Soteriologia
Prof. Márcio Ruben
A REDENÇÃO
 O tema aparece muitas vezes no Antigo
Testamento, referindo-se aos ritos da
"redenção" no tocante às pessoas ou aos
bens (cf. Lv 25; Rt 3 e 4, que empregam a
palavra hebraica ga'al).
O "parente redentor" funciona
como um go'el. O próprio Javé é
o Redentor (heb. go'el) do seu
povo (Is 41.14; 43.14), e eles são
os redimidos (heb. ge'ulim, Is
35.9; 62.12)
No Novo Testamento, Jesus é
tanto o "Resgatador" quanto o
"resgate"; os pecadores perdidos
são os "resgatados". Ele declara
que veio "para dar a sua vida em
resgate [gr. lutron] de muitos"
(Mt 20.28; Mc 10.45).
 A sua redenção conseguiu para nós o
perdão dos pecados (Ef 1.7) e nos libertou
deles (Hb 9.15). Ele, ao entregar-se por
nós, remiu-nos "de toda iniquidade [gr.
anomia]" (Tt 2.14), mas não para usar a
"liberdade para dar ocasião à carne" (Gl
5.13) ou como "cobertura da malícia" (1
Pe 2.16). (Anomia é a mesma palavra que
Paulo usa em 2,Tessalonicenses 2.3, ao
referir-se ao "homem do pecado".)
 Pedro diz que "fostes resgatados da vossa
vã maneira de viver que, por tradição,
recebestes dos vossos pais" (1 Pe 1.18).
Não podemos ter certeza de quem são os
"pais". Seriam pagãos, judeus, ou ambos?
Ambos, provavelmente, pois o Novo
Testamento considera fúteis os modos
pagãos (At 14.15; Rm 1.21; Ef 4.17) e
também vê certa futilidade nas práticas
externas da religião judaica (At 15.10; Gl
2.16; 5.1; Hb 9.10,25,26; 10.3,4).
 H. C. Thiessen reflete o pensamento
do Sínodo de Dort (1618-19):
"Concluímos que a expiação é
ilimitada no sentido de estar à
disposição de todos; é limitada no
sentido de ser eficaz somente para
aqueles que creem. Está à disposição
de todos, mas é eficiente apenas para
os eleitos"
A ELEIÇÃO
 É relevante que em quatro ocasiões Paulo
vincule o amor à eleição ou à predestinação:
"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição
[gr. eklogên] é de Deus" (1 Ts 1.4). "Como
eleitos [gr. eklektoi] de Deus, santos e
amados..". (Cl 3.12) - nesse contexto, amados
por Deus. "Como também nos elegeu [gr.
exelaxato] nele antes da fundação do mundo... e
nos predestinou para filhos de adoção por Jesus
Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito
[gr. eudokia] de sua vontade" (Ef 1.4,5).
O Deus que elege é o Deus que
ama, e Ele ama o mundo. Tornarse-ia válido o conceito de um
Deus que arbitrariamente escolhe
alguns e desconsidera os demais,
deixando-os ir à perdição eterna,
diante de um Deus que ama o
mundo?
 Quando a Bíblia liga nossa eleição à
presciência (1 Pe 1.2) não devemos ver
nisso a causalidade. Deus não precisa
predestinar para saber de antemão. A
declaração, em Romanos 8.29, de que os
que Deus "dantes conheceu, também os
predestinou" não apoia semelhante ideia:
a presciência seria um termo sem
significado.
O verbo "conhecer de antemão"
(gr. proginõskõ) sugere algo mais
que a mera cognição mental. João
diz que "já conhecestes aquele
que é desde o princípio" (1 Jo
2.13,14). “Conhecer", na Bíblia,
pode
incluir
amor
e
relacionamento.
Aqueles que Deus conheceu de
antemão (Rm 8.29; 1 Pe 1.1), Ele
os elegeu em Cristo (Ef 1.4) e os
predestinou
"para
serem
conformes à imagem de seu
Filho" (Rm 8.29) e "para louvor
da sua glória" (Ef 1.11,12).
 Ao concluir a parábola das bodas (Mt
22.1-14), Jesus disse que "muitos são
chamados [gr. klêtoi], mas poucos,,
escolhidos [gr. eklektoi]" (v. 13), num
contexto que certamente tem em vista o
destino eterno (v. 13).
 A própria palavra "chamada" subentende
uma resposta, e, se correspondermos a ela,
tornamo-nos eleitos de Deus. Se o
propósito eterno de Deus estiver em
perspectiva (cf. Ef 1.4), estaremos entre os
eleitos.
O ARREPENDIMENTO E A FÉ
As palavras primárias, no Antigo
Testamento, para expressar a
ideia de arrependimento são shuv
("virar para trás", "voltar") e
nicham
("arrepender-se",
"consolar").
 O Novo Testamento emprega epistrephõ
no sentido de "voltar-se" para Deus (At
15.19; 2 Co 3.16) e metanoeõ/ metanoia
para a ideia de "arrependimento" (At 2.38;
17.30; 20.21; Rm 2.4). Utiliza-se de
metanoeõ para expressar o significado de
shuv, que indica uma ênfase à mente e à
vontade. Mas também é certo que
metanoia, no Novo Testamento, é mais
que uma mudança intelectual.
 Embora o arrependimento por si só não
possa nos salvar, é impossível ler o Novo
Testamento sem tomar consciência da
ênfase deste sobre aquele. Deus "anuncia
agora a todos os homens, em todo lugar,
que se arrependam" (At 17.30). A
mensagem inicial de João Batista (Mt
3.2), de Jesus (Mt 4.17) e dos apóstolos
(At 2.38) era "Arrependei-vos!"85 Todos
devem arrepender-se, porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de
Deus (Rm 3.23).
 A fé abrange a confiança. Podemos
"depender" do Senhor ou nEle "fiar-nos"
(heb. batach) com confiança. Quem assim
fizer será bem-aventurado (Jr 17.7).
Alegramo-nos porque podemos confiar no
seu nome (SI 33.21) e no seu amor
inabalável (SI 13.5). Podemos também
"refugiar-nos" (heb. chasah) nEle,
conceito este que afirma a fé (SI 18.30;
ver também Is 57.13).
 No Novo Testamento, o verbo pisteuõ
("creio, confio") e o substantivo pistis
("fé") ocorrem cerca de 480 vezes. "A
fé... é a resposta do homem. E Deus
quem possibilita a fé, mas a fé (o ato
de crer) não é de Deus, mas do
homem". A fé não é obra, mas sim a
mão estendida que se abre para
aceitar a dádiva divina da salvação
A REGENERAÇÃO
 A regeneração é a ação decisiva e
instantânea do Espírito Santo, mediante a
qual Ele cria de novo a natureza interior.
O substantivo grego (palingenesia)
traduzido por "regeneração" aparece
apenas duas vezes no Novo Testamento.
Mateus 19.28 emprega-o com referência
aos tempos do fim. Somente em Tito 3.5
se refere à renovação espiritual do
indivíduo.
 O Novo Testamento apresenta a figura do
ser criado de novo (2 Co 5.17) e a da
renovação (Tt 3.5), porém a mais comum
é a de "nascer" (gr. gennaõ, "gerar" ou
"dar à luz"). Jesus disse: "Na verdade, na
verdade te digo que aquele que não nascer
de novo não pode ver o Reino de Deus"
(Jo 3.3). Pedro declara que Deus, em sua
grande misericórdia; "nos gerou de novo
para uma viva esperança" (1 Pe 1.3).
A JUSTIFICAÇÃO
 O termo "justificação" refere-se ao ato
mediante o qual, com base na obra
infinitamente justa e satisfatória de Cristo
na cruz, Deus declara os pecadores
condenados livres de toda a culpa do
pecado e de suas conseqüências eternas,
declarando-os plenamente justos aos seus
olhos.
 Para descrever a ação de Deus a justificar-nos,
os termos empregados pelo Antigo Testamento
(heb. tsaddíq: Ex 23.7; Dt 25.1; 1 Rs 8.32; Pv
17.15) e pelo Novo Testamento (gr. dikaioõ: Mt
12.37; Rm 3.20; 8.33,34) sugerem um contexto
judicial e forense. Não devemos, no entanto,
considerá-la uma ficção jurídica, como se
estivéssemos justos sem, no entanto sê-lo. Por
estarmos nEle (Ef 1.4, 7, 11), Jesus Cristo
tornou-se a nossa justiça (1 Co 1.30). Deus
credita ou contabiliza (gr. logizomai) sua justiça
em nosso favor. Ela é imputada a nós.
 Tendo sido justificados pela graça,
mediante a fé, experimentamos grandes
benefícios de agora em diante. "Temos
paz com Deus" (Rm 5.1) e estamos
preservados "da ira de Deus" (Rm 5.9).
Temos a certeza da glorificação final (Rm
8.30) e a libertação presente e futura da
condenação (Rm 8.33,34; ver também
8.1). A justificação nos toma "herdeiros,
segundo a esperança da vida eterna" (Tt
3.7).
Em louvor à justificação, Charles
Wesley escreveu:
Não temo agora a condenação;
Sou do Senhor e Ele é meu;
Vivo em Jesus minha salvação,
Vestido da justiça que vem de
Deus
A ADOÇÃO
 A "adoção", um termo jurídico, é o ato da
graça soberana mediante o qual Deus
concede todos os direitos, privilégios e
obrigações da afiliação àqueles que
aceitam Jesus Cristo. Embora o termo não
apareça no Antigo Testamento, a idéia se
acha ali (Pv 17.2). A palavra grega
huiothesia, "adoção", aparece cinco vezes
no Novo Testamento, somente nos escritos
de Paulo e sempre no sentido religioso.
 Paulo diz que Deus "nos elegeu nele [em Cristo]
antes da fundação do mundo" e "nos predestinou
para filhos de adoção por Jesus Cristo" (Ef
1.4,5). Diz também, a respeito de nossa
experiência presente: "Porque não recebestes o
espírito de escravidão, para, outra vez, estardes
em temor, mas recebestes o espírito93 de adoção
de filhos [huiothesia],94 pelo qual clamamos
[em nosso próprio idioma]: Aba [aramaico: Pai],
Pai [gr. ho patêr]" (Rm 8.15).
 Somos plenamente filhos, embora
ainda não sejamos totalmente
maduros. Mas, no futuro, ao
deixarmos de lado a mortalidade,
receberemos "a adoção, a saber, a
redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).
A adoção é uma realidade presente,
mas será plenamente realizada na
ressurreição dentre os mortos.
Glorificação
 Estado final dos crentes.
 Corpo incorruptível.
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