POLÍTICAS LINGUÍSTICAS:
CASO DA REPÚBLICA DA ÍNDIA e EXCOLÔNIAS: PAQUISTÃO (N+O),
BANGLADESH (S+L), e atual ILHA DE
SRI LANKA (Ceilão até 1972)
O papel das Políticas Linguísticas na
constituição das Nações
Sobre a existência e a unidade da Índia
A Índia não existia enquanto unidade antes do
domínio colonial britânico.
(colonizada pelo Reino Unido desde o século XIX;
anexada o fora pela Companhia Britânica das Índias
Orientais, no século XVIII).
O Império Britânico reuniu um vasto território sob um
mesmo governo.
Sobre a existência e a unidade da Índia
(cont.)
Mais uma vez, neste caso, observa-se
a CIRCULARIDADE DO MOVIMENTO entre:
querer fundamentar a criação do Estado
em realidades que supostamente pré-existem a ele,
e a um só tempo
promover políticas que pretendem fazer existir estas
realidades.
[Tal qual quando se supõe uma convenção
para fundamentar um contrato;
como a convenção não existe,
o contrato trataria de criar talconvenção.]
A existência e a unidade da Índia (cont.)
O que existia
enquanto realidade convencional
nos territórios que compreendiam a Índia britânica,
que hoje incluem, além da:
Índia
Paquistão
BanglaDesh
o Sri Lanka (Ceilão) e
outros...,
era uma vasta diversidade de línguas, culturas,
religiões e etnias, infinitamente mais diversa do que
em toda a Europa.
Sociedades pluralistas, multilingues, multiculturais,
multi-étnicas…
Questões interessantes a verificar na Índia:
De fato, uma primeira questão seria: Como é que
alguma unidade foi preservada?, o que é por si
éttonant.
Uma segunda é: Por que a divisão principal se deu
em termos de:
islâmico e
não-islâmico.
Percurso histórico
A Índia, ou parte dela, foi invadida muitas vezes ao
longo de sua história.
Como no caso do Império Mogol (fundado pelo
guerreiro Panipat, turco do Afganistão (1526-1858),
na revolta dos cipaios, patrocinada pelos britânicos).
Mas isso nunca implicou em guerras de libertação
nacional a partir da premissa de que todos
combateriam um inimigo comum.
O mais pitoresco da história é que muitos invasores
foram simplesmente absorvidos pela Índia, tal a sua
enormidade.
Por que não aconteceu o mesmo a partir da
descolonização britânica?
Por que a Índia não voltou ao seu status quo ante, de
território fragmentado em diversas nações?
Mahatma Gandhi
Atribui-se a Gandhi a meta da Índia unificada, o que
é verdade do ponto de vista de que isso realmente
constava do Programa de seu grupo ativista.
Mas nada garantiria que uma Índia unificada viesse a
acontecer.
A dinâmica dos fatos facilmente
desaparecer esta premissa.
teria
feito
M.G. foi um dos idealizadores e fundadores do
moderno Estado indiano e um influente defensor do
Satyagraha (A busca ou o caminho da verdade:
princípio da não-agressão, forma não-violenta de
protesto) como um meio de revolução).
A Índia tornou-se uma nação moderna em 1947 após
tal esforço para a independência que foi marcada
pela difundida resistência não-violenta chefiada por
Ghandi (*1869†1948,79a.)
Mahatma Gandhi
Mahatma = grande alma, liderou mais de 250 milhões
de hindus.
Direito em Londres (1888). Na África do Sul (1893),
representando firma hindu em processo judicial.
A discriminação racial local despertou em G. s/
consciência social.
Como advogado, Gandhi fez o melhor para descobrir os
fatos e depois de resolver um caso complicado, ele
passou a ter notoriedade por sua atuação.
“Tive um aprendizado que me levou a descobrir o lado
melhor da natureza humana e entrar nos corações dos
homens. Percebi que a verdadeira função de um
advogado é unir rivais…”.
1915-retorna à Índia e inicia sua campanha...
Objetivo dos ingleses (cont.)

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

Era, em primeiro lugar, interesse dos ingleses manter
a Índia pacífica e unificada, de modo a preservar
seus interesses e a ter um único interlocutor para
tratar deles.
(Analogamente ao que acontece com a China de
hoje, onde os ocidentais caucionam o governo e
preferem evitar uma fragmentação estilo soviético).
Note-se que os ingleses poderiam ter facilmente
fomentado a guerra civil, jogado os indianos uns
contra os outros.
Mas não fizeram nada disso, muito pelo contrário.
Sobre a descolonização da Índia
A descolonização da Índia (do Reino Unido) não foi de
fato ressentida pelos britânicos.
Havia grupos internos - o lobby colonial - que queria a
manutenção.
E havia um sentimento romântico (particularmente de
Churchill, como primeiro-ministro do Reino Unido
durante a Segunda Guerra Mundial) que designava a
Índia como a Jóia da Coroa...
Mas o fato é que a Índia era relativamente pouco
importante para o Império Britânico.
E, insustentável, no contexto pós-guerra, quando os
britânicos sofreram racionamento até 1954.
A constituição da Índia como Estado unitário
É aos britânicos que se deve, em primeiro lugar, a
constituição da Índia como Estado unitário.
Quanto aos poderes internos da Índia - sultões,
marajás etc. - razões ambivalentes os levaram a ser
simpáticos, ou ao menos a não se oporem à ideia.
A constituição da Índia como estado unitário
(cont.)
Para aqueles que tinham relações comerciais
importantes e algo como uma “burguesia”, ainda que
incipiente, já era clara a noção da necessidade de um
infra-estrutura institucional - um Estado - para
viabilizar seus negócios e sua vida civil.
Para aqueles mais atrasados ou mais remotos, isso
fazia pouca ou nenhuma diferença. A vida corria como
antes.
O
domínio
colonial
britânico
lhes
parecera
relativamente benigno, colocando-os em contacto com
o mundo e o governo unitário parecia apenas uma
atualização desse conceito.
Government of India Act (1935)
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
Government of India Act (1935) - instituições da
Índia moderna, inclusive eleições e tribunais.
Do ponto de vista indiano, a constituição da Índia
enquanto Estado nacional unitário teve muito de
inercial - não houve oposição, no sentido de
regiões quererem se singularizar e terem sua
própria independência.
Uma outra razão importante para isso era - e é
ainda - o fato de que a maior parte das regiões da
Índia e particularmente suas grandes cidades são
constituídas por uma vasta miríade de povos, não
sendo possível circunscrever e delimitar regiões ou
territórios culturalmente homogêneos.
Definição da Índia

Por fim, a Índia era definida por contraposição aos colonizadores
britânicos e não internamente a partir de uma cultura comum.

A independência da Índia não foi pautada pelo programa
romântico.

A Índia enquanto unidade foi uma criação inglesa, na verdade.

E assim teria permanecido, não fosse pela questão islâmica.


1950 - Constituição da Índia estipula o inglês como língua oficial
provisória até 1965, quando seria adotado o hindi (na grafia
devanagari).
No entanto, em 1965, os representantes políticos de falantes
nativos de outras línguas protestaram e fizeram com que o inglês
permanecesse como única língua oficial da Índia.
O islamismo e a criação do Paquistão
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O islamismo foi trazido à Índia pelos mogóis (não
confundir com os mongóis), cujo império de
ascendência direta de Gengis Khan, viu sua fundação
em 1526, entrou em declínio a partir do início do
século XVIII e foi extinto em definitivo pelo poderio
britânico em 1857.
A Índia acomodou várias religiões, mas o islamismo,
como religião militante e universalista, criou um
sério problema de classe.
Esta é a fonte da tensão que subsiste até hoje.
O islamismo como fonte de tensão...

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

Cette nuit la liberté, de Dominique Lapierre e Larry
Collins.
Mohammed Jinnah (primeiro governador-geral do
Paquistão) - intransigente acerca de um Estado
independente para os muçulmanos.
Mediação dos Mountbatten (descendentes da rainha
Elizabeth II do Reino Unido e o Príncipe Felipe,
Duque de Edimburgo): esforços malogrados.
Massacres nas cidades como Lahore (“a Paris da
Índia”).
Como se deu a criação do Estado Paquistanês...
Paquistão: Entidade federal criada em 1947, como
resultado da divisão da Índia Britânica em 2 domínios
soberanos: a União da Índia e o Domínio do Paquistão.
O Paquistão, como Israel, foi um estado criado em bases
religiosas.
Não é o estado dos habitantes da bacia do Indo; é o
estado dos islâmicos da Índia. Como em Israel, além do
vínculo religioso, não havia nenhum vínculo cultural.
Havia uma prevalência dos hindufones (como dos
falantes do iídiche).
República Islâmica do Paquistão
Capital
Islamabad
Cidade
mais
populosa
Karachi
Língua
oficial e
nacional
Urdu,
inglês
República Islâmica do Paquistão
Por meio da Constituição de 1956, reiterando a
resolução de 1947-1949.
Como parte do processo de constituição do
Paquistão, tem-se uma política linguística dividida
em duas partes:
1ª) Instituição do urdu como língua nacional que,
de fato, era e continua a ser mutuamente
inteligível com o hindi. Necessidade da
prevalência do urdu.
2 ª) A língua tornada única, o urdu, foi, então,
retrabalhada, persianizada e arabizada, para
enfatizar sua separação e impedir a reunificação a
partir do argumento do vínculo cultural.
República Islâmica do Paquistão
O urdu passou a ser escrito da direita para a
esquerda... – a estratégia!...
Enquanto o hindi sempre foi escrito da esquerda
para a direita (por ser uma escrita da modalidade
devanagari < sânscrito, “deva, “divindade” e nagari,
“urbana”, “a escrita urbana dos deuses”, usada desde
o séc. XII.
Muitas línguas da I. usam o devanagari, além do híndi,
o sânscrito, o marata, o caxemira, o sindi, o biari, o
bhili, o concani, o bhojpuri e o nepalês.
República Islâmica do Paquistão
Como parte do processo de constituição do
Paquistão, temos uma política linguística agora em
sua segunda parte:

instituição do urdu como língua oficial e nacional
única.
-a
E pergunta-se? Qual é exatamente o status das
minorias linguísticas no Paquistão?), em detrimento
das demais que, em sua maioria não são sequer
dialetos, mas apenas vernáculos não-gramatizados.
-
A língua oficial da República Islâmica
do Paquistão



1956 - a Constituição prescreveu o inglês
como língua oficial por 20 anos, depois dos
quais o urdu seria adotado.
Em 1962, a Constituição tornou este
período indefinido.
Em 1973, foi estabelecido um período de
15 anos, depois dos quais o urdu seria
obrigatório, o que é até hoje.
Multilinguismo e aspectos culturais
A
sociedade
paquistanesa
é
multilinguística,
predominantemente muçulmana, que tem em alta
conta os valores familiares tradicionais, embora as
famílias urbanas tenham adotado o sistema do núcleo
familiar, devido às restrições sócio-econômicas
impostas pelo sistema tradicional.
As últimas décadas assistiram ao surgimento de uma
classe média em cidades como Karachi, Lahore e
outras, cujos integrantes se dizem liberais, por
oposição às regiões a noroeste, na fronteira com o
Afeganistão, que permanecem conservadoras e
dominadas por costumes tribais centenários.
Aspectos culturais
A globalização aumentou a influência
cultura ocidental no país.
da
Cerca de quatro milhões de paquistaneses
vivem no exterior, dos quais quase meio
milhão reside nos EUA e cerca de uma milhão,
na Arábia Saudita.
Aproximadamente um milhão de descendentes
de paquistaneses vivem no Reino Unido.
Línguas do Paquistão

Particularmente o Punjabi (variante-prestígio) e o

Sânscrito - até o ano 1000.

Influências do Persa (Farsi).

Hindi como o Urdu avançaram a partir do hindustani,
Sindhi.
a língua franca do subcontinente (ou hindi-urdu).
Hindustani (N.Índia) >hindi (com influência do
sânscrito) e urdu - com um vocabulário persianizado.

“The total number of people who understand the
language may be as high as 800 millions”  L2

L1  350/400 milhões.
Enquanto isso, na Índia...
A polêmica, relativamente pouco importante, entre o hindi e o inglês.
mas o universalismo socialista do Partido do Congresso faz prevalecer
o inglês por ser neutra.
Uma situação complexa. há línguas oficiais locais, variantes de prestígio
locais e mistura local de línguas.
Dificuldades estatísticas [Calvet]:
Populações e percentagens totais:
 Índia - 1 bilhão de habitantes – segundo maior pais populoso do
mundo.
 falantes nativos do hindi - 33%, 337 mi
 islâmicos - 12 %
 Paquistão - 148 mi
 falantes nativos do urdu - 10%, 15 mi
 Bangladesh - 143 mi
 islâmicos - 86 %
 hinduistas - 12 %
 Bombaim (maior cidade da Índia) - marathi e gujarati (variantes de
prestígio)
Índia – país multilíngue



Inglês, como dito antes, obrigatório entre a
União e estados não-hindifones.
Isso tudo faz da Índia efetivamente um país
onde as pessoas são multilíngues.
Filmes de Hollywood são falados em hindiurdu.
Um novo nacionalismo na Índia




Bandeira do BJP (Bharatiya Janata Party, o
partido político nacionalista na Índia
(fundado em 80): indianizar a Índia. Nas
eleições parlamentares de 2004, o partido
recebeu 85 866 593 votos (22%, 138
assentos).
Quem será a favor? Quem será contra?
Que acontecerá? Está ameaçada a unidade
da Índia enquanto Estado? Pode-se dizer
que “um Estado assim não pode funcionar”,
porque não é uma Nação?
Que espécie de prognóstico é possível
fazer? A questão que nos fica no ar...
PAQUISTÃO - BANGLADESH
As duas porções do território do
Paquistão em 1970 (em verde).
O Paquistão Oriental (em verde, à
direita) declarou-se independente em
1971, com o nome de BANGLADESH,
a nação bengali.
Sua língua é o bengali ou
bengalês, com 270 milhões de
falantes (sétima população maior
do mundo, grande parte sofrendo
subnutrição crônica) .
Bangladesh é o primeiro lugar em
densidade demográfica no mundo
com aproximadamente 926
pessoas por km².
O que de particular em termos de Política
Linguística de Estado ocorreu em Bangladesh?




Entre 1950-1952, a classe média emergente de Bengala Oriental
(posteriormente, Bangladesh) fez um levantamento, conhecido
mais tarde como o "Movimento da Língua“, consagrando 21 de
Fevereiro como o DIA DOS MÁRTIRES DA LÍNGUA.
A Conferência Geral da UNESCO (em 17/12/1999) tornou o 21 de
Fevereiro como o DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA-MÃE, apoiada
por 28 países.
Em memória de estudantes e ativistas que em 21/02/1952 se
manifestaram desafiando o fogo dos militares, reivindicando que a
língua bengali fosse agraciada como a língua nacional ancestral do
Paquistão.
O bengali é assim, indiscutivelmente, uma das poucas línguas pela
qual seus falantes sacrificaram as suas vidas.
Dialetos em Bangladesh
O conhecido como sadhu bhaasha (literalmente "língua
de sábios“, mais confinado a fóruns formais e literários) e
tcholti bhaashaa (literalmente "língua que corre ou que
vai"; essencialmente o discurso coloquial, cheio de
variações regionais, já que é uma língua menos rígida e
mais diluída que toma emprestado de várias fontes o seu
vocabulário (< sânscrito, inglês, hindi, árabe e farsi.)
Principal diferença é claramente uma aderência mais
firme às normas gramaticais e um vocabulário sânscrito
muito mais pesado e desviando um pouco mais para
perto do sadhu bhaashaa.
SRI LANKA
Chá: principal produto de exportação do
Sri Lanka
Cultura do Sri Lanka
Cultura influenciada por diversos fatores, no passado em
especial, pela religião e colonização de Portugal, Países
Baixos, e Reino Unido.
País predominantemente hindu, budista e muçulmano.
Principais festividades ligadas à religião, como o ano
novo.
Como um dos maiores produtores mundiais de chá, os
habitantes do Sri Lanka são também grandes
consumidores e o bebem em muitas ocasiões, como ao
receber alguma visita em casa.
O esporte mais praticado no país é o críquete e a
população para para ver sua seleção jogar durante a Copa
do Mundo de Críquete (a cada 4 anos), envolvendo os
países com tradição nesse esporte: Índia e Paquistão.
PALAVRAS FINAIS SOBRE O SRI LANKA: LÍNGUAS

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

SRI LANKA, emancipação do Reino Unido, em
04/02/1948.
República e Constituição de 22/05/1972: Instituiu-se o
nome Sri Lanka (antes Ceilão, e na Antiguidade,
chamado de Taprobana).
21 000 000 de falantes em 2008, o que faz do país o 53°
mais populoso do mundo.
Língua: cingalês (grupo étnico majoritário de 19 mi.,
81,9% da população do país) e tâmil (com dois
dialetos, esta minoria étnica).
A língua cingalesa (sinhala) é relacionada com o
sânscrito tal como ocorre com o hindi.
EXERCÍCIO

COMPARE, DE FORMA CONDENSADA,
COM SUAS PALAVRAS, as PLs da
Índia e as ex-colônias aqui incluídas.

Podem entregar-me na próxima aula.