INTOXICAÇÕES POR
DROGAS DE ABUSO
Roberto Moacyr Ribeiro Rodrigues
Médico do CCI/SP
DEPRESSORES DA ATIVIDADE
DO SNC - (Psicolépticos)
 Álcool
 Hipnóticos: barbitúricos, alguns benzodiazepínicos
 Ansiolíticos: As principais drogas pertencentes a
essa classificação são os benzodiazepínicos
 Opiáceos e opióides: morfina, heroína, codeína
(xaropes), meperidina, fentanila, etc.
 Substâncias Voláteis de Abuso (Inalantes e
Solventes: colas, tintas, removedores, lança-perfume,
etc)
Etanol
Etanol
Porcentagem aproximada de etanol:
• CERVEJA.......................................4-6%
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VINHO...........................................10-20%
RUM, VODKA...............................40-50%
UÍSQUE e CACHAÇA..................40-50%
TEQUILA......................................40-47%
PERFUMES..................................25-95%
COLÔNIAS...................................40-60%
COLUTÓRIOS..............................15-78%
LOÇÕES PÓS-BARBA................15-80%
PRODUTOS MEDICINAIS............0,3-70%
Toxicidade:
Etanol
• Doses tóxicas muito variáveis, dependendo:
 Da tolerância individual.
 Do uso concomitante de outros fármacos.
Toxicocinética:
• Absorção:
 20% no estômago.
 80% no intestino delgado.
• Pico plasmático: em 30-90 minutos.
• Atravessa a barreira hemato-encefálica e placentária.
• Metabolizado pelo fígado  formação de acetaldeído.
 Desidrogenase alcoólica
 Catalase e o sistema oxidativo mitocondrial.
• Taxa de metabolização: 13-25 mg/dl/hora, podendo
chegar , em etilistas crônicos a 50 mg/dl/hora.
Etanol
Quadro clínico:
Depende do nível sérico e da tolerância do paciente
Alcoolemia:

50 a 150 mg/dl: Verborragia, reflexos diminuídos,
visão borrada, excitação ou depressão mental.
 150 a 300 mg/dl: Ataxia, confusão mental,
hipoglicemia (principalmente em crianças),
logorréia.
 300 a 500 mg/dl: Incoordenação acentuada, torpor,
hipotermia, hipoglicemia (convulsões), distúrbios
hidro-eletrolíticos (hiponatremia, hipercalcemia,
hipomagnesemia, hipofosfatemia), distúrbios ácidobásicos (acidose metabólica).
 > 500 mg/dl: Coma, falência respiratória, falência
circulatória, óbito.
Etanol
Diagnóstico Laboratorial Inespecífico:
• Hemograma, Na, K, Ca, Mg.
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Glicemia (Hipoglicemia), Ureia, Creatinina.
Gasometria + pH (acidose).
RX de tórax (verificar broncoaspiração).
ECG (arritmias).
Transaminases, TP, TTPA, INR.
TC de crânio em caso de associação com trauma.
Diagnóstico Laboratorial Específico:
• Dosagem sérica de etanol e metanol: 5 ml de
sangue em tubo com heparina, tendo o cuidado de
fazer a assepsia com água e sabão.
ETANOL - METANOL
ETANOL: DIAG. DIFERENCIAL
• Outras intoxicações (outros depressores
do SNC, metanol, polietilenoglicol, etc).
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•
•
Hipoglicemia.
Sepse.
Encefalopatia hepática.
AVC, Estado pós-convulsivo, TCE (quedas,
espancamento), S. de Abstinência.
ETANOL: DIAG. DIFERENCIAL
Intoxicação por metanol:
 sintomas iniciais muito semelhantes aos da
intoxicação por etanol:
 Náuseas, vômitos, cefaléia, tontura, sonolência.
 Melhora temporária por um período de 12 a 24 horas
 Retornam os vômitos, mais mal estar, dor epigástrica,
visão dupla , diminuição dos campos visuais, midríase
hiporreativa, edema da papila óptica, evoluindo com
agitação, acidose metabólica grave, hiperpnéia, choque,
insuficiência renal, convulsões e coma.
Etanol: Tratamento
• Assistência respiratória: O2, se necessário.
• Lavagem gástrica: Em caso de ingestão recente (30-45
min.) de grande quantidade.
• Carvão ativado: não é eficiente, pode ser útil no caso
de associação com outros agentes tóxicos.
• Não induzir vômitos (broncoaspiração).
• Em crianças: profilaticamente (SG 25% - 2 ml/kg).
• Tiamina (100 mg em SF/SG ou 100 mg VO 3x/dia) –
Prevenir a Encefalopatia de Wernicke.
• Niacina (50 mg VO 4x/dia ou 25 mg IV 2-3x/dia)
Etanol: Tratamento
• Hipoglicemia: Glicose 50% IV (nunca antes da
Tiamina, pode precipitar S. Wernicke).
• Adulto: 40 ml IV, seguidos de S.G. a 5% IV.
• Crianças: glicose a 10% 2 mL/Kg IV em 5 a 10
minutos e 6 a 8 mL/Kg/min IV (manutenção).
• Convulsão: Diazepam ou lorazepan:
• Diazepam:
• Adultos: 5-10 mg IV bolus (repetir sn até 30 mg).
• Crianças: 0,25 a 0,4 mg/Kg/dose até 10mg/dose.
• Lorazepam:
• Adulto: 4-8 mg no
• Criança: 0,05 a 0,10 mg/Kg.
• Choque, desidratação e acidose: soluções
isotônicas de cloreto ou bicarbonato de sódio.
Etanol
Encefalopatia de Wernicke (Aguda): Deficiência de de
Tiamina. Início abrupto com a tríade:
 Distúrbios Oculares (nistagmo, paralisia abducente




bilateral,paralisias oculares até a oftalmoplegia total).
Ataxia cerebelar (tronco e MMII - com marcha de base ampla e
oscilante).
Confusão mental (desorientação, sonolência, desatenção e
baixa capacidade de resposta).
Pode haver sintomas também de abstinência associados.
É considerada uma emergência médica com mortalidade em
torno de 17%.
Psicose de Korsakoff (crônica):
 Pode aparecer gradualmente isolada ou associada ao
Wernicke. Sintomas de falhas de memória de evocação,
desorientação, falta de concentração, apatia e por vezes
fabulação.
Etanol: Síndrome de abstinência
• Similar à dos outros sedativo-hipnóticos.
• 12 a 72 horas após modificação do consumo
(redução da quantidade ou freqüência).
• Com níveis mínimos de dependência:
 náuseas
 debilidade
 ansiedade
 transtornos do sono
 tremores discretos (menos de um dia).
Etanol: Síndrome de abstinência
Em grandes dependentes:
 Vômitos, astenia, sudorese, câimbras,
hiperreflexia.
 Tremores (máximo em 24-48 horas), ansiedade.
 Alucinações visuais ("alucinação, alcoólica"),
Crises convulsivas.
Em fase mais avançada:
 Agitação psicomotora, perda da consciência.
 Delírio Tremens por volta do terceiro dia: Com
hipertermia e falência cardiovascular.
 Auto-limitada, ocorrendo recuperação em
aproximadamente 5-7 dias caso não ocorra óbito.
 Em recém-natos: déficits neurológicos
permanentes e outras anormalidades de
desenvolvimento.
Etanol: Síndrome de abstinência
Tratamento da S. de Abstinência:
• Agonistas GABA (BZD de longa ação:
Diazepam, clordiazepóxido).
• Casos refratários: altas doses de barbitúricos
•
•
•
•
(Fenobarbital - abertura direta dos canais de
cloro)
Outros: Carbamazepina/Propranolol/Clonidina.
Corrigir fluidos, eletrólitos; e deficiência de
nutrientes.
Prevenir infecções.
Manter o paciente em lugar seguro e calmo,
evitando estímulos.
Opiáceos e opióides
www.dea.org
www.erowid.com
www.thesahara.net
www.mebn.org
Opiáceos e opióides
Classificação:
1. Opiáceos Naturais: derivados do ópio que não
sofreram nenhuma modificação (Ópio, Pó de Ópio,
Morfina, Codeína)
2. Opiáceos semi-Sintéticos: resultantes de
modificações parciais das substâncias naturais
(Heroína)
3. Opiáceos Sintéticos ou Opióides: totalmente
sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação
semelhante à dos opiáceos (Zipeprol, Metadona,
Fentanila, Propoxifeno)
Opiáceos e opióides
Toxicocinética:
• Início de ação: 10 minutos via venosa, 10-15
minutos após uso nasal (butorphanol, heroína),
30-45 minutos por via IM.
• A maioria é metabolizada pelo fígado à
compostos inativos.
• Alguns opióides (propoxifeno, fentanila, e
buprenorfina) são mais lipossolúveis e podem
ficar armazenados no tecido gorduroso.
• Excreção renal.
Opiáceos e opióides
Quadro clínico:
• Tríade clássica:
• miose, depressão respiratória e coma.
• Hipotensão
• Hipo ou hipertermia.
• Bradicardia, Edema pulmonar.
• Crises epilépticas (propoxifeno).
• Morfina, meperidina, pentazocina,
diphenoxilato e propoxifeno (pupilas médias ou
midriáticas).
Opiáceos e opióides
Diagnóstico Laboratorial:
• Toxicológico (CCD) positivo.
Tratamento:
• Descontaminação G.I. quando cabível.
• Assist. respiratória e suporte hemodinâmico.
• Caso depressão do SNC e/ou insuficiência
respiratória, utilizar Naloxona:
Opiáceos e opióides
Tratamento (Naloxona):
• Dose de ataque em adultos - 0,4 -2,0 mg IV, repetir
2 mg a cada 5 a 10 minutos até 10 mg, s/n.
• Dose de ataque em crianças: 0,1 mg/Kg até 2 mg.
• Dose de Manutenção: 2/3 da dose de ataque de 1-1
h/h ou em infusão IV contínua (0,4-0,8 mg/h).
• Usuários habituais de opiáceos: administrar
0,1 – 0,4 mg IV a cada 1-2 minutos (evitar a
síndrome de abstinência )
Opiáceos e opióides
Síndrome de Abstinência:
Quadro clínico: Semelhante à uma gripe severa:
 Dilatação pupilar, lacrimejamento, rinorréia, espirros.
 Piloereção, bocejos, anorexia, vômitos, diarréia.
 Não causa convulsões e delirium.
 Início depende da ½ vida da droga:
 Heroína (pico 36-72h, até 7-10 d)
 Metadona (pico 72-96h, até 14 dias).
Tratamento:
 Opióide de longa duração (Buprenorfina ou Metadona).
com diminuição gradativa da dose.
Clonidina.
SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS DE ABUSO
(INALANTES E SOLVENTES)
Classificação:
• Hidrocarbonetos: Tolueno, xilol,
benzeno, n-hexano, etc. (colas,
tintas thiners, removedores).
• Cheirinho da Loló: clorofórmio e
éter.
• Lança-perfume: cloreto de etila.
Cada vez mais vem sendo utilizado
• o termo para designar também o
cheirinho da Loló (lança, cheiro)
INALANTES E SOLVENTES
Toxicocinética:
 Absorção: 60- 80% de clorofórmio inalado é absorvido.
 Distribuição: rápida para o sangue, tecido adiposo,
fígado, rins, pulmão e SNC; cruza a barreira
placentária.
 Início dos efeitos: bastante rápido (seg. a poucos min.);
 Duração dos efeitos: 15-40 min. O usuário repete as
inalações várias vezes para prolongar os efeitos.
 Excreção: Clorofórmio: principalmente como CO2 no ar
exalado, o restante é retido no tecido adiposo. Éter:
90% pulmonar na sua forma inalterada; o restante é
eliminado pelos rins, pele e glândulas sudoríparas.
INALANTES E SOLVENTES
Quadro clínico:
• Irritação de pele e mucosas.
• Efeitos sistêmicos agudos: semelhantes ao álcool.
• Atuam preferencialmente no SNC.
• Sensibilizam o músculo cardíaco às catecolaminas,
podendo causar morte súbita por arritmia cardíaca.
Quadro Aguda: Dividido em 4 fases:
• Primeira Fase (de excitação - desejada): Euforia,
perturbações auditivas e visuais, náuseas, espirros,
tosse, salivação excessiva, rubor facial.
• Segunda Fase (depressão): Depressão central,
confusão mental, desorientação, linguagem
incompreensível, visão turva, agitação psicomotora,
cefaléia, palidez, alucinações auditivas ou visuais.
INALANTES E SOLVENTES
• Terceira fase (depressão se aprofunda): Redução do
estado de alerta, dificuldade para falar, incoordenação
motora, marcha vacilante, reflexos diminuídos.
• Quarta Fase (depressão tardia): Pode chegar à
inconsciência, hipotensão, sonhos estranhos,
convulsões.
Quadro crônico:
• Lesões medulares, renais, hepáticas e dos nervos
periféricos.
• Aplasia de medula: diminuição de glóbulos brancos e
vermelhos (benzeno).
• Neuropatia periférica: n-hexano produz degeneração
progressiva, causando transtornos de marcha ("andar
de pato") e paralisia.
INALANTES E SOLVENTES
Tratamento:
 Inalação: afastar da fonte, oxigenação e ventilação
mecânica, se necessárias.
 Contato com pele e mucosas: lavar c/ água e sabão.
 Ingestão: Não induzir vômitos, há risco de depressão
súbita e bronco-aspiração; LG só quando ingestão de
grandes quantidades, C. Ativado não é indicado.
 Tratamento do coma e alterações cardiovasculares:
aminas vasoativas podem facilitar arritmias.
 Taquicardias: propranolol ou esmolol;
 Monitoramento: ECG por 4-6h após a exposição.
 Remoção extra-corpórea: diálise, hemoperfusão e
diurese forçada não são eficazes.
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Depressoras da atividade do SNC