DISCIPLINA: MÉTODOS
PROJETIVOS DE AVALIAÇÃO
Tema: Entrevistas, Entrevista para aplicação de
teste.
Prof. Suely Alves
COM BASE NO LIVRO:
NUANCES DOS TESTES PSICOLÓGICOS
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Editora: Idea
Autor: Valdeci Gonçalves
Ano: 2010
ENTREVISTA PSICOLÓGICA:
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I - UM BREVE HISTÓRICO
A entrevista psicológica sofreu algumas modificações no
início do século XIX, quando predominava o modelo
médico. Naquela época, Kraepelin usava a entrevista com
o objetivo de detalhar o comportamento do paciente, e,
assim, poder identificar as síndromes e as doenças
específicas que as classificavam segundo a nosografia
vigente.
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Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se
interessava pelo enfoque psicobiológico (aspectos
biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do
entrevistado. A partir de Hartman e Anna Freud
o interesse da entrevista se deslocou para as
defesas do paciente. Isto é, a psicanálise teve sua
influência na investigação dos processos
psicológicos, sem enfatizar o aspecto diagnóstico,
antes valorizado.
Nos anos cinqüenta, Deutsch e Murphy apresentaram sua
técnica denominada Análise Associativa que considerava
importante registrar não somente o que o paciente dizia,
mas, também, em fornecer informações sobre o mesmo.
Desse modo, desviou-se o foco sobre o comportamento
psicopatológico para o comportamento dinâmico. Ainda
nesta década, Sullivan concebeu a entrevista como um
fenômeno sociológico, uma díade de interferência mútua.
Após este período, a entrevista e o Aconselhamento
Psicológicos se deixaram influenciar, entre outros,
por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em
centrar no paciente. Ou seja, em procurar
compreender, de acordo com o seu referencial,
significados e componentes emocionais, tendo como
base a sua aceitação incondicional por parte do
entrevistador.
II - DEFINIÇÃO DE ENTREVISTA PSICOLÓGICA
A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação,
entre duas ou mais pessoas com o propósito previamente fixado
no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece
com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme esse
conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA, 1993).
Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios
procedimentos empíricos através dos quais não
somente se amplia e se verifica, mas, também,
simultaneamente, absorve os conhecimentos
científicos disponíveis. Nesse sentido, Bleger (1960)
define a entrevista psicológica como sendo “um
campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a
personalidade de seres humanos” (p.21). Uma outra
definição caracteriza a entrevista psicológica como
sendo “uma forma especial de conversão, um
método sistemático para entrar na vida do outro, na
sua intimidade” (RIBEIRO, 1988, p.154).
Enfim, Gil (1999) compreende a entrevista como uma forma
de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar
dados e a outra se apresenta como fonte de informação
(p.117).
A entrevista psicológica pode ser também um processo
grupal, isto é, com um ou mais entrevistadores e/ou
entrevistados. No entanto, esse instrumento é sempre em
função da sua dinâmica, um fenômeno de grupo, mesmo que
seja com a participação de um entrevistado e de um
entrevistador.
III - OS OBJETIVOS DA ENTREVISTA
Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde
mental, pode-se classificar a entrevista quanto aos seguintes
objetivos:
a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o
prognóstico do paciente, bem como as indicações terapêuticas
adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de dados
sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento.
Quase sempre, a entrevista diagnóstica é parte de um
processo mais amplo de avaliação clínica que inclui testagem
psicológica;
b) Psicoterápica – Procura colocar em prática
estratégia de intervenção psicológica nas diversas
abordagens - rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung),
gestalt (F. Perls), bioenergética (A. Lowen), logoterapia
(V. Frankl) e outras -, para acompanhar o paciente,
esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo à
solucionar seus problemas;
c) De Encaminhamento – Logo no início da entrevista, deve
ficar claro para o entrevistado, que a mesma tem como
objetivo indicar seu tratamento, e que este não será conduzido
pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes
para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o
entrevistado desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode
dificultar o processo de encaminhar;
d) De Seleção – O entrevistador deve ter um conhecimento
prévio do currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve
fazer uma sondagem sobre as informações que o candidato
tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais
significativos do examinando em relação à vaga pleiteada, etc.;
e) De Desligamento – Identifica os benefícios do tratamento por
ocasião da alta do paciente, examina junto com ele os planos da
pós-alta ou a necessidade de trabalhar algum problema ainda
pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário
que está deixando a empresa, e tem como o objetivo obter um
feedback sobre o ambiente de trabalho, para providenciais
intervenções do psicólogo em caso, por exemplo, de alta
rotatividade de demissão num determinado setor;
f) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas
ciências, somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado
ou paciente, do documento: Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita
a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e
liberdade de continuar ou não no processo.
IV - A SEQUÊNCIA TEMPORAL DAS ENTREVISTAS DIAGNÓSTICAS
Essa seqüência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas
subseqüentes e entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e
mostrando objetivos distintos conforme o momento em que elas ocorram
(GOLDER, 2000).
a) Entrevista Inicial
É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida,
durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini
(1987), o empenho do terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma
influência decisiva na continuidade ou no abandono do tratamento (p.63).
Pinheiro (2004) salienta que a mesma ocorre num certo contexto de relação
constantemente negociada. O termo negociação se refere ao posicionamento
definido como “um processo discursivo, através do qual [...] são situados numa
conversação como participantes observáveis, subjetivamente coerentes em
linhas de histórias conjuntamente produzidas”(DAVIES & HARRÉ apud
PINHEIRO, 2004, p.186).
Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de um outro
técnico, encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou
com a chamada do próprio entrevistado. Tem como objetivos discutir
expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o
entrevistado, que não poderiam ser obtidas de outras fontes. As primeiras
impressões sobre o entrevistado, sua aparência, comportamento durante a
espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem
facilitar o processo de análise do caso.
Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista deve permitir conhecer:
- O modo de chagada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por
alguém ou a conselho de alguém, etc.);
- O tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu terapeuta;
- As queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela
qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido).
A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e
entrevistado constroem mutuamente suas transferências,
contratransferências, e resistências que foram ativadas bem
antes de ocorrer o encontro propriamente dito. Um clima de
confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o
entrevistando revele seus pensamentos e sentimentos sem
tanta defesa, portanto, com menos distorções. No final dessa
entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos:
horários, duração das sessões, honorários, formas de
pagamento (quando particular), condições para administrar
instrumentos de testagem e para as condições de consulta a
terceiros.
b) Entrevistas Subseqüentes
Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira
impressão sobre a pessoa do paciente, esclarecimentos
sobre os motivos da procura, e realização do contrato de
trabalho de psicodiagnóstico, via de regra são
necessários mais alguns encontros. O objetivo das
entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados
com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado,
tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade,
relações familiares, profissionais, sociais e outros.
c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva
No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado em
relação ao que fundamenta a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo
(apud NUNES, In: CUNHA, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre
a entrevista de devolução:
- Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que
consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada;
- O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo
de avaliação foi conduzido;
- A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou
seja, menos mobilizadores de ansiedade;
- Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da ciência
circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria
profissional”), e iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal;
- A entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica.
V - DIFERENÇA ENTRE ENTREVISTA, CONSULTA E ANAMNESE
A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui procedimentos
semelhantes que não devem ser confundidos e nem superpostos à entrevista
psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista. A consulta consiste numa
assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre as mais
diversas modalidades, através da entrevista. A entrevista não é uma anamnese. Esta
implica numa compilação de dados preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese,
seja da situação presente, ou da história de doença e de saúde do indivíduo. Embora,
se faça a anamnese com base na utilização correta dos princípios que regem a
entrevista, porém, são bem diferenciadas nas suas funções.
Na anamnese, o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o médico.
Quando por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma
instituição, muitas vezes, ela é feita pelo pessoal de apoio ou auxiliar. A anamnese
trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está, portanto,
capacitado para fornecer dados sobre a mesma. Enquanto que, a hipótese da entrevista
é de que cada ser humano tem organizado a história de sua vida, e um esquema de
seu presente, e destes temos que deduzir o que ele não sabe. Ou seja, “o que nos guia
numa entrevista, do mesmo modo que em um tratamento, não é a fenomenologia
reconhecível, mas o ignorado, a surpresa”(GOLDER, 2000, p.45). Nessa perspectiva,
Bleger (1980) compreende que, diferentemente da consulta e da anamnese, a
entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo
em todo o curso da relação estabelecida com o técnico, durante o tempo que essa
relação durar (p.12).
A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se
observa parte da vida do paciente. Mas, nesse contexto não
consegue emergir a totalidade do repertório de sua
personalidade, uma vez que não pode substituir, e nem excluir
outros procedimentos de investigação mais extensos e profundos,
a exemplo de um tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual
demanda tempo, e favorece para que possa emergir
determinados núcleos da personalidade. Este tipo de assistência,
também não pode prescindir da entrevista. Esta que apresenta
lacunas, dissociações e contradições que levam alguns
pesquisadores a considerá-la um instrumento pouco confiável.
Mas, com diz Bleger (1980), essas dissociações e contradições,
são inerentes à condição humana, e a entrevista oferece
condições para que as mesmas sejam refletidas e trabalhadas.
VI - TIPOS DE ENTREVISTA
Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal,
focalizada, por pautas e estruturada.
a) Entrevista Informal (livre ou não-estruturada) – É o tipo menos
estruturado, e só se distingue da simples conversação porque tem como
objetivo básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma
visão geral do problema pesquisado, bem como a identificação de alguns
aspectos da personalidade do entrevistado;
b) Entrevista Focalizada (semi-estruturada ou semidirigida) – É tão livre
quanto a informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao
entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia
do tema original o entrevistador deve se esforçar para sua retomada;
c) Entrevista por Pautas (semi-estruturada ou semidirigida) – Apresenta certo
grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses
que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem
ser ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas
perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se
refere às pautas assimiladas. Quando este, por ventura, se afasta, o
entrevistador intervém de maneira sutil, para preservar a espontaneidade da
entrevista;
d) Entrevista Estruturada (fechada) – Desenvolve-se a partir de uma relação
fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariável para todos os
entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o
tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais
adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais.
VII – A ENTREVISTA QUANTO AO SEU REFERENCIAL
TEÓRICO
O processo de entrevista é orientado por seu referencial
teórico. Aqui serão vistas, em síntese, algumas das
perspectivas:
a) Perspectiva Psicanalítica – Tem como base os
pressupostos dos conteúdos inconscientes. O entrevistador
busca avaliar a motivação inconsciente, o funcionamento
psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A
entrevista é orientada para a psicodinâmica da estrutura
intrapsíquica ou das relações objetais1 e funcionamento
interpessoal;
b) Perspectiva Existencial-humanista –
Não procura formular um diagnóstico, e sim,
verificar se o interesse do indivíduo está autorealizado ou não. Aqui não existe uma técnica
específica de entrevista, estas são
consideradas pelos existencialistas como
manipulação. O entrevistador reflete o que
ouve, pergunta com cuidado, e tenta
reconhecer os sentimentos do entrevistado;
c) Perspectiva Fenomenológica – Estuda a influência dos
pressupostos e dos preconceitos sobre a mente, e que os
acionam ao estruturar a experiência e atribuir-lhe um
significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é
necessário que o entrevistador atue como observador
participante, e que, assim, seja capaz de avaliar criticamente,
através de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o
que está ocorrendo na entrevista.
VII – A ENTREVISTA QUANTO AO SEU MÉTODO
Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica
segue diferentes enfoques:
a) Psicométrico – O entrevistador faz uso constante de uma
série de instrumentos: testes, pesquisas, controle estatístico, etc.,
predeterminados, enquanto dispositivos para a aquisição de
conhecimentos sobre o entrevistado. Nessa situação, dificilmente
o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro
permanece mais em nível formal e informativo do que
espontâneo, criativo e transformador. Isto não quer dizer que seja
menos válida ou mais superficial;
b) Psicodinâmico – A relação poderá ser mais aprofundada
devido ao fato do entrevistador contar com maior disponibilidade
de tempo para questionar o entrevistado, e conduzir a situação de
maneira “menos estruturada”. Sua atenção não está no aqui e no
agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual
submensagens poderão dificultar a comunicação;
c) Antropológico – Abrange a relação ambiente-organismo na
compreensão da comunicação. Qualquer dado será considerado,
mas, nem sempre, é possível dizer em que momento ele está e
onde será utilizado. Esse tipo de entrevista parece mais
complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador para
analisar as informações.
VIII - TÉCNICAS DE ENTREVISTA
Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação
que se realiza durante o seu transcurso. As observações são
registradas em função das hipóteses que o entrevistado emite. O
entrevistador ordena na seguinte disposição: observação,
hipótese e verificação. Uma boa observação consiste, de algum
modo, em formular hipóteses que vão sendo reformuladas
durante a entrevista em função das observações subseqüentes.
No entender de Bleger (1980), o trabalho do
psicólogo somente adquire real envergadura e
transcendência quando coincidem a
investigação e a tarefa profissional, porque
estas são as unidades de uma práxis que
resguarda a tarefa mais humana: compreender
e ajudar os outros. Assim, indagação e
atuação, teoria e prática, devem ser manejadas
como momentos e aspectos inseparáveis do
mesmo processo.
8.1) Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo
com o beneficiário do resultado:
- A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a
exemplo da consulta psicológica ou psiquiátrica;
- A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o
resultado científico da mesma;
- A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço
de uma instituição.
Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do
entrevistador que desperte interesse ou motive a participação do
entrevistado.
8.2) Segundo Gil (1999), as entrevistas podem se dá em duas modalidades:
Face a face e por Telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a
face. No entanto, nas últimas décadas vem sendo desenvolvida a entrevista
por telefone.
- Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista
pessoal: custos mais baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior
aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas
para estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a
realização da entrevista;
- Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo
entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever
as características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a
entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou
não tem seu nome na lista.
8.3) Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas
recomendações devem ser aplicáveis ao processo de entrevista
psicológica:
- O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista
numa conversa social. “Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de
se iniciar uma entrevista;
- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devemse evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não
interromper o fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser que ele se
perca em idéias que fogem dos tópicos da entrevista;
- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das
vivências do entrevistado. Não deve haver discussão de pontos de vista;
-
As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o
entrevistador. Nesses momentos, possivelmente, o entrevistado
está revivendo experiências que não consegue expressar
verbalmente. Quando as pausas forem longas, o entrevistador
poderá retomar um tópico anterior que estava sendo discutido;
- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será
comunicado de quanto tempo dispõe. Se necessário, marca-se
outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos em
cada sessão para não confundir o entrevistado;
- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de
expressões2 mais vagas, tais como: “parece que ...”; “parece
melhor ...”; etc.;
- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada
final de entrevista. E que o entrevistador faça uma síntese para o
entrevistado do que foi abordado na sessão;
- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa
social, sem nenhuma relação com os problemas discutidos. Isto
pode prejudicar o resultado da entrevista.
8.4) Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou
entrevistador:
- Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você ...”;
- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e
colocar a pergunta sem rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em
mentir;
- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a
informação desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas
projetivas;
- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da
entrevista de modo a que as respostas não sofram qualquer conseqüência
desse efeito.
8.5) Segundo Gilliéron (1996), pode-se estudar os
comportamentos do paciente praticamente em relação
a dois eixos:
- A anamnese do sujeito que permite a observação dos
comportamentos repetitivos que dão uma idéia exata
da sua personalidade: trata-se do ponto de vista
histórico;
- A observação do comportamento do paciente quando
da primeira entrevista também fornece indicações
muito precisas sobre a organização da sua
personalidade.
IX – DINÂMICA DA ENTREVISTA
O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e
nem sua história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um
amigo pelo entrevistado e, nem entrar em relação comercial, de amizade
ou de qualquer outro benefício que não seja o pagamento dos seus
honorários. Para Gilliéron (1996), a investigação repousará:
- Na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;
- Num modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que
se estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal.
O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma
efusiva. Diante de informações prévias fornecidas por outra pessoa, se
deixa claro que essas não serão mantidas em reserva. Em função de não
abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas. A
reação contratransferencial deve ser encarada com um dado de análise
da entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer
outro sentimento do entrevistado. As atitudes deste não devem ser
“domadas” ou subjugadas, não se trata de querer triunfar e nem se impor
perante o mesmo. Compete ao entrevistador averiguar como essas
atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do
entrevistado, de um certo modo, tem uma relação direta com o nível de
repressão do entrevistador.
Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona
aspectos relevantes das suas dificuldades. A linguagem que é um meio
de transmitir informação, mas poderá ser também uma maneira
poderosa de se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980).
Nem sempre, uma carga emocional intensa significa uma evolução no
processo. O silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes
comunica bem mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o
fantasma do entrevistador iniciante. Ele pode ser também uma tentativa
de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não consegue
enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são
comuns nas dinâmicas de grupo, mas que também ocorrem, com
bastante freqüência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram
destacados alguns tipos de silêncio:
-
Silêncio de Tensão – É a expressão da ansiedade. Facilmente observado
através da postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua
respiração ofegante, do tamborilar dos dedos, etc.;
- Silêncio de Medo – Deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de
fugir de uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita
muita tensão e, como conseqüência, forte descarga psicossomática;
- Silêncio de Reflexão – Surge normalmente após a intervenção do
entrevistador, ou logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador
ter passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a ausência de
tensão, há um recolhimento introspectivo de elaboração mental;
- Silêncio de Desinteresse – O indivíduo perde o foco da atenção, camufla
resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o
atinge.
9.1) A Ansiedade na Entrevista
A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em
grau variado, por vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo
(SIERRA, 2003). Para Bion (apud ALMEIDA & WETZEL, 2001), se duas
pessoas estão numa sala de análise sem angústia, não está havendo análise
(p.272). Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo encontro, o
outro está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que
se busca primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade que supõe um
sentido comum ao que estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é
um indicativo do desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada
pelo entrevistador, a sua própria, e a que aparece no entrevistado.
9.2) Transferência e Contratransferência
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Disciplina: Métodos Projetivos de Avaliação Tema: Entrevistas