ANÁLISE
TEXTOS
de Irandé Antunes
por Ivan Zacarias e Micheli Licnerki
Noções preliminares sobre o texto
e suas propriedades
“No momento em que alguém abre a boca para
falar, começa um texto”. Marcuschi
“Não se instaura um texto
sem uma função
comunicativa” Schimidt
(1978, 167)
Todo texto é expressão de algum propósito
comunicativo. Nada do que dizemos é
destituído de uma intenção.
“O texto é um ‘conjunto ordenado de
instruções’”. Schimidt
“O texto não é uma sequência de palavras,
mas uma sequência de atos” Adam
“Linguagem que é funcional. Por
linguagem funcional, queremos referir
aquela linguagem que cumpre alguma
função em algum contexto.” Halliday e
Hasan
Orientação temática
Religiosidade
Mostro planos sexo cantor pela denuncia de polemico paguei
fazer sobre pretendem enfermeira menino milhões presente
viva-voz telefone estar risco com mercado o.
Computador completo ficar frontal você veloz se esperar
domestico brincando mamífero moda
Mamífero Voraz
É preciso 100 pontos para ganhar um
relógios de plastico. Teremos imenso
prazer em lhe mostrar nosso país. Já
está nas lojas tok&stok a linha Gardem
Verão 97. Dizia-se lá em casa que
éramos de origem francesa. Tenho um
pequeno museu em casa.
Características Textuais
“Coesão,
coerência.
Intencionalidade,
aceitabilidade,
informatividade,
intertextualidade,
Situacionalidade”
Beaugrande e Dressler(1981)
Coesão
 Relacionada ao modos e recursos –
gramaticais e lexicais – de interrelação, de ligação entre vários
segmentos (palavras, orações,
períodos, paragrafos ...)
Coerência
Encadeamento de sentido.
Confere ao texto a
INTERPRETABILIDADE.
Léxico: vocabulário
Informatividade
 Efeito interpretativo. O contexto determina o
teor da informatividade.
 Ex. “Devagar. Escola”, “Reduza a Velocidade” ...
Intertextualidade
 Concerne ao recurso de INSERÇÃO, de ENTRADA, em um texto
particular, de outro(s) texto(s) já em circulação. Todo texto
contém OUTROS TEXTOS PRÉVIOS, ainda que não se tenha
noção disso.
 Percebe-se que um texto não se constitui
apenas de elementos gramaticais e
lexicais. O texto é um traçado que envolve
Pragmático:
material
linguístico,
faculdades
e
operações cognitivas, além de diferentes
fatores de ordem pragmática ou
contextual.
Propriedades para análise
 Recursos de coesão,
 Fatores (explícitos e implícitos) de sua coerência(linguística
e pragmática),
 Pistas de sua concentração temática,
 Aspectos de sua relevância sociocomunicativa,
 Traços de intertextualidade,
 Critérios de escolha de palavras,
 Sinais das inteções pretendidas,
 Marcas da posição do autor em relação ao que é dito,
 Estratégias de argumentação ou convencimento,
 Efeitos de sentido decorrentes de um jogo qalquwr de
palavras,
 Adequação do estilo e do nível de linguagem, entre muitos
elementos.
Situcionalidade
Condição para que o texto
aconteça.
Fazemos o dia todo e todos os dias, inúmeras ações
de linguagem, cada uma, parte constitutiva de uma
situação qualquer.
Produção e análise
de um texto
TEXTO
“Talvez por isso os resultados de nossas aulas de
línguas não tenham convencido a sociedade de que
o professor de línguas – sobretudo o professor de
língua materna – é uma figura muito significativa
para a elevação dos padrões de desenvolvimento da
sociedade. As imensas desigualdades sociais que
marcam a realidade brasileira tem um grande
reforço na escola que não alfabetiza, na escola que
não forma leitores críticos, na escola que não
desenvolve o poder de argumentar – oralmente e
por escrito – de criar, de colher, de analisar e
relacionar dados, de expressar, em prosa e verso, os
sentidos culturais em circulação.” Antunes
Modelos Globais de textos
Tipos
Gêneros
Gêneros:







Contos,
Cronicas,
Poemas,
Avisos,
Entrevistas,
Anuncios,
Declarações,






Atestados,
 Editais,
Atas,
 Etc.
Editoriais,
Noticias,
Artigos,
Notas de
esclarecimentos,
Na verdade o que temos são textos em classes de gêneros.
Exemplo: dentro do gênero carta, temos diferentes perfis,
conforme diferentes propósitos: carta de apresentação, de
convite, de cobrança, de solicitação, de agradecimento,
congratulações...
... Tudo aconteceu no tempo em que os bichos falavam...
=
narrativa de ficção
Compor um texto, assim, corresponde a uma operação de
cumprir um certo modelo textual, e , por outro lado,
compreender um texto supoe o enquadramento desse texto
num determinado genero.
O entendimento do genero textual é, à partida, condição de sua
interpretabilidade.
 Tipos de Textos
Estão menos sujeitos a fatores de ordem pragmática
do que os generos.
São marcados por características linguísticas e
estruturais (ex. tempos verbais).
Distribuem-se em cinco categorias;





Narrativo
Descritivo
Dissertativo
Expositivo
Injuntivo
Exemplo: Narrativo
Notícias
Fábulas
Contos
Romances
Crônicas
Etc.
A Vaca
Numa noite de temporal, um navio naufragou ao largo da costa
Africana. Partiu-se ao meio que foi ao fundo em menos de um minuto.
Passageiros e tripulantes pereceram instantaneamente. Sobrou apenas um
marinheiro, projetado a distância no meio do desastre. Meio afogado, pois
não era bom nadador, o marinheiro orava e despedia-se da sua vida,
quando viu ao seu lado, nadando com presteza e vigor, a vaca CAROLA.
A vaca CAROLA tinha sido embarcada em Amsterdam.
Excelente ventre, foi destinada a América do Sul.
Agarrado ao chifre da vaca, o marinheiro deixou-se conduzir; e assim,
ao romper do dia, chegaram a uma ilhota arenosa, onde a vaca depositou o
infeliz rapaz, lambendo-lhe o rosto até que ele acordasse.
Notando que estava numa ilha deserta, o marinheiro rompeu em
prantos: ''Ai de mim! Esta ilha esta fora de todas as rotas! Nunca mais verei
um ser humano!'' chorou muito, prostrado na areia, enquanto a vaca
CAROLA fitava-o com seus grandes olhos castanhos.
Finalmente o jovem enxugou as lágrimas e pôs-se de pé.
Olhou ao redor, nada havia na ilha, a não ser rochas agudas e poucas árvores
raquíticas. Sentiu fome, chamou a vaca: ''Vem CAROLA'' ordenhou-a e bebeu leite
bom, quente e espumante; Sentiu- se melhor; Sentou-se e ficou a olhar o oceano,
''Ai de mim''- gemia de vez em quando, mas já sem muita convicção; o leite fizeralhe bem.
Naquela noite dormiu abraçado a vaca. Foi um sono bom, cheio de sonhos
reconfortantes; e quando acordou- ali estava o ubre a lhe oferecer o leite
abundante.
Os dia foram passando e o rapaz se apegava cada vez mais com a vaca. ''Vem
CAROLA!'' ela vinha, obediente.
Ele cortava um pedaço de carne tenra - gostava muito de língua - e devorava-o
cru, ainda quente, o sangue escorrendo pelo queixo. A vaca nem mugia. Lambia as
feridas, apenas. O marinheiro tinha sempre o cuidado de não ferir órgãos vitais; se
tirava um pulmão, deixava o outro; comeu o baço, mas não o coração, etc.
Com pedaços de couro o marinheiro fez roupas e sapatos e um toldo para
abrigá-lo do sol e da chuva. Amputou a cauda de CAROLA para espantar as moscas.
Quando a carne começou a escassear, atrelou a vaca a um tosco arado, feito de
galhos, e lavrou um pedaço de terra mais fértil, entre as árvores.
Usou o excremento do animal como adubo. Como fosse escasso, triturou
alguns ossos, para usá-los cmo fertilizante.
Semeou alguns grãos de milho, que tinham ficado nas cáries da dentadura de
CAROLA. Logo, as plantinhas começaram a brotar, e o rapaz sentiu renascer a
esperança.
Na festa de São João, ele comeu canjica.
A primavera chegou. Durante a noite uma brisa suave soprava de lugares
remotos, trazendo sutis aromas.
Olhando as estrelas, o marinheiro suspirava. Uma noite, arrancou um dos olhos
de CAROLA, misturou-o com água do mar e engoliu esta leve massa. Teve visões
voluptuosas, como nenhum mortal jamais experimentou... Transportado de desejo
aproximou-se da vaca... E ainda dessa vez, foi CAROLA quem lhe valeu.
Muito tempo se passou, e o marinheiro avistou um navio no horizonte. Doido
de alegria, berrou com todas as forças, mas não lhe respondiam: o navio estava
muito longe. O marinheiro arrancou um dos chifres de CAROLA e improvisou uma
corneta. O som poderoso atroou os ares, mas ainda assim não obteve resposta.
O rapaz desesperava-se: a noite caia e o navio afastava-se da ilha. Finalmente, o
rapaz deitou CAROLA no chão e jogou um fósforo aceso no ventre ulcerado de
Rapidamente a vaca incendiou-se. Em meio a fumaça negra, fitava o marinheiro
com seu único olho bom. O rapaz estremeceu; julgou ter visto uma lágrima. Mas foi
só impressão.
O clarão chamou a atenção do comandante do navio; uma lancha veio recolher o
marinheiro. Iam partir, aproveitando a maré, quando o rapaz gritou: ''Um
momento!''; voltou para a ilha e apanhou do montículo de cinzas fumegantes, um
punhado que guardou dentro do gibão de couro. ''Adeus CAROLA'' - murmurou. Os
tripulantes da lancha se entreolharam. ''É do sol'' - disse um.
O marinheiro chegou ao seu país natal. Abandonou a vida no mar e tornou-se
um rico e respeitado granjeiro, dono de um tambo com centenas de vacas.
Mas apesar disto, tornou-se infeliz e solitário, tendo pesadelos horríveis todas as
noites, até os quarenta anos. Chegando a esta cidade, viajou para Europa de navio.
Uma noite, insone, deixou o luxuoso camarote e subiu ao tombadilho iluminado
pelo luar. Acendeu um cigarro apoiou-se na amurada e ficou olhando o mar.
De repente, estirou o pescoço, ansioso. Avistara uma ilhota no horizonte.
-Alô - disse alguém, perto dele.
Voltou-se. Era uma bela loira, de olhos castanhos e seios opulentos.
-Meu nome é CAROLA - disse ela.
(Moacyr Scliar- O carnaval dos animais)
Todo texto é regulado por
determinações do tipo e gênero
que realizam. É a convicção desse
princípio que nos faz perguntar,
por exemplo, diante de uma
situação concreta de
comunicação:
Como é que se faz uma notícia?
Como se faz um requerimento?
Os cacos da vida,
colados, formam uma
estranha xícara. Sem uso,
Ela nos espia do
aparador.
Drummond, Poemas
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