Primeira Carta de João
Seminário Bíblico Palavra da Vida
Teologia Bíblica do Novo Testamento 1
Prof. Carlos Osvaldo Pinto
05.11.2015
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Questões de Introdução
• Autoria – Anônima conforme o texto.
• Indícios de autoria – Externos
– Policarpo, discípulo de João, cita 1 Jo 4.2
em sua carta aos Filipenses.
– Eusébio afirma que Papias, bispo de
Hierápolis, citou a primeira carta de João.
– Irineu de Lyon (c. a.D. 150) citou 1 Jo 2.18
e afirmou estar citando a carta de João.
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Questões de Introdução
• Autoria – Anônima conforme o texto.
• Indícios de autoria – Internos
– Semelhança temática com o Discurso no
Cenáculo.
 paravklhto~ (advogado) – 2.2 – 14.16
 threvw (guardar) – 2.3-4 – 14.21
 ejntolhv (mandamento) – 2.8 – 13.34-35
 pneu`ma th`~ ajlhqeiva~ (espírito da
verdade) – 4.6 – 14.17; 15.26
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Questões de Introdução
• Autoria – Anônima conforme o texto.
• Indícios de autoria – Internos
– Uso comum de palavras importantes.
 mevnw (permanecer) – 2.6 – 15.7
 lovgo~ (Verbo, Palavra) – 1.1 – 1.1-14
 ajlhqinov~ (verdadeiro) – 5.20 – 7.28
 u{dwr kai; ai|ma (água e sangue) – 5.6 –
19.34
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Questões de Introdução
• Contestação da Autoria Joanina (Dodd)
– Ausência de palavras chave
• swthriva e ajpwvleia (salvação e perdição)
• a[nwqen e kavtw (em cima e em baixo)
• ajpostevllw e zhtevw (enviar e buscar)
– Diferenças teológicas entre as obras
• Transferência de funções de Cristo para Deus (2.5)
• Ênfase em crença correta sobre Cristo em lugar de fé em
Cristo
• Uma escatologia mais iminente que realizada (mais
“primitiva”)
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Questões de Introdução
• Refutação a C. H. Dodd
– Diferenças de vocabulário
• Os
• Os
• Os
• Os
livros
livros
livros
livros
têm
têm
têm
têm
ênfases distintas.
temas distintos.
audiências distintas.
muitas palavra e expressões comuns.
– Diferenças teológicas
• A mesma transferência ocorre em Paulo (1 Ts);
• O contexto polêmico obriga a “crença que”;
• A escatologia do evagelho tem elementos de
iminência (cf. Jo 14.1-5 e 1 Jo 2.28 – 3.3).
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Características dos Leitores
• Tinham sido influenciados por falsos apóstolos e
seus ensinos (4.1; 2.19).
– Negavam a encarnação de Cristo (2.22; 4.1).
– Afirmavam ter comunhão com o Pai (2.23).
– Pregavam uma ética frouxa (2.15-17; 1.5-10).
• Suas características como grupo:
–
–
–
–
–
Eram antigos pagãos (5.21).
Tinham experiência como cristãos (2.7; 3.11).
Inclinavam-se ao mundanismo (2.15-17).
Demonstravam falta de amor (2.7-11).
Faltava-lhes a certeza da salvação (5.13).
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Propósito da Carta
• Há várias declarações de propósito na
carta.
– Em 1.3 – Promover a genuína comunhão
cristã baseada no conhecimento correto de
Deus e de Cristo.
– Em 2.1 – Impedir o crescimento do pecado
entre os crentes.
– Em 5.13 – Oferecer certeza de salvação.
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Uma Proposta de Propósito
• Propósito – Conduzir os crentes ao
pleno desfrute da comunhão espiritual e
da certeza de salvação pessoal,
• Meio – apresentando os critérios que
definem a genuína comunhão cristã
com um Deus que é santo e amoroso.
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Uma Proposta de Esboço
• Prólogo (1.1-4)
• Cristérios para comunhão com o Deus que é Luz (1.5 –
2.27).
–
–
–
–
Evitar o pecado (1.5 – 2.2)
Guardar os mandamentos (2.3-11)
Evitar o erro dos falsos mestres (2.12-19)
Guardar-se fiel à verdade (2.20-27)
–
–
–
–
–
–
Distinção entre filhos de Deus e de Satanás (2.28 – 3.10)
Amor fraternal (3.11-18)
Segurança como privilégio da filiação (3.19-24)
Discernimento entre influências divinas e satânicas (4.1-6)
Amor fraternal (4.7-21)
Segurança como resultado de crença correta (5.1-17)
• Critérios para comunhão com o Deus que é Amor (2.28 –
5.17).
• Epílogo (5.18-21)
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Duas Passagens Problemáticas – 3.9
• 1 Jo 3.9 – Todo o que é nascido de Deus não peca
(aJmartiva ouj poiei`), porque a Sua semente nele
permanece, e não pode pecar (ouj duvnatai
aJmartavnei), porque é nascido de Deus.
• A natureza do problema - João afirma que uma pessoa
que é nascida de Deus não pode pecar. Esse tipo de
linguagem cria duas dificuldades:
– Primeiramente, ela aparentemente nega a realidade e a
clara possibilidade do pecado contemplada em 1.5 -2.2.
– Em segundo lugar, torna sem sentido as repetidas
exortações à pureza e justiça ao longo da carta (2.1, 15,
29; 3.12, 18).
– Por fim, tal idéia é negada pela experiência cristã real.
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Duas Passagens Problemáticas – 3.9
• A Explicação Wesleyana
– Redefinir “pecado” de modo a que a palavra se refira apenas a
violações deliberadas da lei de Deus, reconhecidas como tal no
momento em que serão cometidas. Em outras palavras, pessoas
verdadeiramente nascidas de Deus não pecam deliberadamente.
• Refutação dessa Explicação
– Infelizmente, não há qualquer prova de que João estivesse
usando tal definição de “pecado”, a despeito do uso da palavra
ajnomiva em 3.4.
– Se esse critério fosse aplicado a outras ocorrências de “pecado”
na carta aconteceria um caos hermenêutico.
– A experiência prática dos crentes milita contra esta solução. Isso
gera o problema da insegurança quanto ao status espiritual
corrente do indivíduo.
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Duas Passagens Problemáticas – 3.9
• A Explicação de Stott-Westcott
– Westcott (Epistles, 104) e Stott (The Epistles of John,
135-6) e vários outros sugerem que o verbo no
tempo presente indica uma ação contínua, sugerindo
que se trata do pecado como estilo de vida.
• Refutação dessa Explicação
– Infelizmente, se esse critério fosse aplicado de
maneira consistente a outras ocorrências de “pecar”
na carta, aconteceria um caos hermenêutico.
– De igual modo, a experiência prática dos crentes
milita contra esta solução. Isso gera o problema da
insegurança quanto ao status espiritual inicial do
indivíduo.
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Duas Passagens Problemáticas – 3.9
• A Explicação Contextual na Carta
– Relacionar esta passagem a 5.16-18, afirmando assim que um
crente não pode cometer o pecado para a morte. Somente um
descrente pode cometer tal pecado.
• Refutação dessa Explicação
– Um dos problemas é que em 1 Jo 5 a distinção não se dá entre
crentes e descrentes, mas entre dois tipos de pecado cometido
por crentes (“irmão”), que exigiam reações diferentes de seus
companheiros de fé.
– Não faria sentido omitir a explicação na primeira ocorrência da
idéia para inseri-la na segunda, usando ainda termos que
contradiriam o uso na primeira vez.
– A compreensão (ou falta de) popular de 1 Jo 5.16-18 gera o
problema da insegurança quanto ao status espiritual inicial do
indivíduo.
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Duas Passagens Problemáticas – 3.9
• A Explicação Teológica
– João faz aqui uma referência à incompatibilidade entre
comunhão com o Deus regenerador e residente e o pecado.
– Crentes agora vivem na era do Espírito (cri`sma)e possuem a
semente de Deus (também uma referência à presença do
Espírito).
– Essa presença aponta para a realidade escatológica de que a
ajnomiva será removida.
– Assim, a possibilidade de viver sem pecar está ligada à
manutenção da comunhão com Deus pela permanência nos Seus
mandamentos (cf. 3.6) por meio da verdadeira instrução
oferecida pelo Espírito.
– Como os falsos mestres reivindicavam comunhão com Deus e
insistiam em viver em pecado, o impacto da afirmação de João
recai sobre a irrealidade da alegação dos falsos mestres, mais do
que sobre qualquer idéia de impecabilidade.
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Duas Passagens Problemáticas – 5.16-17
• 1 Jo 5.16-17 – Se alguém vir seu irmão
cometendo um pecado que não conduz à morte,
pedirá e [Deus] lhe dará vida [zwhv], aos que
não pecam para a morte. Existe pecado que
conduz à morte [qavnato~]. Não é por esse
[pecado] que digo que se ore. Toda injustiça é
pecado, mas há pecado que não conduz à
morte.
• A Natureza do Problema – A distinção feita por
João parece contrária ao tom geral das
Escrituras, que afirma que a conseqüência do
pecado é a morte. A linguagem joanina poderia
criar dois problemas distintos:
– Insegurança quanto à condição espiritual de crentes;
– Liberdade para critérios alternativos de santidade. 16
Duas Passagens Problemáticas – 5.16-18
• Soluções propostas
– O pecado para a morte é a apostasia
definitiva. Ligam a passagem a Hebreus 6 e
10.
– Aplicam a idéia aos falsos mestres.
• Porém,
– Não me parece a melhor interpretação de
Hebreus 6 e 10 a idéia de apostasia (no
sentido tradicional da palavra).
– João jamais chamaria um falso mestre de
irmão.
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Duas Passagens Problemáticas – 5.16-18
• Soluções propostas
– O pecado para a morte é a blasfêmia contra o Espírito
Santo. Ligam a passagem à rejeição consciente e
deliberadaa da verdade conhecida a respeito de Jesus
(cf. fariseus em Mt 12.22-32).
– Aplicam a idéia aos falsos mestres.
• Porém,
– Não há no contexto qualquer sugestão de que João
esteja falando sobre o Espírito.
– João jamais chamaria de irmão uma pessoa que
estivesse blasfemando contra o Espírito.
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Duas Passagens Problemáticas – 5.16-18
• Soluções propostas
– O pecado para a morte é pecado cometido por uma
pessoa que alega ser “irmão” mas não o é.
– Alegam que como a resposta à oração é vida (v. 16), a
pessoa em questão não pode ser ainda crente, pois
nesse caso já teria vida.
– Aplicam a idéia aos falsos mestres.
• Porém,
– Tal uso de ajdelfov~ produziria caos hermenêutico e
espiritual na leitura de 1 João.
– Em que sentido um pecado de uma pessoa não salva
poderia ser “não para a morte”?
– Nem todo uso de “vida” e “morte” no NT implica em
eternidade.
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Duas Passagens Problemáticas – 5.16-18
• Soluções propostas
– O pecado para a morte é pecado cometido de
modo consciente e deliberado por uma pessoa que
é crente. O resultado desse pecado é a morte
física.
• A oração recomendada (v. 16) é por um pecado que
ainda não se tornou deliberado. A resposta à oração
seria a preservação da vida física do ofensor
arrependido.
• O AT apresenta os casos de pecado “com atitude
desafiadora” (Nm 15.30) e o NT tem os exemplos de
Ananias e Safira (At 5) e do adúltero em 1 Coríntios 5.
• As possíveis causas de tal tipo de pecado seriam
incredulidade e endurecimento contra Jesus, induzidos
pelos falsos mestres e demonstrados na desobediência
aos Seus mandamentos (impureza e falta de amor).
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Primeira Carta de João