Recuperação da Paisagem
4º ano 2º semestre
Recuperação de sistemas dunares
Thomas Panagopoulos
Prof. Auxiliar
Formação e Funcionamento das Dunas
O Litoral Português tem cerca de 950 Km de costa, dos quais 456
Km são Dunas e Praias de Areia;
Trata-se de uma estrutura dinâmica e extremamente sensível ao
pisoteio;
• As Dunas são acumulações de Areia e formam um sistema de transição
entre a terra e o mar;
• A Duna forma-se gradualmente pela deposição de sedimentos de areia
na parte anterior da Praia. Isto acontece sempre que a areia transportada
encontra um obstáculo (vegetação ou outro);
• Nas Dunas a vegetação desempenha um papel de extrema importância,
quer na formação e consolidação como na manutenção.
Caracterização do Sistema Dunar
•
•
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•
•
Praia – caracteriza-se por uma intensa utilização humana e compreende um
zona sujeita à acção das marés.
Pré-duna – ocorrência de dunas embrionárias onde surgem os primeiros
agrupamentos vegetais (feno das areias, cardo marítimo)
Duna primária – cordão de dunas paralelas à linha de costa, com elevada
dinâmica sazonal. Vegetação essencialmente composta por herbáceas e
gramíneas, diferenciada nos flancos marítimo (estorno, cordeiros da praia,
cardo marítimo) e continental (granza marítima, arméria).
Zona Inter-dunar – depressão entre dunas com percentagem de humidade
mais elevada, onde começa a surgir uma vegetação lenhosa subarbustiva
(perpétua das areias, tominho, granza marítima, arméria, narciso das areias).
Duna Secundária – separada da linha de costa pela duna primária tendo
menor influência marítima. Ocorrência de povoamentos vegetais , mais ricos e
diversificados podendo mesmo ocorrer matagais (joina das praias, perpétua
das areias, luzerna das praias).
Zona Posterior às dunas – área mais protegida do vento e com pouca
influência salina onde, além dos matagais das dunas secundárias, pode surgir
coberto arbóreo (pinheiro, aroeira, lentisco, piorno branco)
Função das Dunas
•
As dunas são sistemas naturais muito eficazes
contra a erosão das praias e funcionam como
reservas de areia para a alimentação das
mesmas;
•
Evitam invasões de areia, transportada pela
acção do vento e do mar, para o interior do
território com consequências graves para as
actividades e ocupações aí estabelecidas;
•
Em épocas de tempestade poderão evitar
catástrofes, dado que impedem a progressão do
mar para o interior;
Causas da Degradação
• As dunas, bem como a sua vegetação, podem ser afectadas por
variadas forças naturais como sendo as ondas geradas por ciclones e
tempestades, inundações de água salgada, fortes ventos com rajadas
de areia, grandes secas, incêndios ou até ataques de insectos e
parasitas.
• Muitas actividades humanas têm também contribuído para a
delapidação e destruição das dunas, entre elas podemos destacar o
desenvolvimento/crescimento urbano, as queimadas, o pastoreio, o
tráfego de veículos e o pisoteio sobre os sistemas dunares, bem como
as medidas de protecção costeira – esporões ....
• Trabalhos incorrectos de “fixação” de dunas através da sementeira ou
plantação de acácias e chorões, espécies exóticas de carácter invasor
que a pouco e pouco acabam por substituir as espécies da flora
autóctone. (Decreto-Lei n.º 565/99 )
Efeitos da Destruição das Dunas
• Após a deterioração da vegetação dunar, as áreas
escassas em areia ficam vulneráveis à erosão do
vento e acabam, na maioria das vezes por
desenvolver aberturas no sistema dunar.
• Se esta danificação continuar pode dar origem a que
extensas áreas de Duna fiquem expostas, tornandose móveis e deslocando-se em direcção à zona
Terrestre.
• O volume de areia retido junto à Praia diminui,
permitindo às ondas tempestivas chegar mais longe,
mais interiormente, acelerando portanto as taxas de
erosão da Praia.
Decidir sobre a recuperação de Dunas
Para decidir sobre se devemos reparar o dano ocorrido em dunas
danificadas, quer por causas naturais ou pela acção humana as
seguintes questões devem ser respondidas:
a.
O que é que acontecerá se eventualmente a duna
danificada não for recuperada?
b.
Quais os danos que estão a ser causados à propriedade
pública e privada, a infra-estruturas e zonas de mata e
quais os custos implicados para o governo e para o
público em geral?
c.
Quanto irá custar a recuperação da duna?
d.
Quais serão os custos anuais de manutenção?
e.
Será que os benefícios da recuperação compensam os
custos?
Implementação da recuperação dunar
•
Em qualquer programa de recuperação de dunas é importante
ter em conta que as dunas são erosionadas durante fortes
tempestades levando a inevitáveis perdas de vegetação.
•
Minimizar os custos de manutenção fornecendo vegetação
capaz de se regenerar naturalmente, e através do uso de
estruturas móveis e económicas que poderem ser substituídas
com o mínimo custo.
•
Recomenda-se que se Identifique a causa dos danos e tente
perceber se ela resulta de forças naturais ou da actividade
humana.
Técnicas de Recuperação de Dunas
1. Modelação – construção de dunas - revegetação
2. Barreiras de Protecção – Conservação da vegetação
Modelação das Dunas
A modelação é apenas a 1ª
etapa, para a criação da
forma base da duna, na qual
se
formará
a
nova
“paisagem”.
Recomenda-se
que
se
proceda
à
recolha
da
vegetação existente na duna
afectada,
para
posterior
reutilização.
Altura – Largura - Declives
• A criação de dunas em altura rondem as cotas 5 a 7m
acima do nível do mar. A extensão irá variar consoante a
área de praia disponível bem como com a intensidade
das tempestades verificadas.
• A duna deve ter uma forma aerodinâmica com um declive
do lado do mar com cerca de 20% de inclinação, sendo
que do lado terrestre encontraríamos um declive de 33%.
• As dunas naturais da área envolvente devem ser
observadas para obter uma indicação da forma estável da
duna sob as condições locais.
O reabastecimento de areia nas
zonas mais erodidas pode ser feito
através de:
a)
criação um conjunto de
barreiras paralelas que induzam a
uma acumulação gradual de areias.
Estas
vedações
encontram-se
progressivamente
mais
distanciadas, de modo a que a
acumulação de areias origine um
declive adequado.
b)
definição de uma grelha de
vedações, que se torna mais
eficiente, em áreas onde os ventos
soprem de diversas direcções.
O
perfil
resultante
da
é
duna
frágil
e
parecerá “pouco natural”
quando comparado com
as
dunas
circundantes.
erodidas
Com
o
passar do tempo a sua
complexidade
aumentará.
Barreiras de protecção das dunas:
Colocação de estruturas capazes de proteger uma
secção de duna da acção dos ventos e do mar.
Estas barreiras deverão ser porosas para que ocorra a
diminuição/dissipação da energia libertada pelas ondas,
quando estas embatem contra as barreiras.
O material a partir do qual se constróem as vedações não
dura muitos anos e para além disso a acção das ondas e
as tempestades ocasionais podem destruir estas
estruturas.
Este sistema pode ser desenvolvido utilizando três
técnicas:
a.Ramagens
b.Paliçadas
c.Gabiões
a. Ramagens
As linhas perpendiculares
objectivo acumular areias.
têm
como
Aplicação de vedações de Ramagens
Esta técnica é ideal para zonas onde haja maior
disponibilidade de ramos, provenientes de cortes e
de limpezas de matas. Pode-se utilizar qualquer
tipo de material vegetal desde que este mantenha
a sua densidade.
Entre dois toros de 2,00 m de altura enterram-se
duas linhas de ramadas com um compasso de 30
cm, num esquema em zig-zag.
Prende-se o conjunto com fio de arame de 2,50
mm aos dois toros, a uma altura de 90 cm destes
(envolvendo as duas linhas de ramadas ao mesmo
tempo).
Prendem-se também alguns arames
perpendiculares ao arame que sustenta o
conjunto, de modo a consolidar a estrutura.
Aplicação de vedações de Ramagens
Este método diferencia-se do anterior
pelo facto das ramagens não se
encontrarem enterradas na areia sendo
suportadas por três arames de 2,50 mm
de espessura. As ramadas serão
entrelaçadas em três níveis entre os
arames formando uma sebe compacta .
Estas vedações normalmente duram
pouco tempo.
Vedações de Ramadas
As vedações são colocadas em
ângulos rectos em relação à linha de
costa. Serão colocadas aos pares
sendo que cada vedação dista da
outra 1m.
Esta medida desencorajará as pessoas
de andar sobre as dunas propiciando
o desenvolvimento de vegetação.
As vedações são fáceis e rápidas de
executar se forem utilizados ramos ou
partes de ramos de matas próximas.
As ramadas são dispostas sobre a
areia e fixadas por estacas enterradas
na areia.
b. Paliçadas
Os toros são de madeira tratada e
aconselham-se que tenham 2x0.10
m. Para que esta estrutura seja
eficiente
os
toros devem estar
enterrados pelo menos 1m abaixo
da linha de base.
Não se considera compensatório
tentar levantar uma paliçada que foi
soterrada e reutilizá-la.
O seu
levantamento solta areia acumulada
contrariando o motivo para que foi
colocada.
Deve-se sim proceder à reposição
de uma nova paliçada, ou de parte
dela.
Técnicas de colocação de Paliçadas
Para iniciar a instalação da
vedação, em primeiro lugar
enterra-se o tutor ( o toro de
maiores dimensões) e de
seguida coloca-se a estaca
na areia, ajusta-se a
Inclinação através da rotação
de um torniquete.
As paliçadas constituídas por um ripas de
Outra hipótese de instalação
madeira são um método mais económico e de
das vedações é a criação de
colocação mais fáci do que as ramagens.
uma sapata de sustentação
do toro.
Vedações com redes de Material Sintético para reter
areias
Wyretex
Fibra com arames de ferro
galvanizado, resistente à acidez e
aos UV. Wiretex é bastante
resistente também à acção do vento
e do mar, sendo também difícil de
vandalizar.
Os postes devem estar compassados
de 6 m, sendo suportada a fibra por
dois fios de arame distanciados
entre 1 a 3 m .
Vedações com redes de Material Sintético
biodegradável
Strawberry netting
É uma fibra biodegradável, muito leve
e que não é resistente aos raios UV,
pelo que se deteriora em apenas um
ano e evita futuros encargos de
manutenção em limpeza.
Apesar da sua curta duração a sua
eficiência é notável..
c. Gabiões
Estruturas muito resistentes ideais para os
locais mais expostos à acção do vento e
ondas.
Constituem uma solução eficiente quando
se pretende uma resposta rápida e eficaz
de recuperação dunar.
É importante ter em conta o tamanho das
pedras que se utilizam para ser sempre
superior à secção dos orifícios existentes na
rede.
Barreiras
de
Protecção
com
canas
Barreiras
de
Protecção
com pineiros
Quebra-ventos em Marrocos
Eucaliptus
Desertificação num sítio perto da praia, com grande interesse
turístico. As causas são: práticas agrícolas erradas, sobrepastoreio,
erosão eólica, alteração do clima.
As arbustivas são as plantas preferiveis das cabras
mesmo na Primavera com muitas harbáceas disponíveis.
Fracasso de vedações duplas para proteger o estabelecimento de
árvores. (Altitude 1900 metros. Espécies principais: Poa bulbosa,
Festuca.)
Deserto Bouarfa. Só as plantas tóxicas sobreviveram do sobrepastoreio e
protegem um pouco o solo da erosão eólica. A população utiliza as
arbustivas tóxicas como lenha para cozinhar.
Pastor nómada sem alimento para os seus animais
durante o Verão. Numa distancia de 40-50Km existem
arbustivas mas não há água. Tem de transferir água e
animais neste sitio.
Transporte de água. O sistema funciona com energia solar
e traz água de 100-300 metros de profundidade
Recolha de água para os animais. Construção de cimento
no meio da ribeira.
Atriplex numularia da Austrália é uma das arbustivas mais utilizadas e foi
sugerida pelo FAO. Custou 400€ per ha, a densidade de plantas é 1X1X10
metros (1000/ha). Dez anos depois a produtividade destes sítios é muito maior
do que antes mas o sobrepastoreio deteriorou a vegetação natural no espaço
entre as linhas de arbustivas e até agora não há regeneração natural das
arbustivas.
Vasos de solo para plantar arbustivas forrageiras, feitas
com mistura de lama, areia, palha e estrume.
Protecção durante dois anos (em 100.000ha). Sem pastoreio as plantas naturais
produzem maior quantidade de sementes e protegem melhor o solo. Alguma matéria
orgânica está a formar-se e espécies de melhor qualidade aparecem.
Para melhorar o solo e as condições microclimáticas foram aplicados quatro
tratamentos: Mobilização em linhas profundas, em linhas superficiais, mobilização
parcial do solo e mobilização total dos primeiros primeiros 3-5 cm. O primeiro favoreceu
ao máximo as condições microclimáticas, a cobertura do solo e a regeneração de
plantas mais palatáveis. No ultimo o solo tornou-se mais compacto e com menor
cobertura vegetal.
A diferença entre a área protegida do pastoreio durante 2
anos e a não protegida é óbvia.
Produção de sementes de espécies autóctones de
Marrocos seleccionadas de ecotipos diferentes.
Teste de germinação das espécies autóctones dos
diferentes ecotipos de Marrocos.
Na esquerda da foto foi aplicado o sistema silvopastoril e na direita da foto sem
tratamento. Tratamentos do lado esquerda:
1) Plantação de Eucaliptos em linhas para diminuir a erosão eólica e produzir
lenha,
2) Plantação de arbustivas nativas e
3) Protecção durante 7 anos para aumentar a biodiversidade e a qualidade das
herbáceas e leguminosas nativas. Os pastores cobram o direito da utilização da
área com 20esc/ovelha/mês ou 100esc/vaca/mês.
Conclusões
• A protecção contra a erosão do vento numa fase inicial
de fundação da duna é essencial, bem como a utilização
de vegetação nativa, bem adaptada às condições locais.
• Uma abordagem consciente será imitar a natureza e
acelerar o seu processo. Conceber a zona de modo a
que se assemelhe ao sistema natural da área onde se
enquadra.
• As dunas naturais atingiram o equilíbrio dinâmico sob a
acção do vento, ondas e forças tidais, e reagem a estas
forças de um modo mais equilibrado possível.
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