Cronistas do descobrimento
Antônio Carlos Olivieri
Marco Antônio Villa (org.)
O quinhentismo é um período da Era Colonial
no Brasil, que ocorreu entre 1500 à 1601, um
século. É também a denominação genérica de todas
as manifestações literárias ocorridas no Brasil
durante o século XVI e corresponde à introdução da
cultura europeia em terras brasileiras.
Ainda não podemos falar em literatura do
Brasil, pois os textos produzidos em relação ao país
denotam a cosmovisão do homem europeu. É um
movimento paralelo ao Classicismo português e
possui ideias relacionadas ao Renascimento, que
vivia o seu auge na Europa.
Cronistas do descobrimento
Os cronistas do descobrimento são
pessoas que escreviam para relatar os
acontecimentos das viagens feitas através dos
navios. A isso denomina-se literatura
informativa do quinhentismo e também
jesuítica.
“BRASIS” SOB O OLHAR ESTRANGEIRO
Fera que vive do vento - 1555
André Thevet, Padre franciscano francês
(1502-1590)
“BRASIS” SOB O OLHAR ESTRANGEIRO
“BRASIS” SOB O OLHAR ESTRANGEIRO
“BRASIS” SOB O OLHAR ESTRANGEIRO
Mulher tupinambá,
Albert Eckhout,
pintor holandês
(1610-1666)
UM PERCURSO DO ÍNDIO NA LITERATURA BRASILEIRA
• Séculos XVI e XVII: cronistas e viajantes – índio como elemento
exótico do mundo tropical e mulher índia como exótica e erótica;
jesuítas – selvagem que deveria ser catequizado;
• Século XVIII: índio – ser ainda não corrompido pela sociedade
(mito do bom selvagem – Rousseau);
• Século XIX: índio – símbolo nacional; herói da pátria;
idealizado nas ações e nos sentimentos; “cavaleiro medieval
tupiniquim”;
• Século XX: índio – fruto da consciência da realidade nacional
(índio da perspectiva romântica satirizado e criticado pelos
modernistas).
OS CRONISTAS, VIAJANTES, E O
DESCOBRIMENTO, O ACHAMENTO…
VIAGENS, DESCOBRIMENTOS...
“Navegar é preciso, viver não é preciso.”
(frase atribuída ao general romano Pompeu em 70 a.C. quando
empreendeu arriscada viagem marítima durante um período de
dificuldades no Império romano; a frase é retomada pelo
escritor português Fernando Pessoa)
VIAGENS, DESCOBRIMENTOS...
OS CRONISTAS
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Pero Vaz de Caminha
Piloto Anônimo
Pero Lopes de Sousa
Manuel da
André Thevet
Jean de Léry
Hans Staden
José de Anchieta
Pero de Magalhães Gândavo
Fernão Cardim
Gabriel Soares de Sousa
(Português, ?1450-1500)
(Português, ?)
(Português, 1500-1539)
(Português, 1517-1570)
(Francês, 1502-1590)
(Francês, 1534-1611)
(Alemão, 1525-1576)
(Português, 1534-1597)
(Português, 1540-1579)
(Português, 1548/49-1625)
(Português, 1540-1592)
Pero Vaz de Caminha
Carta do achamento do Brasil
• Gênero: Carta
Relatando ao rei de Portugal o descobrimento, o
escrivão da armada de Cabral descreve,
deslumbrado, a terra e seus habitantes,
registrando as emoções do primeiro contato
com os índios.
Pero Vaz de Caminha
Carta de achamento do Brasil
• Fragmento
“Entre todos que hoje vieram, não veio mais que
uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a
quem deram um pano com que se cobrisse.
Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não
fazia grande memória de o estender bem, para se
cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal,
que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha.”
(p. 33)
Piloto Anônimo
Relação da viagem de Pedro Álvares Cabral
• Gênero: Relato
De autoria desconhecida, este relato reconstitui
a travessia do oceano Atlântico pela frota de
Cabral, com informações que complementam e
às vezes contradizem o texto de Caminha.
Piloto Anônimo
Relação da viagem de Pedro Álvares Cabral
• Fragmento:
“[...] que povos eram aqueles, [...] acharam uma
gente parda, bem-disposta, com cabelos
compridos; andavam todos nus sem vergonha
alguma, e cada um deles trazia seu arco com
frechas, como quem estava ali para defender
aquele rio; […].” (p. 38)
Pero Lopes de Sousa
Diário de Navegação
• Gênero: Crônica (Relato)
Verdadeira crônica dos primeiros
história do Brasil, escrita no calor da
texto documenta o dia a dia da
comandada por Martim Afonso de
quem o autor era irmão.
fatos da
hora, este
expedição
Sousa, de
Pero Lopes de Sousa
Diário de Navegação
• Fragmento
“Quarta-feira 23 do mês fazia-me de terra 10
léguas; e ao meio-dia carregou muito o vento
sueste, com mui grão mar; por não podermos ir
de ló amainamos as velas e lançamos as naus de
mar em través”. (p. 48)
Manuel da Nóbrega
Carta e diálogo sobre a conversão do gentio
• Gênero: Carta e Diálogo
Na primeira carta que escreve do Brasil, o jesuíta
relata o trabalho dos padres da Companhia, dando
assistência religiosa aos colonizadores e buscando
catequizar os índios. Em forma de diálogo, Nóbrega
discute aspectos práticos, morais e religiosos da
relação entre os colonizadores e os índios,
defendendo a tese de que estes não devem ser
escravizados, pois têm alma como os cristãos.
Manuel da Nóbrega
Carta e diálogo sobre a convenção do gentio
• Fragmento
“Desta maneira ir-lhes-ei ensinando as orações e
doutrinando-os na Fé até serem hábeis para o batismo.
[…] dizem que querem ser como nós, senão que não têm
com que se cubram como nós, e este só inconveniente
têm. Se ouvem tanger a missa, já acodem e quando nos
veem fazer, tudo fazem, assentam-se de giolos, batem
nos peitos, levantam as mãos ao céu e já um dos
principais deles aprende a ler e toma lição cada dia com
grande cuidado e em dois dias soube o A, B, C todo […]”.
(Em defesa das almas indígenas, p. 58).
André Thevet
As singularidades da França Antártica
• Gênero: Relato
Apresenta a viagem do autor, desde a partida do
porto do Havre, na França (1555), até o retorno
ao mesmo país no ano seguinte. Refere-se ao
Brasil por meio de observações geográficas,
botânicas e antropológicas.
André Thevet
As singularidades da França Antártica
• Fragmento
“[…] os nossos selvagens fazem menção a um
grande senhor, que na língua deles se chama
Tupã e que, morando no céu, faz chover e
trovejar. Mas não têm eles maneira nem hora de
orar a esse Deus ou de cultivá-lo, assim como
tão pouco há lugar próprio para isso.” (p. 71)
Jean de Léry
Viagem à terra do Brasil
• Gênero: Relato
Apresenta os momentos iniciais da França
Antártica, detendo-se nas descrições da terra e
do modo de vida dos seus nativos.
Jean de Léry
Viagem à terra do Brasil
• Fragmento
“Não poderíamos ter sido mais bem recebidos do que
fomos por aqueles selvagens. Pois estes, depois de nos
ouvirem contar os males por que passáramos e os perigos
a que nos expuséramos, […], vendo-nos naquele estado,
tomaram-se de tão grande piedade que as recepções
hipócritas daqueles que por aqui consolam os aflitos
dizendo coisas da boca para fora nada são diante da
humanidade daquela gente, que apesar disso chamamos
bárbaros.” (p. 89-90).
Hans Staden
Viagem ao Brasil
• Gênero: Relato
Narra a chegada do viajante ao país e sua
captura pelos índios, descrevendo, com precisão
etnográfica, os nativos e seu modo de vida.
Hans Staden
Viagem ao Brasil
• Fragmento
“Ao chegarmos perto das moradas vimos que
era uma aldeia com sete casas e se chamava
Ubatuba. […] ali perto estavam as suas mulheres
numa plantação de raízes, a que chamavam
mandioca. […] arrancavam destas raízes, e fui
obrigado então a gritar-lhes na sua língua […]
‘Eu, vossa comida, cheguei’.” (p. 97)
José de Anchieta
“A Santa Inês” e Carta
• Gênero: poema e carta
Os textos poéticos têm a simplicidade de um autor
que pretende transmitir sua fé, utilizando a poesia
como recurso didático. Inês foi uma jovem romana,
decapitada por ter se recusado a perder a
virgindade. Símbolo e guardiã da castidade cristã.
Riquíssima fonte de informações sobre o trabalho
dos jesuítas no Brasil, as cartas de Anchieta primam
pela objetividade e pela abrangência dos aspectos
da vida colonial que apresentam.
José de Anchieta
“A Santa Inês” e Carta
• Fragmento
“Há tão poucas coisas dignas de se escrever, que não sei
que escreva, porque, se escrever a Vossa Paternidade que
haja muitos dos Brasis convertidos, enganar-se-á a sua
esperança, porque os adultos a quem os maus costumes
de seus pais têm convertido em natureza, cerram os
ouvidos para não ouvir a palavra de salvação e converterse ao verdadeiro culto de Deus, não obstante que
continuamente trabalhamos pelos trazer à Fé [...]” (p. 109
a 110)
Pero de Magalhães Gândavo
• História da província de Santa Cruz
• Estudioso de gramática e amigo de Camões,
foi o primeiro historiador do Brasil. Sua obra
apresenta um abrangente panorama da vida
na Colônia, que expõe com empenho
propagandista.
Pero de Magalhães Gândavo
História da província de Santa Cruz
• Fragmento
“Tem esta província, assim como vai lançada da
linha equinocial para o sul, oito capitanias povoadas
de portugueses, que contém cada uma em si, pouco
mais ou menos, cinquenta léguas de costa, e
demarcam-se umas das outras por uma linha lesteoeste: e assim ficam limitadas por estes termos
entre o mar oceano e a linha da repartição geral
dos reis de Portugal e Castela.” (p. 129).
Fernão Cardim
Tratados da terra e gente do Brasil
• Gênero: Tratado
Em verbetes informativos sobre a fauna, a flora
e os habitantes do Brasil, os tratados desse
jesuíta revelam planejamento e organização
metodológica para traçar um painel completo da
Colônia.
Fernão Cardim
Tratados da terra e gente do Brasil
• Fragmento
“Mandioca – O mantimento ordinário desta terra
que serve de pão se chama mandioca, e são umas
raízes como de cenouras, ainda que mais grossas e
compridas. Estas deitam umas varas, ou ramos, e
crescem até altura de quinze palmos. […] tirado o
homem, todo o animal se perde por ela crua, e a
todos engorda, e cria grandemente, […]. Destas
raízes espremidas e raladas se faz farinha que se
come; […]”. (p. 142-143).
Gabriel Soares de Sousa
Tratado descritivo do Brasil em 1587
• Gênero: Tratado
Para alertar o rei de Portugal sobre as diversas
possibilidades econômicas da Colônia, o autor
redige um texto de caráter enciclopédico,
focalizando desde aspectos políticos e
administrativos, até a exuberância da natureza e
dos nativos.
Gabriel Soares de Sousa
Tratado descritivo do Brasil em 1587
• Fragmento
“[…] [os tupinambás] não adoram nenhuma coisa, nem têm
nenhum conhecimento da verdade, nem sabem mais que há
morrer e viver; e qualquer coisa que lhes digam, se lhes mete
na cabeça, e são mais bárbaros que quantas criaturas Deus
criou. [...]faltam-lhes três letras das do ABC, que são F, L, R
[...]porque, se não têm F, é porque não têm fé em nenhuma
coisa que adorem; […]. E se não têm L na sua pronunciação, é
porque não têm lei alguma que guardar, nem preceitos para
governarem; […]. E se não têm a letra R […] é porque não têm
rei que os reja.” (p. 156-157)
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