FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO
LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM GESTÃO EM SAÚDE
DE QUE TRABALHADOR O SUS PRECISA? OS
DESAFIOS DA FORMAÇÃO DE TÉCNICA NA ÁREA DE
GESTÃO EM SAÚDE
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
Junho - 2009
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
A promulgação da Constituição Federal e a
regulamentação do SUS não foram suficientes para
garantir a legitimação do direito à saúde à população
usuária
do
sistema.
Os
objetivos
traçados
constitucionalmente se traduzem na prática pela ação
cotidiana dos trabalhadores, que reescrevem muito dos
objetivos previstos. Aponta-se para a necessidade de
novos modelos de atenção e gestão, e novas propostas de
formação profissional que contribua para conjugar os
princípios e diretrizes previstas, à realidade do SUS.
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
Desafios para a consolidação do SUS
Acesso aos serviços, a qualidade da assistência, a
distribuição dos recursos e de poder , a ampliação
dos mecanismos de participação e controle social, o
aprofundamento do processo de descentralização e
regionalização do sistema de saúde e reorganização
das lógicas burocráticas e profissional, que
atualmente organizam o sistema.
“As forças interessadas no avanço do SUS estão, pois, obrigadas
a enfrentar estes obstáculos políticos, de gestão e de
reorganização do modelo de atenção, cuidando, ao mesmo
tempo, de demonstrar a viabilidade da universalidade e da
integralidade da atenção à saúde.” Campos, 2007
Categoria de análise: Percepção dos Trabalhadores sobre o
SUS
Temas
Reorganização das lógicas burocráticas e profissional,
1. Compreensão do SUS: apreensão dos trabalhadores
que atualmente organizam o sistema, em direção à
com suas finalidades e desempenho
outra lógica que, por ter o usuário como central ao
2. Relação
com o SUS:
importância
sistema do
de trabalho
saúde, garante
seus adireitos
desdedoa
trabalho,
a relação
com os usuários
rede dee
humanização
do acolhimento
até ae aeficácia
serviços
de saúde
resolutividade
do cuidado (Fleury, 2007)
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
1. Visões do SUS (Paim)
• O SUS para pobre (ou pobre): um produto
ideológico resultante de políticas focalizadas e de
restrições à expansão do financiamento público.
“A gente vê muito, assim, muito fragilizado. Tem pouco a oferecer, muito
pouco.”
“Olha, eu acho o SUS uma coisa que anda sem telhado novo(...)Eu não tenho
muito contato. Eu nunca precisei disso, eu nunca...
“O doente precisa fazer diálise, não tem onde fazer, não tem não sei o que... A
gente escuta as pessoas reclamando disso. Eu acho desorganizado. Assim, eu
acho que devia ser bem melhor. As pessoas ficam sofrendo muito aí.”
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
• O SUS “real”: moldado pelas políticas econômicas,
pelo clientelismo e partidarização na saúde.
“(...) se o básico é deficiente como ele vai conseguir arcar com alta complexidade?
Ele não consegue arcar com uma parcela, mas, por exemplo, agora até o planos de
saúde estão cheios, estão lotados, estão com dificuldades, o SUS então...”
“(...)Que infelizmente às vezes o SUS ele serve como foco político, não é? Porque eu
acho que tinha tudo para funcionar, mas a partir do momento que as pessoas fazem
política, usam isso como meio de política, aí não dá certo.”
“(...)se não tivesse tantos desvios, tantos... Tantas barreiras, tantos entraves políticos,
...”
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
• O SUS Formal: estabelecido pela Constituição, leis e
portarias, portanto que está no papel.
“Como que eu vejo o SUS? Eu acho que o ideal do SUS é perfeito, mas que tem as suas
falhas (...) . A coisa do SUS que diz, tem na Constituição dizendo que a saúde... Mas o
SUS...”
“Eu vejo o SUS bem intencionado? É uma idéia boa, mas que ela ainda não está
funcionando plenamente.”
“Eu acho que é porque não faz o que se propõe a fazer. Se você for ver até não é ruim,
mas acontece que aquilo não existe na prática.(...)”
“Se fosse o que está escrito no papel eu acho que seria ótimo assim para as pessoas de
uma maneira geral, mas eu acho que não...”
Percepção dos Trabalhadores sobre o SUS
• O SUS Democrático: universal, igualitário,
humanizado e de qualidade.
“É um serviço único, universal de saúde. Como ele é bem visto até lá fora. Tem outros
países vindo aqui copiar esse projeto. Porque uma assistência universal onde tem
lugar não só aqueles... um direito garantido na Constituição.”
“(...)ao longo fui aprendendo o que era o SUS, porque cada dia mais a gente vai se
atualizando, mais a gente aplica aqui. Pelo que eu tenho entendido e visto do SUS a
gente aplica aqui. Não só a administração, mas todo o hospital.”
“Eu sei que é o Sistema Único de Saúde que visa atender as necessidades da
população. de forma igualitária promovendo eu acho que saúde, os exames, tudo o
que eles necessitam (...)”
Aqui na unidade a gente... Tenta atender aos princípios do SUS. A integridade dentro
dos programa que nós temos aqui na unidade. Equidade a gente atende qualquer
demanda, igual direito, igual tratamento, não está perfeito porque falta muita coisa,
mas assim, independe da nossa vontade, é institucional.
2. Relação do trabalho com o SUS
Desnecessário
Sem relação
4%
17%
Importante
58%
Colaborador
21%
“Importante, de responsabilidade. (...) Eu acho que a gente dá conta de atender a
proposta do SUS. Eu acho que a proposta do SUS, o que ele propõe aqui a gente faz
sim.”
“Vejo que nosso setor, com esse olhar SUS, é uma coisa positiva, que bom que existe
um setor que dá esse olhar para funcionário.”
“Porque a partir do momento que foi implantado o SUS e que foi implantada essa
ligação entre as unidades o meu trabalho se tornou importante por causa disso, não
é? O meu vínculo... Através do meu trabalho as pessoas têm acesso a outras
unidades, aos outros locais do SUS.”
Relação Trabalho com o SUS
• Trabalho administrativo e o trabalho em saúde:
diferentes e distantes
Relação do trabalho com as necessidades do usuário
(Explicação econômica e simbólica)
Maior compreensão dos elementos subjetivos no momento de
determinar as atividades para intervir sobre o processo saúdedoença e sobre as organizações do sistema de saúde, da forma
com se organiza para atender às necessidades da população.
“Eu percebo assim de uma certa importância. Porque nós trabalhamos diretamente
com o objetivo do SUS, que é o atendimento ao contribuinte, a população que
depende do SUS, então nós estamos diretamente envolvidos com essa atividade fim
do SUS.”
Relação do trabalho com o usuário
Dimensões Explicativas (Gionanella & Fleury):
•
Econômica: relação entre a oferta e a demanda;
•
Política: ao desenvolvimento da consciência sanitária e da
organização popular;
•
Técnica: relativa à planificação e a organização da rede de
serviços;
•
Simbólica. A relativa às representações sociais acerca da
atenção e ao sistema de saúde.
Relação do trabalho com o usuário
Acesso
Explicação econômica: definido pela garantia de
procedimentos (exames, consultas e internações)
Explicação simbólica: não como conquista mas algo a
ser conseguido para o “outro”
Rede se Serviços
Articulação com a Área programática 3.1
Sistema segmentado: focalizado e excludente
Conclusão
Alguns trabalhadores de saúde de nível médio da área de gestão percebem o
SUS como um tema distante da sua realidade de trabalho. O exercício de
suas atividades não é percebido como correlacionada a área de saúde e,
portanto, não implicadas diretamente com a construção do sistema. No
entanto, valorizam a possibilidade de responder às necessidades do usuário
que demandam por serviços.
Consideramos necessário que a formação profissional destes trabalhadores,
inclua a discussão dos princípios que norteiam o SUS conjugado a um modo
de operar as práticas cotidianas do trabalho. Contribuindo assim, para uma
mudança da realidade através da formação crítica e reflexiva desses
profissionais e da sua percepção enquanto atores sociais que constroem o
SUS no dia-a-dia.
O impasse vivenciado com a concretização do acesso universal aos serviços
de saúde requer uma luta constante pelo fortalecimento da saúde como um
bem público, tendo a saúde como direito individual e coletivo que deve ser
fortalecido com o redimensionamento de uma nova prática construída a
partir de uma gestão democrática e participativa.
Bibliografia
Assis, MMA . Acesso aos serviços de saúde: uma possibilidade a ser construída na prática.
Ciência e Saúde Coletiva, 8(3): 815-823, 2003
Campos, GWS. A saúde pública e a defesa da vida. Editora Hucitec, São Paulo, 1991
____________. A reforma política e sanitária: a sustentabilidade do SUS em questão. Ciência e
Saúde Coletiva, 12(2): 300-306, 2007
Giovanella, L e Fleury, S. Universalidade da atenção à saúde : acesso como categoria de análise,
pp.177-198. In C ERibenschutz (org). Política de saúde : o público e o privado. Fiocruz, Rio de
Janeiro, 1995
Mendes EV (org.). Distrito sanitário, o processo social de mudança das práticas sanitárias do
Sistema Único de Saúde. (2a ed.). Editora Hucitec, São Paulo, 1994.
Merhy, EE. O ato de governar as tensões constitutivas do agir em saúde como desafio
permanente de algumas estratégias gerenciais. Ciência e Saúde Coletiva, 4(2): 305-314, 1999.
Paim, JS. Reforma Sanitária Brasileira: Avanços. Limites e perspectivas. In Matta GC LimaJCF
(org), Estado, Sociedade e |Formação Profissional em Saúde. Contradições e desafios em 20
anos de SUS. Ed. Fiocruz/EPSJV, 2008.
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Percepção dos trabalhadores sobre o SUS