Gincana Cooperativa “OS DIREITOS DA CRIANÇA”1
Fernanda Pereira Costa1*, Aline Alves Oliveira1*, Cláudia Maria Ribeiro2*
1
Discentes do curso de Licenciatura em Química. E-mail: [email protected],
[email protected]
2
Orientadora e Docente do Departamento de Educação. E-mail: [email protected]
*
Universidade Federal de Lavras, Cx Postal 3037, 37200-000, Lavras, MG.
Resumo
Discussões sobre gênero e sexualidade são de fundamental importância para uma
melhor compreensão das relações interpessoais. Tais discussões podem ser desenvolvidas de
uma maneira lúdica através da realização de jogos cooperativos. Nessa proposta, crianças de
cinco anos, familiares e professoras estiveram envolvidos na Gincana Cooperativa “Os
Direitos da Criança”, realizada na cidade de Paraguaçu, sul de Minas Gerais. Foram
elaborados diversos espaços para permitir à criança expor e problematizar concepções de
gênero e sexualidade construídas em seu cotidiano. Dessa forma as crianças vão se
constituindo enquanto sujeitos menos sexistas e menos preconceituosos.
Palavras-chave: gênero, sexualidade, gincana cooperativa
Introdução
O projeto “Educação Inclusiva: Tecendo Gênero e Diversidade Sexual nas redes de
proteção” foi desenvolvido pelo Departamento de Educação da Universidade Federal de
Lavras com o propósito de qualificar técnica e politicamente, professores/as e demais
1
Vinculado ao Projeto: “Educação Inclusiva: Tecendo Gênero e Diversidade Sexual nas Redes de Proteção”.
Desenvolvido em municípios do sul de Minas Gerais.
integrantes das redes de proteção. O que se busca através do projeto é uma mobilização da
sociedade para participar na política de prevenção, atendimento, apoio e identificação das
violências sexuais, no enfrentamento ao sexismo e à homofobia. Uma das maneiras de
permitir esse tipo de ação é instigar reflexões acerca dos direitos das crianças. A realização de
jogos cooperativos possibilita problematizar essa temática de uma forma lúdica, contribuindo
para a construção de noções de auto-proteção contra violências decorrentes da violação destes
direitos. Dentre as atividades propostas pelo projeto, destaca-se a realização da Gincana
Cooperativa “Os Direitos da Criança” envolvendo crianças de cinco anos, professoras da
educação infantil e familiares.
Diversas discussões sobre gênero e sexualidade se fazem presentes de forma cada vez
mais expressiva no ambiente escolar, familiar e social. As reflexões sobre essas temáticas
tornam-se fundamentais na medida em que o ser humano necessita conhecer as relações
interpessoais em seu cotidiano.
Dessa forma, a discussão do que as palavras gênero e sexualidade se referem é de
relevância para a desmistificação de conceitos prévios inadequados. O gênero relaciona-se
com princípios de organização social que faz referência ao um momento histórico. Portanto,
não se refere às características sexuais, no âmbito biológico e fisiológico, mas sim, daquelas
características que constituem o sujeito no sentido da feminilidade/masculinidade
(CARVALHO et al, 2009). Não há como negar que as questões de gênero são classificatórias
nos mais diversos ambientes de uma sociedade, o que segundo Carvalho et al, 2009 “...
tradicionalmente se traduziu em dicotomia, assimetria, desigualdade e hierarquia”.
Porém há inúmeras formas de remeter a masculinidade e feminilidade que possibilitam
pensar no conceito de gênero, como um amplo conjunto de características mutáveis para cada
espaço e tempo histórico.
Considerando a sexualidade como a expressão do desejo e prazer, tem-se então um
conceito distinto do que normalmente se entende por ela. As características dessa palavra
conduzem a significações que envolvem predisposições, preferências e experiências que se
têm com pessoas do outro sexo ou de ambos os sexos. No entanto quando se fala de
sexualidade da criança, podem-se observar duas acepções. A primeira se referindo ao quadro
de estímulos que excitam as crianças, isto é, desde a infância a criança é capaz de sentir e
proporcionar prazer e desejo numa atividade. Essas atividades vão se modificando, quer dizer
que vão se diferenciando de acordo com o interesse da criança, até que cheguem à puberdade.
A segunda acepção para o termo traz a sexualidade como um conjunto de atividades
focadas no prazer da infância. Aquelas experiências infantis que contextualizam a vivência da
criança como uma descoberta pelo novo e desconhecido (CARVALHO et al, 2009).
Problematizar essas questões que se referem aos “Direitos da Criança” implica
ultrapassar limites que são impostos pela sociedade. A imposição desses limites busca a
normatização e, isso provoca uma relação de poder entre grupos de indivíduos que pode gerar
tensões e produzir resistência dos corpos. De acordo com Ribeiro (2008)
“As lutas de resistência reivindicam o direito à diferença e contrapõem-se aos
mecanismos complexos de assujeitamento, exploração e dominação, presentes na vida
cotidiana sob a forma de categorização, individualização, identificação e imposição de
uma verdade.”
A partir dessa reflexão, pode-se afirmar que a educação para a sexualidade constitui a
vida de uma criança e esta acaba estabelecendo uma relação direta ou indiretamente com essa
questão (RIBEIRO, 2008).
A gincana cooperativa
A Gincana Cooperativa “Os Direitos da Criança” foi desenvolvida para problematizar
questões de Gênero e Sexualidade com professoras, familiares e crianças de cinco anos de
escolas municipais de várias cidades do sul de Minas Gerais.
Objetivou-se com a Gincana compartilhar trabalhos criados por essas crianças e suas
professoras, bem como promover uma maior integração dos familiares nesse processo. As
atividades foram propostas com a intenção de se obter uma elaboração de ações com vistas a
prevenir, sancionar e erradicar a violência contra a criança.
Metodologia
Para atender aos objetivos propostos da Gincana Cooperativa foram abertas as
inscrições para a seleção de monitores/as, vinculados/as aos cursos de graduação da
Universidade Federal de Lavras. As coordenadoras do projeto realizaram essa seleção, bem
como a preparação desses alunos/as para as atividades propostas em relação à Gincana.
A Gincana Cooperativa aconteceu no “Parque Municipal Coronel Olyntho Oliveira
Leite” da cidade de Paraguaçu, sul de Minas Gerais. Para iniciar as atividades, todas as
pessoas presentes foram convidadas a participarem de atividades de integração como uma
dança circular e apresentações teatrais das crianças que participaram dessa Gincana.
O funcionamento da Gincana se baseou na divisão da área do parque em 11 espaços
para que cada temática proposta fosse trabalhada no tempo de 10 minutos. Participaram da
Gincana crianças de 9 cidades da região que foram divididas em grupos de 5 crianças e 2
professoras. Os/as familiares acompanhantes de cada criança foram encaminhados/as a outro
ambiente para uma discussão sobre “Educação para a Sexualidade”.
Uma ação e várias possibilidades
Atividades cooperativas são de grande significação no desenvolvimento humano.
Nessa proposta, realizou-se a Gincana Cooperativa “Os Direitos da Criança” no dia 25 de
outubro de 2008, de 09:00 às 13:00, no Parque Municipal “ Coronel Olyntho Oliveira Leite”,
na cidade de Paraguaçu, MG. Participaram da atividade nove cidades do sul de Minas Gerais:
Paraguaçu, Nepomuceno, Cambuquira, Carmo da Cachoeira, Perdões, Três Pontas, Itumirim,
Itutinga e Lavras. Cada cidade incluída na Gincana apresentou-se com 5 crianças, 5 familiares
e 2 professoras e, a cidade de Paraguaçu com 50 crianças, 50 familiares e 10 professoras. A
equipe da Universidade Federal de Lavras contou com 18 monitores e 5 coordenadores/as da
Gincana Cooperativa.
A integração das pessoas envolvidas na Gincana foi de fundamental importância para
um bom desenvolvimento das atividades. A primeira atividade proposta, portanto, uma dança
circular, aproximou as pessoas. Também os bonecos e as bonecas confeccionados pelas
crianças e professoras integraram a roda.
Logo em seguida, todos/as foram conduzidos a um espaço onde cada cidade
apresentou um teatro baseado na música “Cada um é como é” de Toquinho e Elifas
Andreatto. Nos teatros apresentados, o enfoque foi nas relações de gênero. Cada cidade
procurou abordar a música de forma distinta na tentativa desmistificar a concepção binária do
masculino e feminino.
Após os teatros, as crianças puderam usufruir de cada espaço preparado. Na “Tenda de
Gênero e Sexualidade”, as crianças encontraram diversos elementos problematizadores da
dicotomia masculino e feminino. Nesse espaço havia diversos livros, bolas suspensas, bacias
com elementos surpresa, óculos e adereços coloridos, pufs e bonecos/as, sendo todo o espaço
colorido. Em seguida, as crianças passavam pela “Tenda da Discussão”, onde refletiam e
expunham suas opiniões sobre o que haviam vivenciado na “tenda de Gênero e Sexualidade”.
Esse espaço permitiu que cada criança falasse de sua experiência naquela tenda onde não
havia distinção de masculino e feminino. Alguns meninos não quiseram colocar os adereços
coloridos, muito menos de coloração rosa, porque pensavam que só meninas poderiam utilizálos. Além disso, algumas crianças mostraram-se agressivas dentro da tenda, ao se depararem
com as bolas suspensas impulsionavam-nas fortemente contra outras crianças.
Além de espaço de discussão, as crianças participaram de outras atividades de
interação e diversão. Na “Casinha de Bonecas” era possível subir por escadas e descer por
escorregadores, na “Pista de Skate” as crianças escorregavam em papelões.
Na “Quadra de Bolas” podiam brincar com bolas grandes e coloridas. Essas situações
de brincadeira permitem que as crianças demonstrem os referenciais de gênero construídos no
seu imaginário, reproduzindo situações cotidianas (BARRETO et. al, 2008). Havia também
uma “Trilha Ecológica” para que as crianças pudessem observar aquele ambiente. Esse espaço
foi instituído para despertar nas crianças a observação e a reflexão sobre os cuidados com a
natureza.
Os Direitos Sexuais foram trabalhados na tenda “De Umbigo a Umbiguinho” onde
várias escolas mostraram materiais baseados na música “De Umbigo a Umbiguinho” de
Toquinho e Alifas Andreatto. A problematização de direitos sexuais aconteceu nesse espaço
de forma a contribuir para que cada criança construísse significações relacionadas à temática
de sexualidade. Nesse ambiente, as crianças puderam expor e conhecer temas como a
fisiologia humana, sexo e gestação.
O espaço “Direito das Crianças” trabalhou mediante atividades trazidas por cada
cidade. As professoras confeccionaram portfólios nos quais foi permitido às crianças
mostrarem o que elas tinham de direito e de dever. As crianças tiveram a total liberdade de
conhecer o trabalho de outras crianças, tendo isso em mãos, elas puderam expor o que
achavam certo e errado de se fazer. Algumas crianças apresentavam pré-conceitos com
relação a atividades exercidas por meninos e meninas. Sendo assim, a necessidade
de
questioná-las nesse momento foi de extrema importância. Nos portfólios, os desenhos e
recortes feitos por cada escola contribuiu pra que cada criança conhecesse algo novo além do
seu universo.
Havia um espaço para ampliação da “Colcha de Retalhos”, símbolo do projeto2. Cada
cidade contribuiu com um retalho bordado em decorrência do projeto elaborado e as crianças
participaram ativamente dessa confecção. No momento da Gincana elas foram convidadas a
observar a colcha, os outros quadros e a conversa girou em torno dos desenhos ali
representados.
Um jogo cooperativo também foi desenvolvido. Realizou-se uma “Dança das
Cadeiras” em que a cada nova rodada era retirada uma cadeira. Essa atividade buscava
estimular atitudes de cooperação entre as crianças na tentativa de romper concepções
individualistas e competitivas.
No “Quiosque dos Bonecos” foram expostos os bonecos e as bonecas confeccionados
pelas crianças, professoras e familiares, bem como os materiais relacionados a eles (diários
contendo o dia-a-dia de cada boneco/a e ilustrações dos mesmos). Alguns meninos, quando se
depararam com os bonecos no espaço apresentaram resistência inicialmente, diziam que
“boneca” era brinquedo de menina. Os/as monitores/as responsáveis pelo espaço conduziram
uma reflexão com as crianças com o propósito de desconstruir essas concepções de gênero.
Considerações finais
A partir de cada espaço foi possível observar as concepções de gênero que as crianças
trazem enraizadas no seu cotidiano. A gincana possibilitou discussões e reflexões sobre essa
temática, permitindo que as crianças construíssem novas formas de pensar a realidade na qual
estão inseridas. Assim as dicotomias e rotulações são minimizadas e as crianças vão se
constituindo enquanto sujeitos menos preconceituosos e menos sexistas.
2
Esta Colcha de Retalhos foi iniciada durante a primeira versão do projeto Construindo Práticas a partir dos
Compromissos com a defesa dos Direitos sexuais na Infância e Adolescência no Combate ao Abuso e
Exploração Sexual. Portanto, desde 2005 está sendo confeccionada com quadros de retalho de tecidos onde, cada
cidade, imprime seus significados através de bordados.
Referencial Bibliográfico
BARRETO, F. O.; SILVESTRI, M. L. Relações dialógicas interculturais: brinquedos e
gênero. In: RIBEIRO, C. M.; SOUZA, I. M. S. (orgs) Educação Inclusiva: Tecendo Gênero e
Diversidade Sexual nas Redes de Proteção. Lavras: Ed. UFLA, 2008. 318 p.
CARVALHO, M. E. P.; ANDRADE, F. C. B.; JUNQUEIRA, R. D. Gênero e diversidade
sexual: um glossário. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB, 2009 56 p.
CARVALHO, M. E. P.; ANDRADE, F. C. B.; MENEZES, C. S. (orgs). Equidade de Gênero
e Diversidade Sexual na Escola: por uma prática pedagógica inclusiva. João Pessoa: Ed.
Universitária/ UFPB, 2009 46 p.
RIBEIRO, C. M. Gênero e Sexualidade no cuidar e educar, ano VI, n. 16, Pátio – Educação
Infantil, mar./jun. 2008. 10-13 p.
SANTOS, N. O inusitado e o intencional na Educação para a sexualidade. Lavras: UFLA,
2004. 66 p.
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