RELEVANCIA E DILEMAS DA PESQUISA EM
EDUCAÇÃO
Alberto Albuquerque Gomes
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1. Primeira grande questão: preocupação de
alguns autores com um balanço histórico
a) Gouveia (1971, 1976), que examina a pesquisa
educacional desde seu início como atividade
regular, com a criação do Inep em 1938, até a
década de 70;
b) Gatti (1983), que estende a análise até 1982;
d) "Avaliação e perspectivas na
área de educação" (Associação
Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação –
ANPEd, 1993) - 1982 a 1991.
e) Cunha (1979,1991)
f) Mello (1983)
g) Warde (1990).
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2. Problemas apontados
a) Primazia do ensino sobre a pesquisa no âmbito
das universidades, deixando aos docentes
pesquisadores pouca disponibilidade de tempo
para a pesquisa e a orientação;
b) Ausência de equipes com articulação/continuidade
suficientes para o estabelecimento de linhas de
investigação que favoreçam a produção de um
corpo sólido e integrado de conhecimentos.
c) Falta de apoio efetivo das
universidades e das agências de
fomento ao desenvolvimento de
pesquisas.
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3. Deficiências apontadas
a) Fragilidade das revisões bibliográficas
de teses e dissertações;
b) Pobreza
teórico-metodológica
na
abordagem dos temas, com um
grande número de estudos puramente
descritivos e/ou "exploratórios";
c) Pulverização e irrelevância dos temas
escolhidos;
d) Adoção acrítica de modismos na
seleção
de
quadros
teóricometodológicos;
e) Preocupação com a aplicabilidade
imediata dos resultados;
f) divulgação restrita dos resultados e
pouco impacto sobre as práticas.
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4. A centralidade da questão teórico-metodológica
a. Pobreza
teórico-metodológica
+
adesão aos modismos + preocupação
com a aplicabilidade imediata dos
resultados.
b. Muitos
pesquisadores
iniciantes
permanecem "colados" em sua
própria prática, dela derivando o seu
problema de pesquisa e a ela
buscando retornar com aplicações
imediatas dos resultados obtidos.
c. O fato de que esses estudos não
permitem a transferibilidade ou
04/11/2015 replicação em situações semelhantes.
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5. Teorização e transferibilidade do conhecimento
a. As
pesquisas
atuais
parecem
desconsiderar que a produção do
conhecimento científico constitui um
processo de construção coletiva ao
longo do tempo.
b. Uma revisão bibliográfica bem feita
serve para dois aspectos:
 Contextualização histórica e teórica
do problema
 Análise do referencial teórico
6. A revisão bibliográfica tem dois propósitos
a. Para reflexão do próprio pesquisador sobre
as
questões
teórico-metodológicas
pertinentes ao tema;
b. Para construção do relatório do estudo.
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7) Problemas na construção do texto
1. Falta de introdução que proporcione um "pano de
fundo" às questões focalizadas.
2. Não situando o problema na discussão mais ampla
sobre o tema focalizado, o pesquisador reduz a
questão estudada ao recorte de seu próprio estudo.
3. A contextualização do problema exige um processo
continuado de busca para se conhecer e analisar
criticamente o estado atual do conhecimento.
4. Este exercício deve ser feito antes mesmo da
construção do projeto de pesquisa sem prejuízo da
sua continuidade;
5. Falta de definição do paradigma que sustenta a
pesquisa;
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8. Transferibilidade
objetividade
do
conhecimento
e
1. A única objetividade a que podemos aspirar em
nossas pesquisas é aquela que resulta da crítica
interpares, uma vez que ela permite expor as
tendenciosidades do pesquisador.
2. As bancas examinadoras: grandes responsáveis
pela baixa qualidade de muitos trabalhos
desenvolvidos em nossas pós-graduações;
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8. Transferibilidade
objetividade
do
conhecimento
e
3. Parecem evitar a crítica, a discordância, como se
isso fosse uma forma de destruir o conhecimento
produzido e não a forma de construí-lo.
4. As áreas do saber que mais progridem são
aquelas que mais se expõem e que mais
naturalmente aceitam a crítica mútua como
prática essencial ao processo de produção de
conhecimentos confiáveis.
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9. Resgate da relevância
a. A dificuldade atual de se definir o que constitui
pesquisa está diretamente vinculada às mudanças
verificadas na conceituação de ciência e de método
científico, resultantes da crítica do paradigma
positivista.
b. Todas as tentativas de estabelecer critérios de
demarcação para distinguir, inequivocamente, o que
pode e o que não pode ser considerado ciência,
falharam.
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9. Resgate da relevância
c. A ausência de critérios de demarcação consensuais
e o abandono das falsas certezas prometidas pelo
modelo tradicional de ciência trouxeram uma
considerável desorientação aos pesquisadores,
principalmente no campo das ciências humanas e
sociais, o que, freqüentemente, descambou no valetudo.
d. É preciso que pesquisas no campo da educação
sejam rigorosas, atendendo assim aos requisitos da
tradição científica.
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9. Resgate da relevância
e. As
conceituações
de
pesquisa
científica
encontradas nas ciências naturais sempre
decorreram da prática concreta dos cientistas; num
processo análogo, é perfeitamente legítimo
construir, nas ciências sociais, uma idéia de
cientificidade, que pode ser distinta da adotada nas
ciências naturais e mais adequada à natureza dos
fenômenos por elas estudados, sem desprezar o
rigor, como se este fosse uma seqüela positivista.
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10. Desafios
a. Revisões bibliográficas mais amplas e rigorosas;
b. Evitar alguns tipos de revisão:
 Summa: evitar a tentação de esgotamento do
tema.
 Arqueológica: revisão exaustiva “histórica”
mesmo que não haja ligação direta entre o
tema e revisão “histórica”
 Patchwork (miscelânea, colcha de retalhos):
colagem de conceitos, pesquisas e afirmações
de diversos autores colados de forma aleatória;
 Suspense: embora haja planejamento prévio,
alguns pontos da pesquisa permanecem em
“suspense” no trabalho e não são revelados
nem ao final da “trama”;.
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 Coquetel teórico: ajuntamento de autores para
tentar explicar pontos obscuros da pesquisa;
 Apêndice inútil: apesar do grande esforço da
revisão teórica não há uma relação entre este
esforço e o esforço de interpretação dos dados.
Falta cruzamento teórico com o exercício
empírico.
 Monástico: longos e estéreis estudos que
parecem uma “penitência” ao leitor.
 Rococó: excessiva e pouco confiável erudição
teórica.
Estilo
rebuscado,
mas
pouco
convincente;
 Caderno B: abordagens pouco profundas e
quase “preguiçosas”. Uso e abuso de fontes
secundárias e comentaristas.
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 Cronista social: modista. Cita os autores em
evidência mesmo que não sejam essenciais à
sua pesquisa;
 Colonizado X xenófobo – Excesso de citações
de autores estrangeiros em detrimento dos
nacionais X Resistência em citar autores
estrangeiros mesmo que a literatura nacional
seja pobre;
 Off de records: preservação das fontes.
Afirmações sem referir concretamente as fontes.
 Ventríloquo:
excessiva
dependência
das
palavras de outros autores sem expressar a sua
própria opinião..
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10. Desafios
3. Generalização dos estudos em profundidade de
fenômenos microssociais, contextualizados, para o
estudo de outros contextos semelhantes.
4. A "descrição densa" dos contextos e sujeitos da
pesquisa não parece ser suficiente para favorecer a
transferibilidade dos conhecimentos produzidos.
5. A identificação de padrões, dimensões e relações,
ou mesmo a construção de modelos explicativos,
não é incompatível com o estudo de fenômenos
microssociais;
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10. Desafios
6. A aplicabilidade dos conhecimentos na área da
educação depende do desenvolvimento de teorias
próprias, seleção adequada de procedimentos e
instrumentos, análise interpretativa dos dados,
organização
em
padrões
significativos,
comunicação precisa dos resultados/conclusões e
da sua validação pela análise crítica da
comunidade científica.
7. Os problemas a serem enfrentados no campo da
educação, em nosso país, exigem soluções
sustentadas por um corpo de conhecimentos
significativamente mais amplo e mais confiável do
que aquele que estamos produzindo.
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