AS CASTANHEIRAS: A ORGANIZAÇÃO POLÍTÍCA DE MULHERES
DA RESERVA EXTRATIVISTA DO RIO CAJARÍ NO AMAPÁ
Autora: Karina Nymara Brito Ribeiro -(Graduanda da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP)
Contato: [email protected]
Orientador: Antônio Sérgio Monteiro Filocreão (Docente da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP).
1. Definição do objeto:
A Reserva Extrativista do Rio Cajarí (RESEX-CA) foi criada em 12 de Março de 1990 por
meio do decreto federal 99.145, no contexto de luta dos trabalhadores rurais locais pela
sobrevivência na floresta. Está localizada numa área de 532.397, 20 hectares distribuídos nos
Municípios de Laranjal do Jarí, Mazagão e Vitória do Jarí, e devido sua grande extensão é
dividida em três jurisdições: Alto Cajarí, Médio e Baixo. A região do Alto RESEX Cajarí é rico
em castanhais, e, é onde se encontra as castanheiras desta reserva que em resposta as novas
demandas de luta pela sobrevivência na floresta deram origem a organização política das
castanheiras que se manifesta através das associações de mulheres, AMAC e AMOBIO,
respectivamente, Associação de Mulheres Agroextrativista do Alto Cajarí e Associação de
Mulheres Moradoras e Trabalhadoras da Cadeia de Produtos da Biodiversidade no Alto
RESEX Cajarí, ambas criadas com intuito de gerar renda e emprego as Castanheiras da
reserva, atualmente trabalham com o beneficiamento da Castanha-do-Brasil, produzindo
coletivamente biscoitos, paçoca, bombons, doces e outros produtos.
2. Objetivos do trabalho:
O Estudo procurou compreender como se deu o
surgimento da organização política das Castanheiras,
a motivação para a criação das associações AMAC e
AMOBIO apreendendo o modo de vida na reserva e
as principais mudanças decorrentes da participação
dessas mulheres destas associações no tocante à
renda, meio ambiente, participação política e a
relação mulher, trabalho e família.
3. Metodologia:
Fonte: a) A partir de Amapa 2007; b) Filocreao 2010; c-d) Pesquisa de Campo 2012.
a) Região sul do Amapá; b) Área da Reserva extrativista do Rio Cajarí; c) Objeto de pesquisa
O estudo se utilizou dos seguintes procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa
de campo, sistematização dos dados, análise e comparação das informações coletadas com documentos das referidas
entidades. Na pesquisa de campo incluíram-se os seguintes procedimentos: Observação, Conversação, registro
fotográfico e a realização de entrevistas semi-estruturada com 21 mulheres (sócias das associações), entre
representantes comunitários e moradores. As entrevistas ocorreram em duas das comunidades mais atuantes das
associações, sendo a comunidade de Água Branca do Cajarí mais atuante na AMAC e a Comunidade de Marinho mais
atuante na AMOBIO. As informações coletadas puderam ser divididas em três: 1) Dados socioeconômicos das
castanheiras; 2) Resgate histórico do surgimento das associações; 3) Experiências individuais da participação nas
associações de mulheres.
4. Resultados:
A pesquisa constatou que as causas que motivaram o surgimento da organização política das mulheres dos castanhais do Alto RESEX
Cajarí são de cunho econômico, ou seja, as dificuldades econômicas enfrentadas no cotidiano levaram as mulheres/ esposas a
buscarem uma alternativa que viesse contribuir na renda familiar. Entretanto, a presença das associações AMAC e AMOBIO,
possibilitaram, não somente, uma transformação nas condições sociais e econômicas dessas mulheres, mas também transformações de
cunho cultural. A castanheira está inserida dentro de uma estrutura familiar patriarcal que por sua vez dá corpo as comunidades locais
da reserva. De tal modo que a pesquisa observou que de início os maridos e a própria comunidade não acreditavam que as associações
de mulheres pudessem trazer melhorias, nem mesmo gerar renda e emprego à essas mulheres, pois na mentalidade local a mulher/
esposa era mais necessária no âmbito privado, essa concepção só mudou quando a AMAC e AMOBIO realizaram seu primeiro
pagamento às suas sócias, além da presença de outros elementos discutidos ao longo do presente estudo. A partir daí os maridos e a
comunidade enxergam nas associações uma alternativa confiável na geração de renda e emprego. A família, em especial os maridos
começam a realizar algumas tarefas considerais femininas, mas isso, não impossibilitou à essas mulheres realizarem uma dupla
jornada de trabalho. Hoje elas possuem uma participação significativa, constituem chapas, discutem e comentam sobre as direções
políticas e sociais das associações. Hoje como comprovou a pesquisa as castanheiras do alto da Reserva extrativista do Cajarí no
Amapá transformaram suas vidas e as relações que as rodeavam por meio da organização política. Entende-se que essas organizações
são unidades de um movimento maior que luta em conjunto com todas as outras organizações de mulheres na Amazônia, contra a
herança deixada pelos longos anos de exclusão que viveu as mulheres. Dessa forma, essas unidades organizativas dos movimentos de
mulheres buscam por novas alternativas que possibilitem o enfrentamento das novas questões impostas pelas desigualdades
socioeconômicas, que atingem bem mais as mulheres pobres do nosso país, e da América latina.
CASTELS, Manoel. O poder da identidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.II).
a) Resex Cajari; b-c) Modo de vida das Castanheiras; d) Produção dos biscoitos de Castanha; e)Feira comunitária a
na beira da BR 156 no município de Laranjal do Jarí.
.
Fonte: Pesquisa de Campo; Projeto Movimentos Sociais CNPQ/2010
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