça Américo Ferreira
(Pág. 118).
O desenho de Fausto surpreendeu-nos e foi unânime a escolha deste desenho para ser analisado, pela
simplicidade da imagem e ao mesmo tempo pela complexidade que esta imagem nos remete. Simplicidade por não ter uma variedade de elementos como outros desenhos observados pelo grupo.
Fausto desenha um coqueiro em primeiro plano e utiliza traços diferenciados para representar a grama
com uma riqueza de linhas que nos dá a sensação de textura e perspectiva em um segundo plano. No
terceiro plano, coloca duas crianças sentadas em um banco. Ele consegue uma harmonia fabulosa neste
desenho, utilizando todo o papel, distribuindo os elementos de forma que o desenho fique equilibrado.
Muitas crianças nesta idade não conseguem utilizar todo o papel para uma composição tão harmoniosa,
acreditamos que algumas crianças têm preguiça ou não foram estimuladas ou não dão importância em
distribuir os elementos de uma forma que fique agradável para atrair olhares. Neste caso, um menino de
10 anos teve a preocupação não só de distribuir esses elementos, mas, também, de colocá-los em perspectiva. É um rico desenho de observação. Não sabemos se o garoto desenha regularmente ou faz aulas
de desenho.
Fausto nos chama atenção quando coloca, no canto do banco, duas crianças sentadas, uma branca e
107
outra negra - será que a outra é negra mesmo? Talvez quisesse, com suas hachuras, diferenciar as
crianças com o efeito do claro e o escuro, que chamamos de luz e sombra.
Quando falamos da complexidade que este desenho nos remete é pelo fato de nos sugerir a sensação
de tranqüilidade, de leveza e, acima de tudo amizade, companheirismo e cumplicidade. Imaginamos
que as crianças representadas estejam compartilhando um mesmo problema, angústias ou inventando estórias e brincadeiras.
Tomando como referência o tema dos desenhos-desenhados, “A cidade em que você vive e a
cidade que gostaria de construir”, Fausto não dividiu o papel como muitas crianças o fizeram,
resumiu tudo isso em uma só imagem, esta que nos faz refletir sobre duas crianças cúmplices em
seus desejos, suas ansiedades e seus prazeres. É como se Fausto desenhasse a si mesmo, pensando
em que tipo de cidade ele gostaria de construir e nos traduzindo este pensamento de forma clara
e simples: uma cidade que tenha o cheiro da liberdade, as formas da natureza e a amizade como
sendo o eixo da vida.
Thiago Paiva, 9 anos, Escola Estadual Presidente Juscelino Kubischek, Praça Santos Dumont (Pág. 119).
Thiago de Paiva divide o papel ao meio para representar “A cidade em que vive e que gostaria de
construir”: do lado esquerdo representa, a cidade, ou melhor, o bairro em que ele vive. Thiago desenha uma rua contínua e, ao redor, dois prédios e uma casa com uma chaminé em cima do telhado. Os
prédios estão de um lado e a casa do outro lado do viaduto, no centro da rua existe uma casa,
solitária, mas rica de significados, porque a vida daquele lugar passa ao seu redor.
É muito interessante a forma como representa o viaduto, tentando desenhá-lo em perspectiva com um
carro passando por baixo do viaduto. Nessa idade, as crianças começam a sentir a necessidade de
representar os objetos em perspectiva, porque elas a percebem nos objetos e querem representá-la da
mesma maneira que estão vendo o objeto real. Surgem, então, vários conflitos de não saber desenhar e,
a partir dessa idade, muitas crianças param de desenhar. 32
108
No desenho do lado direito, “A cidade que gostaria de construir”, Thiago deixa apenas um prédio, eliminando uma casa e o outro prédio. A casa do centro da rua virou um castelo e agora não é mais uma rua,
são duas, sobrepostas e circulares que, no imaginário infantil, pode nos lembrar uma pista de autorama.
Um fato interessante é que existe uma avenida, cheia de curvas e comprida, que dá acesso ao bairro e
bem próxima está a Estação Ferroviária. Thiago, com toda sua imaginação, deixa clara essa percepção do
local e do espaço em que vive e transfere isso para o desenho.
Gostaria de ganhar como prêmio uma bicicleta , Thiago deixa essa frase escrita no verso do desenho e
nos faz refletir. Será que as crianças desenharam pensando que iriam ganhar algum tipo de prêmio? O
ato de desenhar por ele mesmo não é gratificante? As pessoas precisam sempre de um motivo para
registrar seus anseios no papel? Ou ainda, estão acostumadas a solicitações e a premiações?
Ivan Costa Júnior, 10 anos, Escola Municipal Luís Rocha e Silva, Parque do Sabiá (Pág. 120).
Usando uma linha vertical, Ivan separa o papel em 2 partes: no lado esquerdo, a Uberlândia de hoje; no
lado direito, a Uberlândia do futuro.
O autor representa na Uberlândia de hoje, o desenho que parece ser a figura de um policial apoiando em
uma arma; no entanto, a figura do policial ficou explícita em uma alta porcentagem no número dos
desenhos. A presença da arma, do assalto, enfim, a falta de segurança no cotidiano, na cidade de hoje.
No lado direito, Ivan desenha um homem e traça uma linha horizontal dando forma a um cordão com
bandeirolas, que mostra a regionalidade, o popular. O desenho do cordão com bandeirolas mostra de
forma clara que Ivan cria um desejo de fortalecimento e resgate das festas regionais, uma Uberlândia
que valorize suas festas. Ele não cria uma Uberlândia com progresso tecnológico, prédios, outros...
O que nos faz cair na subjetividade de interpretação foi o desenho do policial do lado esquerdo e o
desenho do homem no lado direito. Analisamos ser a mesma pessoa que, na Uberlândia do futuro, não
haja necessidade do policial portando uma arma.
Analisando o desenho de Ivan, enquanto traços e estereótipos, ele consegue ter, nos traços e nas linhas,
32
MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho; a educação do educador. São Paulo: Loyola, 1983.
109
bandeirolas que são traçadas sem texturas de formas simplificadas.
O desenho do policial ou bandido e do homem na margem direita do papel não são desenhos estereotipados, como os “homenzinhos de pauzinhos”. Ele coloca botas, calças, blusas e cinto, numa tentativa de
captar a realidade que o cerca. O rosto de ambos é estereotipado, caindo nas linhas de dois pontinhos
para os olhos e uma linha para a boca. O rosto no desenho do homem do lado direito é mais destacado
do que qualquer elemento na representação de seu desenho. Não há presença de cabelos no policial. Já
no homem, há uma tentativa de traços, que remetem a fios de cabelo.
Thiago, 15 anos, Escola Municipal Hilda Leão Carneiro, Parque do Sabiá (Pág. 121).
Poucos filósofos, embora Platão seja um deles, consideravam a arte e a sociedade como conceitos inseparáveis - que a
sociedade, como entidade orgânica, viável, e é de certo modo dependente da arte como uma força aglutinadora e energizante.
Herbert Read
Em um determinado momento, uma das imagens que estavam ali, não na praça, mas, espalhadas sob a
mesa em que as reuniões da Equipe Azul aconteciam, chamou-me 33 a atenção.
Estabeleceu-se um diálogo visual entre “eu” e a imagem, pela identificação decorrente naquele
momento.
- Sabe! É como se a imagem falasse comigo:
- Oi!
- Psiu!....
- Estou aqui!
Então, o diálogo visual nasceu ali, mas o relacionamento continuou posteriormente e tive um imenso
prazer de trazê-la para minha residência. É como se naquele minuto ou segundos, nos tornássemos
amigas. Chegando em casa guardei a imagem, porque não tive tempo para continuar a conversa visual.
33
Nas reuniões de planejamento e de encaminhamentos a Equipe do Projeto definiu que o livro seria escrito na 1º pessoa do plural. No entanto,
na Equipe Azul, uma das pessoas registrou seu percurso na 1º pessoa do singular, o que foi respeitado pela Equipe Organizadora do Livro, na
tentativa de respeitar todas as posições das pessoas.
110
Não termina aí, numa terça feira, por volta de uma hora da manhã, perdi o sono, comecei a andar pelo
quarto. Sentei-me na cadeira e lembrei-me da minha amiga - a imagem - e começamos a conversar. O
quarto estava escuro, coloquei a imagem na parede e o meu olhar se dirigia a cada detalhe do papel.
Tiago se expressa plasticamente, estruturando a linha e construindo uma cidade, onde se percebe uma
divisão que evidencia duas realidades diferentes. Nessa perspectiva, o autor do desenho constrói uma
representação visual da forma de uma sociedade antes e depois, diferenciando-a através de um código,
na qual esse significa um pensamento no papel, que é percebido sob a relação de dois tempos, demonstrando um espaço temporal dentro de um espaço gráfico, trabalhando as totalidades diferenciadas.
O indivíduo e a sociedade são histórica e sistematicamente inseparáveis. A sociedade é composta por
indivíduos, que são únicos portadores, tal como também só é possível existirem dentro de uma sociedade. (HAUSER, A. 1973: 44).
O seu trabalho de expressão plástica revela-nos vivências do cotidiano que foram exploradas através
dos elementos visuais, revelando-nos maneiras de representar o espaço por suas diversas linhas que se
relacionam entre si, envolvendo aspectos importantes e preocupantes da sociedade.
Nesse desenho, Tiago faz a reivindicação de uma sociedade justa, com mais segurança, emprego e escola. Aborda, também, aspectos do relacionamento humano como amor, fraternidade, igualdade, ou seja,
aproveita a oportunidade para comunicar visualmente, através deste desenho, a necessidade de ser percebido e ouvido enquanto cidadão, porque normalmente as pessoas comuns não têm espaços de manifestação através da fala.
As imagens são representadas através das linhas que se entrelaçam como pinceladas, também são desenhadas, rígidas e leves, grossas e finas, retas e curvas, feitas individuais e perpassando coletivamente
as imagens verbais e não-verbais que se comunicam, se expressam e se relacionam com o olhar do
público, permitindo ao individual e ao coletivo leituras diferenciadas: Olhe, pare! Me perceba . A construção da cidade através dos desenhos desenhados.
111
Rodrigo, 10 anos, Escola Municipal Eugênio Pimentel Arantes, Parque do Sabiá (Pág. 122).
O desenho de Rodrigo representa duas realidades opostas: a cidade em que ele vive, onde sérios problemas sociais existem, como a violência e, por outro lado, uma cidade imaginária e desejada, onde as
pessoas vivem em paz, andam livremente pelas ruas e ainda desfrutam de um ambiente saudável e
arborizado.
Na parte posterior do desenho, em primeiro plano, uma cena de violência nos chama a atenção. Um
homem com capuz segura uma arma, enquanto no chão há uma pessoa morta. Da arma sai uma fumaça,
denunciando que o crime acabara de acontecer. O ambiente urbano é representado pela presença de um
grande edifício. Ao fundo, podemos observar uma outra cena (construída com formas bem pequenas,
para nos dar a sensação de profundidade), na qual dois homens derrubam muitas árvores. Assim, a
criança denuncia um outro problema da cidade, o desmatamento, a destruição de áreas verdes em nome
do progresso e do crescimento econômico.
Na parte inferior do papel, Rodrigo representa a cidade dos seus sonhos, na qual os prédios são substituídos por casas, a violência parece estar banida e a natureza preservada. Ao fundo, podemos observar
que a presença de uma prisão parece evidenciar que a segurança está mantida. Na rua, uma família
passeia tranqüilamente. É interessante observar como, através dos pormenores do desenho, a criança
nos descreve uma realidade. Na camiseta da figura que vemos como o pai, pela proximidade da figura
feminina de um lado e a figura de uma criança do outro, está escrita a palavra paz
paz. A mulher está
grávida, o que sugere que se pode viver em harmonia e que a possibilidade de se ter um filho é viável,
pois o mundo não constitui mais uma ameaça. Ao contrário, a cena familiar nos transmite uma idéia de
alegria e bem estar. A natureza preservada, simbolizada por uma grande quantidade de árvores e pela
presença dos animais, integra-se ao espaço urbano, construído pelo homem.
O desenho do que nos parece ser um aeroporto revela um aspecto interessante do pensamento de Rodrigo.
Ao refletir sobre os problemas da cidade, ele estabeleceu uma relação com a situação do próprio país.
Assim, ao apresentar uma cidade idealizada, livre da violência, arborizada e tranqüila é também um
Brasil diferente, com melhores condições de vida que vislumbra. Um país que, a exemplo dos EUA e do
112
Japão, atrairá turistas de todo o mundo.
Rodrigo demonstra ter uma percepção aguçada de seu papel de sujeito inserido no seu meio, ao mesmo
tempo local e universal e um desejo de transformá-lo, de torná-lo melhor, mais humano.
113
Rodrigo Faustino - 10 anos
114
Larissa J. C. Pereira - 5 anos
115
Bianca J. C. Pereira - 7 anos
116
Gabriel Moraes - 18 anos
117
Fausto Lopes Neto - 10 anos
118
Thiago de Paiva - 9 anos
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Ivan Costa Júnior - 10 anos
120
Thiago - 15 anos
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Rodrigo - 10 anos
122
Leituras e diálogos com imagens nos distritos:
Martinésia, Tapuirama, Cruzeiro dos Peixotos e Miraporanga
Leonardo Lacerda Gomes Reis, Lucimar Bello Pereira Frange, Olaia Alves Cruvinel34
E
ntendendo que ler imagens é perceber a visualidade; é um conhecer como se articulam seus elementos; que
discursos eles criam; quais as relações entre as experiências subjetivas e as objetivas presentes na imagem e os
inúmeros significados possíveis, realizamos um exercício de olhar e conversar com desenhos dos 4 distritos,
pensando-os com palavras, a partir das “falas” visíveis e lesíveis35 . Estamos trabalhando as conversas como atos
de percepção de um texto visual, na qual este se altera pela ação do leitor, abrindo-se a uma pluralidade de
significados. A idéia de um sentido único do texto, o mito da interpretação literal é um dispositivo de dominação.
O sentido é índice e resultante de um poder social, de uma elite, uma lei que legitima como ‘literal’ a interpretação
dada por profissionais ‘socialmente’ autorizados e intelectuais36 . As nossas conversas são, portanto, maneiras de
nos expormos enquanto vedores dos desenhos da cidade em que se vive e da busca de uma cidade com melhores
rumos, investindo na educação e na inclusão social, no desenvolvimento humano e em cidadãos éticos e críticos,
na diversidade e na riqueza étnico-cultural, enquanto bens simbólicos pessoais, de comunidades e de uma sociedade. Vedor é aquela pessoa que se debruça para um ver aprofundado, um ver em busca das significações.
Conhecer o discurso visual presente no texto imagético é encontrar a articulação entre os elementos icônicos, ou não,
e os planos de expressão e de conteúdo37 . A expressão, texto imagético, refere-se a um desenho considerado como
texto visual que contém e detém um percurso sócio-cultural pessoal e coletivo e, ao mesmo tempo, um percurso de
situações, ou seja, situacional de um momento e de um contexto visivos no desenho. Elemento icônico quer dizer
elementos que nos remetem a ícones, formas sintéticas que nos permitem reconhecer nelas figuras do mundo natural
34
Leonardo Lacerda Gomes Reis é estudante de Artes Plásticas na Universidade Federal de Uberlândia, estagiário na Diretoria de Culturas, na PROEX/UFU;
Lucimar Bello P. Frange, artista plástica e arte-educadora, Diretora de Culturas da PROEX/UFU; Olaia Alves Cruvinel é graduanda em Artes Plásticas UFU.
35
Visíveis e lesíveis quer dizer as imagens que se fazem ver e se fazem ser lidas, pressupondo portanto, tanto um leitor quanto o objeto da leitura
- os desenhos-desenhados - a serem ressignificados enquanto vozes humanas.
36
Michel de Certeau apud PALLAMIN, Vera M. Arte urbana. São Paulo: região central (1945-1988). Obras de caráter temporário e permanente. São
Paulo, Anna Blume/FAPESP, 2000, p. 40-1.
37
Plano de expressão e plano de conteúdo são tanto as estruturas que se podem ver, quanto o que essa estruturação, pela sua maneira de ser, nos
mostra uma pessoa e suas vozes, quer num discurso verbal, visual ou múltiplo. São as formas, os espaços, os tempos, as cores, as matérias e o
que elas nos “dizem” e o que nos “contam”.
123
e do mundo da natureza, por exemplo, os ícones “casa” e “árvore”.
O texto imagético é um conjunto de significantes que contém, nas relações de oposição entre os seus elementos
constitutivos, nos jogos entre cores, formas e posições no espaço e no tempo, as evidências de significação,
inscritas nas qualidades visíveis e sensíveis, as quais podem ser lidas por exercícios ao se tornarem,
concomitantemente, visíveis, lesíveis e compreensíveis.
A leitura implica a abrangência de uma leitura intra e intertextuais38 para que se expanda o campo de sentido do
ato de ler; é uma abordagem da visualidade inserida numa rede de significações, pressupõe percepção, interpretação, e re-escrita do objeto de leitura. Esta é um ato, é espaço de encontro entre um desinstalar e voltar a instalar
uma outra realidade. Entrar na obra de arte, segundo Maria Cristina Rizzi, é fazer um passeio pelo outro, voltar a
você, transformado. Nossas conversas com os desenhos estão nas inter-relações entre os pensares, as escolhas,
os desdobramentos e as sínteses agrupadas pela escrita, tanto dos desenhadores, quanto dos oficineiros-colaboradores, bem como dos gestores e coordenadores do Projeto. A relação é: a cidade, a imagem e os sujeitos/pessoas
e as pessoas/sujeitos & a imagem e a cidade; portanto, jogos dialógicos39 entre pessoas, cidades e espaços coletivos e entre as comunidades e a universidade e, simultaneamente, entre a universidade e as comunidades dos
distritos, Tapuirama, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos e Miraporanga (no caso específico deste texto).
Estamos considerando, neste projeto de pesquisa, ensino e extensão, que todo ser humano é um texto tecido no
sócio-cultural, um tecido estético, estésico40 , ético e propositor de uma cidade que se quer construir, quer dizer,
uma cidade-em-vivência, sócio, político e culturalmente com a qualidade e o prazer da vida coletivizada. A linguagem que se manifesta nas palavras e nas imagens é um sistema de relações e de inter-relações a serem reoperadas pelas pessoas que queiram e se disponham a “entrar” ou “sair” da imagem (apenas aparentemente recortada de possíveis “realidades”). Este exercício torna-se, portanto, uma experiência a ser discutida e compartilhada
com as pessoas que queiram ler as nossas idéias sobre as imagens falantes de uma cidade atual e de uma cidade a
ser construída coletivamente, a cidade do sonho e do imaginário social fundada no cotidiano ético e estético,
político e plurissocial.
38
A leitura intra e intertextual dá-se tanto no texto verbal, quanto no visual e nas suas relações com outros textos da mesma pessoa ou de
outras pessoas. A leitura é um sistema de relações.
39
Jogos dialógicos são análises de opostos complementares, ou seja, de partes constituintes, de fala e escuta da imagem do desenhador para o
leitor e dos leitores para as imagens (pois estamos trabalhando, sempre, no coletivo).
40
Estésico é um termo que vem da estesia, é o afloramento e o aguçamento dos sentidos enquanto percepção e compreensão significativa (é o
contrário de anestesia, à qual temos sido submetidos e temos, muitas vezes, nos acomodado).
124
Os registros gráficos produzidos pela oficina, 2643 desenhos e 10 outdoors, são uma forma de se constituir e
construir um tecido social e humano que a todos pertence e que, por conseguinte, deve ser partilhado e cuidado
individualmente e por todos, coletivamente. Além de pensarmos a cidade e os distritos, tentamos uma maior
percepção do espaço da cidade como um espaço habitacional e de trocas culturais e sócio-políticas, bem como
uma maior percepção dos recursos naturais do município e dos bens simbólicos da humanidade por nós partilhados nesta Cidade Cerradiana de Minas.
A partir destas considerações, convidamos para uma entrada em alguns desenhos nos quais entramos pelos distritos (embora em síntese).
Distrito de Tapuirama
Começou a se formar em 1919, às margens do Ribeirão Rocinha (nome de uma pequena plantação). Tem uma
população entre urbano e rural. No seu início, os moradores levantaram um cruzeiro. No primeiro domingo de cada
mês, rezavam o terço. Posteriormente (1933), construíram a Igreja de N. Sra. Da Abadia, com arrecadação de leilões
e de rifas. Em 1894, foi aberta a primeira casa comercial, uma loja de tecidos, e, no ano seguinte, a primeira escola.
Rocinha passou a ser Tapuirama em 1943. Logo depois, o distrito foi instalado, em 1944. Em 1950, passou a ter
energia elétrica, em 1952, a rede telefônica. Dentre os desenhos-desenhados o maior número deles quer uma
cidade com equipamentos citadinos: ênfase no hospital (a ser construído), melhorias no trânsito, espaços de lazer
(o tempo dos encontros, das conversas e das trocas simbólicas e sócio-culturais), padaria. Um dos desenhos
enfatiza o rural, é quase “retrato” dos lugares de Tapuirama. Seria tanto a cidade em que se vive, quanto a cidade
que se quer preservar? Ou seria a afirmação da associação viver-construir enquanto “bom lugar” no qual se vive? Em
muitos desenhos, o rio com peixes se faz presente. São farturas. Estariam os desenhadores evocando a presença do
Ribeirão Rocinha? Dizendo de águas poluídas? Com muitos peixes? Ou ainda, pedindo ou afirmando os PesquePagues (as “modas” de hoje), não só nos espaços rurais, mas também nos urbanos?
No entanto, um grande número de desenhos mostra imagens que, de imediato, não nos possibilitam “reconhecer”
125
a cidade na qual se vive e a que se quer construir. Seriam desenhos que, de certa forma, não construíram a proposta?
Ou estão re-afirmando vontades-desenhantes, linhas-marcos-marcas pessoais e sociais sobre os papéis brancos,
virgens de gestos e de gestualidades? Estas linhas-pretas-pessoas são registros de humanidades a serem lidas e
apreendidas por nós, propositores e vedores, enquanto continuidades de conversas para compreendermos as imagens, suas vozes e suas indagações dialogais.
Desenho de Ednilton Barbosa,
Barbosa 17 anos (pág. 145). O desenho é feito na vertical. A estrutura é geométrica, quase
rígida, ruas verticais, ruas horizontais, casas na parte inferior. As verticais são pistas duplas, as horizontais são
diferentes, a linha tracejada não está entre duas linhas como nas pistas duplas, mas no centro do retângulo, cuja parte
inferior contém uma casa. O desenho tem ritmo marcado, uma casa ocupando espaço na base inferior e mais para a
esquerda; um espaço superior vazio e o quadrado ou retângulo ladeado nas laterais pelas pistas duplas. É visível uma
relação entre espaço ocupado e espaço não-ocupado, queremos dizer uma complementaridade entre opostos que
dialogam, tal qual nas cidades contemporâneas, em que todas as situações, os tempos e os espaços são ambíguos:
lugares de paz e de violências, mansões e casas-caixas de morar, carroças e carros de último design, corpos andantes
e corpos desfigurados ...
Entretanto, na aparente rigidez estrutural do desenho, existem duas casas à esquerda, desenhadas na vertical. O ritmo
tem uma constância mas, da metade superior para cima, não existem mais casas. Estariam essas estruturas dizendo
sobre possíveis quarteirões, com uma densidade programada e “obedecida” de habitação? Uma casa, um espaço,
outra casa, outro espaço, e assim por diante. Dialogam espaços habitacionais e espaços des-habitados. Seriam
conjuntos residenciais com espaços para jardins e quintais? Espaços vazios para o dito “tempo ócio” e um pedidodesenhante para o tempo do prazer, do lazer, da criação, da invenção? A sucessão de casas reafirma uma cidade sem
vegetação, um distrito (?) a se estruturar enquanto quadras, todavia mantendo espaços citadinos vazios. Seriam
espaços de encontros? Espaços para as dimensões humanas tão fragilizadas nas cidades atuais? Seriam esses espaços apenas aparentemente “vazios”, solicitações e proposições para o tempo livre, o tempo denominado como ócio
em contraponto ao tempo trabalho? Ou seria essa cidade que se repete sem se inventar? Ou ainda, uma cidade rígida,
126
fria, mas contendo, nessa rigidez, um conceito de cidade contemporânea (a maneira como a especulação imobiliária
vem atuando). Agrupamentos de casas pequenas, conjuntos chamados de “habitacionais”, programados quase sem a
possibilidade de uma casa inventiva, des-pessoalidades. Referimo-nos às casas “programadas”, muitas vezes, caixas
de morar e não casas de pessoas com histórias de vida, afetos e relações étnico-culturais. Estaria este desenho
dizendo, ainda, da ambigüidade da condição humana?
Desenho de Viviane Marques
Marques, 23 anos (pág. 146). O desenho realizado na horizontal tem imagens e palavras. A
maioria das linhas sugere o uso de um instrumental que “garanta” a sua condição de linha reta. Seria uma régua ou
uma estrutura que a simule, como o próprio papelão de base do desenho (usado como régua)? As palavras nominam
e reafirmam o desenho: “Parques, Ruas, Avenidas, Hospital, Casas” e, entre elas, “Muita Paz”, numa posição de destaque entre as edificações, quase na linha de base (uma linha que sustenta visualmente o desenho no limite inferior do
papel). As casas estão desenhadas na base inferior e continuam além do papel, convocando para olhares externos.
Ruas e avenidas são linhas verticais, finas, as quais interligam as árvores, na parte superior, ao hospital e às casas, na
parte inferior. As palavras, embora estejam no plural, conversam com um desenho, apenas uma linha que, nela
contém essa pluralidade. No canto superior à esquerda, aparece a palavra “Parques”, no canto superior à direita, um
agrupamento de pequenas árvores, diferentes das três outras. O desenho é apenas aparentemente simples; a ordenação é pensada. Há um chamamento para os verdes (lidos pelas árvores) ao lado da urbanização, os quais são ocupantes da parte superior, e os equipamentos sociais estão na base inferior, sendo que o hospital tem dois andares (não é
um simples “postinho” de saúde como, muitas vezes, encontramos principalmente nas cidades menores ou nas vilas).
O desenho aparenta uma certa “paz”, dada sua simplificação; no entanto, trata-se de um simples-complexo, porque
um simples que contém uma essência de pensamento e uma condição desenhante do desenhador a solicitar, pelo
desenho, um equilíbrio e uma harmonia dialogais.
127
Desenho de Mariana Santos,
Santos 07 anos (pág. 147). O desenho, na horizontal, está numa folha toda ocupada tendo
no centro uma construção também horizontal, que pode ser dividida, apenas para análise, em três partes. Sugerem,
pela proximidade e paredes comuns, casas geminadas, ou não seriam assim? Se entendemos como sendo três
partes, a da esquerda, se mostra de frente e de lado, a central tem o telhado semelhamente à terceira, assim como
um muro-alpendre (tão comum nas cidades do interior, mas bastante restritos nos centros, ditos “urbanizados”). O
alpendre, geralmente é o local dos encontros, conversas, namoros. A porta na parte central permite-nos ver este
espaço dos estar-juntos. Há uma distância entre a porta - entrada da casa - e o muro-alpendre e a possível
calçada, antes da rua. Estão presentes, portanto, os espaços de passagem humana e das paisagens humanas
solicitadas. A parte central do desenho está circundada por uma rua que tem uma forma semelhante à letra “U”, em
cujo interior há uma forma arredondada, com igreja, bancos e árvores frutíferas. Esta forma em “U” se repete, uma
vez que contém a praça, a igreja, os bancos e as árvores. Parece que na parte superior está o distrito. Na segunda
repetição deste “U”, vemos a grande construção, inclusive com janelas encortinadas na parte superior. Fica, contudo, um questionamento: seriam três casas ou a mesma casa, vista de lugares diferentes? Estaria neste desenho, o
distrito bem ao alto e a cidade que se quer construir no restante do papel? Estaria a imagem nos chamando para
vermos as cidades em suas condições de caleidoscópios de inúmeros pontos de vista?
Na base inferior e lateral direita há uma rua larga com sinalização no centro e uma série de equipamentos citadinos.
As construções parecem estar de cabeça para baixo, não obstante, demonstram a visão de um passante que, ao
passar no centro, vê os dois lados. Neste sentido, o olhar do vedor é convocado para que olhe e entre no desenho,
por diferentes pontos de vista: frontal e de dentro para o lado inferior (se virarmos a página de cabeça para baixo,
temos a certeza deste ponto de vista). Está aí instalado um vedor dentro do desenho e não apenas um observador
reafirmando a consideração anterior. Na base inferior e lateral direita há uma rua larga com sinalização no centro e
uma série de equipamentos citadinos. Estão presentes, nos desenhos, as palavras Clube, Sorveteria, Açougue,
Sacolão (com “promoção maçã e uva”), Supermercado, Loja. Cinco pessoas estão presentes no Clube e duas no
Supermercado, ao lado dos caixas (locus de saída de um lugar de compras). Estas palavras reafirmam os desenhos
deste desenhador e suas particularidades, como a maçã, o cacho de uva, as carnes penduradas, os sorvetes nas
128
casquinhas, a loja e um espaço superior para, provavelmente, acolher um letreiro ou uma pintura que a denomine,
a diferencie e a individualize. As três casas têm muitas janelas e sugerem andares. O único edifício presente é de
porte médio, com cinco andares. Esta “arrumação” visual confirma os apelos feitos pelas palavras. O desenho nos
faz perguntar: estaria o distrito como um momento “congelado” numa fotografia emoldurada na parte superior?
Seria registro de memória viva, vivente e avivada, e a cidade que se quer estaria nessa grande dimensão de uma
casa, quase mãe, e as presenças arquitetônicas nos limites quase externos ao papel? Haveria ainda, uma alusão a
um jogo e aos tempos dos jogos entre o distrito e a cidade “grande”, simplicidade e complexidade? ...
Desenho de Iasmin Marques Terra Naves,
Naves 04 anos (pág. 148). “Cidade dos meus sonhos doces” é o título no
canto superior à direita. Se entramos no desenho pelas palavras, elas aparecem entre os raios do sol-gente, abaixo
de um volume amebóide, duplo, contendo palavras, provavelmente escritas por um adulto: “igualdade, fraternidade,
esperança, amor, paz, liberdade” (normalmente não escritas por uma criança de 04 anos, mas como a pesquisa no
presente Projeto se propõe a entrar apenas pelas imagens, não iremos conferir se realmente o verbal é de um adulto
ou não). A letra do título é diferente, é cursiva e as outras são em letra de forma, evidenciando uma possível imagem
feita por duas pessoas
pessoas. O desenho nos mostra um sol-gente grande a banhar, com seus raios, o restante da
imagem. Olhos estrábicos, com cílios em raios, nariz e boca quadriculados; uma casa no centro; 03 pessoas na
base; um caminho; um carro e nas laterais da casa, uma árvore-sorvete de cada lado. A da esquerda, tem cara,
antenas, é árvore-sorvete-falante: “Oi!”. A da direita, tem uma fruta e uma pasinha, portanto, sorvete prestes a ser
degustado como um dos “sonhos doces”. Entre as três pessoas com roupas femininas estão dois sorvetes e a do
meio tem um outro na mão esquerda. O telhado e a maçaneta da porta são sorvetes a reafirmarem o sabor e a delícia
dos sonhos doces - a cidade que se quer construir. A doçura está posta nas palavras-raios de um sol, na profusão
de sorvetes a ocuparem “papéis” dimensionados (cor, alegria e gula) - pessoa falante, árvores, fechadura, telhas. Na
base inferior à direita, está presente uma estrutura simplificada de um carro que, por seu tamanho em relação às
outras coisas, fica bastante secundário. Alguns sorvetes, como por exemplo as árvores, são maiores do que as
pessoas, outra reiteração da importância do “doce” a ser degustado, saboreado e vivido como cidade no cerrado,
129
que se quer construir com essa qualidade estésica, de sabor agradável. A passarela sugere cascas de sorvete ...
O espaço físico isolado do ambiente só existe na cabeça dos adultos para medi-lo, para vendê-lo, para guardá-lo.
Para as crianças existe o espaço-alegria, o espaço-medo, o espaço-proteção, o espaço-mistério, o espaço-descoberta, enfim, os espaços da liberdade ou da opressão41. O desenho de Iasmin tem essas dimensões e outras mais ...
Desenho de Rodrigo Ferreira,
Ferreira 8 anos (pág. 149). A folha de papel está dividida em duas partes. Embora o papel
esteja na horizontal, os desenhos são verticais pela divisão do espaço anterior. À esquerda, podemos entrar pelas
palavras World Trade Center, colocadas como título na parte central superior. São dois edifícios interligados por
uma seta com direção dupla. O desenho tem perspectiva (linhas que dão a sensação de profundidade), mostrando
as frentes e as laterais dos prédios de oito andares. O da esquerda tem, na parte superior, a palavra “Hotel” e o
desenho de cinco estrelas, o que o categoriza; não é um hotel qualquer, mas um dos mais “bem cotados”. Rodrigo,
pelo desenho, mostra-nos um saber contextualizado: sabe do acidente das torres gêmeas (reafirmadas pela seta
entre elas), que tivemos que “engolir” durante longo tempo (verdadeiro massacre de pessoas e de mídia massiva).
Em 11 de setembro, caíram as torres em Nova York; Desenhando e Construindo a Cidade foi uma ação realizada em
30 de setembro, mesmo mês e estávamos, na época, invadidos pelas imagens e fotos densamente trágicas em
nossas humanidades e fragilidades humanas. Rodrigo sabe que um cinco estrelas é a avaliação visual de “melhor
hotel”.
À direita, o espaço é dividido em duas partes: na superior, o nome, a idade, o distrito, o endereço completo do
desenhador; na parte inferior, a planta baixa de um hospital com cruz externa no topo desenhada com linhas
duplas, que lhe dão volume e valor. A base retangular é dividida em três partes, sendo a central um corredor. A
superior tem, por sua vez, três divisões: “dentista, UTI e CTI” e a inferior, “espera, sala 1, sala 2 e sala 3”, cujas
nominações demonstram um saber de interior hospitalar e suas unidades intensivas de tratamento. Trata-se,
assim, de um hospital bem equipado e da saúde, inclusive bucal (dentista). O desenho mostra-nos algumas associações: a cruz superior “de fora” remetendo aos ícones da igreja e da cruz vermelha. O espaço da saúde contém o
tempo da espera (sala assim denominada) até os máximos recursos para as terapias intensivas. Se retornamos ao
41
LIMA, Mayumi Souza. A cidade e a criança . São Paulo: Nobel, 1989, p. 75.
130
desenho em todo o papel, alguns jogos visuais e de pensamento podem se dar: as duas “torres” e a saúde; o
acidente e os cuidados médicos, a morte e a vida; o Rodrigo-pessoa-presença no desenho e os contextos de
setembro; a cidade “grande” (Nova York) e o distrito; a cidade em que se vive (que é detonada pelos humanos) e o
distrito pedindo um “certo” complexo hospitalar; os ícones existentes e ruídos (as “torres”) e o ícone do desejo
(o hospital).
Distrito de Martinésia
Moradores da fazenda dos Martins, origem de Martinópolis (cidade dos Martins), escolheram um festeiro responsável pela coleta de “esmolas” para a construção da igreja, construída no alto da colina em cujo entorno formou-se o
arraial que hoje tem a denominação de Martinésia. A capela chama-se S. João Batista de Martinópolis. Em 1917, foi
constituída uma sociedade com o objetivo de trabalhar para o desenvolvimento da região. O Distrito de Martinópolis
foi criado em 1927 e, em 1943, passou a ser chamado de Martinésia. Dentre os desenhos-desenhados, a maioria
propõe a reforma da igreja e da escola, melhorias no distrito e a preservação do cemitério. Os desenhos da cidade
que se quer construir mostram as solicitações de lazer (incluindo a discoteca), o curso de computação gráfica e a
presença da fábrica de doces, o que quer dizer emprego e geração de rendas, tempo-trabalho e garantia das
condições mínimas de sobrevivência numa sociedade capitalista.
131
Desenho de Gabriel Luíz, 17 anos (pág. 150). O desenho encontra-se dividido na vertical, mais ou menos no meio da
folha por uma linha sinuosa. As palavras “Antes” (do lado esquerdo da folha) e “Depois” (do lado direito da folha), demonstram
claramente o presente e o futuro próximo e seguem a proposição “Desenhando e Construindo a Cidade”.
Contudo, o que realmente intriga quando se passa algum tempo observando tal desenho é o fato de ele apresentar, no
momento descrito como “Antes”, uma imagem de um coreto muito bem cuidado que, apesar da idade, está novíssimo em
contraposição a um hospital (momento futuro), cheio de rachaduras e com um aspecto de velho e descuidado.
Talvez Gabriel não queira que se construa um hospital no lugar de um coreto que está ali enfeitando a praça e deixando tudo
muito mais bonito. Essa sensação em alguns momentos se mistura à idéia de que se tenha trocado o coreto em perfeito
estado por um hospital em condições péssimas (?) ... ou ainda a sensação de que não se dá valor nenhum à saúde e muito
valor à aparência da cidade. Hospital e saúde a serem cuidados.
Por outro lado, pode ficar a sensação de que são apenas imagens distintas de uma cidade sem nenhum calor humano, pois
ambas vagam no espaço do papel branco sem qualquer traço de presença humana. Mas cabe ainda perguntar se essas
ausências estariam contidas nos ícones coreto e hospital. O coreto é um lugar de festas, de alegrias, de prazeres. O hospital
é lugar de cura, de buscas de saúde, de bem-estar social e pessoal.
Desenho de Lúcio Antônio Alves , 5 anos (pág. 151). A folha é desenhada na horizontal e transforma-se em dois espaços
verticais. À esquerda, está a cidade-distrito: edificações, igreja, flor, árvores, casas e linhas onduladas contínuas indicando
ocupações entre a igreja e o restante do desenho. A igreja está solta na metade superior - o que lhe dá destaque e
importância - tem três divisões e três cruzes, sendo o corpo central, o maior. Lúcio mostra, pelo desenho, conhecer a Igreja
de Martinésia, que assim se estrutura arquitetonicamente. No desenho à direita, quase na mesma direção da igreja, é visível
um carrossel com crianças, o qual é superior, maior e mais alto (seria mais importante enquanto necessidade e desejo?).
Quase o restante do espaço é vazio (desse segundo desenho). Linhas curvas convexas na parte inferior não indicam, de
imediato, um determinado ícone, somente uma força-base, linha ondulante e “pululante”. É movimento, mas seria o movimento de corpo que brinca ou um corpo em saltos? Isto acaba elevando o carrossel, em sua ascensão, como o bem maior da
cidade que se quer construir. O lazer, o brinquedo e a brincadeira ficam, dessa forma, afirmados como valor sentido, perce-
132
bido e desejado, enquanto momento posterior ao momento atual, cujos momentos dialogam, enfatizando o brinquedo, a
brincadeira - os atos de brincar.
Desenho de Bruna A. S. Dias,
Dias 8 anos (pág. 152). O desenho é realizado na horizontal e a folha dividida por uma linha
vertical. A temática do desenho é a Igreja de Martinésia e seus estados: descuidada e cuidada, abandonada e restaurada. Com
linhas finas e linhas superpostas até criar uma massa de tons pretos, os vidros mostram-se quebrados no primeiro desenho,
e inteiros, no segundo. As paredes, no desenho da esquerda, estão tortas, fora de prumo. A porta, com linhas que aparentam
trincas e rachaduras; a escada, com fendas. No segundo desenho, Bruna propõe a restauração da Igreja. Os dois desenhos
mostram-nos o estado em que se encontra e o estado em que se quer para a Igreja; a religião como importância. Estariam
esses desenhos, de temática única, afirmando a religiosidade como um valor maior no distrito? Seria esse lugar, o ponto de
encontro entre as pessoas de Martinésia? Por que Bruna, Desenhando e Construindo a Cidade, a partir da cidade em que se vive
e que se quer construir, desenha somente a Igreja, de tamanho “quase gigante” em relação aos espaços do papel? E ainda,
duplamente? Estaria a restauração posta como a temática mais importante? Na ocasião, pessoas da Secretaria Municipal de
Administração dos Distritos faziam discussões sobre o restauro da Igreja, o que evidencia o valor trabalhado, assumido e
mostrado pela desenhadora, Bruna.
Desenho de Marcos Paulo da Costa, 11 anos (pág. 153). O desenho é feito na horizontal, ocupando a folha nesse
sentido. Se dividirmos o espaço desenhado em três partes, temos nas duas primeiras, parte superior e centro, uma grande
árvore com galhos grossos e copa que se abrem para o exterior do papel, mostrando que esta árvore continua além do limite
que a contém. De tão grande, vaza essa superfície branca. Na primeira metade inferior, estão, em planos diferentes, um banco
e duas figuras “quase humanas”, “gente-bicho”, “bicho-gente”: uma no centro com balão (como nos desenhos animados):
“vou ver se consigo dormir”. Esse som é pensamento, dado por duas linhas interrompidas entre o balão e a cabeça, cujos
olhos olham para cima. Seria para a árvore? Seria um olhar indagativo? Ou seria para o próprio pensamento, a afirmá-lo,
reafirmá- lo ou negá-lo? Seria um ato de perguntar para nós, os vedores?
Os limites desse rosto-cara são irregulares e, muitas vezes, ponteagudos, criando um efeito de instabilidade e de dinamicidade
133
e não de um rosto em descanso. O corpo é uma base fechada, com duas linhas internas, como alças. Seriam braços
fechados e ao longo do corpo? Enquanto na cabeça há uma dinamicidade dada pelas linhas “inquietas”, o corpo é fechado
e estático. Ao lado, há uma figura, que pode ser do sexo masculino (de calças curtas ou bermudas), mas também feminina
(pelo uso, também, das bermudas). Quatro pernas, quatro braços, quatro cabeças. O corpo é uno: duas pernas saem de
cada uma das bases da calça-bermuda (?), pois é curta. Os braços saem do corpo (dois de cada lado), com os dedos
definidos. As caras têm olhos, boca, nariz, pescoço alongado (principalmente o das duas laterais). Estaria este corpo
dançando? Se movimentando? Protestando na cidade em que se quer construir? Seria um corpo-pessoa diferente da outra?
Que indica querer dormir? Física, emocional e internamente inquieta? Seria uma pessoa com vontade de se inventar enquanto autora de sua vida? Desejos de um adolescente? Ou seria um desenho de vontade desenhante sem a preocupação
com o tema?
Seriam as duas pessoas dois sujeitos antagônicos? Ou a mesma pessoa em momentos diferentes ou ainda, afirmações de
um mesmo tempo? Um quer “calma”, outro quer movimento. Um aclama, outro incomoda? Seria um desconforto a solicitar
tranqüilidade? Se a proposta dada foi a cidade em que se vive e a cidade que se quer construir, e Marcos responde pelo
verbal “vou ver se consigo dormir”, há instalado nesse desenho, um desejo, uma vontade que depende de outras pessoas
e de outras situações. A natureza estaria afirmada pela potência da árvore em seu tamanho e centralidade. A fragilidade
humana estaria nesse desconforto? São perguntas que a imagem nos coloca pelas suas inter-relações. Ver a cidade é
sentí-la, denunciá-la para que se possa anunciar uma cidade outra, que se quer construir. A “cidade” de Marcos é um locus
dos sentimentos e da voz sentida, percebida, vivida e a nós mostrada. É “cidade” sentimento e sensações, um pedido de
lazer. Seria um pedido, também, do brinquedo teatral, no qual máscaras, pernas, braços podem ser “representação” de uma
cena? A roupa, por sua vez, possui um cordão que não é comum em roupas diárias. Seria roupa de um possível personagem?
Desenho de Angélica Rocha de Paula, sem o registro de idade (pág. 154). Combinamos no grande grupo que não
conversaríamos com imagens sem a idade das pessoas. Escolhemos e realizamos grande parte do trabalho desligados da
idade porque a entrada e ênfase foram sempre pela imagem. Ao verificarmos a falta deste dado, resolvemos considerar a
134
imagem pela importância da análise dos discursos visuais em seu conjunto.
Desenho feito na horizontal, em duas partes. O tema é a praça: à esquerda, ela nos é mostrada abandonada: banco
quebrado, lixo, árvores com poucas folhas, linhas indefinidas; a cruz, quase no centro, tem uma base circular e há um
volume à esquerda, grande, sugerindo uma forma pesada, de estrutura geométrica (quase a sair do papel no canto esquerdo). A verticalidade, nos dois desenhos em que está dividida a folha, fica reafirmada pelas cruzes e pelos elementos do
desenho enfatizados na vertical. À esquerda, uma árvore tem copa, outra, à direita, tem galhos isolados e pouquíssimas
folhas. Todo esse conjunto, em comparação com o outro lado, sugere um abandono e descaso no primeiro desenho e, um
cuidado e “bons tempos” no segundo desenho. O desenho da direita tem vegetação exuberante na base com flores; a praça
é coberta de flores lado a lado, densamente agrupadas. As árvores têm muitas folhas e a copa em linhas duplas que
reafirmam a densidade arbórea. A cruz é preenchida com traços em hachura (linhas tramadas e superpostas), tornando-se
a parte mais preta do desenho. Continuam na base dela as formas semelhantes à anterior, volumes em círculo sugerindo
um canteiro. O espaço do papel, no desenho da cidade que se quer construir, é mais habitado por linhas desenhantes e
mais definidas que o desenho do tempo anterior, o atual, afirmando a necessidade de atenções à praça. Na parte superior
dessa “segunda” praça (porque, pelas marcas do desenhador é a mesma, só mudam os momentos), vemos um banco
inteiro, com flores nas laterais e um volume arredondado criando espaço para os ecos dados por traços grandes e curtos,
que sugerem um pôr-de-sol e sons de notas musicais superpostas por dois pássaros que têm os bicos sobre um coração
que os une. Esses pássaros mostram as asas e os rabos em posição de levitação. Seria um pôr-de-sol amoroso, poente em
praça restaurada? A segunda parte do desenho, ou o segundo desenho, embora tenha peixe, árvores, corações, continuaria
sendo tensiva, assustadora? Estariam sendo mostrados conflitos de sentimentos, até mesmo quando se “fala” de música
e de natureza?
135
Cruzeiro dos Peixotos
Em 1905, uma das famílias residentes no local erigiu um cruzeiro, onde hoje está a matriz de Santo Antônio. Ao pé do cruzeiro,
sepultavam-se as crianças nati-mortas, os “anjinhos”.
Em 1915, foi fundada a Escola Rural e o primeiro armazém, em 1918. Posteriormente, em 1930 e 1940, o açougue, uma fábrica
de doce, manteiga e queijo e uma beneficiadora de arroz.
Os desenhos-desenhados propõem, em percentual bastante acentuado, melhorias na cidade e na escola, urbanização e equipamentos sociais e culturais: parquinho de diversões, teatro, cinema.
Desenho de Edna Ferreira
Ferreira, 58 anos (pág. 155). Edna teve seu desenho escolhido, uma vez que a praça é espaço público,
espaço de encontros e lutas (principalmente, políticas). E aceitamos como desenhadores todas as pessoas que quiseram e nos
pediram ou aceitaram os materiais por nós propostos.
O desenho em questão encontra-se dividido mais ou menos ao meio da folha por uma linha sinuosa. Seria insegurança de se
fazer uma linha reta? Ou seria uma linha que não se propõe a instalar uma rigidez? Uma linha de dinamicidade, sem cortes
drásticos, ou linha gesto-movimento dinâmico e rítmico?
A divisão do tempo é feita através das frases “Cruzeiro hoje” e “Cruzeiro que eu quero”, demonstrando que há uma adequação à
temática do projeto quanto a reafirmação dos períodos (tempos) em que se encontra a “cidade”, na qual se vive e a que se quer
construir.
A maior solicitação do desenho é a urbanização do distrito. Urbanização como melhorias na cidade, que passaria a contar com
um número de serviços “coisas” dos “centros grandes”: prédios altos, shoppings e tudo de mais moderno em consumismo e
diversão, que geram empregos (solicitação constante nos desenhos dos distritos).
Na segunda parte do desenho, as pessoas se tornam presenças ao percebermos grupos indo trabalhar na “Indústria de Calçados”, ou ainda, o “Grupo de Cantores” que canta no meio da rua e as pessoas no clube. Elas dão um calor humano na parte direita
do desenho. Calor de alguns grupos no momento futuro: pessoas que jogam futebol, pessoas na porta da fábrica e os cantadores.
O grupo de cantores, em especial, apresenta um movimento que chama muito a atenção, talvez por causa das notas musicais
136
que levam o grupo pelo caminho afora, grupo esse que canta no meio da rua e que traz alegria à cidade. Há, também, um
destaque especial para a proporção das pessoas em relação às casas e aos carros, as pessoas são maiores que os objetos.
Contudo, é diante da “Indústria de Calçados” que isso fica mais evidente, pois ela é a única que se mostra maior que as pessoas.
Os carros (que carregam as pessoas), no desenho, são menores do que os humanos. Isso nos mostra que talvez haja, realmente,
uma necessidade de mais empregos no distrito, ficando em equilíbrio com a humanização, ambos muito marcados e visivos
neste desenho.
Tanto no primeiro desenho quanto no segundo, o lugar é o mesmo, a mesma esquina desenhada na ponta esquerda do espaço,
o que lhe reafirma sua condição de espaço cortante, de cruzamento e de entre-cruzamentos. No primeiro desenho, a paisagem
geográfica mostra-se e, no segundo, a paisagem humana é visível em diálogo com a anterior.
Desenho de Ana Carolina Silva
Silva, 14 anos (pág. 156). Desenho na horizontal com todo o espaço ocupado por agrupamentos
de imagens. No centro, cortando visualmente o papel em diagonal, as linhas e as formas indicam que o desenho foi realizado
dividindo o papel em dois espaços “verticais”, o antes e o depois, embora, numa primeira visada, isso não fique muito claro. Na
parte esquerda, uma árvore com cara (olhos, nariz, boca) e tronco. Os galhos perderam as folhas, que caem todas. Um carro
grande, com estrutura apenas de linhas, mostra o rosto de uma pessoa, por trás do vidro, na janela. Bem no centro deste lado do
desenho, um menino chora com lágrimas que caem até o chão (semelhante às folhas das árvores). Seriam, as duas, lágrimas?
Uma serpente que circunda a cabeça do menino tem seu corpo em “s” até a parte superior. O espaço que estrutura a curva
superior interna dessa serpente, abriga olhos, boca que sugere “bigodes” de um gato e uma forma sugerindo uma língua. O
corpo da cobra é feito por linhas em zig-zag, as quais lhe dão o volume do corpo, com linhas em diagonal, reafirmando o seu
movimento andarilho, sinuoso e rastejante, mas pela posição no desenho e nas relações com as outras formas, essa cobra é
aérea. Seria uma cobra voadora, ou cobra dos sonhos, ou cobra dos tormentos?
Na parte superior há um agrupamento de construções, um rosto, linhas curvas que se interligam umas às outras. Em todo o
restante do desenho, entre as imagens e os espaços, existe um número enorme de figuras “palito” (desenhos esquematizados
e estereotipados de figuras humanas. Um palito com cabeça, pernas e braços), habitantes por todo o lugar. Seria a densidade
humana a nos dizer de sua condição? Ou pessoas andantes? Ou ainda, pessoas robôs, todas iguais?
137
No desenho do lado direito existe uma árvore com feições humanas. A copa é cheia de corações que caem até o chão, um
contraste entre a árvore sem folhas, do lado oposto. Estariam em oposição as folhas e as lágrimas do desenho do lado
esquerdo e os corações no desenho do lado direito? O que afirmam essas formas que caem nos dois desenhos? Seriam
formas e sentimentos e sensações?
Aparece no centro (no segundo desenho), um violão cheio de bocas sorridentes. Em dois retângulos estão repetidas e
alinhadas as palavras “Love”, “Hoje”, “Rock”, “Nirvana” e “Ramones”, todas com “endereços” certos e possíveis de serem
identificadas em épocas e contextos.
Nas linhas em diagonal (no canto inferior, à direita), estão agrupados círculos e quadrados contendo estrelas em seus
interiores. Na seqüência, como em ascendência, vão se agrupando quadrados com algumas estrelas e, finalmente, só
retângulos com partes superpostas. Seria um caminho pressupondo um caminhar de brilhos?
Um peixe grande (em desenho simplificado e estereotipado) ocupa a continuidade diagonal do desenho anterior. Se pensarmos nas inter-relações visivas desses dois desenhos, numa mesma folha de papel e feitos numa mesma manhã de um
único dia, o da esquerda contém as perdas, as dores, a densidade humana; o da direita, os corações, amor, esperança,
música, peixe e estruturas mais geométricas (símbolos não tão definidos). Esses dois desenhos instauram muitas perguntas: por que do carro, por que do peixe, das árvores que choram folhas caídas e corações ao lado de um “menino que se
chora”. No desenho da esquerda, um agrupamento de forma mostra parte de uma cidade e, na cidade que se quer construir,
ele desaparece. Quais seriam essas relações?
No canto superior à direita, uma figura redonda tem olhos que “olham para fora” e do centro saem raios com flores abertas
em suas extremidades. Essa figura estaria em diálogo com o menino-presença do desenho anterior?
Ana Carolina faz inúmeros jogos entre formas, estruturas, pensamentos, contextos para falar pelo desenho, a cidadedistrito na qual mora e gostaria de construir.
Desenho de Sivaldo da Silva,
Silva 40 anos (pág. 157). Esse desenho é feito, ao inverso da proposta, a cidade em que se vive
e a cidade e se quer construir. O desenho da esquerda mostra uma seqüência de pedidos: escola, quadra de esportes,
pizzaria, teatro, indústria. A pizzaria tem o nome de “Pizzaria Cruzeiro” (nome do distrito); o teatro, de “Teatro Grande Otelo.
138
Entrada” (Grande Otelo é ator nascido em Uberlândia e nome de um dos teatros da cidade); a indústria, “Indústria Udi.
Precisa-se” (abreviação popular de Uberlândia). Estariam estes dois últimos se referindo a Uberlândia, cidade, e não ao
município (que inclui os distritos)? Seriam os equipamentos citadinos solicitados semelhantes ou iguais aos de Uberlândia?
As palavras “entrada” e “precisa-se” mostram que os espaços estão abertos, tanto para se entrar no teatro, quanto para um
contrato de trabalho na indústria, reafirmadas pelas filas de pessoas nos dois lugares. A quadra de esportes tem pessoas
e a escola também as tem. Na base inferior, duas frases reafirmam as imagens-desenhadas: A gente não quer só comida
... A gente comida ... diversão ... artes ... Do lado direito, o desenho não mostra figuras humanas, apenas equipamentos
urbanos: uma construção com sete andares, rua-estrada com manchas que sugerem buracos (?), cinco postes de iluminação, três casas, sendo uma no centro e as dos extremos laterais têm seus tetos um virando para o outro. Ou seja, a da
esquerda tem a parte triangular para dentro e a da direita também para dentro, reafirmando a central como “quase uma
principal”. Isso sugere um efeito de perspectiva, casas vistas de diferentes lugares. Na base inferior, o campo de futebol
encontra-se vazio.
O desenho do Sivaldo parece mostrar primeiro a cidade que se quer e, no momento da direita, a cidade na qual se vive, ou
estaria invertida essa interpretação na tentativa de compreensão, entrando pelas imagens dos desenhos-desenhados e
não pelas vontades posteriormente “conferidas” junto ao desenhador.
Desenho de Thiago Biasi,
Biasi 14 anos (pág. 158). Moradia, lazer e segurança é o que propõe Thiago em seu desenho na
vertical com uma linha separando a parte inferior da superior. O desenho sugere uma urbanização planejada, como a
estrutura de um conjunto habitacional ou condomínio. Na parte superior, nota-se um certo ritmo nas construções ordenadas e em perspectiva. Há espaços arborizados, ruas com demarcações ao centro, cruzamento com sinal de “pare” e
iluminação pública, inclusive com sombras, sinal de que estão acesos ou, em dia de sol, projetam sombras no chão. A rua,
na horizontal do desenho, separa as residências de um ponto comercial à esquerda, onde se pode notar um telefone
público e uma placa com algum escrito, o qual não se consegue ler. E à direita, a rua se modifica, com uma estrutura
axadrezada (feita por linhas que se cruzam). Seria uma pavimentação diferente? Ou um lugar para o lazer? Ou, ainda, rua
com paralelepípedos? A vegetação aparece agrupada entre fundos de algumas casas e frente de outras.
139
Na parte inferior, a cidade que se quer construir, as casas estão agrupadas à esquerda e mais da metade do papel nos
mostra o “Club de Sport” que, assim escrito, revela um saber palavras em outra língua. Palavras nominam o “Posto Policial”,
com carro em sua frente, talvez uma viatura. Uma linha dupla corta a rua de fora-a-fora. Seria um empecilho? Seria uma
forma de barrar as pessoas e os carros passantes? Seria uma maneira de tentar maior segurança?
No clube, são visíveis as piscinas com água (retângulos com linhas no espaço interior, sugerindo transparência e movimento), as pistas de skate com crianças que nelas brincam (uma grande e uma pequena), o escorregador, dois coqueiros e
árvores enfileiradas, quase na borda da folha de papel (quase uma moldura do clube e do papel). Os dois desenhos em um,
cidade vivente e cidade que se quer, enfatizam a moradia, o lazer e a segurança.
Desenho de Ana Clara de Carvalho Santos
Santos, 8 anos (pág. 159). Ana dividiu o papel em duas partes, “ HOJE, como o
Cruzeiro é” e “Como gostaria que fosse amanhã”. A divisão é uma linha ondulada, separando e interligando o presente e o
futuro (também no verbal). “HOJE” é escrito em letras de forma maiúsculas, o que mostra a ênfase no tempo atual. Tanto a
palavra “HOJE” quanto “Como é o Cruzeiro” estão inscritas dentro de balões, como os de conversas, nas histórias em
quadrinhos; já a proposição “Como gostaria que fosse amanhã” é frase quase-título. Tanto o primeiro desenho quanto o
segundo têm uma estrutura central semelhante, um quadrado ou retângulo ladeado por linhas duplas que sugerem ruas;
no primeiro desenho é um pouco mais rígida; no segundo, mais ondulada. Figuras geométricas acolhem nomes internos:
“Ponto de ônibus”, “Salão”, “Quadra”, “Salão”. Seriam essas figuras espaço contenedor de equipamentos urbanos ainda sem
uma planta arquitetônica, por isso, “impessoais”? Ou são as marcas que já se consolidaram no Cruzeiro como é hoje, não
precisando, dessa forma, serem reafirmadas por desenhos “individualizantes” (pois já estão lá)? Mas fica a pergunta: a que se
referem esses salões? Nas laterais, aparece três vezes a palavra “Bar”, mostrando que este existe em maioria. No “Cruzeiro de
amanhã”, o centro é ocupado por uma praça na qual se pode caminhar pela ênfase nas letras de forma: “Pista para caminhar”
e o entorno cheio de árvores e flores. As quatro laterais mostram a palavra “Residências”, reafirmando um Cruzeiro de Ana
Clara que, num primeiro momento, centraliza a ênfase nos equipamentos urbanos gerais e, no segundo desenho, enfatiza a
praça como centro e as residências à sua volta. Estariam esses dois desenhos, de um mesmo tema e complementares de uma
mesma proposta, reafirmando os espaços de encontros e lazer, e o prazer para os quais as praças se estruturam?
140
Distrito de Miraporanga
Em 1807, no arraial de Desemboque, formou-se uma bandeira com dois objetivos: capturar os índios Caiapós e explorar
a região do rio Grande e do rio Parnaíba. Em 1809, foi denominado de Sertão da Farinha Podre. Entre 1850 e 1852, foi
construída a primeira capela para N. Sra. do Carmo e Santa Maria Maior e N. Sra. das Neves. Em 1864, criou-se o Distrito
da Paz de Santa Maria. Em 1943, passou a se denominar Miraporanga (em tupi guarani, “gente bonita”).
A maioria dos desenhos solicita urbanização e melhorias da cidade como os cuidados com o cemitério: “Adeus aos
amigos”. Um dos desenhos enfatiza a amizade e o afeto.
Desenhos de Jocélia Vieira de Souza (pág. 160),, de Fábio Queiroz (pág. 161) e de Leandro Brito (pág. 162)..
Nestes três desenhos, achamos que seria possível escrever sobre os três ao mesmo tempo, pois percebemos em todos
solicitações muito próximas. Contudo, não queremos deixar de registrar que cada um deles tem suas particularidades e
são marcas-desenhantes de um desenhador.
O primeiro desenho (com o relógio), de Jocélia, 15 anos, é dividido por uma linha do tempo muito peculiar, uma vez que
essa se mostra constituída por duas linhas que possuem um relógio em seu centro (e, também, centro do papel). Remetenos aos desenhos de história em quadrinhos, como uma forma de mostrar uma evolução do tempo. É também nesse
desenho que encontramos uma maior urbanização da cidade, o que implica na melhoria dos serviços, bem como dos
equipamentos de lazer e de consumo, levando a uma ampliação das possibilidades da cidade, das condições de lazer, de
prazer e também de uma maior dinâmica de tempo reafirmado pelos seis ponteiros, pelas linhas entre eles e ainda, pelas
linhas externas ao relógio.
Nos outros desenhos, de Fábio (10 anos) e de Leandro (14 anos), há a presença muito forte da necessidade de uma maior
urbanização, presente no primeiro desenho na forma de duas cidades, a de hoje com poucas casas e pouco organizada, e
a cidade de amanhã com muitas casas e prédios (presença acentuada da verticalidade). No segundo desenho, há um posto
de gasolina com jeito de posto de “cidade grande” (igual àqueles que aparecem na TV) e com um prédio específico para
escritórios (“coisa” de centros urbanos), dando-nos a sensação de que se tem um zoom do terceiro desenho, que também
141
insiste na idéia da urbanização (demonstrada aqui como uma cidade que tem grandes prédios e muitos recursos característicos dos centros urbanos), vista de cima do crescimento da cidade, como algo muito amplo, muito aberto. É como se
tivéssemos três momentos de uma mesma cidade, que é vista, em um primeiro momento, bem de longe, mostrando
somente suas características gerais (desenho do relógio). Num momento posterior, temos o desenho do Fábio, que nos dá
uma visão mais ampliada da cidade, com “posto” de gasolina, prédio, sorveteria, cinema, escola municipal: tudo isso é a
nós mostrado como se houvesse um zoom do desenho anterior (o do relógio). E, por fim, o desenho do Leandro nos faz
entrar na imagem pela prestação de serviços presente no posto “Ipiranga” e no frentista (atendente de serviços). Se mantidas
as relações e conversas entre os três, é como se houvéssemos dado um outro zoom (na imagem anteriormente citada), e
nos aprofundássemos ainda mais na cidade que se quer, ou seja, nas cidades-desenhadas porque sentidas e desejadas e,
criticamente, propostas em suas necessidades humanizantes.
Esses três desenhos insistem na idéia da urbanização, urbanização como uma maneira de mais acesso às novidades que
a televisão vive nos apresentando e, de certa forma, nos impondo por meio dos métodos globais e das estratégias da
globalização.
Desenho de Bruno (Fazenda Boa Vista)
Vista), 12 anos (pág. 163). Bruno desenha na horizontal. Uma linha quase corta o
papel ao meio. Sobre a superior, alguns prédios: à esquerda, um de sete andares, mais horizontalizado, mostrando-nos
uma pessoa no primeiro andar e um carro em sua frente. Dois outros prédios quase iguais estão mais ao centro e nos
mostram ser mais altos que o anterior e mais verticais. Seriam alusões às “torres gêmeas” nova-iorquinas derrubadas em
11 de setembro? Quase saindo do papel, ainda nessa linha-corte, aparece mais um prédio horizontal, como o primeiro,
mas com divisões semelhantes aos centrais. No alto e no canto direito, um sol e nuvens no centro da página que, formadas
por linhas dentadas, sugerem movimento. Um segundo carro, também andando da direita para a esquerda, aparece entre
o primeiro edifício e os dois centrais, dando-nos uma direção, da direita para a esquerda. Esse movimento e essa direção
são reafirmados pelos carros desenhados na linha de base-rua (ponto de ligação entre carro e rua). São três carros diferentes: um longo com carroceria; outro, com rodas que o suspendem do chão; e um terceiro, com a frente mais alongada,
sugerindo um carro de passeio. A mesma linha que sustenta os carros, sustenta, “de cabeça para baixo”, árvores e o nome
142
do Bruno. Esse desenho tem dois pontos de vista, esse com o qual acabamos de trabalhar e, um outro que, se o virarmos
ao contrário, “vemos” de dentro da rua, o outro lado da mesma. O desenho e o desenhador nos instalam andantes dentro
e na rua. As crianças, ao trabalharem no chão, de bruços e deitadas, mexem com os papéis e os mudam de posições para
criar as maneiras que nos mostrem como veremos o que querem nos contar. Lowenfeld chama a essa maneira de desenhar
de dobragem42, quando os objetos são desenhados perpendicularmente à linha de base.
Desenho de Cristiane A. Rodrigues
Rodrigues, 14 anos (pág. 164). O tema do desenho é a praça antes e a praça depois. Os
desenhos são realizados na horizontal, tanto na frente como no verso do papel. No primeiro momento, reafirmado pela
palavra “Antes”, Cristiane apresenta construções geométricas que contornam o papel e continuam além do mesmo. A área
central é ocupada por mesas, bancos, sombrinhas grandes (protetores de chuva e de sol), árvores e vegetação. O segundo
desenho “Depois”, mostra-nos uma arborização planejada dentro de um quarteirão superior. Mesas e bancos estão em
perspectiva, vistos de posições diversificadas. O desejo de conforto, privacidade e condições mínimas de sobrevivência
fica visível com a presença do “BANHEIRO” público, com duas entradas separadas, “masculino” e “feminino” (em letras de
forma). O banheiro tem um caminho até a sua chegada, mas como não há a perspectiva, fica parecendo suspenso e sugere
um volume no ar (como casas de passarinho). Ao lado do caminho surgem plantas. As portas sugerem extensões da frente,
quase como portas a se abrirem. Fica, portanto, nesse desenho, a solicitação de banheiro público a ser construído na
cidade- Miraporanga que se quer.
O desenho-palavras de Maria Natalina, de 37 anos (pág. 165), foi transcrito para terminarmos o texto, pois é uma
síntese de vontades de cidades-distritos que se quer construir. As palavras estão consideradas como um desenho caligráfico,
desenho fala-resposta a uma proposta de cidade mais humanizável:
Eu gostaria que Miraporanga tivesse um pouco mais de diversões para todas as idades e que melhorasse um pouco o
urbanismo, mas principalmente uma área de que possa ter algo diferente para fazer desde que não sejam só as atividades
da escola, que são as melhores, que acontecem por aqui.
Precisamos ter também emprego para a população, um pouco de atividades para os idosos como área de arte ou artes
42
LOWENFELD, Victor. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
143
culinárias. Ter também um posto policial e também um posto médico com dentista diariamente, não só por algumas horas
e sim o dia inteiro. Mais um pouco de compreensão do nosso Prefeito que esqueceu Miraporanga como se perde um fio de
cabelo.
Por favor, não deixem as ligações, as nossas estradas que ligam a Miraporanga como um fio de cabelo que cai pelo chão.
O primeiro parágrafo afirma a necessidade dos espaços de trocas conceituais, de desafios, de prazeres e de humanidades,
ao afirmar a ampliação de lugares como a escola - as atividades melhores daqui. Na seqüência, a solicitação de emprego
e as necessidade pontuadas: arte, artes culinárias, posto policial, dentista diariamente e não apenas algumas horas, a
compreensão do Prefeito. O texto termina com uma densidade poética ao comparar as estradas com o fio de cabelo que cai
pelo chão. O desenho de Maria Natalina, sem imagens, mas com palavras, expressa as vontades e as proposições de
pessoa vivente, perceptora de seu habitat e do modus vivendi de um grupo e, ao mesmo tempo, sua compreensão do tema
e suas maneiras de propor e criticar a condição humana de um grupo e de um corpus sócio-cultural.
144
Ednilton Barbosa - 17 anos
145
Viviane Marques - 23 anos
146
Mariana Santos - 7 anos
147
Iasmin Marques - 4 anos
148
Rodrigo Ferreira - 8 anos
149
Gabriel Luiz - 17 anos
150
Lúcio Antônio Alves - 5 anos
151
Bruna A. S. Dias - 8 anos
152
Marcos Paulo H. Costa - 11 anos
153
Angélica Rocha de Paula
154
Edna Ferreira - 58 anos
155
Ana Carolina M. Silva - 14 anos
156
Sivaldo da Silva - 40 anos
157
Thiago Biasi
158
- 14
anos
Ana Clara C. Santos - 8 anos
159
Jocélia Vieira de Souza - 15 anos
160
Fábio Queiroz - 10 anos
161
Leandro Brito - 14 anos
162
Bruno - 12 anos
163
Cristiane A. Rodrigues - 14 anos
164
Maria Natalina - 37 anos
165
Fotos-percursos-espaços dos Desenhos-Desenhados
Cristiano Barbosa, Elinei Cristina da Cunha, Lucas de Moraes Sampaio, Marilene Aparecida Borges, Mary Rodrigues da Silva Castro,
Nísia Helena Bessa, Rafael Tannús Moreira, Renata Kelen de Paula, Verônica de Moraes Sampaio43
O que leva as pessoas a registrarem os momentos de suas vidas? Que fatos são tão relevantes que trazem a
necessidade de documentá-los? Que importância tem isso para as sociedades? São indagações como estas que nos
fazem refletir o quanto é fundamental para nossa existência registrar, classificar e armazenar informações, vivências
e imagens.
Na Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado, o objetivo de registrar, classificar e
armazenar o que os cidadãos pensam sobre a cidade em que vivem e o que gostariam de viver foi a tônica das
reflexões que mobilizaram os organizadores desse Projeto. Esta atividade seduziu os cidadãos a dedicarem parte
do seu domingo a desenharem, numa folha de papel, os prazeres, angústias, sonhos e realidades, os quais a cidade
lhes desperta.
As praças da cidade e dos distritos de Uberlândia foram palco de uma latente atividade social e política que possibilitou crianças, jovens e adultos mostrarem, de forma lúdica, o que vivem e o que desejam viver. Esses cidadãos
exercitaram sua cidadania através de uma folha de papel e de uma caneta preta. O que para a maioria dos administradores públicos, infelizmente, soa como delírio de intelectuais, para os organizadores e colaboradores da Oficina
foi um momento raro de dialogar com a sociedade formas de torná-la mais humana e democrática. Os desenhos
produzidos naquela ensolarada manhã de primavera registraram indignações e sonhos de cidadãos dispostos a
colaborarem na construção de uma Cidade no Cerrado, uma cidade melhor.
Outra etapa, rica de significados, proposta como última atividade a ser realizada pelos participantes da Oficina de
Desenho Urbano, as Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado foi o plantio de uma árvore nas praças. Esta ação se
Cristiano Barbosa é graduado em Geografia e Assessor Técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; Elinei Cristina da Cunha é estudante do curso
de Artes Plásticas da UFU; Lucas de Moraes Sampaio é estudante de Geografia e funcionário da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; Marilene Aparecida
Borges é Artista Plástica; Mary Rodrigues da Silva Castro é professora de Artes na rede municipal e estadual de ensino; Nísia Helena Bessa é aluna do
Curso de Artes Plásticas da UFU e comerciária; Rafael Tannús Moreira é coordenador do Setor de Interlinguagens Artísticas da DICULT e professor de Artes
na rede particular de ensino; Renata Kelen de Paula é estudante de Artes Plásticas e monitora no MUnA. Verônica de Moraes Sampaio é autora das poesias
que acompanham as fotos.
43
166
transformou em um instante mágico de participação e interação do ser humano com a natureza. A mesma água que
rega a planta em sua nova morada molha as crianças como que abençoando para sempre este ato tão importante
para todas as pessoas, no sentido de efetivar a conscientização e preservação ambiental.
Esse momento histórico de mobilização social de uma parcela da sociedade, praticamente ignorada no processo
político de gestão do município, mobilizou os organizadores, colaboradores e cidadãos a dispararem suas máquinas fotográficas. Entusiasmadas em registrarem aquele momento, essas pessoas buscaram captar os sentimentos,
a mobilização dos cidadãos, o convívio social, a ação cultural e política.
Concluídas as etapas do Projeto, uma equipe foi formada para avaliar, discutir e escolher as fotografias não só da
atividade desenhante nas praças, bem como daquelas que ilustraram a produção de outdoors por oficineiros colaboradores.
No primeiro encontro para conversar com as fotos, a reação do grupo foi de surpresa diante de quase mil fotografias que registraram o Projeto.
A princípio, pudemos considerar que houve uma grande preocupação em escolher o material a partir do limite de
fotos estabelecido no Projeto, que, inicialmente, era apenas de dez imagens. Com este contato inicial, no qual
algumas propostas começaram a tomar forma, o trabalho de escolha ocorreu tranqüilamente, afinando as aspirações de cada integrante da equipe em um trabalho pautado na objetividade.
As primeiras discussões se deram em torno de dois eixos principais: o número de fotos a serem contempladas em
cada setor e distritos e as questões formais relativas à expressividade, enquadramento, iluminação e composição
dos elementos no espaço. Quanto ao número de fotos, já nos primeiros encontros, decidimos questionar sobre
uma possível alteração na quantidade de fotografias a serem publicadas no livro, pois, perante todo o material
disponível, tornar-se-ia quase impossível retirarmos de todo o montante apenas 10 imagens.
Em relação ao conteúdo das imagens, a equipe buscou fotos “singulares” que, por alguma característica, pudessem se diferenciar do conjunto. Elas deveriam dar conta dos “prazeres no ato de desenhar”, teriam, ainda, que
contemplar a produção coletiva, realizada em grupos de desenhadores, além de mostrar a diversidade dentro
destes grupos. Entendemos que a ação foi destinada às crianças e aos jovens, porém, realizada em praças públi-
167
cas, levou cidadãos de diferentes faixas etárias a participarem livremente da ação desenhante.
Na observação e separação de cada fotografia, uma outra proposição foi considerada pela equipe: as imagens em
que as posturas dos desenhadores não estivessem revelando a espontaneidade e o envolvimento com o ato de
pensar e propor a cidade não deveriam ser consideradas naquele momento.
O método de escolha de todo o material consistiu na divisão da equipe, isto é, cada integrante ficou responsável
por um setor, separando um número desejado de fotos. A partir desta escolha individual, houve uma seleção
feita coletivamente, em que duas ou mais fotografias foram escolhidas.
Além da consideração de fotos que revelassem a coletividade, a introspecção dos desenhadores e a concentração
em grupos, a equipe achou importante considerar uma foto em que estivesse registrado o espaço da praça,
dando noção das dimensões físicas e humanas dos locais. Tal preocupação foi considerada, também, na seleção
de fotos dos outdoors que deveriam apresentar uma parte do entorno em que estavam inseridos e, também,
demonstrar, através de dizeres contidos nos mesmos, os seus objetivos e a sua relação com as outras etapas do
Projeto. É interessante observar que, em nenhum momento, houve a preocupação em relação à autoria das fotos
produzidas no dia da atividade proposta nas praças.
Nos distritos de Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia, Miraporanga e Tapuirama, a atividade ocorreu com um grande
envolvimento das comunidades locais. A praça, sempre palco das principais atividades do lugar, transformou-se
em espaço de registro da realidade e do sonho, desejo e esperança, ali traduzidos a partir do ato de desenhar.
Crianças, jovens e adultos expressando suas idéias e ideais através de um desenho. Prazer, alegria, sensação do
dever de cidadão sendo cumprido de forma simples, uma caneta e um papel na mão, mas com a serenidade e a
responsabilidade de contribuir para um futuro melhor.
Nos cinco setores da cidade, pudemos observar uma diversidade de expressões proporcionadas pela atividade.
Cabeças apoiadas nos ombros, mãos sob o queixo, corpos debruçados sobre folhas brancas de papel. Alguns
buscam o conforto de um banco e, ali mesmo, deitam-se, outros, mais inquietos, buscam o desafio e se aventuram sobre as árvores, emborcando os galhos e seus corpos em busca de uma posição mais cômoda, para que
seus desejos e idéias comecem a se materializar nos desenhos.
168
Parece haver “tensão” em alguns rostos. Talvez isto revele a presença do papel branco e a surpresa do tema
proposto, pois tem-se a liberdade de opinar sobre o local em que vivemos e, quem sabe, até então não se tenha
pensado sobre esta possibilidade, uma vez que, no espaço urbano, a sobrevivência e a falta de tempo impedem,
assim, a livre manifestação do ser humano para interiorizar a sua realidade.
Várias destas expressões foram captadas pelas máquinas fotográficas através dos olhares atentos dos colaboradores e coordenadores da “ação desenhante”. Nesses registros, pudemos encontrar “turmas” de desenhadores,
envolvidos com o ato de desenhar, discutindo com outros participantes que se encontravam ao seu lado. O que
estariam pensando e discutindo estes jovens? Que desejos estariam sendo materializados naquele momento?
Evidentemente, os desenhos nos dão a dimensão destes desejos e das impressões do pensar o espaço urbano,
porém estes registros fotográficos nos instigam a refletir sobre como ocorreram estas interações entre os
desenhadores. As fotos nos despertam para o desejo de entrar na imagem e identificar o que está sendo desenhado. Talvez, isto seja reforçado pelo fato de estarmos, realmente, diante dos sonhos desses atores sociais,
foco central do Projeto.
169
Muda que fala
Muda o mundo
170
165
Essa sombra que me acolhe
É sábia e me ensina
Desse tronco que meu corpo apóia
Eu vejo beleza
Eu vejo história
171
Do
Do
Do
Do
meu jeito eu ando
meu jeito observo as coisas
meu jeito eu sinto
meu jeito desenho
o caminho que percorro todos os dias
o céu , o concreto e as pessoas
o calor , a alegria , o cheiro , a melancolia
desse lugar ...
172
Eu , a praça e a natureza
Juntos , pensamos no que há além da
praça
E ao redor de todas as coisas
Do nosso pequeno – grande mundo
173
Criar
Traduzir espaços
Olhar
Escolher
Esse é meu
retrato
174
De um lado , onde
vivo
De outro , modifico
175
Não só eu moro aqui
A igrejinha da praça
A praça do bairro
O bairro da cidade
Também moram dentro de mim
176
Sinto uma brisa no meu rosto
Ouço as folhas das árvores
Olho a rua e as pessoas ao redor
E tudo se mistura na minha imaginação
177
Reproduzir idéias e conhecimento
é compartilhar com a natureza
um mesmo sentido : o da vida
178
Ando
Sinto
Observo
E a caneta dança
No papel cheio de estórias pra
contar ...
179
O que tenho nas mãos ?
Sonhos
Vontade
Papel e caneta
E um monte de idéias
na caixinha encantada da memória ...
180
Capítulo 3
Concluindo ou continuidades possíveis
Eliane F. Vieira Tinôco, Lázaro Vinícius
Oliveira da Silva, Lucimar Bello P. Frange,
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos, Rafael Tannús Moreira44
D
ando continuidade em nossas conversas sobre a Oficina de Desenho Urbano: as Crianças, os Jovens
e a Cidade no Cerrado, pensamos ser necessário um “balanço geral” dos desejos/expectativas em relação à
cidade e às cidades propostas.
As Equipes de Cores tiveram uma certa liberdade para escolher os critérios e as categorias com os quais conversariam com os desenhos, após alguns critérios norteadores, determinados em reuniões de trabalho entre
Oficineiros-Colaboradores e Equipe Gestora do Projeto. Sendo assim, alguns grupos classificaram os desejos e
as proposições em cidadania, meio ambiente, segurança. Outros grupos, em urbanismo, paz e lazer. Algumas
categorias foram comuns em vários grupos, outras foram bastante específicas (sem classificação ou seleção).
Também, foram consideradas as especificidades dos distritos que, na sua maioria, pedem a construção de equipamentos urbanos e reformas em escolas, igrejas e postos de saúde.
Dentre as categorias comuns aos grupos, o maior desejo expresso pelos desenhadores foi quanto ao meio
ambiente, seguido por lazer e segurança, respectivamente. A segurança foi entendida em dois aspectos: segurança enquanto antônimo de violência contra a pessoa e segurança no trânsito. Dentre as categorias específicas
dos grupos, foram significantes os pedidos com relação aos equipamentos e infra-estrutura urbanos. Em todos
os setores, os desenhadores demonstraram uma preocupação com a cidade como um todo, enfatizando uma
visão global de conjuntos bastante peculiares.
44
Eliane de Fátima Vieira Tinôco é professora de arte da Rede Municipal e Assessora de
Oliveira da Silva é Geógrafo da SEDUR e professor da Rede Estadual de Ensino; Lucimar Bello
Diretora de Culturas da PROEX/UFU; Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos é geógrafo professor do
PMU; Rafael é coordenador do setor de Interlinguagens Artísticas da DICULT e professor da
181
Ação Educativo-Cultural da DICULT; Lázaro Vinícius
Pereira Frange é artista plástica e arte-educadora,
Instituto de Geografia da UFU e Assessor da SEDUR/
rede particular de ensino.
Os desejos do Setor Norte são diversos:
. O lazer aparece em parques e em brinquedos;
. A assistência social, em creches e centros de recuperação de menores;
. A violência e o vandalismo também surgem nas imagens.
As imagens do Setor Central têm registros como:
. a invasão do concreto sobre os espaços de convivência e de lazer;
. problemas ambientais mostram a poluição de rios e do ar.
Udi, queria que soubesse que não estou muito contente com seu crescimento, pois, cresceram os concretos e
extinguiram a mais digna civilização e esqueceram de plantar uma semente, na educação, na saúde, segurança.
Juliano, 16 anos. Praça N. Sra. Aparecida
Os Desenhos-Desenhados do Setor Sul enfocam temas como:
. o lazer, a moradia, o meio ambiente e a segurança;
. o Córrego Lagoinha é desenhado despoluído;
. parques de diversões e quadras de futebol são presenças constantes.
“Eu quero segurança, não morte”, é palavra do desenhador que mostra uma vontade de viver a liberdade,em um
local com qualidade de vida.
As imagens do Setor Leste demonstram a diversidade de propostas para a cidade. Em muitos desenhos
surgiram representações de espaços públicos de convivência, de fé e de lazer, como:
. parques com escorregadores, balanços, igrejas e praças;
. a cidade sem violência;
. preservação do meio ambiente;
. emprego para as pessoas;
. possibilidades para o imaginário e para a fantasia.
Os desenhos do Setor Oeste falam sobre:
. a falta de equipamentos ligados ao lazer;
. os impactos ambientais aparecem nas imagens, mostrando a poluição e a presença do lixo na cidade;
182
. a segurança e a violência são bastante apontadas pelos desenhadores, constituindo um grupo expressivo de
“Desenhos-Desenhados”.
Nos distritos, a maior solicitação diz dos abandonos das pequenas-grandes-vilas, partes inteiras de Uberlândia.
Em Tapuirama, os desenhos desejam:
. hospital a ser construído;
. melhorias no trânsito;
. espaços de lazer;
. padaria.
Em Martinésia, o lazer inclui a discoteca e parques. Desenhos pedem:
. curso de computação gráfica;
. fábrica de doces;
. a igreja restaurada;
. a praça a ser revitalizada.
Em Cruzeiro dos Peixotos, os desenhadores desejam:
. melhorias na escola e urbanização;
. equipamentos sociais e culturais, parque de diversões, teatro e cinema.
Em Miraporanga:
. maior urbanização;
. cuidados com as praças;
. empregos e posto policial; médico o dia inteiro (e não apenas algumas horas).
Ouvir crianças e jovens (jovens de até 78 anos, sim. E por que não?) através de suas falas-desenhadas foi um
exercício de trocas e de mergulhos em universos coletivos e individuais. Foi um alimentar e um aquecer que
trouxeram para os vedores/ledores das imagens a complexidade da(s) cidade(s).
É interessante notarmos alguns dos desdobramentos, fatos que aconteceram a partir da ação “Desenhando e
Construindo a Cidade no Cerrado”. No Bairro Cruzeiro do Sul, existe um Clube de Desenho formado por adoles-
183
centes que se encontram e desenham juntos ou trocam os desenhos feitos em casa. No dia 30 de setembro, um
dos moradores do Bairro perguntou para uma oficineira se ela não poderia dar aulas de desenhos para um daqueles meninos (todos do Clube compareceram à Praça Primeiro de Maio). A professora se prontificou e hoje o
menino tem aulas uma vez por semana e depois partilha o que aprende com os amigos do Clube de Desenho.
Como produção, além do livro que você está acabando de ler, o Projeto tem um vídeo, uma série de cartões
postais, uma série de cartões telefônicos e um encarte de jornal. Exemplares dessas produções e os originais dos
desenhos estão no acervo do MUnA (Museu Universitário de Arte) e poderão ser utilizados por pesquisadores de
diversas áreas do conhecimento. Com esse material, são possíveis algumas pesquisas e apontamos sugestões:
os Desenhos-Desenhados e a linguagem verbal, grafia, erros/acertos de português; abordagens urbanísticas no
desenho infantil ou de adolescentes ou de adultos (e entrecruzamentos dos dados); humor contido nos desenhos; cidades “reais” (reconhecíveis) e cidades imaginárias; relações humanas e dimensões de afetos (amizade,
respeito, ética, cidadania); desenhos e pensamentos-conceitos sobre desenho; aspectos sociais, antropológicos, psicológicos das e nas imagens, e outras inúmeras entradas. E ainda, quais seriam as noções de cidade e
sobre o urbano nestes mil(s) desenhos de uma Cidade no Cerrado?
O que estamos denominando de Dados Complementares (neste livro), permite muitas análises, por exemplo, no
quadro com o número de desenhos por idade nas praças: é possível observar no Setor Central, na Praça Sérgio
Pacheco, de 0 a 6 anos, são desenhadas 60 imagens; já na Praça Nossa Sra. Aparecida (no mesmo Setor), apenas
14 desenhos. Qual a razão dessas diferenças? As crianças de uma mesma faixa etária, morando em lugares
próximos nesta Cidade no Cerrado, desenham mais ou desenham menos, em casa, na escola? Ou não vão às
praças? Ou não quiseram desenhar?...
A Praça no Setor Central que mostra o maior número de desenhos de adultos é a Sérgio Pacheco. Estariam
acompanhando as crianças? Quem convidou primeiro para desenhar? O adulto? Ou a criança?...
Na tabela referente aos distritos, o número de desenhadores de 07 a 15 anos é em número bastante superior ao das
outras faixas etárias. Isto estaria evidenciando a ligação das escolas com a ação “Desenhando e Contruindo a
Cidade no Cerrado”? Ou estas crianças e jovens têm aulas de arte na escola? Seria trabalho do professor de Arte?...
184
Os 2643 Desenhos-Desenhados permitem conversas múltiplas e amplas; os 324 oficineiros-colaboradores e
coordenadores de praças têm diversificados depoimentos e histórias a contar sobre o processo de gestação, o dia da
ação “Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado”, os “ecos” em seus trabalhos em escolas e espaços profissionais (em diversos momentos nos chegam depoimentos de continuidades). Os gestores-cúmplices do Projeto (coordenação geral, coordenação ampliada, secretaria geral) construíram alicerces conceituais e metodológicos na relação
entre as culturas, as comunidades e o poder público (municipal, PMU e federal, UFU) e pessoas habitantes da Cidade
no Cerrado.
Como continuidade do Projeto e constituindo-se como um programa de ações entre a UFU, PMU e Comunidades
(que duraria 3 anos), foram pensadas, a partir do mesmo tema e com um dia de desenho, uma oficina com pessoas da
“Melhor Idade” e uma outra, com “Seguranças e Segurados” (não-assegurados). No entanto, por caminhos enviesados
(descaminhos nos espaços instituídos), estas etapas adormecem, ficando, porém, como extensões de nós-pessoas,
todos os envolvidos em nossas aprendizagens coletivas num projeto político-pedagógico-cultural-social. As produções (este livro, o vídeo, os cartões postais, os cartões telefônicos e o encarte de jornal) são formas de socializarmos e
colocarmos em discussão os nossos percursos e ações comunitárias na extensão e nas culturas, para outros e novos
encontros nas Praças, nos Distritos e na Cidade no Cerrado - Uberlândia a ser pensada e re-significada, enquanto
dimensões humanizáveis - uma Cidade em muitas cidades.
Desenhos de crianças não são disfarces e dissimulações, são verdades impressas no simples ato de desenhar. Esses
desenhos driblam a demanda onipotente do homem contemporâneo de tudo explicar com a idéia de causa e efeito,
resíduos de condutas positivistas. (Retirado do texto A Praça Como Moldura)
Concluímos convidando você a participar da proposição da “Cidade no Cerrado em que você vive e a cidade que gostaria de construir”, com o poema de uma oficineira a partir das impressões vivenciadas no Projeto:
185
O Desenho Urbano
Ontem e hoje
Aconteceu e acontece
O desenho urbano
Onde as imagens
Não verbais e verbais
Comunicam-se com o público
As imagens são representadas
Através de linhas que se entrelaçam
Com pinceladas rígidas e leves
Grossas e finas
Retas e curvas
Feitas individuais
Perpassando coletivamente,
As imagens verbais e não verbais
Que se expressam, e se relacionam
Com o olhar do público
Permitindo ao indivíduo e ao coletivo
Leituras diferenciadas
Olhe, pare!
Me perceba.
A construção das cidades através
Dos Desenhos-Desenhados.
Lucimagda Aparecida de Lima
186
Dados Complementares
Lista das Praças
Setor
Centro
Nome da Praça
Ana Diniz
Coronel Carneiro
Nicolau Feres
N. S. Aparecida
Sérgio F. Pacheco
Tubal Vilela
Bairro
Brasil
Fundinho
Martins
Aparecida
Centro
Centro
Leste
Américo F. Abreu
Do Centenário
Juarez G.Nunes
Odete R.Pereira
Santos Dumont
Sen. Camilo Chaves
Parque do Sabiá
Santa Mônica
Segismundo Pereira
Dom Almir
Alvorada
Aclimação
Tibery
Tibery
Norte
Chico Mendes
José Miguel
Lincoln
Lopes Trovão
Primeiro de Maio
Pacaembu
Cruzeiro do Sul
Roosevelt
Marta Helena
N. S. das Graças
Antônio Martins
Dr. Walter L. Manhães
Emília dos Santos
Theodora Santos
Sgt. E. S. Milhomem
Tocantins
Luizote de Freitas
Jardim Canaã
Jardim das Palmeiras
Jaraguá
Sul
Pol. Agenor A. Garcia
José Mota
Vasco Gifone
Laranjeiras
Morada da Colina
Saraiva
Distritos
Praça Said Jorge
Praça São João Batista
Igreja N. Sra Rosário
Praça Tancredo Neves
Tapuirama
Martinésia
Miraporanga
Cruzeiro dos Peixotos
Oeste
187
Lista dos desenhadores
Abadio Aparecido Fernandes
Adelino Carvalho
Adriana Aparecida
Adriele G. Biase
Alan Jonata
Alessandra
Alessiane S. Justino
Alex Alves Fernandes
Alexandre Amaral
Alexandre F. Rezende
Alexandre Ferreira
Alexandre Henrique da Silva
Alexandre Vieira dos Santos
Alice A . T. Pádua
Alice Aneli Alves
Aline Fernanda Pereira
Aline Fernandes
Alisso A A da Silva
Alzira de Almeida
Amanda Oliveira de Araujo
Amauri Mendes da Silva
Ana Carolina
Ana Carolina F. C.
Ana Carolina Santos de Camargo
Ana Gabriela R. Carneiro
Ana Luisa D. Silva
Ana Luiza P. Azevedo
Ana Paula
Ana Paula Aparecida
Ana Paula S. Faria
Anderson Fernandes Lopes
Anderson Ferreira Moreira
Anderson Moreira Silva
André Junior
André Zoccoli Bueno
Andreia
Andréia Cristina de Jesus
Andressa Navarro
Angélica Lemes Moreira
Anna Carolina Pereira Cunha
Annelise Alves
Antônio
Antônio Alves
Antônio Augusto
Antônio Cesar
Antônio Cesar C . Ferreira
Antônio de Paula
Antônio de Paula S. Neto
Ariana G. Moura
Aristeu A da Silva
Arizio A. Pereira
Arthur Augusto Martins e Silva
Arthur Luke de Paula Fraga
Arthur Matos da Cunha
Aryane
Augusto César
Augusto César
Augusto Cesar Santana
Augusto Flávio de Paula Barbosa
Banca Estefane
Barbara
Beatriz A Alves
Beatriz Aparecida Moraes
Beatriz Gomes Brazil
Beatriz Jesus Santos de Camargo
Beatriz Luz Tannus
Bianca de Paula Nunes
Blener S. Ferreira
Bruna Dias Nunes
Bruna K. Dantas
Bruna Luísa Silva
Bruna S. Dias
Bruna S. L. Proença
Bruno Augusto
Bruno Carlos
Caio Jiovane Soares
Camila Flávia de Lima
Camila R. Gomes
Camila Ribeiro Amorim
Carina Barboza Paula
Carlos Adriano
Carlos Donizete Cardoso
Carlos Henrique
Carolina Alvarenga
Carolina Cristina
Carolina de P. Fernandes
Cássia C. Mendes
Cássia S. da Silva
Cecilia Rezende Batista
Célio José dos Passos
César Augusto S. Araujo
Charles Lourenço
Cinara F. Carneiro
Ciro H. Almeida Alves
Ciro Humberto Almeida Alves
Claudio dos Reis
188
Cleber
Cléber Ferreira
Cleto Eduardo Soares
Cléubia Cristina R. Silva
Cleverson
Clóvis José Soares Silva
Cristiane S. Pimenta
Cristiano Carneiro Cardoso
Cristiovam S. O. Porto
Cristofer Dener B. da Silva
Daiane Ap. Batista
Daiane Brito Oliveira
Daiane R.M. Faria
Dairlon Lincon
Daivd Moreira de melo
Daniel A. Macedo
Daniel Fernandes da Silva
Daniel Ferreira Gomes
Daniel José R. Lisboa
Daniela souza de Oliveira
Danilo Jairo Donizete Silva
Danilo José Reis Lisboa
Darlan Costa Santos
Davi Pereira Vido
Débora Brito de Oliveira
Debora Passos V.
Debora Ruana
Décio Reis Machado
Deise Brito de Oliveira
Deivid Gonçalves
Deivid L. S. Santos
Dener Ferreira
Deufim Jesus Ribeiro
Diego Botelho Assis
Diogo S. Ferreira
Dionata Alexandre
Dione Henrique Costa
Douglas H. Martins
Durval Saturnino P.
Edegar Silva
Edilaine Cristina R. Silva
Edilsom Miranda
Edinei Barbosa Correia
Edivânio B. F. de Ávila
Elaine Alvarenga Silva
Elaine Cristina R. Silva
Elbio Júnior de P. Fernandes
Elcio Diniz
Elen Cardoso
Eliane Machado
Elias Carvalho
Eliseu A Oliveira Júnior
Elivia Terezinha
Elizangela R. S. F. Mendes
Eloisa da C.M Soares
Elvira Ferreira Brazil
Emanuela
Emariane Rocha
Emerson de Carvalho
Erica Gioretta Bigei
Erick Cardoso Borges
Erika de Carvalho
Eurípedes Lemes
Evan O Costa
Fábio Henrique da Silva
Fátima R. Oliveira
Fausta Ilda
Fausto José Miranda
Fausto Lopes Neto
Felipe de Oliveira Roma
Felipe Pires
Feres C Freitas
Fernanda
Fernanda Alves Passos
Fernanda Amaral
Fernanda Aparecida Silva
Fernanda R. Silva
Fernanda Silva Cunha
Fernando Lucas Dias
Fernando Mc Soares
Fernando Rodrigues
Flávia
Flávia Angélica Silva
Flávia Sales Rodrigues
Flávio Bernardo Silva
Franciele
Francielly P. Gomes
Francisco Castro
Francisco de Assis
Francisco Souza Teixeira
Frederico
Frederico Paredes
Gabriel Mendonça de Oliveira
Gabriela dos Santos
Gabriela Guimarães
Gabriela Quirino da Silva
Gabriela Rosa Aparecida
Geisa AP Silva
Gelviana José Maria
Geovana Fernandes da Silva
Geovani Fernandes
Geralda A F. Mendes
Gilmar F. Silva
Gisaine Santos Silva
Gislaine Lemes Santos
Giulia Zoccoli Bueno
Glaucielle
Glebiana S Moura
Glecione Silva
Guilherme Gomes
Guilherme Lemes Gomes
Guilherme Meira
Guilherme S. Dias
Guilherme X. Carvalho
Gustavo B. Machado
Gustavo Enrique Silva Pereira
Gustavo Fernandes da Silva
Gustavo Henrique Alves
Gustavo Pereira Pagoto
Gustavo Siooloto
Hélio Amâncio Júnior
Hélio Ferreira dos Santos
Henrique Augusto
Hugo Caetano Souza Silva
Hugo Felipe Martins
Hugo H. Santos
Iara Luiza
Ide Aparecida Amorim
Ilda Candido Teixeira
Ilidia J. D. Borba
Isabel C Alvez Pimenta
Isabela Cacique Braga
Isabela Castro Dos santos
Isabela Flávio de Lima
Isabela Maria
Jamilson S. R.
Janderson Dutra Jesus
Janete Florinda
Jaqueline C. Silva
Jaqueline C.O Souza
Jaqueline dos S. Araujo
Jaqueline Perez Guimarães
Jaqueline Silveira
189
Jasmim C. Silva Costa
Jean Carlos Dias Borges
Jean Enrique Costa
Jeferson da Silva
Jefferson Rodrigo
Jessica Florse
Jéssica Pereira Silva
Jéssica Rodrigues de Almeida
Jessica V. Simão
Joãao Pedro Neves
João Paulo Vieira
João Antônio S. Souza
João Batista Araujo
João Batista Costa
João Marcos de Jesus Santos
João Paulo A Santos
João Paulo B. Costa
João Pedro Gallassi Spini
João Roberto
João Victor
João Victor P Silva
João Vitor
João Vitor Santos Diniz
Joice Carla
Joice Etiene Pereira
Joicylene Aires da Silva
Jon Marque S. Souza
Jonatas S. Campos
Joquebede Duarte
José dos Reis
José Renato
Josiane Pires
Júlia Alves Cunha
Júlia Ramalho Lima
Julia Rocha Silva
Juliana
Juliana de O Luis
Juliana Ferreira Amorim
Juliana Lemos Cândido
Juliana Resende Moraes
Juliana S. Rocha
Juliana Santos Rocha
Juliana Souza Silva
Julianara B. Carvalho
Juliano E. Martins
Juliene Soares Silva
Junior
Kamila Luciana S. Oliveira
Karina Cruz Alvim
Karine Kaderli Dantas
Keif Carneiro
Keila Ferreira Silva
Keila Galdino
Keite Carneiro
Kelem B. Rodrigues
Keliyb Aparecida Rodrigues
Kenia Cristina Silva
Klaus Alexandre de Rezende
Kleber Alves de Souza
Laís Arantes O Pacheco
Lais B. de Souza
Laís Barbosa P. Mendonça
Laís M. Alves
Lara M. Silveira
Larissa
Larissa Barbosa P. Mendonça
Laura Cristina
Lavoisier do Prado Freire
Leandro Cardoso Cruz
Leidiane T. Cunha
Lenilson Galdino Silva
Leonardo O Silva
Leticia Sales de Melo
Lidia Meirelles
Lilian Alves
Liliane P. de Oliveira
Linda Márcia
Lindalva Liberato Silva
Lorena Jiovane Soares
Lorena Vasconcelos Oliveira
Loriele Aparecida dos Santos
Luana Jane Silva
Lucas Moreira
Lucas Cristiano
Lucas dos Santos
Lucas Gabriel
Lucas Morais Silva
Lucélia Marques B.
Luciano Cardoso Silva
Lucimar Ferreira dos Santos
Lucio Henrique
Luigi Cantelli
Luis Carlos Bessa
Luis Fernando B. Alves
Luis Fernando R. Tavares
Luis Gustavo Martins e Silva
Luis Moreira da Silva
Luis Paulo Passos
Luiz Antônio B. Oliveira
Luiz Carlos Roma Jr.
Luiz Fernando
Luiz Guilherme
Luiz Henrique Paula Barbosa
Luiz Renato
Luiz Rodrigues
Luiza Alvesde Melo
Luiza de Melo Camara
Luiza Pereira
Luzia de Fátima
Luzia Helena
Magda Silva Andrade
Maico
Maicom Batista
Maicon André
Maikon Silva
Maísa Pereira Rocha
Mara Silva
Marcela Macedo
Marcelo Araujo
Marcelo Ealter Santana Ferreira
Márcia Correia Arantes
Marcia R . C . Palhares
Márcio Henrique
Marco Túlio S. Faria
Marcos Paulo H. Costa
Marcos Paulo P. Azevedo
Marcos Vinicius
Marcos Vinicius Silva
Margarida Biasi
Maria Aparecida dos Santos
Maria Cecilia Inácio
Maria Cecilia Montes
Maria Clara
Maria de Lurdes Rosa
Maria Elena Ferreira
Maria Isabel O. Pinhal
Maria José
Maria Juliana O Pimentel
Maria Leles Melo
Maria M . S. Ferreira
Maria Rodrigues M. Lisboa
Maria Teixeira
Mariana Borges
Mariana Magalhães
Mariana Moreira
Marilia B. Machado
190
Marília P. Salvador
Marina P. Gomes
Mario Francisco Luis Júnior
Marlene G. Alonso
Marta Mara Perreira
Mateus A .P . Souza
Mateus C. Santos
Mateus Henrique
Mateus Santos Melo
Matheus Moreira Gomes
Mauro César Silva
Mauro Sérgio Rodrigues da Silva
Max Jr. Carvalho
Mayara R. J.
Maycon Lourenço S.
Maycon Lourindo
Mayra Silva de Andrade
Michael Cabral
Michael Morais Silva
Michel Alvarenga
Michelle Pires
Michelli Cristina Pimenta Pereira
Milander
Miltom
Miriam Fagundes
Moacir R. Alves
Moisés Severino Santos
Mônica C. Rodrigues
Murilo Moraes Mendes
Murilo V. Simão
Naiara Santos Santana
Natali Brigagão
Natalia Costa Santos
Natalie Rezende da Silva
Nathalia Aparecida Duarte Fagundes
Nathalia Balieiro
Nayara Cardoso Dias
Nector j Moraes 1230
Neide P. Dias
Nelcy Aline
Nicolas de Castro Ferreira
Nivaldo Jr.
Oneir Mendes
Osvaldo O. Pinhão Neto
Pablo L. Marins
Pamela Preto
Patricia Freitas
Patricia Helena de Lima
Paula Aparecida Costa
Paula Brenda Borges
Paula Caroline Silva Oliveira
Paula Cristina
Paula Cristina Rosa
Paulo César Santos
Paulo H. Pereira
Paulo Roberto Serafim Costa
Paulo Victor C. Pena
Paulo Vitor Batista
Pedro Henrique
Pedro Henrique Silva Santos
Pedro Pereira
Pedro Pereira dos Santos
Philipe M. Alves
Philipe Martinelli
Poliane S. Costa
Pollyane Cristina Pereira
Pretrize Pereira da Silva
Priscila Cardoso Amaral
Priscila Costa V. Silva
Queiti Reis Ribeiro
Rafael A Tilinn
Rafael Alexander de Moura
Rafael da Silva
Rafael de Oliveira
Rafael Ferreira Gomes
Rafael O Araujo
Rafael Rocha Silva
Rafael Wilker
Rafaela Santos
Rafhaela Resende Arisa
Raiane S. Santos
Railaudo de Oliveira
Raphael Alonso de Brito
Raquel Santana da Silva
Raul A. T. Padua
Regiane Bessa
Régis Alves Pereira
Rejane Borges
Rejane dos Santos
Rejane S. Ferreira
Renata kelen
Ricardo Passos
Roberto Natal
Rodolfo R. Paula
Rodrigo
Rodrigo Ferreira
Rodrigo Inocêncio
Rodrigo Inôcencio Ferreira
Roerto Marolo
Roney Andrade da Silva
Rosa F de Rezende
Roseane A S. Ramos
Rosimeire de Souza Ferreira
Roziane M. de Araujo
Sabrina Mendonça Batista
Samuel Vieira
Sarita O Pacheco
Sebastiana D. R. Paula
Selma A Guerra
Selma Rodrigues
Sergio Camargo de souza
Sérgio Garcia P. Neto
Sheila Ferreira da Silva
Silmara Silva
Silva Lopez
Solange de F. Barboza Paula
Stephane R. Oliveira
Suelen Da S. Oliveira
Taciane Teodora Gonçalves
Tainá
Tainara
Taís
Taís B. Paula
Talita de Paula Silva
Talita Prestes
Tâmara M. Ferreira
Tamires R. Gomes
Tatiana Vasconcelos
Teresinha D. da Silva
Terezinha rizotto
Thais Ferreira
Thales Alves
Thiago Braz de Almeida
Thiago Henrique Silva
Thiago Martins Silva
Thubles Jheam Alves
Tiago Alberto F. Silva
Tiago Ferreira
Túlio F. Biasi
Túlio Rocha de Paula
Ubiratan
Valcy F Cardoso
Valdivino Flores
Valdurei Domingues S.
Valquiria Rezende Arisa
Valtuir Garcia Silva
Vanderlei J. Camargo
191
Vanderléia Santana
Vanessa Moraes
Vanessa Nascimento Silva
Vanessa Santana
Vanill Cardoso Dias
Victor Brito Silva
Victor S. Melo
Vinicios Quirino da Silva
Vinicios Silva Souza
Vinícios Soares
Vinicius Alves Fernandes
Vinícius Garcia Alonso dos Santos
Vivian Resende Alano
Waldemar G. Alonso
Walkuiria H. Fonseca
Wallace Monerique Martins
Walquiria H
Walter José Pinheiro
Wellington Ferreijra Junior
Wendel Nascimento
Wendel P. Pereira
Wenderley Dutra de Jesus
Werley D. de Jesus
Weslei Donizete Alves S.
Weverson R. Fagundes
Weverton Guedes
William P. Gomes
Wilsom Garcia
Wilson Precioso Pereira
Yuri Alves Patrício
Lista dos Oficineiros-Colaboradores
Oficineiro
Profissão
Setor
Ana Paula Amâncio
Ângela Coelho
Cecília Barbosa Moraes Hortêncio
Cibele Aparecida Santos
Dalva de Moraes Antônia
Darlene Ferreira
Dirce Fernandes Amaral Alves
Elvira Ferreira Brasil
Janeides Maria Silva Domingues
Janete Marques da Silva
Luzia Alves Borges
Mírian da Miranda
Sebastiana Darc Rocha de Paula
Maria de Fátima Marquesini
Izabel Cristina Cruz
Sônia Aparecida Costa
Lilian Ferreira dos Santos
Emília Vicente Lourenço
Eunice de Oliveira
Drucila Milian de Souza
Ioná Machado de Alcântara
Eliana Nunes da Silva
Maria Ines de Carvalho Mendes
Valéria Carrilho Costa
Patrícia Ferrucci Suzuki
Marcos Antônio Oliveira
Falcão Vasconcelos
Cristiana Peixoto de Souza
Daiane Rodrigues Martins Faria
Durval G. Cardoso de Paula
Edna Ferreira dos Santos Mendes
Érica Giaretta Biase
Ivana Ferreira dos Santos
Joana Cardoso da Cruz
Lara Cristina
Maria Abadia Faria
Maria Lúcia de Souza
Marlene dos Passos
Sirlei Rodriques Goulart Pereira
Solange de Fátima B. de Paula
Janaina Ferreira Borges
Jurema de Fátima do Rosário
Lara Cristina Ferreira
N/I*
*
Orientadora
N/I
Balconista
N/I
Professora
N/I
Dona de Casa
Professora
Professora
Supervisora
Professora
Dona de Casa
Aposentada
Estudante de Artes
Estudante de Artes
Estudante de Artes
Estudante de Artes
Professora
Estudante de Artes
Professora
Professora
Diretora de Escola
Professora
Estudante de Artes
Artista Plástico
Geógrafo
Professora
Estudante
Estudante
Supervisora
Professora
Professora
Dona de Casa
Professora
Dona de Casa
Educadora
Professora
Professora
Professora
Estudante
Costureira
Bordadeira
Plásticas
Plásticas
Plásticas
Plásticas
Plásticas
Plásticas
* Profissão não informada.
192
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Martinésia
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Miraporanga
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Cruzeiro dos Peixotos
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Leida Gonçalves de Oliveira Mendes
Luiz Humberto Gonçalves Borges
Marja das Graças Guimarães Naves
Núbia Márcia Ferreira de Carvalho
Rildo de Oliveira Cardoso
Sérgio Naghettini
Silvanda de Fátima da Silva Costa
Sueli Aparecida Fagundes
Lionizia Pereira Neta
Helga Canedo Tavares
Geise Peron Fornel
Adreana Oliveira
Betânia Cortes
Camila Martins
Maria Martins
Manoela Alvarenga
Laura Lana Andrade
Henara Costa
Rosângela de Monte Serrate M. C.
Hudson Rodriques Lima
Robson Albuquerque
Meire Rezende
Viviane Teixeira Cunha de Resende
Idalina Pereira de Almeida
Alexandra Maria Cardoso
Camila Mariê Silva
Maria Letícia Marra de Barros
Fernanda Costa Almeida
Érika Gomes Araújo
Sandra Vieira Xavier
Nísia Helana Bessa
Jaqueline Ferraz da Costa
Fernanda Borges Neto
Fernanda Aguiar Fonseca
José Carlos Ferrari Junior
Elton Alberto de Campos
Cláudia Herrera Fonseca Bernardes
Fernanda Borges Neto
Marcia Moreira Barroso
Cláudia Pereira da Silva
Solange Garcia Alonso de Brito
Gladys Matias Pereira
Milena Medeiros Marques Hashimura
Fernando Hernades Greco
Luiz Henrique David
Letícia Viana da Silva
Edinardo Rodrigues Lucas
Dona de Casa
Auxiliar de Laboratório
Diretora de Escola
Vendedora
Agricultor
Professor
Merendeira
Cabeleireira
Estudante
Estudante de Arquitetura
Estudante de Arquitetura
Jornalista
Jornalista
Estudante de Direito
Estudante de Geografia
Estudante de Ciências Sociais
Estudante de Geografia
Estudante de Engenharia Mecânica
Assistente Social
Professor
N/I
N/I
Estudante
Professora e Psicóloga
Estudante
Estudante de Arquitetura
Psicóloga
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Assistente Administrativa
Estudante de Psicologia
Estudante de Arquitetura
Estudante de Arquitetura
Geógrafo
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Geografia
Arte Educadora
Vendedora
Professora
Artista Plástica e Professora
Estudante de Arquitetura
N/I
Pintor
Manicure
Estudante
193
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Tapuirama
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Marcílio Marquesini Ferrari
Aninha Duarte
Mariana Borges Duarte
Daniel Loyola Zei
Jeane Meire Fernandes Nogueira
Iná Maria Nascimento G. Silva
Lázaro Vinícius Oliveira Silva
Adriana Lucia Pimentel
Adriana Pinheiro Fonseca
Adriana Sanajohi Nakamuta
Agnalda Rodrigues Naves
Ailton Alves de Oliveira
Alessandra Silva Rodrigues
Aloísio Carlos Diniz
Amélia Cristina Borges Pereira
Ana Flávia Magalhães Costa
Ana Heloísa Pereira
Ana Paula Alves Lima
Angela Herrera Fonseca
Aorilde de Carvalho
Aparecida de Carvalho
Aroldo José dde Souza
Artur Pereira Neto
Beloní Cacique Braga
Bianca de Góes
Camila Resende Nascimento
Camila Rodrigues Moreira
Carolina Alvim Scarabucci
Carolina Gomes de Moura
Cátia Beatriz Ribeiro
Cíntia Guimarães
Claudia Maria de Freitas
Cristiane Borges de Souza
Daniela Gonçalves Mattar
Eduardo Ribeiro
Egídio Panosso Jr.
Elaine Pião
Elisângela Ferreira Peixoto
Enoque Oliveira Diniz
Érica de Paula Cândido
Fabiana Barbosa Sadojuchi
Fabiane Ribeiro Gonçalves
Fabina M. Faria
Fernanda Pereira da Cunha
Flávia Alves Facão
Flávia Fernandes Carvalho
Flávio Ferreira Magalhães
Estudante de Economia
Artista Plástica e Professora
Estudante
Estudante de Artes Plásticas
Estudante
Psicóloga
Geógrafo
Estudante
Estudante de Engenharia Civil
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Atendente
Arquiteta
Professor
Professora
Arquiteta
Pedagoga
Arquiteta
Estudante de Artes Plásticas
Pedagoga
Educadora
Estudante
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
N/I
Estudante de Geografia
Professora
Geógrafa
Arquiteta
Estudante de Arquitetura e de Artes Plásticas
Arquiteto
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Arquiteto
N/I
Estudante de Artes Plásticas
Geógrafa
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Estudante de Arquitetura
Arquiteta
Estudante de Artes Plásticas
194
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Leste
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Frederico Ozanan R. Pinto
Fredy Ravazzi Lima
Geisa Aparecida da Silva
Geovane da Silva e Souza
Gislaine Garcia Leal
Greiciane Marques D. de Morais
Hélio de Lima
Helvio Mendonça
Hilda Beatriz de Queiroz Elias
Iara Silva Alves
João Luiz Corsini Garcia
Julina Junqueira de Freitas
Jussara Lemos Rocha
Karla Elísia Brito
Kenia Angélica Pinto
Kyara Teles Batista
Léa Carneiro de Zumpano França
Leonardo Azevedo Araújo
Leonel Tadeu D. Leandro
Lilian N. Saiki
Luciana Nápoli da Silva
Luciana Santos da Costa
Luciana Silva Carneiro
Luzilei Alves Santos
Maira Coelho Pelizer
Mairla Leles Melo
Mara Beatriz da Costa
Marcela M. P. Mineo
Márcia Maria de Souza
Marco Aurélio Ribeiro
Marcos Paulo Alves Merilo
Maria Cecília Buiate
Maria Rosalina S. P. Miguel
Maricele Vilela Miguel Vannuci
Marilene Aparecida Borges
Marilene Costa Leles Melo
Mary Rodrigues da Silva Castro
Melina Ribeiro Borges
Mirella Vilela de Freitas
Monica Ferreira de Matos
Mônica Teodoro de Oliveira Palhares
Neide Maria Aguiar de Azevedo
Patrícia de Oliveira e Domingues
Pollyana Cruvinel Dornelas
Regina Pantano
Rejane Maria da Silva
Renata Kelen de Paula
Geógrafo
Estudante de Geografia
Geógrafa
Geógrafo
Estudante
Estudante de Arquitetura
Professor
Estudante
Estudante
Professora
Estudante de Engenharia Civil
Estudante Colegial
Estudante de Artes Plásticas
Designer
Estudante de Artes Plásticas
Estudante
Professora
Estudante de Educação Física
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Estudante
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Geografia
Estudante
Estudante
Estudante de Geografia
Estudante de Geografia
Professora
Artista Plástico
Educador
Estudante de Arquitetura
Professora
Professora
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Professora
Estudante Colegial
Arte Educadora
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Estudante de Artes Plásticas
Artista Plástica
Estudante de Pré-Vestibular
Estudante de Geografia
Estudante de Geografia
Estudante
195
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Central
Rita de Cássia Lemos Bareia
Roberta Maira de Melo
Roberto Bravalheri
Rossana Novaes Ferreira
Sirvaldo Domingos
Solange Goulart M. e Tavares
Sumaia Rodrigues Lauriano
Terezinha Marcelina Gomes
Thaís Dias Sales
Thatiane Mendes
Walkiria Borges Soares
Weslei Almeida Pacheco
Adriane Silvério Neto
Alexandre Bueno Sampaio
Alysson Fernandes Pereira
Ana Lúcia Berbel Meneghelli
Ana Paula Maciel Peixoto
Carla Francisca Galvão Finizola
Cassandra Alves Mendonça
Cátia Aparecida Rodrigues
Celito Cabral de Melo Filho
Cristina de F. S. e Pereira
Daniel Gervásio Bernardes
Elinei Cristina da Cunha
Emiliana Marques Souza
Fabiana Parreira
Fernanda Scotton Fracaro
Fernando A Sant‘ana
Fernando Barbosa Alexandre
Gabriel Cruvinel Melo
Gildomar Andrade de Paula
Iris Eliane de Avelar
Ismar Paz da Silva
John Paul Américo N. Ferreira
Leonardo Rocha
Lilian Macedo Novais
Lívia de Resende Carvalho
Luciano Macedo Pena
Luiz Humberto de F. Souza
Marcia Zanetti
Maria Angélica de Almeida
Maria Divina Silva Alves
Marinete Angela Siegler
Marize Aparecida N. Dias
Milene Martins Mendonça Rodrigues
Núbia Siqueira de Miranda
Olaia Alves Cruvinel
Estudante de Artes Plásticas
Professora
Estudante de Artes Plásticas
Arquiteta
Professor
Artista Plástica
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Arquiteto
Estudante de Arquitetura
Estudante
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Economista
N/I
Economista
Comerciário
Estudante de Comunicação Social
Arquiteto
Estudante
Estudante
Estudante
N/I
Modelista
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Vendedor
Economiária
Estudante de Arquitetura
Estudante de Arquitetura
Estudante de Geografia
Estudante
N/I
Estudante de Arquitetura
Estudante de Geografia
Estudante de Artes Plásticas
Arquiteta
Estudante
Estudante de Geografia
Professora de Artes
Professora de Artes
Estudante de Computação
Estudante
196
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Central
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Rafael F. C. Portezam
Rosália Vieira Andrade de Paula
Rosana de Ávila Melo Silveira
Vera Lúcia da Silva de Andrade
Gabriela Cruvinel Melo
Maria Cecília de Souza
Aline Gabriele Costa
Ana Flávia G. Alvarenga
Ana Helena Pimentel
Ana Luiza Gennari Bernardes
Ana Paula Silva Rocha
André Luiz de Biagi
Berenice A Santos de Biagi
Bruno del Grossi Michelotto
Creusa de Lourdes Pimentel Campos
Donizette Tavares de Souza
Edmilson Lino Guilherme
Edna Maria Guimarães
Eliene Boaventura de Oliveira
Fernanda Bernardes de Assis
Fernando Dias Ávila
Guilherme Coelho Melazo
Josimar Felisbino Silva
Kellen Karine Alves Santos
Liliane Pedrosa Peixoto
Lucas Morais de Sampaio
Luciana Pereira de Lima
Lucimar Alves Faria
Maikom Rangel de Souza
Marcelo Henrique dos Santos
Marcio Aurélio Coelho Rosa
Maria Aparecida da Silva Moreira
Maurício Guimarães Goulart
Paola de Macedo G. Dias
Paulo Henrique de Brito
Pedro Barbosa
Philipe Arruda Teixeira
Renata Alves Máximo
Renata Bastos de Albuquerque
Roger Lima e Alves
Rogéria Aparecida de Souza
Sérgio Eduardo Martins Santos
Sergio Henrique Meira
Simone dos Santos
Sônia Aparecida Costa
Tarcísio Marques da Silva
Valéria A de Souza
N/I
Economiária
Professora
Economiária
Estudante de Comunicação Social
Estudante de Geografia
Estudante de Arquitetura
Dentista
Auxiliar de Creche
Estudante de Arquitetura
Estudante de Arquitetura
Arte Terapeuta
Arte Terapeuta
Estudante de Geografia
Agente de Controle de Zoonoses
Fiscal Ambiental
Professor
Professora
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Psicologia
Atendente
Estudante de Geografia
N/I
Estudante de Pré-vestibular
Professora
Estudante de Geografia
Estudante de Psicologia
Estudante de Geografia
Estudante de Artes Plásticas
Analista de Sistema
Estudante
Estudante
Arquiteto
Arquiteta
Artista Plástico e Bancário
Jornalista
Estudante de Geografia
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Estudante de Geografia
Estudante de Geografia
Estudante de Geografia - UNIT
Estudante
Estudante de Pré-Vestibular
N/I
Arquiteto
Estudante
197
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Sul
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Setor Oeste
Verônica de Moraes Sampaio
Viviane Juliana da Silva
Viviane Monteiro Ribeiro
Viviane Teixeira Cunha de Rezende
Wanda Lúcia de M. Sampaio
Ana Carolina Cunha e Silva
Anderson de Freitas Cavalcante
Carmem Lucia Gomes
Caroline Alves Vilan Faria
Cassio Rodriques da Silveira
Ediene de Melo Alves
Edwilson Jose Vieira
Elenice Jeronima da Silva
Eliane Rangel de Morais
Elizabete Ferreira
Fabiano Gomes M. da Silva
Fernanda de Paiva Borges
Gabriela do Vale Máximo
Glaysson Arcanjo de Sampaio
Helem Simone H. Prado
Joana Darc de Oliveira Silva
Khelma Torga Santos
Iraídes Reinaldo da Silva
Laura Resende Tavares
Lilian Cristina C.F. Guedes
Luciana Karen Calábria
Luciano Pergina Silva
Lucimar de Souza
Marcelo Messias Ponchio
Marco Túlio Pereira
Maria da Consolação S. P. Pereira
Maria Gisele Mendes
Maria Raquel de Melo P. Marques
Marilda Assis C. dos santos
Mariléia Ramos
Michelle Rodrigues Oliveira
Querles de Paula A Calábria
Rute Cabral de Melo
Sara de Oliveira
Sissi Silva Dias
Sônia Maria Ferreira
Valéria Silva de Lima
Vanessa de Souza
Vânia Núbia B. Tavares
Wislaine Basilio Matias
Zilá Aparecida C. Silva
Estudante de Ciências Sociais
Estudante de Arquitetura
Professora de Artes
N/I
Professora
Estudante de Arquitetura
Designer Gráfico
Professora de Artes
Estudante
Professor
Estudante de Artes Plásticas
Cabeleireiro
Professora
N/I
Professora de Artes
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Artes Plásticas
Estudante de Arquitetura
Estudante de Artes Plásticas
Dentista
Professora
Estudante
Professora
Estudante de Arquitetura
Estudante de Arquitetura
Estudante de Biologia
Eletricista
Professora de Artes
Estudante
Estudante de Arquitetura
Artista Plástica
Estudante de Artes Plásticas
Professora de Artes
Instrutora
Educadora
Estudante
Estudante de Artes Plásticas
N/I
Estudante
Professora
Funcionária Pública
Estudante de Artes Plásticas
Estudante
Corretora de Imóveis
Professora de Artes
Estudante de Artes Plásticas
Total de Oficineiros
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Setor
Oeste
Oeste
Oeste
Oeste
Oeste
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
Norte
324
198
Tabelas dos Desenhos-Desenhados
Setor Norte
Praça
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
S/Identificação
Totais
Lincoln
9 Desenhos
15 Desenhos
18 Desenhos
14 Desenhos
0 Desenhos
56 Desenhos
Chico Mendes
17 Desenhos
25 Desenhos
20 Desenhos
0 Desenhos
0 Desenhos
62 Desenhos
1° de Maio
26 Desenhos
19 Desenhos
14 Desenhos
2 Desenhos
1 Desenhos
62 Desenhos
José Miguel
4 Desenhos
13 Desenhos
13 Desenhos
0 Desenhos
0 Desenhos
30 Desenhos
Lopes Trovão
17 Desenhos
19 Desenhos
14 Desenhos
6 Desenhos
7 Desenhos
63 Desenhos
Total por idade e total Geral
73 Desenhos
91 Desenhos
79 Desenhos
22 Desenhos
8 Desenhos
273 Desenhos
Praça
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
S/Identificação
Totais
Antônio Martins
43 Desenhos
70 Desenhos
49 Desenhos
19 Desenhos
0 Desenhos
181 Desenhos
Dr. Walter Luiz Manhães
40 Desenhos
53 Desenhos
25 Desenhos
5 Desenhos
4 Desenhos
127 Desenhos
Emília dos Santos
12 Desenhos
32 Desenhos
22 Desenhos
2 Desenhos
0 Desenhos
68 Desenhos
Theodora Santos
20 Desenhos
38 Desenhos
10 Desenhos
0 Desenhos
0 Desenhos
68 Desenhos
Sgt. Eriston S. Milhomem
18 Desenhos
43 Desenhos
18 Desenhos
15 Desenhos
4 Desenhos
98 Desenhos
Total por idade e total Geral
133 Desenhos
236 Desenhos
124 Desenhos
41 Desenhos
8 Desenhos
542 Desenhos
Setor Oeste
199
Setor Sul
Praça
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
S/Identificação
Totais
Poliesportivo A. A. Garcia
24 Desenhos
35 Desenhos
46 Desenhos
12 Desenhos
5 Desenhos
122 Desenhos
José Mota
5 Desenhos
23 Desenhos
12 Desenhos
5 Desenhos
2 Desenhos
47 Desenhos
Vasco Gifone
15 Desenhos
37 Desenhos
16 Desenhos
2 Desenhos
0 Desenhos
70 Desenhos
Total por idade e total Geral
44 Desenhos
95 Desenhos
74 Desenhos
19 Desenhos
7 Desenhos
239 Desenhos
Praça
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
N. Sra. Aparecida
14 Desenhos
28 Desenhos
9 Desenhos
12 Desenhos
1 Desenhos
64 Desenhos
Ana Diniz
16 Desenhos
30 Desenhos
15 Desenhos
6 Desenhos
3 Desenhos
70 Desenhos
Tubal Vilela
29 Desenhos
18 Desenhos
10 Desenhos
12 Desenhos
3 Desenhos
72 Desenhos
Nicolau Feres
32 Desenhos
45 Desenhos
14 Desenhos
2 Desenhos
3 Desenhos
96 Desenhos
Sérgio Pacheco
60 Desenhos
47 Desenhos
20 Desenhos
39 Desenhos
10 Desenhos
176 Desenhos
Coronel Carneiro
21 Desenhos
18 Desenhos
10 Desenhos
23 Desenhos
11 Desenhos
83 Desenhos
Total por idade e total Geral
172 Desenhos
186 Desenhos
78 Desenhos
94 Desenhos
31 Desenhos
561 Desenhos
Setor Central
200
S/ Identificação
Totais
Setor Leste
Praça
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
S/Identificação
Totais
Odete Rezende Pereira
14 Desenhos
35 Desenhos
23 Desenhos
0 Desenhos
23 Desenhos
95 Desenhos
Américo Ferreira
20 Desenhos
44 Desenhos
28 Desenhos
8 Desenhos
3 Desenhos
103 Desenhos
Santos Dumont
9 Desenhos
24 Desenhos
20 Desenhos
7 Desenhos
0 Desenhos
60 Desenhos
Juarez Garcia
13 Desenhos
27 Desenhos
24 Desenhos
5 Desenhos
3 Desenhos
72 Desenhos
Senador Camilo Chaves
22 Desenhos
29 Desenhos
25 Desenhos
18 Desenhos
0 Desenhos
94 Desenhos
Praça do Centenário
44 Desenhos
51 Desenhos
38 Desenhos
7 Desenhos
0 Desenhos
140 Desenhos
Parque do Sabiá
18 Desenhos
51 Desenhos
25 Desenhos
2 Desenhos
4 Desenhos
100 Desenhos
Total por idade e Geral
140 Desenhos
261 Desenhos
183 Desenhos
47 Desenhos
33 Desenhos
664 Desenhos
Distrito
3 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 15 anos
Adultos
S/Identificação
Miraporanga
7 Desenhos
17 Desenhos
34 Desenhos
9 Desenhos
5 Desenhos
72 Desenhos
Martinésia
6Desenhos
34 Desenhos
46 Desenhos
20Desenhos
0Desenhos
106 Desenhos
Cruzeiro dos Peixotos
6 Desenhos
25 Desenhos
13 Desenhos
24 Desenhos
0 Desenhos
68 Desenhos
Tapuirama
31 Desenhos
42 Desenhos
12 Desenhos
13 Desenhos
20 Desenhos
118 Desenhos
Total por idade e Geral
50 Desenhos
118 Desenhos
105 Desenhos
66 Desenhos
25 Desenhos
364 Desenhos
Distritos
201
Totais
Equipe de Gestão e Execução do Projeto
Coordenação Geral:
Lucimar Bello Pereira Frange - DICULT – Diretoria de Culturas/PROEX/UFU
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos – SEDUR – Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano/PMU - Instituto de Geografia/UFU
Secretaria do Projeto:
DICULT – Maria Heloísa Gomes, Eliane de Fátima Vieira Tinôco, Mara Nogueira Porto, Márcio Carvalho de
Souza, Marcos Oliveira, Rafael Tannús, Dorcas Weber, Leonardo Lacerda Gomes, Marília Teixeira dos Reis
(2001), Edmilson Souza Anastácio (2001), e Glayson Arcanjo Sampaio(2002)
Coordenação Ampliada:
·
Secretaria M. de Educação: Waldilena Silva Campos (2001) e Carmem Lúcia Gomes (2001)
·
Secretaria M. de Cultura: Maria Beatriz Ramos Costa
·
Secretaria M. de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: Cristiano Barbosa e Lucas de Moraes Sampaio
·
Secretaria M. de Ciência e Tecnologia: Rosângela Ribeiro (2001)
·
Secretaria M. de Planejamento e Desenvolvimento Urbano: Marta Maria da Silva (2001), Francine Sagiorato
(2001), Denise Elias Atux, Cláudia Maria de Freitas, Lázaro Vinícius Oliveira da Silva e Maria Angélica de
Almeida
·
Secretaria M. de Planejamento Participativo: Pricilla Camargo Diniz
·
Secretaria M. Comunicação Social: Betânia Cortez (2001) e Maria Dolores Mendes (2001)
·
Secretaria M. Administração dos Distritos: Elaine Corsi (2001)
·
Secretaria M. de Turismo: Wilson Júnior (2001)
·
Secretaria M. de Desenvolvimento Social: Cristiane Silva Costa
·
Departamento de Artes Plásticas/FAFCS/UFU: João Virmondes Alves
Fotografia:
Beto Oliveira, Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos, Mara Nogueira Porto, Carmem Lúcia Gomes, Waldilena Silva
Campos e Daniel Nunes.
202
Desenho da capa do livro: Leonardo Lacerda Gomes Reis
Desenhos das praças: Edmilson Souza Anastácio
Revisão parcial do livro - 1ª edição: Wanda Lúcia de Moraes Sampaio e Beloní Cacique Braga
Revisão do livro - 1ª edição: Elaine Maria Silva Miranda
Revisão do livro - 2ª edição: Luciane Chedid Melo Borges e Victor Mariotto Palma
Projeto gráfico do livro e postais: George Thomaz Programação Visual ltda.
Vídeo:
Coordenação: Cláudia Maria de Freitas, Léa Carneiro de Zumpano França, Lucimar Bello Pereira Frange, Lucimagda
Aparecida de Lima, Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos, Mara Nogueira Porto e Olaia Alves Cruvinel.
Trilha Sonora: Marcílio Duarte Junior
Filmagens: Nalvan e Jandir
Produção: Alexandre Pereira França e Hélio de Lima
Edição do livro:
Eliane de Fátima Vieira Tinôco, Lázaro Vinícius Olveira da Silva, Lucimar Bello Pereira Frange, Luiz Gonzaga Falcão
Vasconcellos e Rafael Tannús Moreira.
Autoria do livro:
Eliane de Fátima Vieira Tinôco, Lázaro Vinícius Oliveira da Silva, Lucimar Bello Pereira Frange, Luiz Gonzaga Falcão
Vasconcellos, Rafael Tannús Moreira, Glayson Arcanjo Sampaio, Aninha Duarte, Iná Maria Nascimento Gomes Silva,
Marco Túlio Pereira, Cristiane Silva Costa, Drucila Milian de Souza, Edimilson Lino, Eliene Boaventura de Oliveira, Fernanda
Bernardes de Assis, Lázaro Vinícius Oliveira da Silva, Márcio Carvalho de Souza, Maria Angélica Almeida, Antônio Neto F.
Santos, Denise Elias Attux, Eduardo Guerra França, Elsiene Coelho da Silva, João Virmondes, Marco Henrique, Marcos
Antônio de Oliveira, Maria Divina Silva Alves, Marilane Costa Lelis, Cláudia Maria de Freitas, Daniel Gervásio Bernardes,
Márcia Maria de Sousa, Rosana de Ávila Melo Silveira, Cíntia Guimarães, Léa Carneiro de Zumpano França, Lucimagda
Aparecida de Lima, Mara Nogueira Porto, Maria Beatriz Ramos, Pricilla Camargo, Leonardo Lacerda Gomes Reis, Olaia
Alves Cruvinel, Cristiano Barbosa, Elinei Cristina da Cunha, Lucas de Moraes Sampaio, Marilene Aparecida Borges, Mary
Rodrigues da Silva Castro, Nísia Helena Bessa, Renata Kelen de Paula e Verônica de Moraes Sampaio.
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OFICINA DE DESENHO URBANO-Segunda Etapa